Cartas de Setembro - Amarelo - (12)




“A FRATERNIDADE É A BASE DA REGENERAÇÃO”

 

Eu planejei. Pensei e repensei muitas vezes. Eu tive a certeza de que era o melhor a ser feito. Afinal, nada poderia ficar melhor.

Minha vida nunca teve sentido. Eu sempre soube que não era aceita, que não tinha perspectivas de futuro, não havia razão para prosseguir.

Eu podia pôr um fim em tudo aquilo. Fim da dor, da desilusão, eu estava cansada de chorar.

Mas, eu não pude imaginar que denunciei meu padecer com pequenos atos. Deixei transparecer minha indignação pela vida de tantas formas... As pessoas que simplesmente viviam suas vidas sem me perceberem não notaram, mas ele viu.

Meu professor de artes - Alexandre, concluiu que algo estava errado em minha vida. Ele questionou o porquê dos meus trabalhos manifestarem o sombrio, o escuro, era sempre cinza, preto, buracos negros que representavam o que eu sentia e ele ficou confuso porque eu devia desabrochar naquela mocidade.

 

Eu vi o quanto ele se importou e não consegui controlar minhas lágrimas. Para ele, eu estava gritando, pedindo socorro. Para mim, era a despedida de uma vida sem cor, sem fundamento.

Nem todos sabem por que sofrem. Por que desejam morrer. Para mim, era a fuga, eu queria acabar.

Alexandre conversou muito comigo. Ele não me julgou, ele não me cobrou nada, mas falou sobre eternidade, responsabilidade dos atos, necessidades evolutivas.

Eu me lembro bem: dele mencionou projeto divino e infração da Lei Divina, delito, crime.

Ele me escandalizou porque eu nunca havia parado para pensar nisso. Eu não tinha consciência e achei que não valia a pena pagar para ver.

Alexandre insinuou que eu precisava de ajuda, de tratamento para mudar a concepção que eu tinha da vida. Ele me pediu permissão para conversar com meus pais e depois de tudo se transformar em seriedade, eu concordei.

Eu abandonei a ideia de suicídio graças a atenção que recebi do meu professor de artes Alexandre.

Graças a ele fui tratada adequadamente, compreendida e assistida por meus pais. Eu me dediquei a arte e expressei em minhas obras meus sentimentos mais profundos, muitas vezes, regado de dor e insatisfação.

Foi assim que consegui realizar um trabalho intenso como pintora e abandonei a ideia de cometer o crime contra mim mesma.

Se as pessoas olhassem mais umas para as outras, tenho certeza de que muitos seriam assistidos, muitos casos de suicídio seriam evitados.

A fraternidade é a base da regeneração.

 

ELISA

25/09/2021

  

---------------------Paula Alves---------------

 



       “ACIMA DE TUDO A PRESERVAÇÃO DA VIDA”

 

Eu estava com a arma na mão, pronto para atirar, disposto a acabar com a consciência que fazia delirar de arrependimento e vergonha.

Eu a amei e fui rejeitado. Sempre soube que não era bom o bastante, mas eu via nos olhos dela uma doçura e pensei que aquilo era a reciprocidade do amor.

Pobre, preto, sem grandes ambições, mas digno, trabalhador. Em meio ao racismo, ela preferiu ser sincera e despejar suas palavras duras para cortar o mal pela raiz.

Eu compreendi que ela merecia alguém melhor, mas doeu, doeu tanto que não suportei.

Eu me arrependi de ter me declarado, me envergonhei por não saber meu devido lugar e desejei sumir.

 

Eu relembrava as palavras dela que não tinham a menor delicadeza ou compaixão. Quis desaparecer, mas naquele momento, de arma em punho devidamente preparada para acabar com tudo, acabar comigo e a campainha tocou.

Ouvi quando ela falou com a minha mãe e pediu perdão. Marilene disse à minha mãe que errou, foi dura e cruel, ela precisava corrigir um erro terrível e sentia que não podia ficar para o outro dia. Quando minha mãe se preparava para fecha a porta na cara dela, eu larguei a arma e fui até lá. Eu precisava ouvir.

 

Ela me pediu perdão por mentir, por ser marionete dos seus pais, por compactuar com a discriminação quando silenciou e disse tudo aquilo que os pais orientaram.

Marilene disse me amar, falou de reencontro de almas, afinidade e provas divinas.

Aquela mulher se postou diante de mim chorando e falou que enfrentaria a família para ficar comigo se eu quisesse e eu também chorei.

Pedi perdão a Deus e nunca comentei com ninguém sobre o momento insano que quase me separou dela.

 Por instantes de desespero eu quase modifiquei tudo. Tão errado, tão delituoso...

Tudo pode mudar de um momento para o outro. Nós não podemos acabar com a vida pensando em outra pessoa ou por qualquer outro motivo que se extinguirá com o tempo e nossa evolução. Devemos sempre preservá-la, desenvolvê-la, acima de tudo a preservação da vida.

Eu me envergonhei diante do Pai porque após anos namorando e nos apoiando na amizade, vimos que não fomos destinados para vivermos juntos.

Marilene e eu, nem mesmo, chegamos a nos casar, mas enfrentamos e superamos muitas adversidades, porém, eu vi o quanto o desespero, a imaturidade e o distanciamento de Deus estavam me conduzindo ao crime do suicídio, por isso, me envergonhei. 

 Não foi preciso realizar o ato para saber o quanto errei, apenas em pensar.

Devemos tomar cuidado com a forma com que tratamos as pessoas. Os sentimentos que despertamos nos outros são responsabilidade nossa. Da mesma forma que levamos alguém ao desespero ou insanidade, também podemos estimular bons e enobrecidos atos.

RAFAEL

25/09/2021

 

                     ----------------------Paula Alves------------------------

 

 


“ACIMA DE TUDO, A PRESERVAÇÃO DA VIDA”

 

 

Quando notei a forma com que a Larissa falava com as amigas, me desesperei.

Parecia que elas faziam parte de alguma seita. Sempre vestidas de preto, fechadas no quarto até tarde da noite pronunciando palavras e cantos irritantes, se comportando como ateias ou hereges.

Eu me perguntei onde errei quando ela começou com aquele comportamento estranho, distanciada de Deus, fazendo rituais que afrontavam-No, que desrespeitavam-No.

Fiquei assustada quando ouvi algumas conversas e vi coisas que foram compradas para idolatrar entidades que nunca ouvi falar.

Eu sabia que era culpada, pois eu não havia estimulado minha filha a conhecer e vivenciar o Evangelho daquele que conduz a Deus.

