Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“MESMO NOS PIORES
MOMENTOS, SAIBA QUE DEUS É PAI AMANTÍSSIMO E ESTÁ NO CONTROLE DE TUDO”
Valeu a pena viver e passar por tanta
dificuldade só para morrer e ver tantas demonstrações de amizade e atenção para
com a minha Giovana. Minha esposa sempre foi tão trabalhadora e precisava
cuidar de nossa pequena depois do acidente.
Eu nunca botei muita fé nas pessoas ao nosso
redor. Eu sempre vi discriminação e má vontade. Sempre percebi a falsa modéstia
e o jeito como todos se afastavam de nós porque éramos pobres de bolso e de
aparência.
Sempre temi que acontecesse algo comigo que
me impossibilitasse de cuidar delas, mas este era os planos de Deus. A verdade
é que convivemos uns com os outros para que possamos mudar de ideia e ver a
presença de Deus na imagem do nosso semelhante.
Eu nunca vi, mas precisei morrer para
compreendê-los.
Todas as pessoas têm seu lado bom, mas nem
sempre deixam evidente. Eu achei que fossem passar necessidade sem mim, mas foi
aí que apareceram as manifestações de caridade de todos os lados. Os vizinhos
sempre nos viram. Nós não passamos despercebidos, ninguém passa. Sempre tem
alguém vendo você e, é aí que mora o perigo porque as pessoas sempre veem algo
que você tenta esconder, elas sempre notam algum gesto ou uma atitude, uma reprimenda
que você deu em alguém. Eu não sabia disso. Quando você acha que ninguém está
olhando aparecem olhares de todos os lados e eu nem estou falando dos
desencarnados que te observam a todo instante.
O fato é que as pessoas viam e se
sensibilizaram com o sofrimento delas. Maria Eunice estava sempre trabalhando
para me auxiliar e sofreu muito com meu desencarne, minha pequena Giovana
ficava na creche e voltava para casa agarrada à mãe, tão pequena, órfã de pai.
Eu fui vítima de um atropelamento, alguns
jovens embriagados me deixaram morrer sem prestar socorro, foi um escândalo.
Os vizinhos levaram de tudo um pouco, além de
consolações. Minha família foi muito bem amparada e minha esposa, apesar de
sofrer deveras, superou e criou nossa filha com imenso amor. Ela se tornou uma
mulher maravilhosa, uma professora humana e cheia de senso moral.
Hoje, eu só tenho que agradecer a Deus pela
jornada que tive e por ter esta oportunidade de saber que as pessoas têm
virtudes lindas dentro de si. Quando precisamos recebemos apoio de todos os
lados.
NÃO
PENSE QUE VOCÊ ESTÁ SOZINHO.
Mesmo nos piores momentos, saiba que Deus é
Pai amantíssimo e está no controle de tudo. Ele sempre envia pessoas nobres que
podem nos ajudar a retornar para o caminho do bem. São pessoas que sentem o
amor de Deus e uma necessidade viva de fazer o bem. Elas estão por toda parte e
sempre poderão chegar até você. Basta crer!
JOÃO
30/05/2020
---------------------------------Paula
Alves----------------------------
“NO MUNDO INTEIRO,
ENQUANTO TODOS DORMEM EM PAZ, SEMPRE TEM UMA MÃE QUE PERDE O SONO, AFLITA”
Aquela menina era tão má para a mãe dela que
me irritava. Minha neta. Eu estava desencarnado há quinze anos e amava minha
filha. Sempre aparecia para saber como estavam. Eu sentia saudade e me
preocupava com eles. A Consuelo não tinha tido muita sorte no amor. Minha filha
não sabia muito bem como escolher namorado e arrumou um pai para sua filha que
eu não quis nem ver. Eu tive a certeza de que ela sofreria por aquele homem. Na
época, eu estava vivo, falei o que eu pensava a seu respeito, mas ela estava
apaixonada e não permitiu que eu me envolvesse.
No fim, ela engravidou e ele foi embora,
nunca registrou a menina e nem quis saber dela.
Aquilo para mim foi um desgosto. Qual é o pai
que quer isso para sua filha? Eu entristeci, mas voltei a sorrir quando minha
neta nasceu.
Desde o princípio, minha filha foi rejeitada
pela menina. Parecia que a filha culpava a mãe pela ausência do pai. Dois anos
depois do nascimento da minha neta, eu descobri um câncer e logo desencarnei.
A verdade é que eu queria ter tido mais
tempo. Eu não me conformava em deixá-las. Elas precisavam de mim, por isso, eu
sempre estava por perto, de olho nelas, mas era bem difícil saber de tudo o que
acontecia. Ficar no ambiente doméstico sem o corpo físico é terrível porque nós
estamos presentes, mas é como se não estivéssemos.
Eu queria ajudar, me manifestar, mas não
tinha como. A menina cresceu cheia de revolta, só aprontava. Ela tinha o sangue
daquele homem que abandonou mulher e filha, um malandro. Seria por isso que ela
fazia tanto mal à mãe?
Eu já aprendi que não tem nada a ver. Eu
soube que elas tinham muitos reajustes. Ela odiava aquela mãe. Minha filha amada.
Minha neta estava tão obstinada em fazer a
própria mãe sofrer que se encheu de fúria. Aquele desejo de fazer mal ao outro
poluiu a mente dela, fez surgir tantas energias destrutivas que atraiu seres de
igual vibração. Quando eu percebi a menina estava andando com más companhias,
tão terríveis como ela, mas ela era a minha pequena. Eu não queria que ela
sofresse, eu queria que ela se emendasse.
De uma hora para a outra, ela cresceu e achou
que tinha idade para cuidar da própria vida, para se arriscar e afrontar a mãe.
Eu não poderia permitir que ela andasse
sozinha, correndo perigo. Parecia que eu estava adivinhando. Ela quase foi
molestada por aqueles rapazes que ela chamava de amigos. Sete rapazes mal
intencionados que levaram drogas e estavam prestes a arruiná-la quando tudo
mudou.
Só Deus pode saber se na hora H nós teremos
uma luz. Só Deus para saber quando tudo pode mudar.
Eu estava me desesperando quando apareceu uma
senhora. Quem era ela? Eu não pude compreender. Ela ficou tão irritada de ver que
eles estavam naquela casa. Um dos rapazes disse que a casa era da avó dele, mas
a casa foi invadida e a dona simplesmente apareceu no meio da noite.
Era uma senhora franzina, mas para todos,
parecia forte e robusta, cheia de autoridade, ela entrou esbravejando,
constrangendo a todos. Minha neta percebeu que o fim estava próximo e respirou
aliviada. Ela saiu de perto dos rapazes, foi para o lado da matrona e eles
correram. A moça chorou envergonhada e a senhora perguntou para ela onde estava
sua família, sua mãe. Ela indagou se ela era sozinha no mundo porque uma moça
tão jovem devia ter uma mãe a sua espera, uma mãe cheia de preocupação.
Minha neta chorou acabrunhada. Ela voltou
para casa refletindo em tudo o que aconteceu. Eu aproveitei a ocasião e a intui
das inúmeras vezes em que minha filha se preocupou com ela, a tratou com
carinho e só ganhou desprezo e indignação.
Minha neta ganhou a oportunidade de tomar
vergonha na cara, voltou para o lar e encontrou minha filha a sua espera,
aflita, achando que o pior poderia acontecer. Ela falou:
-
No mundo inteiro, enquanto todos dormem em paz, sempre tem uma mãe que perde o
sono, aflita.
Ela quis dizer que a mãe nunca fica em paz
com um filho solto na rua. Ela abraçou a moça inconsequente e recebeu a
retribuição. Depois daquele dia, elas se entenderam e a moça se encaminhou no
bem.
Graças a Deus o pior não precisou acontecer
para que elas se reconciliassem. Eu pude vir para cá receber este tratamento,
cuidar de mim, enquanto elas podem cuidar das próprias vidas.
MANOEL VITÃO
30/05/20
----------------------Paula
Alves-------------------
“O
MUNDO DÁ MUITAS VOLTAS E NÓS TEMOS QUE ESTAR DISPOSTOS A NOS DEIXARMOS LEVAR
PELAS MUDANÇAS QUE A VIDA TRÁS PARA NÓS”
Eu não suportava aquela mulher. Era uma
antipatia tão gratuita que eu me irritava e o pior era não saber os motivos que
me causavam tanta repulsa. O pior é que eu sentia que minha aversão era
recíproca.
Nós trabalhávamos juntas e eu sempre achava
que ela queria me sabotar. Falar mal de mim para o meu chefe ou destruir meu
trabalho, mas talvez, eu estivesse equivocada. Eu não tinha provas para achar
que ela não gostava de mim. A mente da gente é coisa delicada.
