Cartas de Agosto (20)

         Foto Cedida por Magno Herrera Fotografia

“VOCÊ ACHA QUE JUSTIFICANDO O ERRO DO SEU FILHO, APOIANDO OU CONCERTANDO PARA ELE, VOCÊ O AJUDA?”

 

Eu sentia dentro de mim o mal que queria me conduzir, mas não podia permitir que ele me dominasse.

Eu tive tanta sorte! Recebi a família ideal. Pais e irmãos tão amorosos que seguiam o Evangelho e me apontavam o caminho certo.

Por mais que eu tivesse más tendências, o certo, o verdadeiro e o bom me faziam trilhar a porta estreita. Eu sabia o que devia fazer.

Minha família percebia que eu era diferente. Eles temiam por mim e me orientaram. Eles nunca ficaram distantes. Eles se certificavam de que eu não fracassaria e me pergunto o que teria sido de mim se eles tivessem desistido por ser tarefa difícil ou por uma desculpa qualquer.

Eu vi por toda parte pessoas parecidas comigo, na escola, no bairro. Muitos jovens prestes a desviar, eles tinham más inclinações, mas seus tutores não agiam com a mesma força moral. Eles não tinham exemplos no lar e podiam argumentar que foram ensinados com a leviandade, mas eu não.

 

Eu não tinha justificativas para o meu erro. Minha consciência me alertava o tempo todo que eu tinha que ser correto e bom, por mais que eu sentisse a necessidade de produzir atos de delinquência.

A verdade é que todos recebem a família certa. A mãe e o pai que podem dar um bom rumo à evolução. O problema é que, durante a trajetória, muitos pais desviam da sua missão e deixam a responsabilidade de lado.

Pais e mães que acham que fizeram tudo por seus filhos porque deram o alimento e a moradia necessários ao desenvolvimento, incentivaram aos estudos mais do que necessários, mas não puderam abandonar suas vidas, abdicar de todo o seu propósito de vida por um filho. Na verdade, este é um grande engano. Quando se aceita um filho, se compromete com uma missão que não tem tamanho. Esta missão faz deixar todo o resto de lado, você se compromete com um filho de Deus e deve encaminhá-lo.

Você é capaz porque Deus só te coloca planos alcançáveis, não é punição, é prova.

 

Quando um filho desvia, você é responsável, não importa a idade do seu filho, significa que faltou alguma coisa, você também fracassou na sua missão, por isso, pais e mães deveriam cumprir tão determinadamente este papel, nem que tenham que se dedicar exclusivamente para que ele vingue, para que ele chegue ao Pai e seja uma boa pessoa.

Eu devo tudo as meus pais, nem sei o que teria sido de mim se eles tivessem achado que eu já era velho o bastante para me virar sozinho. Se eles tivessem achado que não precisava mais deles e tivessem dado por finalizada sua tarefa.

Eu sei que, independente da idade que o seu filho tenha, muitos deles precisam de atenção e dedicação da sua parte. Eu vi homens que precisam de uma dura da mãe para serem bons pais e bons maridos. Eu vi mulheres feitas que precisaram de um sermão bem dado para se tornarem mães mais responsáveis para os seus próprios filhos.

Existe muita coisa errada no mundo porque muita gente foi conivente com os erros, porque muita gente foi omissa, porque muita gente passou a mão na cabeça e fez de conta que não viu o erro.

 

Você acha que justificando o erro do seu filho, apoiando ou concertando para ele, você o ajuda? Está enganado. Você está incentivando mais erros. É como se você o apoiasse.

Não é com agressão verbal e física que se educa, é com exemplo moral e atenção. Percebendo a pessoa que está sob a sua tutela, sabendo com quem você está lidando, não se enganando porque todos nós temos erros, mas existem erros que são intoleráveis e precisam ser extintos.

Não permita que o mal reine no seu lar. Para acabar com o mal, precisamos nutrir o bem, mas com demonstrações legítimas do bem e encorajando as pessoas a serem cada vez mais responsáveis por seus atos bons ou maus.

Eu me tornei uma pessoa muito melhor pelo trabalho árduo dos meus pais. E você?

SILAS

29/08/20

 

-------------------------Paula Alves-------------------

 

“TODAS NÓS PRECISAMOS FAZER REPAROS PARA O BEM DA FAMÍLIA”

 

Levei tanto tempo para me conscientizar que nós não seríamos felizes. Eu tentei de todas as formas que ele pudesse enxergar o quanto a nossa família era o melhor lugar para ele estar.

Eu fiz de tudo para ser boa mãe e esposa, boa dona de casa, uma companheira que daria apoio e incentivo, mas o Gaspar não queria nada de útil com a família.

Meu esposo ficou comigo por dez anos, ele me traiu, me bateu e nunca foi gentil com nossas crianças. Muitas vezes, fingi que tudo estava bem. Eu quis que desse certo.

 

Ouvi tanto de tantas pessoas que eu agia errado. Eles estavam preocupados conosco, comigo e com as crianças. Diziam que eu era boba, devia pensar em nós e sair daquela casa onde eu era tratada com ofensas e falta de respeito, mas eu tinha esperanças que ele pudesse mudar.

Minha mãe chegou a falar que o que eu sentia por ele não era amor, mas um estranho defeito que me fazia ser submissa e masoquista.

Eu refleti, nem sei como me sujeitei a tantos insultos. Mas, um dia qualquer, eu notei que ele estava observando minha mais velha de um jeito anormal. Eu não quis pensar que pudesse ser verdade e puxei a menina para mim, ele não tolerou o que fiz e me agrediu.

 

Eu desejei que não fosse verdade, mas raciocinei sobre tudo o que eu havia recebido até ali e analisei o que seria melhor para minha família.

O fato é que, por mais que eu gostasse daquele homem, eu não podia permitir que, nem em pensamento, ele fizesse mal aos meus filhos e, por eles, eu decidi ir embora.

Naquele dia, eu desisti de tentar e resolvi viver para os meus filhos que eram a única família que eu havia construído.

Eu sempre imaginei que os filhos precisavam da presença dos pais para viverem totalmente amparados, mas isto, se o pai fosse uma figura positiva para eles, que acrescentasse positivamente na vida deles.

 

Eu desisti do pai para que eles tivessem paz no lar e parti. Muitas de nós, tenta até o último dia. Tenta até perder a própria vida, perder a dignidade, a saúde, perder a esperança. Eu podia, como muitas outras, ter arriscado a integridade dos meus filhos, permitindo que passassem por abusos, fingir desconhecimento do mal para tê-lo ao meu lado. Isso não é correto.

Se eu não soubesse dos planos de Deus para minha vida, poderia afirmar que escolhi o pai errado para os meus filhos. Eu sei que deveria ter me dedicado ao relacionamento mais adulto, maduro e correspondido, seguro para todos nós. Ter filhos com um homem que me dedicasse verdadeiro amor e que desejasse assumir responsabilidades comigo, mas não é bem assim que funciona. Ele poderia ter sido este homem, ele assumiu comigo, mas fraquejou frente às paixões, ele se deixou levar e abandonou os nobres compromissos que foram traçados para nossa evolução familiar.

 

Enfim, todas nós precisamos fazer reparos para o bem da família. Estejamos sempre atentas porque nunca se sabe onde mora o perigo.

LUDMILA

29/08/20

 

-------------------------------------Paula Alves-------------------------

 

“FAZER O MELHOR QUE PODEMOS COM TUDO O QUE RECEBEMOS NAS DETERMINADAS EXISTÊNCIAS”

 

Enfrentei tudo por ela. Achei que fosse fácil me afirmar, dizer o que eu sentia e me posicionar na sociedade. Dizer o quanto eu repudiava o contato com o sexo oposto e que nós estávamos envolvidas.

Eu queria ter um relacionamento que durasse para sempre, cheio de respeito e cumplicidade.

Eu não queria mais fingir e viver uma vida de mentiras, permitir que alguém me tocasse sentindo repulsa e sorrir querendo chorar.

 

Falei para os meus pais o que eu sentia por Patrícia, falei que estávamos estudando juntas e ela também gostava de mim. Disse que não havia nada de errado comigo e continuava sendo a mesma de sempre, a filha de sempre, mas meus pais choraram muito.

Eles afirmaram que erraram em algum ponto. Eles permitiram que eu fizesse escolhas que não eram de meninas. Meus pais nunca incentivaram bonecas ou maquiagem, vestidos ou danças femininas quando eu queria brincar com meus irmãos nas brincadeiras de meninos, ficar suja e correr para empinar pipa. Eles tiveram a certeza de que nunca incentivaram a delicadeza e as características que fazem as mulheres tão graciosas.

 

Meus pais deixaram que a vida tomasse o rumo que eu quisesse e não falaram, não me observaram atentos, eles não se posicionaram quando eu quis beijá-la, simplesmente aconteceu.

