Cartas de Novembro (16)

 

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“EU QUERIA, DE VERDADE, SABER QUE VALEU A PENA PARA MAIS ALGUÉM”

 

Eu estava acostumada com tudo aquilo. Para mim, não tinha problema nenhum. Eu observava os velórios como um encontro social.

Claro que existe um contexto fúnebre, mas eu preferia ver a maneira como as pessoas se comportavam, ao invés, de me concentrar no morto.

Perdi muitos familiares e amigos, sei lá, por que cargas d’água eu tinha que ir tanto ao cemitério. Há quem diga que me envolvi tanto em despedidas solenes que me endureci sabe?

Tudo aquilo acabou se tornando um ato normal, quase maçante, enfadonho.

Pois o que eu tenho a acrescentar é que dói muito menos quando não é com você. Vejam que eu fui capaz de enterrar parentes muito próximos e amigos leais, mas quando me deparei com meu próprio sepultamento, a coisa se complicou bastante.

 

Nós somos hipócritas demais. Eu não pensei que sofreria tanto em ver meu resto mortal num caixão, mas foi dramático. Isso prova o quanto fui egoísta, sempre me colocando no primeiro plano. Mostra que eu não me preocupava realmente com ninguém, apenas comigo mesma.

São convenções e mais nada. Não digo que todos agem assim. Existem aqueles que sofrem de verdade quando perdem alguém, mas a grande maioria chora por três dias e depois toca a sua vida ou nem isso.

A verdade é que as pessoas sempre pensam lá no fundo: “antes ela do que eu”. Há-há, eu também via deste modo.

 

Daí um belo dia, fumei tanto e enchi a cara, mas não foi isso o que me matou, foi um acidente de trânsito. Me vi em destroços e o maior arrependimento de todos. Como eu fui deixar aquilo acontecer e acabar com minhas chances de vida?

Quando o ponto final é colocado diante de nós, nascem questionamentos infindáveis, você se arrepende de tudo o que não fez e se pergunta como teria sido se tivesse mais tempo.

Eu estive lá, ouvi todos aqueles que eu gostava falando de mim. Na hora achei que estavam sendo cruéis, muito difícil ouvir tantas verdades, tanta sinceridade sem poder revidar, sem poder se defender.

Eles pegaram pesado, mas estavam certos e eu precisava ouvir, sem ter o direito de resposta.

Eu entendo o seu papel e a sua dificuldade. Tudo isso é muito difícil de engolir, ninguém quer falar de morte. Ninguém quer se deparar com responsabilidades e com os reais objetivos de uma existência. É tão mais fácil se concentrar em bobagens corriqueiras da mídia. Aquilo que não interessa muito, mas arranca risos e gargalhadas, isso todo mundo quer acessar, mas nós não vamos fazer ninguém gostar muito porque remete aos erros, a análise da vida de cada um.

 

É como se nós também estivéssemos apontando os erros deles, isso não faz ganhar like.

Eu entendo perfeitamente. Cheguei deste lado tão frustrada, demorou para perceber o quanto eu perdi meu tempo com hipocrisias, o quanto me deixei levar pelas paixões e pelos apelos da matéria.

Eu nunca me preocupei com as pessoas que sofrem diante de mim, nunca me importei com as calamidades do mundo, eu só quis viver e fui uma inútil.

É sempre a mesma coisa. Se perguntasse pra qualquer um, todos saberiam as respostas, mas o sentir está muito longe de assumir compromissos.

Foi assim, eu quero retornar, mas hoje, penso que seria muito bom ser sincera com meus propósitos. Eu queria, de verdade, saber que valeu a pena para mais alguém. Queria voltar feliz, segura de que fiz valer a pena. Eu queria muito mesmo, chegar deste lado, grata por tudo o que vivi e não nesta posição em que têm que cuidar de mim, isso é horrível.

CLAUDETE

28/11/20

 

 

-----------------------------------Paula Alves------------------------------------

 

“AS COISAS NOBRES QUE FAZEMOS PODEM IMPULSIONAR, LEVAR ESPERANÇA E DAR NORTE A TODOS QUE NECESSITAM”

 

Por que nós somos tão egoístas?

Eu tive que fazer esta análise, depois de muito tempo tentando esconder para mim mesma meus sentimentos.

Eu me achava boa, boníssima. Quanta falsidade...

Sentia meu peito doer por qualquer coisa que pudesse ferir ou magoar minhas crianças, mas nunca me incomodei com os filhos dos outros, se passavam privações ou se eram torturados pela sociedade. Como se qualquer um deles, não pudesse renascer no meu ventre.

 

Eu gostava de ajudar, sempre dava pequenas quantias em dinheiro para os orfanatos e asilos porque sabia que todos nós devemos nos envolver com a caridade, mas eu nunca achei necessário visitá-los, dar meu afeto a quem não fosse do meu núcleo afetivo e familiar.

Eu sempre usei belas palavras e era amistosa com meus vizinhos, mas pelas costas, sempre fui severa com o comportamento deles, eu criticava, recriminava e condenava com outros vizinhos e amigos, como se eu fosse sempre a perfeita.

Sempre me posicionei como uma pessoa confiante e temente a Deus, mas usava minhas artimanhas para conquistar tudo o que queria, eu manipulava as pessoas para alcançar meus interesses.

 

Na hora da fé, deixei muito a desejar, até porque, não se pode mentir para a espiritualidade. Todos me viam na igreja, eu participava, fui membro ativo, mas nunca acreditei deveras no poder da fé e na minha submissão diante do Pai. Quanta vergonha!

 

POR QUE CONFESSAR TUDO ISSO AGORA?

 

Deste lado, não se mente. Somos como telas a mostra divulgando todos os pensamentos e a pessoa que se é de verdade aparece para todos, por mais que se queira disfarçar.

Quando nós tentamos enganar as pessoas para sairmos beneficiados, chega um momento, que caímos na própria armadilha, nós nos enganamos, perdemos tempo e oportunidade de elevação.

Seria melhor nos mostrarmos falhos e com a devida humildade que é reconhecimento de si mesmo, buscarmos auxilio dos demais para nos engrandecermos com a busca do saber e a troca de experiências.

É mais honroso e benéfico para todos. A mentira não ajuda em nada.

Vi meu filho levar um tapa na cara e aquilo me escandalizou, mas após anos dizendo que ele devia ter revidado, me surpreendi com uma reação dele, o rapaz que o agrediu apanhou tanto de cinco outros rapazes que ficou em coma.

Será que nossa atitude leviana pode atrapalhar tanto a vida de outras pessoas?

Nunca pensamos que indiretamente, o que fazemos na sociedade, pode destruir alguém, humilhar alguém, difamar alguém e, por outro lado, todas as coisas nobres que fazemos podem impulsionar, levar esperança e dar norte a todos que necessitam.

Já ouvi aqui que muitos desistiram do suicídio por causa de uma pessoa desconhecida que teve tempo para ouvir sua história, lhe enxergou.

