“Temi os seres humanos por causa da covardia dos meus pais”
Pensei que fosse culpada pela rejeição deles. A supervisora dizia que
meus pais me abandonaram na porta do orfanato, quando era, apenas um bebê.
Eu pensei que eles não me quiseram, mas não conseguia imaginar um motivo
para os pais abandonarem seus filhos.
Minha carência afetiva fez imaginar coisas terríveis como se fosse um
ser odioso repelido pelos pais. As crianças mais felizes no orfanato eram
aquelas que perderam os pais num acidente qualquer, era dez vezes melhor saber
que os pais estavam mortos e que, por isso, não podiam cuidar deles, do que ter
sido entregue voluntariamente às portas do orfanato. Uma criança sem nome,
deixada numa caixa de sapatos, sem a menor preocupação se ela resistiria ao
frio ou a chuva, se um bicho a encontraria...
Eu refleti sobre isso durante toda a minha infância e isso tudo fez com
que eu odiasse meus pais biológicos. Eu cresci profundamente enfurecida pelas
faltas de oportunidades e maus tratos que sofri naquele local em decorrência à falta
de responsabilidade e amor de meus genitores.
Eu não queria que me adotassem porque eu pensava: “se meus pais, sangue
do meu sangue, não me quiseram e me deixaram entregue à própria sorte, o que
seria de mim, nas mãos de seres humanos que não têm vínculo algum comigo?”
Eu temi qualquer tipo de aproximação com todos que tentavam olhar pra
mim, numa possível adoção. Fiz de tudo para ficar silenciosa e invisível
durante todas as visitas. Quando, inevitavelmente, pediam para conversar, eu
era ríspida e pavorosa, eles logo perdiam o interesse, afinal havia muitas
crianças, de todas as idades. Todos precisando de um lar, de acolhimento,
proteção e amor. Crianças lindas e muito carentes, só faltavam ajoelhar para
serem levadas dali.
Eu, sempre fui muito estranha e me colocava para pensar em tudo isso,
temi os seres humanos por causa da covardia dos meus pais, mas eles eram
inocentes e desejavam lar e pais.
Eu não fui adotada. Quando cheguei a maioridade precisei sair dali e
enfrentar o mundo com todas as suas nuances. No início, achei que não fosse
resistir de tanto medo, eu não sabia por onde começar, meu contato social era
péssimo, eu precisei adequar meu modo de ser para arrumar emprego e fazer
amizades.
Mas, sempre fui astuta, consegui me inserir na sociedade.
Casei, desejei ter família e filhos. Eu precisava provar para mim mesma
que podia formar uma família de bem e viver os laços da maternidade, apesar de
não ter tido contato com uma mãe. Foi muito maravilhoso me sentir realmente
amada por seres tão pequeninos. Eu amei a maternidade, tive seis filhos e fui
muito feliz.
Compreendi, quando cheguei aqui o quanto foi importante esta experiência
do abandono. Eu abandonei alguns seres, mas não foram meus filhos. Eu
abandonei, em outras existências, meus pais. Pais idosos que precisavam muito
de proteção e afeto, assistência material e cuidados de saúde. Eu, simplesmente
fui embora sem olhar para trás e eles tiveram que contar com a colaboração de
parentes e vizinhos. Mas, isso ficou marcado na Lei, infração grave de
ingratidão filial.
Os pais de outrora me receberam como filha novamente e não perdoaram meu
delito, aplicaram a minha sentença, abandonando no orfanato. Decerto, temiam
que eu fosse a mesma filha leviana de antes.
Entendo, paguei o meu débito e agradeço pelas oportunidades que tive de
ser feliz e conhecer pessoas maravilhosas que me ensinaram a amar.
Cleonice
07/04/24
psicografado por Paula Alves
“Eu me sentia como uma boneca numa loja de brinquedos”
Eles morreram num acidente de carro e meus avós disseram que eram idosos
para ofertarem tudo o que uma criança necessitava, seria melhor que eu fosse
para um orfanato aguardar por novos pais.
Eu não acreditei que meus avós estavam me rejeitando. Eles sempre foram
amorosos comigo. Os outros parentes também se recusaram porque diziam não ter
recursos para me criar, eu estava sozinha. A família era grande, muita gente
que falava gostar de mim, meus pais não acreditariam se pudessem prever o meu
abandono.
Até meus padrinhos viraram as costas. Eles afirmaram que tinham muitos
filhos e não podiam receber mais uma criança em casa. Provavelmente, se
esqueceram dos compromissos que assumiram diante dos meus pais e em nome da
Igreja. Eu estava só, profundamente entristecida pela perda dos meus amados
pais e sentindo a amargura da rejeição por parte de todos os nossos conhecidos.
