Cartas de Fevereiro (4)

 


“Expiação para mim, prova para eles”

Tinha tudo para ser uma vida tranquila e feliz, não fosse o fato de não conseguir controlar meus pensamentos.

Nasci em uma família cheia de posses e títulos, boa posição social, todos queriam estar próximos dos meus genitores que eram amáveis ​​e solícitos. Porém, fui a terceira de seus filhos, apesar dos muitos mimos, não conseguia socializar adequadamente por causa dos meus rompantes de agressividade.

Minha mente era muito confusa, aflita, eu pensava de forma atrapalhada, parecia que via coisas onde elas não existiam e julgava que todos estavam contra mim como se me perseguissem.

Muitos poderiam supor que eu estivesse sofrendo alguma influência maligna ou mediunidade incontrolável, mas a verdade é que a mente estava em desequilíbrio.

Meus pais perceberam desde cedo, mas na fase da adolescência a coisa ficou insuportável. Uma amiga da minha mãe percebeu algo desagradável e insinuou que eu devia procurar um psiquiatra, isso bastou para que, de forma sutil, minha mãe se afastasse dela.

O fato é que, naquela época, psiquiatras eram evitados a todo custo porque, aparentemente, tratavam de loucos. Meus pais jamais deixariam transparecer que a filha caçula tinha algum problema mental. Com isso, nunca procuraram tratamento especializado para mim e sofri muito com o passar dos anos e o agravamento da minha doença.

Eu fiquei isolada, cada vez mais, meus familiares faziam de tudo para me deixar longe das festas e badalações. Todas às vezes, que recebiam pessoas em casa, tratavam de contratar uma tutora para providenciar que eu não sairia do meu quarto e não seria vista, nem ouvida por ninguém. Eles diziam que eu estava ausente, estudando no exterior ou na casa de algum parente distante.

Senti falta dos meus familiares, falta de amigos ou do contato com os compromissos juvenis como escola e festas. Eu queria ser normal, mas a coisa estava piorando quanto mais triste eu me sentia.

Eu me senti solitária e infeliz, desejei que a minha vida acabasse e me senti definhar porque não queria comer, nem me cuidar. Foi fácil para os meus pais incumbir a cuidadora dos meus cuidados integrais e ficarem distantes de mim, um serzinho que dava raiva. Aos poucos, tudo foi se acabando dentro de mim e o corpo foi perdendo as forças até que desencarnei com dezenove anos.

Eu poderia ter sido considerada uma suicida porque eu permiti que o corpo físico tivesse as forças extintas, mas em decorrência dos problemas mentais, fui socorrida imediatamente e permitiram minha entrada nesta colônia para receber tratamento especializado.

Levou um tempo até que eu pudesse compreender tudo isso. Levou tempo para que eu conseguisse me lembrar do passado, mas eu entendi. Nada é por acaso. Eu prejudiquei o organismo mental por conta do abuso das drogas, arruinei a estrutura orgânica e também meu perispiríto, necessitei de outra existência onde eu tinha defeitos na mente, eu precisava de tratamento psiquiátrico, mas minha família optou por não me fornecer o que eu necessitava por constrangimento social.

Expiação para mim, prova para eles. Superei em partes, eles não. Aceitei tudo o que me fizeram, cada um sabe dos seus próprios sofrimentos. Aqueles que não compreendem o que ocorreu enquanto Espíritos encarnados, terão a chance de rever seus deslizes no mundo espiritual, assim todos sempre se esclarecem e poderão recomeçar numa nova encarnação.

Só sei dizer que a possibilidade de analisar, refletir, ponderar e organizar pensamentos é bom demais. Sou muito grata pelo tratamento que me permitiram fazer aqui. Obrigada.

 

Brígida

01/02/2025

 

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“Todos podem se reerguer com fé e esforço contínuo”

 Eu peguei aquela arma e pensei em acabar com tudo, mas por uma fração de segundos, analisei minha vida e minhas escolhas. Tudo aconteceu muito rápido, o pensamento não tem limites.

Hoje eu sei que estava sendo inspirado por meu amigo espiritual que não estava desejando ver tudo se encerrar com um suicídio. Ele se esforçou e eu consegui receber as imagens que ele me enviou.

