“Uma mãe nunca se recupera totalmente”
Desejei estar no lugar dela. Minha filha sempre foi uma pessoa maravilhosa, muito melhor do que eu. Meiga e delicada, fazia de tudo para ser prestativa e atender a todas as pessoas que precisavam dela.
Teve quatro crianças lindas e era mãe extremosa. Nos cuidados conosco, seus
pais e com os irmãos, também fez tudo o que pode, deixando os familiares bem
cuidados.
Nunca poderia imaginar que ela cuidava de todos e se esquecia de si
mesma. Inventava festas para nos alegrar, corria de um lado para o outro para
atender as necessidades dos filhos e marido, porém, notei que ela estava
abatida, cansada, mal-ajeitada e tive uma conversa com ela.
Me coloquei a disposição para ficar com os dois netinhos menores para
que ela descansasse um pouco, mas o motivo não era cansaço. Ela estava doente!
Nunca pensou que o exame preventivo fosse tão importante. Nunca imaginou
que pudesse ter problemas nas mamas porque em nossa família nunca houve um caso
desta doença terrível.
Ela seguiu com a vida e só percebemos que a coisa estava tão ruim quando
ela emagreceu demais, ficou tão fraca que nos preocupamos.
Indo ao médico foi fácil receber o diagnóstico conclusivo. As mamas
estavam tomadas e ele já tinha se espalhado para os gânglios axilares.
Foi um choque. Nós nos desesperamos. Foi como receber uma sentença de
morte. Algo absurdo, confuso e estarrecedor. O que podíamos fazer?
Eu tentei aproveitar ao máximo todos os minutos que tínhamos, ela fez os
tratamentos que eram possíveis para amenizar os sintomas e logo o momento da
partida chegou, tirando todas as nossas esperanças.
Foi tão triste. Tão sufocador. Eu estava perdendo a minha filha e não
tinha nenhum tipo de esperança que pudesse me animar, pelo contrário, eu me
sentia culpada por nunca ter encorajado a realizar os exames de mamas.
Eu era a mãe e estava me despedindo da filha amada porque ela não se
cuidou adequadamente. Os exames preventivos são fundamentais, salvam vidas.
Ela cuidou de todos nós. Uma vida inteira dedicada à família com total
atenção e desprendimento. Nós perdemos muito naquela época.
Eu tentei ser forte por causa dos meus netinhos. Tentei superar por
eles, ajudei a cuidar de todos e me conformei, mas jamais me livrei da culpa de
ter estimulado minha menina a procurar médicos que pudessem manter a sua saúde
perfeita. Uma mãe nunca se recupera totalmente.
Adelaide
06/10//2024
***
“Eu coloquei a beleza em primeiro lugar e deixei a saúde de lado”
Fútil! Sua miserável fútil! – era isso que eu escutava naquele lugar
fétido.
Passei décadas no plano espiritual tentado compreender por que eu tinha
que correr deles. Eu não tinha nenhum tipo de esclarecimento para entender onde
eu estava e a necessidade de ficar me escondendo daqueles seres feios.
Quando o socorro chegou foi como adentrar o céu, a esperança tomou conta
de mim e me senti protegida. Tudo vale a pena quando conseguimos ser
socorridos.
Eu precisei compreender por que eu tinha que ficar ali, o que eu fiz
para merecer aquela situação.
Mas, foi fácil analisar a última existência...
Sempre fui uma mulher extremamente vaidosa. Eu teria gasto todos os meus
recursos financeiros se me dissessem que eu ficaria mais bela e radiante.
Falassem de um creme rejuvenescedor, ali estava eu para adquirir.
Informassem de um tratamento para varizes ou estrias, lá estava eu para
realizar.
Me mostrassem algo para deixar o corpo escultural, com certeza, eu iria
fazer, foi então, que decidi colocar silicone nas mamas. Eu queria que elas
voltassem a ser belas e firmes como antes.
Tanto falei para meu esposo que ele acabou concordando. Ele sempre fazia
minhas vontades, era aquele tipo de marido que gosta de se gabar entre os
amigos porque a esposa é linda e graciosa.
Fiz minha cirurgia, me achei ainda mais bonita, mas nunca fiz por onde
realizar exames preventivos porque achava perda de tempo, verdadeira tolice. Eu
nunca pensei na morte, eu só queria ser bonita, então não tinha motivos para
recorrer aos médicos.
A doença foi avançando e eu jamais poderia imaginar que ficaria tão mal
de forma silenciosa.
Um dia minha mama começou a eliminar secreção e estava bem dolorosa, eu
me desesperei, fui procurar um médico que se espantou por eu nunca ter feito
exames de mamas. Rapidamente solicitou exames que mostraram um tumor. Eu
desejei me tratar e o médico fez tudo o que pode. Fiz a quimioterapia que me
fez perder todos os pelos e cabelos. Eu padeci mais ainda de desgosto de me
olhar no espelho e ver o quanto eu estava feia e acabada.
Aquela visão me deixava profundamente entristecida. Imagine! Com toda a
vaidade que eu tinha, chegar naquele estágio...
O tratamento não funcionou, eu não acreditava na cura. Morri e fui vagar
porque eu fui negligente com minha saúde.
Eu coloquei a beleza em primeiro lugar e deixei a saúde de lado. Muitos
de nós priorizamos coisas que não têm a menor conveniência. Eu me perdi achando
que viveria por muito tempo e poderia ser sempre bela. Acionei a Lei de
Causalidade e padeci na carne e no plano espiritual.
