Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“VIVAM
COM INTENSIDADE AS COISAS IMPORTANTES DE VERDADE, O BEM, O AMOR, A PAZ E A
FRATERNIDADE”
Não importa a idade, nós sempre
acreditamos que fomos arrancados prematuramente de nossas vidas. Eu gostava de
viver e esperava que tivesse tido mais tempo para realizar muitas coisas. Eu
fiz planos. Nisso, todos nós temos razão... É estranho como não fazemos conta
da morte.
Nós almejamos, sonhamos e
imaginamos que vamos viver muito. Eu organizei o jantar, pensei que estaria
presente. Eu planejei um ano inteiro com toda a minha família. Eu sempre
planejei tudo. O final de semana, o mês, eu tinha contas a pagar e relacionei a
vida de todos com a minha vida.
Quando meu dia chegou, foi
um golpe, um tormento. Eu não podia acreditar, eu não podia me separar do meu
corpo que era o que me unia a todos os meus. Sofri tanto, mas passou. Hoje eu
sou grata por estar aqui e por ter recebido tantas informações que mostram que
continuo possuindo uma vida e uma identidade. Eu ainda posso fazer planos e
almejar dias bem melhores junto dos meus, sou feliz por isso.
Se eu pudesse ter
aproveitado melhor o meu tempo teria sido de forma mais tranquila. Teria
deixado de lado a loucura de planejar cada instante e viveria cada momento.
As pequenas alegrias são as
de improviso. Os sorrisos aparecem com coisas bem simples que não são,
necessariamente, aquelas que esperamos por toda a vida. Um reencontro, abraços
e sorrisos. Enquanto, estive distante de todos, o que eu mais desejei foi
simplesmente, tê-los por perto. Saber que estavam dormindo próximos a mim.
Poder ver o sorriso deles, me contagiar com alguma coisa que pudessem me contar.
O que realmente importa é o afeto, é deles que sinto falta.
Eu corri tanto, quis ser
útil e produzir, mas me perdi com o relógio no pulso. Eu tentava ser pontual,
eu tentei não fracassar, mas perdi algumas oportunidades que não voltarão
jamais. Se eu pudesse voltar atrás, teria aproveitado um pouco mais de alguns
momentos. O dia do batizado do meu neto quando eu não quis mostrar o quanto o
amava. Eu queria ter ficado mais tempo com ele no colo, mas não quis que me
achassem ridícula. Eu sou apenas, avó do garoto, eu o amo tanto, ele me faz
falta. Eu precisava mais de todos aqueles momentos com ele.
Se eu pudesse ter deixado de
lado meu orgulho, se eu tivesse deixado de lado a impressão das pessoas ao meu
respeito. Cada um faz um julgamento de quem você é, as pessoas julgam a partir
de preconceitos, de padrões pré- estabelecidos pela sociedade, religião,
cultura.
Outros julgam através de
projeções mentais onde observam você e vêm outras pessoas, até elas mesmas.
Tudo indiferente porque não importa o que as pessoas pensam de você. O que
importa de verdade é se você se reconhece ou como você se enxerga, se você sabe
quem é. Eu demorei muito tempo para entender isso. Eu temia que dissessem que
eu não estava correspondendo às expectativas dos meus familiares, fui cruel
comigo.
Poderia ter feito muitas
coisas maravilhosas com o tempo que me foi concedido. Eu tive tempo suficiente,
todos têm o tempo suficiente para realizarem grandes coisas, para aprenderem
outras tantas coisas importantes e resgatar débitos do passado, reparando com
aquele que prejudicou, perdoando, sendo uma pessoa melhor. É tudo o que
importa.
Foram 55 anos de vida. Em 55
anos o que poderia ter sido feito se eu tivesse esta consciência? Não importa o
tempo, mas que ele seja bem aproveitado. Aqui eu conheci pessoas que viveram
muito menos do que eu. Elas retornaram para cá com 35, 42, 53 anos, tem uma
jovem que retornou aos 22 anos. Eles têm uma paz de espírito invejável, típica daqueles
que usaram bem o seu tempo. Estas pessoas fizeram o seu melhor e retornaram com
a consciência tranquila, sem pesares ou arrependimentos. O que eu deveria ter
feito para ser feliz? Que pergunta sem prerrogativa. Se eu não fiz é tarde
demais para questionamentos, já foi.
Para vocês que tiverem o
conhecimento do meu relato fica a dica: aproveitem o hoje. Vivam com
intensidade as coisas importantes de verdade, o bem, o amor, a paz e a fraternidade.
Revejam valores, perdoem e sigam o caminho que Deus escolheu para vocês porque
todos retornarão. Que seja de consciência tranquila.
ROSE
26/04/20
----------------------Paula
Alves----------------
“QUANDO
DEIXAMOS ALGUMA COISA PENDENTE, FICA UMA SENSAÇÃO DE FRUSTRAÇÃO”
Eu poderia ter falado para o
meu filho o quanto eu lutei para tê-lo ao meu lado. Eu não o abandonei. Acreditei
que a mãe dele poderia dar mais afeto do que eu jamais daria por ser um homem.
As mulheres têm uma docilidade que é típica delas. Pensei que a mãe faria tudo
por sua felicidade e eu, como pai, não poderia afasta um filho de sua mãe, mas
eu não contava que ela colocaria minhocas na cabeça do menino.
Eu me separei a pedido dela.
Depois de constatar que eu nunca seria um homem rico, ela achou mais
conveniente se envolver com outro que tivesse posição social mais promissora.
Eu fiquei com muita raiva, afinal eu era louco por ela, mas não fazia sentido
me desgastar com alguém que fora tão sincera quanto aos seus sentimentos, ela
não me amava. Eu achei que estava no lucro porque amava o meu garoto e para mim,
o Maurício era um presente, eu ganhei de qualquer jeito e pensei que fosse
melhor deixá-la em paz.
Saí do nosso lar, não me neguei
a colaborar na educação do nosso filho e tentei ficar por perto. O tempo
passou, conheci minha segunda esposa e soube o quanto minha ex se decepcionou
com os relacionamentos dela, apesar de tudo, eu nunca vacilei com o menino, mas
com o passar dos anos, ele começou a me rejeitar e me ofendeu tanto que eu me
feri. Demorei para compreender que o fel de Celina corrompeu a mente do meu
filho e ele me rejeitou. Tivemos uma
discussão séria envolvendo meu outro filho, filho do segundo casamento.
Eu nunca mais o vi. Me
arrependo demais porque todos nós podemos ofender por ciúmes, por momentos
tempestivos, mas aquele que ama deve compreender sempre, deve procurar
justificar e tentar amenizar estas iras.
Eu fui o pai e deveria ter
me comportado como tal. Um jovem julga errado, ainda mais quando a mãe invejosa
e rancorosa faz a cabeça. Se eu pudesse voltar atrás, se eu pudesse voltar no
tempo, traria meu filho de volta para mim.
Acho que as mães nunca
deveriam expor seus relacionamentos aos filhos, ainda mais, se tratando do pai
deles. Nem sempre julgam adequadamente e ferem os corações. Ninguém deveria se
envolver nestes relacionamentos, eu ainda o amo demais.
Quando deixamos alguma coisa
pendente, fica uma sensação de frustração, de falha. É como se você tivesse
perdido a oportunidade que te motivou a reencarnar. Parece que você tem uma
angústia que nada limpa do seu peito. Eu estou me preparando para
reencontrá-lo. Maurício está prestes a desencarnar e eu estou aguardando até
que ele esteja restabelecido para lhe pedir perdão.
Se ele me aceitar serei
novamente o seu pai para que possa finalizar a tarefa que um dia deixei
inacabada. Eu seria muito feliz. Só assim, sinto que ficarei em paz.
MAURO
26/04/20
-----------------------Paula
Alves-------------------
“DAR
AMOR AO CRIMINOSO, ISSO PODE MUDAR O MUNDO”
Eu poderia ter me doado mais
para aquela tarefa. Eu sei que, para muitas pessoas, meu trabalho como
professora era uma forma de ganhar o meu sustento. Eu tinha, apenas que dar
aulas, finalizar o meu dia e retornar para casa, sem me comprometer tanto com
eles. Nós temos um sistema vigente e todos já estão acostumados com ele, não
importa o que faça, existem coisas que nunca mudarão, então, me disseram que o
esperto sai de casa, faz apenas o que lhe compete e retorna ao lar, feliz
porque ganhou o seu pão, mas eu não era assim.