A GENTE
NÃO SABE QUANDO ESTÁ COM MANIA DE PERSEGUIÇÃO OU SE É INVEJA, IRRITAÇÃO TOLA OU
QUALQUER OUTRA COISA DECORRENTE DE BIPOLARIDADE.
A questão é que, de repente, eu tinha um
prazo curto para entregar alguns relatórios e estava com meu filho muito
doente. Meu pequeno estava se tratando no hospital e, mesmo assim, eu tinha
prazos para cumprir, eu precisava do meu emprego. Quando Helena soube que eu
estava passando por momentos tão difíceis, ela se sensibilizou e falou comigo.
Ela disse que sabia que não tínhamos amizade e ela sabia que eu não gostava
dela, apesar de nunca ter feito nada contra mim, porém, ela também era mãe e
entendia o quanto eu devia estar sofrendo, ela queria me ajudar e faria os
relatórios para mim.
Meu primeiro impulso foi de recusar porque
achei que ela estava se aproveitando do meu sofrimento para ter uma vantagem de
me tirar do meu cargo, mas eu queria estar com meu filhinho, nem que para isso,
tivesse que perder meu emprego, então, eu aceitei e para minha surpresa, ela
fez tudo em meu nome e foi um trabalho muito bem elaborado e cheio de ética.
Eu me surpreendi muito. Logo meu filho se
reestabeleceu. Eu voltei para o meu emprego e pude agradecer tudo o que ela fez
por mim, eu fui sincera, falei de minha repulsa por ela e do quanto eu estava
envergonhada. Nós conversamos muito e ela se tornou uma grande amiga.
O mundo dá muitas voltas e nós temos que
estar dispostos a nos deixarmos levar pelas mudanças que a vida trás para nós.
Eu e Helena, tivemos uma série de acontecimentos desagradáveis que nos uniram
em muitas trajetórias, em muitas reencarnações.
Quando olhei para ela num novo corpo, numa
nova vida, eu não poderia me lembrar de tudo o que passamos, mas eu senti. Foi como
se nossos Espíritos tivessem a certeza de que se repelem e não gostaram do
contato um do outro. Eu não queria estar perto dela, mas Deus faz as
circunstâncias favoráveis para nascer a paz e a união entre todos nós.
A maternidade faz aflorar sentimentos
maravilhosos onde somos indulgentes com as outras mães. Foi, por isso, que ela
me ajudou, por amor aos seus filhos. Eu fui grata a ela por amor ao meu filho,
por ter podido ficar com ele no hospital e, por isso, nós nos reconciliamos.
Quando isso aconteceu, eu vi o quanto somos
parecidas e nossa amizade pôde ser sincera e verdadeira.
É muito bom ter paz de Espírito. Saber que
você não tem mais inimizades e, ao invés disso, poder contar com um amigo é
muito bom.
REBECA
30/05/20
-----------------------Paula
Alves-----------------
“É INCRÍVEL COMO
TEMOS O ESQUECIMENTO DO PASSADO, MAS CONTINUAMOS TENDO UMA FORTE INTUIÇÃO QUE
PODE NOS GUIAR”
Eu entregava a chave do local para ele tomar
conta e saia em paz. Sabe quando você confia de olhos fechados? Eu sei lá. O
cara me enganou tão direitinho que eu não pude desconfiar dele.
Ele estava comigo nas comemorações, conhecia
minha família. Eu achava que ele era um homem sofrido, um funcionário exemplar
que tinha dado azar com a família e precisava de apoio. Eu o tratei como a um
filho e ele me traiu.
Quando eu percebi, ele já tinha roubado
muito.
Foi fácil, mas o pior foi me sentir enganado.
Tive um rombo no banco, fiquei endividado e me entristeci muito com a tolice de
permitir que ele frequentasse minha casa e fosse um marginal.
O pior não é o roubo em si, a perda material,
mas a ofensa moral. É você saber que ofertou amizade leal e a pessoa te
explorou.
Eu podia entregá-lo para a polícia e no fundo,
eu não quis que ele fosse preso. Naquela época, eu não pude compreender por que
eu não queria que ele recebesse o que merecia. Eu falei com ele e expliquei que
a punição seria a devolução do meu dinheiro e a pena seria saber que a minha
amizade era o maior tesouro que ele poderia ter tido porque com um amigo leal
nós não temos aflições, eu nunca mais queria vê-lo.
Meus familiares me recriminaram e zombaram de
mim. Passei anos sem saber por que agi daquela forma. Eu me recuperei e tive
uma vida tranquila até que vim para cá e me explicaram sobre aquela prova.
Meu funcionário, em outra vida, foi um filho
que não tratei como deveria. Ele foi um filho fora do casamento que rejeitei,
mas depois de muito tempo, verifiquei o quanto sofria por falta de condições
básicas de subsistência e tentei ajudar. Ele melhorou sua situação, mas nunca
me permitiu fazer parte da sua vida, nunca me perdoou.
O rancor que ele nutriu naquela época, trouxe
em forma de vingança nesta existência e desejou tudo o que eu tinha, como uma
indenização pelos sofrimentos vivenciados. Por outro lado, eu ainda via nele a
imagem do filho que merece ser cuidado, por isso, não o entreguei.
É incrível como temos o esquecimento do passado,
mas continuamos tendo uma forte intuição que pode nos guiar.
Ainda temos muito a reajustar, por isso, pedi
para retornarmos juntos novamente. Desta vez, eu espero pela oportunidade de
ser seu filho. Que ele possa me educar e devotar os sentimentos necessários
para que possamos nos entender.
CAIQUE
30/05/20
-----------------Paula Alves------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“TODOS AQUELES QUE SE
ARRISCAM, QUANDO MORREM, DESENCADEARAM SEU SUICÍDIO”
Não sofra por mim. Eu tive tudo o que mereci
por minhas imprudências. Eu achei que a vida fosse feita para ser vivida.
Acreditei que devemos aproveitar todas as chances para viver intensamente e
descobrir os prazeres que a vida poderia nos oferecer.
Eu tive todas as oportunidades. Eu viajei e
vivi uma vida esplendorosa. Eu vi lugares lindos, mas tudo isso não bastava. Eu
queria me emocionar e sentir sentimentos indescritíveis, para isso, era
necessário me arriscar. Me colocar em situações limítrofes, onde poderia perder
a vida para valorizá-la.
Sabe aquela sensação com frio no estômago?
Aquele desespero de uma fração de segundos
onde tudo parece estar perdido? E quando você parecia ter perdido algo muito
valoroso, pronto! Era, apenas uma aventura, uma radical sensação?
Era o que eu buscava. Não me considerei
imprudente. Na verdade, eu sempre tive motivos para achar que tudo fosse muito
seguro. Pessoas capacitadas a me encaminharem nos esportes radicais,
instrutores importantes, locais bem preparados onde eu poderia me arriscar a
vontade que nada de mau me aconteceria.
Você me pergunta se eu não tinha medo de
morrer... Ora, era exatamente este medo que produzia aquela sensação que eu
buscava.
É estranho falar assim. Nós nascemos com um
instinto que nos coloca a defesa em primeiro lugar. Difícil aquele ser humano
que dá a sua vida por alguém, hoje em dia, acho que é cada vez mais raro. No mundo
dos egoístas, é cada um por si. Eu não sou diferente de ninguém.
Estaria disposto a proteger minha vida,
claro. Foi, por isso, que não pude considerar quando me informaram que eu
estava sendo punido por ser suicida. Eu nem mesmo consegui acreditar porque
nunca tive a intenção de me matar. Eu amava viver. Tinha uma vida excelente,
repleto de possibilidades, nunca poderia ter acabado com ela. Eu diria que foi
uma fatalidade, mas hoje sei que não foi fatalidade, eu fui muito imprudente.
Se não fosse naquele dia fatídico, seria em outro, mas seria.
Se eu soubesse de tudo isso... Me perguntei
por que as pessoas não conversam mais.
POR QUE
AQUELES QUE SABEM DE TODA A VERDADE NÃO A DIVULGAM?
Se eu soubesse teria repensado minhas
atitudes. Eu sofri por mais de cinquenta anos em delírio naquele local fétido.
Eu quis voltar no tempo em que fui feliz
junto daqueles que eu amei. A morte é única para cada um. Acho que todos nós a
enfrentamos de uma maneira, dependendo da forma como enxergamos a vida, da
forma como vivemos e das razões que nos levaram a morrer.
Eu sofri e não queria que outros como eu se
arrependessem dos seus atos e se destruíssem da mesma maneira.
Honrar
a vida, respeitá-la. Saber que a forma como você cuida do seu corpo vai
justificar a forma de passar pela morte.
