“Cada um de nós sofre de uma forma e toda dor merece ser respeitada”
Levei anos carregando aquele luto, como quem carrega um enorme fardo.
Naquela época, as mulheres precisavam trajar o preto em sinal de
respeito a sua viuvez. Eu já não aguentava mais, porém não podia me desfazer
das vestes pretas em decorrência do que a sociedade podia pensar de mim.
Ninguém poderia imaginar o quanto sofri nas mãos daquele marido
alcóolatra e violento.
Eu o amei e tentei de tudo para fazer nosso matrimônio dar certo, para
fazer reinar a paz no meu lar, mas ele me agredia e fazia ser submissa. As
pessoas não tinham como imaginar que aquele óbito foi uma libertação.
Parece cruel dizer que a morte de alguém pode significar a sua renovação
de vida. Pode simbolizar a sua recuperação e integração social. Eu precisava
ser livre e viver em paz. A morte dele me permitiu dormir em paz com meus
filhos e poder cria-los longe das agressões foi a misericórdia de Deus nas
nossas vidas.
Mesmo assim, eu tinha que usar preto. Durou a vida toda. Nunca mais quis
me relacionar com outros homens, afinal, eu já tinha tido duras experiências,
então, o preto fez parte da minha vida.
Quando cheguei na espiritualidade amiga e me vi com roupas tão alvas, eu
sorri. Nem acreditei que poderia vestir roupas tão claras. Então, meu instrutor
falou que aquelas roupas tratavam de formalidades do mundo material, mas não
diziam como eu realmente me sentia. Muitas pessoas trazem o sofrimento
estampado em si, entretanto, se vestem com roupas alvas. O luto é a tristeza da
alma, mas cada um demonstra e vivencia o luto da maneira que acha conveniente.
Pode sorrir para o mundo e ter lágrimas no coração.
Só quem entende este sentimento é o sofredor e Deus. Não existe um prazo
definido para o luto, pois cada pessoa é única e leva um tempo para assimilar a
separação. Mas, o importante é compreender que nada foge dos planos de Deus e
que todos devem regressar para a pátria espiritual.
Não existem enganos, chegado o momento de retornar, todos devem voltar
com as aquisições mentais, aptidões, sentimentos e experiências adquiridas.
O sentimento de perda deve ser superado dentro de um tempo apropriado
para que possa continuar o seu desenvolvimento sem grandes comprometimentos
psíquicos.
Ele falou tudo isso e eu entendi que meu luto foi rápido porque eu me
senti livre do marido agressor, no entanto, tinha que fazer um papel de esposa
martirizada diante de todos porque nós precisamos sofrer a perda para sermos
respeitados.
Cada um de nós sofre de uma forma e toda dor merece ser respeitada.
Laís
***
“Acho que as pessoas devem se instruir mais e
conversar mais sobre a morte porque isso é tabu na sociedade”
Eu tinha muito medo de morrer. Então, conforme a idade foi
avançando, eu não queria ficar sozinha em casa, como se isso fosse impedir a
morte de me arrebatar.
Mas, a verdade é que eu infernizava meus familiares para dormirem na
minha casa e ficava conversando, tentava ficar acordada para a morte não
chegar. Eu sonhava coisas terríveis e ficava desesperada. Pavor da morte.
Mas, como é que eu não passaria por isso, já que todo fim é inevitável?
Mas, o que eu não podia imaginar é que não era do jeito que eu supunha.
Eu bem que pensei que iria para o inferno, achava que uma assombração com foice
fosse me levar, mas não sabia que o corpo físico se acaba naturalmente em
decorrência dos desgastes, até que um dia, a vitalidade chega ao fim e não tem
mais condições de alojar a alma que parte para a espiritualidade, enquanto o
corpo fica morto e deve entrar em decomposição.
Imagina que eu podia pensar nisso...
Depois que a alma sai do corpo, ela vai para o local apropriado à sua
consciência de acordo com a forma de vida que levou. Fora do corpo físico, se
torna Espírito e vai para os locais de afinidade com grupos de Espíritos ou
encarnados que gostam das mesmas coisas que ele.
Eu não podia saber que tudo permanece como sempre esteve, a
individualidade, os gostos e saberes, as experiências e os desejos.
Quando cheguei na espiritualidade, fui bem recebida por familiares que
me aguardavam e me saudaram por tudo o que eu havia feito no núcleo familiar,
pela forma como cuidei de filhos e netos eu fui parabenizada.
Nem parecia que eu estava morta, mas numa festa de boas-vindas. Eu
adorei estar em contato com aquele pessoal que não via há tanto tempo e pelos
quais sentia tanto amor.
A vida é muito esquisita mesmo. Tanto faz estar encarnada ou
desencarnada, nós temos tarefas e responsabilidades, temos amigos e familiares
dos dois lados, somos a mesma pessoa que progride se deseja progredir, a partir
dos esforços e boa vontade podemos ter planos e traçar objetivos que nos elevam,
depende de nós aproveitar o tempo para fazer o bem.
Acho que as pessoas devem se instruir mais e conversar mais sobre a
morte porque isso é tabu na sociedade, mas devia ser tratado como algo natural
para que as pessoas não sofressem tanto quando perdem um ente querido e também
quando precisam fazer a transição.
Luíza
***
“Sempre estaremos em contato direto ou indireto com
aqueles que amamos porque os laços da afeição sincera não se rompem com a morte
do corpo físico”
Eu não aceitei a perda do meu esposo. Sempre o amei. Acreditava que
viveríamos juntos por muitos anos e conseguiríamos cuidar de nossa família.
Quando ele partiu, eu era jovem e bonita, mas não poderia casar de novo,
eu não aceitava outro homem em minha vida. Então, eu questionava a Deus dos
seus motivos para tirar o meu amor e me deixar criando sozinha nossos filhos.
Todas as vezes que surgiam acontecimentos diversos de angústia ou
inquietação, eu reclamava e chorava, cheguei a brigar com meu esposo falecido,
eu colocava toda a culpa nele. Nunca imaginei que todas as minhas revoltas,
frustrações e falta de aceitação podiam chegar até ele.
Meu esposo tentava seguir em frente no plano de luz. Ele se esforçava
para trabalhar e estudar, mas sentia minhas injúrias como fluidos que o
atingiam e ele sofria, não podia se concentrar em nada e estava sempre
envolvido com terapias de refazimento.
Nunca poderia imaginar que os encarnados diante de suas dores de luto
podem comprometer os entes queridos que desencarnaram.
Fui informada que todos os familiares que tem rivalidades em torno de
heranças, reclamações, queixas, insatisfações chegam até os recém desencarnados
fazendo com que padeçam e não consigam se desenvolver adequadamente, se tornam
obsessores de encarnado para desencarnados.
As pessoas devem manter uma postura de extremo respeito enquanto estão
de luto, sabendo que aquele que partiu precisa de preces salutares, cheias de
fluidos de esperança e amor, gratidão e encorajamento. Para isso, se faz
necessário mentalizar seu ente querido em refazimento, sorrindo, em paz.
Lembrar, apenas das coisas boas vividas em tranquilidade para que ele receba de
forma positiva as emanações de energia e possa se reerguer.
É uma fase delicada nos dois planos e os encarnados, mesmo sem perceber,
podem prender o recém desencarnados junto a si e no ambiente doméstico.
O amor liberta e compreende a necessidade que cada um de nós temos em
evoluir e prosseguir de forma independente. Sempre estaremos em contato direto
ou indireto com aqueles que amamos porque os laços da afeição sincera não se
rompem com a morte do corpo físico.