É isso. Todos nós devíamos analisar diariamente nossas atitudes e melhorá-las. ISABEL

28/11/20

 

--------------------------------------Paula Alves----------------------------------

 

“NÓS SEMPRE PODEMOS FAZER MAIS E MELHOR POR NÓS MESMOS E POR OUTRAS PESSOAS”

 

Virgem! Nossa, era tão necessário que a mulher fosse virgem...

Toda a preocupação dos pais de uma menina eram manter a virgindade, que a moral dela fosse inviolada. Eu ouvi todos os conselhos dos meus pais, respeitei e admiti que precisava de um esposo, precisava ter família, por isso, fiz tudo direitinho para que fosse uma moça que valesse a pena ter por esposa.

 

Tudo preconceito! Tudo da boca para fora.

Eles casam com as virgens e ficam correndo atrás das outras moças, traem e fazem promessas.

Eu tive muitas amigas que foram abandonadas por causa das outras moças, muitas que tiveram o casamento desfeito porque os esposos descobriram o amor fora do lar e queriam reconstruir suas vidas. Então, isso não tem nada a ver, mas a minha ira se justifica na forma como eu fui tratada.

Eu fui criada para ser princesa, com todo o amor proveniente dos meus pais. Quando vi o Osvaldo, achei que fosse amor e que ninguém no mundo me trataria com tanto carinho. Ele estava encantado por mim e me fez acreditar que teríamos uma vida perfeita. Eu sempre fui muito romântica e me casei com ele fazendo juras, cumprindo tudo o que uma esposa deve fazer, mas depois de algum tempo, ele mudou tanto.

Dizia que estava cansado de tantas responsabilidades, falava que eu era muito exigente, que ele não era meu escravo. É terrível quando a pessoa faz você repensar quem você é. Daí para frente foi ladeira abaixo.

Ele me olhava com fúria e não demorou até me agredir, começar a se embriagar e deixar claro que tinha amantes. Minha vida se transformou num inferno. Eu precisava desabafar, precisava de alguém que me dissesse o que eu deveria fazer porque eu não estava pronta para aquela vida.

 

Meus pais ficaram escandalizados, mas me disseram para ter paciência que o homem trair é normal e eu precisava ter forças para manter meu casamento. Eles não ouviram a parte em que eu estava sendo espancada?

Tentei, tentei muitas vezes, por anos, até que repensei minha vida, meus valores e todas as lições que tive dos meus pais.

Certamente, eles me forneceram o melhor que puderam, mas muito não se aplicava àquela vida miserável que eu estava vivendo. Me preparei para ir embora, pedi a separação e meu esposo quase acabou comigo. Recorri aos meus pais, pedindo um local para ficar, eu não queria mais apanhar, eles disseram que não podiam interferir no meu casamento. Como assim?

 

Daí eu entendi como a sociedade funcionava. Direitos de homens e mulheres? Será?

 

A verdade é que as mulheres tem que se resguardar sim, no sexo e em tudo. Nós não podemos permitir que ninguém nos viole, fisicamente, nos nossos pensamentos e sentimentos também.

SE AMAR, SE RESPEITAR, NÃO IR PELA CABEÇA DOS OUTROS, AGIR COM PRUDÊNCIA É O PAPEL DA MULHER CONSCIENTE.

 

Eu demorei para entender o que deveria ser feito. Retornei para minha casa, arrumei umas peças de roupa e fui embora. Em outra cidade, anos depois, encontrei um homem que não se importou com o fato de eu ter sido casada, de eu não ser mais virgem, de eu ser madura. Ele se tornou um bom amigo e foi meu cônjuge por mais de trinta anos. Homem leal que me amou e respeitou, portanto, se você não está satisfeita com sua vida, repense e siga seu coração.

Nós sempre podemos fazer mais e melhor por nós mesmos e por outras pessoas.

LUCIANA

28/11/20

 

---------------------Paula Alves-----------------

 

“NINGUÉM MERECE DIALOGAR COM QUEM NÃO CONSEGUE DOMAR SUA CONSCIÊNCIA”

 

 

Era um forno. É claro que dava para perceber que tinha risco naquele trabalho, muito risco, mas todos que estavam ali precisavam do salário.

Existe dois tipos de pessoas: as que se arriscam pelo amor e as que se arriscam pela necessidade.

As que se arriscam pelo amor são aqueles que colocam o bem estar do outro em primeiro lugar, pensam mais no semelhante do que em si mesmos. Estes sofrem de forma abnegada e altruísta. Eles não sofrem do frio, da fome ou do cansaço, mas da indignação e do sofrimento alheio. O que move estas pessoas é a necessidade do outro. Eles não se preocupam consigo, dão a roupa do corpo, cedem a própria casa e normalmente serão tratados como estranhos, diferentes ou loucos nesta sociedade materialista.

As pessoas que se arriscam pela necessidade são aquelas que sabem muito bem que estão ali pelo dinheiro, simplesmente pelo fato de precisarem pagar as contas ou sustentar a família. Nós reclamamos sim, sabemos o quanto é perigoso e pedimos incessantemente por novas oportunidades com facilitações e vantagens.

São muitos os serviços que oferecem riscos para a saúde e para a vida. Trabalhar naquela caldeira não foi fácil, mas existem os trabalhos na área da construção, manutenção de edifícios pela área externa, entre muitos outros, mas também existem atuações que beneficiam milhares de pessoas como é o caso dos bombeiros, área da segurança e da saúde que se expõe a riscos diários para cuidar da integridade das pessoas, por amor.

 

Eu pensava em tudo isso. Queria que tivesse tido a oportunidade de compreender o que faz uma pessoa se dedicar tanto em prol de quem nem conhece. Eu queria ter sentimentos para isso. Eu sei que eles recebem, mas nem chega perto do risco que correm e do comprometimento que têm com estas pessoas.

Eu fiz tão pouco. Eu tinha que trabalhar na caldeira com medo diário, tentando terminar meu turno e correr para casa. Eu reclamava de tudo, do salário, do meu chefe e do meu esforço, até que o acidente aconteceu.

Eu não morri naquela ocasião. Eu tive queimaduras por todo o corpo. Um parente me disse que era preferível que eu tivesse morrido porque eu fiquei como um monstro. Nossa! Pra que tanta sinceridade?

Pessoas saibam controlar sua língua ferina! Ninguém merece dialogar com quem não consegue domar sua consciência. Existem verdades que doem tanto na alma da gente. Monstro?

 

Ruim foi a dor, o valor da indenização, eu ri quando peguei o cheque. Mas, tudo tem razão de ser. A gente quer ser tão arrogante numa vida que, quando renasce, tem que passar por tudo isso para ver se aprende a ser gente.

OFÉLIA   

28/11/20


-------------------------------Paula Alves----------------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“NÓS PODEMOS EVITAR MUITAS COISAS SE EDUCARMOS MELHOR NOSSOS FILHOS”

 

Aquela unha encravada estava me judiando há meses. Eu já não sabia mais o que fazer.