A Larissa não conheceu Jesus e, por isso, acreditava nesses falsos profetas.

Tudo ficou pior com as flagelações. Eu achei terrível a carta do Adeus. Nossa! Eu quase pirei.

Conversei com meu ex marido, pai dela e decidimos conversar, mas ela era astuta. Falava sobre maioridade e independência financeira, dizia que as pessoas devem ter liberdade e ela tinha o direito de crer no que quer que fosse.

 

Em 1959 eu internei minha filha para que ela não cometesse suicídio. Com dor no coração, eu procurei ajuda médica e interditamos uma moça com possibilidades infinitas porque ficamos apavorados com a ideia de que ela pudesse se matar.

Foram necessários meses de tratamento, medicação, terapia e muito amor para que ela mudasse seus conceitos.

Larissa parecia outra pessoa. Hoje tenho compreensão de que se tratava de um quadro de obsessão. Todas as moças do grupo se deixaram envolver pelo mal. Uma delas cometeu suicídio, enquanto Larissa estava internada.

Eu não desejo pra ninguém, internar um familiar é muito doloroso, nos enche de remorso e culpa, ainda mais quando eles pedem, imploram para voltar para casa, mas acima de tudo, a preservação da vida.

Eu faria tudo de novo para impedir que ela se suicidasse.

Larissa retornou ao lar, se distanciou das outras moças e eu, tardiamente, levei-a para uma igreja na intenção de recebermos a evangelização, a moralização e para estarmos plenamente conscientes de nossas responsabilidades pessoais, familiares e sociais.

Deus nos abençoou com tudo e eu sou grata.

 

MARIA TEREZA

25/09/2021

 

 ---------------------Paula Alves----------------

 


“VIVER COM FÉ E AMOR”

 

Ele era tão pequeno, mas já deixava nítida a revolta.

Frederico estava sempre de mau humor, fazia rebeldias para o pai e irmãos, sempre brigava na rua, voltava machucado.

Fui me preocupando. Eu via o quanto ele era imprudente, se envolvendo em lugares e com pessoas que podiam lhe custar a vida.

Eu perdia o sono, eu orava, mas lá estava ele nos esportes radicais ou nos rachas em alta velocidade após beber até cair.

 Meu filho foi tão imprudente e eu orei, pedi que Deus desse o livramento e concedesse uma oportunidade para que ele valorizasse a vida, para que ele sentisse o quanto ela é importante e preciosa.

Foi aí que recebi a notícia do acidente. Meu Deus! Na hora pensei que ele estava morto. Ora, se tudo o que ele fazia na vida era provocar sua própria morte, pensei que ele estava morto, mas não...

Frederico estava no hospital, após um grave acidente de trânsito, ele estava em coma, entre a vida e a morte. Precisaram amputar o seu braço e não sabiam se ele seria capaz de restituir a saúde.

Eu orei, entendi o que Deus havia feito. Em prece eu entreguei o filho para o Pai pedindo a assistência que eu como mãe, não conseguia dar.

 O Pai com toda a sua autoridade lhe empregava a devida correção. Deixando claro o quanto a vida é bem precioso. Ele ficaria ali, lutando, até se conscientizar o quanto deveria se empenhar para fazer melhor, para ser diferente.

Eu ajoelhei sem forças para pedir nada porque soube que não dependia mais dos meus pedidos, das minhas súplicas, profundamente humilhada por não ter cumprido bem meu trabalho como mãe, eu apenas falei:

- Meu Pai que seja feita a sua vontade.

Eu não me ausentei para nada, fiquei ao lado do leito em oração: “Que seja feita a sua vontade”, mas dava incentivo ao meu filho e dizia que ele fosse forte para superar, mas humilde para Deus, que ele soubesse atender a vontade do Pai.

Para minha surpresa, o Josué se restabeleceu, eu agradeci ao Pai, pois queria meu filho de pé, com saúde.

Josué se transformou, fez um propósito com Deus, parecia que ele precisava sofrer daquela forma para abrandar seu coração e valorizar a vida.

Meu filho retornou aos braços do Pai e realizou um trabalho lindo com os viciados em álcool. Foram 30 anos de pregações evangélicas. Ele formou família, trabalhou arduamente. Precisou perder o braço e quase perder a vida por imprudência para aprender a viver com fé e amor.

 

CREUZA 

25/09/2021


                                          -----------------------Paula Alves--------------------------






 “NÓS DEVEMOS AVANÇAR SEM QUEIXAS.

SABENDO SERVIR E AGRADECER”

  

Eu arrastei aquela bola de ferro por quanto tempo? Não tenho ideia, muito tempo, muito.

Eu sentia minha perna doer e não conseguia correr quando as confusões aconteciam naquele local de horrores.

Eu só caminhava e tentava permanecer inaudível, invisível para que ninguém viesse me amolar.

Eu via o quanto eles eram irracionais, doentios, cruéis. Eu me perguntei por que motivos eu estaria ali a padecer e me lembrei de alguns momentos, mas as lembranças eram fleches. Eram partes desfocadas de memória que não me esclareciam sobre a pessoa que fui ou por que eu estava ali, me defendendo, fugindo e sofrendo.

 À medida que o tempo passava, a perna doía cada vez mais e eu juntava as partes da minha consciência. Eu via o homem que fui e a culpa foi tomando conta de mim porque eu fraquejei, eu fui covarde e me entreguei para as facilidades da vida.

Algumas pessoas dizem que tem que ser corajoso para se matar, mas eu não vejo desta forma. A pessoa se entrega para a derrota e decide parar, ela não tem coragem, ela tem preguiça, fraqueza, falta de esforço e boa vontade consigo mesmo.

A culpa tomou conta de mim porque entendi o quanto minha impotência era por conta de ociosidade, comodismo. Se eu me esforçasse, se trabalhasse com empenho teria alcançado meus objetivos e não teria me frustrado tanto. Eu poderia ter trabalhado arduamente e não me sentiria um nada, um rejeitado, um fracassado

O que me levou a cometer suicídio foi desejar ter coisas que eu não conseguia ter. Eu via a situação de outras pessoas, tinha inveja porque queria a vida deles, mas não tinha o empenho deles, eu não merecia.

Sabe aquela pessoa que deseja isso ou aquilo, mas não executa os serviços como o outro? Eu queria de mão beijada, na facilidade, isso não pode ser.

 Eu notei o quanto fui irresponsável e imaturo. Destruí meu corpo de forma irreparável, me atirei ao mar, permiti que os pulmões se aniquilassem. Recusei a oportunidade de aprendizado e elevação, por isso, a bola de ferro no calcanhar.