Eu olhei nos olhos deles e
soube que poderiam ser pessoas promissoras se nós incentivássemos. Eles eram
tão inteligentes, tão revolucionários. Eu quis mostrar que poderiam tentar um
vestibular público, entendi que tinham vocação e papel na sociedade. Eu podia
fazer parte de um impulso em suas vidas e direcionar fazia parte do meu papel
em suas formações acadêmicas. Alguém precisava fazer alguma coisa por eles, a
vida já era tão sofrida, mas eu não contava que isso poderia prejudicar alguém.
Dependendo do que você faz,
parece que pode mexer na vida das outras pessoas. Eu nunca pensei que fosse mudar
o mundo, eu queria que eles se dessem o devido valor, que eles gostassem da
vida e fizessem mais pelo seu povo, por sua nação e por si mesmos. Apesar, de
estarem em contato com o vício e a criminalidade, podiam escolher o caminho que
seguiriam e eles me ouviram.
O dono da boca disse que
ninguém daquela escola queria vender crack. Ninguém queria viver aquela vida e
falaram no meu nome. No início fiquei até feliz, satisfeita porque eu estava
conquistando os jovens e conseguindo guiar para o caminho do bem, mas ele foi
tão franco, determinando que ele guiava a região. Eles não tinham que ter
sonho, ele disse: “É Brasil, madame. Em que mundo você vive? Acha que o estudo
vai dar melhor condição de vida para eles? Acorda mulher!”
Ele só atirou e saiu
andando. Eu caí e tive um golpe duro quando entendi que tinha acabado. Você
pode pensar em justiça. Ainda culparam um dos meus alunos, o melhor deles, foi
pego como marginal.
Não se preocupe com a
justiça porque ela não falha jamais. Nós nos ligamos mais uma vez. O traficante
já é meu conhecido antigo. Pessoa que está sempre me reencontrando para ser
entrave aos meus propósitos, mas agora já compreendi que a coisa mais maravilhosa
neste mundo é promover o bem. Isso é o que me move. Depois de tudo isso, eu
estou tão empenhada em produzir o bem na sociedade que desejei começar por ele.
Solicitei tê-lo como filho e fui aceita. Eu preciso transformá-lo e tenho fé de
que conseguirei. Este será o meu maior propósito.
Uma vez ouvi alguém dizer
que, se você modificar alguém com suas boas ações, já frutificou. Você semeou,
conseguiu produzir a partir de boas intenções. Eu pensei que tivesse que mudar
o bairro todo, mas não é necessário.
Se você for à raiz da
questão, pode mudar tudo. Dar amor ao criminoso, isso pode mudar o mundo. VIVIAN
26/04/20
----------------------Paula
Alves---------------
“SE
EU PUDESSE MUDAR ALGUMA COISA, NÃO TERIA RECLAMADO TANTO”
Quando eu vi que aquele
acidente, havia me reduzido a uma faísca do que fui, do homem perfeito que fui,
fiquei profundamente revoltado.
Eu nunca tive tempo para
agradecer a Deus por tudo o que tinha. Por um corpo saudável, belo, por minha
família e amigos que estavam sempre ao meu lado, por boas oportunidades de
emprego e coisas materiais que me forneciam o suficiente para uma vida
confortável.
Eu só pensei o quanto era
sortudo quando perdi tudo. No hospital, sem minhas pernas, eu me senti um
derrotado. Eu perderia tudo o que achava motivo de sorte, tudo. Nos dias seguintes,
eu me esforcei tanto para ser repugnante que perdi, pouco a pouco, o contato
com as pessoas que me amavam e não tive condições de retomar minha vida. Eu
pensei tanto em me matar. Quebrei a casa toda, gritei e me embriaguei, me achei
um inútil, um acabado, mas eu acreditava em razões.
Eu precisava acreditar que
havia um motivo para tudo aquilo acontecer comigo e me concentrei na razão que
Deus teria para me fazer passar por aquela vida miserável, afinal eu poderia
ter morrido, mas por que cargas d’água os médicos deviam ter se esforçado tanto
para salvar da morte um nada como eu?
Simplesmente, para que eu
pudesse amaldiçoá-los?
Então, eu fui à igreja e
olhei para a cruz de Jesus, será que Ele podia me ouvir?
Eu chorava e ouvi alguém me
chamar, seria Jesus?
Não era ele, mas acho que
foi enviada por ele. A mulher em questão trabalhava com próteses e me falou de
seu trabalho. Meses depois, eu estava evolvido com uma possibilidade de ter
minha independência de volta. Tudo o que eu precisava era me esforçar, chegar àquele
local, colocar a prótese e fazer a reabilitação para conhecer minha esposa que
também tinha vivido um grave acidente e descobria motivos para sorrir e se
superar.
Nos apoiamos um no outro,
descobrimos muito em comum, foi um reencontro. Fizemos tanto mal no passado,
precisamos sofre para sobreviver ao mal, para renascer como pessoas que podem
ser boas. Nós sofremos tanto que deixamos o orgulho de lado e procuramos servir
como pessoas normais que passam por problemas graves e vêm todos como iguais.
Se eu pudesse mudar alguma
coisa, não teria reclamado tanto. Eu teria aproveitado aquele momento doloroso
para pedir perdão por tudo o que eu fiz. Eu teria me beneficiado mais do
sofrimento que foi concedido. Eu expurguei, eu eliminei uma grande carga de
erros através daquela dor, mas Deus foi sempre um Pai amantíssimo, não
castigou, ele colocou Estela no local certo pra que eu pudesse ganhar forças
novas e recomeçasse de onde parei com nova alma, com redenção. Eu sou muito
agradecido.
JORGE
26/04/20
-----------------------Paula Alves----------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“AS PESSOAS NÃO ESTÃO PREPARADAS PARA OUVIREM A VERDADE”
Eu sempre soube o
que eles queriam ouvir, mas fui tão ingênua. Eu nunca imaginei que meus pais
pudessem se envergonhar de mim. Eu precisei deles, do seu apoio, eu tive tanto
medo. Naquela época, eu não tinha onde buscar informações, eu simplesmente
acreditei na igreja e nos meus familiares. As coisas da minha cabeça não passavam
de frutos da minha imaginação fértil. Eu precisava me controlar porque estava
passando dos limites, ouvindo vozes, vendo pessoas que não estavam lá.
Meus pais
conversaram e resolveram me levar ao médico, foi tão fácil decidir que eu
deveria ser isolada do convívio social para realizar um tratamento urgente para
lucidez mental.
Meus pais foram
convencidos de que era melhor se eu não recebesse visitas por algum tempo até
que me conscientizasse do que fazia parte da realidade.
Eu fiquei
desesperada quando partiram, eu gritei e a primeira noite foi cruel. Remédios,
mordaças e estupro. Uma violência do corpo e da alma que eu não tinha como
traduzir. Eu quase enlouqueci de verdade, até que me dei conta do quanto
existem pessoas que nos amam em toda parte.
Eu sempre vi uma
moça que me orientou a sair do corpo quando estas coisas terríveis estavam para
acontecer. Eu me concentrava em coisas distantes dali. Num local onde ninguém
podia me ferir e era como se eu realmente não estivesse lá. Eu não senti mais
dor, eu não vivenciei nada daquilo. Suzi me aconselhava a dizer exatamente o
que os enfermeiros e médicos precisavam ouvir e, depois de dois anos, eles me
soltaram. Nunca contei aos meus familiares as torturas que sofri naquele lugar.
Nunca mais disse a ninguém que podia ouvir ou ver os que já tinham partido para
outro plano.
Eu mesma não sabia
para quê servia aquele dom. Naquela ocasião não me pareceu nada bom porque me
feriu, me prejudicou. Eu levei anos para compreender que as pessoas não estão
preparadas para ouvirem a verdade. Eles têm uma ilusão das coisas e uma
necessidade incrível de receber elogios, de se sentirem superiores aos demais.