Primeiro dei umas indiretas, mas depois, precisei ser mais específica na minha necessidade.

Mas, minha filha estava sempre tão ocupada...

Eu não conseguia sozinha, é terrível envelhecer, não apenas porque nossa aparência fica cada vez pior, mas porque as necessidades aumentam progressivamente. Eu estava obesa, nem conseguia dobrar as pernas, minha visão era precária, como eu poderia cortar as minhas unhas?

Na juventude, era um ato tão simples e eu ainda tinha manicure, mas nos últimos dias, era sofrível e o dinheiro não dava para nada. Muitos medicamentos, alimentação especial, enfim, contas que chegavam sem parar, impostos.

Eu tentava me manter sem dar trabalho e preocupação a ela, mas eu precisava de alguém. Eu queria que alguém cortasse minhas unhas, mas era mais do que isso, eu também queria conversar, dar risada, falar sobre alguma coisa tola que pudesse me desviar das dores nas costas. Eu queria que alguém se importasse com minhas lembranças, que não mencionasse que já sabiam daquela história, era horrível porque me faziam parecer tediosa.

 

É estranho como as pessoas podem nos fazer sentir mal com aquilo que fazemos com elas ou para elas. Eu me sentia alguém que só incomodava e eu queria o contato com minha família. Eu queria que eles sentissem minha falta como eu sentia a falta deles, mas eles não tinham tempo para nada e aquela unha me fazia odiar a velhice.

Nos últimos dias, ela latejava e estava me irritando tanto que, quando a Carla chegou em casa, eu esbravejei. Fazia tempo que me controlava para não dizer umas verdades, mas naquele dia, eu não aguentei.

Falei tudo o que estava entalado na minha garganta: que ela chegava em casa pronta para comer e ir embora. Ela gostava de desabafar dizendo o quanto sua vida era difícil e as pessoas imprestáveis, mas não percebia que poderia ser muito mais do que uma resmungona. Eu disse que também queria ser ouvida, que nosso tempo poderia ser melhor aproveitado com um diálogo amistoso e não com um monólogo onde eu a escutava e deveria aprovar tudo o que ela fazia.

 

Finalmente, eu disse que uma mãe cuida de dez filhos, mas dez filhos não sabem como cuidar de uma mãe velha e doente.

Por que eu deveria ser tratada com as sobras, sobras sim, sobras de sentimento e de tempo, sobras de atenção, se tudo o que fiz foi pensando no bem estar dos meus filhos? Tudo o que fiz na vida, após o nascimento deles, foi me dedicar integralmente para que fossem felizes?

É injusto sabe? Mas, depois que ela foi embora, profundamente chocada com minha reação, batendo a porta, dizendo que eu estava insana e equivocada, eu fiquei pensando...

Eu estive errada o tempo todo porque ensinei muitas coisas para os meus filhos, mas não ensinei como eu deveria ser tratada por eles. É uma coisa de suma importância que não nos passa pela cabeça porque acreditamos que fica embutido em toda a educação que oferecemos, porém, na maioria dos lares, os pais se equivocam ensinando conhecimentos intelectuais, financeiros, mas os ensinos morais podem ficar de lado.

 

Os filhos até aprendem a socializar, sabem perfeitamente como tratar os amigos, os cônjuges, pisando em ovos porque as pessoas podem se ofender e ir embora, mas a mãe é aquela que ama incondicionalmente e jamais vai abandonar aquele serzinho por mais mal criado que ele tenha sido, ela é a mãe, aquela que tolera cem vezes e sempre perdoa, por quê?

Isso não está certo. Se eu amo incondicionalmente, deveria ser tratada como uma rainha e não como um saco de batatas sem valor no mercado.

Se eu sou aquela que ama e estarei sempre ao lado do meu filho, este serzinho deveria ter sentimentos recíprocos para comigo. Me tratar com o maior respeito, pensar em mim com devoção, pensar nas minhas carências e necessidades, estar sempre me amparando, principalmente na velhice quando me faltam força, destreza, equilíbrio e flexibilidade.

Eu não ensinei a cuidarem de mim, errei. Poderia ter permitido desde pequeninos que fizessem um carinho, um leitinho, que me cobrissem ao dormir. Eu deveria ter dito que gosto de flores e preciso me sentir confortável.

Nós supomos que as pessoas não precisam ouvir porque sabem de coisas que são óbvias, mas não é bem assim, seu filho também precisará ouvir que você precisa dele, sabia?

Depois daquela discussão, eu tentei cortar minhas unhas, me feri, foi um pequeno corte que infeccionou, não seria nada demais se eu não tivesse diabetes. Foi uma tolice!

Perdi alguns dedos e, logo em seguida desencarnei por causa disso. Minha filha ficou com um pesar profundo, se culpando deveras porque tudo começou com a unha encravada que ela se recusou a cortar.

Nós podemos evitar muitas coisas se educarmos melhor nossos filhos, depois não adianta reclamar. Está em nossas mãos.

CIDA

22/11/20

 

------------------------Paula Alves----------------

 

“É MUITO DIFÍCIL ADMITIR QUE NÃO SERVE PARA AQUELES QUE VOCÊ AMA”

 

Ela não me queria em casa. A rejeição dói demais. Eu até pensei que pudesse ser útil com as crianças. Sei que três pequenos me dariam muito trabalho, mas era bem melhor do que permanecer sozinha naquela casa enorme depois que o Mário morreu, mas não sabia dos planos deles.

Eu fiquei chocada quando meus filhos disseram qual seria a intenção depois do falecimento do pai, me colocar num asilo porque precisavam vender a casa onde eu habitava há mais de quarenta anos.

Eu não os reconheci!

Eu senti vergonha do trabalho que fiz como mãe.

 

Será que eles não tinham amor ou reconhecimento por tudo o que ofertei a eles? Já não bastava eu ter perdido o meu esposo, seria expulsa da minha casa?

Eles falavam tantas bobagens, disseram que era uma oportunidade de conseguir dinheiro com a venda da casa porque todos eles precisavam de dinheiro, falaram que nossa casa estava muito velha, cheia de bugigangas, daria trabalho vender, mas se esqueceram que eu também era dona e precisava autorizar?

Ah! Santo Deus! Quem pensa que nunca vai passar por isso, dá até dó.

Eles falaram que daria muito trabalho cuidar de mim e que não tinham tempo de viver me bajulando. Eu não sabia o que fazer. Não soube se gritava, batia neles ou os colocava para fora de casa, mas eu decidi aceitar, afinal eles estavam demonstrando que eu realmente estava sozinha.

Arrumei minhas coisas e, após fazer alguns telefonemas decidi vender a casa, de posse da soma em dinheiro, dei o que pertencia a cada um, mantive a minha parte e informei que eu viveria com uma irmã no interior. Fiquei com a minha parte em dinheiro e vivi com Celina até o final dos meus dias quando deixei minha irmã incumbida de cuidar do meu fim. Eu não quis que nenhum deles soubesse de mim, a mágoa se apossou do meu peito.