Todos aqueles que se arriscam, quando morrem,
desencadearam seu suicídio. Porque é um fato que poderia ser evitado se ele não
tivesse se arriscado.
Você vai falar que ninguém morre no dia
errado, eu sei disso. Deus permite que as coisas aconteçam para que possamos
aprender com nossos atos falhos, mas não precisava ter sido assim, são curvas
que tomamos na vida decorrente da nossa liberdade de escolha, deixei muitas
coisas importantes para trás. Para viver desta maneira, deixei uma família e
muitos deveres que ficaram para a próxima oportunidade. Eu sinto muito, mas não
quero que você sofra por mim.
GASPER
23/05/20
--------------------Paula
Alves----------------
“EXISTEM TANTOS
DELINQUENTES, MAS MUITOS NUNCA SERÃO PUNIDOS NESTA SOCIEDADE”
Eu me lembrei dos índios, das mulheres, dos
negros, dos pobres e dos nordestinos. Eu me lembrei de todos que sofrem e
sofreram preconceitos em todos os tempos da Humanidade. Eu me revoltei quando
percebi que eles não seriam tratados.
Como se as pessoas pudessem ser postas de lado
ou escolhessem ser menosprezadas por suas condições de precariedade.
Eles cometeram delitos terríveis. Eram
estupradores, ladrões, assassinos e os médicos deviam tratar deles independente
de suas escolhas e dos seus erros na vida.
Eu vi naquela penitenciária que a lei dos
homens é muito falha e eu só observava tudo sem me pronunciar porque tinha medo
deles. Eles poderiam ser tratados, eles mereciam como cidadãos, mas eles
recebiam os placebos e alguns podiam ser testados como cobaias porque ninguém
precisava saber.
Foi como se eu me deparasse com uma realidade
suja que só existia ali.
Moralidade falsa, delitos dos colarinhos
brancos.
Existem
tantos delinquentes, mas muitos nunca serão punidos nesta sociedade. Eu fiquei
chocado. Eu não queria fazer parte daquilo, mas meu superior perguntou por que
eu estava achando bizarro, ele disse que eu deveria refletir se ali era lugar
para alguém tão limpo quanto eu. Eu só queria fazer meu trabalho como médico.
Eu queria curar, queria ser útil, mas não pude.
Eu pensei na minha família e nas minhas
expectativas de carreira. Eu me questionei se aquelas pessoas mereciam que eu
lutasse por elas e por diversas vezes, achei que um homem não pode ser ouvido
por ninguém.
Até que ponto vale a pena você perder tudo o
que tem para defender uma classe que ninguém vê? O que eu ganharia com tudo
aquilo?
EXISTEM
QUESTÕES DE ÉTICA QUE PARECEM SÓ ATORMENTAR VOCÊ.
Ninguém se importa, ninguém.
Mas, eu não poderia compactuar com aquilo. Eu
chorei e pedi a Deus um direcionamento. Eu sabia que minhas escolhas só
refletiriam em mim e eu ficaria sem emprego, mas não salvaria nenhum deles.
É um grito silencioso. Minha esposa me
aconselhou a apenas desempenhar minha tarefa como fosse possível, eu deveria
pensar nas crianças, mas eu não podia dormir, minha consciência me atormentava,
então, eu me demiti, mas antes coletei provas e divulguei tudo à imprensa. Eles
não me ouviram, o caso simplesmente foi arquivado como se não interessasse a
ninguém. Eu não consegui arrumar um bom emprego, mas ainda era médico e pude
clinicar.
Quando cheguei aqui, depois de muitas décadas
vivendo em paz, fui informado que era a minha prova. Já havia empregado mal o meu
dever como médico em outras existências e, nesta vida, consegui ser altruísta
com o meu semelhante. Depois que eu me demiti, eles ficaram com medo de minhas
denúncias e interromperam seus atos ilegais com os presos, isso me deixou muito
feliz.
Faça apenas o bem e nunca compactue com o
mal. Seja uma pessoa com retidão moral. Se cada um de nós mostrasse sua
seriedade na sociedade, ela seria um bom lugar para se viver.
SILVIO
23/05/20
-----------------Paula
Alves-----------------
“AS PESSOAS NEM
SEMPRE CONSEGUEM PERCEBER NOSSAS REAIS NECESSIDADES”
Eu nem mesmo entendia o que era a recessão.
Eu temia perder o emprego, não ter a reserva financeira que tão
dificultosamente conseguimos juntar para comprar nossa moradia. Meu esposo era
pedreiro e eu trabalhava como diarista. Eram trabalhos muito cansativos, mas
nós tínhamos compromisso com nossa família e não estávamos dispostos a perder
aquilo que conquistamos.
Porém, quando a crise chegou, nós não tivemos
muito no que pensar.
Meu marido não arrumava nada e eu tentava me
agarrar nas patroas que sabiam da minha situação, mas todos foram surpreendidos
com uma crise que mandou muitos empregados para a rua.
Eu me desesperei, achei que fosse virar
pedinte. Conversei com meu esposo que ouviu calado e me confidenciou que não
sabia mais o que fazer, ele tinha os olhos vidrados, eu nunca tinha visto
aquele homem daquela maneira.
Naquela
noite, eu orei tanto, fui dormir com a barriga doendo de fome porque não pude
me alimentar. Nós preferimos alimentar as crianças, tomamos um copo de água com
açúcar e fomos dormir.
Meu Deus! Quanta insegurança. É horrível não
saber o que será do dia seguinte. Nós não tínhamos mais nada, nossas economias
foram se esvaindo e não sobrou nada. A casa de aluguel ainda nos confortava
pela bondade da dona que não nos jogou na rua.
Durante a noite, eu acordei de sopetão e não
vi meu esposo na cama, fui até a garagem e vi uma cena chocante, meu esposo se
preparava para se enforcar. Eu o salvei e ele chorou apavorado, se sentindo vencido,
derrotado e eu pedi para que ele me jurasse que não ia me abandonar com três
crianças.
Foram momentos indescritíveis porque, além da
fome e da falta de dinheiro, eu estava com uma pessoa que não tinha esperança e
que achava que, apenas a morte, poderia eliminar aquela sensação de derrota da
sua vida. Ele queria acabar com aquele sofrimento.
Eu passei a pedir comida de porta em porta,
fui humilhada, desejei morrer também, mas encontrava pessoas boas que me davam
o que podiam, inclusive chances de trabalhar para ganhar uns trocados.
Conseguimos! Ele não se matou e graças a algumas pessoas caridosas nós fomos
vivendo até as coisas melhorarem um pouco.
Nunca conseguimos comprar a nossa casa, mas
também nunca fomos delinquentes. Meu esposo desencadeou um problema emocional
que nunca se curou, mas superamos, vivemos.
Se
você tiver que pedir, peça! Peça ajuda para se alimentar, para alimentar seus
filhos, para desabafar, para poder trabalhar ou para qualquer outra coisa. Não
tenha vergonha ou orgulho, às vezes, é exatamente isso que precisa ser feito
porque a partir daí você trata suas leviandades morais e desperta um ser mais
humilde que pode realizar grandes coisas
com o auxílio de pessoas nobres que estão em toda parte.
As pessoas nem sempre conseguem perceber
nossas reais necessidades. Somo todos iguais. Todos irmãos. É obrigação ajudar!
CINTIA
23/05/20
-------------------Paula
Alves---------------
“AQUELE
QUE JÁ TRABALHOU DESINTERESSADAMENTE PARA BENEFICIAR O OUTRO SABE A SATISFAÇÃO
DE SERVIR”
Eu queria ajudar, mas meu marido não deixava.
Ele
dizia que havia se esforçado muito para conseguir aquele cargo e tudo o que nós
tínhamos. Ele gostava de dizer que ninguém tem nada de graça. Por que ele tinha
que fazer a caridade com os outros se ninguém nunca foi caridoso com ele?
Eu achava que meu marido era um pouco revoltado.
Eu tinha tempo de sobra e queria trabalhar na igreja. O padre sempre dizia que
precisava de ajuda para desempenhar as obrar. Eu sentia dentro de mim uma
inclinação para os trabalhos sociais. Uma vocação estranha que eu nem sabia
explicar. Falei com ele porque não queria fazer nada pelas costas, afinal eu
cuidava de tudo, da nossa casa e das crianças, mas ainda me sobrava um tempo e
eu poderia ser útil na igreja.
Ele ficou furioso, disse que eu não ia ajudar
a igreja a ganhar mais dinheiro, que isso tudo era fachada, ninguém fazia a
caridade de jeito nenhum. Ele não doava nada, me fazia queimar as roupas que
não serviam mais para nós. Tanta roupa boa das crianças, eu via como as mães
passavam com as crianças pelas mãos, as roupinhas curtas e eu fazia tudo o que
ele me pedia.