Juliana
***
“Se reerguer após uma perda também é uma prova que
nos eleva”
Eu chorava e me descontrolava, não queria saber de ninguém, não queria
fazer nada.
Olhava para os retratos onde estávamos juntos e ficava assistindo os
filmes que adorávamos. Eu me perguntava por que a vida foi tão injusta conosco.
Depois de tudo o que vivemos...
Depois de nos esforçarmos para ter a nossa vida, independente dos
comentários dos maldosos. Nós deixamos de lado nossas famílias para seguirmos o
nosso coração e ele morreu, me deixando sozinho.
Eu não podia suportar. Não sabia o que Deus queria para mim.
Fiquei arrasado durante meses, sentia que em nossa casa era como se ele
estivesse lá. Não me desfiz de nada, conservei os pertences, roupas, livros e
sapatos, tudo estava no devido lugar, parecia que eu aguardava o retorno dele
do trabalho, eu queria que ele entrasse novamente por aquela porta.
Eu não tinha olhos para ver, mas meu companheiro estava ali, junto de
mim. Ele não tinha forças para se ausentar de nossa casa porque eu o mantinha
preso com minhas lamentações. A vida é perfeita fornece situações para todos
possam avançar.
Eu não tinha que me afastar da minha família, pois renasci com projetos
importantes que me faziam perdoar e ser perdoado por eles. Quando me envolvi
num relacionamento homossexual, como ocorreu no passado, meus pais não
toleraram e viraram as costas para nós, eu os abandonei e deixei de lado o meu
projeto de vida: a reconciliação com eles. Mesmo após o desencarne de meu
companheiro eu não consegui me envolver com os familiares, fruto de minha
inconformação e ainda o aprisionei no lar.
Demorou muito tempo para que ele pudesse se desvencilhar de mim e eu
pudesse entender que o amor não funciona desta maneira.
Muitas vezes, nós dizemos que amamos alguém que é conveniente para todas
as nossas necessidades, para nossas carências afetivas e precisamos contar
conosco na eternidade. Só o próprio individual para se sustentar e suprir tudo
o que precisa por si mesmo.
Observar a pessoa que você ama como alguém que precisa ir e vir
independente de suas necessidades e deixar partir com maturidade emocional,
tendo controle dos sentimentos. Se reerguer após uma perda também é uma prova
que nos eleva.
Roberto
***
“A gente tem o que colhe, planta espinho, só pode
colher coisa ruim”
Eu só pensei que aquilo tudo era um grande castigo enviado por Deus. Em
decorrência de todos os meus erros com as mulheres.
A gente sempre sabe que está provocando o mal. Aquele que é cruel sabe
que faz sofrer as outras pessoas, mas é tão sordidamente egoísta que não liga
para o sentimento dos outros, contanto que isso gera algum tipo de satisfação.
Para mim, o sexo era além de uma fonte de prazer, uma forma de mostrar
que eu podia controlar as pessoas do meu jeito, nas minhas condições, mesmo que
fosse na marra, à força.
Eu abusei da minha condição de macho viril, forte e impetuoso durante
três décadas. Acreditava que nada nem ninguém podiam me parar. Eu estava no
controle da situação e elas não me denunciariam porque se sentiam envergonhadas
demais para falar. Então, eu estava bem confortável com meu modo de ser.
Claro que eu não pensava em forças divinais, não temia o celestial.
Nunca tive paciência para este tipo de coisa.
Mas, comecei a me sentir mal. No fundo, eu sabia que algo estava errado.
Temi que minha saúde estivesse comprometida, então procurei um médico, mas ele
disse que não tinha muito a fazer.
Falou que eu precisava fazer exames mais específicos para diagnosticar e
eu me recusei a fazer um exame constrangedor. Eu era homem! Não podia permitir
que aquele médico me tocasse daquela maneira.
Então, ele falou que não poderia me ajudar. Eu sai muito inconformado e
acreditei que tomando um remédio qualquer iria melhorar, não pensei mais
naquelas sensações desagradáveis.
Os anos passaram e, pouco a pouco, eu piorei. Chegou num ponto que fui
em outro médico e ele falou que eu estava com câncer de próstata. Não havia
muito a ser feito, pois o estado já estava bem avançado.
Eu nem podia prever o quanto meu fim seria trágico e doloroso. Mas, me
lembrei de todas as mulheres que molestei durante aqueles anos, sem me
incomodar com seus lamentos. Imaginei que aquilo tudo era a praga delas que
deviam me amaldiçoar. Eu pensei em Deus e como ele fazia as coisas com justiça,
então, ele devia estar enviando aquela doença incurável exatamente para me
parar. Pensa bem! Doença naquela região?!
Eu sabia que era castigo por causa de tudo o que eu tinha feito. Entendi
que a gente tem o que colhe, planta espinho, só pode colher coisa ruim.
Eu não tinha como me beneficiar, então, só estava esperando o pior, por
causa de tanta dor que eu espalhei.
Foi um fim lastimável! Muito padecimento, me fez refletir no sofrimento
de todas elas. Eu me arrependi porque sofri demais. Deus faz tudo certinho, só
com o sofrimento podemos considerar tudo o que fazemos para os outros, senão,
com a impunidade ainda nos sentiríamos donos do mundo.
Desencarnei e foi ruim demais chegar no mundo espiritual com os órgãos
genitais completamente desarranjados, tudo porque utilizei de forma leviana.
Fui ridicularizado por aquelas criaturas tão criminosos quanto eu. Foram mais
trinta anos de desgraças naquele local cheio de ruinas, até que pude ser
resgatado.
Levou outros anos para me restituir e poder sair em paz nesta colônia. A
mente em desalinho, foi difícil o processo de resgate psíquico.
Hoje, agradeço todo trabalho que foi feito para minha reorganização.
Desejo voltar como mulher para aprender a respeitar minhas irmãs em jornada evolutiva.
Sinto vergonha e me arrependo de tudo o que fiz. Homem que é homem sabe seu
lugar na sociedade e trata as mulheres com o devido respeito.
Ivan
***
“Os homens também devem fazer exames preventivos,
muito sofrimento pode ser evitado”
Minha esposa sempre foi muito minuciosa com os cuidados familiares e
estava envolvida com exames e vacinas de todos nós.
Eu sempre achei tanta besteira, falava que ninguém tinha que ter medo da
morte, se fosse para adoecer e morrer, ninguém poderia nos salvar. Eu não me
sentia confortável com aqueles exames escabrosos e muito menos com as picadas
de agulhas, por isso, tentava driblar a preocupação dela e me esquivar de
procurar os médicos.
Diversas vezes, eu a enganei, dizendo que havia feito os exames e estava
tudo bem, mas eu não ia ao médico, achava muita perda de tempo.
Mas, os anos foram passando e senti desconforto para urinar,
indisposição, algo me dizendo que estava na hora de fazer o que ela tanto
solicitava.
Minha esposa foi muito amorosa, explicava que devemos aproveitar os
médicos e seus recursos para vivermos mais e melhor. Ela estava certa, mas eu
não dei o braço a torcer, só quando não tinha mais jeito.
Quando eu me senti muito mal, pedi que ela marcasse o doutor e fui
avisado de que a doença era muito grave. Já estava num estágio avançado. Eu
fiquei impossibilitado de urinar naturalmente, precisei de sonda e de
tratamentos invasivos.
A quimioterapia quase acabou comigo. Que treco absurdamente invasivo. É
como tomar veneno para curar a enfermidade. Achei que fosse morrer no primeiro
dia, mas tudo isso foi só para valorizar a vida.