Eles se sentiram culpados e eu não entendi, achei que eles estavam sendo melindrosos e irracionais porque eu nasci assim e eles não tinham culpa de nada, mas eu não liguei, eu vi o quanto sofreram, mas para mim, foi como tirar um peso das costas, agora eu poderia fazer o que quisesse, pois todos sabiam da minha verdade.

Fui até a Patrícia e ela disse que eu deveria esquecer, aquilo estava errado e ela queria o meu perdão, aquilo jamais deveria ter acontecido. Eu bati nela, gritei e fui embora.

Uma vida toda desperdiçada, cheia de revolta, a partir daí. Leviandade e compromissos deixados de lado se seguiram à minha total infelicidade.

 

Muitos anos depois eu desencarnei, sofrida, revoltada e carente. Quando finalmente fui acolhida, reconheci junto dos meus, um homem que olhava com imenso afeto. Ele me abraçou e disse que no futuro conseguiríamos, eu me lembrei.

Nós precisávamos de um compromisso matrimonial, eu deveria receber filhos provenientes deste enlace. Eu deveria fazer tantas coisas ao lado deste homem, um ser maravilhoso que me acompanha há tanto tempo.

 

Eu tinha sensações masculinas decorrentes da minha ultima vida, fiz a mudança de sexo porque deveria aprender muito com a maternidade, precisava me desenvolver, aprender tantas coisas novas, pertinentes ao meu estágio evolutivo, mas não consegui resistir aos meus instintos.

Meus pais estavam certos, eles poderiam ter incentivado as nuances femininas. Eles poderiam ter despertado em mim os caracteres de mulher tão apropriados à minha encarnação.

Nós devemos ser gratos àquilo que Deus nos dá. Fazer o melhor que podemos com tudo o que recebemos nas determinadas existências. Todos nós, temos muito o que aprender e devemos nos desenvolver a partir do que recebemos com alegria e dedicação, esforço e trabalho sério no bem. Sem queixas, sem revoltas e irresponsabilidades que podem comprometer compromissos assumidos com um grupo inteiro.

ISABEL

 29/08/20

---------------------Paula Alves------------------

 

“QUE MINHA VIDA SIRVA DE EXEMPLO”

 

Viajei para tão longe e quando encontrei aquele homem na loja de esqui, eu achei que já o conhecia.

Foi uma irresistível atração que me fez persegui-lo por um tempo.

Eu não imaginei que ele me recusaria porque eu era muito bela, astuta e ambiciosa. De cara, vi o anel no seu dedo denotando que ele era casado, mas isso não me impediu.

Eu tinha um estranho argumento de que as pessoas devem ser livres, apesar de seus estados civis ou religiosos, frase medíocre para quem quer incentivar o erro.

 

Fiz de tudo, eu achei que ele cederia. Percebi no semblante dele que não aguentaria se esquivar de mim por muito tempo quando ela chegou à loja, a esposa.

Naquela época, eu achei que ela era bem inferior a mim. Sem graça, um pouco acima do peso, descabelada, com roupas velhas e fora de moda e uma criança enganchada no seu pescoço.

 

Parecia um boba com aquela criança, nem percebeu que eu estava me atirando nos braços do marido dela, foi tão educada comigo, delicada, me deu raiva.

Eu achava que seria muito mais interessante se ela tivesse reagido, brigado por ele, mas eu me senti numa disputa desleal, tive um pouco de pena daquela MÃE.

 

Quando ela se retirou, ele disse que era, por isso, que não poderia se relacionar comigo. Eu ri uma gargalhada maquiavélica como se não acreditasse no disparate daquele homem. Ele esperou até que eu terminasse e falou que eu nunca chegaria aos pés dela. Ela não tinha motivos para desconfiar dele, que a amava de todo o coração. Eles tinham um relacionamento que ia além do corpo perfeito, dos traços harmoniosos, da idade, da saúde, dos bens materiais. Aquela companheira que ele escolheu lhe preenchia em todos os sentidos e era a mãe carinhosa dos filhos dele. Ele não precisava de mais ninguém. Além de tudo isso, ela tinha um coração enorme, muito diferente do meu que não deveria olhar para um homem casado.

 

Eu nem sabia o que dizer. Voltei para minha cidade completamente decepcionada e demorei muitos anos para compreender o que aconteceu entre nós. Eu sentia que o conhecia e que ele sentia algo por mim. Eu achei que pudesse ter com ele um envolvimento, independente da esposa e dos filhos, mas eu estava muito enganada.

Eu só entendi quando encontrei um bom homem para ser meu esposo. Eu me vi no lugar de esposa e mãe. Me lembrei da mocidade quando fui tão leviana com outras pessoas.

O que não quero para mim não deveria desejar para outras pessoas.

 

As mulheres nunca deveriam se envolver em assuntos de família, pois não são todos os homens que conseguem raciocinar com o coração e com o compromisso. As mulheres deveriam ser éticas e respeitosas com os compromissos alheios e nunca separar pai e mãe que são imprescindíveis para a estrutura de uma pessoa em formação.

Eu tive família e fui muito feliz, mas tive que perdoar uma traição que me doeu muito. Senti na pele o quanto sofre uma mulher traída que tem filhos e pensa neles para reconstruir seu lar.

Existe amor, mas junto dele há frustração, mágoa, humilhação que abre uma ferida no peito. Tem a desconfiança de que pode ser possível um novo erro. Você sempre acha que ele está com outra pessoa e tem que viver com isso para sempre. Eu mereci.

Estávamos morando tão distantes, eles e eu. Fui atraída e me senti envolvida. Em outras existências formamos um triângulo amoroso, eu destruí a família e achei que pudesse fazer tudo novamente, mas eles se fortaleceram e caminharam juntos num propósito edificante, venceram.

Eu aprendi a duras provas o que sente quem é traído. Que minha vida sirva de exemplo.

JORDANA

29/08/20   

  

------------------------------Paula Alves-----------------------------

   Foto Cedida por Magno Herrera Fotografia


O BEM ENCORAJA, ACALMA E CONDUZ À ALEGRIA, ESPERANÇA E OTIMISMO”

 

Fale, quando suas palavras servirem para incentivar alguém. Ouça para que você possa receber conselhos, orientações e aprenda com as outras pessoas. Reivindique porque você tem direitos. Respeite seus semelhantes. Erga a cabeça e prossiga mesmo que tenha cometido algum erro, mesmo que se sinta constrangido. Apoie quem está do seu lado, mesmo que você saiba que esta pessoa pode fracassar.

 Seja para as outras pessoas alguém que você gostaria de ter ao seu lado e nunca reclame sua posição por mais que você esteja sofrendo. Observe o lado bom de tudo, mesmo na dor ou na solidão.

Saiba ser a pessoa mais crítica para observar seus princípios e atos, mas saiba que num novo dia, você poderá fazer melhor.

Quando chegamos deste lado, nos colocamos a pensar em tantas situações, em tantas pessoas que passaram em nosso caminho e sabemos que vacilamos por estarmos iludidos ou de olhos fechados para as coisas mais importantes do mundo. As ilusões, os deslumbres e os vícios morais nos fazem desviar do grande propósito.

 Daí percebemos que se tivesse sido mais simples teria dado certo. Os planos têm objetivos na medida do alcançável. Nunca são em demasia para realizarmos. Todos poderiam retornar jubilosos por vencer e evoluir, aprender algo que transformou sua existência.

É lindo quando as pessoas começam a se despir de sua arrogância, orgulho e mediocridade. Elas passam a reconhecer as grandiosidades da vida. Normalmente ligadas ao outro. Deixam de lado seu bem estar, se tornam abnegados e altruístas, concedem muito mais do que imaginavam ter em si. É lindo como evoluem e podem doar tanto neste mundo de meu Deus.

Estas pessoas, de repente, aparecem por aí, você deve ter conhecido alguém assim. Alguém que te inspirou. Pode ter sido uma avó, sua mãe, um professor ou seu médico. Pode ter sido alguém que você viu de longe, que levava um cobertor na rua ou uma comida para um animal. Pessoas que nem parecem ser de verdade e mudam o mundo de alguém.

Eu penso que tem muita gente boa no mundo, mas os bons são tão acanhados. Muitos são constrangidos por serem minoria e não fazem tudo o que desejariam fazer porque tem medo de causar espanto ou indignação.

Indignação sim porque o mal quer tolher os bons movimentos. Ainda existe quem não suporta a presença do bem e da bondade.

Se eu puder tentar de novo, vou tentar me lembrar disso. O bem encoraja, acalma e conduz à alegria, esperança e otimismo.

Eu quero ser uma boa pessoa neste mundo, mas só posso ser bom se praticar o bem. Quem não faz nada de bom, não é bondoso. Aquele que nunca olhou para o próximo não pode ser definido como bom. Ainda existe quem faz pelo outro para ser lembrado, notado ou agraciado. Isso não é ser bom, é ser hipócrita, manipulador, político.

