Cartas de Janeiro (16)


 “PARA VIVER EM SOCIEDADE É PRECISO SE LAPIDAR”

 

O mais difícil sempre foi controlar meus maus impulsos. Eu tinha um enorme prazer em me apropriar das coisas alheias.

Não podia ver um objeto bonito e atraente que eu me achava no direito de possui-lo, mas vi o quanto a Soraia ficou decepcionada por perder o colar que o pai havia dado. Ela chorou tanto.

O colar era belíssimo. Certamente não era valioso, mas bem trabalhado com muitas pedrinhas coloridas que me fizeram brilhar olhos. Eu o queria para mim.

Como eu podia dominar aqueles impulsos? Eu já estava na mocidade, tinha uns quinze ou dezesseis anos e nunca repreendi aquele comportamento leviano, então, eu nem pensei duas vezes, enquanto Soraia saiu do quarto onde estudávamos para buscar um suco, eu peguei o colar.

Minha amiga estranhou porque sempre foi muito organizada, ela olhou para mim como se soubesse que eu agi errado. Aquele olhar e aquela linguagem de frustração ou de decepção, acabaram comigo.

 

Sai dali carregando o colar, mas tive a certeza de que a nossa amizade nunca mais seria a mesma.

Eu observei o colar, no meu quarto, na minha intimidade. Naquele lugar eu podia ser a leviana de sempre, a ladra, mas eu chorei. Chorei porque sabia que aquele comportamento estava arruinando meus relacionamentos sociais. Aquilo não era adequado e não podia me trazer felicidade.

Olhei para o colar e pensei como poderia usar uma coisa que não era minha, algo tão pessoal e importante para alguém. E se Soraia me visse com ele? Seria a constatação do quanto eu fui injusta com ela, abusando de sua amizade e de sua confiança para ficar com algo que tinha valor afetivo.

Eu chorei de vergonha, de constrangimento. Era a minha consciência me cobrando valores morais. Eu exigia que aquilo fosse aniquilado do meu ser.

Passei tantas vidas me apropriando das coisas dos outros. Coisas cada vez mais valiosas, coisas que representavam muito e que fizeram sofrer pessoas que eram significativas para mim, mas eu estava cansada de ser daquele jeito.

Então, eu pensei que só tinha um jeito de ressarcir a dívida, seria reparando minha falta com Soraia. Eu voltei à casa dela e entreguei o colar. Eu sabia que ela nunca mais desejaria me ver, mas eu precisava recomeçar de cabeça erguida e não cometer novamente estes erros.

Ela olhou para o colar e me abraçou. Ela agradeceu muito e disse que não queria parar de falar comigo. Eu nem entendi a reação dela, mas minha amiga, que já demonstrava mais elevação do que eu, explicou que ela sabia que eu tinha pego o colar, mas ela gostava tanto de mim e precisava me dar uma chance de reparar o erro cometido.

Soraia informou que orou muito para que Deus colocasse juízo na minha cabeça e eu entregasse o colar para que pudéssemos continuar nossa amizade com confiança.

Daí, eu chorei mesmo e expliquei que fazia aquilo desde pequena. Contei do quanto eu gostava de pegar as coisas dos outros e sabia que era errado, mas tinha muita dificuldade em me controlar.

Minha amiga me ouviu, me ajudou. Pouco a pouco, fui me controlando, até que um dia, eu estava completamente liberta do meu vício de furtar.

Eu acho que todo viciado é assim... No fundo, a pessoa sabe dos seus erros, dos seus deslizes. Ela sabe o quanto é maldosa, maledicente, traiçoeira, mas ela se acostumou com as atitudes que realiza durante toda uma vida ou vidas sucessivas. É difícil para esta pessoa se libertar e se tornar diferente, cheia de escrúpulos e nobres sentimentos.

Muitas vezes, é preciso passar por uma situação em que vai pôr a perder algo de extrema importância. No meu caso foi a amizade da Soraia.

Nós sempre podemos avaliar nossas ações e purificar nossos atos, de consciência plena das nossas necessidades evolutivas.

O objetivo de todos aqui é se tornar uma pessoa melhor. Cada um de nós, possuidor de inúmeros deslizes e portador de qualidades que já foram conquistadas.

O fundamental é se olhar como realmente é para fazer esta análise e progredir com esforço, com desejo de seguir no caminho do bem.

Para viver em sociedade é preciso se lapidar.

 

MARISA

29/01/2022

 

-----------Paula Alves---------

 

“NO ÍNTIMO DO SER TODOS FAZEM QUESTIONAMENTOS E SENTEM-SE SOZINHOS E DESAMPARADOS”

 

Para me afastar do caminho tinha tanta gente...

É impressionante como as pessoas sabem resolver os nossos problemas. Eu estava tão saturada de ver como eu era tola na boca dos outros.

Parecia tão racional me falarem para deixar de lado aquele marido que me maltratava, aquele homem que nunca me ajudou e abusava da minha boa fé.

Eu mesma me questionava sobre os reais motivos que me faziam estar ligada a ele, apesar das certezas de que ele me tratava como alguém que não servia para nada.

 

Eu nem podia chamar de amor, mas era como uma certeza de que eu tinha que enfrentar aqueles desafios, eu precisava prosseguir.

Acho que ninguém tem a vida fácil. Eu sempre percebi as pessoas sofrendo por motivos variados. Eu não era a única a enfrentar dificuldades.

Eu observei meu esposo e pensei que podia ter me relacionado com outro homem, eu tinha outras opções. Eu podia ter tido uma vida melhor, mais tranquila, ao lado de alguém que me desse apoio e auxílio para criarmos nossos filhos em paz, mas eu o escolhi.

Então, percebi que todos têm defeitos e mazelas, todos têm sua história de vida que faz sofrer, todos erram e acertam.

Não vale a pena você trocar de marido em busca de uma vida melhor porque fugir do problema não resolve nada.

Eu pensei no que podia fazer para que ele me enxergasse como uma aliada, alguém que vive carregando suas dificuldades, mas pensa no bem de toda a família e pode ajudar se ele permitir. Eu queria que meu esposo modificasse a forma de me olhar e busquei uma conversa que pudesse nos unir, como fomos um dia.

Sempre existe aquela época onde o casal se deseja e sonha viver junto. Uma época em que fazem de tudo para estarem unidos, felizes, apesar de tudo. Eu me lembrei desta época e fui conversar com ele.

Eu tentei ouvir mais do que falar, quis compreender seus motivos, o porquê do seu olhar agressivo e sem paciência, então percebi que ele tinha medos. Medo das contas, de perder o emprego, medo de não conseguir assumir todos os nossos compromissos, enfim, meu esposo estava inseguro e apreensivo.

