“Eu senti a falta de alguém que estivesse ali para segurar a minha mão”
Ela era a única amiga que eu tinha. Nós nos conhecíamos desde a infância
e eu só podia contar com ela para me tranquilizar naquele momento delicado da
minha vida.
Eu fiquei desesperada quando o médico deu o diagnóstico. Como era
possível passar por aquela enfermidade? Então, fui desabafar. Contei do câncer
de mama e do meu desespero. Ela não mediu palavras, me criticou, disse que eu
fui relaxada, devia ter feito os exames preventivos corretamente, por causa do
meu descaso, poderia perder a vida e deixar meus filhos sem mãe.
As críticas foram tão ofensivas que eu desabei. Sei que ela não fez por
mal. Ela gostava de mim, mas tinha um jeito duro de se expressar. Não costumava
ser mansa e delicada, sempre explosiva e incisiva, ela falava o que pensava
para quem quer que fosse. Por outro lado, eu estava em frangalhos, naquele instante,
só queria desabafar sem que alguém viesse me repreender. Eu me senti ainda
pior, foi como se a doença ganhasse forças dentro de mim. Eu saí da casa dela
como um farrapo humano. Me culpando por uma negligência que, de fato, nunca
aconteceu porque eu sempre me cuidei o máximo que pude. Não quis conversar com
mais ninguém. Procurei fazer todo o tratamento, mas não pedi ajuda, não
solicitei companhia. Eu preferi ficar sozinha do que ficar, naquele momento
difícil pra mim, ouvindo reprimendas e sendo julgada.
Eu senti a falta de alguém que estivesse ali para segurar a minha mão.
Acho que as pessoas deviam ajudar sem críticas. Se não podem ser indulgentes,
que sejam silenciosas. Observar o sofrimento alheio com o mínimo de respeito.
Eu me afastei dela porque não tive paciência para aguentar aquele comportamento
na fase delicada que se apresentou para mim.
Depois de muito tempo, ela me encontrou no mercado e perguntou se eu
fiquei chateada com ela naquele dia. Perguntou “por que eu me afastei”, se não
suportei ouvir as verdades que ela me disse. Ela, nem sequer, me perguntou se
eu estava bem ou curada, se tinha feito o tratamento.
Ela me encontrou e cobrou a postura que tive. Como se eu tivesse agido
errado. Pobres egocêntricos! Acham mesmo que o mundo gira, apenas ao redor
deles. Nem por um minuto, ela compreendeu que eu precisava de ajuda.
Então, depois daquilo, preferi me afastar de vez e compreendi que,
algumas pessoas, não tem nada de bom para oferecer. Se eu me sentia mal ao lado
dela e ela me fazia sentir sempre culpada por algum comportamento, nada nunca
estava bom, nunca estava ao seu contento, então, eu preferi ficar em paz longe
dela. Isso não é amizade.
Amizade de cobrança, cheia de sentimento de angústia, com medo de
crítica, com insegurança do que pode ser dito porque você está sempre errada no
entendimento do outro. Isso não é um relacionamento saudável, por isso, eu me
afastei de vez.
Consegui me curar. Sozinha foi bem difícil, eu passava mal com a
quimioterapia, mas Deus colocou ao meu redor pessoas bondosas da equipe da
saúde, seres do bem que me olhavam com tolerância e cordialidade, tinham toda
paciência e cuidavam de mim. Assim, eu pude me tratar e superei o câncer de
mama.
Levei anos me lembrando dela, desejando, por vezes, procura-la, mas nada
é melhor do que viver em paz. Também, não estava inteiramente sozinha, eu me
sentia nos braços de Deus.
01/10/23
----Paula Alves--
Eu perdi tudo por comodismo e imaturidade, eu não soube cuidar adequadamente do meu corpo.
Eu não queria fazer exames, achava tudo aquilo uma tremenda tolice.
Ficar visitando médico para procurar doença? Quem muito procura, costuma
achar...
Eu sempre dizia que estando tudo bem, não precisa procurar médico, mas
meu marido ria e falava que eu precisaria estar morrendo para chamar um médico.
Ele falava que eu tinha horror dos doutores. Devia ser mesmo. Hoje eu sei que
era coisa de outras vidas. Foi depois de ser submetida a muitos tratamentos,
necessitar de internação, desencarnado na fase infantil, eu sentia no íntimo do
meu ser que hospital era lugar de tortura.
Mas, cometi um erro grave. Eu fugia da realidade porque senti o
carocinho e decidi não tocar mais na mama. Eu sabia que ali tinha alguma coisa
e negligenciei só para não saber o resultado.
Então, pouco a pouco, a coisa avançou. Dia após dia, o carocinho cresceu
e quando eu senti a dor, ele estava bem grande. Meu esposo brigou comigo, dizia
que havia chegado o momento de procurar o doutor, mesmo assim, eu corri. Até o
momento em que comecei a passar mal e ele me levou na marra, eu não tinha mais
forças para argumentar. Os exames determinaram meu desespero. O câncer que
começou nas mamas, já tinha se alastrado. Foi um horror!
Eu não queria morrer, ninguém quer. Mesmo sabendo que não se acaba com a
morte do corpo, ainda assim, aquela vida não volta mais. Todas as pessoas que
estavam ligadas a mim, todas as possibilidades, a família e amigos que eu
amava. Eu perdi tudo por comodismo e imaturidade, eu não soube cuidar
adequadamente do meu corpo.
Eu sei que tinha um dia determinado para o meu regresso ao mundo
espiritual, mas com o meu descaso, antecipei o retorno e fui responsabilizada
por isso, padeci da culpa e sofri o desespero e a dor.
A medicina avançou muito nas últimas décadas, com exames sofisticados e
tratamentos que permitem o restabelecimento completo das mulheres que sofrem de
câncer de mama. Mas, precisa investigar, fazer a profilaxia para detectar nas
fases iniciais e tratar com paciência e fé.
Eu podia ter vivido por mais algumas décadas no contato direto com meus
entes queridos, mas fui boba e sofri desnecessariamente. Que cada um, avalie
seu comportamento diante dos cuidados básicos com seu próprio corpo para que
possa aproveitar integralmente esta oportunidade reencarnatória.
Amarila
01/10/23
---Paula Alves---
Eu via a forma como ele era tratado pelos pais e ficava compadecido. Meu filho e eu tínhamos uma grande parceria, tínhamos amizade. Eu fui muito feliz com a família que Deus me deu. Mas, ouvia os gritos do menino depois que o pai chegava em casa. Isso me deixava indignado.
Ele saia para brincar e nós conversávamos. Ele falava das suas
aspirações para o futuro, queria ser músico, mas o pai nunca permitiria. O pai
era repressor e costumava resolver tudo na pancadaria. O rapazinho só precisava
desabafar e eu ouvia, enquanto meu filho, bem mais novo ficava brincando ao
nosso redor.
Eu ouvia, falava algumas frases de esperança e lia o Evangelho. Eu
sempre achei que as palavras do Evangelho podiam nos nortear, dar um
direcionamento. Afinal, quem era eu para dizer o que ele devia fazer? Eu queria
ajudar, mas não sabia como, então, recorria ao Evangelho.
O rapaz chorava, respirava fundo e voltava para casa, refeito,
esperançoso e fortalecido. Assim, passaram os anos, ele cresceu, eu envelheci e
o pai dele teve uma enfermidade. Aquele rapaz que podia ter o coração cheio de
revolta foi o melhor filho que aquele pai poderia ter tido. O rapaz ainda
jovem, deu todo tipo de assistência, física e moral. Cuidou do pai doente e da
mãe que trabalhava sem parar. Arrumou emprego, levava o pai para se tratar de
problemas nos rins, fazendo hemodiálise direto. O pai precisou amputar o pé e o
filho do lado, sempre cuidando.
Aquele pai não resistiu ser tão bem tratado, começou a olhar para o
filho com os olhos da alma, com admiração. Ele não suportou tanta bondade e
abnegação vindo de um filho que era tão humilhado e espancado. O pai abraçou o
filho e agradeceu. Dias depois, aquele pai desencarnou.
Eu aprendi muito com a história daqueles dois. O rapaz se elevou tanto,
amadureceu tanto. Conseguiu se formar músico, se tornou um professor
reconhecido no nosso bairro, todos gostavam dele, formou família e nossa
amizade durou toda a nossa vida de encarnados.
Quando cheguei deste lado, soube que, em outras existências, fomos pai e
filho. Eu sentia por ele um carinho especial. Sabia que devia ajudá-lo a
superar aquelas situações familiares tão desagradáveis. Muitos no meu lugar,
podiam pensar que não tinham nada a ver com aqueles problemas e seguiriam suas
vidas, mas eu sentia que precisava ajudar, fazer algo para que ele tivesse
forças para enfrentar as adversidades.
