Cartas de Maio (20)

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“MESMO NOS PIORES MOMENTOS, SAIBA QUE DEUS É PAI AMANTÍSSIMO E ESTÁ NO CONTROLE DE TUDO”

Valeu a pena viver e passar por tanta dificuldade só para morrer e ver tantas demonstrações de amizade e atenção para com a minha Giovana. Minha esposa sempre foi tão trabalhadora e precisava cuidar de nossa pequena depois do acidente.
Eu nunca botei muita fé nas pessoas ao nosso redor. Eu sempre vi discriminação e má vontade. Sempre percebi a falsa modéstia e o jeito como todos se afastavam de nós porque éramos pobres de bolso e de aparência.
Sempre temi que acontecesse algo comigo que me impossibilitasse de cuidar delas, mas este era os planos de Deus. A verdade é que convivemos uns com os outros para que possamos mudar de ideia e ver a presença de Deus na imagem do nosso semelhante.

Eu nunca vi, mas precisei morrer para compreendê-los.
Todas as pessoas têm seu lado bom, mas nem sempre deixam evidente. Eu achei que fossem passar necessidade sem mim, mas foi aí que apareceram as manifestações de caridade de todos os lados. Os vizinhos sempre nos viram. Nós não passamos despercebidos, ninguém passa. Sempre tem alguém vendo você e, é aí que mora o perigo porque as pessoas sempre veem algo que você tenta esconder, elas sempre notam algum gesto ou uma atitude, uma reprimenda que você deu em alguém. Eu não sabia disso. Quando você acha que ninguém está olhando aparecem olhares de todos os lados e eu nem estou falando dos desencarnados que te observam a todo instante.

O fato é que as pessoas viam e se sensibilizaram com o sofrimento delas. Maria Eunice estava sempre trabalhando para me auxiliar e sofreu muito com meu desencarne, minha pequena Giovana ficava na creche e voltava para casa agarrada à mãe, tão pequena, órfã de pai.
Eu fui vítima de um atropelamento, alguns jovens embriagados me deixaram morrer sem prestar socorro, foi um escândalo.
Os vizinhos levaram de tudo um pouco, além de consolações. Minha família foi muito bem amparada e minha esposa, apesar de sofrer deveras, superou e criou nossa filha com imenso amor. Ela se tornou uma mulher maravilhosa, uma professora humana e cheia de senso moral.

Hoje, eu só tenho que agradecer a Deus pela jornada que tive e por ter esta oportunidade de saber que as pessoas têm virtudes lindas dentro de si. Quando precisamos recebemos apoio de todos os lados.
NÃO PENSE QUE VOCÊ ESTÁ SOZINHO.
Mesmo nos piores momentos, saiba que Deus é Pai amantíssimo e está no controle de tudo. Ele sempre envia pessoas nobres que podem nos ajudar a retornar para o caminho do bem. São pessoas que sentem o amor de Deus e uma necessidade viva de fazer o bem. Elas estão por toda parte e sempre poderão chegar até você. Basta crer!
JOÃO
30/05/2020

      ---------------------------------Paula Alves----------------------------

“NO MUNDO INTEIRO, ENQUANTO TODOS DORMEM EM PAZ, SEMPRE TEM UMA MÃE QUE PERDE O SONO, AFLITA”

Aquela menina era tão má para a mãe dela que me irritava. Minha neta. Eu estava desencarnado há quinze anos e amava minha filha. Sempre aparecia para saber como estavam. Eu sentia saudade e me preocupava com eles. A Consuelo não tinha tido muita sorte no amor. Minha filha não sabia muito bem como escolher namorado e arrumou um pai para sua filha que eu não quis nem ver. Eu tive a certeza de que ela sofreria por aquele homem. Na época, eu estava vivo, falei o que eu pensava a seu respeito, mas ela estava apaixonada e não permitiu que eu me envolvesse.

No fim, ela engravidou e ele foi embora, nunca registrou a menina e nem quis saber dela.
Aquilo para mim foi um desgosto. Qual é o pai que quer isso para sua filha? Eu entristeci, mas voltei a sorrir quando minha neta nasceu.
Desde o princípio, minha filha foi rejeitada pela menina. Parecia que a filha culpava a mãe pela ausência do pai. Dois anos depois do nascimento da minha neta, eu descobri um câncer e logo desencarnei.

A verdade é que eu queria ter tido mais tempo. Eu não me conformava em deixá-las. Elas precisavam de mim, por isso, eu sempre estava por perto, de olho nelas, mas era bem difícil saber de tudo o que acontecia. Ficar no ambiente doméstico sem o corpo físico é terrível porque nós estamos presentes, mas é como se não estivéssemos.
Eu queria ajudar, me manifestar, mas não tinha como. A menina cresceu cheia de revolta, só aprontava. Ela tinha o sangue daquele homem que abandonou mulher e filha, um malandro. Seria por isso que ela fazia tanto mal à mãe?
Eu já aprendi que não tem nada a ver. Eu soube que elas tinham muitos reajustes. Ela odiava aquela mãe. Minha filha amada.
Minha neta estava tão obstinada em fazer a própria mãe sofrer que se encheu de fúria. Aquele desejo de fazer mal ao outro poluiu a mente dela, fez surgir tantas energias destrutivas que atraiu seres de igual vibração. Quando eu percebi a menina estava andando com más companhias, tão terríveis como ela, mas ela era a minha pequena. Eu não queria que ela sofresse, eu queria que ela se emendasse.
De uma hora para a outra, ela cresceu e achou que tinha idade para cuidar da própria vida, para se arriscar e afrontar a mãe.
Eu não poderia permitir que ela andasse sozinha, correndo perigo. Parecia que eu estava adivinhando. Ela quase foi molestada por aqueles rapazes que ela chamava de amigos. Sete rapazes mal intencionados que levaram drogas e estavam prestes a arruiná-la quando tudo mudou.