A verdade é que as pessoas costumam pensar nos seus problemas e se esquecem de que o familiar também é ser de carne, osso e alma. No íntimo do ser todos fazem questionamentos e sentem-se sozinhos e desamparados.

 

Eu o ouvi e disse que entendia. Eu também falei dos meus pesares e, naquele dia, fomos amigos, assim houve uma reconciliação, uma aproximação.

Percebemos que, na vida em família, precisamos ter delicadeza. Não pensar que a pessoa sempre estará ali a nossa disposição e eu posso tratá-lo de qualquer maneira, com estupidez ou ignorando o que pensa, mas com total respeito e cordialidade, independente se esta pessoa é esposo, filho ou nossos pais.

No convívio pessoal devemos tratar os semelhantes sabendo que, a qualquer momento, este ser pode ser arrancado de nós, por motivos de dor ou desenlace, assim se torna primordial aproveitarmos cada instante com paciência e lucidez, ofertando amor e serenidade.

 

OFÉLIA

29/01/2022

 

-------------Paula Alves--------

 

“QUEM TRABALHA COM ÂNIMO E DEDICAÇÃO E SE VÊ COMO SERVO, TRABALHA MAIS FELIZ E NÃO RECLAMA”

 

Fazer um trabalho de forma mecânica e, apenas por dinheiro, é irritante.

Acordar todos os dias e ir trabalhar porque você quer a renda, angustiante sensação de ver o relógio parar, as horas não passam e o cansaço é deprimente.

Eu detestava aquela vida. Trabalhar com aqueles jovens me tirava do sério, parecia um martírio.

Ouvir suas conversas estridentes ou suas brincadeiras de mau gosto me faziam acreditar que eu estava sendo castigado naquele lugar, penitência que me fazia delirar.

Quanto mais eu me irritava, mais próximos eles estavam de mim, era calvário.

Eu tentei mudar de emprego, precisava me afastar da escola e buscar um local onde eu não estaria mais em contato com a juventude, aquilo não era para mim. Eu estava a ponto de avançar neles...

 

 Então, sem querer eu tive um encontro casual com um amigo antigo. Ele me convidou para conversarmos e eu fui até a sua casa. Qual não foi minha surpresa quando conheci seus dois filhos adolescentes e pude presenciar a maneira como se tratavam no lar?

Nossa! Parecia que a vida me testava. Por que eu tinha que perder a paciência com eles?

Meu amigo parecia perceber o quanto eu estava indignado e comentou que muitas pessoas não têm paciência com crianças e jovens, nem querem ter família.

Ele falou que passou por diversas situações onde teve que escolher se deveria frequentar locais que não aceitavam seus filhos e ele notou o quanto as crianças transformam os pais. Muitos adultos não suportam a infância, até que tenham seus próprios filhos. O amor desbloqueia todos os sentimentos de egoísmo.

Mais e mais, eu tinha a certeza de que não queria ter filhos. Meu amigo me fez ficar confuso porque ele parecia muito mais calmo e feliz do que eu. Como ele conseguia ser feliz naquele inferno, com toda aquela agitação e gritaria? Parecia que ele não sabia dar limites para aqueles filhos.

Eu via isso por toda parte, mas fiquei pensando no quanto os solteiros são exigentes e imaturos.

Nós todos já passamos por estas fases difíceis onde somos desacreditados, onde toda a sociedade nos cobra valores e pensamentos futuros, trabalho e profissão, mas o corpo jovem traz tantas transformações físicas e mentais, tantas ebulições que deve ser difícil para todos eles.

Quando a criança e o jovem encontram pais sérios e preparados no amor e na fé para trabalhar ativamente sobre eles... Quando estes pais fornecem pensamentos construtivos e confiantes, dão oportunidades realistas para serem produtivos na sociedade... Aí deve ser o oásis.

 

Caso contrário, criança cuidando de criança, não dá.

Eu era criança em contato com outras crianças. Eu não os aceitava e competia com eles. Mudei minha forma de enxergar e consegui trabalhar melhor.

No final, tudo dependia da maneira como eu observava o grupo todo. É assim, nos diversos locais de trabalho. Nós nos queixamos das condições em que trabalhamos e vemos uma série de defeitos no ambiente, mas tudo depende de nós. Quem trabalha com ânimo e dedicação e se vê como servo, trabalha mais feliz e não reclama. Até as pessoas à sua volta ficam mais fraternas e tolerantes.

Eu aprendi com aquele pai.

 

GUSTAVO

29/01/2022

 

-------------Paula Alves----------

 

“ATRAIR OS BONS ESPÍRITOS E VIVER EM PAZ É RESPONSABILIDADE NOSSA”

 

Ele chorava sem parar e, por diversas ocasiões, eu pensei que fosse enlouquecer com o choro do meu filho.

Tinha gente que falava que ele era manhoso, que eu precisava impor limites e deixar chorando um pouco seria bom, para ele ver quem mandava no lar, mas eu não conseguia.

Eu sempre achei que, quando uma criança chora, está pedindo socorro. Alguma coisa deve estar errada: dor, fome, sujidades, algo o incomoda.

Eu o levei ao médico e pedi que fizesse uma avaliação bem feita do estado de saúde do meu filho porque ele não parava de chorar, mas neste dia, o menino estava tranquilo e, a impressão que eu tive, foi que o médico achou que eu fosse muito exagerada. Meu marido me ajudou, falou da frequência daquele choro e, só assim, o médico pediu os exames e pudemos saber que ele não tinha nada.

 

Eu fiquei espantada. Como podia não ser nada?

Meus pais falaram de disciplina, disseram que ele precisava de uns tapinhas para se controlar porque ele era bem tratado e me judiava, então precisava ser repreendido, mas eu não tinha coragem.

Será que um adulto consegue dosar a sua força na hora da raiva ou da indignação? Como pode bater num ser tão pequenino que não sabe nem se defender?

Ainda mais sendo mãe e pai... São as figuras que denotam proteção e vão agredir?

Eu era contra toda e qualquer forma de agressão no lar. Agressão física ou verbal, humilhações não entravam na minha cabeça.

Eu não tinha outra alternativa, senão orar.

Encontrei uma amiga que me falou de tratamento espiritual, mas eu fiquei escandalizada. Por que tratamento espiritual? Ela falou que podia ser alguma influência desestabilizando a criança.

Naquela época, eu não entendia nada do mundo espiritual e não podia acreditar que os Espíritos estão por toda parte. Eu não sabia que atraímos os seres espirituais com os nossos pensamentos e a forma de levar a vida. Não tinha conhecimento de que eles são atraídos por nossa vibração, ou seja, semelhante atrai semelhante.