Me senti infeliz e desesperada, mas Deus não me abandonou. Fui
encaminhada para um local de assistência à criança, lá conheci muita gente do
bem. Eram homens e mulheres que entregaram suas vidas para cuidar de crianças que
estavam abandonadas e precisavam de um novo lar.
Muitas mulheres cuidaram de mim, elas liam, ensinavam, ofertavam carinho
e atenção.
No dia da visita, elas arrumavam todas as crianças com esmero e nos
enchiam de esperança, era a oportunidade de sair dali amparada. Eu rezava,
pedia para Deus colocar pessoas boas para me salvarem. Muitos passaram diante
de mim e não se interessaram porque eu já estava com 10 anos, eles preferiam as
crianças menores, os bebês. Eu fui ficando.
Mas, um dia, quando eu já estava quase perdendo as esperanças, apareceu
um casal e a mulher se encantou comigo. Foi estranho, parecia que a gente já se
conhecia de muito tempo. Eu simpatizei com ela, mas não acreditei que ela fosse
me querer.
É esquisito! Parece que eles estão numa loja escolhendo crianças. É ruim
aquela sensação de estar sendo observada e não saber se eles vão te querer, se
vão achar que você é boa o bastante.
Eu me sentia como uma boneca numa loja de brinquedos, não sabia se era
boa para eles. Toda vez que ninguém me escolheu, eu me senti inferior, como se
tivesse defeito porque tinha outros melhores e eu não tinha sido escolhida. É
horrível!
Você está com a dor pelo falecimento dos seus pais e nem pode sofrer
direito, tem que se preocupar se vai ter um lar pra você. Eu tinha que mostrar
que não tinha nenhum problema, mostrar que era saudável e feliz para ser
escolhida.
Quando aquela mulher simpática me escolheu, fiquei muito feliz. Foi um
reencontro. Ela foi como uma fada madrinha. Cuidou de mim com todo o seu amor,
me protegeu e promoveu estudos para que eu pudesse ter profissão e ser
independente.
Nunca poderia imaginar que minha vida seria tão boa, cheia de
oportunidades e carinho. Minha mãe adotiva foi uma pessoa iluminada que
permitiu que eu me reerguesse e trilhasse o caminho de vitória. Eu sou muito
grata às oportunidades que Deus colocou em minha vida. Eu sempre senti que Ele
estava cuidando de mim.
07/04/24
psicografado por Paula Alves
“Deus dá forças e condições de sermos perfeitos se
nos esforçarmos”
Tem muitos que não se revoltam, mas eu não aceitava aquela encenação de
ficar esperando por novos pais. Eu tinha sido infeliz desde o instante que
minha mãe engravidou.
Ela era uma prostituta que se envolvia com qualquer um por umas moedas
e, certamente, havia engravidado de um bêbado qualquer.
Ninguém ligou quando apareceu atropelada e ninguém ia ligar para o filho
menor de idade que estava esperando no barraco. Eu teria me virado muito bem
sozinho, se os caras não tivessem dado uma batida na loja e me pegado roubando.
Eles me levaram para a vara da infância e eu não consegui mais sair.
Precisava ficar ali, naquela prisão com fachada especial. Faz de conta que
alguém ia me querer...
Eles investigam tudo, tremenda hipocrisia, só querem os perfeitos. Como
é que uma criança perfeita vai estar ali, esperando para ser adotada?
Fala sério! Eles sempre descobriam que eu era filho de prostituta, sem
saber quem era o pai, devia ser marginal, podia dar problema, então, ninguém me
queria.
Eu era o problema porque podia estar impregnado de coisa ruim. Eles
falavam de genética como se falha moral fosse herança genética. Preconceito
puro!
Eu sabia que ficaria ali até alcançar a maioridade, mas não podia evitar
minhas agressões verbais e meus ímpetos de raiva diante de tanta falsidade e
apelos sensacionalistas.
Tinha muita grana envolvida por debaixo dos panos. Coisa que ninguém
comenta. Criança que vale ouro meu amigo. Tem gente que paga o que for para ter
o loirinho de olho azul.
Mas, os pretinhos como eu, nunca são escolhidos. Fiquei, já sabia.
Saí com dezoito anos, indignado com a sociedade e com a minha vida.
Achei que seria um revoltado para sempre e teria a vida de ruina que minha mãe
almejou pra mim, mas fui convidado para tomar café na igreja e senti algo
estranho no meu ser.
Eu vi uma luz naquele altar e chorei. Eu vi a figura de Jesus e ouvi
claramente que Ele tinha planos para mim, eu podia ser diferente de tudo o que
me apresentaram se eu quisesse segui-lo porque nós podemos ser o que quisermos.