Cibele
06/10//2024
***
“A medicina avança e, com ela, devemos avançar numa
conscientização de que a medicina preventiva e diagnóstica nos fornece a
oportunidade de prosseguirmos”
Muitas mulheres na família tinham tido câncer de mama. Eu temia, mas
achava que a forma mais segura de passar esta última existência fosse com
prevenção.
Eu vi o quanto minha mãe sofreu. Na época dela, os tratamentos eram
precários, um diagnóstico destes, fazia com que as pacientes estremecessem, era
atestado de óbito, sem esperança nenhuma. Mas, os tempos avançaram e, com o
crescente número de casos, pesquisas e tratamentos foram desenvolvidos para que
as mulheres pudessem ser tratadas aumentando a expectativa de vida daquelas que
fossem diagnosticadas com câncer de mama.
Minha mãe temia por mim, mas eu já estava consciente de que poderia
acontecer, então, fiz meus exames nos períodos certinhos e realmente ele
apareceu como temíamos.
Surgiu pequenino, o médico investigou e disse que não precisava temer,
seria retirado sem grandes preocupações. Foi assim que retirei o tumor e
continuei minha vida.
Sempre cautelosa, eu vivi muitos anos. Tive outros focos que apareceram
pequeninos e foram retirados. Não precisei remover minhas mamas e segui meus
projetos de vida.
A medicina avança e, com ela, devemos avançar numa conscientização de
que a medicina preventiva e diagnóstica nos fornece a oportunidade de
prosseguirmos sem grandes sofrimentos, sem sofrimentos desnecessários.
Eu sou muito grata pela forma como os médicos cuidaram de mim e todos os
recursos que foram utilizados na saúde física.
Quando chegou meu momento de regressar para a pátria espiritual, em
virtude do término do meu planejamento, regressei porque o coração parou,
desencarnei dormindo, calma e tranquila, encaminhada por minha mãe e outros
familiares queridos que estavam na espiritualidade há anos.
Foi um desenlace suave e necessário. Gratidão.
Bete
06/10//2024
***
“Devemos nos amparar porque todos sofrem, mas não
estar sozinho nesta hora tem muita relevância”
Nós sempre fomos amigas, desde a infância. Nos tratávamos como irmãs,
com uma lealdade difícil de se ver por aí.
Quando ela me contou o que estava acontecendo, eu chorei. Fiquei deveras
compadecida por sua situação, justamente porque ela estava preocupada com sua
família e não com ela. Pensou no esposo, nas crianças e nos pais idosos, mas
não pensou na sua saúde e no seu sofrimento.
Eu tentei ser otimista, disse que ela podia fazer o tratamento e que
tudo daria certo, ninguém precisava pensar em morte.
Eu me propus estar com ela em todos os exames, consultas, tratamentos,
eu faria isso tudo com ela e não imaginei o quanto seria desgastante e
torturador este processo de lutar pela vida.
O câncer de mamas veio cheio de ímpeto, destruindo tudo, aniquilando,
sugando todas as energias da Flavia. Ela ficou muito debilitada, fraquinha, ela
precisava de ajuda para tudo e sofreu muito com a quimioterapia. Parecia que
ela estava sendo destruída dos dois lados e eu fiquei com muito medo por ela e
por todos, também por mim que não queria perder minha amiga.
Eu precisava estar forte ao lado dela, mas estava quase perdendo as
forças. Encontrei no Evangelho do Mestre a minha salvação e pedi para minha
amiga se lembrar da mulher hemorrágica e não desistir. Jesus sabia o tempo do
sofrimento de cada um, nós venceríamos.
Ela se esforçou pelas crianças, teve que remover as mamas, fez o
tratamento e após meses de aflição foi melhorando.
Por um momento, eu cheguei a imaginar que ela não conseguiria, mas Deus
foi misericordioso. Chegamos a dar o nosso testemunho na igreja sobre a vitória
alcançada em nome de Jesus.
Nós não podemos perder a fé minhas irmãs. Todas nós enfrentamos fases
difíceis na vida, cada uma com um sofrimento que parece abater e tirar as
forças, mas Deus cuida de nós e nos fortalece. Ele sabe o que é melhor para o
nosso desenvolvimento.
Devemos nos amparar porque todos sofrem, mas não estar sozinho nesta hora tem muita relevância.
Marcia
06/10//2024
***
“O mais importante é viver de forma plena,
completamente consciente de suas responsabilidades”
Estive tão empenhado em treinar e manter meu corpo fortalecido para
suportar a distância.
Conversei com atletas e soube que seria difícil para mim que sempre fora
sedentário, mas eu precisava me esforçar para pagar minha promessa.
A santa tirou minha mãe de uma enfermidade terrível, acreditei que os
dias delas estivessem acabando, fiz uma promessa com toda a minha fé e fui
atendido prontamente. Não demorou muito até que minha mãe se reerguesse e
retornasse para casa. Eu fiquei tão feliz, fui tão grato que só pensei em pagar
minha dívida com a santa.
Eu nunca imaginei que estivesse agindo de forma leviana... Ninguém nunca
havia mencionado que eu estava barganhando com a espiritualidade, fazendo um
“toma lá da cá”. Nem por um minuto, raciocinei de que isso poderia ser uma
afronta diante do que Deus desejava para as nossas vidas.
Como poderia imaginar que cada um de nós recebe provas adequadas para
sua evolução e deve aceitar os desígnios de Deus, se esforçando e tendo coragem
para suportar e superar as adversidades, mas sem queixas e reclamações que
seriam uma acusação de injustiça de Deus ou barganhando com a espiritualidade
que deve conceder o que estamos solicitando.