Meu esposo tinha o hábito de assistir filmes pornôs, mas eu não sabia. Eu me policiava tanto e a porta para os seres promíscuos estava aberta no meu lar.

Meu filho tão pequeno sentia a aproximação daqueles Espíritos que não tinham como nos ferir, mas desestabilizavam o ambiente doméstico, causando irritação no pobre garotinho que chorava sem parar.

Fomos num local sério onde fizeram o tratamento espiritual e nos deram informações do quanto os pais têm que ser devotados ao bem, à seriedade e ao amor à família. Meu esposo, em silêncio, tratou de eliminar os maus procedimentos e nosso filho foi melhorando.

Foi um conjunto de coisas que salvaram a paz doméstica, entre elas, a fé e a prece. Outra coisa foi o esforço pela edificação pessoal, o abandono das más tendências fez toda a diferença para afastar os Espíritos que causavam agitação no lar.

Atrair os Bons Espíritos e viver em paz é responsabilidade nossa.

 

MANUELA      

29/01/2022

 



Não dá pra dizer que eu não tive tempo ou oportunidades.

Nós costumamos dizer: “Eu queria ter tido mais tempo”.

A verdade é que não sabemos como aproveitar o tempo que temos. Subestimamos a vida, o Universo e as diversas chances que temos para progredirmos.

Eu tive tempo, mas desviei minha atenção com as futilidades da vida. Eu podia ter me dedicado às coisas mais importantes e ter partido em paz.

Acho que, o que nos atormenta, é a sensação de vazio, de não ter feito nada durante todos os anos em que estivemos encarnados, isso é o que faz doer. Isso é o que faz a gente se apegar, não desejar partir para dar continuidade às coisas inacabadas, assuntos mal resolvidos, frases mal ditas.

Eu adoeci rapidamente, como inúmeras pessoas que adoecem todos os dias. Eu me surpreendi porque me achava muito jovem, muito saudável, cheia de potencialidades que podiam ser desenvolvidas e aceitas nesta sociedade tão doente e alienada.

A doença crítica evoluiu tão depressa que eu nem tive tempo de compreender meu desencarne, que triste!

Daí foram dias para fazer uma justa noção do meu estado e tive sorte do amparo que recebi, mas sei que dei muito trabalho àqueles que me socorreram e isso é constrangedor.

Então, estive pensando...

Eu reclamei tanto. Cobrei injustiça. Falei de milhares de mortos por uma doença desgraçada que tirou as chances da gente. Mas, chances de quê?

O que teria mudado se eu tivesse me curado? Eu cheguei neste questionamento e sei que foi graças ao meu orientador porque, de verdade, eu não tinha condições de ser tão racional.

Eu fui conduzida a este pensamento e achei bem coerente porque minha vida, depois de algum tempo, teria voltado a ser igualzinha. Eu não teria me modificado para melhor, eu não teria me reconciliado com meus opositores, nem me dedicado mais à família. Eu não teria abandonado minhas mazelas morais e minhas tolas necessidades egoísticas ou vaidosas para me dedicar a quem quer que fosse. Eu simplesmente seria mais uma pessoa delirante andando pelo mundo, me dizendo “normal”.

Eu nunca vivi, eu sobrevivi aos meus delírios de consumo e de orgulho, doentia. Por que nós não percebemos o quanto somos mimados, batendo o pé e exigindo que as coisas sejam da forma que achamos conveniente?

Alguém ou algo tem que nos parar. Mas, depois de tanto tempo, ficamos chocados, atordoados e, passados alguns meses de alívio, retornamos na mesma conduta egoísta e lastimosa de ser. É claro que existe uma força oculta que comanda tudo isso, claro.

Eu tive tempo e oportunidades e não fiz mais que a grande maioria. Na verdade, eu não fiz nada que pudesse me alegrar ou que pudesse me colocar numa posição confortável com a minha consciência, por isso, estou deprimida.

Fico me perguntando quantas vezes vou ter que retornar e padecer até que possa me libertar das bobagens que me satisfazem e trabalhar ativamente. Quantas vidas eu vou ter que perder até me reencontrar como um ser de luz?

Eu não teria mudado nada, então, pra mim, foi a melhor forma de retornar. Não podiam ter sido mais condescendentes comigo. Creio que estamos atraindo uma grande oportunidade para analisar a forma errônea como conduzimos as nossas vidas.

 

LUÍZA

16/01/2022

 

---------Paula Alves------

 

Eu adoeci e, nem por um minuto, pensei no sofrimento dela. Minha esposa não saiu de perto de mim, mesmo com as alegações médicas sobre o contágio. Minha preocupação girava em torno dos meus filhos.

Sempre me senti chateado com a maneira como levavam suas vidas e não queria que eles tomassem posse de tudo o que eu conquistei.

Eu tinha medo que pudesse acontecer algo comigo e eles se beneficiassem.

Disse várias vezes para minha esposa que não desse um centavo a eles porque eu não merecia ter um filho gay e uma filha mãe solteira. Por que eles teimavam em me afrontar?

A verdade é que eu fui um tirano no lar e, ainda assim, Deus me entregou aquela esposa que arriscava a sua saúde para cuidar de mim. Ela me afagava e dizia: “Só amando...”

Eu não ligava, nem me esforçava para entender, mas nos momentos finais, eu nem podia falar, era tão difícil puxar o ar, meu fôlego estava péssimo, ela conseguiu se fazer ouvir na marra.

Falou das diversas vezes que eu não escutei nenhum deles. Nossos filhos nunca tiveram oportunidade de demonstrarem o que realmente sentiam porque eu era opressor e preconceituoso. Meu amor não era suficiente para afastar a ignorância e preconceito com que vivi toda uma vida.

Ela falou que me amava e nem sabia o motivo porque eu sempre a maltratei de graça, diante de todos, mas ela nunca iria me abandonar.

Eu recebi lições daquela mulher que sempre me acompanhou e disse que orava por mim, por nós. Ela dizia que morreria por mim, nunca me deixaria sozinho, abandonado, mas eu havia expulsado nossos filhos do lar e ela sofreu durante anos, tentando promover uma aproximação que eu sempre recusei.

Eu chorei porque compreendi que fui maldoso no meu lar, eu fui cruel e dificultei a vida de todos eles. Compreendi que aquela doença era como um mal necessário que me fizera parar e ouvir pela primeira vez.

