“O
MUNDO PRECISA DE DEUS”
Eles
chegavam aos montes. Cada um no seu desespero, no seu tormento. Cada um deles,
cheio de arrependimento e dor.
Eu
entendi o que se passava, como simples aprendiz, consegui enxergar o motivo do
tormento. Devia ser bem difícil saber o quanto errou, o quanto perdeu uma
oportunidade tão importante.
Foram
derrocadas terríveis. Cada um tem o seu motivo para morrer. Cada um tem o seu
fim, a sua necessidade de aniquilamento. Eu soube de tantas histórias e me
compadeci delas. Eu queria fazer mais por eles, mas é complicado ajudar quando
a pessoa não compreende o quanto recebeu de Deus e se vê como vítima.
Eles
diziam que faziam isso por doença, principalmente a depressão. Diziam que
estavam frustrados, abandonados, até por honra se mataram.
Outros
morriam para fugir de uma dor que aniquilava. Fugir de alguém, necessidade de
sumir no mundo.
Eles não
conseguiam ver o quanto as provas são necessárias para o enriquecimento moral.
Nas
terapias em grupo ninguém conseguia perceber que Deus dá o frio conforme o
cobertor, ou seja, a carga nunca será maior do que você consegue carregar.
Deus
sempre nos preenche de tudo o que precisamos para seguir em frente e coloca
pessoas ao nosso redor para nos amparar, pessoas encarnadas e os Espíritos que
nos inspiram no bem e nos aconselham.
Deus dá a inteligência para você bem resolver seus problemas, mas ninguém conseguiu enxergar nada disso.
Eu
me questionei por que eles não perceberam e meu instrutor falou que era falta
de Deus.
“O mundo
precisa de Deus. Todos precisam d’Ele. Quanto mais falarmos de Deus mais eles
se revigoram, mais creem e se enchem de esperança”.
Eu
entendi naquele dia o que é ter falta de Deus. Sempre me nutri em Deus e não
compreendia por que não pude ver que existem pessoas que nunca viram a sua
graça e o seu poder.
Você
pode ensinar um ser humano a sentir o poder de Deus desde pequenino e isso é o
ideal. Crescer com Deus, saber que tudo o que faz, faz com Ele. Tudo o que
profere está sendo ouvido por Deus, o tempo todo.
As
pessoas se desenvolvem sabendo que não está sozinho e não apenas O temem, mas o
que é mais nobre, respeitam a Deus, honram a Deus e são educados com o Pai.
Isso
faz toda a diferença porque quando a adversidade aparece, você resiste a
tribulação, você suporta porque sabe que o Pai deseja que você a enfrente,
disso você retira lições fundamentais para te conduzir na vida, de outro modo,
você acha que é o fim e busca a fuga, fuga da realidade e fuga da vida que te
fere e tortura.
Eu
soube de muitos motivos para as pessoas se matarem, mas me questiono, quais são
os seus motivos para viver?
Até porque muitos não vivem, sobrevivem.
O fato é
que a criatura humana deveria refletir mais, averiguar suas totais possibilidades
de enobrecimento e, para isso, deve pensar, repensar e medir todos os esforços
e consequências.
Avaliar a
sua existência e melhorá-la a cada dia porque depende de você se superar e
tornar a sua vida digna e feliz.
Por
que você vive? Quais são os seus motivos para superar este momento? Por que
você não se entrega às adversidades da vida?
Já
parou para pensar que nós temos muitos motivos para agradecer?
ELISEU (grupo de auxílio aos suicidas)
29/05/2021
-----------------------Paula
Alves--------------
“NÃO COMETAM ESTE ERRO”
Eu
sempre me senti frágil demais. Parecia que o mundo era muito perigoso para mim.
Cheio de maldade e horrores, cheio de mesquinhez e pessoas hipócritas.
Cresci
como filha única e, pode ser que isso, me tenha afligido, cheia de cuidados
paternais.
O
fato é que meu esposo sempre supriu minhas necessidades emocionais. Ele
filtrava tudo. Parecia estar ciente da minha mente delicada e filtrava o que eu
tinha que saber, então, eu não tinha conhecimento dos assaltos que ocorriam no
nosso bairro, nem tinha informações sobre a morte de amigos e familiares
distantes, eu não soube quando ele adoeceu, fez tratamento ou quando se curou
de um tumor na garganta.
Eu fui criada por meus pais como uma flor na estufa e meu esposo continuou o mesmo cuidado, mas ele se cansou de mim, cansou de minhas delicadezas e enxergou numa mulher tudo o que eu não tinha.
Ele
conheceu Natália e viu o quanto uma mulher forte e decidida pode ser atraente. O
fato é que ele se apaixonou perdidamente por ela e a minha vida mudou. Não foi
possível competir com aquela mulher auto suficiente e determinada. Ele
simplesmente foi embora e o meu mundo ruiu.
Eu
não tinha estrutura para enfrentar a separação, em parte, porque nunca fui
treinada para perder nada e nem ninguém. Eu nunca senti a dificuldade da vida,
eu não senti dor emocional que pudesse me fazer reagir positivamente à
separação. Entendo o motivo, pelo qual, as pessoas sensatas poupam quem ama,
até certo ponto, porque o sofrimento e as perdas fazem parte da vida.
A criança perde os seus brinquedos, seus dentes, seus avós, veem a mãe se afastar para ir ao trabalho. O adolescente perde sua namorada, seu emprego dos sonhos, não passa na prova do concurso ou do vestibular. Ele enfrenta frustrações. Muitos deles, perdem os pais desde muito jovens e continuam vivendo, apesar de suas dores lancinantes.
O
adulto também perde, está sempre perdendo alguém ou algo e tem que enfrentar,
erguer a cabeça, levantar da cama para mais um dia de prova.
Eu
não treinei. Nunca perdi.
Quando
meu marido me deu o beijo na testa, o beijo de despedida, ainda assim, procurou
ser delicado comigo, ele disse que não me merecia, mas eu soube de tudo, da
Natália e me frustrei com a vida.
Foi
como se não tivesse jeito, não tivesse reparo.
Eu não vi
saída para aquela tragédia, eu estava vencida, derrotada e hoje compreendo que
era orgulho ferido. Eu sempre fui a melhor, a única.
Então,
cometi o suicídio sabendo, no fundo, que ele se sentiria mal para sempre. Eu
quis agredi-lo com um golpe fatal, como quem diz que foi por culpa dele e que
ele nunca seria feliz com ela porque estava amaldiçoado.
Quanto
engano! Eu não pensei nos meus pais, nos seus sentimentos de pais da filha
única.
Eu
eliminei todas as possibilidades de aprender com os problemas da vida e ser uma
pessoa melhor, mais independente e promissora.
Sofri
horrores, chorei, depois do crime cometido contra mim mesma e hoje posso
refletir, amadurecer a partir do meu desgosto.
A gente sempre aprende, nunca é o fim porque Deus é maravilhoso. Sempre existe uma chance de renovar seus pensamentos e sair vitoriosa, vencendo a si mesmo com o amor de misericórdia do Pai. Não cometam este erro.
BRUNA
29/05/2021
-----------------Paula
Alves---------------
“SEMPRE
TEM ALGUÉM QUE VIRA ANJO DA GUARDA PARA FAZER A GENTE ENXERGAR A DEUS”
Inquietando-me
sem parar. Caindo e levantando tantas vezes que nem me lembrava do que era ter
paz na consciência.
Você
faz ideia do que é viver aflito, cheio de angústia?
Eu
nunca tive sossego na vida. Estava sempre correndo atrás de emprego, aluguel,
vendo miséria, crime, violência por todo lado.
Eu
sabia que existia um mundo bonito, mas ele estava muito distante de mim. Eu não
tinha tempo para religião e não entendia o Evangelho.
Imagina
saber que não se morre. Sempre ri daqueles que diziam que morto voltava, que
morto se comunicava, quanta besteira!
Eu
acreditava que a gente só era isso mesmo, um bando de gente que evoluiu do
macaco, gente de sorte que nascia rico e tinha a vida ganha de um lado, de
outro lado, estavam os pobres, desafortunados, os miseráveis de toda sorte,
gente que tinha que servir de saco de pancada, gente que era capacho para os de
sorte, eu estava neste grupo.
Até parece que eu parava para pensar em Deus, que isso! Nunca tive pais que pudessem sentar comigo para falar de espiritualidade, nem pensar, falar de anjos e demônios, salvação pela reparação, nada disso.
Eu
pensava que a gente era uma consciência que apagava depois da morte, pó que
volta ao pó, nada de evolução. Então, eu tentei até os 32 anos e cansei.
Fui
mandado embora do emprego, humilhado pelo patrão, mas eu dei um soco nele. Naquele
dia, eu falei para mim mesmo que faria tudo o que tivesse vontade. Então,
cheguei em casa e tinha o aviso de despejo, vi meu amigo sendo insultado pelo
maioral dos traficantes, eu cheguei ofendendo o cara, sabia que já estava
fadado a levar um tiro.