Eu fiquei a vida toda dizendo que não me importava, mas a verdade é que
ninguém quer morrer.
Eu amava minha vida e a minha família. Sei que poderia ter vivido mais
se tivesse cuidado melhor a minha saúde.
Cometemos muitas negligências, mas em relação a nossa saúde pode ser
fatal. Eu me arrependi porque ela sempre esteve e eu poderia ter tido mais
tempo com eles.
Padeci, desencarnei e fui resgatado. Trazido para cá, me trataram e eu
compreendi a importância de cuidar adequadamente do corpo físico. Os homens
também devem fazer exames preventivos, muito sofrimento pode ser evitado.
Moisés
***
“Se não tive ninguém para segurar
minha mão...”
Sempre houve discriminação. Eu não gostava de procurar os locais de
saúde porque eles nos olhavam diferente.
Eu sempre tive trejeitos como algo incontrolável que eu não podia
evitar. Eu andava rebolando e fazia gestos, causava má impressão e cheguei a
perceber que as pessoas se afastavam de mim em lugares públicos.
Na década de 80 quando estourou a repercussão da Aids aqui no Brasil,
ninguém queria chegar perto de pessoas como eu.
Travestis e homossexuais era causa de medo para a equipe médica, então,
quem poderia acreditar que a gente tinha direito a exame preventivo?
Eu até pensei que fosse aids. Não tinha muito juízo mesmo, saia com um e
outro, nunca me cuidei. Poderia ser aids, mas era outra coisa.
Eu nunca fiquei pensando em doença, fui alegria, queria aproveitar minha
vida. Eu pensava em coisas felizes e motivos de satisfação, não em doença.
Mas, eu estava me sentindo mal. Pobre, sem família, discriminado. As
pessoas me abandonaram por causa do meu jeito. Eu envergonhava meus familiares,
praticamente fui expulso do convívio com eles.
Segui só com meus amigos e romances. Eu vivia do jeito que achava
correto, mas não pensei que tudo isso pudesse me comprometer tanto.
O problema de próstata chegou na meia idade. Solitário, doente, procurei
a assistência médica e fui bem tratado. Será que o preconceito estava, apenas
na minha mente?
Eles cuidaram de mim e me encaminharam para um local que fizesse o
tratamento do câncer, mas eu não dei conta de suportar aquela bomba. A quimioterapia
acabou comigo, eu não me alimentava direito, sempre fui magrinho, não tinha
estrutura para aguentar aquilo não.
Meus familiares souberam do meu estado, mas disseram que perderam o
contato comigo. O pior de tudo foi observar o cemitério no dia do meu enterro e
perceber que não tinha ninguém, além dos funcionários que estavam me sepultando
como um Zé ninguém.
Eu tinha tantos amigos e ninguém na minha doença e morte. Isso me fez
repensar minhas prioridades, meus critérios de vida.
Será que vivi tão bem assim? Se o fim chegou desta maneira e não tive
nenhum pensamento de contentamento...
Se não tive ninguém para segurar minha mão...
O que houve de bom?
Foi como uma vida perdida. Vivi de forma leviana e nós colhemos as
consequências dos nossos atos. Tudo na vida, todos os atos devem ser
raciocinados para não nos comprometermos com sofrimento e arrependimento.
Eu falhei.
Renee
***
“Confesso que tive medo, mas também me aproximei
mais de Deus”
Eu amava minha família. Minha vida não foi perfeita.
Eu tinha dúvidas e muitas obrigações. Precisava trabalhar de sol a sol
para termos recursos que promovessem o mínimo de conforto, mas estávamos unidos
e tínhamos muita fé nos desígnios de Deus.
Minha esposa comentou que eu precisava fazer os exames preventivos, não
me senti muito confortável, mas fiz o que ela solicitou e o médico informou que
eu estava com câncer de próstata.
Fiquei chocado! Conversei com minha mulher e ela chorou, disse que
faríamos tudo juntos e eu iria suportar aquela tribulação em nome de Jesus.
Nos pegamos com Deus e segui todas as orientações médicas. Fiquei muito
abatido, perdi peso, eu me sentia enfraquecido, o tratamento foi bem intenso,
mas eu só me lembrava dos familiares e do poder de Deus nas nossas vidas.
Eu estava colocando minha vida em suas mãos e ficaria satisfeito com
tudo o que fosse de sua decisão, mas eu faria tudo para viver bem com minha
esposa e filhos.
Após meses de tratamento, comecei a me sentir mais confiante e
fortalecido. Foi assim que após um período angustiante, eu fui curado.
Vivi muitos anos depois disso, pude desfrutar do contato com aqueles que
amo e aprendi uma série de coisas, enquanto estava me tratando. O contato com
outros paciente é uma escola, nos coloca diante de questões importantes para valorizarmos
a vida e todos aqueles que nos cercam.
É quando você presta atenção em tudo o que é realmente importante e
deixa de lado situações tolas da vida. Valoriza pequenos momentos e
aproximações dos que nos são caros.
Eu me transformei por causa da doença. Confesso que tive medo, mas
também me aproximei mais de Deus.
O exame preventivo é de suma importância. Permite ter condições de fazer
um tratamento eficiente para vivermos bem e cada vez melhor.
Reginaldo
***
“O racismo só separa aqueles que não se amam de
verdade”
Fazemos tantas tolices! Por que eu não pude aceitar minha posição?
Quanta ingenuidade pensar que pudéssemos ser felizes se estávamos em posições
sociais tão diferentes...
Eu amava Isabel. Tinha verdadeira adoração por ela. No início me
permitia, apenas observá-la de longe, mas ela percebeu meus olhares românticos
e correspondeu. Quando nos entregamos ao amor, tivemos a certeza de que nunca
poderíamos viver em paz naquele lugar, mas onde poderíamos ser felizes?
Minha cor jamais permitiria que as pessoas nos olhassem com respeito.
Naquela época, romance entre brancos e negros era um verdadeiro escândalo.
Conversamos e decidimos romper, eu sabia que ela não seria feliz se
separando de seus familiares, eu também não tinha condições de dar a vida que
ela estava acostumada a viver, rompemos.
Mas, longe dela, eu não era nada mais que um sofredor. Tentei, mas
quando vi, já estava diante dela, pedindo para voltar. Fizemos planos e
sucumbimos ao amor. Partimos para uma vida juntos, enfrentamos muitos
preconceitos. Tivemos filhos que também foram destratados socialmente por causa
do nosso envolvimento. O racismo é um veneno social.
Tudo o que almejávamos era uma vida de paz e integridade social,
respeito e possibilidades de aumentar o nosso patrimônio através de trabalho
digno e justo.
Mas, isso nunca aconteceu. Nossos filhos sofreram abusos morais e
físicos, fomos achincalhados no local onde vivíamos, sempre mal-tratados e
desprezados pela parentela que nunca mais quis saber de nós.
De um lado e outro, só o que vimos foi o racismo imperar como se fomos
portadores de uma doença rara e contagiosa.
Foi uma vida difícil, mas eu não cederia aos meus impulsos de estar com
ela, de formar família e procurar a felicidade juntos em nome de um amor que
não tem cor definida porque é construído na união e concórdia.
Apesar de tudo, sei que mostramos para um grupo de pessoas o quanto
devemos amar independente da raça, credo, posição social. Devemos nos olhar com
igualdade. Sei que nossa união fez com que as pessoas refletissem diante de
seus preconceitos e, por isso, Deus permitiu que renascêssemos, um com a
pele alva e o outro com a pele enegrecida.