Fico imaginando como é a vida de quem não tem ninguém ou a sua volta só
encontra estes que não se misturam, que não se comprometem. Eu não o reconheci
como meu filho amado do pretérito, mas fiz por ele o que eu gostaria que alguém
fizesse por mim, se eu estivesse em sua situação, por isso, fui beneficiado com
sua amizade e companhia tão agradável. Ainda hoje, estamos ligados e fazendo
planos de retornarmos novamente no mesmo círculo familiar.
Nós não temos como saber quem são as pessoas que passam por nós, então,
devemos ser como irmãos uns para com os outros, certamente Deus nos permiti
reunir àqueles a quem amamos numa outra roupagem. Fiquemos atentos e sejamos
cordiais.
Luiz Afonso
01/10/23
----Paula Alves---
Era tão cansativo que, por vezes, eu sentia que ia desfalecer cuidando do trabalho, da casa e da família. Não sobrava tempo para nada, os mínimos cuidados comigo sempre ficavam de lado. Eu ficava constrangida quando alguma amiga me olhava capturando todas as imperfeições, denunciando meu relaxo com a aparência, mas nos breves momentos, em que eu não tinha nada para fazer, o sono reclamava a necessidade orgânica e eu me entregava.
Foi um período que eu achei não fosse acabar nunca, até que eu me senti
mal. Muitos disseram que eu fui forçada a parar. Como se a minha consciência
reclamasse o descanso necessário ou se aquilo tudo fosse castigo por eu ser uma
multitarefas.
Eu não acho que foi isso. Acredito que eu fiz o meu melhor da forma que
eu sabia fazer. Eu assumi compromissos ligados a família e profissão porque eu
precisava cuidar deles. Eu não tinha condições de pagar para me ajudarem com as
tarefas domésticas e, por isso, não tinha muito tempo livre. Muitas mulheres
passam por situações ainda piores, mas as pessoas sempre encontram motivos para
criticar a vida dos outros. Nunca seria boa o bastante.
Eu precisei parar por causa de uma enfermidade. Fiquei submetida aos
cuidados do hospital, insegura e apreensiva. Eu só pensava como meus filhos
estavam se virando, como minha casa estava, as roupas das crianças, a comidinha
deles, quem estava fazendo?
Eu me preocupava com tudo, queria minha rotina de volta. Eu gostava de
cuidar de tudo e deixar arrumadinho. Eu não sofria por causa disso. Mas,
enquanto eu estivesse hospitalizada, eles me surpreenderam. Meu esposo me
visitava e trazia as crianças que, na verdade, não eram tão jovens assim. Eles
levavam umas flores colhidas no caminho e também levavam versinhos que eu lia
chorando de contentamento quando estavam longe de mim. Minha família foi um
presente de Deus e eu queria fazer tudo por eles como agradecimento por ser tão
feliz.
Eu me curei do câncer depois de achar que não superaria, mas me curei e
voltei para casa. Quando cheguei, tive uma grande surpresa. A minha casa estava
impecável. Tudo no lugar, cheiroso e bem cuidado. Preparam uma deliciosa
refeição de boas-vindas para mim.
Eu achei que tinham contratado alguém e disseram que agiram como uma
equipe, cada um tinha uma tarefa definida, fizeram tudo se lembrando de como eu
fazia. Eles sempre me observaram e foi fácil reproduzir como eu. Todos
colaboraram e, a partir daquele momento, nunca mais me deixaram fazer tudo
sozinha porque é muito desgastante trabalhar na rua e manter a casa toda em
ordem.
Eles me surpreenderam e me deram uma valiosa lição: eu tinha que ter
delegado obrigações a cada um deles. Não é necessário e nem correto
facilitarmos tanto a vida dos nossos familiares, a ponto de carregarmos o mundo
nas costas. Se sacrificar para que todos fiquem na tranquilidade. Melhor é
quando todos colaboram para a boa organização doméstica. Todos trabalham e
descansam nos momentos oportunos. Unidos e colaborativos. Aprendi que a mãe
também deve ensinar o trabalho dentro de casa. Isso eu aprendi com eles e fui
muito bem tratada conseguindo me recuperar completamente para continuar a
jornada com eles durante muitos anos. Sou muito agradecida por tudo o que
assimilei naquela existência.
Virgínia
01/10/23
---Paula Alves----
“Tenha gratidão por tudo o que te ensinaram e se lembra que, no mundo, as pessoas vão exigir da gente, mas na família, muitas pessoas vão te apoiar e te amar da forma que você é. Isso é o que vale!”
Eu me lembro perfeitamente de quando era criança. É engraçado porque não
me lembro tanto das coisas que aconteceram nos últimos anos, mas me recordo
claramente de quando era criança.
Acho que foi porque naquela época eu era feliz. Tinha tudo a meu favor.
Pais, irmãos e avós. Todos me cobriam de afetos e delicadezas, eu tinha tudo o
que uma criança podia desejar.
Os anos passaram rápidos, enquanto cantávamos ao redor da fogueira. O
avô pegava o violão e cantávamos, enquanto a batata doce tostava. Uns corriam,
brincavam traquinas, outros dormiam nos colos das tias, mas eu gostava muito de
cantar e cantava feliz com meu avô.
A música na roça... A gente tinha talento natural. Cantava com voz de
rouxinol e era aplaudido pelo povo que trabalhava na fazenda. Meu vô podia ter
sido artista se tivesse nascido em outro lugar, numa outra época ou se fosse da
vontade de Deus (risos). Mas, ele era homem da lavoura, mãos calejadas, pele
bem queimada do sol e eu parecia muito com o vô, até gostava das mesmas coisas.
Diz que os Espíritos se atraem por afinidade, verdade. A gente tinha muita
coisa em comum.
Eu sofri muito naquele ano em que o vô caiu do cavalo e quebrou a perna.
A gente achava que ele podia se recuperar, mas deu uma complicação. Apesar, do
meu avô ser um homem forte, ele não aguentou e eu sofri demais. Aquele homem
era minha fortaleza e eu nem sabia.
A gente percebe muita coisa quando as pessoas partem, nem se dá conta,
do quanto são indispensáveis para nós.
Depois disso, a cantoria perdeu até a graça. A gente não queria mais se
reunir, mas parecia que eu ouvia ele cantando dentro da minha
cabeça todo dia. Eu ria sozinho porque lembrava das gracinhas daquele véio.
Tempo passou e eu quis pegar o violão e cantar um pouco pra apagar a dor
da desilusão quando a Mara me deixou. Peguei o violão e lembrei do tempo em que
cantava com o vô. Uns doidos ouviram e quiseram me levar para tocar no bar e eu
fui. Ganhei muito dinheiro, arrebatei muita gente que queria me ouvir cantando.
Mas, eu era um matuto, sem estudo nem nada, cara que trabalhava na roça
e cantava com o coração, com a alma. Muita gente não gostava da minha música
porque dizia que o talento tem que ser lapidado. Eu tinha que ter estudado, mas
eu nunca tive tempo para estudar. Quando tive dinheiro, também não tive tempo
para estudar, eu sempre trabalhei.
As pessoas não entendem o lado da gente, só sabem cobrar. Todo mundo
quer gente perfeita, sempre acham um defeito, tem uns que esculacham por
inveja, outros porque analisam e acham defeitos mesmo. De qualquer forma, não
tem perfeito nesta Terra.
Cada um se vira como pode. Sei que ficou tão difícil viver com aquelas
cobranças que eu decidi que a vida era ruim daquele jeito. Eu preferia
trabalhar na terra, quieto no meu canto, sem sofrer exigência de ninguém.
Lembrei de quando era criança e não precisava provar nada, ninguém exigia.
Criança tem vida boa demais quando recebe amor no lar. “Eu queria poder voltar
naquela época” — pensei.
Mas, não dá. Quando a gente vira adulto, tem que saber entender o que
sente, saber valorizar a pessoa que se tornou, ser grato a Deus por tudo o que
tem e não permitir que as pessoas abusem da nossa boa vontade.
Continuei cantando, mas lembrando das minhas origens. Tentei não me
perder nas facilidades do mundo e quando desencarnei, vítima de problemas
cardíacos, pude reencontrar meu vô. Quanta alegria! O melhor momento do mundo.
Como retornar de viagem e reencontrar um ente querido que deixou muita saudade.
Nem tenho palavras para explicar. Tudo vale a pena para sentir a grandeza deste
momento.
Vive, faz o que a consciência pede para fazer. Trabalha de forma séria,
mas nunca se esquece da criança que você foi. Tenha gratidão por tudo o que te
ensinaram e se lembra que, no mundo, as pessoas vão exigir da gente, mas na
família, muitas pessoas vão te apoiar e te amar da forma que você é. Isso é o
que vale!