Só Deus pode saber se na hora H nós teremos uma luz. Só Deus para saber quando tudo pode mudar.
Eu estava me desesperando quando apareceu uma senhora. Quem era ela? Eu não pude compreender. Ela ficou tão irritada de ver que eles estavam naquela casa. Um dos rapazes disse que a casa era da avó dele, mas a casa foi invadida e a dona simplesmente apareceu no meio da noite.
Era uma senhora franzina, mas para todos, parecia forte e robusta, cheia de autoridade, ela entrou esbravejando, constrangendo a todos. Minha neta percebeu que o fim estava próximo e respirou aliviada. Ela saiu de perto dos rapazes, foi para o lado da matrona e eles correram. A moça chorou envergonhada e a senhora perguntou para ela onde estava sua família, sua mãe. Ela indagou se ela era sozinha no mundo porque uma moça tão jovem devia ter uma mãe a sua espera, uma mãe cheia de preocupação.

Minha neta chorou acabrunhada. Ela voltou para casa refletindo em tudo o que aconteceu. Eu aproveitei a ocasião e a intui das inúmeras vezes em que minha filha se preocupou com ela, a tratou com carinho e só ganhou desprezo e indignação.
Minha neta ganhou a oportunidade de tomar vergonha na cara, voltou para o lar e encontrou minha filha a sua espera, aflita, achando que o pior poderia acontecer. Ela falou:
- No mundo inteiro, enquanto todos dormem em paz, sempre tem uma mãe que perde o sono, aflita.
Ela quis dizer que a mãe nunca fica em paz com um filho solto na rua. Ela abraçou a moça inconsequente e recebeu a retribuição. Depois daquele dia, elas se entenderam e a moça se encaminhou no bem.
Graças a Deus o pior não precisou acontecer para que elas se reconciliassem. Eu pude vir para cá receber este tratamento, cuidar de mim, enquanto elas podem cuidar das próprias vidas.
MANOEL VITÃO
30/05/20

----------------------Paula Alves-------------------

“O MUNDO DÁ MUITAS VOLTAS E NÓS TEMOS QUE ESTAR DISPOSTOS A NOS DEIXARMOS LEVAR PELAS MUDANÇAS QUE A VIDA TRÁS PARA NÓS”

Eu não suportava aquela mulher. Era uma antipatia tão gratuita que eu me irritava e o pior era não saber os motivos que me causavam tanta repulsa. O pior é que eu sentia que minha aversão era recíproca.
Nós trabalhávamos juntas e eu sempre achava que ela queria me sabotar. Falar mal de mim para o meu chefe ou destruir meu trabalho, mas talvez, eu estivesse equivocada. Eu não tinha provas para achar que ela não gostava de mim. A mente da gente é coisa delicada.
A GENTE NÃO SABE QUANDO ESTÁ COM MANIA DE PERSEGUIÇÃO OU SE É INVEJA, IRRITAÇÃO TOLA OU QUALQUER OUTRA COISA DECORRENTE DE BIPOLARIDADE.

A questão é que, de repente, eu tinha um prazo curto para entregar alguns relatórios e estava com meu filho muito doente. Meu pequeno estava se tratando no hospital e, mesmo assim, eu tinha prazos para cumprir, eu precisava do meu emprego. Quando Helena soube que eu estava passando por momentos tão difíceis, ela se sensibilizou e falou comigo. Ela disse que sabia que não tínhamos amizade e ela sabia que eu não gostava dela, apesar de nunca ter feito nada contra mim, porém, ela também era mãe e entendia o quanto eu devia estar sofrendo, ela queria me ajudar e faria os relatórios para mim.
Meu primeiro impulso foi de recusar porque achei que ela estava se aproveitando do meu sofrimento para ter uma vantagem de me tirar do meu cargo, mas eu queria estar com meu filhinho, nem que para isso, tivesse que perder meu emprego, então, eu aceitei e para minha surpresa, ela fez tudo em meu nome e foi um trabalho muito bem elaborado e cheio de ética.
Eu me surpreendi muito. Logo meu filho se reestabeleceu. Eu voltei para o meu emprego e pude agradecer tudo o que ela fez por mim, eu fui sincera, falei de minha repulsa por ela e do quanto eu estava envergonhada. Nós conversamos muito e ela se tornou uma grande amiga.