Muitos se aproveitam e enganam a si mesmos. Conheci muitos destes do outro lado, lá na região umbralina. Tantos querendo ser adorados por suas boas obras, foram desmascarados na frente do chefe. Aqui ninguém pode usar máscara. Tudo é revelado.

Eu queria que as pessoas tivessem a coragem de assumirem tudo o que sentem e o que verdadeiramente são. Seria um escândalo!

Agora vou estudar e me preparar para fazer bem feito meu próximo trabalho na carne. Quero ter coragem de ser alguém que luta por nobres ideais, mesmo que eu tenha que dar minha cara para bater, mesmo que eu seja apontado, mesmo que, para isso, eu tenha que perder meu sono e meu descanso, mas que eu possa, trabalhar de forma rigorosa por meu progresso e dos demais.

CARVALHO

22/08/20

 

 ----------------------Paula Alves---------------------

 

“POR QUE NÓS ACHAMOS QUE DEVEMOS TER TUDO O QUE O OUTRO TEM?”

 

Quando a gente nasce pobre não tem outra alternativa que não seja aproveitar o que aparece diante de si para se dar bem. Eu não tive intenção de prejudicar ninguém, apenas queria ter um pouco de paz e conforto.

Eu me aproveitei de uma situação onde poderia tirar vantagem e usei tudo o que podia para me elevar financeiramente.

Aquela família tinha muitos bens, pensei que ficando com uma escritura, nem mesmo, perceberiam. Eu fui um funcionário modelo, chegando cedo, saindo tarde. Fazia tudo para agradar meu patrão e ele só faltava me esfolar todo, mas eu precisava do serviço, eu tinha minha família.

Ele nunca pensou em me beneficiar depois de largos anos de serviço prestado. Eu não pensei duas vezes quando ele estava morrendo e eu estava frente a frente com toda a papelada. Peguei só um, os filhos ainda eram pequenos e a esposa não tinha como saber de tudo o que tinham.

 Mas, depois fiquei me culpando tanto que parecia estar amaldiçoado. Depois eu soube que isso tudo é tolice, coisa da minha cabeça, superstição de povo, ninguém amaldiçoa ninguém, mas eu fiquei com aquilo na minha cabeça e quando tudo dava errado, eu achava que era por causa do roubo.

Imagina! A viúva ficou podre de rica, nunca faltou nada para eles e eu pude começar a minha vidinha com alguma coisa. Até pensei que era mérito do meu trabalho eficiente, mas era roubo mesmo, ele não me deixou nada.

Acho que o pior juiz é você mesmo. Eu não achei correto o roubo e me torturei durante toda a minha vida. Por mais que eu fizesse, foi como se a coisa não rendesse.

 Daí veio a doença do meu filho. Eu achei que era castigo, outra loucura porque o menino não tinha nada que ver com o meu delito. Era uma provação que devíamos enfrentar, meu filho precisava passar por aquela doença ruim para se livrar de alguns defeitos da alma, ele suportou de forma tão resignada que venceu, o pobre. Eu não! Eu me revoltei tanto.

Meu filho amado, bonzinho, sofrendo daquele jeito... Blasfemei e não foi pouco não. Achei que Deus estava cobrando a minha dívida no menino. Achei muita crueldade da parte d’Ele e falei tanto, mas tanto, eu O ofendi.

 Nós cometemos muitos erros na vida. Tanta coisa estúpida que dá até vergonha de mencionar. Olha que eu nunca desejei o mal de ninguém, minhas ações não chegaram a prejudicar quem quer que seja, mas eu sei o que fiz e não foram coisas belas.

Depois que meu filho morreu, persegui minha esposa porque me irritava a serenidade dela. Como ela poderia estar calma após ter perdido o único filho? Eu gritava e falava para ela demonstrar alguma racionalidade, ela só podia estar louca. Daí, ela me falou que sabia que o menino estava com Deus e que ela fez tudo o que poderia ter feito, era a vontade d’Ele. Ela estava em paz porque foi a melhor mãe que poderia ter sido. Como assim?

 Eu avancei nela. Fiquei com uma injúria que não podia nem olhar na cara. Era como dizer que eu não fiz o meu melhor, sei lá. Ela foi embora, eu não quis mais ninguém. Acabei perdendo tudo e caí na cachaça.

Uma revolta horrível, mas agora eu entendo.

Tudo estava errado. Primeiro por acreditar que eu merecia ter aquilo que o meu chefe tinha. Por quê?

Por que nós achamos que devemos ter tudo o que o outro tem? Por que esta mania de comparação se somos tão diferentes?

Deus é tão justo que coloca cada um de nós numa posição, com uma cor, com uma característica. Isso porque cada um alcançou uma conjectura mental, virtuosa, intelectual. Cada um de um jeito, não podemos ser tratados como iguais, mas somos iguais em necessidades e pela criação, pela finalidade, objetivos, enfim, tão comuns e tão únicos...

 Eu demorei para entender que não tinha a ver comigo, mas com as necessidades do meu garoto e eu não dei o apoio que ele necessitava porque me achei vítima da doença dele. Eu nunca olhei para ele como se ele fosse o protagonista daquela história de enfermidade, achei que, como pai, estivesse sofrendo mais que todo mundo. Puro egoísmo!

Foi muito egoísmo do início ao fim e eu só enxerguei agora. Por isso, é tão importante o tratamento psicológico. A gente precisa ouvir, relembrar os momentos ridículos que vivenciamos. Como se eu estivesse olhando de fora, fiz tudo errado. Eu poderia ter sido um cara decente e pisei na bola porque só pensei em mim. Eu me arrependo.

LINDOLFO

22/08/20

 

 ----------------------Paula Alves---------------------

 

“POR QUE É TÃO DIFÍCIL SE CONTENTAR COM A VIDA QUE NÓS TEMOS?”

 

Eu me aproveitei da história dela. Não devo ter sido a primeira. Estudei num colégio de freiras e conheci muitas meninas que estavam ali desde menininhas. Minha família me deu para as freiras porque não me queriam, já tinha muita criança lá em casa. Vida difícil, eu até preferi porque não ia gostar de passar fome com eles. Minha superiora não media palavras para falar por que eu estava ali.

Cresci sabendo que eu tinha sido desprezada pelos meus. Sentia inveja quando as meninas ricas diziam que estavam ali para se dedicarem à igreja. A família havia oferecido a moça em sinal de devoção. Eu achava aquilo tudo muito desperdício. E a vontade da moça não era respeitada?

 Sempre achei um horror esta questão. Não importa de qual forma, mas a vontade deveria ser respeitada. Se havia quem estava destinada a ser esposa de fulano de tal, sem conhecer, teria que se entregar a um homem que nunca viu. Tinha que aceitar, ficar feliz e viver décadas com aquela pessoa sem nenhum sentimento, sem decisão, por imposição, para selar acordos, enfim, preferi que minha família tivesse me rejeitado mesmo.

 O fato é que eu soube de tudo da vida dela. Minha amiga era muito rica, a família vivia em outra cidade, nunca a visitavam, muito ocupados. Os anos se passaram e eu soube de tudo o que ela pode me informar. Coloquei na cabeça dela que deveria visitar a sua família e convenci a me convidar para ir com ela. Eu queria ter a vida dela, ser como ela, a moça rica era tão ingênua e eu, maldosa, mesquinha e revoltada.

Menti, inventei, ela entrou na minha, chegamos com a identidade trocada. Ela queria ser freira, eu não. Eu queria me casar, ter uma bela casa e uma vida boa. Eu queria provar para mim mesma que poderia sair dali. Aquele local para mim era uma prisão.

Ela entendeu meu lado. Quando eu disse tudo a ela, a moça rica foi tão delicada, paciente e amorosa. Ela nunca se esquivou. Ela apareceu aos familiares como se fosse eu, retornou ao convento e apoiou minhas invenções, minhas loucuras. Eu saí de lá como se fosse ela e me casei com um amigo da família.

 Nos dias de hoje, isso nunca seria possível, mas naquela época, foi fácil enganar.

A verdade, é que eu ainda não sei quem sou. Nunca me esqueci da minha amiga freira, de bom coração, ingênua? Ela sempre soube das minhas intenções, fez por mim o que eu pedi, almejando que eu alcançasse a felicidade.

Eu consegui um bom casamento, nunca tive amor de pai e de mãe porque os pais dela também não queriam a filha por perto. Saber que a filha tinha desistido do hábito, para eles foi uma injúria.

Por que é tão difícil se contentar com a vida que nós temos?

Eu poderia ter sido feliz no convento?

Por que não fui?

Por que não pude me contentar com a vida que eu tive?

Dentro de mim, alguma coisa me empurrava para sair dali e eu encontrei minha própria família. Um homem rico que me amou e me deu filhos que me tornaram feliz. Eu aprendi muita coisa. Uma delas é que um filho não se dá. Nem para o convento. Eu preferia passar fome com meus filhos a ter de entregá-los. Meus pais fizeram falta para mim. Minha amiga não teve a mesma revolta, ela teve os pais.