Zé Frederico
10/10/23
***
“As pessoas não tinham que justificar o mal, mas se
esforçarem para difundir o bem. Falar do bem, pensar no bem, espalhar o bem na
sociedade”
Chutei o balde e fui embora. Eu tava cansado de ser maltratado. Apanhava
todo dia, era surra de verdade. Se quisesse comer, tinha que trazer comida para
casa. Eu era menino, uns 9 anos.
Cresci na revolta, falando para mim mesmo que um dia ia embora daquela
vida. Eu até via uns meninos indo para escola com os pais. Eu morria de inveja.
Nunca recebi um abraço do meu pai, a mãe tava sempre envolvida com gente que
não prestava para nada. Eu morria de vergonha. Não queria que ninguém soubesse
que eu era filho deles.
Acho que as crianças tinham que ser bem tratadas, mas tem muita criança
como eu, abusada, humilhada, que sofre crueldade de todo tipo. Tem uns
hipócritas que falam que é da Lei do Retorno. Gente que abusou na outra vida e
volta para pagar o mal que fez. Acho muita maldade ficar falando assim, como se
isso, apagasse o mal que se alastra pela infância. As pessoas não tinham que
justificar o mal, mas se esforçarem para difundir o bem. Falar do bem, pensar
no bem, espalhar o bem na sociedade.
Impedir a impunidade, a crueldade, as torturas que as crianças sofrem
nos lares e em todos os núcleos sociais. Criança tinha que ser protegida, bem
orientada e conduzida por todos. Será que nunca pararam para pensar que a
criança bem cuidada é adulto consciente e reformado?
Cuidar da infância é preparar o futuro. Dar base para o progresso e bem-estar
social.
Mas, eu não tive escolha. Saí de casa com doze anos. Deus cuidou de mim,
encontrei emprego e um local onde pude morar. Os anos passaram, no meu caminho,
sempre tive anjos que me estenderam as mãos e encaminharam no bem. Eu consegui
estudar e me formei professor.
Apesar da triste infância que tive, aproveitei minhas lembranças para a
integração de crianças e jovens, eu sempre me vi em muitos deles e decidi
ajudar. Promover a saúde, educação e projetos sociais que pudessem encaminhar
os jovens. Este foi o meu compromisso. Eu entendi o objetivo de Deus na minha
vida. Ele desejou que eu tivesse conhecimento de causa para cuidar daqueles
jovens.
Eu precisei nascer naquele lar, com aqueles pais negligentes e
agressivos para sentir na pele o que muitas crianças e jovens passam neste Brasil.
Aprendi pela dor e constrangimento, senti falta do básico, afeto e alimento.
Compreendi onde devia atuar e me esforcei todos os dias da minha vida para
ajuda-los.
Nunca me esqueci da criança que fui. Aquela criança me deu forças para
lutar por outras crianças e isso foi importante para meu crescimento pessoal.
Nós temos que resgatar a criança que habita em nós. A criança que está
aprisionada na dor, abandono, maus tratos. Esta criança pode fazer muito pelo
mundo onde vive, em nome de Jesus.
Wiliam
10/10/23
***
“O pão espiritual é tão importante quanto aquele que alimenta o corpo”
Meu marido sempre esteve ausente neste sentido. Ele não foi um pai ruim,
nunca nos faltou nada, materialmente falando, comida, roupas e o estudo foi
algo imprescindível em nossa casa, mas ele foi negligente em relação a atenção,
afeto e espiritualidade.
Eu que me preocupava com eles em todos os sentidos. O pão espiritual é
tão importante quanto aquele que alimenta o corpo. Eu não me descuidava dos
olhares de cada um, dos sorrisos e tentava suprir toda necessidade afetiva.
Conversava, ouvia cada um deles e incentivava do meu jeito, orientava da forma
que eu achava mais correto.
Mas, eu tinha tantos defeitos, eu ficava confusa sobre a posição que
devia assumir, à medida que cresciam e precisavam de conselhos mais sábios,
então, eu orava. Eu pedia a Deus que me conduzisse como uma boa mãe para que eu
pudesse encorajar meus filhos e não permitisse que eles se desviassem dos Seus
caminhos.
Se não fosse o Evangelho do Mestre, eu não saberia como fazer. Desde
pequenina, a criança deve ter contato com o Evangelho. Nós não podemos afastar
as crianças do seu convívio. Os pequeninos devem descobrir Jesus por intermédio
de seus genitores ou tutores, no lar. Abrir o Evangelho e ler as passagens para
que compreendam quem é o Filho Unigênito de Deus.
Depois, devem ser conduzidos ao local religioso do seu coração. Os pais
devem levar as crianças até Jesus, pois ele pediu: “Deixai vir a mim as
criancinhas e não as impeçam porque delas é o Reino dos Céus”.
Ninguém pode impedir que um ser, num novo recomeço, reconheça Jesus como
a Luz do mundo.
No meio de tantas tribulações e dores, uma pessoa não consegue reagir
sem a Luz de Jesus. São muitos desvarios no mundo, guerras, sofrimentos de
todos os matizes e o ser precisa compreender que Deus Pai nos vê e deseja a
nossa felicidade. Mas, precisamos estar ligados à espiritualidade e quem mostra
este caminho é Jesus.
O pai sábio e amoroso, a mãe dedicada e amorosa, conduz seus filhos à
Jesus para que ele os abençoe e ensine a forma apropriada de amar a Deus e ao
próximo.
Meu esposo achava bobagem tudo o que estou mencionando, ele nunca nos
acompanhou até a igreja, mas eu frequentei a igreja com todos os nossos filhos
e ensinei a orar, a respeitar o Pai e o Filho, ensinei a se sentir amado e
apoiado pela espiritualidade, se estivesse cumprindo com os seus deveres e
propagando o bem do jeito que Jesus nos pede, com caridade.
Achava que eles iam obrigados para a igreja, mas aprendi que eles se
sentiam acolhidos naquele local de oração. Cresceram como pessoas de bem, muito
dedicados ao auxílio dos semelhantes, muito honrados e zelosos pela família. Eu
não tenho palavras para agradecer ao Senhor Deus que nos concedeu Jesus para
explicar tudo o que devemos fazer para sermos pessoas melhores.
Foi fácil educar meus filhos com o Evangelho. Eu fui uma mãe amada e
recebi deles o amor mais fraternal que poderia existir. Gratidão.
Maria Ester
14/10/23
***
“Vamos orar, mãe. Deus sempre ouve o apelo dos aflitos”.
Eu não tinha tempo para igrejas. Minha vida sempre foi um sufoco, correria para arrumar trabalho, eu fazia bico de tudo o que você puder imaginar, até como pedreira trabalhei, levantando parede, mexendo massa, serviço pesado, mas eu assumi para encher a barriga deles.
O pai foi uma desgraça na minha vida. Só serviu para fazer filhos e
morreu. Eu fiquei só e amargurada. Não dava para pensar em felicidade com uma
vida daquelas. Sei que, no fundo, eu estava cheia de revolta. Eu me revoltei
contra Deus por ter levado o pai dos meus filhos cedo demais. Eu não tinha
pensado que havia um motivo para tudo aquilo acontecer com a gente. Nunca podia
crer que poderia estar sendo beneficiada.
Até porque aquele homem nunca teve juízo, ele acabaria me dando mais dor
de cabeça, mas com aquela morte, ele virou quase um santo para mim. Todas as
dificuldades que vinham para a minha casa, eu pensava que, se ele estivesse ali,
tudo estaria melhor. Coisa nenhuma, viciado, sem a menor responsabilidade,
claro que ficaria cada vez pior, mas eu me revoltei.
Meus filhos ainda eram pequenos quando me viram chorando, desesperada
porque a dona da casa falou de despejo. Eu me entreguei para o desânimo, estava
tão cansada e precisava dar um jeito para não pararmos na rua, então, me
entreguei às lágrimas e eles viram a mãe chorando. Uma das meninas me abraçou e
disse: “Chora mãe que faz bem para o coração”.
Dois deles também se entregaram aos prantos, desabaram a chorar porque
ficaram infelizes com meu estado deprimente. Mas, houve um garotinho de olhos
bem arredondados como os do pai, ele foi sábio, pegou minha mão e disse: “Vamos
orar, mãe. Deus sempre ouve o apelo dos aflitos”.
Eu parei de chorar na hora e pensei: “Quem é você e o que fez com o meu
filho?”
Eu me espantei porque na minha casa nunca falamos de oração. Ele não
aprendeu isso na minha casa, mas ele segurou minha mão e tentou orar um Pai
Nosso, tadinho, confundiu tudo, mas eu me acalmei e achei tudo aquilo incrível,
eu adorei e me entreguei aos cuidados do Pai naquele dia. Depois, mais calma,
perguntei quem havia ensinado aquilo pra ele e soube que a professora falou de
oração. Aquela mulher que eu via de longe, ensinou o recurso mais admirável ao
meu filho, falou sobre fé.