O mundo dá muitas voltas e nós temos que estar dispostos a nos deixarmos levar pelas mudanças que a vida trás para nós. Eu e Helena, tivemos uma série de acontecimentos desagradáveis que nos uniram em muitas trajetórias, em muitas reencarnações.
Quando olhei para ela num novo corpo, numa nova vida, eu não poderia me lembrar de tudo o que passamos, mas eu senti. Foi como se nossos Espíritos tivessem a certeza de que se repelem e não gostaram do contato um do outro. Eu não queria estar perto dela, mas Deus faz as circunstâncias favoráveis para nascer a paz e a união entre todos nós.
A maternidade faz aflorar sentimentos maravilhosos onde somos indulgentes com as outras mães. Foi, por isso, que ela me ajudou, por amor aos seus filhos. Eu fui grata a ela por amor ao meu filho, por ter podido ficar com ele no hospital e, por isso, nós nos reconciliamos.
Quando isso aconteceu, eu vi o quanto somos parecidas e nossa amizade pôde ser sincera e verdadeira.
É muito bom ter paz de Espírito. Saber que você não tem mais inimizades e, ao invés disso, poder contar com um amigo é muito bom.
REBECA
30/05/20

-----------------------Paula Alves-----------------

“É INCRÍVEL COMO TEMOS O ESQUECIMENTO DO PASSADO, MAS CONTINUAMOS TENDO UMA FORTE INTUIÇÃO QUE PODE NOS GUIAR”

Eu entregava a chave do local para ele tomar conta e saia em paz. Sabe quando você confia de olhos fechados? Eu sei lá. O cara me enganou tão direitinho que eu não pude desconfiar dele.
Ele estava comigo nas comemorações, conhecia minha família. Eu achava que ele era um homem sofrido, um funcionário exemplar que tinha dado azar com a família e precisava de apoio. Eu o tratei como a um filho e ele me traiu.
Quando eu percebi, ele já tinha roubado muito.

Foi fácil, mas o pior foi me sentir enganado. Tive um rombo no banco, fiquei endividado e me entristeci muito com a tolice de permitir que ele frequentasse minha casa e fosse um marginal.
O pior não é o roubo em si, a perda material, mas a ofensa moral. É você saber que ofertou amizade leal e a pessoa te explorou.
Eu podia entregá-lo para a polícia e no fundo, eu não quis que ele fosse preso. Naquela época, eu não pude compreender por que eu não queria que ele recebesse o que merecia. Eu falei com ele e expliquei que a punição seria a devolução do meu dinheiro e a pena seria saber que a minha amizade era o maior tesouro que ele poderia ter tido porque com um amigo leal nós não temos aflições, eu nunca mais queria vê-lo.
Meus familiares me recriminaram e zombaram de mim. Passei anos sem saber por que agi daquela forma. Eu me recuperei e tive uma vida tranquila até que vim para cá e me explicaram sobre aquela prova.

Meu funcionário, em outra vida, foi um filho que não tratei como deveria. Ele foi um filho fora do casamento que rejeitei, mas depois de muito tempo, verifiquei o quanto sofria por falta de condições básicas de subsistência e tentei ajudar. Ele melhorou sua situação, mas nunca me permitiu fazer parte da sua vida, nunca me perdoou.
O rancor que ele nutriu naquela época, trouxe em forma de vingança nesta existência e desejou tudo o que eu tinha, como uma indenização pelos sofrimentos vivenciados. Por outro lado, eu ainda via nele a imagem do filho que merece ser cuidado, por isso, não o entreguei.
É incrível como temos o esquecimento do passado, mas continuamos tendo uma forte intuição que pode nos guiar.

Ainda temos muito a reajustar, por isso, pedi para retornarmos juntos novamente. Desta vez, eu espero pela oportunidade de ser seu filho. Que ele possa me educar e devotar os sentimentos necessários para que possamos nos entender.
CAIQUE
30/05/20
        -----------------Paula Alves------------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“TODOS AQUELES QUE SE ARRISCAM, QUANDO MORREM, DESENCADEARAM SEU SUICÍDIO”

Não sofra por mim. Eu tive tudo o que mereci por minhas imprudências. Eu achei que a vida fosse feita para ser vivida. Acreditei que devemos aproveitar todas as chances para viver intensamente e descobrir os prazeres que a vida poderia nos oferecer.
Eu tive todas as oportunidades. Eu viajei e vivi uma vida esplendorosa. Eu vi lugares lindos, mas tudo isso não bastava. Eu queria me emocionar e sentir sentimentos indescritíveis, para isso, era necessário me arriscar. Me colocar em situações limítrofes, onde poderia perder a vida para valorizá-la.
Sabe aquela sensação com frio no estômago?
Aquele desespero de uma fração de segundos onde tudo parece estar perdido? E quando você parecia ter perdido algo muito valoroso, pronto! Era, apenas uma aventura, uma radical sensação?

Era o que eu buscava. Não me considerei imprudente. Na verdade, eu sempre tive motivos para achar que tudo fosse muito seguro. Pessoas capacitadas a me encaminharem nos esportes radicais, instrutores importantes, locais bem preparados onde eu poderia me arriscar a vontade que nada de mau me aconteceria.
Você me pergunta se eu não tinha medo de morrer... Ora, era exatamente este medo que produzia aquela sensação que eu buscava.
É estranho falar assim. Nós nascemos com um instinto que nos coloca a defesa em primeiro lugar. Difícil aquele ser humano que dá a sua vida por alguém, hoje em dia, acho que é cada vez mais raro. No mundo dos egoístas, é cada um por si. Eu não sou diferente de ninguém.

Estaria disposto a proteger minha vida, claro. Foi, por isso, que não pude considerar quando me informaram que eu estava sendo punido por ser suicida. Eu nem mesmo consegui acreditar porque nunca tive a intenção de me matar. Eu amava viver. Tinha uma vida excelente, repleto de possibilidades, nunca poderia ter acabado com ela. Eu diria que foi uma fatalidade, mas hoje sei que não foi fatalidade, eu fui muito imprudente. Se não fosse naquele dia fatídico, seria em outro, mas seria.
Se eu soubesse de tudo isso... Me perguntei por que as pessoas não conversam mais.
POR QUE AQUELES QUE SABEM DE TODA A VERDADE NÃO A DIVULGAM?
Se eu soubesse teria repensado minhas atitudes. Eu sofri por mais de cinquenta anos em delírio naquele local fétido.
Eu quis voltar no tempo em que fui feliz junto daqueles que eu amei. A morte é única para cada um. Acho que todos nós a enfrentamos de uma maneira, dependendo da forma como enxergamos a vida, da forma como vivemos e das razões que nos levaram a morrer.