Na minha perspectiva, eu conseguiria aquilo que estava solicitando, eu
já sabia que seria atendido e, por isso, já estava me preparando para quitar
meu débito com a padroeira.
Mas, era barganha sim, se ela não concedesse meu pedido, eu não teria
motivos para ir até lá e agradecer, nunca tinha pensado por este lado, mas é verdade.
O fato é que deu tudo certo e fui atendido, me preparei e não
conjecturei de que fosse uma verdadeira loucura enfrentar a distância extrema,
condições adversas de temperatura, minha idade que já era avançada e a saúde
que não era das melhores. Não pensei em nada, foi como me colocar novamente nas
mãos da santa e dizer que eu chegaria lá, se fosse protegido.
Por que este “se”? Sempre tinha uma condição. Depois que entendi tudo
isso, confesso, me senti bastante envergonhado e pedi perdão para a espiritualidade
de luz, mas nesta fase, eu já estava desencarnado.
Eu não aguentei o primeiro dia, apesar da minha fé e boa vontade, do meu
treino, eu me preparei pensando em tudo, paradas para descanso e alimentação,
mas o sol quente, o asfalto em brasa, meu coração não resistiu todo aquele
esforço. Me bateu um desespero tão grande.
Dizem que é uma reafirmação da sua fé, fase importante para meditação e
conscientização dos seus propósitos, mas eu só pensava em desistir, eu estava
profundamente arrependido, com dor no corpo todo e insatisfeito com minha
decisão.
Não vale a pena a mortificação voluntária, não muda nada. Não exime das
nossas culpas, não apaga nossos erros e não nos converte em seres muito
melhores, só atormenta e gera uma falsa sensação de conquista, de estar quites
com a soberania espiritual.
Eu pensei nisso tudo, no quanto eu era orgulhoso e no quanto eu
maltratei minha mãe, com palavras e com negligencia, principalmente com a minha
ausência, filho ingrato que grita e abandona.
Por que eu queria que ela estivesse sempre comigo? Para que ela ficasse
só mais uma vez?
Para não passar pela dor da perda?
Até nisso somos egoístas. Eu sabia de tudo, eu me reconhecia como um
filho ingrato, meu coração não aguentou e eu cai. Os motoristas viram quando
cai, muitos tentaram me socorrer. Levaram para o posto de suporte aos romeiros
mais próximo, mas foi em vão, eu já estava desligado do corpo.
O mais importante é viver de forma plena, completamente consciente de
suas responsabilidades pessoais, familiares, sociais e suas responsabilidades
com Deus. Isso vale mais do que qualquer flagelo.
Flávio
12/10//2024
***
“Nós viveremos tudo o que for necessário à nossa evolução, por isso, quanto mais humildes, melhor”
Eu me arrependi do que havia jurado enquanto ele estava agonizando.
Prometi que iria até a catedral de joelhos. Naquele momento, eu achei que uma
promessa poderia livrar meu marido da morte, mas não foi nada disso.
Ele morreu e eu fiquei só com nossos três filhos pequenos. Levou muito
tempo até que eu pudesse compreender o que Deus tinha feito nas nossas vidas.
Eu reclamei tanto, achei que Ele estivesse me castigando por alguma
coisa que eu fiz, eu ou aos meus filhos.
Parecia que eu havia me esquecido o quanto aquele marido tinha me
batido, esquecido de quantas amantes foram até nossa casa, quantas vezes ele me
humilhou em público.
Eu só pensei na comodidade material ou nos esforços que eu teria que
fazer para manter minha família em ordem.
Eu teria pago a promessa, acho que sim. Se ele tivesse sobrevivido, eu
teria ido à catedral de joelhos, mas não foi necessário e eu ainda afrontei
Deus com meus insultos, quanta vergonha!
Ele poderia me fazer sumir com um sopro, mas deve ter sentido piedade de
mim, criaturinha insolente e fora do juízo. Mas, passados alguns meses de
insanidade temporária, cai na real.
Eu me lembrei de quantas vezes pedi socorro para a santinha, dizendo que
a mãe de Jesus poderia me compreender e me socorrer, mudar minha vida, dar
forças para continuar.
Ela agiu! A espiritualidade sempre cuida de nós e arrebata aqueles que
não sabem viver em conformidade com a Lei.
Então, resolvi me curvar diante do poder espiritual e parar de reclamar
como insolente. Fui até a basílica e dobrei meus joelhos, eu agradeci por estar
bem, empregada, saudável, preparada para cuidar dos meus filhos que também
estavam íntegros e bem. Eu tinha muitos motivos para agradecer, pedi perdão
pelas injúrias.
Acredito que nós precisamos agradecer, sempre. Agradecer pelo sol e pela
chuva, pelo trabalho e condições de subsistência, pelo aconchego do familiar e
dos amigos. Tudo é motivo para agradecer, mas dizer que vai se curvar se
receber tal coisa, é mostra da nossa arrogância diante do poder da
espiritualidade.
Nós viveremos tudo o que for necessário à nossa evolução, por isso,
quanto mais humildes, melhor. Aceitemos com gratidão tudo o que vier.
Lurdes
12/10//2024
***
“Muitos precisarão passar pela situação de criança
carente, abandonada, com deficiências físicas e mentais para resgatarem seus
débitos do passado”
Eu queria muito um brinquedo.