Depois disso, eu morri em carne e ressurgi como Espirito, um Espírito doente pela maldade e impiedade no lar. Vi o sofrimento deles enterrando meu corpo acabado. Vi o quanto eles eram próximos da mãe e delicados, amorosos com ela.

Minha esposa não se contaminou. Como pode? Ela cuidou de mim, bem de pertinho, não adoeceu e ficou em paz.

Só eu passei por todos os momentos difíceis muito apropriados para minha libertação. Ficou muito remorso, saudade, culpa.

A gente nunca quer morrer porque tem medo do que vai encontrar, mas também porque é abandonar quem você foi, tudo o que você conquistou, porém, eu me dei conta de que a morte veio a calhar. Eu não fazia nada de bom mesmo. Não me dediquei, nem a melhoria pessoal, não ajudei nem meus familiares.

Eu percebi que eles viveram melhor sem mim e isso me doeu porque tudo poderia ter sido muito diferente, por isso, fico pensando que toda morte chega no momento certo.

Quem vem para este lado e quem fica sempre acha que perdeu algo, mas a gente só ganha. Se analisar os fatos, a gente ganha porque observa tudo e consegue compreender, cada um a seu tempo, o que fez de bom e de ruim.

Eu melhorei a partir das minhas perdas e deixei que eles vivessem em paz.

 

GUILHERME

16/01/2022

 

----------Paula Alves-------

 

 

Qual é o sentido da vida?

Eu corria tanto, parecia estar sempre atrasada. Eu me dediquei tanto, tinha que estudar e trabalhar para ter capacitações profissionais e progredir na minha carreira, mas eu já tinha títulos importantes e um bom nível social.

Sabe quando você tem o suficiente?

Quando não falta o necessário, pelo contrário, você ainda tem o supérfluo. Se beneficia de boas oportunidades de lazer, festas, tem conforto, bem estar, enfim, isso é ter estabilidade financeira e uma boa condição social, pra mim.

Eu já tinha tudo isso e abdiquei de ter família porque achava que poderia conquistar melhores posições. Eu sentia que estava sempre atrasada como se as pessoas estivessem sempre competindo comigo, mas a verdade é que isso saia de mim. Eu era competitiva e ambiciosa. Nada me bastava, nada era suficiente. Eu queria mais e mais.

Minha mãe chegou a me dizer que eu buscava o inalcançável porque ainda não havia amado. Se eu tivesse me envolvido sinceramente com alguém, minha vida seria perfeita, mas eu valorizava as coisas, a matéria.

Naquela ocasião, achei que minha mãe era uma invejosa porque ela nunca tinha tido a minha vida, dona de casa que viveu para o marido e para os filhos, nem sabe o que uma mulher como eu enfrenta para ter sucesso...

Mas, hoje eu entendo que ela estava coberta de razões.

Eu também adoeci e me vi sozinha. Como é triste quando você analisa sua vida e percebe que aquele carro do ano não vai te consolar ou cuidar de você, a viagem para o exterior não vai acontecer e você nunca recebeu um abraço do ser amado.

Eu percebi que estava ficando pior, mas não quis pedir socorro para meus pais e irmãos. Eu nunca fui sentimental. Aguentei firme, até que me senti perdida, parecia o fim e eu precisava dizer a ela que eu estive errada, então liguei e pedi perdão porque eu nunca fui uma filha amorosa e nunca fui presente e sabia que estava no fim.

Minha mãe chorou e disse que iria me ver, então ela me conduziu ao hospital e eu fui internada, mas já estava com os pulmões muito doentes, meu corpo não aguentou.

Eu me arrependo. Chegar aqui com arrependimento e culpa é um terror, mas são tantos nestas condições. Que horror!

As pessoas têm que saber que o caminho está errado. Nós buscamos coisas que não levam a lugar algum, só tristeza e culpa. Eu podia ter feito tantas escolhas diferentes. Eu podia ter sido feliz, mas eu era viciada, compulsiva por bens materiais, não é o caminho.

A morte não é o problema, entenda! O problema é a forma como você tratou a vida.

O erro não está em morrer. O corpo vai morrer de qualquer maneira, de uma forma ou de outra, já está traçado. Dia de nascer e dia de morrer, você não pode mudar. Mas, a forma como você escolhe viver sua vida, está em suas mãos, decisão inteiramente sua e pode mudar de caminho quando achar melhor, ninguém vai te repreender.

A forma como você vive é o que te faz chegar aqui de cabeça erguida, em paz ou lastimoso, desencorajado. Eu errei e me sinto mal porque podia ter sido bem diferente. A sensação de perda está associada a inutilidade da minha vida, só isso.

 

CAMILA

16/01/2022

 

-------------Paula Alves-------

 

 

Enquanto eles cuidavam de mim, eu pensava: “Se tem um Deus, este Deus vai me tirar desta, vai me salvar porque eu mereço viver”.

Quanta afronta! Por que será que a gente se acha importante na vida? Acreditar que a sua vida é muito grandiosa quando você não faz nada que presta. Vive por viver, sonha, come, bebe e dorme, trabalha um pouco, paga as contas e bagunça o coreto, nada demais.

Eu achei, de forma inconsciente que podia barganhar com Deus. “Olha, se você existe mesmo, me prova que existe e me tira dessa”.

Há-há-há, até parece. Eu até piorei depois disso.

Estive a pensar que no mundo nasce muita gente todos os dias, muitos bebês já nascem em sofrimento. Sofrimento no parto, na família porque são indesejados, nascem doentes, pobres demais, nascem e são abandonados pelos pais e ficam rejeitados pela sociedade durante toda uma vida. Eles são como nós, como todos nós.

Eu pensei que, enquanto eu passava perrengue para morrer, alguém, naquele momento, estava passando perrengue para nascer.

Será que é isso mesmo? Tantos como eu? Sei que foram milhares como eu, mas alguém naquele momento sofria para nascer e, no exato instante da minha morte, deve ter nascido alguém que deu alegria para a sua família que aguardava por aquela vida, com roupinhas perfeitas e um quarto perfeito, um planejamento de vida feliz, com pais que almejavam que ele ou ela fosse estimado por todos e bem sucedido, mas será que os pais pensam que um dia vai sofrer e se decepcionar como eu, doente e arrependida por não ter feito nada para se lembrar com carinho ou contentamento?

Acho que alguma coisa tem que ficar da vida que viveu né? Este é o segredo da vida, este é o objetivo, mas eu não sabia, não tinha motivo para pensar nisso.