Entreguei
minhas fichas. Comi no melhor restaurante, dei golpe para pagar a conta, fui ao
cinema, ri com o filme de comédia. Eu precisava sentir os pequenos prazeres do
mundo, os pequeninos, destes que as pessoas não fazem questão.
Cheguei em casa e ri do proprietário quando visse meu corpo pendurado, eu daria este trabalho para ele.
Mas,
quando pensei que tudo estava terminado, o meu martírio começou.
Se
tivessem me falado que não morre...
Se
eu tivesse uma ligeira dúvida que pudesse ser verdade, eu nunca teria
infringido a Lei.
Eu
fiquei muito tempo preso ali na minha consciência. Vi quando o dono chegou, eu
tentei falar com ele, pedi para me tirar que eu ainda estava vivo, mas claro
que ele não me ouviu, o cara chorou.
Eu
nunca imaginei que alguém choraria por mim. Ele pensou e eu ouvi os seus
pensamentos. Ele achou que se tivesse me dado mais tempo, se ele tivesse se
colocado à disposição, talvez, eu tivesse continuado minha trajetória.
Depois
fui parar num lugar de aflição, onde fiquei peregrinando por muitos anos até
que pudesse vir para cá, trazido por minha avó.
Sempre
tem alguém que se esforça por nós. Alguém que te ama e se preocupa, alguém que
vira anjo da guarda para fazer a gente enxergar a Deus. Pensem em viver e dar o
melhor de si todos os dias que a vida melhora. Nunca com inveja ou revolta.
Trabalhar e servir, ter esperança e fé. Ter a certeza de que a morte não
existe.
FABRÍCIO
29/05/2021
------------------------Paula
Alves--------------------
“A
CULPA ME FEZ SEGUIR O CAMINHO DO BEM”
Eu
me culpei naquele dia porque achei que poderia ter sido mais atenciosa com ele.
Eu tratei do meu vizinho como um jovem que estava me paquerando, nunca imaginei
que ele precisava de atenção.
Eu
soube, dias depois do seu falecimento, ele se suicidou e eu nunca mais fui a
mesma.
A
culpa tira a paz da gente. Eu pensei no rosto dele, no seu semblante. Ele
realmente parecia infeliz.
É
TÃO DIFÍCIL ASSIM, A GENTE DEIXAR DE PENSAR EM SI POR ALGUNS MINUTOS E ENXERGAR
O OUTRO?
SAIR
DO EGOÍSMO E PROCURAR FAZER A DIFERENÇA NA VIDA DE ALGUÉM SEM SE EXIBIR?
Ele
precisava de alguém que pudesse escutá-lo, só isso.
Ele
queria desabafar. Eu fiquei dias trancada no quarto pensando no que eu tinha
feito, no mal que eu tinha causado a alguém porque não fiz o bem. Isso me doeu
no fundo da alma.
Eu
estava decidida a nunca mais reproduzir este erro, jamais.
Então,
disse a Deus que, se era isso o que ele queria de mim, que ele colocasse em meu
caminho as pessoas que precisavam de ajuda, eu ia escutá-las.
Logo
depois, achei que eu estava surtada, mas o incrível, é que elas começaram a
aparecer. Pessoas no ponto de ônibus, na padaria, na escola. Sempre tinha
alguém querendo desabafar e eu escutava, quando eu não sabia o que dizer, eu
falava: “Escuta o seu coração”.
Depois,
eu comecei a falar mais com Deus e pedi que ele colocasse as palavras na minha
boca, que ele me conduzisse aos locais necessários para fazer o bem. Foi muito
interessante, as pessoas me convidavam para conhecer asilos e eu dava carinho,
falava coisas boas, eu doava o meu melhor. Ainda não era amor porque eu estava
fazendo tudo isso para limpar minha consciência do mal que eu acreditei ter
feito ao vizinho que se matou, mas eu precisava recomeçar de algum ponto e Deus
me colocou no caminho certo.
Eu envelheci, arrumei emprego, nunca me esqueci do trato com Deus. Daí, com um pouco mais de possibilidade, atuei em orfanatos e asilos, adotei três crianças, conversava muito por onde andava e me peguei ensinando a Palavra em asilos e orfanatos por mais de cinquenta anos.
A
culpa me fez seguir o caminho do bem. Eu me vi transformar em serva do Senhor
após a morte do meu vizinho carente de atenção e jurei que nunca mais alguém se
sentiria sozinho ao meu lado, nunca mais eu permitiria que alguém se sentisse
magoado, submisso, humilhado ao meu redor. Eu seria a irmã, a mãe, a amiga que
precisavam e eu daria o alimento espiritual para que eles tivessem fé.
Quando
eu desencarnei, velhinha, vim direto para cá e qual não foi minha surpresa
quando o vi. O meu vizinho estava bem aqui como trabalhador operoso, iluminado.
Deus
recebe a todos os seus filhos bons e os que foram um pouco menos bons.
Eu
agradeci a ele pelo muito que aprendi com sua vida. Pedi perdão por não ter
colaborado com ele, da forma que ele necessitava e ele me abraçou.
Hoje
atuamos juntos no socorro aos suicidas e eu sou imensamente grata por tudo o
que aprendi com a vida dos outros.
LURDES
29/05/2021
-------------------------Paula Alves----------------------------------
“NÃO
PRECISAR SER MELHOR QUE OS OUTROS, PERMITE QUE VOCÊ SEJA VOCÊ MESMO”
Ela
me chamou de andarilho. Disse que eu nunca me decidi sobre os caminhos que
seguiria, por mais que ela tentasse me orientar.
Por
mais que você diga que não fez questão de ouvir o que sua mãe te falou, a
verdade é que sempre fica embutido em nós suas palavras.
Eu
ouvi e me senti um fracassado. Eu queria provar para ela que eu tinha os meus
motivos, eu queria que ela soubesse, o quanto era importante para mim procurar
um local, ao qual eu pertencesse porque ali eu me sentia fora de prumo.
Eu
quis chorar e ela me chamou de fraco. Por que ela desejava tanto que eu fosse
idêntico ao meu pai?
Aquele
pai que nos abandonou e deu tanta dor de cabeça?
Por
que será que faz tanta diferença para nós a maneira como nossos genitores nos
trataram? Para Freud tudo era questão de genitores, eu concordo em parte porque
percebi o quanto meus pais interferiram em minhas escolhas.
Ela me
chamou de fraco e eu me despedi naquele dia de minha mãe. Eu não queria mais
provar nada. Eu não queria perder meu tempo conquistando a credibilidade dela.
Eu precisava ter como meus irmãos e ser forte como meu pai significava que eu
tinha que ter várias mulheres, beber e ser fanfarrão?
Eu
queria o meu destino e um lugar para chamar de casa, com tranquilidade e
conforto. Parti. Fui viver minha vida da forma como eu achava que valia a pena
e eu acreditei que não precisava de muito para viver, para alcançar a
felicidade naquele mundo.
Eu
queria paz e não queria competir com ninguém. Queria ser eu do meu jeito.
Sai
caminhando com uma mochila, poucos pertences, só aqueles que eu podia carregar,
mais nada. Ninguém precisa de muito mais do que aquilo que carreguei.
Pedi
carona e fui deixando o vento me carregar dali. Parei em muitos lugares, contei
com a solidariedade das pessoas e cheguei numa cidade pequena com poucos
habitantes onde todos se tratavam com amistosidade, eu gostei daquilo, fiquei.
Andarilho,
ela disse. Nunca esqueci.
Consegui
emprego na lanchonete da cidade, conheci muita gente, fiz amizade e me
identifiquei com as pessoas, com a Laura.
Eu
amei aquela mulher que não ligava para pentear os cabelos, não ligava com as
cores das roupas, com a moda, mas tinha a educação das princesas, delicada e cordial.
Eu
estava certo. Não é a capa que nos define, mas o interior. Eu a desejei, eu a amei
tanto que quis tê-la ao meu lado naquele instante e ela reparou em mim, dentro
de mim.
Laura
foi minha esposa amada por mais de trinta anos, nós nunca tivemos filhos, não
pudemos ter, mas fizemos trabalhos que nos deu ânimo e felicidade naquele
local.
Eu
nunca mais pensei em partir porque ali era o meu lar. O local onde eu me sentia
bem e em paz.
Procurei
minha mãe, ela se impressionou comigo e com minha esposa, olhou para nós com
mais desprezo do que eu me lembrava. A Laura tentou disfarçar, mas notou que
meus familiares a ridicularizaram e se sentiram incomodados com nossa presença.
Como sempre a sua educação me surpreendeu. Ela, em nada se parecia com eles.
Delicada, simpática, tentou não constranger ninguém.
Eu
tive a certeza de que não pertencia àquele lugar, nem àquelas pessoas que não
respeitaram nossa união, nosso amor. Mas, eu agradeci tudo o que fizeram por
mim, em minha infância e toda condição que deram para que eu estivesse lá, vivo
e bem criado.
Partimos
e nunca mais os vimos.
Infelizmente,
o mundo material nos coloca em contato com pessoas que julgam o tempo todo.
Julgam e se julgam. Sofrem e fazem sofrer porque desejam e não têm ou porque os
outros têm o que desejam.