Olhava para as vitrines e admirava, mas eu nem podia entrar na loja, os
vendedores olhavam para nós e diziam: “Sai trombadinha!” Eu tenho agonia só de
lembrar.
Nossa vida era a ruina moral, sem banho, sempre com fome, “morto de
fome”, com cheiro fétido de lixo, de fezes.
Nós éramos desprezados, criança que ninguém deseja por perto, ainda
achavam que éramos bandidos, “ladrõezinhos sujos”.
Tive que crescer ouvindo isso, me encolhendo nos dias de frio,
procurando ponte para se abrigar, pensando nos meus irmãos mais novos depois
que a mãe morreu.
Tem gente que sofre demais. Eu nem podia imaginar que a vida não é só
isso, graças a Deus.
Foi só uma fase, pensando bem, passou rápido, ufa! Mas, naquela época,
eu tinha pensamentos infantis, eu queria um brinquedo no dia das crianças.
Foi então que aquela dona chegou sem temor, fez questão de dar doce e
brinquedo para todo mundo. A criançada ficou muito feliz naquele dia. A gente
tava com fome e queria um banho, se pudesse sonhar, eu queria até um lugar
melhor para dormir, a gente tá sempre cansado sabe?
Não tem estrutura para viver tanto tempo na rua, se criar na rua. Aquela
dona ficou com pena da gente e passou a levar comida e agasalho, depois falou
da creche, do orfanato. Eu pensei que era uma prisão, a gente tava perdido de ir pra lá, mas
tinha chuveiro e cama, comida quente todo dia. Falei com meus irmãos que era o
melhor a fazer.
A gente foi e ganhava muita coisa, a vida já estava melhor, estudava,
ganhava brinquedo, brincava e ninguém abusava da gente.
Muitos ficavam ansiosos com a possibilidade da adoção, mas não eu. Tinha
certeza de que não seria adotado e fui. Um casal americano quis me adotar.
Fiquei muito triste de me separar dos meus irmãos, mas era assim que tinha de
ser. Fui embora e nem acreditei na vida que Deus tinha reservado para mim.
Tudo mudou, meus pais foram incríveis, estudei, me formei e tive a
oportunidade de me dedicar as crianças como educador. Voltei ao Brasil e fundei
uma associação para menores carentes. Foi fantástico!
Eu compreendi perfeitamente porque tive que enfrentar aquela situação
para sentir na pele a vida de uma criança de rua.
Não dá para descrever, inenarrável as coisas que podem ser vistas,
ouvidas e sentidas. A falta de dignidade e o medo, a rejeição e o preconceito.
Tudo é ruim demais.
Faz crer que no mundo só existe crueldade, a criança perde a esperança e
só quer coisas bem simples como saciar as necessidades essenciais. Como se
reduzisse ao animal.
Muitos precisarão passar pela situação de criança carente, abandonada,
com deficiências físicas e mentais para resgatarem seus débitos do passado.
Melhor escola não tem.
Josias
12/10//2024
***
![]() |
“Filho ingrato! Eu não podia ter devolvido o mal
que fizeram para mim”
Recebi os melhores brinquedos. Tudo de última geração, sofisticados,
lindos! Custavam muito dinheiro, vários importados, tudo para satisfazer meus
caprichos infantis.
Meus pais achavam que este era o melhor meio de neutralizar a ausência
deles no lar. Acho que pensavam que eu me esqueceria das vezes que chorei
pedindo que ficassem em casa comigo.
Nenhum daqueles brinquedos supriu minhas necessidades afetivas, eu senti
tanta saudade. Sempre desejei um abraço do meu pai e nunca recebi. Acho que
eles se arrependeram do meu nascimento, nunca deviam ter tido filhos, sempre
foram fúteis e levianos. Eu nunca fui bem tratado no lar, a não ser pelos
empregados que tinham pena de mim e se esforçavam para me doar afeto.
Os bens materiais não trazem felicidade ou harmonia no lar, muito pelo
contrário, traz indignação e revolta. Eu podia ter tido uma vida perfeita, mas
fui rejeitado, eles não me quiseram.
Viajavam sem mim, faziam de tudo para me afastar. Levei muito tempo
reclamando, até que cresci e fui embora, estudar no exterior, bem longe deles.
Quando me tornei independente financeiramente, quebrei os elos e nem
mesmo mencionei para onde estava indo, eu não os queria por perto para me
lembrar do quanto fui indesejado. A verdade é que a ausência dos pais mexe com
a nossa mente, eu nunca consegui me relacionar inteiramente com ninguém. Sempre
fui muito infeliz. Rico e infeliz.
Eles envelheceram, precisaram de mim e eu aproveitei esta necessidade
para acabar com eles. Falei as minhas verdades, internei nas casas de repouso e
tomei posse da minha herança. Fiz de propósito para me vingar dos pais
ausentes.
Cheguei a presenteá-los com brinquedos para que pudessem compreender os
meus traumas de infância. Acho que eles não entenderam nada. Quem bate esquece,
só lembra quem apanha.
Foi muito pior. Quando eles morreram eu senti tanto remorso. Filho
ingrato! Eu não podia ter devolvido o mal que fizeram para mim.
No passado, eu também os rejeitei como filhos de um envolvimento extraconjugal
e retornamos unidos nesta vida para que pudéssemos eliminar todas as desavenças
do pretérito e eu não entendi nada.
Eles tinham seus motivos para me rejeitarem, mas tentaram deixar pessoas
bondosas para que eu fosse bem assistido. Se nós pudéssemos saber os elos que
nos unem, jamais reclamaríamos, pelo contrário, faríamos tudo ao nosso alcance
para sermos pessoas sempre amorosas e gratas.