Eu aprendi o que deveria dizer para todos e segui com minha vida, mas eu sempre
via e ouvia os Espíritos.
No fundo, comecei a me sentir mais
segura com eles que declaravam o que desejam sem fazer rodeios.
Eu me sentia mais a
vontade porque não disfarçavam nada. Em muitas situações pude receber ajuda e
esclarecimento, foi assim, que depois de sete anos conheci meu esposo e pude
formar uma linda família.
Hoje tudo é muito
mais fácil, vocês conseguem se informar e são respeitados. Por mais que as
pessoas ainda tenham preconceitos por falta de esclarecimentos, não podem falar
abertamente condenando e, aquele que tenha uma boa moral, tenha juízo aparente,
não será mandado para um hospício. Excelente tempo o de vocês.
Deveriam aproveitar
mais a oportunidade de estarem ligados, desta forma de comunicação ser possível
para que possam se elevar e ajudar pessoas, independente se elas tem corpo ou
não porque, de fato, somos imortais e precisamos avançar.
Em todas as épocas
da Humanidade, os médiuns sempre sofreram. Quem disser que nunca teve um
achismo e um pouco de discriminação está mentindo. As pessoas se constrangem
porque não fazem ideia do quanto podem saber. Todos temem o que não
compreendem, por isso, deveriam buscar conhecimentos. A mediunidade é um
importante meio de adiantamento para todos.
REBECA
18/04/20
--------------------Paula
Alves-------------------------
“O PERDÃO SINCERO LIBERTA E TRAZ UMA SENSAÇÃO DE
ALÍVIO”
Eu senti que não
tive tempo para me despedir. Eu pensei que ele fosse viver para sempre e tinha
muitas coisas que precisavam ser resolvidas entre nós, mas eu não tinha coragem
de falar. Eu sofri uma revolta muito grande por ver meu pai espancando minha
mãe. Quando pequeno, eu nutri uma ira e um desejo secreto de matá-lo para que
eu nunca mais a visse chorar e sangrar. As primeiras lembranças são tão
antigas, eu ainda era bem pequeno quando a vi ser atirada no chão.
Cresci, expulsei
meu pai de casa e jurei que nunca mais permitiria que ele a machucasse, mas ele
era meu pai, eu arrumei um local para ele morar.
Anos mais tarde me relacionei com
Verônica e reproduzi exatamente os erros do meu pai. Eu feri a mulher que eu
amava. Eu pensei que amava porque eu não poderia feri-la, se realmente houvesse
amor.
Eu me arrependi
muito e decidi me separar dela, ela merecia um homem melhor do que eu. Sei que
as lembranças mancharam meu ser. Eu fiquei impregnado das más ações do meu pai.
Naquele dia, depois que fui embora, eu pensei em como os pais mexem com a
cabeça dos filhos. Tudo o que fazem fica registrado em nós. Todas as ações
deles mexiam comigo. Eu queria seguir em frente, mas não conseguia ter um
relacionamento sério com ninguém.
Quando ele se
acidentou, minha mãe pediu para trazê-lo para casa porque nós iríamos cuidar
dele. Ela foi a melhor mulher do mundo cuidou com tanto cuidado, com zelo, como
se estivesse tentando reparar um erro, mas ela era uma vítima, eu pensava.
Sei lá, as pessoas
têm atitudes que nem sempre conseguimos compreender, mas eu achei de uma
superioridade moral incrível. Cuidei dele também, com respeito, desejando que
ele melhorasse logo para voltar para a casa dele, mas ele adquiriu uma doença
hepática e estava ficando cada vez pior, porém mais tolerante e paciente, nem
sequer se queixava, não cansava de agradecer tudo o que estávamos fazendo por
ele. Eu queria falar mais, mas não conseguia, me dava um aperto no peito, doía
a garganta de vontade de chorar. Será que eu tinha medo dele? Porque quando eu
era criança tinha muito medo.
Ter medo de alguém
não tem nada haver com respeito, pelo contrário está mais relacionado com
revolta, indignação e castração.
Eu esperei até que
ele falasse, mas ele só olhava com jeito de quem ia pedir perdão. Eu sabia que
nunca me esqueceria de tudo o que aconteceu com a gente, mas eu não desejava
mal para o meu pai, pelo contrário, queria que ele ficasse melhor em todos os
aspectos, apesar de não confiar nele.
Ele morreu e eu fiquei guardando
aquilo dentro de mim, aquele nó preso na garganta e um arrependimento do
silêncio que mantive.
Quando cheguei
aqui, muitos anos depois, tive a oportunidade de me encontrar com ele. Estão
todos aqui, aguardando para traçar planos futuros. Ainda estamos aguardando
mais três pessoas do grupo, enquanto isso, nos tratamos, limpamos alguns erros
e mazelas para ver se da próxima vez, acertamos mais.
A questão é que,
quando me encontrei com ele, eu nem sabia o que fazer. Foi como me encontrar
com alguém que sempre esteve muito distante de mim. Um alguém que me
prejudicou, mas compreendeu o quanto me prejudicou. Eu não queria que ele
sofresse mais, entendi que é humano e todos nós erramos uns com os outros e com
a gente mesmo. Todo mundo erra.
Então, eu não permiti que ele me
pedisse perdão, eu dei um passo na sua direção e abri meus braços. Quando meu
pai me abraçou, saiu uma fumaça do nosso peito. Eu não sei explicar, foi como
uma sujeira que estava impregnada em nós. Nós nos libertamos daquele fel. Eu
precisava disso e ele também.
O perdão sincero
liberta e traz uma sensação de alívio. Não precisa dizer nada. Não importa se
esta pessoa está perto ou longe de você, se ela vai compreender os seus motivos
ou não. Quem perdoa ou emite o pedido de perdão sinceramente, em parte já está se
libertando porque está relacionado à consciência tranquila, livre de algemas do
mal. Graças a Deus porque sem isso, ninguém consegue evoluir fica aprisionado,
não ascende, como se estivesse ligado a uma âncora no fundo do mar, não pode
subir para a superfície. Liberte-se!
GUILHERME
18/04/20
-------------------------Paula
Alves-----------------------------
“NINGUÉM VAI PASSAR POR UMA SITUAÇÃO QUE NÃO VAI TRAZER UM APRENDIZADO
ADEQUADO PARA SUA EVOLUÇÃO”
Por que eu não
podia ser mãe?
Eu nutria um desejo
em ter filhos. Era a única coisa que me importava. Eu amava meu esposo, tive o
apoio da minha família. Todos esperavam ansiosos para que eu ficasse grávida.
Sempre me senti mimada e sabia que seria muito feliz com meu bebê nos braços.
Mas, eu perdi meus
bebês cinco vezes. Nem sei como mencionar o tamanho da minha tristeza todas as
vezes que senti que estava perdendo aqueles bebês. Eu me preparava
emocionalmente para suportar a perda, mas eu sentia vontade de morrer com eles.
Muitos diziam que
eram tão pequeninos, que não sentiam nada e que eu nem mesmo tinha sido mãe de
verdade para sofrer tanto. Não é verdade! Se é mãe, para quem ama o filho,
desde o instante da ligação com o Espírito reencarnante. Não importa quantos
meses você esteve ligada ao feto, você foi mãe deste bebê, é mãe dele.
Eu dei nomes. Cada
um deles recebeu um nome e eu fazia orações para todos, sempre. Foram perdas
inestimáveis, inenarráveis. Eu não sei como pude suportar. Todas as vezes que
estive grávida, eu senti a ligação com eles. Eu senti tudo. Um amor que cresceu
em mim por todo tempo em que usaram meu corpo para produzir um corpo para eles.
Mas, a vontade de Deus foi que retornassem para o plano espiritual, ainda não
estava no momento certo para reencarnarem, enquanto eu estava encarnada, não
entendia nada disso e sofria ainda mais.
A compreensão que
temos da morte nos permite ter mais esperança e amor à Deus porque não nos
sentimos vítimas das circunstâncias.
Todos eles,
utilizaram meu corpo e meus sentimentos para melhorarem seus corpos espirituais
para que pudessem nascer por intermédio de outra mãe com sua estrutura
perfeita.