 

É muito difícil admitir que não serve para aqueles que você ama. Você diria orgulhosa? Eu não sei se a palavra é esta, eu senti medo deles. Medo de ser internada e esquecida, medo de ser pressa em algum local e ser mal cuidada ou ofendida fisicamente, ouvimos muitas coisas por aí.

O fato é que é bem triste reconhecer que aqueles a quem você dedicou tanto amor, não tem o mesmo sentimento por você.

CLAUDIA

22/11/2020

 

--------------------Paula Alves---------------

 

“OS CUIDADOS COM O CORPO SÃO FUNDAMENTAIS”

 

Nunca poderia imaginar que aquela doença tomaria conta de mim. Eu sempre fui um homem forte e vistoso. Sempre tive uma saúde de ferro, por isso, nunca precisei me preocupar com médicos, com tratamentos. Eu fazia exercícios físicos durante toda a vida e me vi em pleno estado mental e emocional, com vitalidade e bem estar.

Minha esposa não poderia reclamar de tudo porque eu pude dar uma estrutura invejável aos familiares, mas num certo dia, ela perguntou se não estava na hora de fazer os exames preventivos de próstata.

Quem eu? Por quê? Com a saúde que eu tinha? Dei risada e deixei isso de lado, mas parecia que a mulher estava possuída, não tirava isso da cabeça, chegou a me infernizar. Eu ralhei com ela e pedi que ela não tocasse mais no assunto. Ela deveria estar influenciada pela mídia que comentava muito sobre o assunto.

Passaram meses e eu me senti estranho, até achei que a danada da mulher tinha colocado quebrante em mim, não era possível, mas eu não quis nem comentar, imagina, eu com problemas de próstata?

A questão se agravava e eu comecei a emagrecer, tentei disfarçar e não quis mais procurá-la porque, certamente, aqueles sintomas eram emocionais, de tanto que a mulher me irritou, mas quando a coisa tomou uma proporção absurda eu fui ao médico. Quanta humilhação!

Ah! Quem é que merece uma coisa daquelas? Por isso, eu nunca tinha ido para o tal exame preventivo, quem é que pode gostar de um negócio daqueles?

 

Mas, depois de todo o constrangimento o pior ainda estava por vir...

O médico olha pra mim e diz que tem más notícias, ele pediu mais exames para constatar que eu estava com câncer, bem avançado como gostou de argumentar, isso um pouco antes de falar que não havia muito a fazer, mas poderia tentar a quimioterapia.

Fala sério! Deixei de lado a medicina, já faz tempo que não confio neles, estes médicos loucos. Fazem um montão de exames e dizem que estou morrendo?

Claro que não falei para a família, mas eu minguei. Eu fiquei atordoado, entorpecido, eu não podia imaginar que estava morrendo porque sempre tive vitalidade e saúde. Ele ainda colocou toda a culpa em mim, dizendo que, se eu tivesse feito os exames poderia ter evitado tudo isso, daria tempo de me salvar, que jeito?

 

Eu nem sei se eu acredito nesta baboseira doutor. Mas, veja meu estado, ainda sinto dor, ainda estou sem saber como a minha esposa reagiu. Eu estou sendo bem atendido neste local, compreendo que desencarnei, sei que meu corpo não aguentou, mas eu não achei correto o jeito que aquele médico falou comigo, sem ligar para minha vida.

O pior é que eu merecia viu?!

Tanto que minha esposa se preocupou, parecia até que ela estava sendo avisada, intuída né?

Ela me tratava com o maior carinho, estava preocupada e eu debochando dela, vê se pode?

Todo o desprezo que o médico teve comigo foi similar à forma como eu me cuidei. Perder a vida assim é bem decepcionante porque a gente fica pensando que poderia ter evitado se tivesse se tratado com mais cautela.

Se nós temos a possibilidade de fazer exames para cuidar melhor do corpo físico e prolongar a vida, por piores que sejam estes exames, devemos fazer. Os cuidados com o corpo são fundamentais.

GERVÁSIO

22/11/20

 

 

------------------------Paula Alves------------------

 

 “SE ESFORCEM E ATUEM O MAIS PRECOCE QUANTO SEJA POSSÍVEL”

 

Eu levei tempos vagando por aí, sem paradeiro, sem saber o que fazer desta nova vida que se apresentou para mim.

Nunca fiquei pensando como seria morrer, o pós-morte, no que vem depois da escuridão, nada disso.

Fui uma pessoa comum, comum demais, com as mesmas ambições da maioria, os mesmos vícios sociais, os mesmos objetivos financeiros e amorosos. Tudo bem normal, egoísta, fútil, gananciosa e orgulhosa, vaidosa, mesquinha e trapaceira para conseguir o que eu quisesse, manipuladora, normal.

Diria até que nunca fiz mal a ninguém, mas com tudo isso, pensa se eu fiz o bem? 

Você vai ficar pensando que eu cometi algum crime, mas não, apenas contra mim mesma, fumo, bebida que eu dizia consumir socialmente, mas era quase todos os dias, queria ter casa, carro, sem trabalhar muito porque eu adorava dormir demais, ficar na balada e tinha muitos namorados, até namorei com uma menina porque diziam não ter problema nenhum e eu pagava minhas contas pra ninguém falar da minha vida, enfim, normal.

Corria tanto, comia mal, dormia mal, falava mal dos outros, não via esperança em nada, só no dinheiro que nos salva das pestes do mundo.

 

Não tinha uma amizade sincera e nem via meus pais, meus familiares não poderiam me oferecer grande coisa, talvez me dessem dor de cabeça, por isso, fiz questão de me afastar deles quando pude.

Passei tanto tempo peregrinando que me esqueci do quanto eu fui vazia. Cada um de nós colhe o que planta e eu não plantei rosas, acho que está mais para espinhos.

 

Cismei de namorar um carinha, motoqueiro, mas nós brigamos após tomarmos muito uísque. Eu estava louca de ciúmes, com certeza, terminaria com ele se tivéssemos chegado até minha casa, mas eu briguei feio e ele perdeu a direção da moto. Foi um acidente tão imprudente, tão violento...

A dor de cabeça me atormentava horas depois, eu passei a mão e tinha sangue, eu vaguei e vaguei. Não tinha rumo, não dava para saber para onde ir, com quem, eu nem conseguia pensar, dor mesmo, muito forte.

Você não precisa dos detalhes, do ferimento e da minha dor.

 

Aqui eu estou bem, minha avó foi até mim e me socorreu junto com os trabalhadores que me pareceram pronto socorristas do plano físico.

A gente nem merece tanto amparo. Hoje eu sei que fiquei meses vagando, sofri sim, mas eu merecia, não valorizei nada de bom que eu tive.