A gente tem que voltar carregando uma coisa muito boa como o sorriso de alguém, a gratidão, o conforto, paz, amor. Acho que, se eu tivesse me casado e tido filhos, talvez tivesse uma boa lembrança do parto deles ou de algum aniversário, do meu casamento ou então, do abraço do meu netinho, sei lá. Eu podia até me lembrar de algum gato ou cachorro que tivesse me amado de tanto que eu fui bondosa com ele. Podia ter feito bem para alguém e me lembrar desta pessoa, mas eu não tinha nada para me lembrar, eu não trouxe nada. Daí eu entendi.

“A gente não leva nada da vida material”. A gente não traz matéria, mas traz lembranças e sentimentos. Tudo o que faz feliz e uma boa sensação vem com a gente e ajuda a passar pelo momento difícil.

Eu ouvi uma mulher dizendo que ela estava em paz, ela melhorou tão rápido. Ela estava em paz porque cuidou dos pais doentes, teve um marido alcóolatra que ajudou a se libertar do vício, cuidou dos quatro filhos que se tornaram pessoas de bem. Alguém pode dizer que ela só sofreu na vida, mas a vida dela foi cheia de oportunidades, ela fez o bem o tempo todo e chegou aqui cheia de fatos para contar, a vida dela é muito interessante. Mas, a maioria não fala nada porque tem até vergonha de admitir que sua vida foi nula.

Isso é vergonhoso deste lado. Nós somos a grande parcela de pessoas que não foi má, mas também não fez bem pra ninguém, então, a gente se sente vazio.

A doença tomou conta de mim e eu ouvi uma voz dizendo: “Minha filha! Deus ouve tudo e vê todos, mas coloca na vida de todos os filhos a semeadura que é irremediável, faz parte da Lei. Em raríssimos casos, a pessoa consegue adiar a decisão final, estabelecida bem antes do seu nascimento, mas isso só acontece com aqueles que são comprometidos com o bem geral. Não é o seu caso”.

Eu não vi ninguém, só ouvi. Depois disso, eu agonizei, um horror e deixei meu corpo. Foi um momento de crise porque eu não queria me soltar, que vergonha!

Ainda falta muita coisa para eu ser uma pessoa melhor. Ah, a voz, era do meu instrutor, ele tem me ajudado muito, é um anjo que me acompanha por toda parte.

A gente sempre tem motivos para agradecer.

 

LEONTINA  

16/01/2022





“DOAR UM ÓRGÃO É DESEJAR QUE ALGUÉM VIVA SEM JULGAR, SÓ AMANDO”

 Existem muitas formas de doação.

A caridade verdadeira é desinteressada, não exige nada em troca, nem mesmo, reconhecimento de espécie alguma.  

Eu sempre achei fácil ajudar, até porque, nunca passei por privações, então, doar dinheiro, valores materiais, não tinha dificuldade nenhuma pra mim, eu fui tão abastado.

Doar é muito melhor do que necessitar, mas eu nunca havia pensado muito nisso, até que precisei. A necessidade que me afligia era uma necessidade imprescindível que dinheiro nenhum podia pagar, eu estava tão debilitado.

Meus pais ficaram amargurados quando perceberam que meus rins estavam falhando, morrendo...

Quando temos que passar por uma prova única e fundamental para o processo evolutivo, ah! Ninguém te salva, nem mesmo, os familiares mais próximos, aqueles que mais te amam, ninguém era compatível comigo...

Eu simplesmente morreria se ninguém me doasse um órgão.

 

Meu pai ficou inconsolável e pensou nos modos ilegais de salvar minha vida. Olha, no mundo existe de tudo, o dinheiro pode comprar qualquer coisa, até um órgão, mas como eu disse, ninguém pode fugir da prova necessária e, para mim, não havia solução ilícita que resolvesse.

Então, o jeito foi aguardar na fila, até que alguém, pudesse morrer para me dar esperanças de reconstruir minha vidinha privilegiada. Eu já estava entregando os pontos porque não me sentia no direito de rezar, pedindo que alguém morresse para salvar minha vida.

Eu nunca havia me perguntado o que acontece com os órgãos de tantos que falecem. Eu não havia parado para pensar na necessidade de receber um doador e me questionei sobre todos estes pontos específicos.

 Eu pensei nos familiares que perdem alguém e precisam escolher se vão doar os órgãos. Pensei na alegria de quem recebe uma segunda chance de continuar vivendo. Pensei em todos aqueles que aniquilam seus corpos perfeitos por imprudências variadas e necessitam de órgãos mais saudáveis para continuar vivendo. Eu pensei nestas questões envolvendo órgãos desenvolvidos em laboratórios.

Nós só raciocinamos sobre algo quando temos necessidade, por isso, que os momentos terríveis da Humanidade também servem para o progresso das nações.

Eu não me sentia merecedor, mas alguém no mais alto ministério acreditou que eu pudesse valorizar o órgão que recebi.

Eu estava fraquinho, já me entregava para a cova profunda quando o meu pai atendeu o telefone e soltou um grito, eu podia receber o transplante. Minha mãe me abraçou e pediu que fizéssemos uma prece por aquele doador que me permitia continuar na Terra, enquanto ele seguia rumo ao Senhor.

Vivi durante muitos anos, carregando aquele rim que me parecia um presente dos céus. Achei que faria bem se me cuidasse em dobro e fizesse as melhores ações, para agradecer por receber tanto da vida, de Deus.

Acho que todos podem doar. Doar alimentos, roupas e calçados, doar dinheiro, atenção, afeto, palavras de incentivo, mas a doação de órgãos é sacrifício e abnegação, doar um órgão é desejar que alguém viva sem julgar, só amando.

 

ELIÉSIO

09/01/2022

 

------Paula Alves----

 

“A DOAÇÃO É SEMPRE IMPORTANTE PORQUE É UM ATO DE AMOR QUE SOCORRE, ASSISTE, DÁ ESPERANÇA E AFETO”

 

 Eu tinha tanto leite. Chorei dias e dias porque aquele filho era tudo o que eu queria da vida. Ele era a minha razão de viver.

Sabe quando você imagina toda a sua existência com aquele ser que você carrega no ventre? Eu amava aquela criança de um jeito incompreensível, até para mim, mas após carregá-lo por nove meses, tive um problema no parto e o bebê não resistiu.

Eu sofri demais. Achei que fosse morrer de tanta tristeza.

Foi aí que a enfermeira viu minhas mamas, eu não me importei com o desmantelo, com a falta de cuidados, eu não pensava em mais nada.

Ela viu minha camisola toda molhada de leite materno e perguntou se eu não queria doar o leite. Na hora, eu me indignei, gritei com ela, aquilo era um absurdo. Será que ela não viu o meu sofrimento, a minha dor?