Eu sou grata por
ter sido útil, muito grata, mas sofri a perda de todos. Aprendi demais com este
sentimento de mãe que deseja dar a própria vida pelo filho. É o maior ato de
abnegação que eu já vi. Dar a vida por alguém de forma sincera e totalmente
desinteressada, por amor.
Depois de anos
tentando, eu já havia me conscientizado de que não conseguiríamos, até que eu
soube que estava grávida novamente. Eu tentei não me alegrar muito, não
preparei o enxoval. Procurei ser feliz, com pensamentos harmoniosos, cantava e
meditava. Eu desejei viver intensamente aqueles meses. Alguns diziam que eu
gostava de sofrer, mas se eu podia ser mãe por alguns meses e senti-los em mim,
eu queria que fosse feita a vontade de Deus.
Cheguei a pensar
que, de alguma forma, eu poderia estar induzindo os abortos.
Seria por causa da ansiedade ou do
medo que eu me enchia de toxinas e prejudicava o feto? Ouvi aqui que não. As
orientadoras falaram que as mães têm muita responsabilidade com tudo o que
fornecem ao feto porque doam seu corpo, a nutrição e também as sensações para o
feto, portanto, os pensamentos e os sentimentos podem atuar como salutares ou
nocivos, mas Deus sabe de todas as coisas, as pessoas se atraem e ninguém vai
passar por uma situação que não vai trazer um aprendizado adequado para sua
evolução.
Eu consegui meu
bebê – Taís. Ela foi a luz dos meus dias. Eu sou muito agradecida por tudo o
que vivi.
SEBASTIANA
18/04/20
---------------------Paula Alves-------------------------
“APROVEITAR TODOS OS INSTANTES PARA SE RECONCILIAR COM OS FAMILIARES E
DORMIR EM PAZ, ISSO É O QUE TEM DE SER FEITO”
Depois de um tempo,
a consciência cobra todos os atos. Parecia que eu ficaria impune. Eu me sentia
como um xerife, alguém que tem autonomia para decidir sobre a vida das pessoas.
Eu mandava e eles obedeciam por medo, eu tinha o respeito de todos como
delegado.
Tudo ficava
encoberto, tudo mascarado, mas eu vi o menino me olhando com raiva. Ele viu
quando eu pedi para chutar o negro. O menino era muito diferente de mim, meu
único filho. Um rapazola que olhava duro como me recriminando. Eu achei que ele
teria admiração pelo pai que todos temiam, mas ele tinha revolta.
Eu parei para
pensar por que ele teria motivos para me olhar daquela forma e me lembrei de
muitos erros, muitos, erros de antes dele, muito antes. Erros que me tornaram
um terror. Eu usei minha carreira para obter os recursos que achei ter direito
e nunca respeitei a mãe dele, ninguém.
Tive ganhos
financeiros muito superiores ao que teria por direito, tudo errado, muita
propina, muito desvio. Eu pensei que não tinha como mudar por mais que minha
consciência pedisse um reajuste. Compreendi que isso deve acontecer aos montes.
Por mais que você se arrependa, chega uma hora que não dá para voltar atrás,
mas o menino crescia e não deixava dúvidas do quanto me horrorizava. Eu sabia
que teria de abrir mão de muitas coisas por minha família.
Eu tinha muito
dinheiro, abdiquei meu cargo, mas os negócios escusos que fiz, atraíram
cobradores importantes a quem não devemos dizer não. Eu me atolei e quando quis
sair, não pude mais. Pretendo informar que ninguém deve julgar porque quando se
está na pele é mais fácil entender. Existem problemas tão pequenos, tão simples
de resolver.
O HOMEM QUE TEM SUA FAMÍLIA SIMPLES, UMA ESPOSA
DEDICADA, UMA CASA CONFORTÁVEL E UM FILHO QUE É SEU AMIGO, TEM TUDO NA VIDA.
Não importam suas
dívidas porque basta nascer para ser devedor de alguma coisa. Não importam as
renúncias que você fez por eles. Eu te digo cara: tudo o que um homem quer é
estar em paz com a sua consciência e ter o apoio dos seus. Perceber que a sua
família te ama é uma dádiva, por mais pobre ou rebaixado que você seja.
Eu nunca imaginei
que, no fim da minha vida, seria confrontado por meu filho num beco, enquanto
ele tentava fazer justiça com as próprias mãos. Tentando limpar o bairro de
gente que não presta, ele era um justiceiro. Estávamos em lados contrários. Ele
ergueu a voz e disse: “Você nunca esteve aqui. Foge miserável!”
Eu fugi, cheguei em
casa e dei um tiro na cabeça. Tem coisas que a gente não aguenta lembrar. Não
tem como corrigir, não tem o que fazer.
Ele chorou muito, me pediu perdão,
mas era tarde. Eu ouvi e vi tudo, já estava em delírio fora do corpo. Burrice
demais porque se eu quisesse poderia ter tido outra chance, a gente sempre tem.
Aproveitar todos os instantes para se
reconciliar com os familiares e dormir em paz, isso é o que tem de ser feito.
JEREMIAS
18/04/20
--------------------Paula Alves------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“ME RECUPEREI TOTALMENTE”
Eu estava no leito e os dias pareciam intermináveis.
Nunca pensei tanto no meu corpo como naquele momento, antes pensava com
vaidade, com OBJETIVO de me divertir, de saciar meus instintos juvenis,
mas naquele momento era tudo diferente. Meu corpo precisava se RESTABELECER,
eu precisava dele íntegro, saudável para realizar minha vida da forma como
achava conveniente.
Eu pensei que a SAÚDE é o nosso BEM
mais PRECIOSO porque sem saúde eu não poderia estar junto das PESSOAS
que eu amava, nem executar meu trabalho, meu cotidiano normal com tantas ações PRAZEROSAS
para mim. A saúde ganhava de tudo e isso não me conferia um aspecto de egoísta
naquele instante. Eu precisava da minha SAÚDE para me ERGUER
daquele leito.
Mas, TODOS que olhavam para mim,
naquelas circunstâncias, afirmariam que tudo estava acabado. Eu parecia
definhar progressivamente. Meus familiares ORAVAM de longe, preferiam
não me ver, alegavam estar sofrendo demais para me ver com um aspecto tão
terminal. Eu precisava deles, eu precisava de todos, mas eles não compreendiam.
As pessoas não costumam pensar nestas coisas, apenas quando chega a hora.
Falavam tudo, imprudência, castigo, diziam até
carma ou falta de merecimento. A VERDADE é que ninguém acreditava que eu
poderia SUPERAR, também com todas as alegações médicas sobre o meu fim
incontestável, ficou muito difícil para eles manter a FÉ ou o OTIMISMO
que eu pudesse me RECUPERAR.
Compreendam que eu não os recrimino. Talvez,
tivesse agido da mesma maneira se estivesse do lado oposto. Acho que também não
iria visitar, mesmo se pudesse. É muita hipocrisia falar que seria a primeira
da fila numa visita hospitalar ou mesmo num cemitério, claro que não, isso é
para parentes PRÓXIMOS e nada mais. Eu diria isso mesmo.
Reconheço que para os meus PAIS o choque
foi muito grande. O carro ficou em ruínas, eu bebi e briguei com meu namorado.
Qualquer um podia me criticar, mas eu só queria VIVER. É instinto de SOBREVIVÊNCIA.
Por mais que você não tenha tantos motivos, sua vida pode nem ser das melhores,
mas você quer tentar mais uma vez. A gente sempre acha que vai poder CORRIGIR
alguma coisa. A gente acha que vai fazer falta na VIDA de alguém. Eu pensei
muito nisso, pode ser a pior das pessoas, sempre vai ter alguém a chorar pela
perda. Sempre vai ter alguém sentindo aquela morte.
Eu queria VIVER, mas ouvia os médicos e
eles me desesperavam, diziam que eu estava piorando, que o organismo não iria
suportar.
POR QUE AS PESSOAS SÃO TÃO FRIAS?
A verdade é que aqueles jalecos falam por si
só. É tudo tão distante. Eu sabia que precisava acontecer alguma coisa para
mexer com eles.