Reginaldo
12/10//2024
***
“Quem vê cara, não vê coração!”
Fui extremamente vaidosa. Durante muito tempo considerei que tudo o que
vivi fosse uma forma delicada de Deus dizer o quanto eu estive errada,
valorizando o que não devia valorizar. Eu achei que fosse uma espécie de
castigo em decorrência do quanto amava minha aparência.
Sei que cheguei a humilhar pretendentes e espezinhar amigas porque me
achava bonita demais. Eu tinha um corpo perfeito, um rosto harmonioso, dentes e
cabelos lindos, voz aveludada. Eu tinha todos os atributos de uma mulher
encantadora, mas por dentro, era arrogante e egoísta, muito vaidosa. Quem vê
cara, não vê coração!
Eu precisava vivenciar tudo o que vivi. Precisei ficar desesperada
quando soube do câncer de mama em estágio avançado e dos tratamentos
devastadores que teria de fazer. Eu me desesperei porque soube que ficaria feia
e não com a possibilidade de morrer. Para mim, a morte não era nada diante da
perda da pose, da submissão social, eu teria que me colocar no mesmo patamar
que todas as outras criaturas, cheias de defeitos e horrores. Eu não podia
passar por tudo aquilo, então, sabia que aquele momento era uma maneira de Deus
me reeducar.
Eu tinha uma chance de viver, teria que fazer o tratamento. Precisaria
fazer uma cirurgia para retirada das minhas mamas e quimioterapia. Pensei se
deveria contar aos familiares, pensei se devia me submeter a tudo isso. Eu
poderia recusar e ver onde aquilo tudo chegaria, mas no fundo, eu também tinha
medo da morte.
Deus foi muito correto colocando o instinto de sobrevivência no ser
humano porque, desta forma, até de maneira inconsciente, nós fazemos todos os
esforços para continuarmos vivos.
Foi o que fiz, todos os esforços para continuar viva. Tentei manter
segredo, mas meus familiares perceberam que eu estava emagrecendo em demasia,
depois veio a cirurgia, a quimio com a perda de todos os cabelos e pelos do
corpo. Eu definhei. Minha beleza sumiu de repente e, de uma hora para a outra,
tudo o que importava era estar viva com a minha família. Eu não queria me olhar
no espelho, mas estava agradecida por todos os dias de vida. Passando mal, com
medo e sendo grata. Nunca imaginei...
Acredito que Deus saiba exatamente tudo o que devemos enfrentar para nos
tornarmos pessoas melhores. Eu me lapidei com aquela doença terrível.
Após um tempo, eu estava bem, meu médico falou que eu estava fora de
risco. Fiquei muito feliz, mas quando me olhei no espelho, eu era uma pessoa
modificada, nem de longe aquela mulher exuberante e altiva, linda. Eu estava
mais modesta, humilde, cheia de fé e gratidão a Deus, coloquei minha vida em
suas mãos. Eu não era mais bonita, mas tinha o coração cheio de bondade. Nós
sempre aprendemos o que é melhor para o nosso desenvolvimento.
Elisa
20/10//2024
***
“Eu consegui! Venci o câncer e tive muitos momentos felizes com meus familiares”
Eu queria poder amamenta-lo, mas eu não tinha leite. Lembrei de minha
mãe e de tudo o que ela teve que suportar por causa do câncer de mama que
acabou sendo o motivo do seu desencarne. Eu observei minhas mamas e tive muito
medo de também ter problemas com o câncer. Dizem que os descendentes também
podem desenvolver câncer. Eu fazia exames preventivos e pedia a Deus que não
acontecesse comigo. Ela teve um fim tão doloroso. Eu desejava poder criar meus
filhos, ter mais tempo com meu esposo. Minha mãe morreu jovem demais.
Mas, nós não podemos imaginar o que a vida nos reserva. Parecia que eu
estava sabendo o que o destino me reservaria.
Quando meu bebê estava com dois anos, recebi a notícia do médico que eu
estava com um tumor e precisava investigar. Primeiro a gente quase morre de
medo porque ninguém quer receber uma notícia destas. Não sei explicar o que a
gente sente, ainda mais quando você já perdeu um familiar com câncer. Em minha
mente consegui visualizar o final da minha mãe e vi todo o sofrimento dela, o
medo da perda e o luto difícil, tanta saudade...
Eu não queria que meus filhos me perdessem, eu queria estar presente nos
momentos importantes de suas vidas, mas por que temos tanto medo da morte?
Eu nunca tinha me esclarecido sobre ela, eu só queria viver. Fiz tudo o
que podia, mas era um tumor maligno, era câncer. Eu nem queria mencionar a
palavra, tinha medo de qualquer tratamento, mas o médico informou que estava em
estágio inicial e a ciência já estava avançada, tudo daria certo.
Eu consegui! Venci o câncer e tive muitos momentos felizes com meus
familiares.
Eu sei que as pessoas passam por tudo o que é imprescindível para seu
aperfeiçoamento. Não estava na minha hora de partir para a espiritualidade. Eu
só precisava aprender algumas coisas muito importantes.
Nós temos que ter forças morais para realizarmos os tratamentos
adequados, sabendo que todo processo traz aprendizado e elevação.
Valentina
20/10//2024
***
“Saibamos usar bem nosso tempo e as oportunidades
de sermos úteis mesmo na enfermidade”
Ser uma mulher com câncer de mama propicia fazer descobertas incríveis.