Eu aproveitei aquele momento para fazer as pazes com Deus, voltei a orar
e pedi ajuda para não irmos para a rua.
No outro dia, eu arrumei emprego com carteira assinada e a dona da casa
me deu um prazo maior para organizarmos a vida, dali em diante nossa vida foi
melhorando e tudo foi suportável. Sei que a mudança se operou primeiramente na
minha alma renovada pelo amor de Deus.
Compreendi o quanto necessitávamos de amparo espiritual e levei todos os
meus filhos para a igreja. Eu entendi que todos têm o dever de conduzir as
massas à Deus.
Aquela professora nos salvou porque falou de Deus para o meu filhinho.
Todas as pessoas que se envolvem com crianças deviam se lembrar de Jesus com os
pequeninos. Através das crianças, podemos salvar famílias inteiras, mas o
recurso é Jesus.
Os pequeninos devem ser estimulados a orar e a pensar no Criador com
gratidão. Esta é a única maneira de transformar o mundo e colocar amor nos
corações humanos.
De outra forma, estaremos sempre atormentados pelas ruinas sociais. Mas,
apoiando a infância e a juventude com fé, esperança e fraternidade podemos ser
mais felizes.
Lorena
14/10/23
“Desejo que todos possam se alimentar da Palavra que
fortalece, vivifica e anima”
Eu sentia uma forte inclinação para ler aquele Livro Sagrado. Eu queria
entender o que aquelas palavras diziam, mas tudo parecia tão difícil. Então,
recorri a religião do meu avô, mas eles eram muito intransigentes e eu não
conseguia dialogar com eles. Tudo era pecado e eu vivia numa época em que
estávamos desejando sair da repressão.
Eu sai da igreja porque não me adequei a maneira como as pessoas se
posicionavam. Eu não achava correto que uns tivessem que ser menosprezados ou
desprezados como uma forma de discriminação. Cada um tinha direito de ser
ouvido, mas eles deduziam e os membros da igreja deviam receber a punição. Eu
não gostei e sai de lá.
Peregrinei nos caminhos da vida, trabalhei, estudei e tentei compreender
aquele Livro Sagrado. Frequentei muitas religiões com o intuito de que alguma
pudesse me esclarecer. Eu não queria dogmas, mas certezas, encontrar algo que
me desse alegria de viver, contentamento, esperança. Eu precisava acreditar que
existia um motivo para estarmos aqui sofrendo todas estas dores.
Em vida, eu nunca encontrei, em parte alguma, um local que me
esclarecesse e desencarnei com um sentimento de vazio. Peregrinei porque não
tinha motivos para achar que podia ser melhor, ficar num local diferente e
cheio de paz. Mas, num determinado dia, cheguei naquele salão onde todos
estavam sendo auxiliados. Pessoas de todos os tipos sendo tratadas com
delicadeza e compaixão. Estavam machucados, condoídos, eram viciados e cruéis,
todos sendo bem atendidos dentro de suas necessidades.
Eu me questionei que lugar era aquele. Recebi uma sopa e higiene. Eles
entraram para o estudo com outros tantos que eram um pouco diferentes de nós
porque eles, ainda estavam no corpo. Eu ouvi a leitura do Livro Sagrado e
também ouvi a explicação. Eu entendi e consegui me nutrir com a Palavra e foi
estonteante. Era tudo o que eu queria. Eu queria absorver o alimento espiritual,
fiquei tão feliz.
Quando me perguntaram o que eu desejava, não pensei duas vezes, eu
queria aprender, receber instruções sobre o Evangelho. Me senti como uma
criança que descobre a leitura, fiquei fascinado. Jesus chamou a si a infância
intelectual. Queria que todos fossem até ele com a simplicidade e humildade das
crianças. Mas, eu era como tantas almas que vagam por aí, eu era fraco,
viciado, infeliz. Eu precisava de tudo o que Jesus podia acrescentar em minha
vida. Quando me deparei com a luz de Jesus naquele local, proveniente de seus
ensinamentos, minha vida mudou e eu me entreguei a ele.
Desejo que todos possam se alimentar da Palavra que fortalece, vivifica
e anima.
Pedro
14/10/23
“O Evangelho nos faz rever os conceitos e caminhar para a paz de consciência e luz no coração”
Levou tempo para que eu pudesse encontra-los. Percorri céu e terra para
achar depois de centenas de anos. Ele foi e eu fiquei com toda aquela tragédia.
Não dava para esquecer e eu queria me vingar. Eles agiram como traiçoeiros.
Ele, meu amigo, ela era minha esposa, mãe dos meus filhos.
Armaram uma cilada e me internaram como louco, ficaram com todos os meus
bens, juntos. Eu morri sozinho e desacreditado. Morri com ódio, cheio de
revolta, desejando encontra-los e me vingar deles, mesmo que levasse uma
eternidade para acontecer.
Depois de vagar e padecer por conta da minha ira, passaram-se muitos e
muitos anos, mas eu senti quando regressaram, eles já estavam juntos novamente,
isso foi pior para mim, ver que estavam juntos, felizes, levando uma vida
simples de família, com filhos e cachorro.
Eu me enfureci e decidi acabar com aquela alegria desmedida. Por isso,
me infiltrei no lar e enviei fluidos nocivos para todos. Mas, eu não pensei que
estavam tão modificados. Eu sabia que eram eles, mas os pensamentos eram
diferentes, as inclinações eram outras e os propósitos tinham enobrecimento, eu
fiquei confuso.
Ouvi o quanto se lamentavam de algo feito no passado, quando estavam
desdobrados, nos encontrávamos e eles me pediam perdão, mas eu não podia
aceitar. Eu atormentei e atrapalhei os relacionamentos, mas eles oraram.
Oraram no lar com a família e pediram que Deus pudesse ajudar todos os
infelizes e solicitaram ajuda de Jesus. Eu vi luz no lar, eu senti algo
indescritível que me fez sentir sono e certa leveza. Eu chorei e me lembrei da
mãe. Lembrei da genitora de outros tempos que me ensinou o Pai Nosso. Ela me
amou de verdade, sempre fez tudo por mim, eu fiquei com saudades e chorei.
No fundo, todos nós queremos ser amados. Eu percebi que estavam
modificados da forma que oraram, eu senti sinceridade e precisei deixar a
vingança de lado para seguir em paz. Foi aí que vi minha mãe sorrindo e abrindo
os braços. Desde então, estou aqui para me tratar. Eu não quero mais me lembrar
de tudo o que me faz sofrer. Eu preciso progredir e deixar que vivam suas
vidas. Fazer o que é melhor para mim. Assim, o Evangelho nos faz rever os
conceitos e caminhar para a paz de consciência e luz no coração.
Celso
14/10/23
***
“Os problemas continuam os mesmos, mas se sentir amparado faz toda a diferença”
Se neste momento, existem pessoas sofrendo de variadas formas, eu sou
grata pela vida que tive. Sempre me questionei dos motivos pelos quais, eu não
tive que sofrer em demasia porque eu me compadecia pelo sofrimento dos demais.
Existem muitos que sofrem na mais tenra idade e os pais também sofrem.
Eles se questionam dos motivos pelos quais passam por tantos infortúnios e se
perguntam se um dia serão felizes, conseguirão dormir em paz.
Outros, aproveitam a vida, sem grandes preocupações, até o momento em
que o desespero toma conta de seus corações. Não conseguem ter esperança e se
afligem no meio das tormentas da vida. Enfermidades e queda financeira, filhos
problemáticos que usam drogas, enfim, todo tipo de coisa que parece não ter
fim.
Eu nunca passei por nada disso e, mesmo assim, sofri diante do mundo. Os
padecimentos sociais e as grandes crises que me fizeram compreender o quanto o
ser humano precisa olhar para o céu e saber que não é o centro do Universo.
Falta amor entre os homens, falta crer num poder superior à Humanidade, poder
que pode controlar tudo.
Vivi observando como figurante, alguém que quase ninguém vê. Eu batia os
bolos e sabia que aquela vida não seria lembrada por ninguém, mas eu vivi,
cuidei da minha família e tentei me fazer presente na vida de quem sofria.
Depois que eu vendia os bolos, logo de manhãzinha para aqueles que corriam
atrás dos trens, eu me dirigia ao asilo num dia, ao hospital no outro dia, ao
orfanato no outro dia. Eu me encaminhava para locais onde o sofrimento é grande
demais.