De uma forma ou de outra, tudo o que fazemos fica de exemplo para outras
pessoas.
Eu faria tudo de novo para construir aquela família mestiça, envolvida
no mais puro amor. Amor que rompeu as barreiras sociais e deixou claro que o
racismo só separa aqueles que não se amam de verdade. Para nós, um profundo
aprendizado sobre preconceito, valores éticos e morais.
Devemos nos honrar da família que temos, da pessoa que somos e da
vivência que desenvolvemos. Por um mundo melhor!
Bernardo
***
“Todos puderam me enxergar como de fato, eu me
enxergava”
Foram muitas vidas como negro para aprender a valorizar o ser humano
pelo que realmente é.
Eu fui branco, dono de engenho, hipócrita, racista, traiçoeiro. Destes
que levava negros para o tronco e estuprava garotinhas negras.
Cheguei a engravidar mulheres negras diante dos seus companheiros
negros. Nunca valorizei nenhum de meus filhos bastardos. Para mim, era como se
estivessem contaminados com aquela negritude.
Como tantos daquela época, eu acreditava que eles foram criados para nos
servir. Raça inferior que devia fazer o trabalho braçal e o serviço sujo para
os brancos, então, isso tudo não me traziam nenhum tipo de remorso ou culpa.
Eu apenas levava minha vida, satisfeito das minhas conquistas e das
minhas posses. Eram tratados em minhas terras como animais, postos em cativeiro,
amarrados, açoitados, com condições de vida terríveis.
Tudo isso bastou para que eu sofresse muito durante o desprendimento do
corpo físico, no plano espiritual e compreendesse a necessidade de reencarnar
como negro em diversas existências.
O problema é que eu não tinha respeito pela raça enquanto estava
encarnado. Sempre fui um negro reclamão, destes que não aceita a cor da própria
pele. Eu me achava uma pessoa desfavorecida, um pobre coitado, alguém que fora
esquecido por Deus.
Sempre achei que vida de gente branca era mais fácil, mais conveniente.
Ficava indignado diante das coisas que eu tinha que passar. Muita discriminação
a minha volta.
Mas, conheci uma mulher incrível que também era negra, linda! Ela me
disse coisas diferentes, coisas das quais eu nunca havia pensado. Disse que eu
tinha responsabilidade nas coisas que aconteciam comigo e que ela, apesar de
ser negra, não passava pelas mesmas coisas que eu. Ela considerava o racismo,
sabia da desigualdade social, mas não podia perder tempo com queixas e
distrações. Se, a sociedade era realmente injusta, ela tinha que se esforçar
mais que os brancos para ter os mesmos direitos.
Precisava trabalhar muito mais que suas amigas brancas para ter uma boa
vaga de trabalho e ser inserida em bons ambientes de estudo. Sua postura moral
tinha que ser irrepreensível para ter boas relações sociais e não sofrer
discriminações o tempo todo.
Depende de nós — disse ela.
Eu não tinha pensado assim. Eu também discriminava os negros, achava que
eram pessoas inferiores, desprovidas de inteligência e capacitações. Eu não
queria ser negro. Mas, naquela vida, aproveitei os conselhos daquela negra
linda e parei de reclamar para me capacitar melhor.
Trabalhei duro, estudei, me condicionei a ter uma postura irrepreensível
porque o negro sempre foi taxado de “sujo, pinguço, vagabundo, marginal”,
então, eu tinha que ser visto como honesto e trabalhador.
Consegui porque eu me vi sendo um negro de talento, honesto e
trabalhador.
Todos puderam me enxergar como de fato, eu me enxergava.
Aquela negra linda se tornou minha esposa amada e eu consegui enxergar
nela, todas as qualidades nobres de uma mulher de bem. Construímos uma família
grande e feliz com bons princípios evangélicos, éticos e morais.
Eu aproveitei tão bem esta encarnação! Cheguei aqui muito satisfeito dos
aprendizados que adquiri. Modifiquei plenamente minha conscientização sobre
raças e fiz muitos afetos. Sou extremamente agradecido.
José Sebastião
***
“É assim que tem que ser, a moral fala mais alto do
que a cor da pele, a posição social, o estado civil, a opção sexual”
Mulher negra, viúva, mãe de sete filhos. Eu sou a Maria!
Vida cheia de sacrifícios e muita honra. Depois de oitenta e três anos,
consegui olhar para trás e visualizar tantos tormentos que enfrentamos por
causa daquela pele negra.
Logo que meu marido morreu, eu nem sabia como faria para criar aquele
bando de filhos. Os homens da região me ofereciam ajuda dizendo que eu poderia
fazer favores a eles. Sei bem quais eram estes favores...
Mas, eu nunca cedi as investidas deles. Sempre fui mulher valorosa.
Preferi acreditar nas muitas vezes que meu esposo dizia o quanto eu cozinhava
bem.
Fiz bolos e pães, bolachas e geleias, fui para a linha de trem e vendi
tudinho.
Realizava este trabalho sete dias na semana. Com muito esforço, de baixo
de sol e de chuva, lá estava eu, servindo café e coisas boas para as pessoas
que estavam de passagem pela região.
Foi assim que o tempo passou. Os meninos cresceram e me ajudaram a abrir
um lugarzinho para não tomar mais chuva. Minha vendinha ampliou, virou
restaurante. Meus filhos ajudaram, trabalharam bastante, tudo gente de bem,
digno e honrado.
A vizinhança tratava a gente com respeito porque todo mundo era
trabalhador.
Tinha quem precisava de nós. De vez em quando, um que estava na
rua, outro que perdia o emprego, uma ou outra que engravidava sem querer. A
gente sempre ajudava. Ninguém ficava reparando na cor da pele não. Era gente,
era irmão, tinha que amparar.
Sempre ensinei meus filhos a não se curvarem para o racismo. Tratar as
pessoas de igual para igual com a cabeça erguida porque não deviam nada para
ninguém.
O preconceito só atormenta quem não se garante. A gente não pode tolerar
ser destratado quando é gente do bem.
Tivemos uma vida ótima. Espalhando bem feitorias e trabalho sério na
região. Não tinha quem tivesse coragem de falar mal de nós, assim, a nossa
maneira de ser quebrou com muitos preconceitos porque as pessoas eram amparadas
por mãos negras e seguras.
É assim que tem que ser, a moral fala mais alto do que a cor da pele, a
posição social, o estado civil, a opção sexual.
O que importa é a maneira como nos apresentamos no mundo e a forma que
temos de propagar o bem e a paz.
Foi uma bela jornada. Cheia de possibilidades e descobertas
interessantes. Eu agradeço ao Pai que me beneficiou em tudo. Graças a Deus.
Luzia
***
“Tudo pela evolução. Para que o mundo seja esta
escola de almas onde todos se purificam”
Agora está tudo mais fácil. Tantos brancos que já retornaram como
negros, sofrendo na pele a discriminação e maus tratos.
Nós olhamos com pena, percebemos o quanto as pessoas sofrem com lesões
físicas e morais em decorrência dos abusos do racismo, mas não paramos para
pensar que são os mesmos Espíritos.
A gente sempre aprende, de uma forma ou de outra, a gente sempre aprende
a se comportar na sociedade.
Uns conseguem se envolver com pessoas maravilhosas que, através do amor
ensinam a amar. Conseguem perceber que a cor da pele não é nada diante do bem
querer.
Outros precisam sofrer as amarguras da privação, dor, leviandades
sociais para compreender que não devem ser racistas. Sentir na pele o mal que
fizeram outros irmãos sofrerem.