Deus dá forças e condições de sermos perfeitos se nos esforçarmos.
Eu chorei muito porque senti o amor da espiritualidade naquele dia. Eu
recebi oportunidade naquela igreja. O pastor me ouviu, percebeu que eu
precisava de ajuda, trabalho e moradia. Ele me ajudou e eu virei obreiro.
Foram mais de sessenta anos servindo na obra do Senhor. Eu nunca entrei
em contato com o vício, tive muitos amigos leais, uma família honrada. Tudo
graças ao Senhor que me resgatou antes que eu pudesse acessar o vício e o
crime.
O Pai cuidou de mim com toda delicadeza.
Por isso, nós não podemos desanimar. Diante de qualquer adversidade,
devemos ter paciência e manter a fé porque o Pai sabe das nossas necessidades e
sempre nos fornecerá o suficiente para nos reerguermos. Bendito é o Senhor!
Samuel
07/04/24
psicografado por Paula Alves
Elas se queixam porque não têm filhos e chegam nos lares de acolhimento,
constrangidas e infelizes, mas com alguma esperança de levar um pequenino ser
para encher sua casa de alegria.
Algumas, não se sentem merecedoras de tamanha graça, inconscientemente,
elas sabem que falharam de alguma forma, e por isso, têm úteros secos ou
maridos estéreis que não permitem que seu sonho de uma família grande e feliz
seja consolidado.
Eu recebi muitas destas mulheres nos orfanatos onde atuei em inúmeras
existências e confesso que sofri com elas porque seus casos eram comoventes.
Porém, uma dúvida sempre esteve em minha mente: “Por que elas escolhiam
tanto?”
Elas chegavam em frangalhos, explicavam sua infeliz situação de saúde ou
de seu companheiro, diziam da necessidade que tinham de sentir o amor de uma
criança, mas elas escolhiam.
Saiam insatisfeitas quando não tinham crianças pequeninas a seu dispor,
falavam que iam procurar em outro local, preferiam crianças brancas, magras,
sem problemas de saúde, elas escolhiam como escolhem bonecas.
Eu achava tudo aquilo muito humilhante para as crianças que ficavam
esperando e eu conseguia entender porque aqueles casais estavam passando por
tanta frustração.
O verdadeiro amor pode nascer de um olhar, mas para isso, não pode ter
discriminação. As crianças que aguardam pela adoção estão disponíveis e
desejosas de um socorro. Elas sonham com lares e pais que possam salvá-las da
solidão e precariedade social.
Mas, quem busca estas crianças, nem sempre é indulgente com a situação
delas, parece olhar, apenas para o seu drama pessoal, íntimo.
A adoção implica no amor abnegado, indulgente, devotado ao ato de
servir. É amor que salva e acolhe, dá oportunidade de reinserção social e
independência de vida.
Adoção é olhar para o outro e encarar que o sentimento que se têm ampara
e liberta. Abre as portas do lar e dos sentimentos mais nobres.
Conheci casais que chegaram com sorriso nos olhos, emocionados com a
possibilidade de encontrar seus entes queridos naqueles lares de acolhimento.
Estes, não fizeram distinção, eles estavam perceptivos para um reencontro. É
lindo ver quando eles se unem, quando se abraçam desejando nunca mais se
separarem. É como se tivessem a certeza de que ambos foram colocados naquele
local para salvar-se.
É um socorro mútuo, entre pais e filhos, sem os laços de sangue, mas os
laços do amor fraternal que une todos os seres da Criação.
Tudo foi proveitoso, muito satisfatório participar de tão enriquecedores
trabalhos e poder atuar, neste momento, no planejamento de outras vidas.
Pessoas que se comprometeram com a Lei e que precisam resgatar, por isso, uns
são entregues à adoção, outros têm seus órgãos reprodutores estéreis para que
possam desenvolver sentimentos refinados e saibam se unir novamente em prol de
uma vida plena e feliz.
Para isso, há que ter humildade e fé.
Leila
07/04/24
psicografado por Paula Alves
“Minha maior alegria era poder cuidar da minha
família dignamente e não permitir que faltasse o necessário”
Ficamos muito felizes quando apareceu aquela oportunidade de emprego,
afinal, era uma família grande e eu precisava arcar com as despesas.
Minha esposa nunca se acomodou, trabalhou enquanto estava grávida e
nunca reclamou da nossa situação difícil, eu também sempre fui um homem sério e
muito trabalhador.
Minha maior alegria era poder cuidar da minha família dignamente e não
permitir que faltasse o necessário para alimentar meus filhos.