Com todas as minhas mentiras e ainda assim, eu só pude agradecer pela oportunidade de ter tido uma linda família. Meu bem mais precioso.

MARINETE

22/08/20

 

--------------------------Paula Alves---------------------

 

“VIVEM POR VIVER, RECLAMAM E VÊM OS DEFEITOS, SÓ”

 

Depois de anos, retornei àquela casa. Depois de ouvir tantas vezes que eles não precisavam de mim. Eu fazia tudo por eles. Meus filhos tinham uma mãe pobre, mas trabalhadora e que os amou demais.

Tanto que eu falava. Tentava educar, tentava ensinar aquelas meninas e os rapazes que não queriam nada com nada, nada de estudo, nada de trabalho e eu levando a casa nas costas.

Barraco simples, sem luxo, sem carro, mas não faltava cobertor e nem comida. Eles perguntavam sobre o pai. Eu com vergonha de falar que fui abandonada, descartada.

Com cinco filhos? Burra? Fazer o quê?

Dos cinco, cuidei de todos e ouvi desaforo, sofri humilhação e não me cansei. Dizia sempre que boa mãe faz toda a diferença, eles deviam respeitar e valorizar porque eu não estaria ali para sempre. Não interessa o que havia feito com o pai deles, eu os amei e cuidava deles da forma que era possível para mim. O pai foi um covarde, abandonou quando percebeu que a tarefa seria muito árdua. Mãe não pode abandonar.

 Mas, Deus é tão justo! Um dia, meu coração não aguentou, eu simplesmente caí dura no chão. Eles estavam debochando de mim, mais uma vez, dizendo que eu fui abandonada como um pano velho. Eu senti uma dor funda e caí. Pensei que estivesse desmaiando, mas morri.

Eles ficaram desesperados. Trataram de tudo e eu fiquei ali vendo a incapacidade deles para cuidarem da casa e uns dos outros.

Trataram de arrumar emprego, um pior do que o outro porque nunca estudaram. Se meteram em coisas erradas, fizeram muito pior que eu. As meninas se encontraram com malandros, engravidaram e não tiveram os pais dos filhos para lhes auxiliar, lembraram de mim e choraram de arrependimento por tudo o que disseram.

Os rapazes choraram quando notaram que meus conselhos poderiam aliviar o sufoco deles.

Eu não queria que eles tivessem sofrido, mas nem todas as infelicidades dos filhos é por culpa dos pais.

Eu fiz o meu melhor com meus filhos. Nunca desejei que minha vida difícil refletisse na vida deles, mas eles preferiram ver apenas meus erros e se revoltaram porque eu não forneci uma vida melhor, mais suave.

  Acho que poderia ter sido diferente se eles tivessem escolhido me apoiar, estudarem, trabalharem e poderiam ter progredido, uns ajudando os outros.

O dia da minha partida foi providencial, eles poderiam estar preparados para serem independentes, mas não souberam aproveitar o tempo que tivemos juntos.

Muitos fazem isso. Não aproveitam o tempo que têm junto daqueles que amam. Nunca utilizam bem este tempo para conviver de forma pacífica, falar o que precisa ser dito, aprender o que têm para ensinar. Vivem por viver, reclamam e vêm os defeitos, só.

Quando a morte chega, se deparam com a solidão, com os problemas e ficam inconformados, choram e se desesperam, é o remorso.

Remorso de quem não viveu adequadamente a oportunidade de estar com aquele ente querido. Todos se afastarão, normalmente é provisório, nos unimos por laços fortíssimos de amor ou animosidade, sempre estamos nos reencontrando.

 

O ideal é que sejamos gratos por aquela presença, pela chance de estarmos com aquelas pessoas da família e viver intensamente o tempo que Deus estipulou para cada um porque o tempo findará, queira você ou não.

APARECIDA

22/08/20

   -------------------------Paula Alves-------------

 


         Foto Cedida por Magno Herrera Fotografia


“POR QUE TANTO EGOÍSMO E INDIFERENÇA PELO SEMELHANTE?”

 

Foi terrivelmente constrangedor perceber a pessoa que realmente fui. Estranho como nós podemos disfarçar para nós mesmos, forjando uma realidade, estabelecendo caracteres enganosos que nos distorcem.

Se alguém pedisse que eu me identificasse, me definisse, eu diria que sou um bom homem com certas qualidades como honestidade e responsabilidade. Porém, eu escondi de mim mesmo, durante toda a vida, diversas versões de mim. Versões que me pareceram cruéis quando tive acesso a todas as lembranças. Não digo lembranças de outras existências, bastou a última. Quanta vergonha!

 

Todos nós temos juízo, a consciência é o juiz. Ela definirá como você aproveitou o seu tempo. Tempo concedido pela Providência Divina para que você pudesse se libertar de mazelas e adquirir virtudes, para que você pudesse se reconciliar com pessoas, mas principalmente, que entrasse em conformidade com suas próprias conveniências.

 

Quando cheguei aqui, após passar por muitas misérias na espiritualidade inferior, notei tantos erros e compreendi por que tive que sofrer. Foram pequenos acessos de fúria, preconceito e ausências.

Na verdade, é de real valor que possamos ser úteis para os outros. O que se faz por si mesmo em termos de enobrecimento e para os outros em termos de auxílio, fará toda a diferença.

Daí vieram à tona, momentos desde a infância, situações onde agi com maldade, quando prejudiquei meus pais com mentiras e acusações. Eu vi versões de mim que me rebaixaram ao nível de desumano. Quando abandonei uma mulher que estava grávida de mim e isso nunca me preocupou, ela sofreu, o menino cresceu sem pai e fez muita falta na vida dele o desvelo paterno.

 

Há quem diga que existe a prova irremediável, mas eu sei que poderia ter sido diferente dependendo da minha iniciativa. Muitos sofrimentos podem ser evitados e eu não evitei nenhum.

Fui ruim na adolescência e na infância, me recusei a aceitar a educação que meus pais tentaram me ofertar, eles sempre foram bondosos. Na fase adulta só pensei em ganhar dinheiro. Foram inúmeras as vezes em que as pessoas precisaram de mim e eu nunca quis me doar para ninguém. É incrível como as circunstâncias se colocam diante de nós para que possamos demonstrar que aprendemos ou não a nos relacionarmos com os outros e sermos bondosos, altruístas. Por que tanto egoísmo e indiferença pelo semelhante?

 

A verdade é que eu não gosto da pessoa que me tornei. Eu poderia ter aproveitado melhor as oportunidades e ter me saído bem desta vez. Eu entendi que Deus faz tudo por nós, eu tive uma boa família, uma esposa maravilhosa, filhos bons, Deus foi um Pai divino para mim, mas eu não honrei nada daquilo que recebi, não fiz jus a todos os talentos que Ele me concedeu.

Sei que existem muitos como eu. Pessoas que não se importam. Elas deixam tudo para depois, o que é realmente importante fica para segundo plano, para quando sobrar tempo, de repente, percebemos que o tempo escoa pelos nossos dedos, nós não podemos controlar o tempo e as circunstâncias.

 

Devemos controlar nossos impulsos e aproveitar para evoluir, mas quantos são assim?

Eles recebem as informações, eu também recebi. Sabem o que devem fazer, vêm as respostas tão claras, mas não querem compromisso, acham que fazendo de conta que não ouviram e não sabem por onde devem seguir, a justiça não agirá sobre eles. Ledo engano!

A justiça está para todos. Sempre nos atinge, cedo ou tarde. A esperança é saber que não é finito e existirá sempre um recomeço, uma nova chance, mas até quando errando assim?

Até quando perdendo tempo, tentando se enganar, vivendo das falsas ilusões? Pra quê?

Eu estou afirmando que não vale toda a dor. Não vale o pesadelo que sofri naquele local. Se eu pudesse ter me tornado um homem realmente sério e controlado, se eu pudesse ter me tornado educado e rigoroso comigo mesmo, eu nunca teria adentrado aquele local horrível e o sofrimento teria sido evitado. Vocês podem fazer diferente. Basta começar agora.

SILVIO

15/08/20

 

-----------------------Paula Alves------------------

 

 “O BEM MAIS PRECIOSO QUE UMA PESSOA PODE TER É O CONTROLE DOS SEUS PENSAMENTOS”

 

As drogas me levavam para outro mundo. Eu não queria presenciar tanta dor, tanto sofrimento. Aquela gente que não tinha nada e eu não podia ajudar. Chegava em casa, arrasada pela fome e violência. Eu só queria que pudesse existir um jeito de me animar e de sorrir. Aí descobri uns remédios. Pílulas que eram vendidas livremente e me davam uma falsa sensação de liberdade, eu ficava feliz, me sentia leve e parecia que tudo poderia ser alcançado, todas as coisas, enfim, teriam solução.

Eu podia dormir em paz e recomeçar no outro dia, fazer o meu trabalho sem peso ou constrangimento.