Julgam
a pele, os cabelos, as roupas, o carro, a casa, os móveis, o emprego, a esposa,
o patrão, o bairro, tudo, julgam tudo, a religião, o time e o partido político.
Mas, nada disso, me define como eu sou, como eu fui com eles.
Eu
queria que tivessem me conhecido e tivessem conhecido minha Laura. Eles teriam
gostado dela por seus valores e conhecimentos sociais.
Eu
aprendi muito e aprendo. Sei que todas estas pessoas são sofredores e procuram
nos outros aquilo que não têm em si mesmos, vazios!
Eu
soube apreciar as melhores coisas da vida quando me despi dos preconceitos e
passei a viver de acordo com o que pediam os meus sentimentos. Não precisar ser
melhor que os outros, permite que você seja você mesmo.
CLAUDIO
22/05/2021
-------------------------Paula
Alves-----------------------
“SERÁ
QUE OS PAIS NÃO DESCONFIAM DE QUEM CHEGA COM TANTO DINHEIRO EM CASA, SEM SE
ESFORÇAR NUM TRABALHO HONESTO?”
Eles
não podiam saber de onde vinha o dinheiro. Acho que meu pai me mataria se
soubesse.
Tudo
começou num momento de necessidade financeira. Eu queria ajudar meu pai, eu
queria que ele ficasse um pouco mais tranquilo porque ele trabalhava demais e
estávamos com muitas dívidas.
Eu
sempre fui muito bela e muitos homens estavam sempre flertando comigo, amigos
do meu pai, executivos, mas meu pai era o porteiro da empresa, eu era a filha
do porteiro.
Naquela
noite, um jovem senhor telefonou ao meu pai porque precisava da chave do
escritório, meu pai disse que ele poderia pegar em casa e ele falou comigo, mal
pude respirar pela forma como ele me observou e daí começou a dar tudo errado
em minha vida.
Eu
aceitei fazer o programa que ele quis. Eu me esforcei para não chorar e até me
senti lisonjeada pela maneira como aquele homem bonito e educado me tratou. O
dinheiro foi alto, eu consegui pagar contas e ainda sobrou bastante. Eu não
tinha motivos para me envolver numa vida de delinquência moral.
Sabe
qual é a ofensa? Meu pai nunca quis que eu trabalhasse para poder me dedicar
aos estudos e por simples ganância, buscando facilidades materiais, eu me
entreguei a prostituição.
Que
vergonha! Por que existe a preguiça e a desonra? Se eu queria ajudar o meu pai,
poderia ter procurado um emprego decente, mas fui me dedicar às facilidades, à
porta larga que insulta o ser.
Consegui
muitas coisas com o dinheiro ilícito, minha mãe apoiava, ela nunca teve
certeza, mas será que os pais não desconfiam de quem chega com tanto dinheiro
em casa, sem se esforçar num trabalho honesto? De que forma uma moça sem
experiência e sem profissão conseguiria carro, viagens ou trocar de casa?
Como
eu poderia subir na vida como estudante, sendo filha do porteiro? Alguma coisa
ilícita, com certeza.
Mas,
minha mãe sempre dava um jeito de passar a mão em minha cabeça. Quantas vezes,
ela me viu chorando? Incentivou dizendo que os fins justificam os meios. Como
assim?
Eu
queria que alguém tivesse me dado uma surra, que eles tivessem notado a forma
como eu me produzia para vender obras de arte. Como uma mulher que não faz
programa se arruma daquela forma?
Mas,
eu não posso culpa-los por meus erros imundos doutor.
Eu
me arrependi e tenho vergonha destas lembranças que o senhor vê.
As
pessoas tinham que saber que só o que pode elevar é o trabalho honesto, sério,
consciencioso, digno. Ganhar dinheiro não pode ser uma meta pelo ter e ser na
sociedade, mas aprender com os próprios esforços, ser útil e ganhar o sustento.
Eu
me acabei. Em pouco tempo me acabei como pessoa. Eu me envergonhei das coisas
que ouvi, da forma como me olharam, do jeito que me trataram. Eu tive nojo.
E
nada pode limpar uma alma tão suja porque os pensamentos tinham que ser puros e
não são. Eu sei porque tenho a necessidade deste tratamento. Não tem como
reencarnar com esta sensação de sujeira no corpo. Sujeira que nada pode
remover.
Eu
tentei parar, mas eles me perseguiam, então, precisei partir dali e me tornei
faxineira. Fiz tanta limpeza, assim desenvolvi o TOC. Eu precisava limpar tudo
o que estava diante de mim, tudo, mas ainda estava tão sujo, tão indecente.
Como
seria possível modificar esta situação? VIVIANE
22/05/2021
----------------------------------Paula
Alves---------------------------
“A
GENTE DEVIA REPENSAR OS VALORES. ATÉ ONDE VAI A IMPUNIDADE?”
Para
mim, era lógico e racional. Eu dizia a eles que deviam seguir o Mestre e buscar
a humildade, a compaixão, o desenvolvimento cristão.
Todos
chegavam com questões pessoais e eu estava pronto para ouvir. Tinha de tudo,
briga de casal, roubo em família, negligência, estupro. Dos mais leves aos mais
pesados, assuntos que eram confidenciais, sigilosos. Eu estava ali como membro
da igreja para ouvi-los e dizer que caminho deviam tomar, mas como senhor?
Houve
dias em que pedi a Deus para não raciocinar em cima daquele problema por que eu
desejaria matá-los. Houve momentos em que desejei não ter aquele compromisso
com os fiéis, eu não aguentava mais.
Eu
estava cansado de pessoas que vestiam o terno, se ajeitavam na igreja e eram
hipócritas, crentes disfarçados de gente e criaturas abomináveis na terra. Eu
estava indignado e precisei contar à polícia o que ele fazia com a própria
filha.
Falei
com o pastor que me proibiu porque dizia que eu não podia quebrar o sigilo da
igreja, ele se confessou e eu tinha que orar para que Deus o curasse, era o meu
dever.
Que
horror! Eu orei e pedi que Deus me direcionasse porque aquilo estava me
atormentando. Eu sonhava e estava sempre imaginando o que aquele pai poderia
estar fazendo com a filha pequena.
Daí me
senti pior do que ele, eu era cúmplice de um monstro. Ele precisava ser curado
ou preso? Um pervertido maltratando criancinhas e eu tinha que apoiar, tratar
bem um homem como aquele?
Enquanto
eu ouvi sobre o quanto aquela irmã desejava o marido da próxima, enquanto eu
ouvi o quanto o irmão desejava o emprego do vizinho, enquanto elas falavam de
inveja, indiferença ou fúria no lar, ainda podia aguentar, mas crime?
Eu
fui à polícia e entreguei o perverso, ele foi inocentado porque a própria esposa
o defendeu. Eu não acreditei que eu estava sendo expulso da igreja, acusado por
todos de ter violado o sigilo, enquanto o cruel ainda estava em casa com a
família e a vítima.
A
verdade é que ninguém quer se envolver. Os bons se calam e permitem que o mal
se alastre na sociedade.
Quantas
vezes você já viu alguém sendo torturado por aí e nunca fez nada para ajudar?
Podia ter sido uma criança apanhando da mãe, um cachorro sendo chutado por aí,
mas você preferiu olhar para o outro lado.
Tantas
vezes que você ouve gritos e aumenta o rádio para não se afetar com os
problemas dos outros. É bem assim, tá frio, mas eu já estou agasalhado, então
não me preocupo se alguém vai morrer na rua hoje.
Faz
parte da vida de todos sim porque o impune pode te atacar a qualquer momento.
Ele
não conseguiu engolir o que eu fiz, o perverso veio me questionar por que eu
tinha falado dele para a polícia, eu dei as costas e ele me atacou com uma
chave de fenda.
Foi
tão rápido! Eu quase nem senti, mas vi tudo do lado de fora do corpo. A parte
boa é que ele foi preso por causa disso. Todo mundo viu quando ele me feriu e
ainda ficou com a chave de fenda na mão, até ele ficou pasmo com a minha morte.
Eu
fiz uma coisa boa morrendo... Livrei aquela criança do pai carrasco. Deus sabe
de tudo, usou minha morte para colocar o cara mal na cadeia, só assim. Nem a
mãe da menina soube entregar o marido criminoso.
A
gente devia repensar os valores. Até onde vai a impunidade?
LÉO
22/05/2021
----------------------------------------Paula
Alves--------------------------------
“POR
ISSO, QUE DESDE PEQUENA A CRIANÇA TEM QUE SER ORIENTADA SOBRE A PREVIDÊNCIA”
Dívidas
que devem ser pagas. Eu podia ter sido mais previdente. Não tinha a necessidade
de gastar tanto. Eu tinha um bom emprego, ganhava bem, mas sempre gastei muito
mais do que ganhava, a conta não batia, estava sempre no vermelho.
Mas,
o meu desejo de ter era enorme, eu precisava comprar, compulsão é doença?