Eu vi a cena toda, eu precisei me esforçar com a bola de ferro por tanto tempo que entendi que, independente do tempo e do cansaço, você faz o que tem de ser feito. É assim que tem de ser, para sempre...

 Nós devemos avançar sem queixas. Aceitar todas as vidas sem queixas, aceitar as provações, trabalhar com ânimo e gratidão sempre, sabendo servir e agradecer, nunca esmorecendo ou fraquejando, questionando “por que comigo?”, apenas fazendo o que tem de ser feito.

Quando eu sentei para refletir, quando eu entendi e me senti tão culpado porque eu vi as cenas e analisando a situação, soube que podia ter feito diferente, não era difícil conseguir o que desejava se tivesse trabalhado com honra. Eu compreendi e me arrependi de ter interrompido a vida. Eu ainda nem sabia que teria de recomeçar com tanto débito.

Eu vi a luz e chorei de remorso.

Ouvi a voz daquela moça e me atirei nos braços dela, assim cheguei aqui.

Eu sou infeliz porque sei que primeiro vou ter que tratar os pulmões. Uma vida inteira para tratar o perispírito. É assim que a gente atrasa a evolução. Todos os planos de reconciliação com meus pais foram por água abaixo. Os planos de me envolver em matrimônio com Cícera também.

Atrasei tudo...

Depois que eu conseguir sanar as lesões, aí sim, eu vou ter que esperar por eles para implorar uma nova chance para reencarnarmos e quitar meus débitos com eles. Quanta perda de tempo...

 

ISAQUE

18/09/2021

  

---------------------Paula Alves----------------

 



“QUEM É AQUELE QUE NUNCA ERROU?”

 

Ah! Minha amiga quanta saudade. Foi um tempo florido para mim, o tempo em que passamos juntas, mas eu precisava me envolver com outros trabalhos e desenvolver outros potenciais. Desta forma, nos aprimoramos como desencarnados, sendo úteis, absorvendo conhecimentos diversos e trabalhando nas mais variadas esferas.

Eu desejava realizar trabalhos diferentes onde as pessoas precisassem de mim, da minha tolerância, paciência, resignação. Eu queria testar minhas virtudes e elevá-las, por isso, solicitei que me admitissem no umbral para resgatar almas.

Eu tinha uma ideia de que não seria nada fácil, porém não imaginava a dificuldade que tinha para inspirar aqueles que estão perturbados e abandonados por si mesmos.

 Quando me admitiram eu sofri. Sofri o distanciamento dos meus amigos mais caros, também me senti insegura se estava preparada para desenvolver a tarefa, mas acima de tudo, eu temi ficar presa.

Ninguém pode dizer com absoluta certeza que conhece seus mais profundos sentimentos ou suas lembranças mais antigas, seus pontos críticos e muito particulares. Quem é aquele que nunca errou?

Eu não sabia que tudo pode ser usado contra nós.

 Eu fui admitida no grupo de auxílio aos suicidas no vale das sombras e me senti insegura quando descobri que os seres que os mantém encarcerados na culpa e na perturbação podem usar nossas projeções mentais para nos aprisionarem naquele local.

Mas, eu precisava tentar, eu precisava ser melhor do que era distribuindo benesses, resgatando, socorrendo os necessitados.

Todos merecem uma nova oportunidade. Diante do primeiro sinal de arrependimento, nós podemos atuar, é lindo!

Minha querida é um local apropriado para sermos melhores, pois nossas humildes vibrações de amor são captadas tão rapidamente como o alimento que se dá para quem tem fome. Você se comoveria tanto...

 Eles são muitos, milhares. Pessoas de todos os tipos, seres muito antigos e que já praticaram o suicídio por diversas vezes, voltam para lá anestesiados, distantes de Deus, irracionais.

É triste ver como a raça humana definha e perde a consciência do seu verdadeiro papel.

O trabalho de evangelização é imprescindível minha cara. Nunca se desvie deste propósito, jamais.

Quando a gente pensa que ninguém ouviu, ninguém viu, sempre teve alguém que despertou em nome de Jesus, por isso, avance, apesar do cansaço, do sono ou da indisposição, avance.

Eu quase me perdi, mas quando achei que fosse enlouquecer para socorrer um adolescente de nível intelectual avançado, desejado dos seres das trevas, eu vi meus nobres sentimentos despertarem ainda mais, foi um dia de luz.

Nós nos elevamos deveras em razão do outro, por amor, por sacrifício, pela abnegação. É isso o que importa.

Eu irradiei luz e me senti tão esgotada, mas quando ele me viu, ah! Ele me viu e estendeu os braços franzinos, sujos, eu soube que aquilo é a felicidade, o socorro, o retorno para a casa do Pai é tudo o que importa.

Eu sinto muita saudade, somos humanos, eu estou avançando.

Muito grata pelo trabalho que desenvolvo, fortalecida na fé e no meu propósito de servir porque todos são importantes para Deus, sempre!

 

SOFIA

Trabalhadora do Grupo de Resgate

18/09/021

 

-------------------Paula Alves---------------

 



“EU ESPÍRITO PROTETOR, IMPEDIDO DE SEGUIR COM MINHA EVOLUÇÃO PORQUE A DOR E A CULPA ME ENVOLVERAM”

 

Foi uma luta de ideias. Senti que estava perdendo aquela batalha e recorri ao meu superior. Ele dizia que o livre arbítrio faz parte da Lei Divina e que não podemos interferir nas escolhas dos nossos tutelados.

Eu retornei para junto dela desanimado. Foi como se tudo o que eu tivesse estudado, todo o tempo que me preparei para a tarefa, não valessem de nada.

Ela não ouvia minhas sugestões, tomava remédios sem parar para anestesiar a consciência, para dormir e não ver o dia passar.

Eu sabia que era possível enfrentar a situação, conseguir emprego, se esforçar, ser feliz, mas ela se entregava para a tristeza e se dopava.

Eu emanava fluidos, eu pedia à Deus por ela, mas ela nunca pensava em Deus, ela não se fortalecia.

 Por mais que eu tentasse já estava difícil uma aproximação, não havia um grande duelo entre seres do mal, o problema ali era o pessimismo, as formas pensamentos de desordem e derrota.

A auto obsessão é um transtorno mental sério.

A pessoa não dá trégua para o pensamento ruim, ela se atormenta e se pune atrás das reprimendas mentais, de menosprezo e dramatização, isso aniquila o ser, coloca no último nível da angústia e da depressão.

Ela não aguentou.