Tudo pela evolução. Para que o mundo seja esta escola de almas onde
todos se purificam.
Nós já podemos raciocinar e avaliar o quanto as pessoas são especiais
independente da cor da pele, mas ainda existem muitos racistas que se camuflam
de pessoas bondosas na sociedade.
São pessoas que discriminam quando veem um cabelo crespo, a pele negra,
as fotos de família. Excluem das vagas de emprego, não permitem que sejam
vistos em posição de destaque, fazem de tudo para ofuscar e não permitem que
chamem a atenção. Existe em toda parte, hipócritas sociais! Pessoas que se
vestem de santas e são racistas.
Muitas sinhás, capitães do mato, sinhorzinhos, donos de engenho que
reencarnam sem aprender muita coisa e ficam destoando desta sociedade que
deseja crescer, desenvolver-se, elevar-se diante de projetos e boas iniciativas
de recuperação social.
Despertem! Percebam nossas verdadeiras necessidades. Comecem a valorizar
as pessoas pelas obras que espalham, pelas palavras que pronunciam e pela
cooperação que trazem neste mundo que se modifica dia após dia.
Pobre daquele que não considera o seu irmão pelas batidas do seu
coração!
Pobre daquele que não consegue enxergar além das aparências físicas!
Todos aqueles que não admitirem para si mesmos o quanto são doentes da
alma, levarão mais tempo para reabilitarem seu Espírito.
Apenas as duras amarguras da vida para ensinarem a viver de acordo com os
princípios do Mestre.
Num mundo onde a harmonia e a concórdia imperam, existem muitas pessoas
de raças diferentes vivendo na mais perfeita ordem. Precisamos nos acostumar
com esta realidade.
Clodoaldo
***
“Cada um
só entrega aquilo que tem e não podemos exigir que as pessoas gostem de nós”
Eu sempre a amei, de outros
tempos, de outras vidas, mas nunca foi fácil amá-la.
As pessoas deveriam pensar nos
outros que dedicam suas vidas para fazê-las felizes. Refletir se são facilmente
amadas, se estão permitindo que outras pessoas as amem.
Ela sempre me espezinhou. Em
muitas vidas, me desprezou, me rejeitou, não me quis como amigo, nem tão pouco
como cônjuge. Eu cheguei a me suicidar por causa de sua rejeição. Sei que
trouxe de muitas existências, uma fixação mental para com ela, como um objeto
de obsessão.
Fiz tratamentos no plano
espiritual, solicitei o seu auxílio e ela, delicadamente, me aceitou, fizemos
um planejamento reencarnatório onde seriamos marido e mulher. Mas, quando
reencarnamos, parece que a repulsa surge novamente.
Desta vez, tentei com toda
paciência aceitar seus ímpetos de agressividade, suas neuroses e até sua
traição, perdoei devido ao amor que sinto. Mas, ela dizia com tanta energia o
quanto eu era um fracassado, um homem fraco, cheio de mediocridades, ela me
destruía por dentro, dizendo que eu nunca seria alguém com conquistas e
próspero.
Suas palavras de afronta e
escárnio acabavam com minha integridade moral, pouco a pouco, minhas forças
foram se extinguindo e comprometi meu chacra, foi então que me senti doente,
procurei um médico e descobri que estava com câncer de próstata.
Sei que tenho uma parcela de
culpa muito grande, eu insisti. Tentei fazer com que ela me amasse, com que ela
correspondesse ao amor que eu nutri. Ela chegou a me rejeitar como filho em uma
existência próxima. Compreendi que cada um só entrega aquilo que tem e não
podemos exigir que as pessoas gostem de nós, elas têm o direito de nutrir tudo
o que quiserem.
Eu me arrependi imensamente, sei
que ela deve ter se esforçado para me amar e ter que conviver comigo também fez
dela uma pessoa infeliz. Depois de tudo o que aconteceu, ela ainda foi muito
prudente, cuidou de mim na enfermidade, facilitou a fase tão difícil e
dolorosa, desta forma, me senti acolhido amparado por ela, acho que era tudo o
que eu precisava para libertá-la. Eu não vou segui-la desta vez, estamos livres
um do outro.
Compreendi que a doença permitiu
que sentíssemos boas coisas um pelo outro e despertássemos para a necessidade
de nos separarmos em paz. Já sofremos muito em relacionamentos doentios onde
estivemos juntos por imposição, por obrigação. Chega!
Nós podemos aprender separados o
que não conseguimos aprender juntos. Eu agradeço pelo tempo que estivemos
juntos, mas eu também preciso viver cercado daqueles que me desejam o bem.
Euclides
***
“As
pessoas têm que cuidar de suas vidas e não permitirem que outras ditem como
devem viver”
Minha mãe sempre teve o hábito de
decidir por mim, foi como uma escolha feita, eu aceitei que ela determinasse o
que seria da minha vida, como se ela soubesse o que era melhor para mim.
Enquanto eu era jovem, aquilo
nunca me incomodou. Ela escolhia até meus amigos, minhas roupas, minha
profissão e emprego. Decidia se era conveniente sair, ir para festas e
comemorações, tudo e eu, sabia que, em decorrência do seu amor, devia escutar
tudo o que ela tinha a dizer. Eu acatava suas decisões com o maior respeito.
Mas, o tempo passou, eu
continuava a ouvir o gracejo das pessoas que nos conheciam, no bairro, na
família, no trabalho ou o núcleo religioso, todos zombavam de nós, mas eu nunca
liguei, afinal, ela era minha mãe adorada.
Porém, me interessei por uma moça que minha
mãe não achou adequada para mim, fez muitas críticas, comentou, chegou a
insultá-la e eu não gostei. Desejei colocar um basta naquela situação que
começava a me incomodar porque, desta vez, eu não aceitava a sua decisão.
Ela ficou inconformada e fez do
seu jeito, armou situações para nos separar, infernizou tanta a vida da moça
que ela preferiu me deixar, mas não antes de me dizer com todas as letras que
eu era um “dominado pela mamãe”, aquilo me arruinou.
Eu entristeci, não tinha mais
ânimo para nada. Desejei mudar de vida, gritar e me rebelar contra mamãe, mas
eu não tinha forças de ir contra ela. Minha mãe, pelo contrário, estava
tranquila e feliz, dizia que não precisávamos de ninguém. Ela não desejava que
uma mulher ficasse entre nós ditando regras.
Eu chorei, fiquei profundamente
entediado, sem esperança de um futuro melhor, foi como se eu perdesse a vontade
de viver, me vi como um prisioneiro daquele amor que me pareceu doentio e sem
propósito. Eu me perguntei se aquilo realmente era o amor de mãe normal, visto
em toda parte.
Quando percebi a doença tomando
conta de mim, cheguei a ficar feliz. Eu não desejei me tratar, eu não quis
mudar a situação. Parecia que o fim estava surgindo para me libertar, então,
não declarei nada a ela. Deixei que a coisa se alastrasse e o câncer cresceu
com uma velocidade impressionante.
Por isso, as pessoas dizem que,
muitos quando descobrem o câncer, desencarnam mais rápido. É o “jogar a
toalha”, é o se entregar para a derrota. Eu não tinha motivos para viver, não
tinha nada de bom.
As pessoas têm que cuidar de suas
vidas e não permitirem que outras ditem como devem viver. Muitos podem achar
conveniente entregar suas vidas nas mãos daqueles que podem decidir e orientar,
mas o correto é a evolução de cada um. Mesmo que os pais ditem regras, os
filhos devem colocar limites, saber decidir e agir por conta própria, por
iniciativa pessoal.