Eu
ficava desesperada para comprar quando estava triste, quando estava aflita,
quando estava irritada ou muito animada, enfim, eu precisava gastar e comprava
coisas inúteis.
Quando
eu chegava em casa, olhava para tudo aquilo e pensava: “Por que fiz isso?”
Eu
tinha família, muitas vezes, meu marido tinha o maior esforço para fazer horas
extras, meus filhos precisavam de uniforme, material escolar e eu gastando com
tolices, daí me dava vergonha e eu cheguei a esconder muita coisa no guarda
roupas.
Ele me
pedia para colaborar um pouco mais porque tinha a prestação da casa, a
prestação do carro, a viagem que fizemos para o exterior. Viagem para o
exterior? Pra quê?
Tudo
coisa fútil para bancar a pompa. Estávamos endividados até o pescoço e eu
resolvi buscar empréstimo com agiota porque não tinha como pedir no banco, meu
marido nem sonhava.
Quando
ele abriu o guarda roupas e viu as roupas com etiqueta, perfumes importados,
bolsas, sapatos, maquiagem... Ele virou um louco em casa.
Eu não
tinha argumentos para discutir. Falou que eu tinha problemas sérios e ele
estava exausto, só não ia embora por causa dos nossos filhos.
A
coisa piorou quando o agiota foi até a nossa casa e levou o meu carro. Daí meu
marido resolveu nossa vida de uma forma tão simples.
Ele
simplesmente nos colocou dentro de nossa situação real, criança em escola
pública, apartamento na periferia, ônibus e vendeu tudo o que eu tinha em bom
estado.
Ele
dormiu tão tranquilo e eu tomei remédio para me matar. Daí ele me internou.
Eu
ainda tenho problemas sérios. Depois de tanto tempo ainda não sei do que eu
gosto e nem de quem eu sou.
Questões
simples de identificação pessoal, cor preferida, como eu gostava dos meus
ovos... Eu não sei. Não sei de mais nada.
Saí
do local onde ele me internou e não consegui me socializar, eu tinha desejo de
ter mais e mais, aquela vida não me pertencia e eu só fui esclarecida aqui.
Mania
de grandeza (há-há-há). Eu tive posses em outra existência, muitas posses.
Nunca precisei me preocupar com o valor das coisas, não podia repetir roupas ou
sapatos. Eu fui bem rica, mas reencarnei com o mesmo ímpeto, a mesma
necessidade de adquirir.
Precisava
ter tido educação. É, por isso, que desde pequena a criança tem que ser
orientada sobre a previdência. Nós devemos ter aquilo que necessitamos e se
temos condições de ter muitos bens, podemos pensar nos outros e repartir com
quem não tem nada. Isso sim é importante.
ISABEL
22/05/2021
---------------------Paula Alves---------------------
“DEPENDE DE CADA UM DE NÓS O QUE DESEJA PARA A SUA VIDA, NÃO É GENÉTICO,
É DO LIVRE ARBÍTRIO”
Eu desejei compreender tudo o que ocorreu em minha vida. Fiz uma análise de todas as lembranças como me sugeriu e vi um mundo novo onde eu sai de cena e visualizei pessoas que estavam longe da minha vida.
Eu questionei o mundo inteiro e
fiquei em dúvida se a culpa é inteiramente dos pais. Todas as pessoas bem
sucedidas que conheci, as pessoas que poderiam se chamar de felizes tiveram
relacionamentos saudáveis com seus pais, todas elas tinham o alicerce da
família.
Eram pessoas seguras, firmes, que
sabiam se posicionar diante dos demais, pessoas que não se deixavam abalar
pelas circunstâncias e problemas do mundo. Pensei que, talvez, meu raciocínio
pudesse ter fundamento e me lembrei de tantas outras pessoas com lares
destruídos ou desestruturados. Pessoas que não tinham pai e mãe, pessoas que
tinham pai e mãe que discutiam o tempo todo, pai ou mãe omissos, indiferentes
ou completamente ausentes, pessoas desestabilizadas, inseguras ou doentias.
SERÁ QUE FAZ SENTIDO?
Eu ainda não sei. Sei que eu me
perguntei muitas vezes, onde estava minha mãe...
Todas às vezes que uma criança é
agredida verbal ou fisicamente, todas às vezes que ela é amedrontada ou ferida,
aonde está a sua mãe?
Sabe Deus o que a mãe tem na cabeça
para deixar o filho ser perseguido ou maltratado. Sabe-se lá o que ela tem na
cabeça quando ela mesma é o monstro do filho...
Eu passei maus bocados, tudo foi
difícil na vida e eu sei que fazia parte da colheita, foi terrível, mas passou.
Só que ela nem se deu conta do quanto eu sofri, ela não ficou com pesar ou
arrependimento. É como se ela não se achasse responsável por mim e por tudo o
que ocorreu. Isso me gera muitas dúvidas.
Já compreendi que preciso perdoar
para limpar meu coração, eu sei. Já entendi que houve uma cascata de
acontecimentos infelizes, ela também sofreu agressões e é bem complicado anular
tudo de mal que se viveu e passar coisas boas para uma criança, poucas pessoas
conseguem fazer isso.
Normalmente, as pessoas vão
reproduzindo os acontecimentos da vida com os filhos. É uma pena porque é como
se não raciocinassem. Se meu pai foi alcóolatra, eu também serei. Se meu pai
não teve estudo ou é um marginal, eu também serei como se caráter fosse
herdado.
Mas, existem pessoas que colocam um
ponto final, na coisa ruim da família, mostrando que depende de cada um de nós
o que deseja para a sua vida, não é genético, é do livre arbítrio.
Eu resolvi não fazer com minhas filhas o que recebi dela e consegui, mas foi duro. Todas às vezes que eu olhava para elas parecia que estava me enxergando mais novinha. Tinha tanto medo de falhar com elas. Tive medo de não ser forte o suficiente.
Eu não queria dar tudo o que não tive
do ponto de vista material, mas do ponto de vista emocional, sim. Eu ainda acho
que tudo parte da base familiar.
ACREDITO QUE ESTE MUNDO SÓ PODE FICAR
MELHOR QUANDO AS FAMÍLIAS PARAREM DE CULPAR OS GOVERNANTES E ASSUMIREM A CULPA
DE SEUS FRACASSOS FINANCEIROS E MORAIS.
Acho que se os pais tivessem sensatez
se ocupariam mais da educação de seus filhos. Grande parte das pessoas, hoje em
dia, têm filhos por opção e mesmo nos casos em que digam que não desejaram,
sabemos que escolhem no plano espiritual.
Portanto, eu acho que tudo poderia
ter sido diferente se ela tivesse estado lá comigo. Poderia ter sido melhor se
eu tivesse proteção. A mãe poderia ter protegido a filha naquela hora, mas
aonde estava a mãe?
IOLANDA
15/05/2021
---------------------Paula Alves-----------------
“NEM POR UM MINUTO, FOI O PÂNICO QUE
IMAGINEI”
Eu tinha uma ideia errada da morte. Morria de medo só em pensar que poderia morrer disso ou daquilo.
Vida covarde que me negou tantos bons
momentos. Eu invalidei meus planos, temi tanto.
Foi uma vida que passou sem ser. Eu
tinha bons motivos para realizar coisas que agradariam várias pessoas, faríamos
alianças, nos reconciliaríamos, mas eu não me envolvi em encontros sociais e
perdi muitas oportunidades, infelizmente.
O fato é que temia me aproximar das
pessoas porque poderia adoecer, temi andar de carro, ônibus, trem, avião por
causa dos desastres.
Eu temi assaltos, bala perdida,
comida estragada, engasgo, tudo, enfim, tudo.
E me enclausurei. Recebi poucas
visitas porque podiam trazer bactérias e vírus para minha casa. Meus familiares
morriam de vergonha de mim, me chamavam de louca, psicótica. Será doutor?
Hoje percebo que meu medo era de morrer mesmo. Medo de acabar, medo de me surpreender com algo terrível que pudesse me castigar para sempre. Eu nunca fui tão boa sabia que não tinha méritos para ir para um bom lugar, então, eu temi o depois da morte.
A verdade é que eu sofri de incerteza
ou, melhor dizendo, eu sofri de ignorância.
Quanta perda de tempo...
Depois que desencarnei, dormindo
(risos). Não tem como correr, quando chega a hora, ninguém te salva. Foi
dormindo mesmo, sem explicação nenhuma. Alguns diriam que tive um pesadelo
terrível e tive um ataque cardíaco, mas eu nunca tive problemas cardíacos, eu
nem tive pesadelos naquele dia. Dormi super bem e acordei desencarnada.
Fui muito bem tratada, quanta
delicadeza das pessoas que me receberam neste plano.
Eu nem acreditei que tinha tanta
gente conhecida sorrindo para mim. Parecia um sonho bom, eu estava leve, feliz
porque vi mamãe, papai, meu irmão mais velho. Vi meus avós, tios, primos e
alguns amigos. Vi até minha professora do primário, foi tão legal!
Foi um sonho. Eu fui muito bem
tratada. Acho que as pessoas sabiam que seria um terror para mim, eu temia
tanto, então, todos eles se empenharam para me ajudar. Foram me buscar, me
ajudaram, tranquilizaram e esclareceram.