 

Quando você ajuda os menos favorecidos, as refeições que você pode fazer, te constrangem. É como se, ter um local limpo e bem arrumado para morar, te tornasse uma pessoa hipócrita. Eu me sentia mal em ter uma vida confortável. Nunca fui rica, eu tinha que trabalhar para ter esta vida simples, mas era muito mais do que eles poderiam sonhar e eu me sentia mal com isso, entende?

O fato é que eu me enganei. Eu me tornei uma viciada que, aos poucos, não podia ajudar ninguém, nem eu mesma.

 

O bem mais precioso que uma pessoa pode ter é o controle dos seus pensamentos. Ter discernimento, agir com moderação e sensatez. Pensar por si mesmo é uma glória.

As pessoas perceberam que eu estava entorpecida. Não conseguia me ajustar, não era possível me concentrar e manter bom andamento naquilo que eu deveria fazer e, por isso, recebi uma licença para me tratar, mas fiquei muito triste e busquei coisas mais fortes para me equilibrar. Foi aí que as coisas pioraram, enfim, eu fui viciada em drogas farmacológicas.

Tive que fazer tratamento aqui e isso tem me beneficiado. Soube que tudo partiu da depressão. Muitas pessoas ainda tratam a depressão com preconceito, sabia?

 

Eu tive vergonha de falar com meus familiares. Tive vergonha de confessar que eu vi tristeza em tudo, eu não tinha ânimo. Pensei que eu fosse conseguir sozinha, conseguiria voltar a ser normal, mas quem é normal doutor?

Existe gente de todo tipo. Estou vendo a situação difícil. É uma doença que cresce a cada dia. As pessoas deviam prestar mais atenção umas nas outras porque tem muita gente nos lares que vive deprimido e isso atinge todas as idades. Ninguém percebeu que eu estava mal. Eu disfarcei bem. Precisavam que eu dissesse que estava querendo dormir o dia inteiro?

Mas, eu não sou uma vítima. Preciso esclarecer que a depressão tem tratamento e o primeiro passo é a observação. O doente deve aceitar que precisa de ajuda e todos que percebem uma pessoa sem ânimo e entristecida demais devem observar melhor o nível de tristeza, se ela não melhora, como é esta pessoa?

 

Um deve ajudar o outro para que esta pessoa possa ser curada e retorne ao convívio social saudável.

Eu perdi minha oportunidade de reparar porque me comprometi com meus sentimentos. Eu não consegui ter equilíbrio frente à dor que presenciei nas outras pessoas. Não se ajuda ninguém quando se precisa da ajuda dos outros.

ÁDILA

15/08/20

 

 --------------------------Paula Alves-------------------

 

“PROVAS DURAS E SOFRIMENTO É TUDO O QUE NÓS MERECEMOS”

 

Depois do que aconteceu comigo eu precisei tomar uma atitude. Eu não consegui enxergar que deveria ter feito nascer em mim, uma mulher que agiria em favor das outras mulheres após meu martírio. Eu havia planejado lutar pelas causas de estupro antes de reencarnar, por isso, fui vítima, mas deu tudo errado.

Eu não poderia imaginar que eu teria tanto ódio dentro de mim, tanta indignação. Eu me revoltei tanto. Eu sabia quem era o meu ofensor. Quem me atacou foi um jovem que estudava na mesma escola que eu. Ele e mais três rapazes me molestaram e eu não pude permitir que ficasse por isso mesmo. Eu os denunciei, mas o pai do rapaz era um excelente advogado e conseguiu argumentos que o inocentassem.

Depois disso, eu poderia ter tido uma força interna que me impulsionasse para me tornar também uma excelente advogada e defender as vítimas de estupro, mas eu me deixei dominar pela vingança.

Eu não mudei de escola, convivi anos olhando para eles, pensando, maquinando, formulando pensamentos de vingança e anotando os horários e os passos deles até que pequenos deslizes e acidentes inexplicáveis passaram a acontecer com cada um deles.

Eu nunca mais fui a mesma. À medida que eu alimentava aquela vingança, o ódio aumentava e dentro de mim eu me transformava em um ser terrível que modificou todo o plano. Eu não poderia imaginar que me perderia da consciência divina, me distanciaria tanto da criatura que Deus criou.

As mulheres que eu poderia defender ficaram para trás, para que eu pudesse caçar seus ofensores. Exterminar homens cruéis não me fez muito diferente deles.

 

Eu os aniquilei fisicamente. Ninguém poderia imaginar que uma mulher pudesse agir de forma tão violenta, mas eu me perdi.

A imagem que eu tinha antes daquela encarnação está bem distante de mim. Foi como se eu tivesse retrocedido na minha evolução. Eu nem me reconheço mais. Todos os propósitos nobres que tracei foram desenganados pelo mal e este tratamento, embora esteja surtindo efeito, não tem prazo para acabar, devido tantos desajustes.

Eu aprendi muitas coisas com tudo isso, a principal delas é que ninguém pode se dizer incapaz de fazer alguma coisa para o bem ou para o mal. É imprevisível a maneira como reagiremos em determinadas circunstâncias. O melhor mesmo seria não sermos testados, não precisarmos passar por nenhuma prova porque é só na hora que dá para saber como cada um de nós será no íntimo do ser.

 

Eu tracei todo o plano imaginando que seria uma salvadora e fui bem o oposto disso.

Ninguém pode afirmar “desta água não beberei”.

Escutei tantas vezes: se este fosse meu filho, agiria assim, se este fosse meu marido, agiria assim, se fosse comigo, eu faria isso ou aquilo, não é nada disso. Não dá para afirmar, não dá para saber porque somos movidos por nossos sentimentos, instintos, muito mais do que por nossa razão. É tudo o que deixa os nervos à flor da pele e não te deixa sossegar um minuto que faz a diferença. As pessoas falam de perdão e nem sabem o que isso quer dizer. Agora mesmo podem achar que eu fui cruel, tola, mas não desejariam estar no meu lugar.

 

Falar de perdão é muito fácil, ficam doídas quando alguém se esquece delas ou não responde ao bom dia. Quando a pessoa não faz do jeito que imaginou ou quando chama outro para ser padrinho do casamento. As pessoas querem ser tratadas com privilégios ou com honra, ninguém quer ser tratado como o porteiro ou a faxineira porque é feio. Como assim perdão?

No fundo nós somos todos iguais. Provas duras e sofrimento é tudo o que nós merecemos.

VIRGÍNIA

 15/08/20

 

--------------------------Paula Alves----------------------

 

“NA SAÚDE E NA DOENÇA...”

 

Foi difícil ver as pessoas quase enlouquecendo. O medo é o pior vilão. Elas têm medo de tudo. Medo de perder o emprego, de passar fome, de ser assaltado e de morrer. O medo da morte apavora, tolhe os movimentos de uma forma tão negativa que faz com que as células nervosas se enfraqueçam.

Muitos, deixaram de agir com seus compromissos de primeira instância. Deixaram os trabalhos porque tinham medo de saírem às ruas, mas se esqueceram de que todos nós temos o dia certo. Todo mundo nasce e morre por um bom motivo, nada acontece fora dos desígnios de Deus e eles diziam ser crentes, mas se apavoraram.

Foram muitos fazendo o trabalho que não sabiam, deixavam os doentes entregues a própria sorte porque não sabiam o que fazer. Eu ouvi os lamentos, ouvi as orações e, neste momento, quase acreditei que eram bondosos.

 

Vi quando alguns familiares chegaram adoentados e foram destratados pelo grupo. Foram isolados, não porque era a melhor coisa a ser feita, mas porque eles não queriam ser contaminados. O isolamento aconteceu sim.

Filhos deixaram os pais idosos, não porque os pais poderiam sofrer, mas porque os filhos poderiam sofrer na rua, era melhor ficar em casa mesmo.

Houve muita atitude boa sim, mas eu vi mais fome, rua vazia e doenças de todos os tipos que a equipe médica não podia olhar naquele momento. Muitos deixados de lado porque não iriam morrer naquele dia, muitos tratados para morrer de doença enganosa, muita falha do ser humano que, mais uma vez, se depara com uma prova coletiva para ver se pode se unir como um grupo de irmãos independente da cor ou do credo.

 

Foi tanto para aprendermos nestes meses. Tanto...

Houve gente corajosa que se disponibilizou para entregar comida e se entregou à prece sincera e fervorosa por todos que estavam em delírio real de uma doença desconhecida. Muitos chegaram à Deus tocados por um sentimento fraterno depois de ver tanta cova e caixão.

Não morreram menos do que morreriam de qualquer forma. Não houve conta errada para os trabalhadores do Senhor. As pessoas todas fizeram seus ajustes e ninguém ficou desprovido de socorro e atenção por parte dos trabalhadores do Alto. Tudo foi analisado. Encarnados e desencarnados foram observados bem de perto e, depois disso, nada mais será como antes, tudo ficou arquivado e refletirá na balança da justiça. Cada pensamento leviano, cada vez que alguém ficou incentivando o desespero e a loucura pelo pavor, isso contará.