Como poderia dormir em paz, sabendo que minha esposa estava com a carga
inteira em suas costas e não sabíamos como passaríamos o mês?
Então, eu corri atrás de emprego por todos os lados, não me importava
com a ocupação, com tanto que fosse trabalho honesto.
Consegui na empreiteira. Eu não sabia como atuar, mas eles disseram que
precisavam de mão de obra, podiam ensinar. Eu percebi que pagavam menos do que
se ganha nos outros lugares, mas eu não podia argumentar, fiquei tão feliz.
Cheguei em casa radiante e minha esposa fez um jantar delicioso para
comemorarmos.
Eu vi a construção e os diversos homens que atuavam para fazer aquela
construção se erguer rapidamente. Eu fui designado para levar os materiais para
cima, nos andaimes, mas fiquei impressionado com a altura e a falta de
segurança. Eu não entendia nada, só queria trabalhar. A verdade é que fiquei
receoso porque, apesar de tudo, minha vida valia muito, muito mais do que
qualquer salário.
Após fazer os devidos questionamentos, eles me convenceram de que era
normal subir sem materiais de segurança. Eu me entreguei ao trabalho e fiz com
alegria porque sabia que poderia colaborar para a família ter uma vida melhor.
Os meses se passaram e as paredes subiram cada vez mais. Os outros
funcionários também ficaram ressabiados porque ninguém queria perder a vida
naquele trabalho, mas os mestres de obras falavam com convicção que não tinha o
que pudesse ser feito, nós continuamos até que um triste incidente aconteceu...
Um dos nossos colegas teve uma queda terrível e desencarnou na hora,
chocando todos que estavam no local. Confesso que fiquei profundamente
perturbado, eu não conseguia tirar aquela cena da minha mente. Tentei não
preocupar minha esposa, mas eu precisava desabafar com alguém e comentei com
ela.
Eu não imaginava que ela ficaria tão assustada. Falou que não permitiria
que eu voltasse àquele local, jamais ficaria inerte esperando que eu me matasse
de tanto trabalhar.
Ela falou de dignidade e de conscientização no ambiente de trabalho,
condições de trabalho e do quanto as pessoas podem ser mercenárias ao ponto de
não se importarem com a vida humana para encherem os bolsos de dinheiro.
Ela ficou indignada e me pediu para pensar na família do morto. Dizia que
era certo que eles receberiam uma pequena indenização, mas do que serviria
pagar se nunca mais teria como ter a pessoa no seio doméstico?
Ela falou que dinheiro nenhum no mundo poderia ser mais importante do
que o meu bem-estar.
Disse que me queria longe daquele local, por isso, eu retornei para me
demitir e receber os dias trabalhados.
Eu fiquei feliz de ter uma esposa tão compreensiva e preocupada com o
meu bem-estar. Ela chorou muito porque disse que poderia ser a viúva que estava
providenciando o funeral.
Nós oramos pelos familiares e eu procurei novo emprego.
É difícil a vida do desempregado. Ainda tem gente que diz que “quem quer
trabalhar tem que fazer qualquer coisa”, se sujeitar a qualquer tipo de coisa,
como se fosse uma questão de orgulho analisar as oportunidades de trabalho, mas
em inúmeras situações é melhor recusar uma oportunidade do que perder a vida ou
perder a dignidade.
Evandro
14/04/24
psicografado por Paula Alves
“Eu só queria ganhar minha renda e cuidar dos meus familiares, mais nada”
Naquele dia, eu me despedi da minha esposa e filhos com dor no coração.
Parecia que eu estava sendo avisado, “era melhor ficar em casa”, mas eu nunca
perdi um dia de serviço, nem cheguei atrasado.
Eu sempre levei muito a sério o compromisso com o trabalho, até porque
eu tinha meus filhos pequenos para criar e não permitiria que eles passassem
por privações. Morria de medo de ser despejado ou ver meus filhos passando
fome, Deus me livre!
Então, acordava cedinho e me encaminhava para o serviço. Nunca matei um
dia na folga, com atrevimento e preguiça.
Tinha consciência de que gente como nós, pobres nascidos de outros
pobres, só podiam conseguir uma vida de dignidade na base do trabalho árduo.
Não tinha como conseguir as coisas de mão beijada, eu também não saberia
conseguir coisas com facilitações e condições sem escrúpulos. Era melhor
trabalhar até o fim da vida para proporcionar um futuro melhor para os meus
filhos.
Mas, naquele dia, eu devia ter ficado em casa. Eu sentia no fundo da
alma que não voltaria, mas não alarmei minha esposa. Eu disse que, se ela
precisasse de alguma coisa, deveria falar com meu irmão. Eu sabia que o mano
não deixaria meus familiares no sufoco.