Eu mudei os ambientes rotineiros da minha vida em prol do meu
tratamento. Só quem passa horas numa sala de espera de quimioterapia sabe do
que estou falando.
Nós convivemos com outros pacientes e, aos poucos, conseguimos
compreender os infortúnios das outras pessoas. Você muda o foco, já não é mais
o centro do Universo, começa a orar por pessoas que não são parentes
consanguíneos.
Eu vi as crianças e me impressionei com a força e determinação delas. Vi
os pais que enfrentam muitas dores e parecem ser super-heróis e heroínas,
vencendo frustrações e dores para que seus filhos possam superar a doença.
Eu deixei de lado meu problema e passei a observar a vida dos outros e
seus objetivos em viver mais uns dias, com tanta alegria e determinação que
aprendi muitas coisas boas.
Eu vi que precisava me espelhar nestas pessoas. Eu precisava me
interessar mais pela vida, ser mais grata por cada momento. Eu aprendi.
Também encontrei idoso com graves problemas e os chamados pacientes
paliativos que só esperam sua hora chegar. Eu tive contato com todos e esqueci
do meu problema, da minha dor.
Nunca me esqueci de alguns olhares e de algumas histórias. Não me
esqueci das lágrimas de alguns familiares e de alguns profissionais também se
emocionavam e faziam seu trabalho com extrema delicadeza.
Sei que ninguém quer ficar doente, mas a prova da enfermidade
possibilita que se avance demais.
Se tivermos um olhar investigativo, perscrutador, podemos aprender com
cada pessoa que surge em nosso caminho. Eu aproveitei aquela fase dramática
para aprender com tudo o que estava diante de mim. Eu não achei justo ficar
reclamando.
Quando passou, eu estava diferente.
Não desencarnei em decorrência do câncer de mama. Depois de décadas de
vida incrível, cheia de oportunidades, tive um ataque cardíaco, só porque era
meu dia de retornar mesmo. Foi rápido e quase indolor. Tudo previsto, tudo
perfeito.
Voltei para cá e qual não seria minha surpresa quando reencontrei muitos
daqueles olhares diante de mim. Eles também se envolveram comigo. Ficaram
satisfeitos porque fui uma boa ouvinte. Falaram que na hora do meu martírio, eu
ainda soube ser caridosa. Nunca pensei. Eu só estava querendo aprender com
eles.
Sou muito agradecida por tudo o que vivi. Saibamos usar bem nosso tempo
e as oportunidades de sermos úteis mesmo na enfermidade.
Cintia
20/10//2024
***
“Não desejei me afastar do ambiente doméstico e
desestruturei meus familiares durante anos”
Eu estava tomando banho e senti um caroço, fiquei agoniada, mas pensei
que não devia ser nada sério. Não dei bola. Eu odiava ir aos médicos, tinha
pavor que me dessem injeções, remédios então, não podia nem sonhar.
Meu esposo falava que eu estava sendo relapsa com minha saúde, mas não
tinha casos na família de pessoas com câncer, eu nem me preocupava com estas
coisas.
O tempo passou, comecei a sentir dor e quando tive coragem de passar a
mão, notei que o caroço estava enorme, daí me apavorei, mas não queria contar
ao meu esposo, eu não queria ir ao médico, até achei que eu tinha algum trauma
de infância.
Não era trauma de infância, foi de outra vida quando ainda pequena, eu
precisei fazer uma cirurgia cardíaca e fiquei com a cabeça cheia de receios,
não conseguia nem mesmo ver alguém de jaleco branco que ficava mortificada.
Mas, enquanto encarnada, eu não tinha como saber disso. Só lembrei
quando cheguei aqui.
O fato é que fui deixando evoluir e quando começou a sangrar e procurei
assistência médica, não tinha mais nada que pudesse ser feito para melhorar
minha situação.
O médico foi claro comigo, dizendo que eu devia aproveitar os dias que
eu tinha para estar com meus familiares, o câncer já havia se espalhado. Eu fui
uma paciente paliativa, nem tive chances de me tratar porque fui negligente com
minha saúde.
Tive medo de partir, desencarnei cheia de dores e cheia de culpa porque
a consciência claramente faz questionamentos e como um juiz aplica a sentença.
Eu não me cuidei como deveria.
Sofri tanto no mundo espiritual por causa das dores, das lesões que
ficaram no meu perispírito.
Não desejei me afastar do ambiente doméstico e desestruturei meus
familiares durante anos.
Mas, houve um momento em que pedi ajuda sincera e fui trazida para cá.
Muito se engana quem pensa que o sofrimento acaba juntamente com o fim do corpo
físico.
Termos consciência dos cuidados com o corpo é imprescindível para termos
uma vida tranquila e um desenlace físico também harmonioso.
Vanessa
20/10//2024
***
“Compreendi o quanto a enfermidade e o sofrimento podem depurar o nosso Espírito e nos elevar no contato com os seres mais altos”
Preferia que tivesse acontecido comigo, mil vezes comigo do que com ela.
Minha filha sempre foi uma pessoa maravilha! Um anjo em forma de gente e eu não
poderia compreender a necessidade de vivenciar todo aquele sofrimento se não
tivéssemos cumprido outras metas, se não tivéssemos vivido em outros tempos.
Eu já não estava encarnada, mas sempre estava presente, fazia pequenas
visitas acompanhada por instrutores mais elevados. Eu solicitava as visitas
porque sentia saudades dos meus amados familiares e ficava muito tranquila após
vê-los, mas numa destas visitas percebi minha Adelaide diferente. Ela mostrava
sinais de abatimento e fraqueza.