Mas, eu vi outras mães tentando amamentar e os bebês choravam de fome. Elas não tinham tanto leite quanto eu.

Dentro de mim, nasceu uma vontade de fazer algo de bom com meu leite e falei com a enfermeira, pedi orientação. A moça foi tão atenciosa, me explicou tudo e me ajudou a fazer as doações.

Eu chorava, pensava no meu bebê, mas me sentia aliviada por estar colaborando com outras mãezinhas.

Durou um tempo, depois meu leite secou e ficou dentro de mim a frustração por todo tempo que esperei e não pude ter meu filho nos braços. Confesso que culpei a Deus, eu blasfemei e depois pedi perdão por minha leviandade, pedi que ele me abençoasse com uma criança e, depois de dois anos, quando me tornei mais humilde e bondosa, consegui.

 Tudo estava escrito nas linhas do tempo. Eu cometi muitos erros no pretérito, fiz vários abortos, não valorizei a vida e precisei suportar a dor da perda para valorizar a vida, eu aprendi.

A doação é sempre importante porque é um ato de amor que socorre, assiste, dá esperança e afeto.

Muito se engana aquele que pensa que o maior beneficiado é quem recebe o auxílio. Quem entrega uma assistência se eleva e engrandece porque aprende a ofertar para ajudar o próximo, se coloca em segundo plano para fazer o bem.

Naquela época, eu aprendi que existem muitas formas de ajudar e todas nos fazem sentir a paz de Espírito, a libertação das mazelas da vida porque nos desprendemos de valores mesquinhos para nos elevarmos a Deus.

 OFÉLIA

09/01/2022


 ------Paula Alves----


 “A DOAÇÃO DE SANGUE FAZ TODA A DIFERENÇA”

 

Tantas e tantas vezes, eu me esquivei. Ouvia um grupo de pessoas pedindo por doadores de sangue e eu sempre tinha uma justificativa plausível para escapar, mas a verdade é que eu odiava agulhas, eu não gostava de sentir dor. Sempre foi algo desgastante e cruel, do meu ponto de vista, então, eu nunca doei.

O tempo passou, eu sempre era requisitado, até achava estranho e inconveniente. Parecia até que as pessoas sabiam do meu pavor. Eu não entendia, mas acho que era a vida me colocando em xeque mate para ver se eu era digno de receber ajuda.

Tantas foram as vezes que ouvi amigos dizendo que a transfusão de sangue era proibida por algumas religiões. Eu cheguei a concordar, pra quê, passar por este absurdo?

Mas, tudo é fácil quando não vivenciamos o problema fatal.

Eu sofri um acidente de carro e fiquei com graves ferimentos, necessitei de cirurgias, meus familiares e amigos foram convocados para doarem sangue. Fui atendido da melhor forma possível, eu nem merecia tanto amparo, mas recebi.

Dias depois, minha esposa me contou tudo o que aconteceu. Ela informou quantas bolsas de sangue foram necessárias para que eu pudesse me restabelecer. Ela disse que meus pais conseguiram muitos doadores e os médicos cuidaram de mim com muito empenho, isso foi suficiente para que eu ficasse bem.

Minha doce esposa sabia da minha repulsa pela doação de sangue e aproveitou aquele momento para me reeducar. Eu me constrangi com o comportamento leviano, nem conseguia olhar em seus olhos.

 Depois daquela situação eu revi meus conceitos e compreendi que as pessoas boas fazem sacrifícios por seus semelhantes.

Ninguém gosta de ser furado, ninguém gosta de ir a hospitais ou em cemitérios, mas as pessoas fazem sacrifícios pelo bem do próximo, levam incentivo, coragem e ânimo a quem precisa sobreviver acima de tudo.

A doação de sangue faz toda a diferença. As doações de forma geral, se fossem abundantes, tornariam a vida da sociedade muito mais tranquila porque somos muitos, aqueles que podem auxiliar.

Se cada um de nós se comprometesse realmente com seu semelhante ninguém passaria privação.

Se dentro das famílias, ao invés, de maldizer, as pessoas favorecessem seus irmãos, não existiria a mendicância, asilos ou orfanatos tão cheios.

Se os saudáveis tirassem um tempinho para doarem sangue, medula ou leite, ninguém sofreria num momento de incrível dificuldade.

Nossas vidas podiam ser mais simples e alegres se uns ajudassem os outros.

Eu compreendi porque Deus manda tantas dificuldades. Se a vida fosse só de alegrias, a  perdição seria ainda maior.

Nós nos reformamos a partir das nossas crises existenciais.

 

ARMANDO

09/01/2022

 

-----Paula Alves----

 


“SÓ MESMO UMA PESSOA MUITO EGOÍSTA PARA NÃO ENTENDER O QUE O AMOR PODE PRODUZIR NA SOCIEDADE”

 Eu via aquele menino correndo e entristecia só de pensar que ele podia cair e se ralar todo. Orava para que Deus pudesse protegê-lo em todos os momentos da vida.

Mas, meu menino cresceu e, com ele, a sensação de que eu precisava proteger a sua vida, acima de tudo. Toda mãe deve pensar nisso, verdade.

Eu via as minhas amigas dizendo que preferiam ficar doentes no lugar dos filhos, eu compreendia, mas para mim, era um caso de vida ou morte, dá pra entender?

Eu vi o quanto ele estava modificado, eu cobrava que ele chegasse em casa mais cedo, pedia para meu esposo ir atrás dele e se certificar de que ele estava num local adequado para jovens, sem nada que pudesse feri-lo, fora de perigo, mas ele ria.

Só que, com o tempo, meu filho se transformou e eu sabia que aquilo estava relacionado com uso de drogas. Eu pedi e implorei para que ele deixasse as drogas.

Minha vida virou um desespero e ele começou a roubar nossos pertences na intenção de pagar os traficantes. Tudo em vão.

Eu me perguntei tantas vezes, onde errei, como podia ter sido diferente, achei que o motivo era aquela vida, mas não.

Em outras existências, ele já teve envolvimento com drogas, eu era uma amiga muito próxima que me drogava junto com ele, eu o amava tanto, mas ele nunca me viu como mulher. Ele usou tanta droga que teve overdose e desencarnou diante de mim. Eu me senti muito culpada e pedi a Deus que pudesse trocar de lugar com ele, em vão.

 

Mas, como mãe eu podia ter feito uma transformação naquele rapaz. Orei tanto, pedi discernimento, que Deus me dirigisse os passos para que eu pudesse modificar meu filho. Só Deus podia me ajudar.