Comia comida fresquinha e não podia
requentar, jogava tanta coisa no lixo...
Tudo muito errado, muitas possibilidades de
doar, fazer coisa útil, ser bondosa e eu estava obedecendo a um orgulhoso, um
egoísta.
Eu não queria brigar, então, comecei a fazer
tudo sem falar. Doava as roupinhas, doava alimentos. Fazia de um jeito que ele
não percebia que a comida não estava fresquinha para não ter desperdício. Eu
passei a trabalhar escondido nas obras da igreja, enquanto ele estava
trabalhando, mas ele descobriu, me fez passar vergonha na igreja e eu escolhi a
família, desisti.
O tempo passou e quando a dificuldade
financeira chegou, depois da perda do emprego, ele ficou muito mudado. Ele se
revoltou, mas depois de algum tempo, me confidenciou que não sabia o que fazer.
Ele não tinha mais dinheiro e precisava da minha ajuda. Ele nunca me permitiria
trabalhar se não fosse realmente preciso. Me pediu para ajudar e eu sabia bem o
que fazer. Fui falar com o padre e ele me ajudou, eu arrumei um emprego e
passei a sustentar a casa. Assim, o meu marido percebeu que o bom é poder
contar com todos, é sempre ter a oportunidade de ajudar porque nós também
podemos precisar de ajuda.
A vida da gente muda o tempo todo. Quem está
numa posição de superioridade pode simplesmente despencar e precisar de ajuda.
Quando a pessoa é simples e humilde fica fácil conversar com uns e outros e ser
atendido no seu pedido.
Eu trabalhei por muito tempo, vi meu marido
se modificar pela dificuldade que enobrece o Espírito e ainda pude servir com
verdadeira satisfação.
Aquele que já trabalhou desinteressadamente para
beneficiar o outro sabe a satisfação de servir.
GLÁUCIA
20/05/20
----------------------Paula Alves------------------
Eu tinha tanto medo. Ainda é difícil para
mim, me concentrar nas imagens reais. Foi como se passasse por uma espécie de
loucura. Tudo ocorreu de forma muito rápida.
Eu pensava nas bobagens que fiz. Nas escolhas
que fiz. Por que não priorizei minha saúde e minha família?
Me lembrei das tantas vezes em que gastei
dinheiro com coisas tão supérfluas, deveria ter investido num plano de saúde,
deveria ter me cuidado mais, deveria ter passado mais tempo com minha família.
Foi, de repente, senti tanto frio, dores
difusas e muita vontade de dormir, parecia que me avisavam que o fim estava
próximo.
Não importa o momento derradeiro quando eu
não tive condições de respirar, não importa a sensação de sufocamento ou o
torpor. Eu estava sedado, mas a minha mente estava num frenesi, eu não queria
me afastar do corpo, eu não queria partir.
Eu
tinha intenções, planos, eu quis continuar. Não é o momento de reclamar do
hospital ou de falar como fui tratado, todos estavam com medo, todos.
Somos números, mas não é sensato tratar vidas
desta forma. A minha revolta é que tudo volte a ser como era antes, números?
Eu podia ter tornado tudo indolor para os
meus, a culpa não é do sistema, mas da forma como levei a minha vida e das
minhas prioridades.
Agora estou aqui, satisfeito por esta
condição e por este amparo. Nunca imaginei que existisse uma vida muito mais real
e um plano para cada um.
Nunca fui ensinado desta esplendorosa
oportunidade onde cada um é tratado como parte integrante do todo e considerado
como filho sem privilégios. Eu fui ingrato!
Me sinto envergonhado pela forma como cheguei
aqui, inútil. Não fiz nada de bom e não usei tudo o que recebi para aproveitar
todas as vantagens que Ele me concedeu, ingrato!
O momento para mim, ainda é de descobertas, é
de gratidão pela forma como fui recebido aqui com toda atenção e misericórdia.
O momento para quem está encarnado é de
atenção, de sensatez e de trabalho intenso. Que todos procurem repensar suas
atitudes, rever seus objetivos, sua maturidade emocional e espiritual.
Que pensam da vida?
O que estão fazendo para modificar situações
adversas?
Como melhorar a situação dos que sofrem?
Não é problema seu?
Verdade, também não era problema meu, mas eu
virei vítima, virei um número. Espero que você não se torne um número como eu.
JOSÉ DE MORAES
16/05/20
-----------------------Paula
Alves-----------------------
“COMO É
POSSÍVEL ENCONTRAR A LUZ, SE VOCÊ SÓ ENXERGA AS TREVAS?”
Eu quis desistir porque pensei na minha
filha. Eu tinha alguém que era realmente importante para mim e para quem eu
faria falta, era insubstituível, mas eu não podia renunciar o cargo que
batalhei por tantos anos. Eu me deparei com falta de tudo, falta de materiais,
falta de seriedade, impunidade, falta de vergonha na cara.
As pessoas se aproveitam da desgraça dos
outros para se beneficiarem. Eu vi, mas tentei fazer, apenas o que me cabia. Eu
queria gritar e correr dali, mas o mundo todo estava infectado, será?
Eu me deparei com uma questão que me
confrontava com a sanidade mental, eu não sabia mais o quanto era real.
As coisas mudaram tão rápido e eu já estava
vivendo num mundo à parte onde havia muitos gritos e pessoas que corriam
desvairadas, era o caos. Eu queria encontrar a minha casa e a minha família,
mas estavam todos correndo, doentes e eu não podia ajudar ninguém, uma loucura
criada pela minha mente, muito pior do que eu vivenciei.
Adoeci e me entreguei aos pensamentos
delirantes.
Morri e continuei almejando a solução dos
meus problemas. Como é possível encontrar a luz, se você só enxerga as trevas?
O seu mundo será da forma que você criar.
Enquanto, as pessoas estiverem vivendo num mundo sem solução, assim será.
Enquanto, só existir doença e morte, assim será.
Você tem que ser um daqueles otimistas que falam
aos quatro ventos que tudo ficará bem e que Deus está no controle de tudo. Você
deve gritar dos telhados que existe vida em toda parte e que todos se salvarão
porque esta é a verdadeira verdade.
Eu desencarnei sim, vivi num inferno mental
por um tempo e descobri pessoas que estavam tentando me ajudar, pessoas tão
belas e carinhosas, seres amados que nunca se distanciaram de mim e que me
mostraram que todos passam pelo que for necessário para se enobrecerem.
A morte não é o fim, mas o desprendimento de
falsas ideologias e inclinações, onde você coloca diante de si seus reais
objetivos e uma postura medíocre que apresentou a vida inteira para se deparar
com aquilo que realmente importa.
Cresçam!
PATRÍCIA RIOS
---------------------Paula
Alves-------------------
“CADA UM TEM O SEU
MOTIVO PARA FICAR EM CASA, TANTOS OUTROS TÊM MOTIVOS PARA SAÍREM PARA A RUA”
Eu limpava as ruas, ninguém ouviu e nem vai
ouvir falar de mim.
Eu precisava trabalhar e, depois de tanto
tempo como desempregado, eu estava muito feliz e orgulhoso por ser trabalhador,
por levar o sustento para minha casa onde todos precisavam do meu ordenado.
Eu posso imaginar o que se passa na cabeça de
quem precisa trabalhar. Daqueles que enfrentam o transporte público todos os
dias, pessoas que não podem perder seu trabalho e seu sustento, mas que se
expõe sabe Deus a quê.
Pessoas que enfrentam as intempéries
climáticas, os abusos e preconceitos de uma gente que está acostumada a
aplaudir o erro e a impunidade.
Eles se esforçam para não morrer de fome,
para não perder o pouco que conquistaram e para não viver da mendicância neste país
que faz absurdos diários, onde POLÍTICOS
e JORNALISTAS entregam o que querem
e perturbam a consciência de uns e outros por interesses diversos.
Eu entendi. Vesti minha roupa de trabalhador e
saí, mas não sem me despedir. Eu me recordo das lembranças finais, quando
abracei minha esposa e beijei meus filhos, eu abracei. Que bom que fiz isso
porque foi a melhor recordação que guardei. Eu não me arrependo de nada.
Sei que faltou tudo para eles, compreendo que
a luta começa agora porque eu era uma peça importante no jogo dentro da minha
casa. Eu queria estar com eles, mas era o meu dia, eu precisei retornar.
Difícil falar. Cada um tem o seu motivo para
ficar em casa, tantos outros têm motivos para saírem para a rua. A vida de cada
um, pertence a Deus. Pena que a maioria nem sabe disso. Ninguém parte no dia
errado. A Lei não deixa nada impune.