Meu instrutor percebeu meu senso crítico e fez um sinal de afirmativo,
ele me pediu para observar seu corpo fluídico e notei os sinais de doença nas
mamas.
Eu me desesperei e ele tentou me acalmar, informando que eu precisava me
controlar, disto dependiam minhas futuras visitas, então, eu me controlei,
tentei irradiar fluidos salutares e partimos.
Já na colônia espiritual, questionei o que aconteceria com minha filha e
fui informada que aconteceria o necessário resgate. Como assim?
Como eu podia ficar tranquila sabendo que ela passaria por dificuldades
e dores? Câncer de mamas?
Eu fiquei muito perturbada, por isso, necessitei do tratamento psíquico.
Foi muito difícil para mim, saber que ela sofreria.
Eu cheguei a pedir a favor dela, eu pedi para que pudesse enfrentar tudo
isso na vida futura. Achei que ela pudesse ser aliviada, ela merecia ser feliz.
Mas, fui informada de que cada um de nós, deve enfrentar seu calvário,
porém, eu podia ajudar com preces e emanações fluídicas.
Eu sofri muito. Imaginei que Adelaide não teria forças para enfrentar o
câncer com coragem e resignação, podendo agravar seu sofrimento, mas eu me
deparei com uma mulher extremamente forte e com muita fé nos desígnios de Deus.
Que moça boa e elevada esta minha filha!
Ela suportou tudo, apesar das dores. Ela consolou os familiares e ainda
fortaleceu outras pacientes. Ela conversava com Deus e eu aprendi muito com
ela, com sua fortaleza moral e sabedoria.
Adelaide acreditava que a doença vinha ensinar a sermos pessoas melhores
para compreendermos o que as outras pessoas enfrentam. Ela ficou satisfeita de
estar em lugares onde as pessoas careciam do Evangelho e de uma palavra amiga
de esperança e paz. Ela trabalhou levando o alívio aos doentes que não
conheciam o Salvador.
Apesar de todas as demonstrações de fé, sua doença foi muito invasiva e
ela não resistiu as lesões da matéria. Quando minha filha desencarnou, tive a
concessão de estar com ela, de poder acolhe-la na morada de luz. Foi o maior
benefício que recebi dentre tantos.
Estar com ela nesta fase decisiva foi lindo. Eu a abracei como quando
era uma pequenina e beijei seu rosto encantador. Ela estava reluzente e eu
chorei de contentamento. Compreendi o quanto a enfermidade e o sofrimento podem
depurar o nosso Espírito e nos elevar no contato com os seres mais altos.
Eu aprendi muito com ela e tive a satisfação de me refazer e conviver
com ela novamente neste plano espiritual.
Olivia
27/10//2024
***
“Ai daqueles que tiram as esperanças e dão sentenças de morte!”
O médico falou que era tarde demais. Ele me criticou e disse que “as
mulheres modernas só pensam em ganhar dinheiro e se esquecem de cuidar da
saúde”.
Disse que não tinha nada a fazer no meu caso, era só esperar. Ele me
olhou com dureza como se questionasse o que eu faria com tudo o que adquiri.
É horrível pensar que as pessoas julgam e condenam, mas na verdade
ninguém está na pele de ninguém para saber realmente o que nos move na vida.
Cada um tem o seu motivo para trabalhar incansavelmente.
Eu também queria descansar, ter finais de semana para passear com meus
filhos. Eu queria dormir cedo e tirar férias. Queria ter tido mais tempo para
ler livros ou assistir a tv.
Eu quis estar livre no fim da tarde para tomar sorvete ou um café com
uma amiga, mas me lembrei que eu não tinha tempo para amigas, para nada disso
porque eu trabalhava demais.
Meus filhos sempre me cobravam, meu marido me cobrava e acabou me
deixando. Meus pais me cobravam e diziam que eu era uma filha ruim, mas eu me
preocupava com todos eles e, por isso, trabalhava demais.
Meu marido deixou o serviço para ficar com os amigos tantas vezes, ficou
de pileque tantas vezes que foi despedido muitas vezes e eu me sacrifiquei para
cobrir o aluguel.
Quando ele me deixou as coisas ainda pioraram, eu arrumei outro emprego
porque não queria que faltasse alguma coisa para os meus filhos. Meus pais já
eram idosos e eu queria que tivessem assistência médica, medicações,
tratamentos adequados. Eu investia em saúde e educação, moradia e segurança.
Mas, não era suficiente.
Eu estava exausta, tão cansada e ainda era obrigada a me sentir culpada
porque eles não tinham a minha presença. Fazia de tudo para estar nos eventos
escolares e comemorações familiares, mas estava sempre atrasada, sempre faltava
alguma coisa.
É claro que eu não tinha tempo para mim. Eu não conseguia fazer os
exames preventivos, me alimentava de forma precária e mal conseguia dormir, com
a mente cheia de preocupações e arruinada emocionalmente.
Quando a doença chegou, eu já era um farrapo. Com os insultos daquele
médico, foi como se eu cavasse minha cova. Eu não tinha forças para rebater
qualquer insulto, só chorei.
Quão covardes podem ser as pessoas que chutam “cachorros mortos”. Em
posição de superioridade, podendo ajudar, fazem o possível para serem cruéis.
Sei que a Lei não permite uma coisa destas, ai daqueles que tiram as esperanças
e dão sentenças de morte!