O medo muda tudo né?
As pessoas têm deveres e o dever do médico é
tratar do seu doente. Não importa a cor da pele, o sexo, a idade e nem a
doença. O médico não tem que julgar a patologia ou a forma como o doente cuidou
do seu organismo a vida toda. De qualquer forma, ele se sente um pouco
responsável por sua saúde e vai fazer tudo ou quase tudo para aquela pessoa
sarar.
BOM, DEVERIA SER ASSIM.
Eles são humanos, pode não ser sempre assim,
não vamos julgar.
O fato é que se aprende muito no leito. Eu
ouvia e sentia tanta coisa. Eu passei por momentos que não desejo me lembrar e
não vou mencionar agora. Momentos que me fizeram desejar estar morta de verdade
e quando eles acharam que eu estava piorando, algo surpreendente aconteceu. Eu
acordei.
Tudo
já estava sendo preparado para o meu sepultamento. Demorou para eu suportar as
notícias que recebi. Eles tinham se conformado.
EU NUNCA DEIXEI DE LUTAR POR MINHA VIDA, NUNCA.
Minha CONSCIÊNCIA de todas as coisas se
transformou, desde aquele instante. Mudou tudo. Eu superei o acidente, me RECUPEREI
totalmente após dois anos. Estudei, me formei em direito, me casei, tive
filhos.
Uma VIDA normal, exceto pelo fato de que
DESPERTOU em mim, as NECESSIDADES de falar a RESPEITO de
morte, vida, direitos de PACIENTES.
O que a equipe médica realmente faz?
O que é saúde para você?
Nós não devíamos pensar nisso, apenas quando
estamos doentes. Você pode precisar de auxílio e será fácil? Como seria se você
também estivesse no leito?
Eu espero que você nunca passe por isso, que
tenha MUITA SAÚDE e PAZ, mas se precisar que você tenha um BOM
FAMILIAR que esteja sempre ao seu lado ZELANDO por seu RESTABELECIMENTO,
evitando que possa sofrer algum mal.
ELISABETE
12/04/20
-------------------Paula
Alves------------
“TÃO PRECIOSA QUANTO A SAÚDE FÍSICA É A SAÚDE
EMOCIONAL”
A tuberculose me pegou, mas eu já estava tão
ferido. Não havia nada a fazer. Compreendi que primeiramente adoecemos da alma,
depois o corpo se abate.
Ela me traiu e eu senti vergonha de mim mesmo,
de todas as declarações que fiz, dos sacrifícios que fiz por ela. Eu senti
revolta por todos os momentos que me esforcei com horas extras num trabalho
penoso. Eu senti pena dos nossos filhos por ter uma mãe leviana. Eu deveria ter
imaginado. Eu queria ter evitado tê-la conhecido, mas fazia anos que eu me
arrastava para agradá-la. Não era amor, era algum tipo de obsessão, de costume,
vício. Eu fazia todas as vontades daquela mulher e ela me traia.
Eu esmoreci. Completamente transtornado, decidi
conversar, eu poderia estar enganado, mas ela debochou. “O que você pensa?”
Ela afirmou que não poderia deixar de viver por
minha causa. Falou que ela tinha desejos e precisava viver a felicidade.
Eu ainda chorei. Será que eu nunca a conheci de
verdade?
Eu me humilhei e fui embora. Senti uma tristeza
que arruinava minha alma. Ouvi muitos gracejos dos familiares. Penso que,
algumas pessoas, gostam quando encontram alguém numa pior. É a forma que têm de
se acharem superiores. Quanto engano!
Os dias passaram e eu tive um mal súbito, me
sentia péssimo, resolvi procurar o médico e tive o diagnóstico: “Tuberculoso!”
Fui internado, isolado de todos, ninguém queria
me atender. O escolhido entrava totalmente paramentado e realizava o essencial
para se retirar rapidamente. Eu não ligava, eu queria ficar só.
Sabia que o meu fim estava próximo, estranho
como dá para perceber. Não importa o diagnóstico, a gente sente o fim da linha,
não tem erro, eu senti.
Tenho que admitir que eu não quis lutar, eu não
me esforcei em nada. Foi como se eu soltasse o corpo para flutuar no mar, não
me agitei, não me mexi, eu soltei.
Eu pensava na minha vida e, em quantas coisas
eu poderia ter feito diferentes. O que poderia ter ocasionado determinadas
mudanças. Sabe quando você não se casa ou muda de cidade? O que poderia ter
acontecido se não tivesse estudado? Eu poderia ter mudado tudo? Eu posso ter outra
vida e isso me conforta. Saber que não foi o fim, realmente me conforta.
O tratamento está funcionando e eu me sinto bem
melhor.
A TRISTEZA QUE EU SENTI ACABOU COM O MEU
APARELHO RESPIRATÓRIO.
Tristeza profunda que me aniquilou, decepção
que me frustrou do início ao fim.
A depressão é doença grave, mas tem gente que
acha que é frescura. Vou dizer que não têm ânimo, força interior, nada que te
impulsione a sair do fundo do poço meu amigo. As pessoas não entendem, só sentindo
mesmo. É muita tristeza. Não tem como se erguer. Foi assim que tudo acabou. O
sentimento que destrói a alma e ninguém pode salvar.
Eu estou participando das palestras e os nossos
papos me fazem um bem enorme. Preciso me preparar para um recomeço, mas eu pedi
mais tempo. Preciso melhorar um pouco mais. Eu queria que todos soubessem o
quanto os sentimentos alheios devem ser respeitados. Tão preciosa quanto a
saúde física é a saúde emocional, acho que mais preciosa porque quando você
quer viver, você impulsiona fluidos, você mesmo pode operar a sua cura meu
amigo, mas quando você se entrega ao sentimento que mortifica, que destrói, não
tem jeito.
PREOCUPEM-SE COM TUDO O QUE SAI PELA BOCA E
PODE FERIR A ALMA DO SEU SEMELHANTE.
ISMAEL
12/04/20
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“EU PERDI O MEDO DE FALAR, DE ME ARRISCAR, DE
VIVER”
Era uma sombra, um alguém que não serve para
nada. Foi como se eu andasse despercebido pelas ruas, sem chamar a atenção. Eu
não importava porque parecia não existir. Fantasma? Eles causam arrepios, eu
nem isso.
Preferia que fosse má, oportunista ou causasse
raiva em alguém, mas nada é muito pior.
Eu pensei que a vida não dizia nada, não
significava nada, seria melhor acabar. Eu nunca fui dada a sentimentalismos ou
a doutrinas. Eu não acreditei em Deus porque não podia supor que fosse criada
como todas as outras. Eu só queria acabar.
Você acha que, se eu soubesse que não acaba,
teria tentado? Eu não imaginava que existe um mundo como estes onde a morte não
existe e tudo o que somos continua existindo de uma maneira muito mais vigorosa
e real. Eu também não podia supor que era um teste, a tal prova que vocês falam.
Eu mesma me coloquei para vivenciar os momentos ruins da minha vida. É típico
de mim (há-há).
O fato é que eu programei tudo. Minha mãe sairia
com o namorado e eu tentaria me matar. Achei que seria tão tranquilo. Tomar as
medicações da minha mãe e sumir com uma consciência inerte. Depois minha mãe
choraria três dias e ficaria com a casa livre para viver com o João – seu
namorado.
Mas, eu ouvi: “larga isso de uma vez!”
Eu saí do corpo e me vi jogada no chão, foi
horrível. Tinha tanta gente em casa. Um monte de gente com cara estranha,
pessoas que eu não conhecia e que riam muito dizendo que eu estava quase
passando para o lado deles. Eu estava morrendo? Filme de terror, sei lá,
terrível. Pesadelo? Acho que não.
Minha mãe chegou e eu estava desmaiada. Fui
conduzida para o hospital e passei muito mal porque fiquei quase morta, mas
sobrevivi.
Passei parte da minha vida tentando entender o
que aconteceu naquele dia, até que recebi informações de que tudo isso existe
mesmo e agora tenho certeza.