De longe, eu pude ver os seus pensamentos, eu vi os planos, eu sofri calado porque ela não emanava vibrações que fossem compatíveis comigo, ela me barrava a aproximação.

 Então, eu soube que ela se destruiria, ela iria até as últimas consequências tentando silenciar a consciência e me perguntei por que uma pessoa chega neste ponto.

Meu superior esclareceu que este é um padrão mental típico de pessoas que sofreram nas mãos de outras pessoas por várias existências. São pessoas que foram humilhadas e oprimidas de formas violentas e cheias de discriminação. Elas foram tão reduzidas que aceitaram o menosprezo, fixaram o padrão mental de forma a impossibilitar o gerenciamento do ser na nova existência. É quando ela não pode conseguir coisas boas porque acredita não merecê-las. Tudo o que for bom, saudável, justo, belo não podem pertencer a ela.

 

É aquela pessoa que só se envolverá com pessoas que a maltratam, que a roubam, denigrem, extorquem ou humilham. Para elas, apenas o ruim.

Então, o sofrimento é tanto, impregnado no fundo da consciência, que nada tem solução. A morte era o melhor fim.

 

MAS, O PROBLEMA É QUE NINGUÉM MORRE, ELA NÃO SABIA.

 

Eu vi tudo e me senti tão limitado, impotente. Eu queria fazer algo mais, tentar tirar aquela ideia de dentro de sua mente, mas não era possível. Eu vi tudo, não pude deixar de ver e fiz o possível, ainda assim, para ofertar a maior dose de amor que pudesse sair de mim.

Os dias e meses foram longos, sofridos. Eu estive sempre ao seu lado. Recebi a permissão do grupo que cuidava do local, os BONS ESPÍRITOS SOCORRISTAS.

Eu fiquei por perto por setenta anos, eu - Espírito Protetor, impedido de seguir com minha evolução porque a dor e a culpa me envolveram. Eu precisava concluir aquela tarefa e só me senti livre quando ela se livrou do calvário, quando saiu de lá e veio para cá.

Eu precisei de análise, enquanto ela passava por todos os tratamentos e agora, já recompostos, precisaremos retornar.

Eu estarei com ela novamente, Espírito Protetor. Estudei, me preparei e ainda lanço mãos da fé e do amor que Deus tem por nós para solicitar amparo. Que seja possível voltarmos felizes.

 

SIVATE  (Espírito Protetor)

18/9/2021

 

      -----------------Paula Alves--------------

 


“NÃO FOSTE FIEL NO POUCO PORQUE TEM QUE RECEBER O MUITO?”

 

 Ela sempre chagava bem na hora. Eu ficava tão irritado...

Será que eu não podia, nem mesmo, controlar a minha vida e a minha morte?

Por que minha mãe era tão insuportavelmente autoritária e controladora?

Aquela vida onde eu tinha que ser bom estudante, trabalhador, arrumadinho não era para mim. Eu queria ser livre, ser solto, dormir sob o céu estrelado, andar por aí. Eu não queria ostentação, obrigação, sapato social, gravata. Eu queria chinelo e cabelo jogado.

Mas, ela dizia que eu tinha que ser gente e que faria de mim um homem correto, firme, decidido, com diploma e família.

 Como é que ela sabia que eu não queria nada daquilo e fazia tudo invertido para me irritar?

Ela parecia madrasta. Pensei que era adotado, não podia ser daquela família. Ela me chamou de hippie, dizia que não suportava baseado, proibiu e me arrumou emprego, foi demais.

Eu peguei uma corda e estava disposto a interromper aquela vida quando ela entrou no porão, correu e nem sei como ela teve força para me livrar. Que mulher encrenqueira!

Eu chorei de raiva porque ela não dava chance para eu me acabar, mas ela também chorou tanto, tanto. Ela se descabelou, chorou e falou com Deus, pediu, na minha frente, para ele ter paciência com ela.

Minha mãe foi tão sincera com Deus. Ela disse que tudo aquilo estava acabando com ela, que não conseguia nem dormir sabendo que tinha que ficar de olhos em mim, era muita responsabilidade. Ela disse que não podia permitir porque eu era filho d’Ele e ela tinha que cumprir sua missão por mais difícil que fosse. Ela falou que jamais permitiria que eu me matasse e me entregasse a um crime como este para ficar padecendo no purgatório, enquanto ela iria sucumbir de remorso sabendo que foi uma péssima mãe, ela chorou muito e eu me coloquei no lugar dela.

 Eu refleti sobre a maldade que eu fazia com minha mãe, tentando me matar por pura chantagem emocional de quem quer ter ou ser e quando não tem faz birra, se machuca para chamar a atenção.

Eu pensei que tem gente fazendo chantagem com Deus porque quer mudar sua vida, não percebe que tem a vida que merece, não percebe que as dificuldades são necessárias porque quer, além do que merece. Não foste fiel no pouco porque tem que receber o muito?

Minha mãe falou que eu estava liberto, viveria como hippie, melhor do que cometer crime cruel contra mim mesmo, mas eu amadureci com o descontrole emocional dela, mudei.

Se a minha mãe tivesse tomado o caminho mais fácil, eu teria me matado e teria tido momentos muito dolorosos, no entanto, ela não desistiu de mim e eu acreditei que deveria fazer sacrifícios por ela.

Eu estudei, trabalhei e me casei, formei família. Quando achava que nada poderia me dar prazer, minha esposa disse que nós podemos cumprir com compromissos, deveres e sermos felizes em locais agradáveis, passeios tranquilos, casas de veraneio.

Sempre existe a chance de encontrarmos a felicidade, mesmo assumindo responsabilidades.

Eu era hippie nos finais de semana e aprendi a andar de terno nos dias úteis como minha mãe desejou.

Eu não me matei graças a minha mãe que esteve sempre de olhos bem abertos.

 

ALBERTO 

18/09/2021

  

---------------Paula Alves------------




“A GENTE SEMPRE ESPERA QUE ALGUÉM PERCEBA”

        

        

Eu aguentei muito. Sempre me perguntei o motivo de ter nascido. Por que minha mãe permitiu que eu nascesse para me judiar tanto? Ela não conseguia nem olhar para mim.

Era como se eu fosse um fardo, um empecilho, ela se arrependeu de me ter, com certeza. Saber disso me feria, eu me sentia um ser inútil a impedir que ela fosse feliz.

Ela bebia para afogar as mágoas, palavras dela. Bebia e se irritava com muita facilidade, descontava em mim as mágoas do mundo e as frustrações de não ter tido uma vida melhor. Eu apanhava desde pequena e tentava esconder os maus tratos, os hematomas, por pura vergonha, eu queria que as minhas amigas me tratassem como anormal e não com pena, discriminação.