Eu fiquei em paz, nem por um minuto,
foi o pânico que imaginei.
Sabe qual é a melhor coisa? Perceber que nada se perde, eu sou exatamente a mesma. Até por isso, estou fazendo o tratamento para me libertar de tantos bloqueios, dogmas religiosos e sociais que me tolheram os movimentos intelectuais e físicos.
Eu preciso me libertar para fazer
parte do plano que eles estão traçando. Eu quero participar. O plano é lindo
doutor. Sei que todos se beneficiarão, mas estamos aguardando alguns familiares
que ainda estão encarnados para formalizar uma nova vivencia na carne. Só assim
partiremos um a um para atuarmos na mesma família em prol de muitos e eu quero
ser útil.
Muito bom saber que tudo o que
aprendi até aqui, trouxe comigo. Muito bom saber que as pessoas que amei estão
vivas. Muito bom saber que Deus nos ama, nos protege e nos auxilia o tempo
todo, aqui e lá na Terra.
Eu estava completamente
enganada.
DIANA
15/05/2021
----------------------Paula
Alves-----------------
“SABE QUE O PRIMEIRO BULLING É SEMPRE EM CASA?”
Quando se tem uma ideia fixa, fica
impossível se libertar dela. Ninguém nasce para fazer o mal. Nenhum homem foi
colocado no ventre de uma mãe para fazer parte de um plano mirabolante onde
muitos morrerão.
Toda a maldade faz parte das
intenções dos homens que escolhem seguir pelo caminho tortuoso.
Eu escolhi. Tive uma boa mãe que tentou me dar todo o carinho do mundo e
eu não aceitei, via nela uma pessoa fraca e leviana.
Sempre me questionei onde estaria meu
pai e por que nós tínhamos que pedir tudo para todo mundo porque ela não
conseguia um emprego decente.
Eu achava que minha mãe dava confiança para todos os homens, isso me incomodava e eu não suportava estar com ela, ainda mais quando cresci e alguns colegas de classe perceberam o quanto ela me irritava, daí fizeram para me sacanear, diziam tantas bobagens que, um dia, não aguentei e bati com força, tanta força que o rapaz foi internado.
Daí para frente deixei extravasar
minha fúria e virei um cara de poucos amigos, maltratava minha mãe...
Sabe que o primeiro
bulling é sempre em casa? A pior ofensa é sempre em casa. A negligência começa
em casa e o preconceito também.
Ela foi mãe solteira, foi abandonada pelo meu pai que nunca valeu nada, mas eu só soube disso quando cheguei aqui.
Eu precisava saber para me esforçar para fazer um novo modelo da minha mãe, para perdoá-la. Eu vi o que ela passou e nunca se entregou para homem nenhum. Eu me arrependo. Ela só trabalhou a vida inteira. Nunca pediu nada para ninguém, mas as mulheres donas das casas onde ela trabalhava, conheciam a dignidade dela e davam de tudo para ajudar a gente.
Eu era a pior pessoa que tinha na
vida dela, eu, o próprio filho. Eu a julguei por ser mãe solteira. Achei que
meu pai tinha ido embora por ela ter sido leviana. Eu até pensei que ela nem
sabia quem era o meu pai.
Claro que eu tenho vergonha disso. Eu estou arrependido e muito mais
quando soube que nós tentamos viver juntos em muitas vidas, mas eu sempre a
maltratei como esposa, como irmã, como filha.
Eu fiz aquela mulher sofrer em muitas
existências, simplesmente por egoísmo, orgulho e maldade pura.
É, por isso, que digo que o mal está
dentro da pessoa que faz o mal, não está no mundo e muito menos é obra de Deus.
Quando a gente nasce mal
intencionado, o amor de mãe até pode mudar tudo, mas ainda assim, é a própria pessoa
que decide o caminho que vai seguir.
Eu não sei se teria sido diferente se eu tivesse um pai presente. Acho que não. É que a gente quer justificar os erros. A gente quer ser vítima das circunstâncias, não tem vítima nenhuma.
Naquele dia, entrei no avião disposto
a explodir tudo. É impressionante como tem gente que sabe usar a inteligência
para fazer o mal e mais nada. Eu era tão esperto para a maldade...
Mas, os valores dela estavam ali, em
mim. Eu vi aquelas pessoas e pensei: “O que elas têm a ver com isso?”
O QUE CADA UMA DELAS TINHA QUE VER
COM MINHA FRUSTRAÇÃO, INCREDULIDADE, PRECONCEITO E MALDADE?
Elas tinham suas vidas, seus destinos
e eu não tinha nada a ver com isso.
Eu lembrei do que ela dizia: “Quem
não ajuda, também não atrapalha João”.
Lembrei que ela dizia: “Deus te
proteja do mal”.
Do mal... O mal que estava em mim. Ela sabia que eu era maldoso e orava
em mim, eu ouvia a oração e resmungava. Mas, ela nunca exaltou o mal que estava
em mim, nunca.
Ela dizia que sabia que eu seria
alguém que ajudaria pessoas e que faria o bem, ela dizia que eu tinha um bom
coração, jamais. Minha mãe dizia que Deus faz todos os filhos da mesma forma e
que Ele me amava. Falou que um dia eu saberia como servir a Deus e dar orgulho
ao Pai.
Será que eu vou descobrir doutor? Um
jeito de fazer o bem e dar orgulho ao Pai?
JOÃO
15/05/2021
-------------------------Paula Alves--------------------------
Cabeça confusa demais. Hoje está difícil. Eu recebi a notícia de que ela volta em breve.
Estou confuso porque não sei se isso
é bom. A gente chora quando morre alguém lá na Terra. Aqui a gente aguarda
ansioso. É muita informação para mim. Ainda desconheço muitas coisas.
Eu sei que minha mulher já está velha e cansada. Sei da situação que se encontra o mundo. Acho um absurdo esta realidade de calamidade mundial. Mas, eu tenho visto e ouvido tantas coisas. Eu sei que ela está preocupada com a nossa nora que está grávida outra vez. Ela se preocupa com todos.
Eu sei também que não gostaria de
vê-la sofrendo. Ela prefere ficar lá com os filhos e netos. Como posso ficar
tranquilo sabendo que em breve ela virá?
O mais adequado seria que ela ficasse
viva, mas quando eu penso assim pareço um tolo porque se eu não morri, ela
também não morrerá, enfim, fiz uma bagunça mental.
Acho que eu não esperava que fosse
acontecer um reencontro de forma tão repentina.
Eu sei que o senhor acha que não existe o repentino, só na minha cabeça porque eu já estou deste lado há mais de vinte anos, mas eu nem sei se conta porque eu estava no purgatório. Lá passei por tanta coisa, ainda estou confuso. Ainda acho que devia me purificar um pouco mais para ter contato com ela, eu nem saberia conversar com aquela mulher que se tornou quase santa.
Minha esposa fez tudo pela família, a
nossa família. Soube das minhas traições e cuidou de mim até o final. Passou
privações, problemas com os filhos, drogas, suicídio do Alberto, roubos, tudo
tão ruim e ela de pé, cabeça erguida. Andando no caminho reto e fazendo por
onde dar o exemplo para todos.
Eu não tenho como olhar nos olhos
dela depois dos insultos que fiz a ela. Das traições e de todas as dívidas de
jogo que deixei para eles.
A gente tenta se esconder, mas não dá
para fugir para sempre. A gente sempre encontra o juiz que é a própria
consciência e as pessoas que passaram em nosso caminho.
Eu devo me ajustar a ela, pedir
perdão, mas não sei se estou pronto agora.
Eu vou fazer de tudo para que ela não
sofra mais e estou tentando me acostumar com esta realidade de receber um ente
querido deste lado.
FRANCISCO BENTO
15/05/2021
“TODAS
AS ESCOLHAS QUE FAZEMOS IMPLICAM EM FATOS FUTUROS QUE, NEM SEMPRE, NOS AGRADAM”
Não
tem como sentir falta do que não conheceu.
Eu não
queria me privar da liberdade e do tempo que tinha para mim, para cuidar de mim
e me dedicar às crianças, às responsabilidades e deveres que não me preenchiam.
Eu
queria ter minha independência profissional e financeira. Queria atingir todos
os objetivos e não admiti que pessoas me desviassem do caminho que foi
almejado.
Eu
me lembrava da minha mãe e do quanto ela vivia para os filhos. Eu me lembrei
das muitas vezes em que ela saiu descabelada, enquanto os filhos estavam bem
cuidados. Eu via o cansaço no rosto dela, eu via as varizes e as frustrações.
Era
como se ela tivesse se anulado para cuidar de todos nós. Cinco filhos exaurem qualquer
mulher e eu não queria passar por isso.
Eu evitei os filhos, mesmo depois de casada, porque tive um relacionamento maravilhoso com meu esposo e sabia que tudo mudaria com a chegada dos filhos.
Se
eu podia escolher, preferi viver minha vida com leveza e com paz, então, optamos
por não ter filhos, mas o tempo passou.