Eu sabia que, nestes lugares, eu podia ser útil porque sempre tinha
alguém querendo conversar e isso eu podia fazer, eu podia servir um pedaço de
bolo e consolar.
Foi o que fiz após ter criado meus filhos e ajudado na criação de alguns
netos. Eu vendia bolos e doava pedaços de bolo para ajudar os corações
despedaçados. Eu amei fazer isso. Ouvi muitas histórias incríveis, aprendi com
casos reais, chorei com eles, aprendi a falar coisas bonitas que tirei sei lá
de onde, a espiritualidade que me usava, com certeza.
Na minha jornada, já tive momentos de grande pesar. Foram situações
horríveis onde perdi filhos e marido em acidentes. Tive comprometimentos de
saúde que me impossibilitaram de executar as funções básicas, fiquei na
miséria, na rua da amargura, fui abandonada, enfim, tive muitas provações nas
diversas existências, eu sofri deveras e sempre senti falta de um ombro amigo,
alguém com quem pudesse contar.
As pessoas que nos apoiam não tiram o peso da cruz e nem poderiam fazer
isso, mas tornam a caminhada mais tranquila. Os problemas continuam os mesmos,
mas se sentir amparado faz toda a diferença. Por isso, eu quis estar nos locais
onde as pessoas parecem desamparadas. Eu queria continuar como figurante, mas
ajudar o protagonista a sorrir um pouco, a chorar com um abraço.
Todos podem ajudar, basta querer. Tem muita coisa para fazer, mas
precisamos sair do conforto e comodismo, olhar para o lado, sermos mais
indulgentes e amorosos para que as pessoas possam ser beneficiadas por nossos
cuidados. Com isso, todos ganham, evolui muito, ajudando os demais. Sou grata
por ser instrumento da espiritualidade superior.
Tânia
15/10/23
***
“O amor não pode ser um elo doentio onde as pessoas
se aprisionam em vida ou depois da morte”
Eu não quis me separar dela. Foram décadas convivendo juntos naquele
casamento e eu me revoltei quando desencarnei tão jovem. Ela não tinha o
direito de se envolver novamente. O casamento é para a vida toda. Muita
ingratidão daquela desalmada, se envolver com outro homem, dois anos depois do
meu desencarne.
Eu fiquei ali, na nossa antiga casa. Eu precisava saber quais eram as
intenções dele. Eu estava protegendo a minha família, afinal eu tive filhos com
ela. Como seria o contato dele com meus filhos? Eu não podia permitir que ele
fizesse mal a eles.
Fiquei ali e tive horror de ver aquele homem abraçando a mulher que
escolhi para passar o resto da minha vida. Eu me enfureci e tentei empurrá-lo
da escada. Na hora, não raciocinei. Eu achei que pudesse causar um estrago terrível
e queria afastá-lo do meu lar.
Aquela casa estava sendo vigiada, mas eu não sabia. Apareceram alguns
Espíritos iluminados no local. Eles tentavam me esclarecer, diziam que eu não
podia ficar naquela situação, tentando interferir na vida dos encarnados. Eu
devia seguir adiante, ir para o local que acolhe os que desencarnam, lá eu
podia ser cuidado, orientado e tinha muitas coisas que eu podia fazer como
estudar e trabalhar, dando continuidade à vida eterna.
Mas, eu achei tudo aquilo um absurdo, eu não tinha interesse de sair da
minha casa para fazer coisa alguma. Recusei o auxílio, foi a pior coisa que
fiz. Todos nós ficamos ligados. Eles sofriam, eu sofria. Ficamos daquele jeito,
até que ele se cansou dela e partiu. Mas, ela sofreu a distância dele e ouvi os
lamentos dela.
Eu fiquei compadecido porque ela disse que temia a solidão e a vida
parecia não desejar que ela tivesse alguém para apoiá-la. Ela se lembrou de mim
com saudade e disse que ninguém, jamais, seria como eu, o grande amor de sua
vida. Ela se lembrou de momentos maravilhosos da nossa vida e eu senti que
estava fazendo aquela mulher doce sofrer porque estava sendo possessivo, então,
decidi partir.
O amor não pode ser um elo doentio onde as pessoas se aprisionam em vida
ou depois da morte. O amor liberta, permite o avanço e as conquistas do outro,
mesmo que isso signifique o afastamento. Eu a abracei e desejei o socorro que
me ofertaram. Desde então, estou aqui.
Eu queria ter compreensão dos motivos, por que eu tinha que sair de lá
tão cedo, deixar meus familiares quando estávamos vivendo tão bem e felizes.
Eu lembrei: em outra existência eu não quis compromisso, eu recusei
ficar com ela e meu filho porque fui ambicioso e negligente, eu fugi das minhas
obrigações e me entreguei a vida boêmia.
Nesta programação, eu precisei sentir na pele como é desejar ficar com
alguém sem ter permissão. Eu sabia que isso iria acontecer, participei do
planejamento, mas quando se está encarnado, esquecemos de tudo e a revolta toma
conta de nós. Eu não acreditaria de pronto, fui eu que propus tudo isso.
Por isso, devemos ter paciência, sermos resignados diante dos momentos
difíceis da vida e da morte porque Deus permite o que é melhor para nosso
desenvolvimento. Além disso, nada dura tanto, são momentos, breves momentos que
passam. Vale a pena suportar com o pensamento de que tudo passará e ficará,
apenas a lembrança.
Ivan
15/10/23
***
“Elas tinham que saber que podemos nos curar
dependendo da postura mental”
O pior foi ver meu cabelo caindo. Eu nem sabia que era tão vaidosa. Eu
não me achava vaidosa porque era jovem, saudável e bonita. Nestas circunstâncias,
tudo o que vestimos fica bem, todo os olhares são nossos, olhares de admiração.
Eu não precisava me constranger.
Mas, quando comecei o tratamento, tudo mudou. Eu tinha medo de passar
mal em lugares públicos, por isso, não saia, a não ser para ir ao hospital. Sem
meus cabelos, parecia que eu era um monstro, fiquei tão feia e assustadora.
Todos perguntavam o que eu tinha. Todos tão indiscretos. Por que as pessoas
fazem isso? Não conseguem disfarçar e acham que sabem de tudo, falam tolices e
não percebem o quanto magoam. Eu preferia que fingissem não me ver.
Emagreci muito porque não conseguia me alimentar e ficava pensando nos
dias em que fiz dieta, evitando comer uma coisa muito gostosa para não
engordar, mas com a doença, eu não conseguia comer nada, colocava tudo para
fora.
Fiquei muito debilitada e me questionei o que tinha feito de errado para
atrair aquela situação. Não é a doença em si, mas o que vem com a doença. As
pessoas que aparecem por causa dela como os profissionais que cuidam de você.
São as virtudes que você desenvolve diante do seu sofrimento. As mazelas morais
que você elimina porque se depara com muitas outras pessoas que sofrem tanto
quanto você. Tudo é muito favorável, ainda mais, quando você para de ter pena
de si mesmo e aproveita para abrir os olhos e compreender os pontos de
elevação, apesar da dor.
Eu tinha tempo para pensar na vida, enquanto fazia a quimioterapia e
pude refletir melhor. Eu queira sair da fase da revolta para me beneficiar do
aprendizado e, assim, eu sorri mesmo nos dias de enjoo e dor, eu aproveitei ao
máximo o contato com meus familiares e amigos, eu usei as roupas e maquiagens
do jeito que eu queria, sem regras, sem vergonha, eu queria ser feliz naquele
dia porque eu não sabia quantos dias eu tinha para viver.
Com isso, minha mente ficou tão desperta, tão lógica e feliz, apesar de
tudo, eu estava feliz, grata por mais uma ocasião e não notei como estava
ficando saudável. Eu me curei, eu reverti toda culpa e necessidade de
sofrimento, eu me curei.
Fiz visitas e conversei muito. Eu queria apoiar as mulheres que tinham
câncer de mama. Elas precisavam saber que Deus tem um plano para nós. Elas
tinham que saber que podemos nos curar dependendo da postura mental. Eu levei
esperança e otimismo. Gostei muito dos planos de Deus na minha vida, me tornei
serva do Senhor. A doença me tornou uma pessoa muito melhor.
Pamela
15/10/23
***
“A primeira coisa a fazer é esclarecer quem está na carne e ainda tem tempo para se cuidar”
Era mais forte do que eu, uma prostração e vontade de não fazer nada. Eu
percebi que estava doente, mas não devia ser nada grave, então, não alarmei
ninguém. Fiz o possível para não modificar minha rotina e continuar
trabalhando, afinal, eu tinha que cuidar da minha família, ajudando o meu
esposo.
A gente tinha um objetivo, construir nossa casa própria. Então, tínhamos
que trabalhar duro. Eu nunca fui manhosa, por isso, precisava me esforçar. Mas,
o desmaio não demorou para chegar. Meu esposo ficou preocupado e solicitou os
exames que me deixaram na lona.