Eu sofri e não queria que outros como eu se arrependessem dos seus atos e se destruíssem da mesma maneira.
Honrar a vida, respeitá-la. Saber que a forma como você cuida do seu corpo vai justificar a forma de passar pela morte.
Todos aqueles que se arriscam, quando morrem, desencadearam seu suicídio. Porque é um fato que poderia ser evitado se ele não tivesse se arriscado.
Você vai falar que ninguém morre no dia errado, eu sei disso. Deus permite que as coisas aconteçam para que possamos aprender com nossos atos falhos, mas não precisava ter sido assim, são curvas que tomamos na vida decorrente da nossa liberdade de escolha, deixei muitas coisas importantes para trás. Para viver desta maneira, deixei uma família e muitos deveres que ficaram para a próxima oportunidade. Eu sinto muito, mas não quero que você sofra por mim.
GASPER
23/05/20

          --------------------Paula Alves----------------

“EXISTEM TANTOS DELINQUENTES, MAS MUITOS NUNCA SERÃO PUNIDOS NESTA SOCIEDADE”

Eu me lembrei dos índios, das mulheres, dos negros, dos pobres e dos nordestinos. Eu me lembrei de todos que sofrem e sofreram preconceitos em todos os tempos da Humanidade. Eu me revoltei quando percebi que eles não seriam tratados.
Como se as pessoas pudessem ser postas de lado ou escolhessem ser menosprezadas por suas condições de precariedade.
Eles cometeram delitos terríveis. Eram estupradores, ladrões, assassinos e os médicos deviam tratar deles independente de suas escolhas e dos seus erros na vida.
Eu vi naquela penitenciária que a lei dos homens é muito falha e eu só observava tudo sem me pronunciar porque tinha medo deles. Eles poderiam ser tratados, eles mereciam como cidadãos, mas eles recebiam os placebos e alguns podiam ser testados como cobaias porque ninguém precisava saber.

Foi como se eu me deparasse com uma realidade suja que só existia ali.
Moralidade falsa, delitos dos colarinhos brancos.
Existem tantos delinquentes, mas muitos nunca serão punidos nesta sociedade. Eu fiquei chocado. Eu não queria fazer parte daquilo, mas meu superior perguntou por que eu estava achando bizarro, ele disse que eu deveria refletir se ali era lugar para alguém tão limpo quanto eu. Eu só queria fazer meu trabalho como médico. Eu queria curar, queria ser útil, mas não pude.
Eu pensei na minha família e nas minhas expectativas de carreira. Eu me questionei se aquelas pessoas mereciam que eu lutasse por elas e por diversas vezes, achei que um homem não pode ser ouvido por ninguém.

Até que ponto vale a pena você perder tudo o que tem para defender uma classe que ninguém vê? O que eu ganharia com tudo aquilo?
EXISTEM QUESTÕES DE ÉTICA QUE PARECEM SÓ ATORMENTAR VOCÊ.
Ninguém se importa, ninguém.
Mas, eu não poderia compactuar com aquilo. Eu chorei e pedi a Deus um direcionamento. Eu sabia que minhas escolhas só refletiriam em mim e eu ficaria sem emprego, mas não salvaria nenhum deles.
É um grito silencioso. Minha esposa me aconselhou a apenas desempenhar minha tarefa como fosse possível, eu deveria pensar nas crianças, mas eu não podia dormir, minha consciência me atormentava, então, eu me demiti, mas antes coletei provas e divulguei tudo à imprensa. Eles não me ouviram, o caso simplesmente foi arquivado como se não interessasse a ninguém. Eu não consegui arrumar um bom emprego, mas ainda era médico e pude clinicar.
Quando cheguei aqui, depois de muitas décadas vivendo em paz, fui informado que era a minha prova. Já havia empregado mal o meu dever como médico em outras existências e, nesta vida, consegui ser altruísta com o meu semelhante. Depois que eu me demiti, eles ficaram com medo de minhas denúncias e interromperam seus atos ilegais com os presos, isso me deixou muito feliz.

Faça apenas o bem e nunca compactue com o mal. Seja uma pessoa com retidão moral. Se cada um de nós mostrasse sua seriedade na sociedade, ela seria um bom lugar para se viver.
SILVIO
23/05/20

     -----------------Paula Alves-----------------


“AS PESSOAS NEM SEMPRE CONSEGUEM PERCEBER NOSSAS REAIS NECESSIDADES”

Eu nem mesmo entendia o que era a recessão. Eu temia perder o emprego, não ter a reserva financeira que tão dificultosamente conseguimos juntar para comprar nossa moradia. Meu esposo era pedreiro e eu trabalhava como diarista. Eram trabalhos muito cansativos, mas nós tínhamos compromisso com nossa família e não estávamos dispostos a perder aquilo que conquistamos.
Porém, quando a crise chegou, nós não tivemos muito no que pensar.
Meu marido não arrumava nada e eu tentava me agarrar nas patroas que sabiam da minha situação, mas todos foram surpreendidos com uma crise que mandou muitos empregados para a rua.