Eu não valorizei meu corpo, minha saúde, minha família, meus nobres sentimentos foram neutralizados no meio de tanta cobiça e ambição. Não valorizei meu trabalho digno e nem meus relacionamentos, minha sexualidade.

Tudo foi utilizado com leviandade, tudo.

Ainda assim, eu fui resgatada por uma criatura doce e delicada. Minha avó, veio até o meu encontro, apesar de eu nem me lembrar dela, me acolheu e trouxe para cá. Aqui as enfermeiras cuidaram com todo o amor e eu me sinto bem melhor.

 

Eu ainda preciso de terapia, nem sei por quanto tempo porque a minha mente tem que ser reprogramada. Meu Deus! São muitos pensamentos equivocados, muita inversão de valores. Eu não posso retornar da mesma forma, seria derrocada novamente.

Quem puder rever seus valores, enquanto encarnado... Quem puder fazer a higiene mental... Reprogramar a mente para questões mais importantes do ser, onde atua ativamente para a moralização e amparo de tantos que sofrem, se esforcem e atuem o mais precoce quanto seja possível.

GILDA

22/11/20

 -----------------------------Paula Alves--------------------



Foto cedida por Magno herrera Fotografias

“QUANDO ALGUÉM SE PREOCUPA, APENAS COM A PRÓPRIA VIDA PERMITE QUE O MAL SE PROPAGUE”

 

Eu me imaginei vivendo a vida dela tantas vezes.

Quando a vi entrar com aquele vestido, tão exuberante, cheio de beleza, eu me envolvi em delírios.

Acreditei, por um instante, que a vida era fácil e bela. Que meus dias eram tranquilos e cheios de possibilidades. Por um momento, eu me desviei da tragédia pessoal, daquele quarto e do quanto ele abusava de mim, de minha integridade, dos meus sonhos. A gente nunca pensa em ser vítima.

Quando eu aceitei tê-lo como pai, me comovi com todos os motivos que ele tinha para se superar como meu tutor, ele tinha objetivos para me encaminhar com boa educação para que, desta forma, pudesse ressarcir tudo o que tirou de mim em outras vidas. Ele pediu perdão e prometeu ser uma pessoa melhor como meu pai.

Eu acreditei, fiz planos com ele, eu o perdoei, mas eu, apenas fui punida, mais uma vez. Eu sofri os maus tratos, a violência, a humilhação.

 

O perdão foi possível até ali, mas a partir de tudo o que vivemos, do nojo que senti, do medo que tive todos os dias, desde os seis anos, eu não pude mais perdoar. Eu não consigo!

Quando vi minha amiga vestida de debutante, chorei de inveja. Eu queria que, de alguma forma, pudesse trocar de vida. Não desejava que ninguém fosse filho do meu pai, mas eu queria, por um breve instante, me sentir realmente filha amada, cuidada e sem aquela sensação de pavor e angústia que estavam comigo.

Eu tentei falar para minha mãe, eu falei para uma tia que fingiu não ouvir. Eu tenho tanto para falar...

 

Existem tantos males que podem ser evitados se as pessoas se comprometem mais umas com as outras.

Toda vez que alguém pensa em deixar pra lá, quando alguém se preocupa, apenas com a própria vida permite que o mal se propague.

E, eu não era responsabilidade de ninguém. Deus não deseja o mal, eu não precisava ter sofrido por tanto tempo. Se a vizinha tivesse se envolvido, se minha mãe não temesse abandoná-lo e viver do próprio sustento, se minha tia pensasse nos meus problemas, se alguém tomasse as minhas dores...

Quando alguém escolhe não ver, deixa que o sofrimento arruíne a vida de outro alguém.

Todos eles se comprometeram com a Lei. Todas elas tiveram marcas na consciência como delito praticado porque poderiam ter salvo, evitado minha ruina, mas decidiram se distanciar do meu calvário.

Naquela noite, eu desejei a libertação e quando ele me procurou no quarto, após dar os sedativos de mamãe, eu cortei os pulsos. A minha imagem os atormentou por toda a vida.

Eu estou bem melhor, porém ainda carrego a mágoa e a revolta, por isso, a necessidade da terapia.

O apelo: FIQUEM DE OLHOS ABERTOS. DEUS OS COLOCOU NOS LOCAIS APROPRIADOS PARA PRESTAREM SOCORRO, MAS MUITOS VIRAM AS COSTAS PARA A REDENÇÃO.

CAMILA

14/11/20

 

            ---------------------------------------Paula Alves----------------------------

 

“CADA UM, ENXERGA EM NÓS O QUE QUER”

 

As contas nos salvaram da fome. Eu olhava para as pedras que não tinha grande valor e desejava que as mulheres se encantassem com meu trabalho, que fosse possível, vender todos os colares e retornar à casa com o valor do aluguel.

Minhas filhas me ajudavam, então, após ajeitar tudo nas cestas, saíamos esperançosas. Eu sempre estava sorrindo, francamente notavam nosso esforço para parecermos bem arrumadas, mas nossas roupas gastas denunciavam nossa pobreza.

Algumas mulheres se entreolhavam e rapidamente recorriam às bolsas, pagavam muito mais do que eu cobrava e elogiavam nosso artesanato, mas outras, aproveitavam para esnobar, gostavam de pisotear quem já sofre da privação material.

 

Diziam o quanto éramos desajeitadas, descabeladas, magras de fome, recriminavam nosso trabalho dizendo que gostavam de colares de ouro, pedras preciosas que descreviam sua boa situação. Uma delas disse que o colar não servia para sua cadela de raça.

Compreendi que cada um vê no outro o que lhe convém. Somos denunciados pela forma como julgamos o outro, enquanto, as boas viam em nós o trabalho digno, o esforço e a delicadeza manual; as orgulhosas viam nossa feiura, pobreza e sua própria ostentação.

Há sempre uma forma de ajudar. Dentre as moças, havia as que compravam muitos colares, eu sabia que sua posição elevada não permitia que carregassem as pedrinhas falsas ao colo, mas era uma forma de dar a esmola com dignidade, ajudar sem nos constranger.

 

Eu nunca me esqueci das sensações. O quão, valorosos ou humilhados, podemos nos sentir dependendo da forma como a pessoa estende a mão.

O tempo passou, o artesanato me permitiu criar a família, ter uma casa que, para nós foi palácio e aprender que, cada um, enxerga em nós o que quer. Não é de maldade, não é intencional, é que a mente tenta anunciar o que temos em nós mesmos, enquanto olhamos as outras pessoas.

 

VÊ SE O QUE HÁ EM TI SÃO LUZES OU TREVAS.

Experimenta a sensação quando observar ou julgar alguém, veja como se comporta com as outras pessoas e saberá se está no caminho do bem ou do mal, da evolução ou estagnado no seu próprio veneno.

OLÍVIA

14/11/20

 

-----------------------Paula Alves------------------

 

“NÓS PRECISAMOS ACREDITAR QUE PESSOAS BOAS E SINCERAS VÃO CRUZAR NOSSO CAMINHO FACILITANDO NOSSO PERCURSO NESTE MUNDO”

 

Eu fechei a casa e parti com meus três filhos. Meu marido atirou e não se preocupou se um de nós encontraria o corpo.