O câncer estava muito invasivo, não tinha como tratar. Mas, como assim?
Não tem tratamento? Naquela época, sem tratamento médico?
Fiquei arrasada. Nem parecia verdade porque eu não imaginava que estava
partindo. Acho que foi muita negligência da minha parte. Devia ter ido ao
médico, devia ter feito exames, reclamado, não ter deixado para outro dia o que
era tão importante.
O bem mais precioso do encarnado é a saúde do corpo físico. O corpo deve
ser cuidado com exames profiláticos, cuidados básicos e indispensáveis que
assegurem chegar no tempo adequado para retornar à pátria para que, deste modo,
possa cumprir tudo aquilo que está no planejamento. Mas, muitos de nós, ignoram
a assistência de saúde.
Foi uma prova e falhei. Existem provas que, se falhamos, são
irreversíveis. Não tem o que fazer. Eu deixei que alastrasse e não tinha como
tratar. Chorei tanto, me desesperei. Foi o fim, mas eu estou aqui para
recomeçar. A primeira coisa a fazer é esclarecer quem está na carne e ainda tem
tempo para se cuidar.
Se cuidar com amor, sem exageros ou neuras, mas cuidar-se com
delicadeza. Fazer o que for preciso para poder caminhar no mundo e interagir
com os demais. Eu vou recomeçar.
Luciane
15/10/23
**
A aflição era grande demais, eu não queria estar ali. Me
lembrei de bons tempos, onde eu sorria faceira com meus pais, num local tão
pacato, o fim do mundo, o meio do mato, onde se sente o cheiro do barro e ouve
o cantar dos pássaros.
Eu via o pôr do sol e andava nos cavalos, tirava leite de
vaca e tinha meus pais comigo. Mas, a ambição nos move para locais cheios de
tormentas. Por que desejamos sempre mais? Por que não podemos nos sentir
felizes com a vida que Deus nos dá?
Eu podia ter seguido a vida que meus pais traçaram para mim,
me casado com o veterinário e tocado o negócio da roça, eu devia ter tido
filhos com ele. Devia ter envelhecido naquela casa da fazenda.
Mas, eu achava que aquilo era vida medíocre. Eu critiquei
minha mãe. Falei que desejava ser mulher independente e cheia de
possibilidades.
Me envolvi com pessoas erradas e dei as costas para os
genitores que tanto me amavam. Foi tão fácil me enganar...
Quando eles me enviaram para outro país para satisfazer
os homens que podiam pagar por diversão, eu era apenas uma menina querendo ser
mulher de sucesso. Virei joguete nas mãos dos homens e me arrependi imensamente
por causa da minha ingenuidade e falta de discernimento.
Os pais amorosos sempre querem o melhor para seus filhos.
Muitos, não os ouvem, achando que não sabem nada da vida, julgando e
desacreditando seus pais. Fazem tolices que são irreparáveis e sofrem com as
consequências de seus erros. Foi um absurdo!
Não tenho palavras para descrever meu padecimento e o
tamanho da humilhação que vivi. Sofri com fome e frio, adquiri uma doença que
me deixou definhar, daí perdi a serventia e me jogaram na sarjeta. Nunca houve
condição de retornar para minha pátria, eu nem mesmo, sabia falar aquela língua
estrangeira.
Sair do Brasil? Para quê? Bom mesmo é viver na pátria
abençoada que Deus nos situou. É falar nosso dialeto, viver dos nossos costumes
e saber onde pisa.
Ter gratidão pelo que se tem. Observar todas as
possibilidades de progresso no mundo onde você vive. Todos podem prosperar e
aprender no local onde está situado. Mas, eu era gananciosa e aventureira.
Simplesmente, deixei tudo para trás como tantas mocinhas
que seguem deixando familiares que se preocupam com elas. Muitas, fogem. Se
enganam os familiares que pensam que foram arrancadas de seus lares, elas se
iludem e vão com as próprias pernas. Se entregam às viagens que as conduzem
para muito longe dos lares e quando percebem, já estão sendo agredidas física,
moral e psiquicamente.
É caminho sem volta!
Educação e afeto. As famílias devem blindar com
instruções e realidade. Os jovens precisam aprender a andar com as próprias
pernas sem se colocarem em situações de risco que podem tirar suas vidas.
Eu jamais vou esquecer da agradável sensação de estar no
lar paternal. Se pudesse, voltaria no tempo para sentir o cheiro do café da
minha mãe e ouvir meu pai ralhando comigo. Tê-los por perto na certeza de que
eu era protegida por eles. Isso não tem preço.
Quem tem família, aproveite todos os momentos.
Lidiane
21/10/23
“Nós precisamos de um lugar melhor para viver”
Eu fugia porque ela me tratava como criança. Eu era
ridicularizado por meus amigos. Todos podiam sair e aproveitar a noite, menos
eu, então, comecei a mentir.
Ela nem sabia com quem eu andava. Eu ia dormir e fingia
que estava em casa, mas saia escondido. Preferi agir assim, para não ter briga
em casa. Também não queria que ela ficasse preocupada.
Eu sabia do amor que ela sentia por mim, ela era tão
preocupada. Tinha pavor de imaginar que algo pudesse acontecer comigo. Ela foi
destas mães super protetoras.
Eu me pergunto se realmente tinha sexto sentido porque
ela parecia estar adivinhando que alguma coisa aconteceria comigo.
Mas, eu não podia imaginar, só queria me divertir como
todos os jovens normais. Eu queria fazer o que eles faziam, fumar e paquerar as
mulheres.
Não achei que tinha perigo, mas apareceram uns homens,
eles eram distintos e nunca transpareceram que eram cruéis. Eles disseram que
dariam uma festa e nos convidaram. Nós fomos muito tolos e fomos alegres.
Foi tudo muito rápido! No mundo tem de tudo. Tudo o que a
imaginação pode prever. Alguém precisava de órgão. Tudo tem seu preço na face
da Terra.
Minha mãe ficou muitos anos me procurando. Nunca
descobriu uma pista. A coitada quase morreu de susto quando me procurou no
quarto e não me achou. Ela não tinha explicação para o meu sumiço. Ela morreu
sem saber o que aconteceu comigo e vivenciou a prova mais dolorida da sua vida
porque não pode enterrar seu filho inconsequente. Ela nunca perdeu a esperança
de me encontrar.
Mesmo depois de tantos anos, ela ainda esperava por mim.
No fundo, achava que eu tinha fugido e que voltaria.
Isso é muito pior do que ter a certeza da morte de alguém
porque você nem sabe se deve chorar, vive fora da realidade.
Ela me esperou. O meu desencarne foi tão violento que eu
me revoltei, fui para casa, fiquei ao lado dela cheio de remorso e
arrependimento.
Por que eu não fiz o que ela queria? Por que eu não fui
um bom filho e estaria vivo? Será?
Não, eu tinha minhas provas para superar e fracassei.
Deus sabia o que se passava dentro de mim. Mas, eu queria viver. Acho que
minhas motivações foram inconsequentes, mas eu era como tantos jovens que
existem por aí.
Nós precisamos de um lugar melhor para viver. Eu tenho
medo de reencarnar.
Renê
21/10/23
Eu me apaixonei pela forma como ele escrevia. Do jeito
que colocava aquelas músicas e me bajulava. Parecia um rapaz encantador e eu
era tão romântica e sonhadora.
Minhas amigas disseram para não falar muito da minha
vida. Elas falaram que podia ser perigoso porque cada um fala o que quer nas
redes sociais. Cada um se mostra como deseja e não temos como saber se as
informações são verídicas, mas eu me deixei levar.
Quando dei por mim, estava profundamente apaixonada e
podia fazer qualquer loucura para ficar com ele, então, quando ele desejou
marcar um encontro, eu já estava sonhando com isso. Não pensei em ir
acompanhada. Também não achei estranho quando ele me pediu segredo.
Sempre fui sincera, mandei minha foto, endereço, ele
sabia de tudo, minha vida toda entregue para um estranho. Meus pais nem
sonhavam.
Os pais me deixavam a vontade no computador como se eu
estivesse sempre envolvida com os deveres escolares. Imagina, qual é o jovem
que passa tanto tempo fazendo lição de casa, satisfeito com isso?
Eu estava tão feliz. Inventei uma mentira para mãe e sai.
Mudei de roupa no metrô e fiquei à espera de um rapaz da minha idade. Me
surpreendi quando, diante de mim, apareceram dois homens de meia idade. Eles me
intimidaram e conduziram para um local que eu não sabia reconhecer.
Tive muito medo. Eu rogava a Deus que aparecesse um
socorro para me tirar daquela situação, mas este socorro não chegou.