Eu tolerei tudo, apanhei calada, escutava gritos e palavrões, estava acostumada a me alimentar de qualquer forma, desde pequena, mas foi insuportável quando aquele homem chegou. Foi demais para mim.

 

Eu estava com treze anos e minha mãe se comparava comigo, comparava nossos corpos e minha vitalidade. Ela dizia que eu podia ter o homem que desejasse e ela estava com flacidez por causa da gestação.

Depois daquele homem, nosso relacionamento ficou irreparável, ainda mais quando ele se insinuou.

As pessoas são espertas, era evidente que ela não me defenderia, ela competia comigo e ficaria do lado dele. Ele tentou, eu me esquivei, mas sabia que as coisas não acabariam bem.

Eu já não tinha mais sonhos ou paz. Nunca me ensinaram sobre coisas religiosas, eu não tinha esperança de uma vida melhor e, nem mesmo, ambições de um futuro promissor com estudo e independência, nunca conheci meu pai, não tinha muito contato com familiares, enfim, a morte podia me libertar, seria a salvação para acabar com meus problemas de uma vez por todas.

Era tudo o que eu queria, pôr um fim naquela história de que eu era um entrave à vida dela e eu também não queria me perder nas mãos daquele homem horrível.

A gente sempre espera que alguém perceba. Eu imaginava que alguém iria perceber que eu estava em maus lençóis com a minha mãe. Quando comecei a me cortar, a professora até questionou, achei que fosse a salvação, talvez a assistente social ou alguém poderia falar com ela, fazê-la entender que eu precisava de atenção e cuidados de adolescente.

A professora chamou minha mãe e ficou amedrontada diante do comportamento dela, nunca mais se envolveu.

Só eu sai perdendo...

Tomei veneno, padeci horrores! Sofri por horas, vi quando a minha mãe entrou no quarto e me viu caída, me xingou e gritou, ficou fora de si, se arrependeu, se culpou, me pediu perdão, mas já era tarde.

Eu fiquei um tempão com ela, lá em casa, chorava ela, eu chorava também, não sabia para onde ir ou o que fazer. Pensei que ia morrer e acabar, mas virei fantasma, sofria de dor no estômago, coisa terrível demais.

Depois de um tempão, vi uma senhora que falou que podia me ajudar e aqui estou eu. Já sei que preciso de tratamento por um longo período, saber que não posso mexer com a vida sagrada, nem pensar em morte, depois vou reencarnar e sei que o meu corpo vai ter problemas sérios porque acabei ferindo todo o trato gastrointestinal, assim será necessário ser criança com problemas físicos para eliminar o ferimento do corpo espiritual.

Quando é que eu iria imaginar? De qualquer forma, não posso reclamar. Estou sendo tratada, orientada e vou ter uma nova chance. Deus sempre recebe as ovelhas perdidas.

AMANDA

12/09/2021

 

        ------------Paula Alves------------

 

“FALTOU A LUZ DO EVANGELHO E FÉ NOS DESÍGNIOS DE DEUS”

 

Eu tinha mais motivos para desejar viver, mas aquela ideia não saia da minha cabeça. Tanta dificuldade...

Eu não estava dando conta de tanta cobrança, vida difícil para mim. Eu sei que tem pessoas que passam pelos mesmos problemas e conseguem superar, outros têm vida muito pior e têm força, coragem, conseguem superar, mas para mim, a perda da minha mãe foi o suficiente para tirar meu chão.

Eu tinha a pessoa que mais me amava no mundo como amiga e confidente, ela conseguia direcionar a minha vida e eu sempre estava tão ansiosa, tão desesperada achando que as coisas não dariam certo, mas vinha minha mãe e me conscientizava que era possível com ânimo e boa vontade.

Só que ela teve um acidente e morreu. Tão inesperado, tão doloroso. Eu não resisti. Não tinha condições de levantar do leito. Via as contas chegando pela porta, ouvi quando o dono da casa cobrou o aluguel. Eu via o dia e a noite passando pela janela e eu não queria levantar nem para comer, para nada.

A tristeza tomou conta de mim. Até me perguntei se não havia outro alguém. Alguém que pudesse sentir minha ausência e me dar um pouco de motivação naquela hora difícil, mas parece que não.

Eu sentia uma dor funda no peito e uma vontade de morrer, de sumir. Para quê a vida cheia de dissabores? Para quê um mundo cheio de violência e caos? Para quê o esforço, se eu nunca conseguia sair do lugar? Eu me debatia na multidão e não chegava a lugar algum.

 

Então, notei que eu tinha mais motivos para morrer. Nem me dei conta de que aqueles pensamentos não me pertenciam. Eram palavras vindas da minha mente, mas diferentes do que eu costumava pensar. Eu nunca tinha pensado em suicídio, nunca.

Mas, naquele momento me pareceu a melhor coisa a fazer, sei lá. Demorou para ser esclarecida e saber que eu estava sendo influenciada. Que horror! Espírito do mal que deseja causar a morte de quem está em depressão? Eu nem sabia que existia isso.

 

Mas, o fato é que eu poderia ter resistido e não resisti. Eu cedi as más influências, eu cometi o mal e a terrível infração da Lei de Deus. Eu matei, destruí meu corpo físico e sou responsável, sei que sou.

Não vem ao caso dizer o quanto peregrinei no vale, nem vem ao caso dizer o quanto sofri e já me arrependi. Não encontrei minha mãe porque ela já estava reencarnada quando consegui chegar neste bom lugar. A morte só me trouxe dor, tristeza, punição e atraso na evolução porque agora eu vou ter que corrigir, reestruturar o corpo espiritual para prosseguir.

Eu cortei meus pulsos, foi muito feio. Vou ter que passar por ocasiões de aborto espontâneo para me realinhar. Tenho esperanças de que minha futura mãe me receba com afeto pelo período curto em que estarei ligada ao corpinho em formação, desejo que ela não sofra tanto quando tiver que se desligar de mim. Eu não queria causar transtornos. Não pensei que fosse causar tanta dor.

 

Acho que devemos controlar os pensamentos para não cometer tolices, mesmo que estes pensamentos sejam sugeridos. Nós só executamos o que desejamos executar, por isso, eu sou responsável, compreendo. Faltou a luz do Evangelho e fé nos desígnios de Deus.

FÁTIMA

12/09/2021

 

-------------------Paula Alves------------

 

“SÓ O AMOR COBRE UMA MULTIDÃO DE PECADOS”

 

Eu estava muito revoltado com a forma como a vida era desenrolada diante de mim. Desencarnei profundamente enfurecido com a violência sofrida, achei injusto e cruel.