Foi como se eu estivesse visualizando minha vida cheia de possibilidades novas se eu decidisse me esforçar um pouco mais. Tudo dando certo, felicidade e progresso. Eu poderia conseguir mesmo com as dívidas e a vida difícil.

Eu tinha que tentar e deixei a arma de lado, confiante, cheio de esperança. Eu precisava tentar mais uma vez. Depois que minha esposa me deixou e disse que eu nunca seria nada, além de um verme, um lixo que ninguém é capaz de valorizar, tirou meu filho de mim e partiu para o interior, declarei minha morte. Roubei a arma do meu irmão que era policial e preparei tudo para me matar, mas tudo mudou com aqueles pensamentos. Eu nem sei como consegui ouvir aqueles apelos, mas eu deixei aqueles pensamentos de lado e adormeci. Sonhei com minha mãe que pedia para eu tomar juízo e cuidar melhor da minha vida, falava que todos podem se reerguer com fé e esforço contínuo.

Quando acordei, estava decidido a mudar, arrumei emprego, voltei a estudar. Fui conduzindo minha vida com muito trabalho e esforço, eu cuidei de tudo porque não podia falhar, deu certo.

Eu visitava meu filho, cuidava dele pagando as despesas, ela quis voltar porque percebeu minha mudança, viu que eu estava alicerçando minha vida, estava progredindo financeiramente, mas eu não quis. Entendi que nós não precisamos estar com alguém para estarmos felizes e nos sentirmos realizados. Muitas vezes, as pessoas nos colocam para baixo e nos menosprezam tanto que você acredita que não significa nada para ninguém, que você atrapalha a vida dos outros, causa vergonha e diante de tanta coisa ruim, se perde e pensa em morrer, mas a morte não resolve nada, só piora todas as coisas.

Eu tive a ajuda de um anjo que soube me aconselhar e eu recomecei. Todos podem tentar quantas vezes quiser, se não der certo, não tem problema tentar de novo, mas não pode desistir, nem desanimar. Não pode aceitar o fracasso porque na vida o que importa é o progresso, é tudo o que você estiver aprendendo de bom. Eu consegui me reerguer e fiquei muito satisfeito com a evolução que tive. Obrigada aos Bons Espíritos.  

 Ezequiel

01/02/2025

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“Os problemas vêm para percebermos que somos capazes de ultrapassar barreiras”

 

Eu não podia perder as esperanças porque tinha muita gente dependendo de mim. Mãe doente, crianças pequenas, todos dependendo de mim até para comer. Eu tinha que pagar o aluguel, comprar remédios e fazer tudo em casa. Sim, meu marido me abandonou porque dizia que eu só servia para dar dor de cabeça, mãe invalida que eu trouxe para dentro de casa e mais uma criança no bucho.

Quando você se vê sozinha tudo parece ainda pior, eu quis chorar e me entregar ao desespero, mas os vizinhos foram bondosos para nós, trazendo cesta básica e auxílio para quitar o aluguel, a dona da casa deixou muitos meses sem me cobrar até a criança nascer, mas depois disso, tratei de procurar emprego e ainda consertava roupas em casa.

Com muito trabalho, várias noites sem dormir, aos poucos, fui corrigindo nosso orçamento doméstico, enquanto as crianças cresciam e minha mãe melhorava um pouco. A coitada teve que melhorar para me ajudar um pouco.

Tudo serve para o nosso desenvolvimento. Na família, todos se desenvolvem quando se ajudam mutuamente. Até os pequenos aprenderam a ajudar, cada um à sua maneira.

Depois de um tempo, minha mãe estava andando, comprei um terreno e, em pouco tempo, com a ajuda dos meus vizinhos, eu estava na minha casa. Quando eles cresceram, a vida ficou bem mais fácil, eu olhei para trás e percebi que os problemas vêm para percebermos que somos capazes de ultrapassar barreiras. Na hora do desespero você acha que não consegue, mas se tiver calma e fizer uma coisa de cada vez, você há de conseguir.