Eu me desesperei, achei que fosse virar pedinte. Conversei com meu esposo que ouviu calado e me confidenciou que não sabia mais o que fazer, ele tinha os olhos vidrados, eu nunca tinha visto aquele homem daquela maneira.
Naquela noite, eu orei tanto, fui dormir com a barriga doendo de fome porque não pude me alimentar. Nós preferimos alimentar as crianças, tomamos um copo de água com açúcar e fomos dormir.
Meu Deus! Quanta insegurança. É horrível não saber o que será do dia seguinte. Nós não tínhamos mais nada, nossas economias foram se esvaindo e não sobrou nada. A casa de aluguel ainda nos confortava pela bondade da dona que não nos jogou na rua.
Durante a noite, eu acordei de sopetão e não vi meu esposo na cama, fui até a garagem e vi uma cena chocante, meu esposo se preparava para se enforcar. Eu o salvei e ele chorou apavorado, se sentindo vencido, derrotado e eu pedi para que ele me jurasse que não ia me abandonar com três crianças.

Foram momentos indescritíveis porque, além da fome e da falta de dinheiro, eu estava com uma pessoa que não tinha esperança e que achava que, apenas a morte, poderia eliminar aquela sensação de derrota da sua vida. Ele queria acabar com aquele sofrimento.
Eu passei a pedir comida de porta em porta, fui humilhada, desejei morrer também, mas encontrava pessoas boas que me davam o que podiam, inclusive chances de trabalhar para ganhar uns trocados. Conseguimos! Ele não se matou e graças a algumas pessoas caridosas nós fomos vivendo até as coisas melhorarem um pouco.

Nunca conseguimos comprar a nossa casa, mas também nunca fomos delinquentes. Meu esposo desencadeou um problema emocional que nunca se curou, mas superamos, vivemos.
Se você tiver que pedir, peça! Peça ajuda para se alimentar, para alimentar seus filhos, para desabafar, para poder trabalhar ou para qualquer outra coisa. Não tenha vergonha ou orgulho, às vezes, é exatamente isso que precisa ser feito porque a partir daí você trata suas leviandades morais e desperta um ser mais humilde que pode realizar grandes coisas com o auxílio de pessoas nobres que estão em toda parte.
As pessoas nem sempre conseguem perceber nossas reais necessidades. Somo todos iguais. Todos irmãos. É obrigação ajudar!
CINTIA
23/05/20

     -------------------Paula Alves---------------

“AQUELE QUE JÁ TRABALHOU DESINTERESSADAMENTE PARA BENEFICIAR O OUTRO SABE A SATISFAÇÃO DE SERVIR”

Eu queria ajudar, mas meu marido não deixava.
Ele dizia que havia se esforçado muito para conseguir aquele cargo e tudo o que nós tínhamos. Ele gostava de dizer que ninguém tem nada de graça. Por que ele tinha que fazer a caridade com os outros se ninguém nunca foi caridoso com ele?
Eu achava que meu marido era um pouco revoltado. Eu tinha tempo de sobra e queria trabalhar na igreja. O padre sempre dizia que precisava de ajuda para desempenhar as obrar. Eu sentia dentro de mim uma inclinação para os trabalhos sociais. Uma vocação estranha que eu nem sabia explicar. Falei com ele porque não queria fazer nada pelas costas, afinal eu cuidava de tudo, da nossa casa e das crianças, mas ainda me sobrava um tempo e eu poderia ser útil na igreja.

Ele ficou furioso, disse que eu não ia ajudar a igreja a ganhar mais dinheiro, que isso tudo era fachada, ninguém fazia a caridade de jeito nenhum. Ele não doava nada, me fazia queimar as roupas que não serviam mais para nós. Tanta roupa boa das crianças, eu via como as mães passavam com as crianças pelas mãos, as roupinhas curtas e eu fazia tudo o que ele me pedia.
Comia comida fresquinha e não podia requentar, jogava tanta coisa no lixo...
Tudo muito errado, muitas possibilidades de doar, fazer coisa útil, ser bondosa e eu estava obedecendo a um orgulhoso, um egoísta.
Eu não queria brigar, então, comecei a fazer tudo sem falar. Doava as roupinhas, doava alimentos. Fazia de um jeito que ele não percebia que a comida não estava fresquinha para não ter desperdício. Eu passei a trabalhar escondido nas obras da igreja, enquanto ele estava trabalhando, mas ele descobriu, me fez passar vergonha na igreja e eu escolhi a família, desisti.

O tempo passou e quando a dificuldade financeira chegou, depois da perda do emprego, ele ficou muito mudado. Ele se revoltou, mas depois de algum tempo, me confidenciou que não sabia o que fazer. Ele não tinha mais dinheiro e precisava da minha ajuda. Ele nunca me permitiria trabalhar se não fosse realmente preciso. Me pediu para ajudar e eu sabia bem o que fazer. Fui falar com o padre e ele me ajudou, eu arrumei um emprego e passei a sustentar a casa. Assim, o meu marido percebeu que o bom é poder contar com todos, é sempre ter a oportunidade de ajudar porque nós também podemos precisar de ajuda.