Aos
poucos, todos os seus amigos se casam e têm filhos, o que sobra é se relacionar
com os solteiros ou outros casados sem filhos. Você busca assuntos similares,
você busca inovação e coisas que podem te preencher e trazer alegria, mas o
destino do homem e da mulher é a evolução, nós desejamos o que pode nos
completar, nos fazer sentir emoções cada vez maiores.
Só
que a vida útil da maternidade tem tempo de validade pré-determinada para todas
as mulheres. O tempo para mim se esgotou e eu fiquei sem filhos por minha
opção.
Pouco
a pouco, eu observava as famílias em todos os locais, eu via o quanto as mulheres
se envolviam com aquela criançada e tinham sensações que eu nunca teria, eu via
os sorrisos delas, as maluquices, os abraços, demonstrações sinceras de afeto
que eu nunca teria com uma criaturinha com os meus olhos.
Eu me entristeci, acho que me arrependi. Tudo seria tão diferente!
Todas
as escolhas que fazemos implicam em fatos futuros que, nem sempre, nos agradam
e eu sucumbi.
Meu
esposo morreu, meus pais morreram, meus irmãos tiveram seus filhos e netos, eu
fiquei só, velha, precisando de cuidados e necessitei de amparo.
Ouvi,
tantas vezes, que poderia ter amparo de filhos, mas eu não os desejei e
precisava ser amparada por meus sobrinhos.
Quando
você tem que cuidar de um pai ou de uma mãe idosa é responsabilidade sua, compromisso
seu, mas uma tia...
Ninguém
tem compromisso com uma tia que não ligava para crianças. Eu fui para o asilo,
nunca recebi uma visita. A solidão me fez repensar o egoísmo que tive.
Estava
nos meus planos ter uma filha. Filha que desejava se redimir dos erros do passado.
Filha que recusei por inúmeras tentativas. Eu sentia que fracassara. Eu sentia
que não cumpria com o meu dever. Eu definhei, fui vítima da própria consciência
que falava sem cessar que eu procurei a forma mais fácil de viver e, por isso,
devia vivenciar o abandono.
Uma
vida sem filhos é como uma casa sem cor, sem risos, sem motivação. É como um
dia sem sol, sem verão. É como viver um dia atrás do outro sem sentido na vida.
Eu
demorei para perceber que tudo o que eu tinha não poderia me dar os sentimentos
que uma criança me traria. Meu esposo também devia sentir isso, mas nunca me
falou nada.
Hoje,
eu entendi que tudo o que a mãe quer é o filho. Minha mãe nunca sofreu conosco.
Seus cinco filhos eram a razão de mamãe viver. Ela nos cobria de carinhos e nos
fornecia o melhor que podia dar. Eu aprendi muito com mamãe, mas não pude dar o
afeto que recebi por causa do meu egoísmo.
NATÁLIA
08/05/2021
-----------------------------Paula
Alves--------------------
“SER
MÃE FOI A MELHOR EXPERIÊNCIA QUE EU PODERIA TER TIDO”
Meu
marido queria uma criança que fosse nossa. Com nossos genes, nossas características.
Ele temia que pudéssemos sofrer algum tipo de perseguição social por causa disso.
Sei que ele temia o preconceito e o escárnio, mas eu não ligava. Eu queria uma
criança em casa, independente do sangue, da história, da cor ou da idade. Eu precisava
de um filho.
A
mulher tem sua fisiologia especial, diferente do homem. A mulher tem hormônios
que conduzem o raciocínio e encaminham à maternidade.
Todas
nós, um dia, acordamos com o desejo de sermos mães. É quando aquela vontade
bate e nada pode tirar da sua cabeça que você quer um bebê, você precisa de
alguém pequenino para cuidar, para doar seu amor e receber também o carinho de
uma criaturinha que vai gostar de você como você realmente é, sem máscaras ou
camuflagens.
Eu
acordei bem cedo desejando ser mãe, mas parecia que meu corpo não queria tanto,
eu tinha dificuldade para engravidar e meu marido disse que não queria que
zombassem de nós se chegássemos com uma criança de outras pessoas. Uma criança
que podia ser fruto de pessoas criminosas, levianas ou doentes. Uma criança que
poderia nos trazer problemas no futuro.
Eu
ouvi tudo aquilo e fiquei indignada porque eu não estava querendo comprar um
boneco. Uma criança não é um objeto que você deve procurar a procedência ou queira
devolver se algo der errado.
Criança
é ser humano em desenvolvimento que precisa de amor e apoio, precisa de
educação integral, disciplina, conforto físico e moral.
Eu ouvi meu esposo e pensei que, talvez, o problema não fosse comigo.
Eu
sempre quis ser mãe, mas parecia que meu companheiro não se interessava tanto
pelo dever de educar um filho.
Eu
busquei os médicos, fiz exames e soube que eu não tinha nada de errado. O problema
devia ser com ele, então, fui bem clara: eu seria mãe. Desejava que fosse com
ele e que pudéssemos adotar uma criança, mas se ele fosse contrário a ideia, eu
me separaria.
Meu
marido ficou pasmo. Ele falou que meu desejo de ser mãe era maior do que o amor
que eu sentia por ele. Ele não sabia que amor de mãe chegava a este ponto.
Abdicar de tudo por alguém que não se conhecia.
Ele
ficou brigado comigo por algumas semanas e disse que entendia a minha situação,
mas para ele não era da mesma forma. Ele não queria criança, ele não se sentia
apto para ser pai, para cuidar de choro e doença infantil. Ele preferia a
separação.
Nós
nos separamos e eu chorei muito. Pensei que ele cederia, eu não queria me
separar, mas entendi que os planos de Deus são perfeitos.
Três
anos depois, eu encontrei um homem numa viagem e nós nos envolvemos e noivamos.
Antes de casar com ele, eu contei minha história e disse o quanto eu queria um
filho, ele disse que queria ter uma família comigo.
Depois
de um ano, eu tinha o Felipe nos meus braços e a maior alegria de toda a minha
existência.
Eu entendi
que Deus queria o melhor para a minha vida e me presenteou com o meu filho
amado. Tudo traçado, prova cumprida, meu filho cresceu e me deu o afeto que é
indescritível. Eu não posso mensurar o quanto fui amada, o quanto evolui, o
quanto desenvolvi virtudes por causa deste amor.
Ser
mãe foi a melhor experiência que eu poderia ter tido. Eu indico a todas as
mulheres que busquem a maternidade, que aproveitem a maternidade e que não
permitam que nada, nem ninguém destrua este sonho, esta missão que é ser mãe.
Presente de Deus. MARÍLIA
08/05/2021
----------------------Paula Alves-----------------
“A MÃE
QUE RECEBE O PRÊMIO DE TER SEU FILHO DEVE AGRADECER A DEUS TODOS OS DIAS”
Foi
de risco. Eu sabia que era grave, mas eu precisava tentar. Desde o início, os
médicos me alertaram que eu poderia morrer me arriscando para ser mãe. Meu
companheiro, falou de forma tão delicada, ele sempre me apoiou e falou que não
queria me perder, nós podíamos adotar, mas eu senti na minha alma que a vida
crescia em mim.
Estava
convicta de que Deus havia permitido aquela união. Se aquele embrião se
desenvolvia em mim, depois de tantas tentativas frustradas era porque eu precisava
ter o contato com ele. Eu queria senti-lo.
Conversei
com o Tavinho - meu cônjuge, falei do meu amor, disse que não desejava padecer,
mas eu queria senti-lo pelo tempo que Deus achasse conveniente.
Meu bebê crescia de mansinho e eu me desenvolvia como mãe, como leoa, como aquela que protege e se arrisca pela prole.
Eu
percebia nas mudanças físicas o quanto minha vida jamais seria a mesma. As
mudanças morais, o conhecimento integral da sabedoria feminina, o desejo de
sustentar aquele ser em mim me davam a força que eu precisava e eu esperei
pacientemente, deitada, com dores e enjoos terríveis, mas eu comia para ele e
por ele, eu não reclamava, pelo contrário, eu mantinha pensamentos positivistas
e elevados para que meu filho se fortalecesse e pudesse crescer.
Eu
pensava nele e em tudo o que precisava para nascer: coração, pulmões, rins,
bexiga, pernas e braços perfeitos, o rostinho, tudo. Eu o imaginava perfeito,
saudável e feliz. Eu o via em meus braços e isso me dava satisfação de estar ali.
Quando
nas consultas médicas, alguém tentava me chamar para realidade, eles tentavam
me fazer crer que eu não conseguiria porque um de nós ou ambos poderíamos morrer,
eu simplesmente me fazia de surda, eu não queria ouvir.
Assim, chegamos aos oito meses quando eu comecei a me sentir mal, muito mal.
Naquela
tarde, eu chamei meu esposo e Tavinho ficou desesperado. Eu estava tranquila.
Falei a ele que eu tinha recebido o presente que buscava. Eu já era mãe.