Fui trabalhar na fábrica e deu um problema com a prensadeira. Tive um
grave acidente no braço, hemorragia que, em minutos, acabou comigo.
Foi bem traumático, violento, eu me desesperei. Quando a morte chega
desta maneira, a sensação de arrependimento por não ter ouvido a própria
consciência, leva ao transtorno mental.
Ninguém quer morrer, ainda mais quem se dirige ao ambiente de trabalho.
Eu só queria ganhar minha renda e cuidar dos meus familiares, mais nada.
Não tive grandes sonhos ou projetos, era uma vida simples de labuta.
Acho que muita gente deve perder a vida e os movimentos em decorrência
dos ambientes de trabalho com ausência de proteção e segurança. Enquanto uns
ficam ricos, outros ficam órfãos.
Vale a pena investigar mais e ficar atento se estamos nos arriscando em
demasia por um prato de comida.
Valdinei
14/04/24
“Trabalho é dignidade”
Ninguém olhava para nós. Quem mexia com o lixo, fazia a limpeza no
hospital, normalmente não recebia o “bom dia” dos médicos, nem dos pacientes.
Era um ambiente que recebia todo tipo de gente, eles corriam de um lado
para o outro para salvar as vidas e promover a saúde, enquanto nós ficamos
levando o lixo e promovendo a higiene do local.
Eu não tinha muito estudo, aproveitei aquela oportunidade e trabalhava
com entusiasmo porque o salário era muito mais do que eu havia recebido em
todos os outros locais, também não era exaustivo, eu estava feliz.
Não tinha compreensão do que eles faziam para salvar os pacientes, nem
me interessava. Nunca ensinaram sobre infecções e prevenções de doenças. Eu só
trabalhava, mas naquele dia, eu estava me sentindo muito mal.
Eu senti que estava sem forças, profundamente debilitado, mas não faltei
porque tinha medo do chefe me contrariar e invocar comigo.
Logo, perceberam que eu estava febril, senti dificuldades para trocar os
passos e mal consegui chegar em casa. Nos dias que se seguiram, eu não consegui
sair da cama, minha esposa deu um jeito de avisar e eles achavam que era
frescura da minha parte.
O fato é que eu estava desesperado com meu estado de saúde, então, minha
esposa sugeriu que eu fosse para o hospital para receber socorro médico.
Com muita dificuldade consegui chegar no hospital onde eu trabalhava, o
médico me avaliou com tanto desprezo e disse que, possivelmente era uma doença
neurológica por conta de materiais contaminados. Eles não podiam fazer grande
coisa.
Meu estado piorou, fui internado, mas diziam que o quadro era gravíssimo
e não tinham como me tratar, era conveniente ir para casa.
Foi tudo muito rápido, padeci de uma enfermidade que não sabiam curar e
desencarnei. Minha esposa ficou desesperada, ela queria gritar com alguém,
dizer que era injusto, que não recebi a assistência adequada, mas ninguém se
mobilizou por isso. Ela chorou, eu chorei.
A imortalidade da alma fornece esta possibilidade de presenciar o
sofrimento daqueles que nos amam. Eu sofri a distância, a dor. Mas, não tinha
muito a fazer. Acho que muitas pessoas devem passar por isso, mas não é muito
divulgado. Existem notícias que são encobertas e, também, quem fui eu? Um pobre
coitado que trabalhava para comer.
“Trabalho é dignidade” — dizia o meu pai. Sempre concordei com ele, mas
depois daquele desencarne, passou muita coisa em minha mente. Eu pensei nas
vidas injustiçadas.
Existe muita coisa errada no mundo. Sei que eu precisava resgatar, este
mundo é bem apropriado pra isso. Mas, me doeu saber que a família ficaria
desvalida quando o provedor da casa partisse.
Eduardo
14/04/24
psicografado por Paula Alves
“Minha filha era um ser iluminado e muito
inteligente que escolheu a vida daquele jeitinho para avançar mais no processo
evolutivo.
Eu tinha cinco filhos quando ela nasceu. Uma mãe sempre percebe quando o
filho é diferente. Eu comparei com as outras crianças e notei logo a diferença.
Ela tinha muitas dificuldades e não queria brincar com ninguém, não
falava, era quieta demais. Fiquei preocupada, mas não tinha o que fazer.
Naquele local, naquele tempo, a gente não tinha acesso a medicina. A
gente se tratava com chás e unguentos, ia na benzedeira e fazia promessa para
Deus curar porque médico não chegava pra gente não.
Eu fui deixando porque ela comia, respirava, ia no banheiro com ajuda. Tudo
tinha que fazer pra ela e, aos poucos, as irmãs cresceram e me ajudaram também.