A vida da gente muda o tempo todo. Quem está numa posição de superioridade pode simplesmente despencar e precisar de ajuda. Quando a pessoa é simples e humilde fica fácil conversar com uns e outros e ser atendido no seu pedido.
Eu trabalhei por muito tempo, vi meu marido se modificar pela dificuldade que enobrece o Espírito e ainda pude servir com verdadeira satisfação.
Aquele que já trabalhou desinteressadamente para beneficiar o outro sabe a satisfação de servir. 
GLÁUCIA
20/05/20

----------------------Paula Alves------------------


  “O MOMENTO PARA QUEM ESTÁ ENCARNADO É DE ATENÇÃO, DE SENSATEZ E DE TRABALHO INTENSO”

Eu tinha tanto medo. Ainda é difícil para mim, me concentrar nas imagens reais. Foi como se passasse por uma espécie de loucura. Tudo ocorreu de forma muito rápida.
Eu pensava nas bobagens que fiz. Nas escolhas que fiz. Por que não priorizei minha saúde e minha família?
Me lembrei das tantas vezes em que gastei dinheiro com coisas tão supérfluas, deveria ter investido num plano de saúde, deveria ter me cuidado mais, deveria ter passado mais tempo com minha família.

Foi, de repente, senti tanto frio, dores difusas e muita vontade de dormir, parecia que me avisavam que o fim estava próximo.
Não importa o momento derradeiro quando eu não tive condições de respirar, não importa a sensação de sufocamento ou o torpor. Eu estava sedado, mas a minha mente estava num frenesi, eu não queria me afastar do corpo, eu não queria partir.
Eu tinha intenções, planos, eu quis continuar. Não é o momento de reclamar do hospital ou de falar como fui tratado, todos estavam com medo, todos.
Somos números, mas não é sensato tratar vidas desta forma. A minha revolta é que tudo volte a ser como era antes, números?

Eu podia ter tornado tudo indolor para os meus, a culpa não é do sistema, mas da forma como levei a minha vida e das minhas prioridades.
Agora estou aqui, satisfeito por esta condição e por este amparo. Nunca imaginei que existisse uma vida muito mais real e um plano para cada um.
Nunca fui ensinado desta esplendorosa oportunidade onde cada um é tratado como parte integrante do todo e considerado como filho sem privilégios. Eu fui ingrato!
Me sinto envergonhado pela forma como cheguei aqui, inútil. Não fiz nada de bom e não usei tudo o que recebi para aproveitar todas as vantagens que Ele me concedeu, ingrato!

O momento para mim, ainda é de descobertas, é de gratidão pela forma como fui recebido aqui com toda atenção e misericórdia.
O momento para quem está encarnado é de atenção, de sensatez e de trabalho intenso. Que todos procurem repensar suas atitudes, rever seus objetivos, sua maturidade emocional e espiritual.

Que pensam da vida?
O que estão fazendo para modificar situações adversas?
Como melhorar a situação dos que sofrem?
Não é problema seu?

Verdade, também não era problema meu, mas eu virei vítima, virei um número. Espero que você não se torne um número como eu.
JOSÉ DE MORAES
16/05/20

        -----------------------Paula Alves-----------------------


“COMO É POSSÍVEL ENCONTRAR A LUZ, SE VOCÊ SÓ ENXERGA AS TREVAS?”

Eu quis desistir porque pensei na minha filha. Eu tinha alguém que era realmente importante para mim e para quem eu faria falta, era insubstituível, mas eu não podia renunciar o cargo que batalhei por tantos anos. Eu me deparei com falta de tudo, falta de materiais, falta de seriedade, impunidade, falta de vergonha na cara.
As pessoas se aproveitam da desgraça dos outros para se beneficiarem. Eu vi, mas tentei fazer, apenas o que me cabia. Eu queria gritar e correr dali, mas o mundo todo estava infectado, será?

Eu me deparei com uma questão que me confrontava com a sanidade mental, eu não sabia mais o quanto era real.
As coisas mudaram tão rápido e eu já estava vivendo num mundo à parte onde havia muitos gritos e pessoas que corriam desvairadas, era o caos. Eu queria encontrar a minha casa e a minha família, mas estavam todos correndo, doentes e eu não podia ajudar ninguém, uma loucura criada pela minha mente, muito pior do que eu vivenciei.

Adoeci e me entreguei aos pensamentos delirantes.
Morri e continuei almejando a solução dos meus problemas. Como é possível encontrar a luz, se você só enxerga as trevas?
O seu mundo será da forma que você criar. Enquanto, as pessoas estiverem vivendo num mundo sem solução, assim será. Enquanto, só existir doença e morte, assim será.
Você tem que ser um daqueles otimistas que falam aos quatro ventos que tudo ficará bem e que Deus está no controle de tudo. Você deve gritar dos telhados que existe vida em toda parte e que todos se salvarão porque esta é a verdadeira verdade.
Eu desencarnei sim, vivi num inferno mental por um tempo e descobri pessoas que estavam tentando me ajudar, pessoas tão belas e carinhosas, seres amados que nunca se distanciaram de mim e que me mostraram que todos passam pelo que for necessário para se enobrecerem.

A morte não é o fim, mas o desprendimento de falsas ideologias e inclinações, onde você coloca diante de si seus reais objetivos e uma postura medíocre que apresentou a vida inteira para se deparar com aquilo que realmente importa.
Cresçam!
PATRÍCIA RIOS

             ---------------------Paula Alves-------------------



“CADA UM TEM O SEU MOTIVO PARA FICAR EM CASA, TANTOS OUTROS TÊM MOTIVOS PARA SAÍREM PARA A RUA”

Eu limpava as ruas, ninguém ouviu e nem vai ouvir falar de mim.
Eu precisava trabalhar e, depois de tanto tempo como desempregado, eu estava muito feliz e orgulhoso por ser trabalhador, por levar o sustento para minha casa onde todos precisavam do meu ordenado.
Eu posso imaginar o que se passa na cabeça de quem precisa trabalhar. Daqueles que enfrentam o transporte público todos os dias, pessoas que não podem perder seu trabalho e seu sustento, mas que se expõe sabe Deus a quê.