Eu errei, não culpo minha mãe,
mas fui um parasito psíquico, eu me nutri dos pensamentos dela, enquanto foi
confortável para mim. Eu não a culpo.
Ricardo
***
“A culpa
não é do agressor porque nós permitimos que as pessoas nos usem como
marionetes”
Regina desceu as escadas e
informou que precisávamos nos mudar. Ela achava que nossa vizinha estava dando
em cima de mim.
Eu amava minha esposa, só tinha
olhos para ela, apesar disso, os ciúmes arrasavam com a imaginação dela que via
traição por toda parte.
Era difícil viver sem saber o que
ela iria decidir para nós. Dependendo da situação ela mudava tudo, deixava de
ir a compromissos de família, brigava em público, fazia queixas intermináveis,
escândalos. Estava sempre me investigando, cheguei a perder empregos por causa
de sua forma de agir. Eu estava cansado de dizer que sempre fui fiel e leal aos
seus sentimentos.
Sei que tudo isso tinha razão de
ser, por causa do relacionamento dos pais dela que causou bloqueios em todos os
filhos. Traição e agressões físicas que geraram transtornos mentais e
comportamentais em todos eles.
Eu compreendi e fui indulgente,
mas já estava me deixando exausto. Fizemos terapia, viajamos e por último,
apareceu o ciúme da vizinha para acabar com minha paz dentro de casa.
Ela, apenas informou que nos
mudaríamos e já começou a arrumar as malas. Aquilo me irritou muito e eu senti
um fogo ardendo no fundo do meu ser. Mais uma vez, cedi. Nos mudamos e eu
percebi um desconforto, uma enfermidade.
Procurei um médico que disse
claramente que eu estava sendo “castrado” há anos. Ele perguntou quem era a
mulher que estava me impedindo de viver como eu gostaria. Eu sabia a resposta,
mas não quis colocar nas costas dela. Eu refleti e entendi que a culpa não é do
agressor porque nós permitimos que as pessoas nos usem como marionetes.
É cômodo e confortável fazer o
que se deseja de alguém, ter uma pessoa na palma da mão, saber que ela vai
fazer tudo por você é incrível. Existem pessoas que se acostumam com isso e
fazem tudo para não perder as rédeas do controle do outro. Nós permitimos! A
culpa foi toda minha.
Tive que me entender e
compreender por que eu permitia que ela me tratasse assim. Eu precisava mudar
para me curar completamente. Decidi me separar dela, quebrar aquele elo de
controle mental. Quando fui embora, senti um aperto no coração, foi muito
difícil para mim, acho que gostava de saber que ela decidia por nós. Nos
primeiros meses, quase desisti e voltei para ela, mas aos poucos, fui me
reconhecendo e me tratando, juntamente com o tratamento físico, o tratamento
psíquico, assim, fiquei completamente curado.
Foi como redescobrir tudo o que
existia em mim, minhas necessidades e potenciais. Acho que foi prudente colocar
um basta naquela relação. Para ser bom e saudável, deve ser bom para ambos.
Luís dos Anjos
***
“Esqueci de vigiar meus pensamentos”
Sei que usei indevidamente meu
aparelho genital. As pessoas fazem coisas que não gostariam de confessar. Se,
naquela época, eu soubesse que nada fica escondido, eu teria vergonha de fazer
o que fiz.
Sempre tem alguém observando no
plano espiritual. Sempre tem alguém ouvindo nossos pensamentos prevaricadores e
pervertidos. Eu não podia imaginar que eu criava formas pensamento em volta de
mim. Que vergonha!
Eu atraia seres cheios de desejos
e ímpetos sexuais, muitas energias deletérias que desestabilizavam meu corpo
físico.
Em toda parte, eu tinha uma
conduta irrepreensível e era visto na sociedade como um bom pai de família.
Ninguém ousaria falar mal de mim. Bom trabalhador, honesto, eu estava
realizando um bom trabalho na igreja e tinha muitos amigos, era bem sociável.
Todos apreciavam nossa família e
eu não tinha motivos para desconfiar estava arruinando minha trajetória porque
meus atos eram bons, mas não é só isso que importa. Eu esqueci de vigiar meus
pensamentos.
Meus pensamentos não eram
valorosos. Foi como ter dupla personalidade. Em minha mente, eu adotava outra
personalidade, eu vivia em outro mundo, eu era mulherengo e dominador, fazia
coisas indescritíveis, eu tinha outro aspecto.
Sinto muita vergonha daqueles que
viram o que eu produzi. Fiz isso por anos, para fugir da minha vidinha
monótona. Eu criei um mundo pervertido na minha mente e arruinei minha saúde
mental e física. Meus órgãos genitais foram os mais danificados. Eu produzi o
câncer de próstata que não tinha como tratar. Rapidamente se alastrou para
outras partes do meu corpo e eu desencarnei.
No mundo espiritual sofri porque
adotei a imagem mental que criei com o passar dos anos e fui levado
imediatamente para o local de trevas com criaturas tão levianas quanto eu.
Foram muitas décadas sendo escravo, fazendo mal para os encarnados,
compreendendo o que eu mesmo fazia no plano físico. Existem muitos como eu,
muitos encarnados que criam mundos psíquicos para fugir do marasmo de suas
vidas simplórias e corretas diante dos homens. Vivem uma vida extremamente
retificada, mas na mente cometem todos os abusos, até crimes. São infiéis,
pedófilos, criminosos, vingadores, ladrões, matadores, corruptos, tudo mental.
Quando desencarnam, assumem este
papel, são exatamente aquilo que mentalizaram durante os anos no plano
material. Têm o seu desejo realizado.
Por isso, padeci e precisei de
arrependimento, de desespero na dor. Quando cheguei aqui, estava exausto e
precisava de terapia urgente. Já faz anos que me trato, ainda não tenho
previsão de alta. Não posso regressar com os pensamentos em desalinho, seria
perturbador, acredito que precisaria de um cérebro danificado, mas segundo o
doutor, não será preciso.
Estou melhorando. Retornarei como
mulher, mãe, vivendo de forma resignada. Se Deus quiser, será uma boa
encarnação.
George
***
“Evangelho de Jesus que é o único capaz de Salvar o mundo de tantas
torpezas morais”
As comemorações de Natal são indispensáveis porque existem pessoas que
só escutam falar no Mestre Jesus nesta época do ano.
Ainda insistem em utilizar a data para a comercialização de presentes e
comilanças, mas pelo menos, começam a refletir sobre fraternidade e
solidariedade, sentem o envolvimento com a espiritualidade de luz.
As famílias precisam de educação religiosa com base no Evangelho. Não
exalto nenhuma religião, mas o Evangelho de Jesus que é o único capaz de Salvar
o mundo de tantas torpezas morais.
Sem o Natal o planeta estaria muito pior. Nesta data, as pessoas pensam
nos menos favorecidos e se envolvem com gestos caritativos, se elevam e pensam
nas injustiças sociais, nos sofrimentos causados pela negligência, no quanto
poderiam fazer se todos se uniam em nome do amor e da esperança.
O símbolo de Jesus salva muitos corações arrependidos. Sua majestade
ilumina os ambientes familiares e promove a renovação.
A simples atitude de lembrar de sua imagem faz com que bondosos
instrutores do Alto possam realizar o trabalho de renovação nos ambientes
domésticos possibilitando que muitos sejam socorridos e encaminhados.