Aqueles
oito meses me proporcionaram a melhor experiência da minha vida. Eu o senti, eu
o amei com todo o meu coração, eu vivi com ele em mim e o alimentei com meu
corpo, com meu sangue. Eu o envolvi em minha alma e nada, nem ninguém apagariam
tudo o que vivi com ele, o meu filho.
Pedi
ao Tavinho que deixasse bem claro minha decisão à equipe médica, eu daria a
minha vida por ele se preciso fosse e queria que minha mãe cuidasse do bebê
para ajudá-lo. Seria minha missão cumprida, meu dever de mãe, dar a vida por ele
se algo desse errado.
Mas,
Deus viu o quanto eu estava sendo sincera, Deus cuidou tanto de nós e não
permitiu que fossemos separados.
Sofremos
para valorizar a vida em comum. Superamos com tratamentos e internações.
Meu
Leonardo nasceu lindo, eu perdi muito sangue, mas pude ficar viva para cuidar
do meu bebê. Não pude ter outros filhos, precisei tirar o útero, mas eu estava
tão feliz, tão grata.
A
mãe que recebe o prêmio de ter seu filho deve agradecer a Deus todos os dias.
Nunca se esquecer o que envolve uma gestação. Tudo o que enfrentamos para dar à
luz. Tudo o que faríamos por eles, portanto, que todo mal entendido possa ser
superado. Que toda palavra dita num momento de rusga, seja apagado e que todas
as mães possam desenvolver suas missões cheias de amor e dedicação.
SAMANTHA
08/05/2021
-------------------Paula
Alves---------------
“ACHO
QUE O MAIOR PRESENTE DE UMA MÃE É O FILHO, MAS O MAIOR MESMO É QUANDO ESTE
FILHO É INTEGRO, HONRADO, RESPEITOSO E BOM CIDADÃO”
Eu fui mãe e avó, muitas vezes. Acho que eu não posso culpar meus filhos por abandonar seus filhos, deve ter sido culpa minha.
Penso
que se eu tivesse cumprido bem minha missão de mãe, eles teriam se tornado pessoas
melhores, com honra e cumprimento do dever.
Acho
que o maior presente de uma mãe é o filho, mas o maior mesmo é quando este
filho é integro, honrado, respeitoso e bom cidadão.
O
problema é que para este filho ser tudo isso, a mãe e o pai dele, também devem
saber ensinar tudo isso. Eu não soube.
Eu
escutei quando a moça falava para as mamães: tudo o que você quer de seu filho,
deve ensinar à ele. Se você quer um homem honrado, seja uma mulher honrada...
Meus
filhos arrumaram mulheres levianas, fizeram filhos de forma irresponsável, se
entregaram ao vício e quando eu percebi, as crianças estavam jogadas no mundo.
Eu
não podia deixar um descendente meu jogado na rua, por isso, peguei as crianças
para cuidar.
Tem
gente que fala que é avó boba a avó que cuida do neto porque nós já cuidamos
dos nossos filhos e não temos que nos preocupar com os cuidados dos netos que
cabem aos pais deles, mas não é bem assim que funciona.
As famílias devem se responsabilizar pelos seus familiares necessitados de cuidados e atenção, seja ele idoso ou criança desamparada.
Se
todas as famílias cuidassem dos seus necessitados, a sociedade não precisaria
se preocupar com isso, são muitos que são desprezados pela própria família.
Eu
pensei nisso. Se não é responsabilidade minha, então é de quem? Na minha casa
eles não passaram fome e eu dei o meu amor.
Seis
netos, uma escadinha, cada um de um jeito. Ah! Foram tantas histórias, tantos
percalços, a vizinhança não se conformava de saber que eu cuidava de todos
eles, enquanto meus filhos, viviam por aí.
As
vizinhas me ajudavam com roupas, sapatos e até comida. Foi difícil sim. Acho
que Deus me deu mais uma chance. Eu errei com meus filhos, mas me redimi com os
netos, meus filhos do coração que se tornaram pessoas amorosas e decentes, até
cuidaram de mim e dos pais deles, acredita?
O
tempo passa, criança cresce. Cresce com tudo aquilo que a gente ensinou latente
no peito e na consciência também.
Os
danadinhos viraram pessoas muito responsáveis, cuidaram de mim: mãezinha!
Oh! Meu Deus! Como fui amada. Como fiz um trabalho excelente com aqueles meninos e meninas que olharam para mim, no último dia, todos eles, lindos e falaram: mãezinha!
Eu
parti em paz com aqueles seis me cuidando e rezando para eu partir em paz. Eu
amo meus filhinhos. Que Deus ampare sempre vocês.
MARIA LUÍZA
08/05/2021
“PODE SER QUE O AMOR DOS FILHOS NÃO SEJA EQUIVALENTE AO AMOR DOS PAIS,
MAS É UM AMOR GRANDIOSO”
Eu só queria falar com ela. Queria
que ela soubesse que eu estava ali e que podia ouvi-la, podia senti-la. Eu
estava muito triste pela forma como as coisas foram conduzidas. Eu não tinha a
intenção de fazê-la sofrer.
Sempre soube o quanto nós éramos
importantes para minha mãe. Meus irmãos e eu, fomos a sua razão de viver.
É interessante como as mães dizem que
os filhos não pensam nelas ou não compreendem o seu amor, mas eu sempre pude
sentir o amor da minha mãe e sempre fui grata por tudo o que ela fez por nós.
Todos os inúmeros sacrifícios e todas as privações que ela passou para nos
ofertar o seu melhor. Eu sempre soube a pessoa maravilhosa que ela é.
Naquela tarde, tudo estava difícil
demais, penoso demais. Eu me desviei da trajetória que eu devia seguir para
ficar ao seu lado. Ninguém pensa no quanto é difícil uma despedida destas. Eu
nunca parei para pensar que chegaria o momento em que eu teria que partir e
deixar tudo para trás, minha família e meus amigos, minhas oportunidades, meus
sonhos, deixar minha casa para seguir para o desconhecido me amedrontavam
muito.
Eu queria ficar agarrada a ela. Minha
mãe sempre me protegeu, ela sempre foi uma fera para nos defender de tudo o que
poderia nos afligir, mas naquela circunstância ela não me via, ela não me ouvia
e eu me desesperei demais.
Eu não pensei que aquela morte
chegaria num momento em que eu era tão jovem e estava no auge de minhas
ambições. Eu achei que conseguiria um bom emprego e poderia ajudar mais em
casa, achei que me casaria e daria netinhos a ela, mas nada disso
aconteceria...
Então, eu fiquei ali, no meu antigo
quarto, pensando naquela vida estranha, vendo meus pertences e ouvindo as
lamentações da mamãe. Ela nem conseguiu se desfazer de nada. Como ela sofreu!
Meu Deus! Como sofre uma mãe que perde um filho.
Eu não pensei que daria este desgosto
a ela e se soubesse da fatalidade do meu desencarne, se fosse possível
evitá-lo, eu jamais teria saído de casa naquele dia. Eu pensei muitas vezes, me
arrependendo, pensei que pudesse ter evitado, mas hoje sei que não, estava
traçado, o dia da morte está sempre traçado, não tem como evitar.
Só sei que minha dor aumentava quando
eu chegava perto dela e sentia o seu desespero, o nó na garganta e a
infelicidade. Ela estava definhando, coitadinha!
Eu me atirei aos seus pés para pedir
perdão por ter causado tanto sofrimento e dor, eu pedi a Deus para dar um pouco
de consolação e conforto para aquela mulher tão boa e amorosa. Eu só queria
vê-la feliz.
Os pais falam do amor que sentem
pelos filhos, mas não imaginam o quanto os filhos também podem amá-los. Eu
faria qualquer coisa por ela. Queria mesmo que ela soubesse que eu vivo, eu
tenho anseios, eu tenho todas as lembranças, tenho arrependimentos e tenho
amor.
Nada se perde, só o corpo de carne.
Nada se apaga, pelo contrário, se esclarece e se ilumina. Nós nunca
fracassamos, aprendemos mais e mais. Eu estou tão bem e ainda sinto saudades.
Depois que eu orei do fundo do
coração, uma luz irradiou em nosso lar e anjos bondosos vieram me acolher,
ajudaram minha mãe que dormiu tranquila. Eles me pediram para acompanhá-los
para que ela ficasse melhor e eu pudesse progredir. Aqui estou bem.
Eu já soube dela, ela está se
esforçando pelos meus irmãos, pensa sempre em mim, todos os dias e eu nela.
Pode ser que o amor dos filhos não
seja equivalente ao amor dos pais, mas é um amor grandioso. Te amo muito mãe.
Seja feliz! Eu sei que um dia, vou te reencontrar.
MARISTELA
01/05/2021
------------------------Paula Alves------------------
“AGORA EU SEI E VOCÊ TAMBÉM”
Eu odiava aquele trabalho. Eu sempre
sonhei em ser médica, eu desejei estudar, mas não tive oportunidade de
ingressar numa universidade, mal pude concluir o colegial.
A situação estava tão difícil, minha
avó doente, mamãe trabalhando tanto, eu não podia escolher trabalho, tinha que
me virar no que aparecesse, por isso, fui trabalhar nos serviços gerais. Mas,
justo num hospital?