Deste lado, eu vi e nunca mais me esquecerei dos olhos aflitos de uns e do esforço de tantos outros para controlarem a situação e acalmar aqueles que amam.

Muitos se fortalecem e se unem após tudo isso. Existem famílias que entenderam bem o enunciado: “na saúde e na doença...”

Que Deus tenha piedade de todos nós. FREDERICK

15/08/20

 ---------------------------------Paula Alves----------------------------

 

                     Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

 “O AMOR DE PAI É GRANDIOSO”

 

Foi uma felicidade inenarrável quando ela disse que estava grávida. Eu chorei de emoção e comecei a fazer planos de vida junto com um garotinho que eu nem mesmo conhecia. Dentro de mim, existia um sentimento que informava o sexo daquele bebê. Eu disse a ela que ele se chamaria Leonardo e falei que eu era o homem mais feliz do mundo.

Nós ainda não estávamos casados, então, cheguei em casa e comuniquei aos meus pais o nosso casamento. Infelizmente, fui contrariado por minha mãe que me criticou dizendo que eu não conhecia minha futura esposa e que nem sabia se o filho era meu. Fiquei indignado e procurei não apagar minha felicidade por causa disso.

 

Nós oficializamos nosso relacionamento e a gravidez transcorreu tranquila, enquanto, eu fazia planos e a tratava com imenso carinho.

Quando o bebê nasceu, todos estranharam as características daquele garotinho que carregava consigo traços orientais, mas nenhum de nós tinha descendência oriental, por isso, fiquei muito constrangido e minha mãe aprontou um escândalo que fez minha esposa passar muito mal.

Eu percebi que realmente havia sido enganado. Ela não negou, pelo contrário, me pediu perdão e disse que sairia da nossa casa com o bebê, mas eu o amava como meu filho de sangue. Eu sempre o desejei.

Nem por um momento permitiria que ela fosse embora com Leonardo, meu filho. Eu a ouvi e lamentei ter sido enganado por ela. Deixei claro que meu filho não estava envolvido naqueles erros. O menino nada tinha a ver com as leviandades dela. Ele era meu filho. Eu o desejei e o aceitei como meu. Ela não poderia tirá-lo de mim.

Nós vivemos mais de dois anos em quartos separados. Eu a tratei com delicadeza e respeito por causa do bebê. Meu filho foi a luz dos meus dias.

Por ele, eu vivi dias íntegros, cheio de retidão moral e empenho para ser um exemplo de vida.

Eu olhava para ele e agradecia a Deus por tê-lo por perto, nunca uma sensação desagradável ao lado do menino.

Com o passar dos anos, eu passei a admirá-la como mãe, isso fez com que o amor que eu tinha por ela voltasse a reinar em nosso lar.

Escutei muitos comentários maliciosos, risinhos e trocadilhos. Eu me constrangi e me irritei, gritei e me ofendi, mas nunca pensei em rejeitá-lo.

 

O amor de pai é grandioso. Deus é tão amoroso que nos concede a oportunidade de receber um ser totalmente fragilizado que nos pede proteção e autoridade para que possamos nos tornar melhores em nome deles, dos filhos.

Eu cresci muito por ele. Nós aumentamos a família e eu senti por todos os meus filhos o amor incondicional. Poderia ter dado minha vida para vê-los felizes e realizados. Agradeço todos os dias pela família maravilhosa que tive.

Nenhum deles foi tratado com privilégio ou diferenciação, todos meus filhos amados.

QUEIRÓS

08/08/20

 

-----------------------Paula Alves---------------------

“PAI E MÃE MOSTRAM AMOR COM ABNEGAÇÃO, ALTRUÍSMO, DEVOTAMENTO E DESINTERESSE”

 

 

Eu sabia que era um estorvo. Sabia que seria bem mais fácil se ele estivesse sozinho porque cuidar de uma criança é bem complicado. Ele fazia cara feia e reclamava o tempo todo, mas, por diversas vezes, deixou de comer para me alimentar.

Minha mãe nos abandonou quando eu tinha quatro anos. Meu pai sofreu muito porque ela foi embora com outro homem e todos comentaram. Ele ficou mal dito em todo o bairro e teve que lutar para não morrer de tanta depressão.

 

Houve momentos ruins em que passamos dificuldade financeira e problemas de doença, nunca teve ninguém para cuidar de nós, sempre foi ele e eu.

Eu não gostava de bagunça e sujeira, mas casa de homem é um horror. Meu pai trabalhava na oficina e chegava cansado, como é que ele iria arrumar tudo e fazer comida? A gente comia qualquer coisa, dormia na cama sem forro. Ia vivendo.

Eu me lembro de sair descabelado e dormir sem tomar banho, mas a sopa dele era muito boa. Tenho lembranças de dias de sufoco em que ele me abraçava e chorava quietinho, dando uma de durão, até que veio a dona Cecília.

Ela teve pena da gente e começou a levar comida. Ela gostava do meu pai, era separada, mulher trabalhadeira e não achava correto eu ficar todo desleixado.

Meu pai teve muita dificuldade, mas nunca me deixou. Eu sei que ele pensou nisso porque me falou. Ele me viu na peraltice e disse que deveria me entregar para a adoção que seria muito mais fácil para ele se arrumar na vida, ninguém quer homem com filho pequeno, mas dona Cecília quis o meu pai.

Ele pensou que a vida poderia ficar melhor, mas lembrou que tinha sofrido muito com a minha mãe, meu pai não superou a traição dela e preferiu ficar sozinho, comigo.

 

Eu cresci, virei rapaz e homem. Me tornei um grande admirador do meu pai. Pelo jeito que ele trabalhava duro, pela forma de me punir com um diálogo franco e incisivo, pela maneira de ser piedoso com os erros dos outros quando a minha mãe disse que queria me ver. Meu pai foi meu herói.

Eu sempre me perguntei o que teria sido de mim se ele também tivesse me abandonado. Afinal, minha mãe buscou o lado mais fácil, ela seguiu seus instintos, seu coração, como ela mesma me disse.

Quando as pessoas pensam em si, em seu amor próprio, em sua satisfação pessoal, muitas vezes, deixam de lado, os interesses dos seus semelhantes, que podem ser seus próprios filhos.

Pai e mãe mostram amor com abnegação, altruísmo, devotamento e desinteresse. É uma condição impar do ser humano que o caracteriza como um ser especial. Um pai e uma mãe que sofre para proporcionar o bem estar da sua família, já teve seu crescimento na Terra, é digno de honra e aplausos.

Meu pai fez tudo isso por mim. Eu o caracterizo como um homem de bem, digno e amoroso.

Não tenho nem palavras para descrever minha gratidão por ele ter ficado comigo. Graças a Deus. 

MOISÉS

08/08/20

 

----------------------Paula Alves-----------------

 “QUERIA MUITO QUE OS PAIS SOUBESSEM DO SEU COMPROMISSO COM SEUS FILHOS”

 Minha mãe não queria saber dele, chamava de bêbado. Eu não poderia permitir que ele ficasse jogado na rua, largado na calçada, ele tinha moradia e tinha família.

O relacionamento do casal pode ser um, mas o relacionamento entre pais e filhos é outro.

Eu tentava compreender a irritação dela. A vida dela era difícil porque ele gastava tudo no bar e ela tinha que trabalhar muito para levar dinheiro para casa. Sei que ela abdicou de muitas coisas para ficar em casa por minha causa, como ela gostava de dizer, mas ele era doente.

Eu nem sei quando foi que a bebedeira começou, mas ele precisava de ajuda e era meu pai. Ele tinha seus valores, suas qualidades, sempre foi delicado e amoroso comigo, nunca nos agrediu e era honesto com suas dívidas.

Eu tentava mencionar para minha mãe o quanto ele precisava de nossa ajuda, mas ela nem queria me ouvir, dizia que, assim que eu me casasse, ela iria embora daquele lugar porque ela não o suportava.

Eu era como todo mundo, queria meus pais perto de mim, em paz, saudáveis. Meu sonho era ver, um dia, meus pais em paz, unidos e sem bebedeira. Queria muito saber que meu pai se curou do vício e estava trabalhando, controlado, ajudando minha mãe com as obrigações do lar.

Eu não tive este prazer. Enquanto estivemos encarnados, nossa vida foi esta.

Quando eu me casei, ela cumpriu o que prometeu e foi embora, viver só, responsabilizar-se, apenas por si. Meu pai continuou em nossa casa e eu tive que me responsabilizar por ele.

Eu carreguei comigo a responsabilidade de cuidar dele e não deixar faltar os alimentos e o mínimo de conforto. Por fim, ele adoeceu de cirrose e teve um fim rápido, porém doloroso. Eu sofri muito. Queria ter feito mais por ele.