Pessoas que enfrentam as intempéries climáticas, os abusos e preconceitos de uma gente que está acostumada a aplaudir o erro e a impunidade.
Eles se esforçam para não morrer de fome, para não perder o pouco que conquistaram e para não viver da mendicância neste país que faz absurdos diários, onde POLÍTICOS e JORNALISTAS entregam o que querem e perturbam a consciência de uns e outros por interesses diversos.
Eu entendi. Vesti minha roupa de trabalhador e saí, mas não sem me despedir. Eu me recordo das lembranças finais, quando abracei minha esposa e beijei meus filhos, eu abracei. Que bom que fiz isso porque foi a melhor recordação que guardei. Eu não me arrependo de nada.
Sei que faltou tudo para eles, compreendo que a luta começa agora porque eu era uma peça importante no jogo dentro da minha casa. Eu queria estar com eles, mas era o meu dia, eu precisei retornar.
Difícil falar. Cada um tem o seu motivo para ficar em casa, tantos outros têm motivos para saírem para a rua. A vida de cada um, pertence a Deus. Pena que a maioria nem sabe disso. Ninguém parte no dia errado. A Lei não deixa nada impune.
TENHO ATÉ PENA DESTAS PESSOAS QUE SE COMPRAZEM COM AS NOTÍCIAS QUE PUBLICAM E DE TANTOS QUE SE APROVEITAM DA DESORDEM PARA SE BENEFICIAREM MATERIALMENTE.
TOBIAS
16/05/20
                          -------------------------Paula Alves--------------------------------



“EU DARIA MINHA VIDA POR UM ABRAÇO”

Aqui estou bem melhor. Parecia uma cela. Eu pensei durante muito tempo na vida que tive. Eu me lembrei de coisas tão antigas. Da minha infância com meus pais, da minha juventude e me lembrei do Alfredo, meu esposo.
Eu estava tão só. É fácil falar para se cuidar. As pessoas acham que a saúde só diz respeito ao corpo. Tinha dias que eu tentava controlar a minha mente, mas parecia que eu ia enlouquecer. Eu queria conversar com alguém, mas nunca tinha ninguém.

Eles diziam que eu era cansativa, engraçado! Eu cuidei de cinco filhos e não me cansei com gripes, resfriados, febre e gritaria pela casa. Roupa para lavar, comida para fazer, casa para limpar, trabalhava fora e chegava moída, mas ainda dava atenção para todos eles. De repente, ouço que eu sou cansativa. Eu falava a mesma história cinco, seis vezes. Eles tinham que me ouvir, eu era a mãe!
Mas, foi melhor se afastarem de mim. Não tinha nada a ver com a epidemia. Eles já tinham cansado. Foi bem conveniente dizer que não podiam me visitar. “Peça para o entregador, mãe”.
Certo! Vou te falar que eu até achei bom saber que estava doente porque, assim eles teriam que cuidar de mim. Fiquei tão feliz de ver o quanto ficaram preocupados. Estranho! As pessoas são todas iguais. Eu só queria um pouco de atenção.

É ERRADO SENTIR FALTA DOS FILHOS?
DESEJAR QUE O PASSADO VOLTE E A CASA ESTEJA CHEIA NOVAMENTE?

Eu queria tanto aquelas festas em casa. Eu queria vê-los pequenos numa época em que eu fazia toda a diferença. Pode ter certeza que as pessoas podem te tratar como descartável. É feio dizer isso, mas estou sendo sincera. Eles me descartaram quando não precisaram mais de mim e eu ainda queria estar com eles.
Adoeci e eles tiveram um grande problema nas mãos. Eu ouvi quando minha nora perguntou se isso era hora de adoecer. Espero que ela não seja descartada como eu. Eu ouvi, senti muito que me olhassem como se eu fosse um problema. Gostei que acabou rápido para eu não ter que olhar a face de reprovação de todos eles.

Depois se preocuparam com a contaminação e agora pensam nos bens. O ser humano pode ser cruel até mesmo com os seres mais próximos, com aqueles que dariam a vida para proteger tamanho amor que nutrem. Eu daria minha vida por um abraço, por um olhar de gratidão, mas devo ter merecido tudo o que recebi.
Pretendo me lembrar da fase em que eles eram crianças e que me amavam sinceramente. Numa época onde meus carinhos bastavam para que fossem felizes. Para mim, isso já é motivo de felicidade.
No geral, não tenho do que reclamar. Cheguei aqui e fui tão bem tratada. As pessoas foram tão acolhedoras e prestativas, eu me senti muito melhor aqui.
Melhorei, a respiração ficou ótima e reencontrei o Alfredo, lindo! Meu amado esposo me esperava como no primeiro dia, tão amoroso que até chorei de contentamento. Tudo foi perfeito para que eu pudesse viver esta felicidade. Agora nada mais importa.
A morte para mim foi a felicidade de poder reencontrar o Alfredo. Graças a Deus.
MARÍLIA
16/05/20
                          --------------Paula Alves----------------

Foto Cedida por Magno Herrera Fotografias

“AS PESSOAS TÊM ESCOLHAS A FAZER, EU RESPEITO, MESMO ASSIM, EU CONTINUO SENTINDO A DOR DO ABANDONO”

Eu precisava vê-la e ver o que resultou daquela união que tanto rejeitei. As mães também erram. Eu só queria protegê-la.
Você não pode imaginar o quanto é terrível perceber que você não consegue mais influenciar um filho. É terrível sentir que os envolvimentos que têm com as pessoas pode comprometê-lo, mas ele não te escuta, ele se afasta e te repele.
Eu amo minha filha. Se fosse possível, eu sofreria em seu lugar. Tomaria para mim qualquer tipo de vida desastrosa para protegê-la para que fosse feliz.