Eu fazia o meu dever, simplesmente
para adquirir o salário que colocava comida na mesa e comprava os remédios da
vovó. Eu via tanta coisa errada. Médico maltratando pacientes, médico de folga,
de corpo mole, enquanto tinha que cumprir com o seu dever. Via muita coisa, mal
humor, insolência, abuso de poder. Eles tratavam os pacientes como se fossem
estrelas e ainda insultavam como se a dor do outro não fosse nada.
As mulheres chegavam para ganhar nenê e as enfermeiras criticavam: “Na hora de fazer você não reclamou...”
Elas debochavam do sofrimento alheio
e isso me irritava muito porque eu queria tanto tratar de gente e não podia. A
coisa foi muito pior quando a minha avó precisou de internação e não foi aceita
porque não podíamos pagar o hospital, mas eu era funcionária, da limpeza. Fui
humilhada, riram de mim, funcionária do hospital é médica, enfermeira, do
departamento do RH.
Minha avó melhorou na base da fé. Eu
fiquei muito revoltada por anos, logo que pude tratei de arrumar outro emprego
e sai de lá, mas ainda estava tão inconformada com minha situação. Estava
trabalhando numa loja de calçados quando outro vendedor perguntou por que eu
era tão mau humorada. Ele disse que a gente tinha que dar graças a Deus pela
oportunidade de emprego que dignifica e coloca o pão na mesa.
Eu não esperava ouvir aquilo. Fui
para casa pensativa. Nunca pensei que as pessoas percebiam meu pouco caso, como
se eu merecesse muito mais do que aquilo, mas por que se eu não sou melhor do
que ninguém?
Eu precisava ouvir aquilo de um cara
que trabalhava no bom humor, com simpatia, levava tudo de boa, até insultos de
clientes ele tirava de letra. Eu pensei que tem gente que trabalha muito mais
penoso e nem reclama.
Quantas balas alguém tem que vender
para comprar feijão?
Quantos bolos alguém tem que vender
para pagar o aluguel?
Será que o artista consegue vender um
quadro com facilidade?
Todas as profissões e ocupações têm
seus riscos, suas dificuldades e, nem por isso, as pessoas têm que se revoltar
e maltratar seus clientes.
Eu tentei sorrir no outro dia.
Parecia que meu rosto estava endurecido, eu nem sabia sorrir. Com o tempo, eu
melhorei e quando cheguei aqui eu soube que eu mesma escolhi tudo isso porque
já havia sido uma daquelas médicas que negligencia seus pacientes. Eu precisei
me afastar da carreira que tanto amo para dar mais valor a ela. Precisava
trabalhar em outros setores para valorizar todas as formas de ganhar o sustento
com dignidade, mas a revolta tomou conta de mim. Agora eu sei e você também.
MÔNICA
01/05/2021
---------------------------Paula Alves-------------------
“TODOS NÓS PODEMOS COLABORAR COM O BEM-ESTAR E PROGRESSO SOCIAL, SE
QUISERMOS”
Parecia uma múmia, parada o dia
inteiro. Eu nunca me esforcei para que o negócio dela prosperasse. Nunca parei
para pensar que a prosperidade dela, era a minha prosperidade porque ela pagava
o meu salário, tudo isso por pura inveja. Que feio!
A verdade é que o trabalho dela era
bem mais trabalhoso que o meu. Eu era a recepcionista e ela tinha que fazer
todos os procedimentos nas bocas dos clientes. Vou te falar aquela dentista era
um amor, tão delicada e cuidadosa.
Ela tinha recebido a oportunidade de
fazer a faculdade por causa de um cliente do pai dela, menina muito humilde e
dedicada, fez jus ao presente que ganhou e eu tinha inveja dela.
Coisa horrorosa ter inveja de alguém,
parece até que um verme rói a gente por dentro. Eu queria gostar dela, mas
achava que ela não merecia ter tanta facilidade na vida. Ela nem tinha
facilidade, viu?!
A coitada da moça entregava cartão,
tentava arrumar cliente, serviço que eu podia fazer, mas não me oferecia e
deixava a moça se esforçar sozinha, enquanto eu ficava ali parecendo uma múmia.
Nossa! É horrível quando a gente vê o
filme da vida como telespectador e admite o quanto foi dramático, preguiçoso e
desleal.
Eu me envergonhei.
O final de tudo isso? Claro que ela
prosperou. Ela arrumou muitos clientes que indicaram outros clientes porque ela
era muto eficiente e delicada com todos, daí a clínica aumentou tanto que
precisou contratar funcionários e as pessoas começaram a perceber a minha cara
de deboche e o meu jeito de múmia. Daí não demorou muito, os meus serviços não deram
conta do recado e ela me substituiu por outra muito melhor do que eu, tão
eficiente quanto ela.
Tive que voltar para o desemprego,
voltar a pensar na minha vida e na minha renda. Quando estive desempregada,
valorizei meu emprego antigo e minha chefe que era tão boa comigo e com todos.
Claro que eu precisei ficar um tempão passando dificuldade e arrumei um
trabalho muito complicado, com horários difíceis, longe, com empregadores que
me exigiram, me insultavam e eu tive que me conformar.
Não seria melhor ter avaliado o
quanto Deus estava sendo bom para mim me colocando em contato com aquela
dentista amorosa? Eu podia ter ajudado e me erguido junto com ela, na amizade,
no serviço árduo, sendo esforçada e me tornado insubstituível.
Todos nós podemos colaborar com o
bem-estar e progresso social, se quisermos.
MICHELE
01/05/2021
-----------------------Paula Alves---------------------
“O MELHOR TRABALHO É SER ÚTIL”
Eu limpava tudo e tentava servir da
melhor maneira para que o meu trabalho fosse valorizado. Eu não queria voltar
para a fila do desemprego.
Nunca me incomodei em limpar
banheiros, nunca fiz cara feia quando ela pediu para limpar os vômitos depois
da bebedeira, nunca.
Eu percebi que era difícil para ela,
vício é doença, pelo menos, para mim sempre foi porque eu não achava normal
beber todos os dias.
Todos os dias nós temos que
trabalhar, cuidar da vida, procurarmos ser úteis para nós e para os outros, eu
tinha meus filhos para cuidar e tinha que ser dedicada, honesta e ativa, muito
ativa. Acordar bem cedo para o dia render sabe?!
Mas, aquela mulher era diferente de
tudo o que me haviam ensinado. Aprendi tantas coisas com minha mãe. Que uma
mulher não pode fugir da luta, tem que ser guerreira, não esmorecer jamais
porque tem gente esperando em casa.
Aquela mulher era o oposto de tudo o
que eu aprendi, uma vergonha para a força feminina, um vacilo para as mulheres
que podem conseguir tudo o que desejam quando se empenham de verdade.
Minha patroa era uma mulher tão
estudada, a parede estava cheia de diplomas. Bonita e jovem, culta, viajada e
inútil, coitada!
Enquanto ela vomitava, eu procurei
ajudar, senti muita pena. Tem gente que acha que pode ter pena de gente pobre
que tem que bater cartão e levantar de madrugada, gente que tem casa bem
simples e criança esperando em casa. Tem pena de mãe, mãe solteira, mãe traída,
mãe desempregada, mãe abandonada, mãe de viciado, mãe...
Mas, eu vi aquela mulher tão linda
jogada no chão e me comparei com ela. O difícil é não ter ânimo, não ter
esperança, não ter amor-próprio, não ter condição de se reerguer na sociedade e
esmorecer, abandonar os objetivos e se entregar ao vício, ao desespero e à
depressão.
Eu a ajudei, preparei um café amargo
e falei umas verdades, esperando que ela fosse me demitir. Eu não queria perder
o emprego, mas não podia conviver com aquilo sem fazer nada. Sabe quando você
se omite na vida? Quando você poderia tentar fazer alguma coisa e vira as
costas para alguém que está precisando porque é conveniente? Eu não queria
fazer isso, eu queria tentar ajudar, ser útil e necessária.
Falei disso, da força feminina, do
potencial dela, eu tentei dar uma injeção de ânimo na mulher. Perguntei por que
ela não voltava a trabalhar, ela falou que não precisava, que casou para ser
dondoca do marido, estar ali quando ele quisesse e ela estava cansada de ser um
vaso naquela casa.
Ela desabafou comigo, gritou comigo,
me humilhou e quando eu ia embora, ela chorou e pediu desculpas. Eu fiquei, eu
ajudei em muitas coisas, procurei tratamento para ela, me tornei conselheira e
ela foi melhorando, tanto e tanto que voltou a trabalhar. Arquiteta,
maravilhosa.
Foi muito bonito de ver. Eu fiquei
tão feliz em ajudar e ver o quanto ela melhorou com a minha ajuda. Foi Deus que
me inspirou naquele dia. Eu não fui covarde, fui sincera de coração e me
esforcei tanto por uma pessoa que não tinha meu sangue, quando ela progrediu eu
chorei de tanto contentamento.
O melhor trabalho é ser útil.
BIBIANA
01/05/2021
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