 

Os pais, um dia, se tornam como filhos. Filhos queridos que podem causar preocupação e dor. Não dá para seguir uma vida feliz, completamente feliz, sabendo que um pai ou uma mãe está passando por qualquer tribulação.

Eu nunca tive paz ou alegrias vendo meu pai no vício.

Queria muito que os pais soubessem do seu compromisso com seus filhos. Se não se sente maduro para ser pai, cuide-se para não ter um filho que sofra tanto por te amar e ver você se destruindo na leviandade.

LARA

08/08/20

 

 

-----------------------------------------Paula Alves-------------------------------

“JUNTOS NÓS CONSEGUIMOS COMBATER O ÓDIO E A ANIMOSIDADE E FIZEMOS SURGIR O AMOR QUE NOS UNE ATÉ AGORA E PARA SEMPRE MAIS”

 

 

Eu estava casada há dois anos. Meu esposo sempre foi romântico e dedicado. Tudo estava indo bem até que eu engravidei.

Meu mundo desmoronou quando eu pensei que ficaria ainda mais belo. Meu esposo não queria ter filhos e nunca me falou. Eu era louca para ser mãe.

Ele me pediu para fazer um aborto porque disse que nossa vida mudaria muito após o nascimento daquela criança, disse que eu nunca mais seria a mesma e ele não queria me ver modificada por causa de outra pessoa. Ele dizia que nós éramos muito felizes e não precisávamos ser iguais às outras pessoas com vidas destrutivas e levianas.

 

Quando eu o ouvi falar em aborto fiquei muito decepcionada, nunca imaginei que ele fosse destes homens. Eu pensei que o conhecia e me deparei com outra pessoa no meu lar. Eu chorei, mas não quis discutir para não desestabilizar a criança. Arrumei minhas coisas e quando ele foi trabalhar, eu parti para a casa dos meus pais.

Ele levou quatro dias para me procurar, pensou, refletiu e quando nos encontramos, disse que teve medo.

Ele não sabia o porquê, mas acreditava que aquele bebê seria sua derrocada, porém, ele sabia, de alguma forma, que deveria passar por tudo aquilo e pedia a Deus que o protegesse do que pudesse acontecer.

Meu marido ficou cismado durante toda a gravidez, eu voltei para casa, mas ele não chegava perto de mim e isso me entristecia demais, porém, eu precisava tentar manter minha família unida.

Se na época, eu tivesse conhecimento das diversas existências, talvez, tivesse reagido diferente.

Quando o bebê nasceu, ele demorou para desejar ver, mas quando entrou no quarto e foi até o bercinho, viu uma linda garotinha com olhos negros que o encararam com altivez.

Milena sabia que aquele era o seu pai. Ela sabia que eles tinham que se relacionar para que o amor pudesse destruir mazelas do passado e a pequenina fez beicinho pedindo colo. Meu marido não resistiu quando viu seus traços físicos no rosto daquele bebê cheio de manha. Ele a pegou e chorou sentido, como se o arrependimento tomasse conta do seu ser.

Eu o abracei e pedi que tudo ficasse no passado, parecia que eu estava sendo intuída a pedir que ele deixasse o mal que fizeram um ao outro nas vidas pregressas e recomeçassem um novo ponto de partida, uma nova vida, uma nova chance de se entenderem.

Ele também não entendeu assim, mas apagou o que aqueles nove meses me fizeram sentir. Ele se permitiu tentar.

Daí para frente, eu sabia que teria de ter muita paciência com eles. Pai e filha estavam sempre se estranhando, discutindo, discordando, mas eu estava por ali para mostrar a eles suas qualidades, para falar de amor e de afinidade. Eu fazia de tudo para uni-los num amor terno e sincero.

Assim, eles tiveram bons momentos, sorriram, se abraçaram, choraram e se alegraram sempre juntos numa longa jornada cheia de tribulações e necessidades afetivas.

Houve momentos de falta de dinheiro, de doença em que quase se perderam e sofreram demais, eles se amaram.

Quando chegamos aqui, após todos nós termos cumprido nosso tempo na carne, eles me agradeceram porque eu fui o elo que os uniu. O amor entre pai e filha apagou todas as diferenças do passado de sofrimento e dor. Eu fui a mãe que estava salientando as nobrezas de caráter e o amor que sentiam um pelo outro.

Juntos nós conseguimos combater o ódio e a animosidade e fizemos surgir o amor que nos une até agora e para sempre mais.

IVANICE 

08/08/20       


--------------------------------------------Paula Alves---------------------------------



Foto cedida por Magno Herrera Fotografia

“TODAS AS VIRTUDES EXISTEM, EM PESSOAS INTERESSADAS EM DOAÇÃO E PROGRESSO”

Entre socos e murros, ele me atirou contra o chão. Eu desmaiei, na verdade, eu acreditei durante anos que estivesse desmaiado, mas houve grande prejuízo para o meu cérebro que não resistiu. Naquela briga, meu corpo não resistiu e eu morri para o mundo de carne.

O que o ciúme não faz? Eu me feri totalmente com aquela traição. Eu a amava e não pude suportar vê-la nos braços de outro. Ela jurava fidelidade e pelas costas armou um plano para me abandonar. Como não percebi? Nós nos deixamos enganar pelas pessoas. Eu tive muito tempo para conviver com as lembranças e me lembrar de todo o comportamento hostil que ela tinha comigo, todos puderam perceber, menos eu.

 

Eu realmente a amei, mas não era para terminar daquela forma. Eu me deixei levar pela cólera, no impulso fui dominado por meus sentimentos.

Eu fiquei pensando como seria se eu tivesse agido diferente. Deste lado, é muito fácil dar forma aos pensamentos e fugir para o tempo e espaço que quiser, no meu caso, para o passado porque ainda não poderia dominar os passos do futuro.

A verdade, é que eu pensei em como seria se eu, apenas tivesse olhado no fundo dos olhos dela e partido, deixando que a vida dela tivesse o rumo que ela desejasse, afinal ninguém é proprietário de ninguém e quando a pessoa decide ir embora ou arrumar outro que seja melhor que você, não existe nada a fazer, a não ser tomar outro rumo mesmo.

 

Acho que se eu tivesse feito isso, se eu tivesse abandonado a cena e ido embora, arrumado minhas coisas e deixado a casa onde construímos uma família, eu ainda estaria vivo. Eu poderia ter ido para outra cidade onde minha dignidade fosse outra e eu pudesse compreender melhor o que aconteceu. Eu poderia, depois de amenizar minha dor e meu orgulho ferido, encontrar um outro alguém que estivesse disposto a ter comigo uma história real. Uma mulher que me amasse e tivesse a intenção de viver comigo, apesar de todas as minhas tendências nocivas, ela poderia descobrir minhas qualidade e nós poderíamos viver em paz pelo tempo que Deus determinasse.

 

Mas, eu fui tomado pelo ódio de ser passado para trás.

Não pense leviandades ao meu respeito, é muito fácil julgar. Só dá para saber quando se sente na pele. Eu não desejo isso para ninguém.

Eu pensei como poderia ter sido se ela não tivesse olhos para outra pessoa. Se após quinze anos de casamento, ela ainda me amasse como no primeiro dia, será que houve amor?

Se ela tivesse me amado e conseguisse ver em mim um amigo, companheiro e aquele ser que a completa. Será que poderíamos ter sido felizes até envelhecermos?

 

Eu pensei se ela sofreu, se ela se arrependeu... Eu sei que não porque fui até lá. Eu a ouvi dizendo que foi melhor assim porque não foi preciso partilhar nossos bens. Ela virou viúva e pode refazer a vida. Eu a ouvi confidenciar à sua amiga que eu não servia para ela e ela sempre foi muito boa para dizer que não me amava. Ela não queria me magoar.

Existe esta bondade dentro do seu coração?

 

Eu me sinto enganado. Como se a pessoa estivesse comigo, apenas por interesse. O que justificou o tempo de casada foi o que a beneficiou financeiramente, mais nada.

Eu queria pensar que as pessoas podem ser diferentes, justas e boas com sinceridade, mas por toda parte eu só vejo os interesses. As pessoas continuam unidas, enquanto é conveniente para elas. Tudo se baseia na troca, se você não recebe nada, então, aquela pessoa não serve mais. No mundo das exigências, se você não se vê beneficiado com tudo o que acredita necessitar, as pessoas podem ser descartadas.

 

Eu preciso limpar a minha mente de tudo o que aconteceu. Eu preciso tomar outro julgamento das pessoas, por isso, decidi me lembrar do relacionamento dos meus pais que permaneceram casados por mais de sessenta anos. Nós nunca os vimos brigar, apesar de todas as tribulações que passaram, eles resistiram a tudo por um amor de cumplicidade e abnegação.

O amor existe sim! Todas as virtudes existem, em pessoas interessadas em doação e progresso. Eu aprendi muito com meus pais e quero levar adiante tudo o que aprendi para novas vivências onde eu poderei encontrar uma pessoa que tenha os mesmos propósitos que eu. Não quero embrutecer meu coração. 