TENHO
ATÉ PENA DESTAS PESSOAS QUE SE COMPRAZEM COM AS NOTÍCIAS QUE PUBLICAM E DE
TANTOS QUE SE APROVEITAM DA DESORDEM PARA SE BENEFICIAREM MATERIALMENTE.
TOBIAS
16/05/20
-------------------------Paula
Alves--------------------------------
“EU
DARIA MINHA VIDA POR UM ABRAÇO”
Aqui estou bem melhor. Parecia uma cela. Eu
pensei durante muito tempo na vida que tive. Eu me lembrei de coisas tão antigas.
Da minha infância com meus pais, da minha juventude e me lembrei do Alfredo,
meu esposo.
Eu estava tão só. É fácil falar para se
cuidar. As pessoas acham que a saúde só diz respeito ao corpo. Tinha dias que
eu tentava controlar a minha mente, mas parecia que eu ia enlouquecer. Eu
queria conversar com alguém, mas nunca tinha ninguém.
Eles diziam que eu era cansativa, engraçado!
Eu cuidei de cinco filhos e não me cansei com gripes, resfriados, febre e
gritaria pela casa. Roupa para lavar, comida para fazer, casa para limpar,
trabalhava fora e chegava moída, mas ainda dava atenção para todos eles. De
repente, ouço que eu sou cansativa. Eu falava a mesma história cinco, seis
vezes. Eles tinham que me ouvir, eu era a mãe!
Mas, foi melhor se afastarem de mim. Não
tinha nada a ver com a epidemia. Eles já tinham cansado. Foi bem conveniente
dizer que não podiam me visitar. “Peça para o entregador, mãe”.
Certo! Vou te falar que eu até achei bom
saber que estava doente porque, assim eles teriam que cuidar de mim. Fiquei tão
feliz de ver o quanto ficaram preocupados. Estranho! As pessoas são todas
iguais. Eu só queria um pouco de atenção.
É
ERRADO SENTIR FALTA DOS FILHOS?
DESEJAR
QUE O PASSADO VOLTE E A CASA ESTEJA CHEIA NOVAMENTE?
Eu queria tanto aquelas festas em casa. Eu
queria vê-los pequenos numa época em que eu fazia toda a diferença. Pode ter
certeza que as pessoas podem te tratar como descartável. É feio dizer isso, mas
estou sendo sincera. Eles me descartaram quando não precisaram mais de mim e eu
ainda queria estar com eles.
Adoeci e eles tiveram um grande problema nas
mãos. Eu ouvi quando minha nora perguntou se isso era hora de adoecer. Espero
que ela não seja descartada como eu. Eu ouvi, senti muito que me olhassem como
se eu fosse um problema. Gostei que acabou rápido para eu não ter que olhar a
face de reprovação de todos eles.
Depois se preocuparam com a contaminação e
agora pensam nos bens. O ser humano pode ser cruel até mesmo com os seres mais
próximos, com aqueles que dariam a vida para proteger tamanho amor que nutrem.
Eu daria minha vida por um abraço, por um olhar de gratidão, mas devo ter
merecido tudo o que recebi.
Pretendo me lembrar da fase em que eles eram
crianças e que me amavam sinceramente. Numa época onde meus carinhos bastavam para
que fossem felizes. Para mim, isso já é motivo de felicidade.
No geral, não tenho do que reclamar. Cheguei
aqui e fui tão bem tratada. As pessoas foram tão acolhedoras e prestativas, eu
me senti muito melhor aqui.
Melhorei, a respiração ficou ótima e
reencontrei o Alfredo, lindo! Meu amado esposo me esperava como no primeiro
dia, tão amoroso que até chorei de contentamento. Tudo foi perfeito para que eu
pudesse viver esta felicidade. Agora nada mais importa.
A morte para mim foi a felicidade de poder
reencontrar o Alfredo. Graças a Deus.
MARÍLIA
16/05/20
--------------Paula Alves----------------
Foto Cedida por Magno Herrera Fotografias
“AS PESSOAS
TÊM ESCOLHAS A FAZER, EU RESPEITO, MESMO ASSIM, EU CONTINUO SENTINDO A DOR DO
ABANDONO”
Eu precisava vê-la e ver o que resultou
daquela união que tanto rejeitei. As mães também erram. Eu só queria
protegê-la.
Você não pode imaginar o quanto é terrível
perceber que você não consegue mais influenciar um filho. É terrível sentir que
os envolvimentos que têm com as pessoas pode comprometê-lo, mas ele não te
escuta, ele se afasta e te repele.
Eu amo minha filha. Se fosse possível, eu
sofreria em seu lugar. Tomaria para mim qualquer tipo de vida desastrosa para protegê-la
para que fosse feliz.
Quando vi aquele homem, pela primeira vez, eu
olhei nos olhos dela e percebi o quanto estava apaixonada. Eu senti que ela
sofreria, eu não confiava nele. Sabe quando você percebe de cara que alguma
coisa vai dar errado? As mães nunca se enganam. Nós temos sexto sentido. Tudo o
que a mãe diz, uma hora acaba acontecendo.
Eu olhei para ele. Sabia que ele estava
fazendo pose para me conquistar e aquilo me deu mais raiva. Eu respirei fundo e
tentei ser educada, mas logo que ele partiu, eu mencionei a ela tudo o que
senti. Ela me ouvia, sempre me escutou, mas naquele dia, ela se transformou.
Veio com uma conversa de que eu sempre fui controladora. Ela disse que eu sempre
quis decidir a sua vida e eu não conseguiria separá-la do homem que ela amava,
eu me surpreendi. Ela nunca havia falado comigo daquela maneira.
A minha filha se transformou e confrontou
comigo por um homem que ela mal conhecia. Eu fiquei muito magoada. Me senti
sendo traída por ela. Nós tínhamos uma história de vida, uma amizade e um amor
incondicional para nos unir. Quem era aquele homem?
Eu me calei e chorei escondido. Imaginei que,
com o tempo, ela cairia em si e o romance relâmpago pudesse se desfazer, mas eu
me enganei. Eles estavam cada vez mais envolvidos. Eu percebi defeitos que não
desejava para ela. Ele bebia, jogava e olhava para todas as mulheres que
estavam a nossa volta. Ele a desrespeitava e ela não percebia. Parecia estar
enfeitiçada.
Logo, ele quis ficar noivo e, pouco tempo
depois, estavam se casando para o meu desgosto se tornar completo.
Minha filha sofreu muito. Ele a explorou,
espancou, roubou, fez de tudo para acabar com sua dignidade e, por fim,
conseguiu nossa separação.
Não
sei como um homem pode modificar tanto a cabeça de uma mulher.
Ela se afastou de mim porque dizia que eu
falava mal dele, mas o fato é que eu não queria ver o que ele fazia dela. Eu
achei que pudesse defender a minha pequena criança, mas ela não me quis por
perto.
Ficamos quinze anos sem nos ver. Em cada data
comemorativa eu me lembrava dela. Eu chorava a solidão e o abandono. Eu não
tinha mais ninguém e queria senti-la ao meu lado e ele tirou isso de mim. Na
verdade, eu o culpei por anos, mas depois percebi o quanto pensavam parecido.
As pessoas não mudam o pensamento de ninguém. O que acontece é que elas são
coniventes. Ela se afastou de mim, eu, sua mãe. Ele motivou, exigiu, mas você
se separaria da sua mãe se alguém tentasse te convencer a fazer isso?
Você se esqueceria de tudo o que ela fez por
você? De toda a convivência que tiveram por causa de uma pessoa que acabou de
chegar?
Existem várias formas de amar, mas você não
precisa abandonar alguém para amar outra pessoa.
Eu
ainda vi minha filha dois dias antes de desencarnar. Eu estava na casa da minha
irmã e não sabia que ela havia armado uma situação para nos encontrarmos. Ela
ficou bem constrangida quando me viu. Eu nem sabia como reagir ao nosso
encontro. Ela chorou sentida, pediu perdão, disse que sentia minha falta, mas o
marido a proibiu de se relacionar comigo e ela aceitou porque o amava. Eu
fiquei com o coração partido. A constatação de que ela aceitara a nossa
separação por amor a ele era pior do que todo o tempo em que ficamos separadas.
Isso acabou comigo. Eu cheguei aqui logo
depois desta situação. Eu morri de tanta tristeza.
Revi
todos os acontecimentos. Não existe o que desculpar, ela fez o que achava que
era melhor, mas eu senti e sinto pelo afastamento, ainda me dói.
Vocês
acharam que eu tinha que saber que eles estavam unidos por antigas rusgas do
passado, eu sei, entendi. Eles combinaram de se ajustarem nesta vida, já
entendi, mas não precisava se distanciar de mim.