A gente não pensa direito. Não raciocina das
coisas importantes que deve pensar. A gente nasce e tem um plano, mas como
esqueceu, coloca tudo a perder, fica fascinado por tanta besteira e nem liga
para o que é primordial.
Depois de tudo, da minha quase morte, eu olhei
para minha mãe diferente. Ela era a mulher mais maravilhosa que eu conhecia,
ela ficou preocupada, cuidou de mim e me ajudou a enxergar o que importava.
Adquiri uma alegria por estar viva que me
acompanhou por toda a jornada. Eu sempre me lembrei que quase arruinei todo o
plano.
São os pequenos instantes que importam. Os
momentos e as lembranças destes momentos fazem toda a diferença. Foi uma vida normal,
mas divertida. Eu perdi o medo de falar, de me arriscar, de VIVER. Aí
encontrei amigos, tive pessoas boas demais ao meu lado, marido, filhos e netos.
Eu estive perto das pessoas e recomendo a todos: “se envolvam”.
Façam bom uso do tempo de vocês todos os dias.
Nós nunca sabemos quando será o último, então,
eles têm que ser muito bem vividos. Nunca deixe questões mal resolvidas, nunca
uma conversa inacabada. Um assunto esquecido por vergonha, medo, insegurança ou
remorso.
Fale, se expresse. A vergonha é o orgulho, medo
de ser ridículo. Quando nos igualamos às outras pessoas, não temos medo do julgamento
de ninguém porque sabemos que todos são falhos e estão se esforçando para
melhorar, então, se permita errar e ser desinformado, inculto, ilógico ou irracional,
de vez em quando.
Ame tudo e todos, o amor é multiplicável e isso
é muito prazeroso. Eu agradeço a todos que, direta ou indiretamente, fizeram
dos meus dias fontes intermináveis de satisfação.
VOVÓ LEOCÁDIA
12/04/20
-----------------------Paula
Alves---------------
“ENQUANTO, EXISTE UMA FAGULHA DE VIDA, CONFIE,
SE ESFORCE, NÃO DESISTA!”
Era só um cachorrinho. Eu olhava para ele e pensava
que eu não queria ser responsável por sua morte. Eu ganhei o Salomão de um
namorado e amava muito o meu cachorro. Alguns de vocês podem achar feio o que
vou afirmar, mas ele era mais amado por mim do que muitos dos meus parentes. Eu
olhava para ele e via um olhar sincero, uma reciprocidade afetuosa que não
sentia nos seres humanos. Meu cachorro me amava de verdade e eu faria tudo por
ele.
Como o veterinário podia dizer que eu deveria
sacrificá-lo?
Eu não podia fazer isso. Ele estava doente e eu
o levaria para casa, realizando todos os procedimentos que fossem NECESSÁRIOS
para sua MELHORA ou CURA, sim cura porque eu ACREDITAVA
que ele podia se CURAR.
Eu cuidava dele e pensava como seria se alguém
querido adoecesse. AMOR semelhante, eu só sentia por meus pais. Me senti
mal de pensar no adoecimento dos meus pais. Eu não queria atrair coisa ruim e
tentei desviar o pensamento. Cuidei do Salomão e me questionei se todas as pessoas
recebem semelhantes cuidados quando estão mal.
Eu me lembrei de algumas reportagens de pessoas
que morrem de fome ou de frio. Dor, fome e frio são sensações muito desagradáveis.
Quem gosta de sentir isso? Imagina ao extremo, suficientes para te matar, te
destruir?
Eu me lembrei de tantos que têm doenças
contagiosas e são isolados, ninguém quer chegar perto.
Será que recebem os cuidados necessários?
O que pensam? Será fácil para estas pessoas
suportar as sensações ruins e se restabelecerem na solidão, sem apoio ou alguém
que deseja o seu BEM, torce por ele?
Eu acho mesmo que todos os doentes que se acham
bem amparados por médicos responsáveis ou por uma família que CUIDA
integralmente com AMOR e medicações apropriadas, MELHORAM mais
rápido.
Enquanto, eu olhava para o Salomão eu pensei
que tem bichinho de estimação que é mais bem cuidado que muita gente. Tem
cachorro mais bem cuidado que muita criança carente.
Feio mencionar, mas é mais fácil ADOTAR
um cão do que um ser HUMANO. Isso porque as pessoas têm muitas recusas,
muitos preconceitos. Dependendo da raça não serve para entrar na sua FAMÍLIA.
As pessoas só sabem quando sentem na pele.
Eu pensei tudo isso, enquanto ACARICIAVA
o Salomão e me senti mal com meus próprios pensamentos porque eu era assim. Tão
BEM sucedida profissionalmente, uma BOA estrutura financeira, mas
não queria ter família ou filhos. Eu me contentava com um cão. Por que eu tinha
medo de me decepcionar com gente ou porque o cão nunca iria me cobrar ou me
virar as costas?
Eu precisava virar adulta de verdade.
Quando eu me dei conta de que usava o cão para
me apoiar nele, o Salomão olhou para mim, como que para agradecer tudo o que eu
fazia porque eu estava sendo SINCERA com o AMOR que NUTRIA
por ele. Eu não era sincera comigo, eu não desenvolvia o meu AMOR, mas
eu o amava.
Ele me olhou, suspirou e partiu. Eu o abracei
com tanta dor no meu peito e decidi me TRANSFORMAR a partir daquilo.
Eu precisava me ENVOLVER e me PERMITIR
AMAR. Eu encontrei Victor, nos APAIXONAMOS e quando achei que iria
viver um relacionamento maduro e TRANQUILO, meu pai adoeceu gravemente.
Eu me mudei para a casa dos meus pais e tive
uma SENSATEZ, um CARINHO tão interminável para com os seus CUIDADOS
que minha mãe se admirou. Os médicos diziam que meu pai nunca mais voltaria a
andar, ele nem mesmo falava conosco, mas eu o fazia SORRIR. Eu contava
nossas histórias antigas e mostrava fotografias. Com enorme esforço tentava
colocá-lo de pé e ele foi trocando os passos, até que falou: “FILHA!”
Eu nem ACREDITEI. Me emociono novamente
lembrando como foi LINDA a sua RECUPERAÇÃO.
Meu
cachorro Salomão me ENSINOU muita coisa. Nós TEMOS tanto AMOR,
podemos amar tudo e todos. Eu tive FÉ, ESPERANÇA e CONFIEI
que ele poderia MELHORAR. Meu pai SUPEROU e nos FORTALECEMOS
em AMOR e UNIÃO.
ENQUANTO, EXISTE UMA FAGULHA DE VIDA, CONFIE,
SE ESFORCE, NÃO DESISTA!
BONS PENSAMENTOS, palavras VIBRANTES
de BEM ESTAR e SAÚDE são FUNDAMENTAIS. ÂNIMO no
ambiente, faça graça, sorria, aproveite este dia e forneça a mente artifícios
para ter um dia muito melhor, amanhã. Você também pode conseguir. Boa sorte.
ISABELY
12/04/20
---------------------------------Paula Alves-------------------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“EU NÃO DESEJO PARA NINGUÉM FICAR PRIVADO DO CONTATO COM SEUS FILHOS”
Eu me questionei, muitas vezes, dos motivos que eles teriam para me
prender. Eu cuidei deles com todo o meu amor. Se você quiser saber todos os
detalhes da gravidez e do parto de cada um, eu sei dizer, posso lhe mostrar as
imagens. Cuidei deles com total abnegação e senti o quanto a maternidade me
transformava numa pessoa melhor. Mas, senti a rejeição deles em muitos
momentos. Sempre achei que fosse fato ocasional, relacionado à adolescência ou,
mais tarde, a algum evento do trabalho ou situação financeira difícil. Estavam
sempre descontando os problemas do mundo em mim, mas eu não me importava,
gostava tanto de tê-los comigo.
Fazia o possível
para compreendê-los e ser agradável. Mas, meu esposo morreu, o tempo passou e
eu fiquei doente. Impossível fazer coisas simples como limpar a casa ou
preparar os alimentos, depois, o banho passou a ser um perigo para mim. Não
conseguia executar tarefas do vestuário ou da higiene pessoal e meus filhos não
quiseram dedicar parte do seu tempo precioso aos meus cuidados essenciais.