JOSIVALDO

01/08/20

 

-------------------Paula Alves---------------

 

“O IMPORTANTE NÃO É A IMAGEM QUE AS OUTRAS PESSOAS TÊM DE VOCÊ, MAS O JULGAMENTO QUE VOCÊ TEM DE SI MESMO”

 

 Eu me dedicava para ensinar. As letras foram a minha paixão. Os conhecimentos adquiridos nos livram das amarras psicológicas de negação e privações diversas.

Eu sempre acreditei que o homem instruído poderia avançar rumo ao progresso e bem estar, por isso, eu me preparei para ser professor.

Eu desejava que eles compreendessem o quanto o aprendizado é a maior riqueza que podemos adquirir porque ele nunca se perde, ninguém pode roubar ou aniquilar.

 

O homem instruído sabe que necessita progredir cada vez mais e se coloca no seu devido lugar, conhece a si mesmo e, portanto, não é arrogante e presunçoso, mesquinho e orgulhoso, pelo contrário, se coloca em situação de igualdade com todas as pessoas que podem acrescentar em sua vida com outros conhecimentos variados, conhecimentos de vida e de todas as ciências que ele desconhece.

Eu desejei que eles tivessem fome de saber e que pudessem se esforçar para avançar dentro de sua própria conjectura mental. Porém, eles me achavam enfadonho, louco, fanático. Ninguém nunca quis se esclarecer. Parecia que era perder tempo, sempre tinham coisas mais importantes para se dedicarem.

 

COMO AS BOBAGENS DA VIDA CONFUNDEM A MENTE HUMANA...

 

Qualquer tolice, qualquer leviandade atraiam mais. Pessoas que ridicularizavam o ser humano, pessoas que arrastavam até a ponte da perdição e da falta de escrúpulo, vícios de todos os tipos e perversidades atraiam mais.

Eu sei o que passa aquele que deseja informar. É trabalho de formiga que cansa e desanima por diversas vezes, é missão. Apenas, pessoas que se prepararam por décadas nos planos espirituais, podem suportar tanta resignação e boa vontade por um trabalho que raros desejam observar.

 

Enquanto estive encarnado, eu observei o trabalho de uma vida e imaginei que nunca fossem notar o quanto poderia ser produtivo, mas no íntimo eu sabia que era isso o que eu estava fadado a executar, era o meu plano.

Então, eu fui até o fim, me envolvendo com estudos e falando aos poucos que desejavam me ouvir. O trabalho sério e dedicado reúne poucos ouvintes, mas eu não me desviei.

Quando cheguei aqui, tive uma agradável surpresa. Eu revi cenas do passado e encontrei com pupilos que me agradeceram cordiais. Eu entendi que, para muitos deles, o meu trabalho desviou do mal. Para muitos foi a luz que conduziu para um caminho de retidão onde realizaram seus deveres com gratidão. Eu fui o exemplo de alguns e isso me bastou.

Eu sou feliz por saber que concretizei o que estava predestinado a cumprir.

O importante não é a imagem que as outras pessoas têm de você, mas o julgamento que você tem de si mesmo.

Cada um de nós deve saber quem é e para o que deve se esforçar. Não desanime! Se um ou dois conseguirem compreender o que você fala e se isso for produtivo para estas duas pessoas, você pode dormir em paz.

ISIDORO

01/08/20

 

--------------------Paula Alves-----------------

 

“QUANDO É QUE ELES VÃO PERCEBER?”

 

Muita gente! Eu caminhava por eles e não sabia que podia me perder naquelas esquinas, naquele mundo onde ninguém é amigo de ninguém.

Uma cidade tão grande onde existe de tudo um pouco, eu não via nada de bom.

Só fome, violência e morte, tanta dor, lágrimas e crueldade.

Eu não via a hora de chegar em casa e quando chegava, eu queria sair dali onde ninguém parecia muito normal.

Será que existia um lugar onde as pessoas viviam em paz? Mas, por que dentro de mim, sempre foi angustiante?

Eu queria sair dali e pertencer a um local onde as pessoas se auxiliavam e eram boas. Eu não queria ter de temê-las.

Todos os dias, eu tinha medo de falar, pois não sabia como seria a reação delas e eu tinha meu emprego, minhas contas e uma família cheia de vícios e rebeldia.

 

Queria que fosse diferente, mas nunca foi.

Acho que existem muitas pessoas que são felizes e nem sabem. Existem aquelas pessoas que não deviam reclamar nunca. Gente que nasceu num lar, onde os pais se preocupam com tudo, roupas e calçados, onde a comida é sempre boa e fresquinha, casa limpa e roupa cheirosa. Coisas normais que ninguém repara porque sempre teve.

Quando é que eles vão perceber? Ouvi dizer que as pessoas que reclamam sem ter motivo também sofrem, mas eu não consigo entender.

Esta depressão que não se acaba e a pessoa cercada de gente que ama, que faz tudo para tornar a vida mais leve.

 

Pessoas que querem sempre mais, nunca estão satisfeitas com o simples, com o prazer do que se tem, sem invejar ou almejar em demasia.

Eu via tanta coisa e minha vida parecia uma inércia. Eu pensei em fugir dali. Poderia ter mudado tudo, seguido o meu caminho, mas eu nasci naquele meio e não pude abandonar quem nunca sairia dali.

Eu fiquei, fui vivendo porque achei que era insubstituível na minha casa.

É fácil dizer que podemos dar o rumo que quisermos à nossa vida, mas eu tinha minhas obrigações com a minha família.

 

Acho que é bem mais fácil quando você tem que corrigir alguma coisa na sua vida e só depende de você, mas quando a gente tem que ajudar a corrigir a vida dos outros, às vezes, é impossível. Meu irmão estava envolvido com as drogas e tirava tudo de casa por causa da pedra, eu não podia deixar minha mãe sozinha, deixar a filhinha dele passar necessidade porque ela não era responsabilidade minha, era da mãe dela que também era drogada.

Sei lá, a dificuldade e a dor fazem parte da vida de muitas pessoas. Eu fui útil na minha casa. A menina se tornou uma moça boa e dedicada. Minha mãe foi bem tratada não sofreu por causa da doença, eu estive com elas o tempo todo. O importante é ter paz de consciência.

LURDES

01/08/20

 

------------------------Paula Alves---------------------

 

“NÓS DEVEMOS SER PESSOAS MELHORES NO MEIO EM QUE HABITAMOS”

 

 Eu jogava água nos gatos porque eles estragavam minhas plantas. Era só isso. Nunca quis arrumar confusão com os vizinhos, mas comecei a virar a megera da rua por causa dos gatos.

Acho que eles deviam cuidar melhor dos seus animais porque eu estava no meu espaço e não gostava de ser incomodada em minha casa.

A verdade é que existem muitas pessoas que acham que podem fazer o que tiverem vontade. Escutam música no último volume e que se dane a vizinhança. Jogam lixo na calçada dos outros e permitem que os cães sujem as calçadas, não se incomodam com o prejuízo que causam na sociedade.

 

A verdade é que o limite é tênue. As pessoas querem ser livres para viverem suas vidas da forma que desejam, mas esta forma de viver implica na restrição da vida dos outros.

Eu não podia me ofender com o que faziam, era fácil dizer que eu era uma velha sozinha e rabugenta. Era fácil me ridicularizar, jogar lixo nas minhas flores para me afrontar.

Por que as pessoas agem assim? Eu só queria cultivar minhas flores...

Verdade que eu me irritei tanto que comecei a colocar veneno para ratos e os gatos comeram. Daí, eles me acusaram de assassina de animais. Eu não queria que tivesse sido assim, mas eu devia ter pensado melhor nos pobrezinhos que não tinham culpa de seus donos serem pouco civilizados.

 

A política de boa vizinhança que faz com que todos se tratem com respeito e amistosidade está cada vez mais escasso por causa do egoísmo.

Daí, eu conheci uma pessoa que fazia de tudo para não incomodar. Ela pensava nos ruídos, no volume das músicas que ouvia e pensava até, se aqueles vizinhos estavam passando por alguma privação. Ela tentava de todas as formas não ser invasiva ou intrometida, eu aprendi tanta coisa.

Se você quer receber algo de alguém, seja a primeira a agir exatamente daquela forma. Educação atrai educação, delicadeza atrai delicadeza e assim por diante.

As pessoas reparam na maneira como você age em sociedade. Até mesmo quando achamos que ninguém está observando, sempre tem alguns olhos em você.

Eu aprendi muita coisa e passei a agir diferente com meus vizinhos. Coloquei uma cerca nas minhas plantas para que os gatos não pudessem entrar. Recolhi o lixo sem reclamar e passei a cumprimentá-los, mesmo ouvindo gozações. Eu me acalmei e, de repente, tudo mudou.

O meu comportamento fez com que eles mudassem a sua conduta.

Nós devemos ser pessoas melhores no meio em que habitamos.

GILDA 

 01/08/20


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