Confesso que, por diversas vezes, me questionei quanto ao poder de Deus e Sua existência. Se eu havia sofrido tanto, por quê? Eu também não era filho? Por que merecia sofrer se não havia cometido o mal e não havia ferido ninguém?

Mas, eu sofri e vi os meus familiares sofrerem. Se eu não tinha permissão para ser feliz, se as pessoas podiam fazer o que quisessem e não recebiam a corrigenda, então, eu também podia fazer o que quisesse, inclusive, julgar e aplicar a sentença.

Eu seria o juiz, eu seria o justiceiro. Foi assim, que tudo começou.

 

Eu sabia muito bem quem eram os responsáveis por minha morte cruel, quem havia prejudicado minha família e decidi fazê-los pagar, mas não seria das mãos de um inocente, por isso, incentivei a cometerem suicídio.

Fui atrás de todos, um a um, eles me ouviam, palavras doces, como se fossem saídas de suas mentes sujas, eu falei e dei conselhos, armei o plano perfeito com minuciosos detalhes e eles seguiram minhas instruções, um a um.

Quando desencarnavam, perdidos, perturbados, não me reconheciam e simplesmente ficava fácil dizer quem era o chefe, desta forma, o bando cresceu.

A gente se envolve no mal e, de repente, até se esquece dos motivos que fizeram começar a cometer crimes. No início foi por vingança, para punir do mal que cometeram, depois me liguei a eles num elo inviolável de ódio e dor, gostei de comandar. Passamos a incentivar outras pessoas...

Meu Deus! Eu carrego crimes nas costas e, por isso, esta estrutura espiritual aterrorizante. Esta corcunda de quem não consegue se erguer, fardo pesado de vidas mutiladas, destroçadas.

Eu vi quando ela estudou: O Céu e o Inferno, capítulo 7 – “aquele que comete suicídio é culpado, mas aquele que incentivar a produzir o crime, responderá por homicídio”.

Eu carrego muitos crimes nas costas. Nem sei como foi que conseguiram me trazer para cá. Foram tantos e tantos anos, incentivando e dirigindo o grupo do mal.

Eu sei que me aproveitei das mentes enfermiças, dos viciados, dos orgulhosos, dos descrentes, nossa!

Agora tem um longo caminho para mim, tratamento, reestruturação física e caos na terra. Eu reencarnarei com problemas mentais, expiação num corpo inerte, cheio de sequelas e limitações. Dependendo de pessoas para tudo, necessidade de afeto para curar minha chaga moral e aprender que só o amor cobre uma multidão de pecados. Eu me rendo.

CÉSAR

12/09/2021

 

----------------------Paula Alves-------------------

 

“A FAMÍLIA ACHOU MELHOR O ABANDONO”

 

Eu até pensei que conseguiria esperar crescer, ser de maior para fugir dali. Eu ficava calado, aguentava no silêncio, mas era o inferno aquela casa, o inferno.

Tem gente que fala que a pessoa tem que ter paciência com o doente mental, mas não sabe o que diz.

Minha mãe era estranha. Falava sozinha, fazia umas caretas, eu tinha medo dela. Meus irmãos corriam para o meu lado quando ela acordava de madrugada e ficava dançando na sala. Nosso pai, largou a gente e fugiu com uma mulher bonita da cidade.

Fiquei como o homem da casa com quatorze anos. Trapaça! Ele escolheu o caminho mais fácil. Largou a mulher cheia de filhos e foi viver a vida bela na cidade.

Eu pensei em fugir, mas eu me preocupava com meus irmãos. Eu contei para a dona Maria, mas a coitada da vizinha não podia fazer nada, ela tinha medo da mãe. Eu falei para nossa avó, mas ela falou que não tinha como criar a gente e que a filha dela sempre viveu daquele jeito e nunca machucou ninguém, mas como eu podia confiar?

 

Bastou o dia que ela pegou a Juju para bater, estava esfolando a menina, daí eu livrei a irmã e apanhei no lugar; ela cortou os cabelos da Maricota, enquanto ela dormia, minha irmã chorou tanto.

Coisa de gente doida. Só sabe quem viveu. Toda família tem suas injustiças, suas crueldades? Eu queria um lar decente, mas tinha gente falando de ingratidão.

Ingratidão? Ela não tinha estrutura para cuidar de nós. Será que ninguém percebeu que ela tinha problemas sérios?

Num dia qualquer, ela acordou surtada. Falou que viu meu pai com a mulher da cidade, ela tinha esperanças de que ele voltaria, mas quando percebeu que ele não voltou, então, ela fez um preparado e disse que todos nós iriamos encontrar com Jesus lá no céu.

Eu me desesperei. Sabia que ela estava doida de pedra e tinha más intenções, mas os mais novos acharam a história bonita, tadinhos.

Eu não queria que nada acontecesse com eles, então, enganei a mãe. Enquanto ela saiu, eu joguei o leite dos menores, troquei tudo, mas não percebi que o meu ficou.

Ela falou que tinham que tomar tudinho. Nós tomamos, ela também e eu fiquei zonzo, senti uma moleza e fiquei desesperado porque não podia dormir, tinha que cuidar dos pequenos, mas eu apaguei.

Quando eu acordei já estava aqui. Os homens de branco disseram que eu não precisava me preocupar porque as crianças estavam bem, estavam numa instituição que cuidaria deles.

Eles também falaram que meu sacrifício contaria pontos na remissão dos meus erros passados, pois eu me esqueci de mim para favorecer meus irmãos.

Já compreendi que desencarnei, eu entendi, mesmo assim, estou triste e preocupado com os menores, eles não tinham que ser separados, temo por eles.

Já a mãe...

Ela cometeu erros terríveis. Ela tinha mesmo problemas mentais, mas poderia ter resistido. Ela sabia que estava se matando e tinha intenções de matar todos os filhos para ferir o ex esposo.

Me informaram que a pena depende da consciência do mal cometido. A Lei é perfeita e a punição é justa, mas de uma forma ou de outra, todos serão punidos. Todos ficam desapontados porque queriam morrer e veem que estão vivos em sofrimento maior ainda. Todos vão expiar imediatamente ou em outras vidas muitos piores.

Eu não queria que ela sofresse, eu queria que ela fosse tratada, mas a família achou melhor o abandono. Sei que a mãe terá tudo isso justificado. Eu pretendo me esforçar por ela, enquanto ela não receber o socorro necessário, não descansarei. Fazer o quê? Eu me sinto responsável por eles. São minha família!