Era o nosso bebezão.
Maria Eugênia era o nosso bebê. Precisava de tudo e a gente percebeu que
a casa tinha que ser tranquila para ela não perder a paciência porque quando começava
chorar, não parava mais.
Eu ficava preocupada com o futuro dela, se Deus me chamasse o que seria?
Ficava pensando se os irmãos cuidariam dela para toda a vida. Eu nem
contava com o pai que era grosso e não sabia cuidar de menina, então, quando
ela estava mocinha, conversei com as outras moças e pedi que uma apoiasse a
outra. Todas irmãs que seriam leais e amorosas, cuidando umas das outras se eu
faltasse.
Eu não podia morrer em paz sabendo que minha filha tão especial ficaria
desamparada.
Sabe, é a preocupação de uma mãe prevenida. A gente não pode imaginar
que a filha vai ficar jogada a própria sorte. Elas me juraram que cuidariam
umas das outras, mas eu roguei a Deus que me permitisse ficar para cuidar dela.
Foi assim que, uma a uma elas foram saindo, casando, assumindo suas
vidas de famílias, mas a minha bebê ficou comigo. Depois o pai foi para os
braços de Deus e ficamos nós duas. Eu já era idosa e cuidava da Maria Eugênia
como se ela fosse criança.
Quando saiamos, as pessoas diziam, de forma imprópria e cheia de
discriminação, que ela era débil mental. Eu cheguei a brigar com uma mulher que
falou isso. O pior é que, naquela época, nós nem sabíamos corrigir porque não
saberia dizer o que ela tinha.
Mas, pra mim, estavam ofendendo a menina.
É difícil para uma mãe perceber que sua filha não terá a mesma vida que
os outros filhos. Perceber que sempre será dependente dos seus cuidados. Dá uma
sensação de aprisionamento e frustração. Eu sentia que ela não era feliz,
parecia que ela percebia que era diferente dos outros e sentia a rejeição
social. Eu sentia pena da minha filha e tentava fornecer todo amor para
preencher as limitações e privações dela.
Depois de muito tempo, quando eu já estava me preocupando com meu estado
de saúde, de repente, ela ficou doente e partiu. Eu agradeci a Deus porque ela
foi de forma serena e eu também podia partir em paz.
No mundo espiritual, eu a reencontrei modificada, cheia de raciocínio e
sensatez, alegre, ela me abraçou. Me agradeceu por tudo o que fiz, pela forma
delicada de cuidar dela. Minha filha era um ser iluminado e muito inteligente
que escolheu a vida daquele jeitinho para avançar mais no processo evolutivo. Na
verdade, fui eu quem aprendi. Eu consegui avançar em sensibilidade e
discernimento, devotamento e abnegação fizeram despertar para as necessidades
do outro sem a necessidade das palavras intermediando nossa relação. Foi uma
existência muito positiva.
Inácia
14/04/24
psicografado por Paula Alves
“Existem muitas pessoas, que para ter indulgência,
precisam sentir na pele a necessidade dos outros”
Eu fui capaz de aceitar a rejeição de todos os lados, mas não consegui
compreender o desprezo do meu pai.
Meu olhar para ele era de pura admiração, eu o idolatrava como se ele
fosse um super-herói, mas não pude expressar todo meu amor.
Logo no início, todos notaram que algo incomum me envolvia. Eu não era
como meus irmãos e isso incomodou meus familiares que faziam comentários
deixando papai inconformado. Ele tinha vergonha de mim.
Mamãe tentava argumentar, falava que nenhum filho é igual o outro, as
pessoas têm suas qualidades e falhas, eu era diferente e, nem por isso, podia
ser menos amada. As pessoas tinham que me respeitar.
Mas, meu pai ficava cabisbaixo e não entendia por que eu tinha aversão
ao contato físico, música alta ou gargalhadas. Eu não era desejada no seio
familiar e meu pai foi a pessoa que mais me evitou.
No fundo, eu sofria. Sentia a hostilidade de todos e compreendia que
devia ficar bem afastada, apenas minha mãe sabia lidar comigo.
Eles não procuraram tratamentos médicos, eu não consegui ser inserida
nas escolas ou locais que pudessem me desenvolver a independência, por isso,
enquanto todos os meus irmãos tinham destino na vida, eu ia ficando no lar.
Meus pais envelheceram e eu também, mas ainda precisava de cuidados
minuciosos, essenciais como uma criança. Mamãe nunca reclamou, nunca. Ela abria
um grande sorriso e dizia que eu era o “presente de Deus em sua vida”.