As pessoas têm escolhas a fazer, eu respeito,
mesmo assim, eu continuo sentindo a dor do abandono.
VIRGÍNIA
10/05/20
-----------------Paula
Alves---------------------
“UMA MÃE CUIDA DE DEZ
FILHOS, MAS DEZ FILHOS NÃO CUIDAM DE UMA MÃE.”
Tanto carinho por aqueles filhos, tanta
renúncia...
A mãe faz pelo filho sem esperar recompensa.
É um amor tão grande que nós não almejamos nada. É doação pura de um afeto que
só aumenta.
Parece que, quanto mais você ama, mais se
fortalece, mais se enobrece e fica feliz com isso. Eu considero que a mãe se
eleva mais por este amor. A mulher evolui muito quando se dedica totalmente aos
filhos. É uma oportunidade grandiosa que consegue purificar qualquer uma de
nós, mas eu sofri muito em nome deste amor.
Sempre fiz por eles sem esperar nada em
troca. Eu consigo me lembrar de tudo, de cada fase, de cada momento que foi tão
especial e, por mais doloroso que tenha sido, ainda assim, teve uma boa
experiência como em relação as doenças que tiveram na infância ou com os relacionamentos
amorosos que não floresceram.
Em cada momento, eu me lembro dos olhares,
dos sorrisos ou das lágrimas. Ficou tudo tão bem registrado em mim, eu me lembro
de tudo. Me esforcei para ser amorosa e para conduzi-los num bom caminho. Eu não
quis que faltasse nada, nem material, nem moral, tentei ser um bom exemplo e
uma grande amiga, mas algo deu errado.
Eles se tornaram adultos, estudaram, trabalharam,
se tornaram independentes e formaram suas famílias, mas um dia, meu esposo
sofreu um acidente e desencarnou. Eles tiveram a oportunidade de pensar o quanto
tínhamos. Sabiam que o nosso patrimônio poderia beneficiá-los. Parece que
aguardavam ansiosos até que eu morresse para colocar as mãos em tudo o que
conquistamos. Não era muito, pior ainda porque faria, apenas uma pequena
diferença na vida de cada um.
Eu vivi sozinha no meu lar, até que cai e
quebrei a perna. Eu ainda era jovem, mas eles tiveram a chance que queriam para
me internarem justificando que não podiam abrir mão dos empregos e familiares
para cuidarem de mim. Eles me internaram com cinquenta e quatro anos e eu nunca
mais saí de lá.
No início, ainda me visitavam, mas eu cobrei
que me tirassem de lá. Eu compreendi que não sairia jamais. Passaram seis anos
e eles já tinham vendido a casa e não puderam me levar para morar com eles
porque os familiares não entenderiam, eu não tinha mais lugar em suas casas.
Eu queria gritar, me desesperei. Eu não posso
mensurar o quanto eu senti o fracasso de um amor. Três filhos que me viraram as
costas, que me traíram.
Eles me traíram.
Chegando aqui, depois de oito anos internada
naquele local, vítima de uma tuberculose, tristeza profunda, eu desejei saber os
motivos deles.
Enquanto
estava encarnada, ouvia: “uma mãe cuida de dez filhos, mas dez filhos não
cuidam de uma mãe.”
Eu não aceito. Eu precisava saber como
acionei a Lei e me informaram. Eu lembrei de um tempo longínquo quando os
abandonei.
Eu engravidei inesperadamente e dei meus
filhos sem o menor remorso. Três vezes, três abandonos. Eu pedi para recebê-los
nesta vida, eu jurei que iria amá-los. Eu me responsabilizei em fazer da
maternidade uma missão e jurei que não fracassaria. Eles me perdoaram no plano
espiritual antes de reencarnarem e disseram que aceitavam novamente serem meus
filhos, mas após o reencarne, eles deixaram as sensações falarem mais alto,
eles quiseram se vingar de mim.
Eu ainda não aceitei, tenho que ser sincera
com você. O perdão não pode existir da boca para fora.
Eu ainda tenho mágoa.
Acho que nada justifica os maus tratos com
uma mãe. Eu errei muito, mas eles não deviam revidar, ainda assim, eu os amo.
Eu
quero que eles se conscientizem que fiz tudo por eles e faria tudo de novo, com
o mesmo amor, porém com uma dose importante de educação religiosa, isso faltou.
MARIA LÚCIA
10/05/20
----------------------------Paula
Alves------------------
“TANTO
RESPEITO E CONSIDERAÇÃO”
Eu era jovem quando descobri o câncer de
mama, mas naquela época era um atestado de óbito.
Não sabia como poderia contar para minha
filha. Ela era a criatura mais doce que eu conhecia. Entre nós existia um amor
tão natural e puro, cheio de respeito e amizade.
Eu não queria que ela sofresse e sabia que
não poderia me curar. O médico foi tão específico dizendo que o câncer estava
bem avançado, não tinha nada a fazer e, por isso, eu preferi viver os dias mais
alegres que pudesse.
Naquele dia, eu olhei para ela e
silenciosamente agradeci a Deus por estarmos juntas, por ela ser tão especial.
Eu sempre ouvi muitos comentários de mães que
sofrem com seus filhos e eu ganhei um presente rico de Deus porque aquela moça
nunca na vida havia me dado um só motivo para chorar, a não ser de alegria e
contentamento.
A pessoa mais carinhosa e delicada, educada e
atenciosa. Eu tive tudo dela, todos os mais singelos cuidados e dedicações. Eu
fui muito amada.
Olhei para ela e senti que éramos seres
conhecidos há muito tempo, longa data em que nos identificávamos e nos amamos
de corpo e alma.
Eu sorria, enquanto ela cuidava dos cabelos
da minha netinha. Quanto amor!
Os dias que se seguiram, vivi com imensa
cautela para não perder um momento radiante. O bom de saber que a morte se
aproxima é poder viver intensamente, com gratidão e sempre se proporcionando viver
melhor.
Nós passeamos, rimos e relembramos bons
momentos. Eu dei conselhos e deixei cartas. Sabia que não estaria presente nos
próximos anos, queria que elas se alegrassem comigo, sabendo que eu não iria
desaparecer.
Foram meses maravilhosos, mas a dor chegou e
eu não conseguia mais disfarçar. Ela me conhecia muito bem e notou que eu
estava me contorcendo. Foi falar com meu médico que pediu para que falassem
comigo, eu não aguentava mais. Pedi analgésicos e que tivessem calma, não falei
mais do que isso, Isabel e o pai, perceberam que aquilo era grave.
Eles cuidaram de mim até o fim, beijos e
atenções para que eu tivesse conforto e paz. Como foi lindo este fim. Tanto
respeito e consideração. Eu os tive ao meu lado e não me senti sozinha, eu tive
coragem na hora da morte. Foi uma transição branda, tranquila.
Aqui vi tantas coisas belas, logo me
reestruturei e lembrei das muitas existências em que estivemos unidas como
irmãs, avó e neta, amigas leais ou como pai e filho. Somos muito unidas
Eu tenho a oportunidade de vê-la neste dia
das mães. Estou tão feliz.
Será a primeira vez, desde o meu desencarne.
Eu
sempre soube que somos eternos, eu senti que seria uma separação momentânea.
Sou muito grata a Deus.
CARMEM
------------------Paula
Alves-----------------
“NÓS
SOMOS O REFLEXO DOS NOSSOS PAIS”
A falta que ela fez nem consigo mencionar. É
dolorido pensar o que seria de mim se eu tivesse tido mãe naquela vida.
Eu não estou justificando os meus erros pela
falta de alguém que nunca conheci, mas as incertezas sempre se relacionaram à
ela.
Desde pequeno, na rua, no frio e eu pensando
por que ela me recusou. Por que ela me jogou.
E o pior é que ninguém me quis. Sei lá como foi
que aconteceu. A dona Maria do seu Zé falava que ela ficou comigo porque ela
precisava de um pequeno para levar para o sinal.
Como
pode uma mãe entregar um filho para uma mulher levar ao sinal, pedir esmola com
o filho dos outros?
Assim, eu cresci. Nos braços de uma mulher
que nunca foi minha mãe de verdade e me tratava como uma amostra da miséria
para arrumar dinheiro para beber. A gente comia lixo.
Sei lá o que ela poderia ter feito por mim.
Se ela me entregou para uma mulher da rua é porque também era da rua, eu
pensei.
Cresci e depois de muito tempo, eu tentei
melhorar a minha situação, dizendo para mim mesmo que a minha vida era melhor
do que se ela tivesse me abortado ou tivesse me jogado no rio.
Tem
mãe louca para tudo, podia ser.
Mas, depois de algum tempo, eu tentei não
pensar. Eu precisava me afastar da dona Maria do seu Zé e fugi.