CLEISON

12/09/2021


--------------------------------Paula Alves-----------------------




“NUNCA ME DISSERAM QUE SOMOS IMORTAIS”

 

Todo mundo precisa conversar, se abrir e desabafar um pouco.

Tem gente que faz isso com um amigo muito próximo, outros fazem isso com qualquer um depois que bebem, falam pelos cotovelos.

Existe ainda, quem fale com os animais e plantas, estes sentem que foram ouvidos e se satisfazem.

Mas, existe um grupo de pessoas que não tem ninguém para conversar. Deste grupo, podemos subdividir em dois. O grupo daqueles que fala com Deus, com o anjo da guarda, um ser invisível, mas se sente preenchido, eles sentem que estão envolvidos pelo amparo, sentem-se bem e satisfeitos, renovados e fortalecidos para prosseguirem.

 

O outro grupo é dos solitários, este guarda tudo para si, não tem escape, não tem assistência nenhuma, eu estava neste grupo.

Eu sentia necessidade de falar e me expressar com alguém, eu queria desabafar e me sentir amparado, eu queria ter alguém, mas eu não tinha ninguém.

Em parte, acredito que foi culpa minha, pois nunca dei atenção a ninguém, eu não fui sociável, eu não fui amistoso e não permiti aproximação.

 

Então, o tempo passou e fiquei sozinho. Meu mundo era difícil, cheio de problemas que eu não sabia resolver, problemas financeiros, amorosos, de saúde, enfim, tudo era terrível demais para mim.

Sabe quando um pequeno cisco é grande demais e te faz perder o sono? Era assim comigo. Eu não via salvação e tudo era ruim demais.

Foi aí que eu me perguntei para quê viver. Eu comecei a me questionar dos motivos que eu tinha para continuar vivendo aquela vida sem motivação nenhuma. Uma vida que não me dava alegrias, vida que ninguém se importava porque não tinha ninguém para sentir a minha ausência.    

 

Dia após dia, eu me deparava com a inutilidade da minha existência e todos os problemas que vieram, depois disso, me davam mais força para desejar a morte.

Eu poderia justificar dizendo que eu nem sabia que a morte não existe. Nunca me disseram que somos imortais. Imagina! Eu sempre acreditei que era o fim. Morrer e acabar para sempre.

Pensei de forma tão simples que seria aniquilado. Eu queria acabar porque me achava inútil, imprestável.

 

O fato é que, quando perdi o emprego, eu soube que as dificuldades seriam ainda piores, não pestanejei. Fiz um plano e coloquei em prática, acreditando que seria a solução mais apropriada.

Foi um terror! Nossa! Que loucura!

Eu revivi a cena por muitos anos. Eu revivi a dor e a angústia. Eu quis interromper o sofrimento, desejei parar, mas a consciência culpada me levava para a forca de novo e de novo.

Até que minha mãe me tirou a corda do pescoço e disse: “Chega!”

É tudo real. A mais perfeita realidade. Nós não morremos, apenas reforçamos a conjectura mental. Cada um de nós segue pelos próprios padrões mentais conscientes dos seus erros e maldades. É muito pior do que enfrentar seus temores em vida.

Eu sofri muito e, mesmo assim, acredito que foi justo porque eu não podia comprometer o plano de Deus para mim. Eu fui o infrator e mereci passar por toda a punição da Lei para valorizar a chance de viver. Eu me arrependi amargamente.

GABRIEL

05/09/2021

 

---------------Paula Alves-------------

 

“DE QUALQUER FORMA, TEMOS QUE CRESCER, A VIDA ENSINA O QUE OS PAIS DEIXAM DE LADO”

 

Eu acho até que não foi intencional. Eu fui ridícula, mas o pior é que não foi intencional.

Sempre gostei de fazer chantagens emocionais, pois era a maneira de ter tudo o que eu quisesse.

Aprendi a agir assim na infância. Quando criança eu tive muitos problemas de saúde e minha mãe me dava tudo o que eu queria, era só choramingar um pouco. Cresci e continuei batendo o pé para ter o que queria.

Meu esposo estava descontente com nossa relação, ele queria separação, mas eu o amava e não queria ficar sozinha, então, armei vários dramas para segurá-lo comigo. Fingi uma gravidez, fiz escândalos, procurei amantes, mas ele não tinha ninguém, eu dava muito trabalho, bastava uma mulher.

 

O fato é que ele se cansou das minhas criancices. Fez a mala e decidiu ir embora. Para barrar a sua partida, eu ameacei me matar. Peguei os frascos de remédios e ameacei.

Ele estava cansado, não podia permitir que eu dominasse a sua vida, ele temeu, mas foi forte e atravessou a porta. Eu pensei que ele voltaria, abri os frascos e engoli tantos quando pude. Eu me senti zonza, mas estava enlouquecida, tomei todos os outros, vomitei, tomei mais comprimidos. Nem percebi quando sai do corpo. Eu me senti muito mal, mas só pensava no Flávio.

Eu me vi em um lugar estranho, onde as pessoas choravam e corriam sem parar. Eu achei que estava delirando e corri, procurei por Flávio. Cai, me sujei. Eu fui pega por um grupo de pessoas nervosas e desequilibradas, desejavam se vingar e eu tentei enganá-las, fui feita de escrava. Foram tantos anos, sendo mal tratada, tentando me defender e dialogar para que não me maltratassem mais, por um momento, me esqueci do Flávio e de mim, de quem eu era.

 

O sofrimento purifica porque ensina o que realmente importa. Eu tive que virar adulta. Tive que me posicionar entre aqueles cruéis. Eu precisei me tornar uma pessoa que servia, que trabalhava no que fosse preciso. Eu me modifiquei para me defender.

Nem sei quando foi que compreendi que aquilo era o mundo após a morte ou quando me dei conta de que havia me suicidado por uma imprudência, uma infantilidade.

Eu acho que devíamos conversar mais. Falar mais dos sentimentos e não deixar que crianças e jovens usem armas de sentimentalismo porque isso não facilita nada. De qualquer forma, temos que crescer, a vida ensina o que os pais deixam de lado.

 

Eu levei décadas naquele local e me sentei. Parei tudo e me sentei. Desejei uma vida diferente, mas não com facilidades, com compaixão. Eu chorei e desejei ter alguém que me ouvisse.