Eu tinha um grande incentivo, aquelas pessoas amadas precisavam que eu fizesse todo o possível para que nada lhes faltasse. Por isso, eu me superei. Analisando a minha vida anterior quando eu abandonei minha família, da mesma forma que meu marido fez, entendi que todo sofrimento tem razão de ser e, por isso, ao invés de reclamar devemos trabalhar ativamente para termos melhores condições de vida.

Agradeço por tudo o que vivi.

 

Lidiane

01/02/2025

 

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        “Tudo tem explicação através das vidas sucessivas”

 

Eu estava brincando na rua com meus amigos. Pulando corda na maior alegria quando um motorista bêbado apareceu de repente e eu não tive reação para correr. Fui atropelado! Ouvi gritos e a correria foi grande porque logo os vizinhos sugiram para prestar socorro.

Achei que estivesse apenas ferido, mas eu não estava mais no corpo, só ligado a ele. Eu tentava falar, mas eles não conseguiram me ouvir, vi minha mãe correndo em minha direção, desesperada, chorando e eu não gostei de causar esta aflição na minha mãe.

Logo vi a imagem de uma pessoa que brilhava bastante, ele me estendeu a mão e disse:

— Vamos!

Eu achei aquilo tudo estranho, fingi que não era comigo, mas ele insistiu e sorriu. Ele nem abria a boca para falar e eu entendia tudo o que ele pensava. Fiquei bem confuso, mas aceitei ir com ele. Foi como um empurrão bem forte e um frio na barriga, parecia que eu estava nas nuvens, mas foi bem rapidinho e de repente, eu estava num hospital já vestido com uma roupinha branca.

Daí eu dormi tão gostoso. Eu não tive dor, nem desconforto algum. Eu só tive muito sono e me preocupei com minha mãe porque não tinha falado com ela. Ele apareceu diante de mim no hospital e disse que minha mãe já estava sabendo de tudo, eu podia ficar tranquilo para descansar bastante.

Eu tinha doze anos. Fui bem tratado na colônia, aos poucos, me fortaleci. Saí do hospital, encontrei muitos jovens, estranhei que tinha tantos jovens e só alguns mais velhos que pareciam professores. Eu não conhecia ninguém e todos sorriam e me cumprimentaram. Era um lugar muito bom onde não chovia, só tinha um lindo pôr do sol.

Eu estava me questionando muitas coisas e quando melhorei mais, meu instrutor esclareceu que eu havia desencarnado e não era para ficar perturbado com isso porque todas as pessoas devem passar pelo desencarne para continuarem no processo evolutivo, afinal eu já tinha concluído meu prazo na Terra e precisava retornar, como numa viagem que expira o tempo e tem que voltar para o local de origem. Eu fiquei triste por minha mãe, mas ele explicou que servia de prova para ela, inevitavelmente ela precisaria enfrentar a situação que solicitamos juntos. Eu nem me lembrava que tínhamos pedido por isso, mas ele falou que sim. São as próprias pessoas que pedem para passar por momentos delicados das suas vidas para aprenderem uma série de coisas importantes para o seu desenvolvimento integral. Também ninguém está sozinho, a partir daí, ela encontrará um novo amor e construirá uma nova família.

Não é o fim, mas sim o recomeço.

Pude perceber que em outra vida, fui muito imprudente e leviano, minha mãe também. Éramos amigos inseparáveis, jovens inconsequentes que só pensavam em depredar o patrimônio dos pais ricos. Tínhamos muitos carros e nos divertíamos fazendo racha.

Numa noite destas de chuva intensa em que acreditamos não ter ninguém nas ruas, aproveitamos para testar os freios de nossos possantes, mas um morador de rua estava atravessando arrastando a perna quando foi surpreendido por nós e morreu. Claro que não pensamos em socorrê-lo, fugimos do lugar e nunca mais pensamos nisso, mas após meu desencarne e reflexão sobre este absurdo, eu solicitei quitar os débitos desta forma.

Tudo tem explicação através das vidas sucessivas. Não pense que é uma espécie de castigo ou o acaso, normalmente nós mesmos solicitamos para limparmos erros do passado, ressarcindo com a Lei de Causa e Efeito.

Eu agradeço todo amparo e elucidação que recebi.

 

Renato 

01/02/2025

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