Minha mãe me encheu de sentimentos nobres que, em parte, supriam a
ausência de todos os outros, mas eu sentia grande solidão. Claro que não tinha
ideia da palavra que simbolizava aquela falta das pessoas em minha vida, mas eu
sentia falta delas, principalmente do meu pai que, apesar de estar sempre por
perto, esteve ausente.
Foi produtivo! Vida de limitação que faz aprender em muitos setores. Eu
não conseguir me desenvolver intelectualmente, pelo contrário, foi como ficar
com todas as potencialidades adormecidas, latentes em mim, sem poder
utilizá-las, privada de demonstrar meus conhecimentos.
Mas, eu precisava saber o que é ser rejeitada. Em outras existências, eu
entreguei meus filhos porque buscava um bom casamento. Nunca olhei para trás,
nem me importei com seus sentimentos. Existem muitas pessoas, que para ter
indulgência, precisam sentir na pele a necessidade dos outros.
Eu senti muito, até extrapolar os sentidos. Eu sentia tanto que chegava
a doer, indignar, por isso, eu gritava e me descontrolava. A sensibilidade
extremamente aflorada e a dificuldade de controle emocional, eu não podia
prever que era tão difícil.
O autismo me ensinou muita coisa. Ninguém desejaria passar por uma
existência destas.
Bem difícil tentar corresponder às expectativas estando limitada
intelectualmente, mas eu compreendi muitas coisas. Quando nós enxergamos a vida
por este olhar espiritual, muito pode ser compreendido e respeitado.
Todos nós estamos nos reajustando com a Lei e precisamos de apoio e
atenção. Minha mãe foi o anjo que Deus disponibilizou para que eu pudesse
cumprir minha pena com um pouco de conforto e alegria.
Mirela
21/04/24
psicografado por Paula Alves
“Foi minha escolha, não uma punição”
Eles não toleravam insultos, nem qualquer tipo de piada. Eu sempre recebi apoio no lar.
Logo que comecei a dar os primeiros passos, meus pais notaram que eu me
expressava diferente dos outros irmãos. Eles procuraram a equipe médica e
explicaram que eu tinha algumas limitações que precisavam se melhor exploradas
para que pudessem cuidar mais adequadamente do meu desenvolvimento.
Eu recebi toda atenção, eles orientaram meus pais que buscaram todo tipo
de estímulo para que o autismo não me privasse das oportunidades que eles
desejavam que eu tivesse. Porém, com o passar dos anos, meus pais compreenderam
que os tratamentos eram demasiadamente cansativos e eu me irritava demais. Eu
me esforçava, mas realmente tinham limitações que bloqueavam o desenvolvimento.
Eu não queria, eu não estava pronto para tudo aquilo.
Todos os dias, a rotina era intensa, com inúmeros profissionais da
equipe multidisciplinar que me estimulavam de diversas formas para que as
independências brotassem em mim, mas tudo em vão.
Eu não queria levantar e ficava extremamente incomodado, meus pais
insatisfeitos, culpavam os profissionais que também ficaram saturados e eu
chorava e tentava destruir tudo a minha volta.
Eu queria ter um pouco de paz.
Não tinha condições de explicar o quanto me seria prazeroso o silêncio e
a quietude. Mas, meus pais perceberam, parece que eles sempre sabem o que é
melhor para os filhos.
Então, eles disseram que iriam dar uma pausa de tudo aquilo, eu
precisava de férias. Buscaram uma casa de campo e viajamos para um local muito
tranquilo.
Eu nem acreditei que podia ouvir o som do vento e contemplar aqueles
montes. Eu ensaiei um sorriso em agradecimento pelo que recebi de meus
genitores para que tivessem a certeza de que fizeram a escolha correta.
Meus pais choraram. Sei que estavam cansados e que ficaram frustrados
com minha vida. Eu não tinha o que querer, não avançava, era só aquela vida de
contemplação, sem interagir com ninguém, sem me desenvolver.
Mas, eu precisava parar tudo e sentir. Sentir o vento, ouvir os pássaros
e compreender que existe um mundo importante por trás dos bens materiais e a
correria que leva ao sucesso das ostentações.
Eu desejei ser cuidado por eles, receber afeto e as atenções integrais
para estar numa posição de submissão e aceitar o que as pessoas tinham a me
oferecer para ser grato, ser convencido de que os sentimentos valem mais do que
o dinheiro. Eu já tinha experimentado títulos e cargos honrados, tive família e
mulheres, fui superior, admirado e respeitado, temido, mas nunca fui um homem
que sente e vivencia a delicadeza do contato com os semelhantes.
Precisei bloquear inúmeros sentidos intelectuais para me permitir
desenvolver a sensibilidade. Foi minha escolha, não uma punição.