Deixando que Jesus sempre será o bondoso pastor a conduzir as ovelhas à
casa do Senhor. Ele sempre será a luz que nos ilumina, a verdade que precisamos
alcançar para termos dias melhores nesta Terra.
Sem o Natal permaneceríamos na materialidade que nos aniquila. Tudo
inicia com os bons pensamentos emanados na noite de Natal que opera as
transformações nas consciências que precisam ser despertas.
Que neste Natal, Jesus possa nascer em seus corações e operar as
renovações necessárias para uma fase marcante de esperança e fé que lhes
conduzirão a dias muito melhores.
Elias
***
“Gestos simples em nome de outros irmãos nos
despertam para a grandeza de nossas vidas”
Eles brigavam demais e me pediram ajuda, acreditei que fosse se separar,
mas no fundo, eles almejavam uma salvação familiar, algo que fosse suficiente
para salvar aquele casamento.
Eu estava precisando de ajuda com os presentes de Natal, muitas crianças
carentes se beneficiariam daquelas doações e eu estava bem atarefada, então,
disse que enquanto conversássemos eles poderiam me ajudar.
Era muito trabalho, cansativo e temendo não ter a quantidade que fosse
suficiente para todas as crianças. Começamos o trabalho com uma série de
queixas por parte do casal, eles se ofendiam e não sabiam dizer quem era o
responsável pela vida de desentendimento e dor, mas após algumas horas, eles
estavam envolvidos com a causa nobre de promover auxílio e alegria às crianças.
Quando dei por mim, eles estavam sorrindo, embalando brinquedos,
profundamente envolvidos com o trabalho edificante.
Eu cantei, cânticos lindos de Natal, exaltando o Mestre e sua equipe de
luz nos guiava para o trabalho de amor.
Gestos simples em nome de outros irmãos nos despertam para a grandeza de
nossas vidas e das oportunidades que temos de fazer o bem simplesmente para
agradecer por tudo o que recebemos de Deus.
Tudo ensinado por Jesus que nos revelou o Pai amado, que somos irmãos e
devemos nos amparar sem exigir nada em troca.
Naquela tarde, aquele casal chegou brigando e saíram cansados, de braços
entrelaçados, sorrindo.
Pensei no quanto as pessoas perdem tempo com questões corriqueiras,
desnecessárias, com disputas e rivalidades domésticas que apenas servem para o
afastamento dos entes queridos.
O trabalho de doação aproxima, nos faz sentir nas necessidades dos
nossos irmãos, as nossas próprias necessidades e que podemos ser melhores.
Sentimos o quanto recebemos em termos de bem-estar e equilíbrio emocional
quando doamos atenção, disposição, afeto e também os benefícios materiais.
Quando saindo um pouco do nosso mundinho para percebermos outras
pessoas, compreendemos que não devemos descuidar daqueles que estão ao nosso
lado.
Sermos mais atenciosos e delicados com todos que precisam de nós,
depende de nós vivermos em paz no círculo doméstico. Parte de nós a doação
integral de amor.
O Natal faz pensar nos outros, mesmo que instintivamente as pessoas
insistam no egoísmo, a época do Natal remete à caridade e este sentimento pode
salvar muitos homens de pouca fé.
Se envolvam com o Natal, não apenas na troca de presentes e casas
iluminadas, mas que a luz reine em vossos corações.
Lídia
***
“Que possamos despertar para a necessidade de bem
feitorias sociais o ano todo”
Dava muito trabalho, exigia horas de trabalho daqueles que se
comprometiam, até porque não eram muitos que sacrificavam seus afazeres
domésticos e horas de tranquilidade para preparar a ceia no dia de Natal.
Durante muitos anos, meus familiares se queixaram da minha ausência e
precisei reforçar que eu estava ali, inicialmente, para pagar uma promessa que
fiz para a Virgem Maria.
Quando eu clamei por meu filho que estava se entregando para a morte, eu
disse incisiva que dedicaria todos os meus Natais para realizar o trabalho de
doação, eu ajudaria a preparar a ceia na igreja e ofertar no dia de Natal para
os carentes.
Ela me atendeu, ela que havia sofrido tanto pelos acontecimentos que
cercaram a vida de seu filho, ela me ajudou e eu tinha muita fé em Maria
Santíssima e no seu filho.
Eu não podia quebrar a promessa depois de ter sido atendida. Explicava
todos os anos e, ainda assim, eles zombavam da minha fé e depois discutiam que
não tinham a dona da casa presente para servir uma boa ceia.
Eu saia chorando, inconformada e ia trabalhar com o coração partido, mas
o tempo passou e eu gostei de servir.
Quando nos tornamos servos no trabalho edificante, uma energia envolve
nossa alma, a satisfação é muito grande e não podemos nos afastar, isso seria
terrível para nosso ser. Então, depois de alguns anos, eu não chorava mais,
deixava tudo pronto em casa e saia grata por ter como realizar uma boa ação, ao
menos no Natal.
Trabalhei durante anos e, um dia, meus familiares desejaram ver o que eu
fazia no Natal e almoçaram comigo na igreja. Eles entenderam por que era
importante o que eu fazia. Eles se prontificaram em ajudar e passaram a atuar
como servos de Jesus na sua comemoração.
Nós não podemos desistir do trabalho abençoada, mesmo que nossos
familiares fazem reivindicações porque os bons e propensos ao bem devem
espalhar seus bons frutos na sociedade para estimularem outras pessoas no
caminho da fé, otimismo e boa vontade.
Eu fiquei muito feliz que as coisas tenham dado certo para eles, que a
mudança de atitude tenha acontecido em nome de Jesus e que depois disso, a
renovação tenha acontecido de forma tranquila.
Que possamos despertar para a necessidade de bem feitorias sociais o ano
todo.
Zulmira
***
“Isso é o Natal: Nascimento
da esperança, da paz, das oportunidades de edificação em nós”
Eles só queriam ver o Papai Noel.
Eu não concordava com aquilo porque não achava correto estimular a
imaginação de crianças tão sofridas. Eles já não tinham o direito de ter família,
estudo decente, casa e conforto. Por que deviam ser estimulados a sonharem com
algo tão fora da realidade?
Conversei com a diretora do orfanato e disse o meu ponto de vista, mas
ela me fez raciocinar...
Disse que muitas pessoas precisam sonhar para viver. É tudo o que lhes
resta para caminharem com perseverança e esperança.
Através dos presentes de Natal e do Papai Noel, sentem que não estão
completamente esquecidos. São como todas as outras crianças, alguém se preocupa
com eles no Natal.
Assim, eles se envolvem com os cânticos e com a lembrança de Jesus, eles
reconhecem o Senhor Jesus como uma criança que cresceu para salvar todas as
pessoas do mundo, sofreu e mesmo assim, nunca se distanciou do Pai Amado. Ele
confiou nos desígnios do Pai que nunca o abandonou.
Eles que são órfãos e não têm pais biológicos a interceder por eles,
passam a confiar em Deus Pai a semelhança de Jesus, ser de luz.
Tudo começa com o Natal, com o Noel, com os presentinhos.
Parece bobagem, mas reflexões infantis do Natal que transforma as
criaturas sofredoras em Filhos de Deus como Jesus ensinou.
Faz ter a percepção de que ninguém estará abandonado ou desprovido de
socorro, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos neste mundo.
O mestre enfatizou que todos os sofredores receberiam as bem-aventuranças,
então, devemos segui-lo, seguir suas orientações para sentirmos a satisfação
que beneficia os justos e os misericordiosos.