Eu tentei não pensar nele com mágoa, eu tentei me colocar em seu lugar. Tentei ver o mundo com os seus olhos para que soubesse justificar sua morte e nosso abandono, mas achei que o suicídio dele fosse covardia com um toque de egoísmo puro.

 

Ele se desesperou, se sentiu humilhado diante dos credores. Ele sabia que não teria condições de pagar a dívida que adquiriu com o jogo, com seu vício inconsequente, mas eu tinha três crianças que precisavam de um pai.

Com a sua morte, a casa foi à leilão, eu não tive recursos, pois me tomaram tudo o que ainda nos pertencia para quitar suas dívidas e eu quis matá-lo.

 

Não existe maior crueldade do que lhe tirarem o direito do discurso, da argumentação. Eu queria ter dito umas verdades, eu precisava que ele nos visse em sua história de perdas materiais.

Quando ele se matou foi como dizer que era indiferente a todas as nossas vidas. Ser indiferente ao rumo que eu daria para nossas vidas. Ele não pensou em nós, não se esforçou para nos dar paz, dignidade ou alimentos.

Eu estava viúva, desmoralizada e tinha três filhos para criar, então, por eles, precisei mudar de cidade, recomeçar, limpar da mente deles o passado de desonra do pai, o crime e o sangue.

A mente é o denunciador, eu não pude encontrar outro homem, me entregar ao amor, a novo compromisso porque vi em todos, uns egoístas manipuladores, mas Deus sabe de tudo.

 

Consegui um emprego num armazém, fui me estruturando e Deus se compadeceu de mim. Eu vi em toda parte pessoas amistosas que me ajudavam com incentivo e trabalhos dignos que executei para criar meus filhos.

Eu, que tinha todos os motivos para não confiar em ninguém, fui auxiliada por estranhos e me reergui com amigos sinceros e leais.

Meus filhos nunca se esqueceram da tragédia com o pai, mas isso, apenas nos uniu e fortaleceu nossa relação familiar.

Compreendo que as pessoas são muito diferentes. Existem pessoas de todos os tipos. Nós precisamos acreditar que pessoas boas e sinceras vão cruzar nosso caminho facilitando nosso percurso neste mundo.

Não se feche ao amor ou à amizade. Deus direciona nossas vidas e permite as provas que podemos superar com o amparo de boas pessoas.

GRAÇA

14/11/20

 

 ---------------------Paula Alves--------------

 

“SE A REPRESSÃO DE SI MESMA OFUSCA, AGRIDE E REVOLTA, COMO AGUARDAR PELA FELICIDADE?”

 

Mais uma alienada a vagar por aí. Eu ouvia de Regina que podia fazer muito, ser uma pessoa melhorar e me superar.

Minha irmã tentava me incentivar, ela queria que eu estudasse e arrumasse um bom emprego.

Para ela, tudo era tão fácil como nos filmes que têm sempre finais felizes. Ela achava que, de uma hora para outra, tudo mudaria e eu daria boas notícias, mas eu não tinha ânimo, eu não queria nada.

Eu me contentava com as refeições que ela me servia, para mim estava bom um banho por mês, não me incomodava, eu estava bem.

Não queria ninguém pegando no meu pé, eu saí de casa, não queria trabalhar, ter patrão, contas.

 

Via a correria do mundo e não justificava as torturas mentais, as necessidades de bajulação, as farsas.

Por que fazer penteados? Mudar o padrão para assumir uma beleza que é convencional? Todas magras, cabelo liso, sorrindo com discrição. Todas usando roupas pretas porque emagrece mais ainda, deixa elegante. Faz de conta que é o que se espera transparecer.

Eu não queria fingir. Eu não queria forçar padrões, ser insultada ou competir para ter promoção no trabalho. Casar e ser humilhada pelo marido. Eu não queria viver fingindo.

Eu olhava o mundo por tanto tempo, via o mundo girar. Eu escrevi, documentei tanto, rascunhos que foram para o lixo, mas ainda ficaram na memória com tudo o que vi.

Queria que eles lessem, que eu tivesse identidade, que pudessem saber que todos que peregrinam ainda são gente.

Verdade que gente ausente, mas que se pergunta diariamente qual é o objetivo de tudo.

 

O QUE VOCÊS QUEREM DE VERDADE?

 

Por que uma mulher que se sujeita por isto ou aquilo ainda crê em felicidade?

Mas, se a repressão de si mesma ofusca, agride e revolta, como aguardar pela felicidade?

Eu vaguei, pensei, estive em toda parte e desapareci. Regina me viu, mas não compreendeu, eu pensei tanto e não pude fazer parte do mundo dela porque fui contra o mundo, fui contra as convenções.

Só quero que você me faça sentir que todos nós podemos existir dentro de alguns corações. 

ROBERTA.  

14/11/20

 

                        --------------------------------Paula Alves---------------------------------



Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“O IDEAL É COMEÇAR AGORA PORQUE NÓS NUNCA SABEMOS QUANTO TEMPO TEREMOS NESTA TERRA”

 

Partir? De que forma, se nós não fomos ensinados a partir...

Nós não sabemos como podemos desapegar de tudo o que fomos, tivemos e vivenciamos, enquanto estávamos na carne.

A verdade é que eu não tinha medo da morte, eu estava me preparando para isto, desde que tivera a notícia da minha doença terminal. Eu tinha intenção de me encontrar com minha falecida esposa, não podia acreditar que quando morremos, simplesmente sumimos do mundo, extinguimos como um ser que não tem função no Universo.

Eu não sabia de muita coisa, mas inconscientemente acreditava que Deus não perderia seu tempo criando para depois deixar se acabar, então, eu me apegava a isto e deixava a vida tomar seu curso, até que um dia, o meu dia chegou.

Daí foi tudo muito estranho porque eu compreendia, mas estava confuso demais para entender que o corpo tinha se acabado. Eu ainda era eu, com meu jeitinho de sempre, com meus pensamentos de sempre e sentindo tudo, até demais.

 

Eu fiquei por ali, no meu local costumeiro porque não tinha ideia do que deveria fazer. Eu só enxergava os meus como se ainda estivesse vivo, tudo igual com mais clareza de raciocínio, lendo os pensamentos deles. Aos poucos, as coisas se revelam e é uma perturbação.

Depois de algum tempo, comecei a ver outros como eu, perambulando por aí, sem esclarecimento, fazendo gracejos e tentando sugar as energias dos encarnados, coisa meio estranha, mas eu não liguei. Eu me perguntei aonde estaria minha esposa, se eu ficaria naquela situação para sempre, se era apenas isso e mais nada.