Numa noite, meu filho chegou em casa transtornado, gritava e se apavorou tentando se esconder, eu o abracei, ele disse que os caras estavam indo atrás dele para cobrar a dívida, ele se despediu de mim e pediu perdão por ter sido um péssimo filho, mas eu jurei que ninguém iria feri-lo, eu o protegeria com a minha vida e foi assim que eu desencarnei, entrando na frente do tiro que deram para tirar a vida dele.

Eu não me arrependo, nunca. Faria tudo de novo. Os homens maus foram embora, meu filho ficou caído ali, chorando e se lamentando. Serviu pra ele se transformar.

Deus sempre sabe como tocar o coração de cada um. Ele precisou sentir a dor de ver uma mãe fazendo sacrifício por ele. Sentindo-se culpado, mudou de vida.

Eu entendo o que é sacrifício e renúncia. As mães sabem.

Mãe sabe o que é doação de verdade porque padece no paraíso. Sofre sorrindo todos os dias. Sente dor para ter o filho nos braços, passa fome para ver alimentado, não dorme para velar o sono de outra pessoa.

A doação de mãe começa na gestação. Doando o próprio corpo para gerar o corpo de alguém, doando seu sangue, suas células. Amamenta, sente-se sugada e gosta da sensação de nutrir outro ser com seu próprio organismo.

A mãe doa conselhos, paciência, acalanto. Qual é a mãe, em estado de evolução que não trocaria com o filho se preciso fosse e lhe entregaria a própria vida?

Só mesmo uma pessoa muito egoísta para não entender o que o amor pode produzir na sociedade. Tudo é obra de Deus.

 HELENA   

09/01/2022

 


“TANTOS SÃO OS QUE SE COLOCAM NUMA POSIÇÃO DE INFERIORIDADE E NÃO PODEM SE MANIFESTAR”

 

Eu entrei nas terras para pedir trabalho, mas o dono tratou de mandar o capataz me surrar. Nem sequer, me deixou explicar. Ele não quis me ouvir.

Por que será que existem pessoas que não conseguem ouvir ninguém?

Eu fiquei quase inválido. Saí dali e jurei me vingar, de qualquer forma.

De fato, consegui emprego em outro local, mas nunca me esqueci daquela ofensa e carreguei aquilo para o túmulo. Eu me lembrei dele e passei a perseguir de forma violenta.

No fim, ele também morreu e a discórdia mútua fez com que nos agredíssemos durante décadas, até que cansamos de nos ofender e ele conseguiu ser resgatado primeiro. Eu sempre fui muito rancoroso, demorei para ser resgatado.

Já conversamos e decidimos retornar na mesma família, irmãos, pobres e necessitados, deveremos nos amparar para conseguir lidar com os problemas do mundo. Nos laços de sangue, pode ser que o perdão surja sincero e cordial.

 

Eu fiquei pensando em quantas vezes tentei me expressar, quantas vezes me foi negada a possibilidade de demonstrar meus sentimentos e reações diante do mundo. Acredito que isso já ocorreu em outras existências.

É revoltante quando você não tem direito de argumentar, quando a pessoa não quer saber o que você pensa, quando você não tem voz.

Estou feliz de poder soltar o que trago no peito, até porque, muitas vezes, o que eu sinto, muitos podem sentir.

Tantos são os que se colocam numa posição de inferioridade e não podem se manifestar. São mulheres nos lares tratadas com submissão, crianças que são oprimidas e reprimidas, serviçais que são humilhados com frequência, governantes que impõe seus abusos para as nações, enfim, toda forma de coagir que humilha e deprecia a Humanidade.

 

Eu não acho que este seja o caminho. A liberdade de expressão vem sendo sugerida e reclamada, mas ainda falta muito para que as pessoas sejam mais humanas, sensíveis e indulgentes umas com as outras, para que permitam que o outro lado de tudo possa se manifestar, gerando assim uma sociedade mais pacífica e solidária.

Quando as pessoas que estão numa condição de superioridade, devido aos seus cargos e hierarquias, sejam elas familiares ou sociais, desejarem ouvir mais do que falar, a sociedade poderá ser mais justa porque todos saberão onde podem ser mais úteis.

Afinal, nem sempre o que eu acredito ser o mais necessário, realmente é o mais necessário para o bem geral.    

DOMINGOS BRÁS

02/01/2022

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“A GRANDIOSIDADE DA VIDA ESTÁ NAS COISAS MAIS SIMPLES”

 Um certo alguém me falou que eu poderia conseguir o que quisesse, mas este alguém esqueceu de mencionar que, eu preciso respeitar a vontade das pessoas que estão ao meu redor.

Viver em sociedade é difícil porque são pessoas diferentes que desejam tanto, ao mesmo tempo. O respeito implica na aceitação do outro, na compreensão e no auxílio mútuo, mas as pessoas não costumam pensar muito sobre isso, é só o “eu, eu, meu, para mim”. Isso é o que importa nesta sociedade do “quem tem mais”.

 Para que a vida seja mais leve, todos deviam se contentar com o que têm e se esforçarem para serem pessoas melhores em todos os lugares que percorrem.

Mas, viver feliz incomoda. Tantas pessoas se inervam quando veem alguém sorrir à toa. Parece que a alegria contagiante é desconcertante, constrangedora porque sempre tem alguém de mal humor, alguém sofredor e você não sabe como reagir neste mundo do “quem tem mais é o melhor de todos”.

 Eu considerei que também devia me esforçar para ter o que quisesse, para ser feliz diante de todos e me enganei imensamente. Acho que aquele certo alguém estava muito equivocado, ele não sabia o que era felicidade.

Quanto mais eu me esforçava para possuir, mais angustiado eu me tornava, mais infeliz e desesperado. Eu consegui muito, tive bens e mulheres lindas, ambiciosas como eu, mas por dentro, um buraco profundo me dominava, medo, angústia e dor. Quanto mais eu possuía, mais pobre eu me sentia, mais infeliz, solitário, vazio. A vida não tem sentido nenhum, a gente só quer ter e nem sabe o porquê.

Quando se conquista, a sensação de felicidade dura um segundo e nada mais.

Daí eu abandonei tudo, deixei para trás.

“Louco — diziam eles — ele tinha tudo o que um homem podia querer.”

Eu não tinha paz e nem direção. Viver pra quê? Qual é o objetivo de uma vida que só conquista bens? De que serve tudo isso?

Eu caminhei liberto de tudo o que me prendia neste mundo e ouvi dentro de mim uma voz que dizia que a vida precisa ser vivida com leveza e paz.

Eu encontrei a leveza e a paz quando me vi desenvolvendo dons que não sabia que possuía, ensinando crianças a ler, pescando para sobreviver, reencontrando Lucélia no mar.