Meus pais, compreenderam com aquele rabisco de sorriso o que seria
melhor para mim. Eles compraram a propriedade e me permitiram viver em paz.
Cuidaram de mim com toda delicadeza e ensinaram o que eu deveria aprender.
Carlos Montagna
14/04/24
psicografado por Paula Alves
“Nós devemos valorizar a vida e cada momento, pois não há o que chorar quando chega o instante final”
Eu alcancei o auge da minha carreira com aquelas fotografias. Minha vida
era a carreira, eu me dediquei ao máximo para conquistar aquela posição e fui
invejado. Posição conquistada com muito esforço, um trabalho de mais de vinte
anos que deu uma guinada e eu precisava me arriscar um pouco mais se quisesse
ser o primeiro do ranking.
Muitas vezes, não é o dinheiro que ambicionamos, mas o status, poder ser
incomparável para aquele que se esforça, é tudo no mundo.
Eu tentei as fotos no oceano, mas não tinha muito tempo para me dedicar
aos métodos de segurança. Sempre fui esperto e imaginei que bastava algumas
recomendações simples para realizar meu trabalho.
Fui alguns dias, tomei gosto pela coisa e parti para uma viagem
especial, num local onde sabia que teria a chance de registrar um cenário
incrível.
Mas, sei que fui arrogante. Achei que fosse sabido demais e não
precisava da ajuda de ninguém. De fato, eu não estava habilitado para realizar
um trabalho num local desconhecido sem os recursos necessários.
Acidentes acontecem o tempo todo, mas existem inúmeros acidentes que os
homens desencadeiam com sua imprudência. Foi o que aconteceu, eu fiquei sem
oxigênio e desencarnei.
Eu me lembro do arrependimento tomar conta de mim, instantes antes da
desencarnação. Lembrei de coisas importantes que eu não tinha feito com pessoas
que eu amava. Eu me preocupei com minha mãe.
Sei que ela sentiu muito porque não sabia o que teria acontecido comigo,
simplesmente desapareci. Eu confesso, chorei demais quando conjecturei de todos
os fatos e da impossibilidade de voltar atrás para corrigir minha imprudência.
O pior é saber que você perdeu tudo por uma leviandade. Vaguei, padeci,
consegui ver minha mãe, profundamente entristecida por não ter notícias minhas.
Vi meus amigos e visualizei meus momentos finais, tão soberbo e cheio de razão,
como se eu fosse o “sabe tudo”.
Que vergonha!
Nós devemos valorizar a vida e cada momento, pois não há o que chorar
quando chega o instante final.
Fazer o que estiver ao nosso alcance para cuidar da vida que existe em
nós.
Rafael
14/04/24
psicografado por Paula Alves
“Todas as pessoas são como joias que precisam de polimento e um olhar delicado que possa apreciá-las”
Foi inusitado. Eu estava, apenas, rabiscando, mas ela pode ver potencial
naquele desenho de criança.
Enquanto todos diziam que eu não prestava atenção nas aulas e devia ser
enviada para o lar, minha mãe pedia insistentemente que a direção me deixasse
frequentar as aulas, pois ela sabia que eu estava aprendendo alguma coisa.
Alguns professores foram contra, falavam que eu causava constrangimento
em toda turma e não tinha ninguém que pudesse cuidar de mim, eu precisava de
cuidados especiais. Eles não me queriam na escola e me rejeitavam,
discriminavam, gerando um grande conflito com meus pais que queriam o melhor
pra mim.
Mas, aquela professora viu algo diferente, “formidável” como ela mesma
dizia.
Fez questão de comprar uma tela e tintas, pediu para que eu expressasse
meus sentimentos e me deixou bem a vontade no fundo da sala. Alguns alunos
riam, debochavam, mas ela pedia que silenciassem para não me atrapalhar.
Após algumas horas, estava finalizado. Ela chorou e disse que eu era uma
artista, por isso, não me socializava bem.
Mostrou minha arte para os outros professores, mas nem todos conseguiam
notar o que ela notou.
Felizmente, esta linda professora orientou meus pais que seguiram por
caminhos onde eu pude chegar numa escola de arte que compreendeu minhas
limitações intelectuais e meu desenvolvimento artístico natural.
Eu fui estimulada com muita delicadeza, sempre respeitada. Pude realizar
belos trabalhos nos quais meus pais se enchiam de admiração.
Eles sempre falaram que as pessoas devem ser tratadas com respeito e
cordialidade para que possam despertar o melhor que têm em si. Todas as pessoas
são como joias que precisam de polimento e um olhar delicado que possa
apreciá-las.
Eu sou muito agradecida pelas pessoas de luz que passaram em minha vida.
Gisele
14/04/24
psicografado por Paula Alves
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