Eu tentei me afastar e ouvi as lamentações dela. Minha filha estava tão triste, ela não conseguia compreender que estava no meu dia. Eu nem sabia que ela me amava tanto. De verdade, acho que isso deve acontecer com certa frequência, as pessoas se acostumam com nossa presença. Minha filha se acostumou comigo dizendo o que ela devia fazer, dando apoio moral e financeiro, dando conselhos, segurando a mão dela. Nós éramos muito amigos e eu sempre achei que ela fosse um pouco dependente de mim, sempre foi um pouco frágil.

 

Quando eu morri, não morreu apenas o pai dela, mas o apoio, a sustentação e ela sentiu tudo desabar.

Não deveria ser assim...

Pensa bem, um dia todos que você conhece vão morrer, ou melhor, desencarnar porque somos seres eternos e destinados ao progresso, graças a Deus.

Se você não observar muitos morrendo à sua volta, morrerá antes deles e terá que ter uma boa consciência para enfrentar esta situação muito natural, portanto, nós deveríamos conversar mais sobre isso, educar nossos filhos e netos para que possam enfrentar esta situação sem sofrer em demasia e que eles não atrapalhem o desprendimento físico quando a hora chegar porque não há nada pior do que você ter seus problemas existenciais e ter que conviver com os lamentos dos seus entes queridos.

Sabe aquela situação inconveniente de estar perturbado com o sentido que tomara sua vida e seu ente querido querer sofrer mais do que você?

Ela é minha filha, mas ouvia os pensamentos dela: “O que será de mim agora que você se foi pai?”

Era muita agonia. Eu não conseguia lidar com minhas conjecturas, minhas lembranças retornando, lembranças de vidas passadas que mexiam comigo, a incerteza do caminho a seguir e a preocupação com ela: “Pai, como eu posso decidir o que fazer com meus problemas, só você podia me orientar e colocar direcionamento na minha vida.”

 

Nossa! Você não pode imaginar o quanto é ruim porque eu me preocupava com ela e queria auxiliar, mas eu estava todo atrapalhado com a mudança de vida e não podia raciocinar direito, então, percebi que era inteiramente culpado por tudo o que estávamos vivenciando.

Se eu tivesse ensinado minha menina a ser mais independente, se eu tivesse dado base para o raciocínio lógico dela, aumentando sua confiança em si mesma, se eu tivesse estimulado a liderança, a capacidade criativa e empreendedora, se ela soubesse o quanto é capaz, conseguiria lidar melhor com a situação. Além disso, ter a certeza da imortalidade e do quanto é difícil para nós mudarmos de plano. Ela teria facilitado para mim, nós dois teríamos ficado muito melhores.

 

Ela poderia ter feito preces para acalentar seu coraçãozinho perturbado e me direcionado no caminho adequado à elevação. Poderia ter me imaginado saudável e feliz numa nova morada. Poderia ter empregado bem seu tempo, a fim de esquecer um pouco suas tribulações, favorecendo os necessitados, se envolvendo com pessoas que precisam de ajuda.

Existe tanto a fazer. O ideal é começar agora porque nós nunca sabemos quanto tempo teremos nesta Terra. Fica a dica!

JOÃO ANTÔNIO

07/11/20

 

---------------------------------Paula Alves------------------------------

 

“QUANDO NOS APOIAMOS UNS NOS OUTROS TENDO COMO OBJETIVO O AVANÇO DE TODOS, TODO MUNDO GANHA”

 

As grades não impediram que a menina caísse. Existem escândalos que são necessários para fomentar as populações. As pessoas precisam debater tantos assuntos que ficam na obscuridade, enquanto, estão satisfeitas com suas vidinhas corriqueiras.

Devemos nos esquivar de falar da vida alheia, se cada um de nós, se preocupasse em cuidar das próprias vidas teríamos mais sucesso na evolução, mas muitas vezes, o erro do vizinho pode acontecer também dentro da minha casa, por isso, usar o exemplo para raciocinar é bem interessante, não com maldade ou com fofoca, mas como advertência e prevenção.

 

É fácil hoje em dia, diria até usual, ver como os casais se divorciam sem se comprometer com seus familiares. Casal que não é apenas casal, mas que representa família que é conjunto de seres, é pai, mãe, filhos, avós, tios, primos, sobrinhos, até animal de estimação.

Quando um relacionamento se rompe, rompe a ligação de toda a família, transforma em fragilidade todo o seio doméstico que sofrerá com a partida de alguém.

 

Quando o pai sai de casa, ele não abandona, apenas a esposa, mas também os filhos, os sogros, o cunhado, os sobrinhos e o animal de estimação que nunca mais serão tratados da mesma forma, apesar do pai dizer o contrário. Isso ainda piora bastante quando ele encontra uma namorada que cobrará tempo, dedicação, atenção, desviando o olhar da família que ficou desamparada.

Todos sofrem, mesmo que a ex-esposa - super bem resolvida - encontre ou não um outro alguém, não ligue ou sinta-se livre e em paz. Ainda assim, alguém sentirá com a saída do cônjuge, até os cães sentem esta ausência, imagine uma criança que esperava o pai chegar em casa para um beijo de boa noite...

A coisa ainda pode piorar quando a ex-esposa sente-se solitária e coloca um outro alguém dentro de casa, alguém que ninguém conhece e pode ser ameaça para os integrantes da família, perturbando o espaço de cada um, a paz e até a integridade física e moral de uns e outros.

 

POR QUE, DE REPENTE, O AMOR ACABA?

 

Se são os mesmos seres que avançaram em evolução, idade e maturidade? Pai e mãe que viveram juntos a construção da casa e da família, tiveram as mesmas dificuldades, mas também que vislumbraram os nascimentos e as realizações pessoais dos entes queridos. Por que decidem buscar a separação como solução para felicidade?

Hoje é fácil terminar e mandar embora. Tudo se resolve com o cartão de crédito e um bom analista. Existem fugas em toda parte: baladas, bebidas, drogas e sexo rápido e seguro. Mas, e a família, e o amor real e sincero?

A sustentação mental só pode ser atingida com um lar bem estruturado que permite que todos os integrantes desta família caminhem no mundo se beneficiando das melhores soluções para esta jornada. Captar todos os recursos em prol do seu avanço nesta encarnação pode ser conseguido com o apoio uns dos outros, sem desvios de conduta ou distrações inconsequentes.

Quando nos apoiamos uns nos outros tendo como objetivo o avanço de todos, todo mundo ganha. Esposa e marido unidos e reconhecidos no lar formam jovens esclarecidos, maduros e preparados para tomar boas decisões, consequentemente, favorecerão para futuros lares bem estruturados.

 

A SOLUÇÃO NUNCA FOI A SEPARAÇÃO, MAS A INDULGÊNCIA, O RESPEITO, A LEALDADE, O AMOR AO PRÓXIMO QUE COMEÇA DENTRO DE CASA.

Luís Boa Pessoa

07/11/20

 

----------------------Paula Alves------------------

“TUDO O QUE VOCÊ ENTREGA PARA O OUTRO, NORMALMENTE VOCÊ RECEBE”

 

Eu tinha horror daqueles bichos, mas era o trabalho do meu pai. Apicultor!