Veja: para mim, ainda não existia Deus naquele momento, mas eu queria me aproximar de alguém que me compreendesse infinitamente e fui atendida. Eu sei que Ele me ouviu e me reconheceu, soube da minha sinceridade. Eu mesma não compreendia o que desejava, mas Ele me salvou daquele lugar e me permitiu entrar aqui. Graças ao Pai. DORALENA

05/09/2021

 

 

------------------Paula Alves--------------

 

“NUNCA MAIS QUERO SABER DE VÍCIO”

 

Aquele cigarro era tudo o que eu tinha para me acalmar, para driblar a ansiedade.

Acho que aprendi a fumar, enquanto ainda era pequena, acendendo os cigarros do meu pai. Ele começou a comprar os maços para mim e eu achava que o vício nos unia. Achava bonito quando deixávamos minha mãe esbravejando para fumar juntos. Eu não podia imaginar que ele seria responsabilizado por meu desencarne.

Eu fumei tanto e nem tinha como abandonar o vício quando eu soube da doença pulmonar. Eu nem conseguia caminhar, não tinha fôlego. Foi terrível o quanto envelheci, o quanto fiquei emagrecida.

Parecia que todas as minhas células pediam pelo amor de Deus que eu interrompesse a agressão física, mas eu dizia que não tinha condições de ficar sem o cigarro.

 

Eu sofri em vida e sofri depois de morta porque não morri.

 

O final foi feio. Meu esposo chorava tanto. Ele falava que eu não merecia e pedia que o médico fizesse alguma coisa, mas ele dizia que o sistema respiratório estava muito comprometido. Fiquei internada, precisei de suporte de oxigênio porque os pulmões estavam em frangalhos. Endurecidos, não conseguiam puxar o ar.

Ainda assim, eu só pensava em fumar. Acho que fiquei sem fumar naqueles dias, só porque não tinha forças para erguer os braços.

Eu dormia e sonhava que estava fumando, quanta vontade de tragar.

 

Eu acho que as pessoas deviam pensar nisso. Antes de dar a primeira tragada, pensar que podiam virar escravos do vício. Antes do primeiro gole, de usar droga pela primeira vez, pensar se desejam arruinar suas vidas e virar um verme que não faz outra coisa, senão desejar o vício.

Morri, desestruturei minha família. Deixei meu esposo com meus filhos jovens. Não realizei o que estava previsto no meu plano e destruí a máquina orgânica, desta forma, atrai um débito perante a Lei Divina.

Nossa! Que lástima. Morreu meu corpo e minha mente ainda queria o cigarro. Perambulei, tentei grudar em quem fumava para sentir a nicotina, virei um monstrengo que se encantava com bituca acesa no chão.

O cúmulo, já não era gente.

Eu teria permanecido naquela situação por muitas décadas se minha filha não tivesse orado tanto e se meu pai, desencarnado, não tivesse se esforçado para me ajudar com a permissão de seres mais elevados.

Ela iluminou minha vida, a pobrezinha. Teve informações do quanto sofre o suicida, mesmo sendo inconsciente, ficou desesperada e passou a orar devotamente para minha evolução. Claro que eu senti!

Eu senti aos poucos e progressivamente. Eu vi meu pai e os seres de luz, eu os vi e pude ser ajudada.

Precisei de tratamento a longo prazo para ficar limpa e hoje estou bem. Nunca mais quero saber de vício. Exige muito da gente.

CLEIDE

05/09/2021

 

------------------------------------Paula Alves-----------------------

“COMO É QUE NINGUÉM NUNCA ME ESCLARECEU SOBRE ISSO?”

 

Imprudência no volante? Fala sério! Existem suicidas de todos os tipos.

Eu achei injusto dizer que me suicidei, mas falar com quem?

Eu pensei muito, durante todos estes anos...

Quem é que morre de morte natural? Estes estarão no paraíso (há-há-há).

Pois, se aquele que se embriaga é suicida, aquele que fuma é suicida, aquele que entorpece a mente com o mal é suicida, aquele que toma muito remédio é suicida, quem come porcaria é suicida, quem faz imprudência no trânsito, morre e é suicida. Se você faz cirurgia estética e morre, é suicida...

 

Então, quem é que não provoca a própria morte?

 

Eu estou tendo tempo para pensar. Meu instrutor, o doutor da psicologia, todos me forçam a pensar, dizem que devemos valorizar a vida.

Tá bom! Estou tentando valorizar a vida, mas acho que a turma lá da Terra não iria aguentar uma vidinha chata não.

Como é que a gente vive sem se aventurar ou se divertir?

 

Como é que a gente pode respeitar o corpo desta forma, iria ficar louco só de pensar porque tem muitos jeitos de morrer e antecipar a própria morte.

 

Então, quer dizer que tudo o que a gente faz para antecipar a morte, é suicídio?

 

Eu nem sabia disso e tenho que ser punido? Eu não achei justo não.

Estou muito agradecido de estar aqui, lugar lindo, todos muito bondosos, mas eu preciso compreender. Como é que ninguém nunca me esclareceu sobre isso?

Será que tem gente na Terra sabendo destas coisas, se matando adoidado? Se comprometendo com a Lei todos os dias, arruinando o cérebro, danificando os órgãos, lesando o corpo propositalmente achando que a vida lhe pertence e, no fundo, está violando a Lei, vai sofrer horrores!

Imagina! Se eles soubessem de tudo isso... Acho que ninguém ia se tratar com tanto desrespeito.

Acho que a pessoa que compreende o quanto pisa na bola, nem quer saber de bebida ou de cigarro, usa o sexo para se envolver com quem se ama, se alimenta com moderação e usa os recursos para prolongar a saúde, cuida dos pensamentos com delicadeza, para manter em pleno estado, para viver o tempo que o Criador fixou.

 

Deve ser bem bom, desencarnar no dia certinho. Retornar com responsabilidade, ter cumprido os deveres, saber que estabeleceu uma ligação forte com os princípios que Deus desejou para nossa evolução.

Deve ser bom demais retornar com a paz da consciência e ir direto para um local onde será bem recebido e pode seguir em frente, próximo passo.

A gente não... Faz um tour pelo vale dos suicidas, enfrenta loucos de todos os tipos, é massacrado, aterrorizado, quando finalmente, percebe que tem que valorizar a vida, depois de muito tempo, vem pra cá, hospital... Tem que ser tratado sabe-se lá por quanto tempo, fazer terapia, tomar medicação, ler, estudar, reabilitação para ver se enfia na cabeça o compromisso de saber se cuidar como gente do bem.

 

Eu estou profundamente decepcionado comigo mesmo. Estou frustrado, arrependido e acho que as pessoas deviam ter mais respeito com o corpo e a mente que Deus entregou para cada um de nós.

ROSSOMANI

05/09/2021


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