Eu me arrependi amargamente. Muitas moças passam por
situações semelhantes. Chego a pensar que existem guerras em toda parte.
Guerras de consciência, de intimidação, sociais, sexuais, partidárias. Enfim,
todos dizem ter motivos, mas a guerra, a violência só gera sofrimento e dor. Qualquer
um pode dizer que eu fui culpada porque fui imprudente e menti para os meus
pais. Mas, nós não podemos esquecer do mal. Permitir que o mal fique impune.
Permitir que a vítima se torne um criminoso nesta sociedade que virou de pernas
para o ar.
Eu os persegui. Virei obsessora dos meus próprios
algozes. Chorei e desejei voltar no tempo. Levou uma eternidade para que fosse
resgatada, mas hoje estou bem.
Diálogo nos lares. Precisamos conversar. Reconhecer os
familiares para impedir que o mal ultrapasse os portões de nossas casas.
Ter tempo para perceber o familiar e orientar no caminho
do bem é imprescindível para o bem-estar de todos.
Giovana
21/10/23
Eu não vi maldade naquele passeio. Era tão normal viver
as emoções naquele parque.
Meus pais apoiaram porque disseram que eu era jovem e
precisava me divertir. Então, convidei algumas amigas e partimos alegres.
Eu senti um frio na espinha, mas achei que era um medo
natural por causa da altura do brinquedo. Quando entrei ali, parecia que eu
estava deixando alguma coisa muito importante para trás. Acho que foi intuição.
Não demorou muito, mas para mim, fiquei em pânico por
horas. Eu sabia que ia morrer. Eu senti e comecei a chorar. Dá para sentir como
inevitável. A gente consegue prever e se arrepende de muitas coisas que fez e
também do que não fez. Daí o amor pela vida fica enorme, descomunal.
Eu queria viver com todas as minhas forças. Me lembrei
dos meus pais e queria voltar no tempo, na época em que eu ia dormir na cama
deles. Eu ficava no meio e sentia o calor dos corpos me protegendo, o cheirinho
dos meus pais era maravilhoso. Eu lembrei deles com tanta força que minha mãe
pode sentir minha angústia.
Mas, foi rápido e quando o brinquedo caiu, eu não senti o
impacto. A espiritualidade foi delicada comigo, me resgatou e eu não senti nada
de ruim. Acordei deste lado, amparada por minha avó materna.
Eu chorei muito porque queria estar na minha casa. Eu não
queria ficar separada dos meus pais. O amor é grande, nós não desejamos a
separação.
Por isso, é muito importante a oração e o pensamento
elevado em coisas boas com sentimentos nobres de gratidão e paz. Nós sofremos a
separação.
Mas, vovó me ajudou e eu superei, compreendendo que
precisava passar por aquele momento difícil para ressarcir diante da Lei Divina.
Ainda por cima, meus pais precisavam enfrentar esta perda para suportar a dor e
a privação do contato com o ser amado. Prova dificílima para os meus genitores.
Eles nunca mais foram os mesmos.
Eu sempre vou amá-los e estou esperando pacientemente até
que possam estar ao meu lado novamente. A certeza de que poderemos nos
reencontrar me enche de alegria. Deus é sábio em tudo o que faz.
Débora
21/10/23
---Paula Alves---
“Existem mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor nossa vã
filosofia...”
Eram muitos transtornos, eu os enxergava por toda parte.
Dava a entender que me perseguiam e que eu jamais estaria livre deles.
Tentei contar para os familiares que começaram a gracejar como se fosse alguma
piada, algo impossível de acontecer. Eu queria uma solução, o que pudesse me
livrar deles.
Respirei fundo e tentei compreender o que estava acontecendo. Eu mantive
o controle e tentei não me desesperar. Ouvi gargalhadas e vi quando um ser
medonho passou correndo por mim, mas ele ria sem parar. Então, eu me contive e
escutei conversas. Eles tentavam me enlouquecer e diziam o quanto a vida era
solitária e triste. Tentavam me convencer de que viver era um inferno do qual
precisamos nos livrar.
Eu entendi o que estavam tentando fazer. Não soube explicar
racionalmente por que aquilo estava acontecendo comigo, mas entendi que estava
realmente sendo perseguido por seres invisíveis.
Loucura! Se tivesse dito a qualquer familiar, tentariam me internar.
Coisa de gente louca acreditar em perseguições espirituais, mas foi o que
aconteceu. Seria interessante se as pessoas não se espantassem tanto e
tentassem fazer por onde se envolverem, apenas com os seres do bem, mas como
isso pode ser possível?
Eu não sabia que eles tinham passe livre em nossa casa pela forma como
vivíamos. Meus pais tinham um bar e nunca se preocuparam com os diversos casos
de homens que perderam grandes somas de dinheiro em jogatinas e bebidas. Se
comprometeram incentivando o vício de muitas pessoas. Eram maledicentes e
cometiam pequenos furtos com seus clientes. Pessoas levianas que ensinaram aos
filhos a maneira mais prática de ganhar dinheiro, enganando as pessoas.
Eles aumentaram o patrimônio, tinham diversos bens, mas eu sentia uma
multidão em nosso lar. Eram os Espíritos malfazejos e perturbadores que me
afligiam sem parar. Mas, por que só eu sentia? Os outros também sentiam algumas
coisas, mas não eram médiuns ostensivos como eu. Sofri tanto...
Até que um dia, ouvi um orador que falava de Espiritismo e me convenci
de muitas coisas que aconteciam comigo e não eram sinônimo de loucura, mas de
mediunidade.
“Existem mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor nossa vã
filosofia...” – dizia ele.
Me pus a estudar os livros da Codificação porque precisava entender o
que acontecia comigo, eu não era louco!
Então, compreendi que depende de nós, os seres que atrairemos,
encarnados e desencarnados. Tudo pela Lei de Afinidade ou Lei de Atração.
Estamos cercados de semelhantes. Eu desejei estar envolvido com seres de luz e
fui à luta pelo meu desenvolvimento, então, procurei um emprego e saí do bar.
Voltei pra escola e conclui meus estudos. Procurei um centro espírita sério e
iniciei cursos e trabalho mediúnico, assim, com estudo, trabalho, disciplina e
trabalho de doação, eu me elevei.
De repente, me dei conta de que a fase era outra. Eu não me sentia tão
mal, eu estava mais leve. A vida continuava a mesma. Eu não pude mudar meus
familiares, continuaram como sempre foram, mas a minha visão sobre tudo, era
muito diferente. Tudo depende da maneira como você enxerga o mundo. Eu me
esforcei e consegui afastar meus perseguidores em decorrência da forma de
pensar e agir. Eu estava me tornando um ser reformado. Tenho muita gratidão
pela forma como tudo se desenrolou. Sei que a espiritualidade permitiu que eu
alcançasse o conhecimento e isso fez com que eu pudesse estar melhor.
JÚLIO
29/10/23
“Feliz daquele que compreendeu na infância o quanto ser bondoso abre as portas da felicidade”
Fiquei tantos anos sofrendo com aquela doença dolorosa que cheguei a
perder a individualidade. Em determinado momento, não me recordava mais da
mulher que fui, tudo estava se apagando porque eu tinha muitas limitações e
precisava de ajuda para as funções mais básicas.
Foi degradante e humilhante necessitar de cuidados por parte de
terceiros e ver o quanto as pessoas se sentiam enojadas por cuidarem de mim.
Por melhores que sejam, deixam transparecer olhares e caretas porque o corpo
humano cheira mal e elimina excrementos de todos os tipos, fétidos e terríveis.
É a melhor maneira de fazer de nós pessoas comuns, humildes, iguais.
Eu tinha tanta dificuldade de aceitar que as pessoas são todas iguais.
Imaginei que só na hora da morte somos todos iguais, mas a doença também gera
esta igualdade. Todos têm as mesmas necessidades físicas e emocionais. Sono,
fome, frio, sede, dor, cansaço ou solidão. Todos choram e sofrem, desejam ter
esperança para recomeçar.
Mas, quando o Parkinson tomou conta de mim e não pude realizar as funções
mais simples, precisei ser delicada para pedir ajuda, ser tolerante com tantas
pessoas, isso mexeu comigo.
Perdi a altivez e o controle dos movimentos. A típica mulher forte e
decidida desmoronou porque não conseguia controlar o próprio corpo, foi uma lição
incrível. De uma forma ou de outra, nós aprendemos. O Pai sempre ensina e eu
aprendi na dor e na ruína do meu ser o quanto precisamos da ajuda de outras
pessoas.
Eu me achava autossuficiente e, por isso, não quis me casar, nem ter
filhos. Era independente e muito feliz com meu trabalho, minha casa, meus
carros, meus cães. Eu nunca imaginei que precisaria ficar nas mãos dos outros.