Fiquei mocinho, me virei, lavando para-brisa,
vendendo bala e depois fui descarregar caminhão. Consegui sair da rua, fiz
supletivo, enfim, batalhei, consegui emprego decente.
Mas, a mãe sempre na minha cabeça. Eu queria
alguém para conversar, mas não confiava em ninguém. Sempre a mesma sensação de
abandono e de revolta. Vivendo por viver uma vida de sobrevivente. Vida de quem
sofreu misérias e queria família e teto. Eu queria minha identidade.
A mãe reflete quem você é. A família é o que
você é.
Tem gente que reclama da mãe, sempre tem
motivos para falar mal, criticar, julga e maltrata.
Será que era melhor não ter tido uma mãe?
Será
que a vida teria sido melhor se tivesse sido como eu?
A minha mãe me abandonou porque não queria
falar para a família que engravidou de traficante. Moça rica, bem vivida, mas
não podia correr o risco de ser deserdada. Eu podia ter tido tudo na vida, neto
de ricos, mas ela se recusou a lutar por mim. Ela preferiu me dar para a dona
Maria e eu ainda sou grato que ela me deixou tentar. Ela me permitiu o esforço
e a coragem de viver por mim mesmo e o que aconteceu?
Eu
consegui uma vida digna, honrada no trabalho sério. Consegui uma mulher de bem,
ela me quis, mas eu não consegui me relacionar. Levei anos para entender que o
que me separou da Eva foi a minha desilusão com a minha mãe. Eu via em todas as
mulheres a mulher que abandona.
Demorou muito para eu ter gratidão ela Adriana minha mãe
rica.
Só soube de tudo isso quando cheguei aqui.
O fato é que a gente sempre colhe o que
plantou. Eu também fiz isso com ela. Eu a abandonei grávida porque não quis
levar um bastardo para a minha esposa criar. Eu a abandonei e fui abandonado,
não justifica o erro, mas aconteceu. Quem nunca errou que atire a primeira
pedra.
Todas as mães são importantes. O filho grava
a imagem da mãe e manifesta isso por toda a existência. O tempo todo projeta a
mãe. Inconsciente têm as afirmativas dela, tem os apelos e todos os deslizes.
Nós somos o reflexo dos nossos pais.
Ter em mente que elas fazem o que podem e
sermos gratos por tudo o que tivermos delas.
ALEXANDRE
10/05/20
-------------------Paula Alves----------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“EU
PERCEBI O QUANTO NECESSITAMOS DAS PESSOAS”
Eu nunca tive paciência com ninguém. Por onde
olhava encontrava motivos para me irritar. Via o quanto as pessoas eram
negligentes e preguiçosas. Tão submissas ou desorganizadas. Por diversas vezes,
cheguei a passar mal por conta das leviandades alheias.
Aos poucos, eu mesma comecei a me incomodar
com meus sentimentos. Eu precisava saber por que eu me sentia tão mal com as
atitudes dos outros. Isso tudo fazia com que eu estivesse sempre só. Eu era
solteira, quase não me envolvia em encontros sociais, não tinha amigos, me
afastei dos meus pais e irmãos. Isso porque eu estava sempre envolvida com brigas, disputas e rivalidades, mas eu
sofria.
Nunca fui uma solteira resolvida e feliz.
Nunca tive motivos para me alegrar com minha vida ou com minhas atividades.
Pelo contrário, estava muito obesa porque a única coisa que me dava satisfação
era a comida. Eu comia para preencher um vazio, uma necessidade de adequação.
Alguma coisa, precisava me preencher, mas por mais que eu comesse, ainda estava
me sentindo vazia. Faltava tudo, motivação, felicidade, ambições. Sabe um viver
por viver? Sabe uma vida sem brilho, sem gosto? Eu era mal amada. Não tinha
pessoas a minha volta que desejassem a minha companhia. Isso me causava uma grande
frustração, mas confesso que é difícil reconhecer tudo isso.
Eu fiz terapia por anos e foi no metrô que
encontrei as respostas que eu procurava. Eu fui tremendamente grosseira com uma
passageira belíssima, super delicada e simpática. Ela estava sentada e percebeu
que eu estava com muitas bolsas pesadas, ela simplesmente me ofereceu o seu
lugar e eu fui muito ofensiva com ela. Nem percebi o quanto ela estava sendo
educada e eu quis humilhá-la diante de todos os outros passageiros. Ela
naturalmente me disse que eu não precisava humilhar ninguém para ser superior.
As pessoas não precisavam se defender o tempo todo porque ela, apenas desejava
me ajudar.
Eu fiquei muito constrangida, ainda mais
quando ela se levantou e disse: “Pode sentar, eu vou me afastar de você, deve
ser o que deseja.”
Eu
sentei muito envergonhada. Tive tempo para pensar no quanto fui grosseira e sem
juízo. Eu sempre fiz isso. Eu me lembrei das diversas vezes, em que eu fiz isso,
com todos que se aproximavam de mim e não encontrei justificativas para os meus
ataques, mas encontrei para minha solidão.
As pessoas não queriam ficar do lado de quem
iria atacar o tempo todo. Ataques verbais e demonstrações de rispidez
gratuitas, ninguém queria isso.
Eu tentei mudar. Participei de seminários que
pudessem fazer com que eu mudasse minha conduta, eu queria me socializar.
Demorou, mas precisei de um reajuste mental
sério e sincero, para que pudesse, pouco a pouco, me acostumar a conviver em
sociedade, tendo bons princípios de respeito e simpatia.
As pessoas voltaram para a minha vida e foi
incrível como minha alegria voltou. Eu percebi o quanto necessitamos das
pessoas. Tive que fechar os olhos para muitas coisas, tive que treinar a
indulgência, tive que ser menos exigente com elas. Tive que me policiar para
ser mais delicada e gentil. Foi tão bom conhecer um homem que gostasse de estar
comigo, formar família com ele. Vida maravilhosa quando me permiti estar em
círculos sociais.
Chegando aqui, compreendi que meu bloqueio
era muito antigo. Em outras existências, fui muito menosprezada por meus pais
que me comparavam com uma irmã lindíssima. Eu também fui obesa e meus pais se
envergonhavam um pouco de mim. Minha irmã tinha tudo e eu era ridicularizada.
Isso fez com que nascesse em mim, um bloqueio, uma defesa do ataque. Antes que
alguém pudesse me ofender, eu ofendia antes. Mas, isso não me protegeu, mas me
isolou de todos.
Nós
precisamos viver em sociedade para nos tornarmos pessoas melhores. Precisamos
aprender a estarmos com os outros e respeitarmos seus direitos, ouvirmos suas
opiniões, aceitarmos que não são todas as pessoas que vão nos apoiar ou gostar
de nós. Teremos divergências e, mesmo assim, continuaremos amando. Enfim, deste
contato tão íntimo e pessoal, nascerão relações duradouras e eternas de amizade
e amor onde tudo o que importa é o bem do outro, por mais diferente que sejam
de nós. Com isso, despertaremos os mais nobres sentimentos de lealdade,
cordialidade, ternura, gentileza, podendo chegar à renúncia completa de nós
mesmos para priorizar o bem estar alheio. Como Deus é maravilhoso.
ANA PAULA
03/05/20
-------------------------Paula
Alves------------------------------
POR QUE
PENSAR NO FIM E NÃO NA TRANSIÇÃO?
Eu tinha uma sensação de morte todos os dias.
Enquanto, era mais jovem eu era tão corajoso, destemido. Vivia minha carreira
com orgulho e satisfação em poder servir sem pensar no dia de amanhã, apenas me
colocando à disposição de uma tarefa que achava primordial e me sentia bem em
ser apontado como aquele que faz o bem para o próximo como um herói.
Mas, os anos passam e a vida da gente toma um
rumo diferente. À medida que envelhecemos e adquirimos certa maturidade, tudo
muda, os pensamentos mudam e as necessidades mudam. Eu desejei formar família,
me casei e tive filhos que me transformaram num homem que eu não imaginei que poderia
me tornar. A coragem e o orgulho se desfizeram para a necessidade de estar com
eles, como se nada fosse mais importasse.
O medo da morte começou a fazer parte da
minha vida e eu não queria nem sair de casa, mas precisava ser forte e
prosseguir. Eu era bombeiro e em cada salvamento existia a hipótese de que eu
não voltaria para casa. Isso passou a me assombrar. Eu fiz um seguro de vida,
passei a tornar os momentos em família, inesquecíveis. Eu sei que eles me
amaram.
Eu não pensei que a minha família assumiria
um papel tão essencial em minha vida. Não podia nada sem eles. Parecia que era
um forte pressentimento para mim, mas qualquer um diria que eu estava com
problemas psíquicos decorrentes dos acidentes terríveis que vivi. De todas as
coisas ruins que pude tomar conhecimento.