Ele não me deu oportunidade de me tratar, mas eu precisava tentar. Eu
tinha motivos para lutar, a minha família, a minha vida.
Sei que eu podia ter uma chance e procurei outro médico que foi bem mais
delicado e me propôs alternativas de tratamento que foram extremamente eficazes
porque eu me curei.
Sofri bastante, precisei mudar minha forma de vida, cirurgia,
quimioterapia, redução da jornada de trabalho. Eu mudei tudo, precisei pedir
ajuda para muitas pessoas para que eu tivesse tempo e condições de me tratar
adequadamente, assim, reduzi meu orgulho e contei com pessoas que pudessem
cuidar de mim e dos meus filhos. Meus pais me ajudaram muito e eu me curei.
Depois compreendi que todos nós podemos, com uma vida mais simples,
termos momentos de tranquilidade e descanso. Mas, temos que priorizar.
A minha saúde mental, física, afetiva também era prioridade. Nós não
podemos cuidar de ninguém se não estivermos bem de verdade. Devemos ter tempo
para os exames preventivos.
Roberta
27/10//2024
***
“Nós precisamos de elucidações para suportarmos nossas provações com sensatez e muita fé”
Eu não sabia que era doença para homens. Do fundo da minha alma, eu
nunca fui preconceituoso, mas achei que era doença de mulher, era ignorância
mesmo.
Se me informassem que minha irmã seria acometida pela doença, eu teria
acreditado mais fácil.
Tanto é que demorei para procurar um médico, eu sentia dores e percebi
um intumescimento, fiquei muito constrangido de falar sobre o assunto com minha
esposa. Mas, chegou num ponto que precisei falar, mostrei a ela e resolvemos
procurar um médico que riu quando falei que eu era o paciente e não ela.
Como seria possível?
Fizemos os exames e constatamos o problema que foi resolvido após os
tratamentos adequados. É horrível a tal da quimioterapia acaba com a gente e dá
uma sensação de morte, parece que o jogo está acabado porque te debilita
demais.
Entretanto, fui muito bem tratado por minha esposa e filhos e superei
esta questão do câncer. Sofri discriminação dos familiares e amigos que faziam
gracejos totalmente desnecessários na fase em que eu me encontrava.
Nós só podemos avaliar nossas relações na hora da enfermidade e do
declínio financeiro. Eu me senti arrasado com o fracasso de nossas relações.
Mas, sobrevivi aquela fase dramática, meu casamento se fortaleceu ainda
mais depois de todo apoio que recebi de minha esposa.
Acredito que precisamos de instrução. Notícias e comentários que
esclareçam a sociedade sobre tudo o que pode acontecer. Explicações claras e
lúcidas que promovam a saúde e previnam o pânico.
Nós precisamos de elucidações para suportarmos nossas provações com
sensatez e muita fé.
João Messias
27/10//2024
***
“Nós somos instrumentos da vontade de Deus, só
cumprimos ordens como servos”
Eu tive inúmeras pacientes. Os médicos parecem pessoas frias que não se
envolvem emocionalmente com ninguém, mas é uma couraça.
Sofremos o sofrimento alheio e nos deparamos com situações de impotência
onde não é possível fazer muita coisa, isso é um fracasso para o médico que
deseja ser útil.
Tenho muitos casos na oncologia. Casos onde chorei e desejei que fosse
um diagnóstico incorreto. Eu quis que eles se curassem. Desejei que pudessem
combater a doença, eu quis curar.
Lembro que no início da minha carreira, ainda jovenzinho, acreditava que
pudesse salvar todos. Propagar a saúde e a vida, prolongar o tempo deles.
Eu tinha esta ilusão de conseguir resolver os problemas e vi que era
apenas meu orgulho falando mais alto.
Alguns médicos se acham deuses, como se estivesse em suas mãos
interceder pela vida ou morte de seus pacientes, mas nós não podemos grande
coisa não.
Tudo depende da trajetória de cada um e de suas necessidades evolutivas.
Nós somos instrumentos da vontade de Deus, só cumprimos ordens como servos.
Eu demorei décadas para compreender isso e aprendi com minha esposa
amada.
Após cuidar de centenas de pacientes com câncer de mamas, soube que
minha esposa estava doente. Foi como se eu estivesse sendo testado.
Ela me dizia para ter fé em Deus. Falava que eu precisava me curvar
diante do Todo Poderoso e eu ria faceiro. Eu nunca acreditei na
espiritualidade, sempre fui muito cético e nunca a acompanhei à igreja.
Mas, quando ela me falou que estava com câncer achei que aquele Deus
estava me condenando porque eu duvidei e ri do Seu poder, eu o ridicularizei e
agora ele iria me tirar a mulher que tanto amava. Como um castigo, uma punição.
Eu me ajoelhei e Renata disse que Deus não deixaria nada de ruim
acontecer com ela. Eu fiquei muito irado com a posição dela de submissão diante
d’Ele.
Mas, ela tinha muita fé e me ensinou o caminho que levava a Deus.
Fizemos o tratamento, ela ficou como morta e eu morri de medo, mas aprendi a
orar e tive a recompensa de vê-la curada.
Após a enfermidade da minha esposa, compreendi que os pacientes precisam
de fé e os médicos devem respeitar e nunca desencorajar seus pacientes.
Acima de tudo, Deus que é misericordioso e nos concede novas
oportunidades de aprendizado e elevação.
Renato
27/10//2024
Nenhum comentário:
Postar um comentário