Não dá para imaginar o que vai acontecer, enquanto somos jovens e
ativos. A vida modifica tudo, o mundo dá voltas e, de repente, de uma hora para
a outra, eu não conseguia nem trabalhar. Foi um marasmo, uma derrota!
Foi, por isso, que aquela mulher se apagou completamente da minha vida.
Por causa da doença, eu me transformei e ela sumiu. Eu tinha medo até de ir ao
banheiro. Não queria estar sozinha ou com estranhos. Teria sido bom se tivesse
uma filha amorosa.
Eu pensei que os filhos fossem me atrapalhar, afinal eles precisam de
muitos cuidados e atenções, são caros e barulhentos. Eu me tornei uma criatura
cheia de tudo isso. Necessitada de cuidados e atenções, cara por conta das
medicações e terapias que precisava realizar pra me manter em pé, ainda mais
barulhenta, chorona e com lamentações.
O tempo na doença é oportuno para reflexões. “O jovem”, “o saudável”, “a
linda”, não imaginam que podem passar por algo semelhante. Quando estão na
melhor fase da vida, vitoriosos, chegam a sapatear nas costas de uns e outros,
mostrando o quanto são importantes ou donos da verdade. Muito se surpreenderiam
se soubessem o que lhes reserva a velhice.
Feliz daquele que compreendeu na infância o quanto ser bondoso abre as
portas da felicidade. Nós trazemos mazelas do passado e um plano eficiente para
colocar provas ou expiações que nos depuram a alma, mas inúmeros, devido as
falhas no presente acabam acionando a Lei para os necessários reajustes, por
causa dos vícios morais.
Eu me perdi de mim e fico satisfeita que isso tenha acontecido em prol
do meu aprimoramento.
Bibinha
29/10/23
“Nós soubemos ultrapassar os obstáculos unidos no
amor e paz. O amor existe e deve ser respeitado”
Eles diziam que eu devia me casar de novo, pois ainda era jovem e
merecia recomeçar minha vida afetiva, mas não era possível.
Ninguém podia substituí-lo. Um marido como aquele, eu jamais podia
colocar outro no lugar, ninguém nunca o superaria. Eu me lembrava dele em todos
os lugares, em quaisquer circunstâncias. Um homem muito especial, honrado e
trabalhador, mas acima de tudo, o meu amigo, companheiro, irmão.
Nós fazíamos tudo junto e superamos muitos conflitos. Familiares,
financeiros, sociais. Não existia o que pudesse nos distanciar ou dificultar
nossa ascensão. Isso porque fazíamos tudo combinado, conversando, esclarecendo
e encontrávamos uma solução que ambos concordavam. Nós insistimos num diálogo
sincero e franco. Nunca dormimos brigados e tivemos muita sensatez para educar
nossos três filhos.
Eu soube do instante que o conheci que ele era destinado pra mim. Uma
certeza que ardeu no coração e eu me senti atraída por ele. Apesar de todas as
dificuldades, ficamos juntos e fomos muito felizes. Compreenda que eu não disse
que fomos ricos ou que nossa vida era fácil. Nunca foi, mas nós soubemos
ultrapassar os obstáculos unidos no amor e paz. A necessidade que tínhamos de
ver nossa família bem cuidada, superava quaisquer adversidades.
Ficamos casados durante vinte anos e quando ele se foi, vítima de um
acidente, eu pensei que fosse morrer de tanta tristeza. Eu me esforcei por
causa dos meus filhos, mas faltava vontade de viver e ser feliz sem ele,
entende?
Uma depressão com nome e sobrenome. Eu não tinha forças e nem
motivações, mas continuei, um dia de cada vez na esperança de um contato, um
reencontro. Este desejo de que sobreviva a morte do corpo físico é unânime, mas
muitos tão descrentes, pensam que acaba tudo com a morte. Eu me entreguei a
este pensamento: “Ele está vivo em outro local, está bem e um dia, nos
reencontraremos”.
Isso me fez prosseguir. Eu jamais conseguiria me envolver com outro
homem. Pra mim, era uma ideia horrível. Me entregar a outro homem, pra quê?
Então, vivi. Resolvida de que precisava me dedicar aos nossos filhos,
sonhando com o dia em que poderia reencontrá-lo. Tentei ser feliz e fazer tudo
certinho para que ele pudesse se orgulhar de mim, do cumprimento dos meus
deveres com a família.
Qualquer um diria que eu tinha superado a separação, mas eu aguardava o
reencontro. Levou tanto tempo. Eu precisava passar pela prova de conduzir a
família com discernimento e força moral. Eu precisava compreender que nós não precisamos
nos entregar a homens para sermos sustentadas material ou emocionalmente.
O amor existe e deve ser respeitado. Nunca se entregar por conveniência,
por ambição ou para ter a vida facilitada.
Foi difícil sem marido, ainda mais naquela época, mas eu consegui e
quando o reencontrei foi tão estranho. Era como se o tempo não tivesse passado.
Eu ainda sentia o mesmo amor e o mesmo contentamento de poder abraça-lo.
Monique
29/10/23
“No fundo, a gente sempre acha que vai ter mais tempo. Deixa para amanhã os elogios e faz cobranças diárias”
Todo dia de finados era a mesma coisa. Eu me sentia tão triste,
imensamente prejudicada com o acontecimento cruel. Construi um pequeno altar em
casa. Coloquei a foto dele e alguns objetos pessoais, as coisas das quais mais
gostava. Eu estava sempre ali, orando, adorando, cultuando a imagem do meu
filho.
Durante décadas, eu fazia rituais e cânticos, eu me colocava diante do
altar e chorava horas, lamentando a perda daquele que fora a luz dos meus dias.
Nunca parei para pensar o quanto eu estava obcecada por ele. Eu parei de viver
para ficar presa na lamentação.
Ao lado daquele altar, o Espirito do meu amado filho sofria deveras com
meu pranto e desespero, indignação pelo desencarne violento. Eu não fiz uma
análise do quanto errei, mas no fundo, me sentia culpada.
Eu aprisionei o Espírito do meu filho no lar e não me permiti o
desenvolvimento natural porque interrompi tudo para me lamentar dia após dia.
Eu tive vinte e oito anos para dedicar todo o meu amor. Vinte e oito
anos em que pude realizar a abnegada tarefa de ser mãe, educando e protegendo,
amando e conduzindo no caminho de Deus. Ao invés disso, eu só via os seus
defeitos, ele me irritava e eu cobrava mudanças de atitude. No fundo, eu achava
que ele podia ser melhor, ser perfeito, eu exigia tudo com esmero e dedicação,
mas meu filho era uma pessoa normal que erra e acerta, tem dúvidas e
indagações. Ele tinha defeitos como qualquer um, mas eu queria a perfeição.
Briguei demais e naquele dia, ele saiu sem me falar, já era homem feito
e eu ainda exigia tantas explicações, eu queria controlar sua vida. Ele já
estava sufocado. Num acidente de carro, ele se foi e eu, profundamente
arrependida pela maneira como o tratei a vida toda, cobrei de Deus. Revoltada
com a partida dele, com a história que tivemos, cobrei de Deus.
No fundo, a gente sempre acha que vai ter mais tempo. Deixa para amanhã
os elogios e faz cobranças diárias. Deixa para amanhã os beijos e abraços para
fazer críticas hoje. Deixa para amanhã os olhares afetuosos para exigir agora.
Eu fui uma mãe desagradável, severa e achei que depois de morto, meu filho
merecia ser cultuado. Acho que foi a forma que eu encontrei de pedir perdão,
mas eu o prejudiquei ainda mais.
Ninguém se sentia bem na minha casa, de longe percebiam um ambiente
pesado e torporoso, triste e deprimido. Nós estávamos acorrentados naquele
cenário fúnebre.
A morte é só uma transição, algo natural que não nos torna santos ou
muito melhores do que fomos em vida, mas uma transição necessária que nos
coloca diante dos nossos atos e nos encaminha para a verdadeira vida onde
podemos estar diante de nossas realidades.
Ele se foi e depois de muitos anos, eu também fiz a passagem e o reencontrei
me cobrando por tantos anos de estagnação. Foi difícil nos perdoarmos. Mas,
recebendo o auxílio necessário ficamos bem.
A casa é santuário. Devemos saber o que fazemos do nosso lar. Os
Espíritos devem ser lembrados com gratidão por tudo o que nos ofertaram em vida
e devem receber de nós orações e pensamentos ligados a Deus que é Pai e acolhe
todos os Seus filhos. Não desejarmos tê-los em nossa companhia para que possam
prosseguir na evolução, para não formar um elo que possa produzir dor e
sofrimento recíprocos.
Adélia
29/10/23
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