Um medo diário da morte, uma aflição, um
pesadelo que acontecerá para todos, mas por que pensar desta maneira? Por que
pensar no fim e não na transição?
Eu sofri tanto até que não pude suportar o
desespero diário e procurei um amigo para confessar a minha inquietação. O meu
colega de serviço sempre se mostrou muito sensato e equilibrado e eu suponha
que ele me recomendaria ir ao psicólogo, mas ele me convidou para um café e
conversamos sobre a vida após a morte.
Ele me deu um livro: “O livro dos Espíritos” e disse que eu poderia obter maiores
informações se fossemos numa palestra espírita. No início não entendi, mas li o
livro e passei a fazer minhas próprias pesquisas.
Eu me deparei com uma visão de vida
totalmente diferente e uma visão de morte cheia de vida. Fui tendo tantas
dúvidas e precisei de mais esclarecimentos que me conduziram ao centro espírita
para assistir palestras e depois para fazer cursos. Quando dei por mim, já estava
trabalhando em alguns núcleos de assistência social e minhas dores foram
ficando de lado diante das necessidades alheias. Minha vida foi se tornando
mais fecunda e cheia de entusiasmo. Eu não tinha mais tempo para medos porque
eu tinha muita coisa para fazer. Eu tinha muita gente para me preocupar, tinha
que tirar os olhos de mim para ajudar os outros.
Eu vivi muito. Me aposentei como bombeiro,
casei meus filhos, participei da vida dos meus netos e servi como cristão por
muitos anos.
Vida maravilhosa de serviço edificante onde
aprendi com muitos. Fiz amigos em vários lugares, recebi muito afeto e tive a
honra de aprender com o Evangelho importantes lições de nobreza e fé.
O MEDO DESAPARECE
DIANTE DA NECESSIDADE DE SER ÚTIL.
Gratidão
por tudo o que recebi.
SEBASTIÃO
03\05\20
-------------------Paula
Alves----------------
“CADA UM DEVE SE
OCUPAR DO SEU QUINTAL, AO INVÉS, DE CUIDAR DA VIDA DOS OUTROS”
Eu fazia os bolos porque não tinha condições
de arrumar emprego na fábrica. Bem cedo fazia café e levava os bolos para
vender na porta da fábrica. Eu tinha criança pequena e não podia ficar tanto
tempo fora de casa.
Mas, tinha uma mulher que achava que eu não
deveria me sujeitar a isso porque meu marido tinha a obrigação de me sustentar.
A vizinha insistia em dizer que, quando uma mulher se casa ela deve ser cuidada
pelo seu esposo. Dizia não fazer sentido eu sair da casa dos meus pais e sofrer
com o marido. Aquilo não era vida.
Eu gostava dela, sempre boa comigo, mas
percebi que ela estava enchendo a minha cabeça.
Meu
esposo era um homem bom, honesto e estava se esforçando para que comprássemos a
nossa casa, ele não queria viver no aluguel para sempre. Tudo o que ele ganhava
eu mesma guardava, ele se vestia de forma simples e não gastava dinheiro com
nada. Sempre foi respeitador e educado comigo e com as crianças, mas ela achava
que eu devia exigir. O dinheiro que eu ganhava podia comprar roupinhas para os
meus filhos, sapatos, tudo era ajuda.
Eu respirei fundo e tive que dizer a ela que
eu gostava de ajudar, meu trabalho era honesto como qualquer outro e eu amava meu
esposo e não me sentia explorada por ele. A mulher ficou tão ofendida e nem
quis falar comigo, virou a cara.
Eu refleti como tem gente que sai de casa
para cuidar da casa da vizinha. Se ocupar tanto em cuidar da vida dos outros.
Eu sempre fui feliz com o que tinha e gostava de ser útil, mas ela julgava que
minha vida era ruim porque não gostava de trabalhar. Minha vizinha tinha
empregada porque todas tinham empregadas, ela tinha carro e roupas caras, mas
nunca conseguiu comprar a casa porque precisava ostentar.
Depois de muitos anos, nós conseguimos
comprar a nossa casa. Meu esposo me agradeceu todo o esforço e cumplicidade
para termos uma vida mais confortável com nossos filhos.
Com meu trabalho humilde aprendi muitas
coisas. Eu me senti honrada de ganhar o meu dinheiro honesto, de proporcionar um
café quentinho, um bolo saboroso que saciavam a fome daqueles que precisavam
ganhar o seu sustento, ajudei meu esposo e deixei de lado algumas mazelas como
orgulho, vaidade, preguiça, ostentação, entre tantas outras. Adquiri virtudes
que me felicitaram como o esforço, a honra, a cumplicidade, o ânimo, a
perseverança.
Eu nunca poderia imaginar que uma tarefa tão
simples pudesse me encher de satisfação. Não foi pelo bem material que
adquirimos, mas por tudo o que foi proveniente disso, por isso, cada um deve se
ocupar do seu quintal, ao invés, de cuidar da vida dos outros.
MARIA INÊS
03/05/20
---------------------------Paula Alves---------------------------
“EU NÃO ACEITAVA QUE
PRECISAVA MODIFICAR MEUS PENSAMENTOS E ME POSICIONAR DIFERENTE NO MUNDO”
Eu reclamava demais. Me achei explorado e
acreditava que eu tinha qualificação para fazer outras tarefas na empresa.
Parecia até que tinha mania de perseguição porque todos os funcionários estavam
sempre armando para mim, para me desmoralizar ou para tirar o meu cargo.
Insatisfação de todos os tipos: em relação a
minha remuneração porque eu achava tinha que ganhar mais, receber
gratificações, folgas, redução da jornada de trabalho.
Tudo sempre estava errado e eu me sentia
desmotivado, por isso, meu trabalho não rendia tanto, culpa exclusiva dos meus
superiores que nos tratavam tão mal.
Mas, um dia, meu chefe se indignou. Ele me
chamou em sua sala e disse claramente que estava cansado de mim. Ele me lembrou
que eu estava trabalhando há mais de dez anos na empresa porque a esposa
dele era amiga de infância da minha
esposa. Ele falou que sabia exatamente o que eu dizia pelos corredores da
empresa como se eu morresse de inveja dele porque minha vida era maldizê-lo.
Ele perguntou se eu não me envergonhava e pensava que ele seria capaz de me
suportar para sempre. Ainda afirmou que não sabia por que me aguentou na
empresa por mais de dez anos, já que eu sempre fui um preguiçoso, folgado com
mania de grandeza que não tinha o mínimo de qualificação para cumprir com
tarefas simples que eram solicitadas e justificava meu baixo padrão produtivo
alegando que todos eram piores que eu.
Ele falou tantas verdades e ainda finalizou
dizendo que iria aproveitar o momento em que estava vivendo um inferno pessoal
para me colocar no meu devido lugar. Ele estava se separando da esposa e não
precisava fingir que precisava me poupar.
Eu fui demitido, fiquei deveras enfurecido e,
naquele momento, não poderia conjecturar o quanto aquela fase seria
imprescindível para minha evolução. Como o adolescente que tem tudo o que quer
e não sabe valorizar nada, eu fui muito imaturo. Fiquei muito tempo maldizendo
o dono da empresa. Fiquei desempregado por muito tempo. Acho que minha
arrogância não abria portas para mim. Eu não aceitava que precisava modificar
meus pensamentos e me posicionar diferente no mundo. Sofri os deslizes que eu
mesmo cometi com as atitudes de orgulho e egoísmo.
Precisei pedir dinheiro emprestado, contei
com o apoio da minha esposa que foi uma mulher valorosa, fiz um pouco de tudo
para me humilhar e adquiri nobreza moral. Trabalhos de esforço físico e
resignação que me mostraram o quanto existem pessoas bondosas em todas as
classes sociais, o quanto somos ajudados quando mais precisamos por pessoas que
não nos conhecem e que não exigem recompensas, o quanto os trabalhos simples
nos dão satisfação, o quanto podemos aprender com tudo o que acontece em nossas
vidas.
Enquanto estive desempregado dei muito valor
para o trabalho. É horrível ficar ocioso vendo o tempo passar. Acordar e não
ter para onde ir, ver as contas chegando e não saber como fazer para honrar com
os compromissos da família, é horrível.
Aí
eu aprendi a valorizar cada oportunidade de serviço que eu encontrei. Agradeci
os meus empregadores porque a pessoa não tem obrigação de te contratar, existem
muitos outros na mesma situação e podem servir muito melhor do que você, então,
nós temos que ser gratos e nos esforçarmos da melhor maneira possível. O
trabalho é benção.
MESSIAS
03/05/20
Ótimos relatos para refletirmos.
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