A grandiosidade da vida está nas coisas mais simples. É quando a alegria daquele momento vem sempre como uma doce lembrança.

 CRISTIANO

02/01/2022

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O BEM MAIS PRECIOSO QUE TEMOS É A SAÚDE MENTAL”

 Desembaraçar-me deles foi a coisa mais difícil que precisei vivenciar.

Eu sempre ouvi que nós não podemos ser apegados a nada e a ninguém, mas não compreendia. O apego é a dependência total. Não precisa ser apego material pode ser emocional também.

Minha esposa fazia tudo para mim. Ela não apenas, cuidava de mim, cuidados básicos com o vestuário e alimentação, mas ela decidia por mim, tudo. Ela me amparava e sustentava em todas as decisões. Alice pensava por mim, em diversas ocasiões, mas eu não estava sendo castrado, eu permitia. Me sentia à vontade para divagar, para me deixar viajar com o pensamento.

Porém, a morte, esta usurpadora da vida, me recolheu, sem que eu ao menos, pudesse perceber e quando me dei conta, estava longe da minha protetora Alice, super protetora.

Eu não conseguia decidir sem ela. Confesso que fiquei um longo período de tempo sem saber como devia me mover, para onde ir e me deparei com Loroel. Ele fez de mim um criado, servo, não muito eficiente, mas submisso.

Eu morria de medo dele e fazia tudo o que me era exigido, funções ridículas e desagradáveis, maldosas. Fui parar em algumas casas para desestabilizar ambientes, tentei colocar casais em discussões consideráveis, mas de repente, eu pensei por mim mesmo e o questionei.

 Pra quê fiz isso? Naquele dia, Loroel se irritou tanto que me surrou, mas eu me irritei tanto que senti inchar, eu me transformei e falei que não aceitava aquela condição de violência e dor. Depois de tanto ser rebaixado, eu reagi. Foi um terror, mas consegui me igualar a ele, depois de anos pude ser resgatado e hoje estou bem melhor.

Ainda faço terapia para reajuste mental, para argumentação e reflexão, eu preciso ter conjecturas independentes.

O fato é que, muitas vezes, é mais fácil pensarmos por nossos familiares, decidir por todos os membros da família, coordenar a casa ou controlar as pessoas. Temos as melhores das intenções, só queremos o bem daqueles que estão conosco, mas isso, pode tolher as perspectivas mentais.

Nossos familiares também podem gostar deste nosso comportamento porque sentem-se protegidos, tranquilos, não precisam ter muito esforço porque sempre tem aquela pessoa que organizou e decidiu tudo, pelo bem geral, mas no fim...

Nós estamos impedindo que cresçam e vivam bem, independente da nossa presença.

O mais adequado é que todos se desenvolvam, todos se esforcem e palpitem, opinem, participem da organização doméstica e crescimento do núcleo familiar.

 Desde cedo, as crianças devem ser estimuladas a fazerem escolhas e participarem dos objetivos familiares para que, pouco a pouco, possam fazer escolhas adequadas a elas e a todos aqueles que vivem ao seu redor.

Deste lado, eu me deparei com toda forma de limitação mental porque aqui o pensamento comanda tudo. As limitações mentais impedem que retomemos a trajetória, atrasa o desenvolvimento porque você precisa pausar por período indeterminado e fazer o tratamento que te habilite a retornar numa condição mais favorável.

O bem mais precioso que temos é a saúde mental.

 JONAS

02/01/2022

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“NÃO ESQUECE DE QUE TEMOS QUE ENSINAR A AMAR PARA QUE VOCÊ POSSA RECEBER AMOR DOS SEUS FILHOS”

 Meu Deus do céu! Aquele filho foi a minha razão de viver. Por que será que a gente entrega a nossa vida nas mãos das outras pessoas?

Eu nunca parei para pensar que eu precisava continuar cuidando de mim, me observando como uma mulher que tem sentimentos, vontades e objetivos. Eu descuidei de mim completamente.

Engravidar foi o sonho realizado, ser mãe foi uma missão maravilhosa, mas eu o mimei demais e não ensinei que ele tinha que me ver, me reconhecer e que, algum dia, deveria cuidar de mim também.

Sabe quando você faz tudo pelo filho e é rejeitada? Doeu muito, mas eu entendi que ele não me conhecia porque eu o idolatrava e isso virou uma doença.

Só agora eu entendo o que vem a ser amor próprio. É manter o respeito e os cuidados que você tem por você mesma, mesmo amando o outro. É não se anular em razão do outro. Prosseguir, continuar, achar razões para se sentir bem e útil. É desenvolver-se e alinhar-se no mundo como ser humano digno e respeitável.

Mas, eu só aprendi aqui porque me deslumbrei com aquele ser humano. Eu sempre fui apaixonada por ele e fiz pior em outras existências. Eu deixei de viver por amor a ele como homem. Eu menti e enganei por causa dele. Eu me viciei e me prostitui em outras existências. Ele foi como um vício.

Como filho, mantive o destino de me entregar de corpo e alma até sucumbir, até me anular e ficar sozinha.

Eu envelheci, ele cresceu muito bem criado, tendo tudo o que um jovem podia ter, materialmente falando. Ele se formou advogado, casou, teve filhos e não me visitava nem no Natal. Eu fui internada num asilo, abandonada num asilo, triste e ofendida, me sentindo insultada e desprezada.

Desencarnei, virei perseguidora no lar dele, cobrei o afeto que eu entreguei do fundo do coração, mas eu não sabia que isso não se cobra e que tinha responsabilidades como mãe.

Eu achei que, como mãe, bastava amar incondicionalmente, amar me esquecendo de mim mesma, mas não é nada disso, eu tinha que ensinar valores morais, ensinar respeito, compaixão, caridade, amor ao próximo, e assim, ele poderia ter aprendido a me amar, a me enxergar.

Então, você que é pai e mãe, não esquece de que temos que ensinar a amar para que você possa receber amor dos seus filhos. Ninguém sabe, enquanto encarnado, quem está recebendo como filho. Pode ser um Espírito maravilhoso dotado de bons sentimentos, mas pode ser um antigo delinquente, um viciado, um trevoso que precisa de você para por freio nos erros e ações no mal, precisa que você ensine sobre boas ações e nobres sentimentos.

Isso tudo para que você não tome do próprio veneno que permitiu ser produzido dentro do seu lar.

NOELE

02/01/2022

Um comentário:

  1. Espero um dia receber uma carta do nosso amado filho Pedro Henrique Pacheco Fernandes que desencanou com 9anos de idade

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