Sei lá, eu tentava observá-las como parte da criação, mas o som me incomodava e o mel era intragável, mas pagava tudo o que tínhamos em casa.

Eu sei que não fui a melhor pessoa do mundo. Se eu puder me lembrar de como me comportei em todos os ambientes, estaria visualizando uma menina mimada, medíocre e insolente, por isso, ninguém nunca me incluía nas festinhas e nos passeios.

Eu fui filha única, talvez, se meus pais tivessem decidido ter outros filhos, eu tivesse sido melhor educada em nosso lar, mas eu tinha tudo, dava a última voz e ninguém nunca me contrariava.

Não éramos ricos, minha mãe trabalhava duro para que eu tivesse regalias, eu nunca a ajudei. Via como ela madrugava e eu dormindo, não arrumava nem minha cama e mamãe lavando roupas. Eu poderia ajudar, mas preferia ver tv, correr por ali sem impedimentos ou tarefas que me cansavam.

Minha mãe nunca exigiu nada, só faltava colocar comida na minha boca. Há quem diga que minha mãe foi a grande responsável por eu ter me tornado isso o que sou, mas eu nunca iria culpá-la.

 

Eu penso que todos nós sabemos como nos tornarmos úteis. É só ver o que as pessoas estão fazendo e se colocar à disposição de auxiliar, mas eu preferi ser inútil. Em casa tinha tanto trabalho.

No fim do dia, minha mãe parecia exausta e eu ainda solicitava quitutes e chás, mamãe nunca reclamou.

Fui excluída de alguns compromissos na escola, não tinha turma, então comecei a ficar indignada e quis me vingar, eu convidei alguns estudantes para um café em nossa casa. Minha mãe ficou feliz, ela queria que eu tivesse amigos, então, eu quis mostrar as abelhas.

Eu juro que minha intenção não era das piores, só queria que eles sofressem um pouco, mas eu não pude controlar os estragos e a mamãe levou a pior.

 

A colmeia foi aberta e as abelhas saíram furiosas, foi um horror! Quando minha mãe viu os adolescentes sendo picados por elas, correu tão rápido, eu estava com a roupa protetora, mas ela não.

Mamãe foi picada, tão picada que não conseguiu sobreviver. Por minha causa, por minhas más inclinações, minha mãe morreu.

Eu já fui informada de que ela desencarnaria de qualquer maneira, era o dia, mas sendo eu a responsável direta pelo desencarne, não consigo me perdoar.

Eu faço uma análise de tudo o que fiz, tudo o que fiz de bom e de ruim e não vejo nada de bom. Anjo mau! Aprendi muito com minha mãe, com sua doçura e empenho, tão disciplinada, limpa, organizada e atenciosa.

Eu tive todos os bons exemplos bem diante de mim e não tive ânimo para por em prática porque estava empenhada em vingança. Mas, eu não tinha motivos para me vingar. As pessoas tinham seus motivos para não gostarem de mim.

Isso acontece aos montes. As pessoas reclamam que não são desejadas, ninguém pensa nelas, ninguém convida, mas pra quê?

 

VOCÊ É AQUELA CHATA QUE DE TUDO RECLAMA?

 

FAZ AQUELA CARA DE DESDÉM E GOSTA DE SER MELHOR QUE OS OUTROS?

 

VOCÊ COSTUMA FICAR DE CARA FEIA E NÃO TENTA SE ENTROSAR, SER AGRADÁVEL?

 

SERÁ QUE ALGUÉM TEM A OBRIGAÇÃO DE TE SUPORTAR?

 

Claro que nós temos que ser amáveis para que as pessoas possam nos amar. Temos que ser tolerantes para que nos tolerem. Educadas para que as pessoas sejam educadas conosco. É o mundo do vai e volta. Tudo o que você entrega para o outro, normalmente você recebe.

Agora eu entendi, após os duros percalços do meu caminho, caminho que eu mesma construí. TEODORA

07/11/20

 

   --------------------------------------Paula Alves-----------------------------------

 

“POR QUE ACHAR QUE AS PESSOAS TÊM QUE SER O QUE QUEREMOS QUE ELAS SEJAM?”

 

 

Suspirei amargurada, não podia me conformar.

Os anos passavam, mas eu não tinha inclinações de me erguer. Sabe o que é viver por viver? Apenas realizar as obrigações de cada dia e suportar as horas passando sem ver nada de bom?

Eu perdi minha irmã que era tudo pra mim. Não havia mais ninguém, morávamos juntas e quando ela morreu, eu me vi sozinha.

Não existia nada mais triste do que passar um Natal sozinha, um Ano Novo sozinha porque nós sabemos que as pessoas estão confraternizando felizes, todas elas têm conversações e risos, brindes e presentes, mas eu não tinha ninguém. Tem um momento que a gente cansa de sofrer e precisa colocar um basta. Acho que eu me cansei das minhas próprias lamentações.

 

Encarei minha vida ridícula e me perguntei por que estava sempre sozinha...

Eu costumava dizer que era gorda e feia, mas todo mundo tem atributos, atrativos. Eu era inteligente, era bem humorada com minha irmã, acho que meu problema era a falta de confiança nas outras pessoas. Na verdade, isso é pura arrogância porque eu achava que tinha que confiar nelas, alguém tinha que suprir algo em mim, me favorecer de alguma forma?

Por que achar que as pessoas têm que ser o que queremos que elas sejam?

Isso é ser muito presunçosa...

Eu pensei tudo isso e me lembrei do convite da colega da empresa que daria um jantar de Natal. Por que não?

 

Eu me arrumei e fui ao jantar. Tratei de ser a melhor pessoa que pudesse, com alegria e entusiasmo. Eu queria ficar bem e não ser tão só, por isso, deveria ser agradável para atrair as outras pessoas.

Naquela noite, eu aprendi muitas coisas, ouvi muitas histórias interessantes, simpatizei com muita gente simples, parecida comigo. Eu vi que todo mundo tem problema, mas não se entrega, leva a vida, enfrenta e supera.

Foi tão legal!

Foi o primeiro passo para mudar de vida e conquistar muita coisa. Eu encontrei um homem que me achou bonita, não gorda, mas cheinha (risos). Nós nos casamos e, além de fazer muitos amigos leais naquela noite, eu comecei a formar minha própria família.

Depois de quatro anos, o Natal foi em nossa casa, com nossa filha Lívia e muitos amigos, tudo lindo e cativante.

Eu agradeço muito ao meu protetor que, numa noite de Natal, me fez perceber que, cada um de nós, só será solitário se não souber conviver adequadamente com as outras pessoas. Ele fez com que eu me envolvesse e, com isso, as pessoas puderam me conhecer, ver meus pontos positivos, eu atraí um amor e muitos amigos para toda a minha existência.

SUELI  

           07/11/20    

   


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