Conversaram diante
de mim como se eu não os escutasse e como se eu tivesse alguma doença
contagiosa me internaram num asilo que, de fora tinha uma bela imagem, mas por
dentro era um confinamento de velhos que eram desprezados por entes queridos
para que pudessem definhar até morrer.
Que horror, meu
amigo. Eu sofro por lembrar tudo o que vivi.
Eu sentia privações
materiais como um alimento bem preparado e quentinho, mas o pior sempre foi o
isolamento. Viver só é o pior castigo que alguém pode receber. Sempre achei que
a maneira mais cruel de se revidar um ataque era ignorando alguém. Eu fui
ignorada por meus filhos.
Parecia que eu
sabia que iria vivenciar tudo aquilo, tamanha aflição que eu senti a vida toda
só de pensar.
Existem provas que
são decorrentes do livre arbítrio dos que nos cercam, situações que servem, com
certeza, para o abrandamento de nosso Espírito, mas que poderiam ser evitados
se as pessoas em questão, tivesse perdoado realmente.
Eu sentia uma
saudade que feria. Eu me lembrava deles em diversas situações de nossas vidas.
Quando eram pequenos e corriam para os meus braços frente ao perigo, quando me
beijavam e diziam me amar de forma tão pura, tão sincera. Eu me sentia a melhor
mãe do mundo. O cheiro deles me vinha à memória e eu chorava tão sozinha, tão
infeliz.
Nunca me visitaram,
como podem ter se esquecido de mim?
Como alguém pode se
esquecer de uma mãe?
A pior dentre todas
as mães ainda merece auxílio e atenção. Eu não fui má, eu sempre os amei.
Aprendi muito
naquela situação. Nos momentos finais parecia que a loucura havia se apossado
de mim. Foi como se a ausência de contato físico afetuoso tivesse me privado da
realidade. Eu via imagens deles, mas tão diferentes. Chegando aqui, eu soube
que eram lembranças do pretérito, das outras vidas, em que fomos rivais, onde
houve traição e crime a nos unir. Mas, eu prometi reparar, eu jurei que me
esforçaria e quando eu senti aquele pequeno ser em mim, com tanto amor
crescendo em mim, se nutrindo de mim, eu os amei de forma sentida de verdade.
Ser mãe é a forma
mais excepcional de reparar os erros do passado. É a possibilidade mais
certeira de perdão. Eu passei por sofrimentos inenarráveis pelo abandono dos
meus filhos. Eu tive fome, senti frio e dores, eu apanhei dos profissionais que
me cuidavam porque estavam sem paciência e cansados demais para esperar o meu
passo lento. Mas, apesar de tudo, ainda os amo e ainda viveria tudo de novo
para poder tê-los em meu contato.
Eu não desejo para
ninguém ficar privado do contato com seus filhos. Deus abençoe todas as
famílias e que cada mãe possa receber de seu filho todo amor que elas merecem.
MARIA CECÍLIA
04/04/20
------------------------Paula
Alves---------------------
“EXISTEM MUITAS FORMAS DE PRISÃO”
Foi pela doença que
tudo aconteceu doutor e eu fiquei só.
Aos poucos, tudo se
perdeu. Os detalhes sumiram e as lembranças se apagaram pouco a pouco. Os mais
distantes não tinham vínculo nenhum, então, estes foram os primeiros a sumir.
Pessoas que não
significavam nada. Parentes longínquos que não ligam nem no Natal. Vizinhos que
não dão bom dia. Estes sumiram logo, como se nunca tivessem existido.
Momentos triviais
do dia a dia, preferências culinárias também sumiram e eu fui ficando
tendencioso, gostando de qualquer coisa, aceitando sei lá o quê.
Os mais próximos perceberam,
o médico facilmente diagnosticou feliz por ter acertado: Alzheimer. Eu ouvi e
não demonstrei qualquer tipo de expressão. Me distraí com os livros dele e saí.
Minha esposa
chorou, meus filhos ficaram temerosos: “Ele vai se esquecer de nós?”
Eu não pensei que nós podemos perder
tudo o que temos tão rápido. Eu perdi tudo o que eu tinha porque perdi minha
identidade, minhas lembranças, minhas inclinações e virei um vaso. Um alguém
que é retirado de um lugar e colocado em outro, mas não sabe o porquê.
Um belo dia de sol,
eu acordei e não havia nada, página em branco. Eu não raciocinava. Marlene
entrou no quarto e eu me assustei com minha esposa.
“Quem era ela?” – pensei.
Simplesmente a
mulher da minha vida. Uma pessoa maravilhosa que me apoiou sempre e me
incentivou nos maiores absurdos da nossa trajetória, agora eu me recordo de
tudo, tudo, de forma límpida como se voltasse no tempo e revivesse
integralmente.
Mas, naquela manhã,
eu havia me esquecido de todos eles, até da Marlene. Eu gritei e chorei, disse
que precisava ir para minha casa porque eu queria sair dali, a falta do saber
me deixou desesperado. Eu só queria sai dali e compreender onde eu estava, quem
eram aquelas pessoas e quem eu era.
Eu estava sozinho e
me desesperei. Eu estava preso numa vida que eu não sabia que era minha, com
pessoas que eu não conhecia e eu só queria ir embora.
Eles tiveram toda a
paciência e foram tão delicados que eu me acalmei, comi e repousei.
Isso aconteceu muitas vezes, eu nunca
mais me lembrei, fui vivendo ali com aquelas pessoas sem saber quem elas eram
ou por que eu estava preso naquele local, também não tinha local no mundo onde
eu poderia ir sem saber de nada.
Existem muitas
formas de prisão. Muitas formas de sofrimento. A minha mente me aprisionou e me
deu o castigo que eu precisava. Nunca poderia imaginar que eu estava em casa
com pessoas amadas que cuidaram de mim com tanta delicadeza e afeto.
Eu sei que dei trabalho, nesta
oportunidade quero agradecer tudo o que fizeram por mim e finalizar afirmando
que eu sei de tudo o que vivemos. Minhas lembranças estão íntegras deste lado.
Eu me lembro desta vida e sei dos motivos que fizeram com que eu passasse tudo
isso por erros cometidos no passado, mas eles foram os anjos que Deus colocou
em minha vida para abrandar minha pena. Só tenho o que agradecer e dizer que
amo minha querida Marlene e meus filhos Otávio e Daniel. Com amor EUCLÍDES NOGUEIRA.
04/04/20
---------------------Paula
Alves------------------
“QUEM TEM SUA LIBERDADE QUE FAÇA POR ONDE CONSERVÁ-LA”
Foi um latrocínio.
Um erro estúpido onde um babaca preguiçoso acredita que vai se sair bem
enganando um trouxa.
Eu peguei a arma do
meu pai que era segurança. Precisava de uma grana e estava sem emprego, jovem
vagabundo. Nunca tive este exemplo na minha casa. Meus pais foram o exemplo do
trabalho e da honra, sempre trabalharam, mas eu fui a fruta podre, nunca acertei
nada na vida e só fiz os dois sofrerem, quanta vergonha!
Saí com a arma e
achei que na vendinha da esquina poderia limpar o caixa e o velhote dono do
armazém ia ficar com medo e me dar a grana. Não era para machucar ninguém, eu
só queria o dinheiro, mas ele quis ser valente.
Na cadeia eu ouvi muito criminoso
defendendo o velhinho. Eles falaram que a pessoa honesta rala muito para
conseguir alguma coisa e, por isso, na hora do roubo eles se tornam valentes.
Deve ser muito difícil ver um moleque vagabundo roubando o que você deu duro
para ganhar. Eu não tinha sido indulgente com ele, até então. É verdade, se eu
tivesse me esforçado tanto para conseguir alguma coisa, não ia deixar me
tirarem com facilidade.
Foi, por isso, que
na hora do assalto ele reagiu e veio para cima de mim com fúria. Eu me
assustei, não estava esperando esta reação, achei que ele fosse me passar a
grana e assunto resolvido, eu ia embora e beleza.