Isso é o Natal: o nascimento. Nascimento da esperança, da paz, das
oportunidades de edificação em nós.
Manuela
***
“Será que as pessoas que permitem o nascimento de
Jesus dentro delas vivem diferente?”
Nós estávamos esperando por eles. Já fazia cinco anos que eu estava na
rua. Depois do desencarne de minha esposa, eu perdi a alegria de viver. Estava
todo endividado, minha casa foi a leilão. Eu não tinha condições financeiras e
nem forças psicológicas para enfrentar a justiça, eu preferi entregar os
pontos, achando que não tinha muitos anos de vida.
Achei mesmo que não devia ser muito difícil morar na rua, parecia que a
morte estava tão perto de mim, mas não era a morte não, era a falta de
esperança, a falta de perspectiva, o desânimo que matava a vontade de viver.
Fui parar na rua e muitas pessoas perguntavam se eu não tinha ninguém,
um parente qualquer, um amigo que pudesse se compadecer de minha situação
deprimente, mas a verdade é que todos nós conhecemos muita gente e ficamos
cercados de pessoas interessantes quando temos algo a oferecer, mas quando as
pessoas percebem que fracassamos ou podem se envergonhar de nós, todos viram as
costas, eles se esquecem do quanto gostavam do nosso jeito de ser e desaparecem
sem deixar vestígio.
Eu até tentei me aproximar de alguns deles, mas quando percebi o
constrangimento, quando notei que eles fingiam não me conhecer, não insisti
não, eu fui embora sem olhar para trás.
Vivi na rua e conheci tantas outros como eu, pessoas que eram
fracassados moralmente, não eram perigosos, não ofereciam riscos, mas eram
desprovidos de tudo, principalmente de dignidade.
O fato é que todos nós, em situação de rua, aguardávamos aquela data
porque sabíamos que comeríamos bem.
Nós sabíamos que as pessoas ficam mais dispostas ao bem, à caridade.
Eles olham para nós com compaixão e não sentem tanto medo. É como se soubessem
que Deus pode fazer mais por eles, se olharem para todos os desfavorecidos.
Eu queria que eles pudessem nos tratar daquela maneira durante o ano
todo, mas no Natal isso acontecia como por milagre.
“É a influência do Cristo” – disse um colega sorrindo.
Nós aguardamos por eles e fomos bem tratamos quando trouxeram as
marmitas. Era uma comida bem preparada, comida de Natal. Eles chegavam em
grupos e forneciam os alimentos e um pouco de atenção, então, pensei que o
Cristo deve ter sido boa gente mesmo para ensinar uma obra tão bela de
solidariedade.
Eu queria tê-lo conhecido. Queria que seus ensinamentos fizessem parte
da minha vida. Enquanto eu saboreava o jantar de Natal proporcionado por sua
doutrina fraterna, imaginava como teria sido minha vida se eu tivesse vivido
com a sua presença em mim. Será que as pessoas que permitem o nascimento de
Jesus dentro delas vivem diferente?
Será que elas conseguem se reerguer diante de um fracasso? Conseguem
superar frustrações e dificuldades com tudo o que aprenderam com Jesus? Será
que os cristãos conscientes podem ultrapassar todos os obstáculos?
Eu comi aquela refeição e refleti muito sobre minha vida. Pensei que eu
não precisava passar o resto da minha vida, jogado no viaduto. Eu não sabia
quanto tempo Deus podia me conceder, mas eu fiquei indignado com minha situação
deplorável e chorei. Naquele momento, meu cheiro me incomodou. Foi como se eu
tivesse despertado para a minha realidade, eu tive olhos para ver.
Acho que foi porque me envolvi muito com o Natal de Jesus, fui tocado
por ele com aquele gesto de caridade.
Eu comi e no outro dia fui buscar ajuda na casa de acolhimento, falei
com a assistente social, eu precisava buscar outro modo de vida. Não foi fácil,
mas o que é fácil na vida de encarnado? Fala pra mim.
Consegui, me reergui, consegui através do emprego ganhar forças e
dignidade para sair da rua para sempre. Nunca vou me esquecer do que vivi nas
ruas. Experiência enriquecedora através do sofrimento. Sei que foi um belo
resgate.
Todos podem conseguir, não precisam de pena, mas de compaixão. Precisam
de prece, de caridade.
No Natal, a energia é favorável à renovação.
Tião
***
“Rogo a Deus que ilumine as pessoas que têm
condições de distribuir bondade no Natal”
Fui parar nas ruas por causa das drogas. Meus pais não aguentavam mais.
Depois que eu comecei a roubar os eletrodomésticos e vender para conseguir
dinheiro, meus irmãos decidiram me colocar para fora de casa.
Mamãe chorou, meu pai disse que eu era um filho problemático e ele não
tinha cumprido o plano de Deus em me conduzir adequadamente. Sei que meu pai
morreu de desgosto, anos depois, porque ele sentiu que errou comigo, mas eu não
conseguia me libertar do vício.
Fui retirado da casa dos meus pais e parei na rua onde conheci muitos
casos de vida, tão lamentáveis como o meu. Eu roubei, me uni com pessoas piores
do que eu, capazes de matar para conseguirem drogas.
Não existe escrúpulo nas ruas!
Eu fiz coisas das quais me envergonho muito e me arrependi de ter
começado minha vida de vício porque eu não conseguia para de ficar chapado.
Vagamente me lembrava do cara que fui um dia, quando eu ainda estava com
a cabeça zerada. Lembrava do meu antigo lar e do contato que eu tinha com meus
familiares, ninguém queria saber de mim, mas eu sabia que minha mãe ainda devia
chorar a minha ausência, mas ela não merecia um filho problemático como eu.
Naquela noite, eu vi quando o carro parou perto de nós. Ouvi,
claramente, quando um malandro falou:
— Eles não têm medo de nós? Não pensam que podemos roubá-los?
— Por isso, eles vêm em bando – disse outro.
Eles tinham medo sim, mas precisavam doar os alimentos, água e roupas.
Eles ainda falavam do Evangelho. Era engraçado como as pessoas da rua se
aproximavam como moscas varejeiras. Eles queriam tudo e ficavam implorando por
mais um prato. Fome que não acaba mais e medo de passar fome no outro dia
porque, afinal, as pessoas normais comem todos os dias, não apenas no Natal.
Mas, era o melhor que podiam fazer por uns indigentes que estão pagando
os pecados nas ruas.
Eu entendia que todos ali faziam o seu melhor. O problema do ser humano
é analisar, apenas a sua história e acreditar que a vida do semelhante é muito
fácil. Mas, eu pensei no que eles deviam fazer para doar todos aqueles
alimentos e garrafas de água.
Qual era a intenção deles com tudo aquilo? Correndo riscos, se nem os
próprios familiares nos queriam por perto...
Refleti enquanto comia e me lembrei muito da comida da minha mãe, chorei
quieto e vi que muitos ali estavam chorando, outros rezavam e agradeciam a
Jesus na noite de Natal.
Sei lá, comecei a perceber o quanto o Natal é importante para unir as
pessoas. Como é importante que o Natal ocorra todos os anos.
Eu não consegui me modificar naquela vida, desencarnei pouco tempo
depois, mas sei que aqueles pensamentos, de alguma forma, facilitaram a minha
entrada neste local onde estou fazendo o tratamento de desintoxicação.
Estou bem melhor, sei que, em breve poderei reencarnar. Por isso, rogo a
Deus que ilumine as pessoas que têm condições de distribuir bondade no Natal.
Isso ajuda muita gente.
Reginaldo
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