Mas, ele veio para cima de mim e a
arma disparou. Muita gente na cadeia falou a mesma coisa. Para não ficar feio,
a gente debocha porque você tem que ser o malandrão, o fortão, senão é surra
todo dia, entendeu?
Mas, eles também
falaram que a arma dispara na aflição. A gente se rende ao afobamento, acha que
vai acontecer de um jeito e planeja errado, a pessoa age diferente e a arma
dispara.
Daí, eu vi que a
prisão acaba com você. A gente tem tudo de Deus, recebe tanto presente. Eu
tinha casa, comida, roupa limpa, cheirosa. Meus irmãos maravilhosos, pais gente
boa, todo mundo de bem, só eu difícil de lidar.
Tive escola e
oportunidade de emprego, eu que recusei.
Não quis seguir um
bom caminho, aí a vida me levou para a prisão depois do meu erro, bem feito.
Cara é muito ruim
ficar preso. Ser privado da sua liberdade é de enlouquecer. Eu fiz tudo o que
eu podia para reduzirem a minha pena. Só o pensamento de poder andar pelas ruas
ou de trabalhar num local onde eu pudesse conversar com pessoas de cabeça
limpa, voltar para minha família, dormir na minha cama em paz, sem medo de ser
torturado pelos outros detentos. Eu vivi um horror. Quem tem ideia do que pode
ser uma prisão não comete equívocos, anda na linha.
Se os jovens
recebessem verbalização no lar, iam pensar melhor. Acho que, desde de criança,
a gente tinha que conversar com os pais e aprender a valorizar o que tem,
pensar como seria se a gente perdesse as coisas mais simples por imprudência.
Todo mundo pode
pensar: como seria se você fosse privado da sua liberdade de ir e vir por
trinta ou quarenta anos? Como seria se você fosse privado do contato com sua
família, amigos ou namorado por trinta ou quarenta anos?
Será que vale um
deslize da nossa parte?
Deus sabe de todas
as coisas. Permite que a gente fique preso para pensar na vida. Para a gente
fazer uma revisão do que foi feito no seu tempo. Se você foi útil, uma pessoa
boa que faz diferença onde está ou uma pessoa que oferece riscos às outras
pessoas, um inútil, sociopata, criminoso que tem que se afastar do contato
social.
As pessoas ficam
presas e se isolam quando podem atrapalhar o bom andamento do curso ou não
fazem nada de importante para ninguém. Eu não desejo para ninguém o que passei.
Eu não consegui
sair da prisão. Contrai uma doença e não tive os cuidados necessários para me
curar. Você acha que as pessoas poderiam cuidar bem de mim, sabendo que eu
atirei de graça num velhinho? Morri sem os cuidados básicos e fiquei muito
revoltado por isso. Ninguém quer morrer. Mesmo tendo uma vida péssima, a gente
ainda luta pela dignidade de sobreviver, mas não era para ser. Desencarnei,
sofri mais um bocado até receber o auxílio de um tio que sempre foi bondoso
comigo.
Estou aqui,
refletindo todos os motivos que colocaram minha vida naquele enrosco.
Sei que saí ileso numa outra
existência. Em outra vida, roubei, feri muitas pessoas, rico, impune, curti
minha vida e acreditei que a justiça nunca poderia me achar, mas achou. Eu
estava numa família de honra e, mesmo assim, não me edifiquei. Acredito que a
experiência que vivi foi suficiente para me fazer mudar o rumo das coisas numa
próxima tentativa. Quem tem sua liberdade que faça por onde conservá-la.
FILIPE
04/04/20
------------------------Paula
Alves---------------------
“AQUELES QUE TIVEREM LUCIDEZ PARA ESTA PERCEPÇÃO
VÃO EVOLUIR BASTANTE”
Eu queria ver meus
pais. Passear no parque com as crianças, mas só podia fazer o que fosse
permitido por meu esposo.
Cultura rígida,
repressão sexual de todos os lados. A mulher não tinha voz e nem como desejar
mudar de vida.
Eu senti como se
aquilo não fizesse parte de mim. Achei sempre que as mulheres podiam estudar e
trabalhar porque tinham capacidades intelectuais para isso. Eu nunca vi erro no
nosso desejo de igualdade, mas não podia, não era correto. Os homens eram os
líderes da estrutura doméstica, religiosa e governamental.
Fomos criadas assim a vida toda e
sabíamos que nada poderia ser contestado. Ele foi um bom marido até que eu
comecei a falar. Eu não deveria ter dado minha opinião, eu não deveria ter
erguido o meu queixo, apanhei e senti uma indignação que feriu meu brio.
Eu não merecia ser
tratada daquela forma, era insano.
Ele me prendeu a
primeira vez por dez dias e minha família apoiou dizendo que o marido deveria
educar a esposa. Eu chorava, não podia olhar pela janela e eu queria ver as
crianças, mas ele dizia que eu deveria sentir forte na alma como é ficar sem
família e tudo o que tem que dar o devido valor.
Eu pensava em
coisas terríveis, a gente perde um pouco a noção da realidade, eu só queria
sair dali e viver a minha vida em paz.
Estranho como
nossos desejos são tão simples, nossas ambições não tem nada de complicado, de
ostentação ou de riqueza.
Eu pensei em fugir,
mas não podia ficar sem meus filhos. Pensar que minha filha viveria o mesmo que
eu...
As mulheres dos
outros países devem ficar felizes do quanto podem desempenhar e são tão
agraciadas pelas oportunidades que têm de manifestarem opiniões e serem vistas
com igualdade, muitas vezes, até com superioridade diante dos homens que olham
para elas com respeito.
Eu me sentia
ridicularizada, insultada.
Quando ele me soltou, eu estava
faminta, saudosa dos meus filhos e nunca mais olhei para os meus pais e para o
meu esposo da mesma forma.
Eu sentia como se
eles não me conhecessem, não me valorizassem. Eu ainda passei por isso mais uma
vez, quando recusei me deitar com meu esposo, ele me prendeu por sete dias e eu
quis morrer quando ouvi ele virando a chave, mas sabia que estava passando por
algum momento importante de alguma forma.
Vivi muito, vi
muitas cenas de discriminação com as mulheres, muitas situações que fizeram com
que eu odiasse algumas pessoas, quisesse sumir dali, mas resisti e aprendi
muito.
É BEM DOLOROSO PENSAR NO QUANTO A HUMANIDADE AINDA
DEVE ALARGAR SEUS HORIZONTES DE AMOR AO PRÓXIMO.
Amar ainda é para
bem poucos.
Por isso, toda a
necessidade de intempéries. Por isso, tanto caos, para que possam se unir
diante das calamidades. Para que as pessoas sofram e sintam na pele o
transtorno que alguns passam e não importa para ninguém.
Se não sofrem todos
juntos, não causa danos na maioria. Infelizmente só enxergamos desta maneira.
Todos sendo
privados da liberdade, todos morrendo de medo, como se o fim fosse chegar.
“O FIM NÃO CHEGA.”
A gente sempre
recomeça, de uma forma ou de outra, nós fomos feitos para o renascimento e
podemos superar as piores adversidades.
O mais importante
de tudo isso é a observação séria e sensata. Raciocinar no quanto fazemos
coisas tolas por causa do nosso egoísmo e do nosso orgulho.
COMO DESVALORIZAMOS O OUTRO, ABANDONAMOS O OUTRO,
MALTRATAMOS O OUTRO POR CAUSA DE INTERESSES PESSOAIS.
Uma fase tão
importante e tem tanta gente perdendo o tempo precioso com pânico, outros se
aproveitam para aumentar a desordem e se favorecer enchendo os bolsos de
dinheiro, ainda tem aqueles que se aproveitam para falar de política, para
fazer política, enquanto muitos vão adoecer da alma e morrer de medo ou de
solidão.
FALAR O QUÊ DO SER HUMANO?
Eu sei que Deus é
tão Pai de todos que observa e vai mudando aos poucos as possibilidades,
fornecendo pequenos sinais de como podem se adiantar no meio do caos. AQUELES QUE TIVEREM LUCIDEZ PARA ESTA
PERCEPÇÃO VÃO EVOLUIR BASTANTE.
Jesus esteja com vocês.
KLÉBIA
04/04/20
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