Quando vi aquele homem, pela primeira vez, eu olhei nos olhos dela e percebi o quanto estava apaixonada. Eu senti que ela sofreria, eu não confiava nele. Sabe quando você percebe de cara que alguma coisa vai dar errado? As mães nunca se enganam. Nós temos sexto sentido. Tudo o que a mãe diz, uma hora acaba acontecendo.
Eu olhei para ele. Sabia que ele estava fazendo pose para me conquistar e aquilo me deu mais raiva. Eu respirei fundo e tentei ser educada, mas logo que ele partiu, eu mencionei a ela tudo o que senti. Ela me ouvia, sempre me escutou, mas naquele dia, ela se transformou. Veio com uma conversa de que eu sempre fui controladora. Ela disse que eu sempre quis decidir a sua vida e eu não conseguiria separá-la do homem que ela amava, eu me surpreendi. Ela nunca havia falado comigo daquela maneira.

A minha filha se transformou e confrontou comigo por um homem que ela mal conhecia. Eu fiquei muito magoada. Me senti sendo traída por ela. Nós tínhamos uma história de vida, uma amizade e um amor incondicional para nos unir. Quem era aquele homem?
Eu me calei e chorei escondido. Imaginei que, com o tempo, ela cairia em si e o romance relâmpago pudesse se desfazer, mas eu me enganei. Eles estavam cada vez mais envolvidos. Eu percebi defeitos que não desejava para ela. Ele bebia, jogava e olhava para todas as mulheres que estavam a nossa volta. Ele a desrespeitava e ela não percebia. Parecia estar enfeitiçada.

Logo, ele quis ficar noivo e, pouco tempo depois, estavam se casando para o meu desgosto se tornar completo.
Minha filha sofreu muito. Ele a explorou, espancou, roubou, fez de tudo para acabar com sua dignidade e, por fim, conseguiu nossa separação.
Não sei como um homem pode modificar tanto a cabeça de uma mulher.
Ela se afastou de mim porque dizia que eu falava mal dele, mas o fato é que eu não queria ver o que ele fazia dela. Eu achei que pudesse defender a minha pequena criança, mas ela não me quis por perto.

Ficamos quinze anos sem nos ver. Em cada data comemorativa eu me lembrava dela. Eu chorava a solidão e o abandono. Eu não tinha mais ninguém e queria senti-la ao meu lado e ele tirou isso de mim. Na verdade, eu o culpei por anos, mas depois percebi o quanto pensavam parecido. As pessoas não mudam o pensamento de ninguém. O que acontece é que elas são coniventes. Ela se afastou de mim, eu, sua mãe. Ele motivou, exigiu, mas você se separaria da sua mãe se alguém tentasse te convencer a fazer isso?

Você se esqueceria de tudo o que ela fez por você? De toda a convivência que tiveram por causa de uma pessoa que acabou de chegar?
Existem várias formas de amar, mas você não precisa abandonar alguém para amar outra pessoa.
Eu ainda vi minha filha dois dias antes de desencarnar. Eu estava na casa da minha irmã e não sabia que ela havia armado uma situação para nos encontrarmos. Ela ficou bem constrangida quando me viu. Eu nem sabia como reagir ao nosso encontro. Ela chorou sentida, pediu perdão, disse que sentia minha falta, mas o marido a proibiu de se relacionar comigo e ela aceitou porque o amava. Eu fiquei com o coração partido. A constatação de que ela aceitara a nossa separação por amor a ele era pior do que todo o tempo em que ficamos separadas.

Isso acabou comigo. Eu cheguei aqui logo depois desta situação. Eu morri de tanta tristeza.
Revi todos os acontecimentos. Não existe o que desculpar, ela fez o que achava que era melhor, mas eu senti e sinto pelo afastamento, ainda me dói.
Vocês acharam que eu tinha que saber que eles estavam unidos por antigas rusgas do passado, eu sei, entendi. Eles combinaram de se ajustarem nesta vida, já entendi, mas não precisava se distanciar de mim.
As pessoas têm escolhas a fazer, eu respeito, mesmo assim, eu continuo sentindo a dor do abandono.
VIRGÍNIA
10/05/20

                 -----------------Paula Alves---------------------

“UMA MÃE CUIDA DE DEZ FILHOS, MAS DEZ FILHOS NÃO CUIDAM DE UMA MÃE.”

Tanto carinho por aqueles filhos, tanta renúncia...
A mãe faz pelo filho sem esperar recompensa. É um amor tão grande que nós não almejamos nada. É doação pura de um afeto que só aumenta.
Parece que, quanto mais você ama, mais se fortalece, mais se enobrece e fica feliz com isso. Eu considero que a mãe se eleva mais por este amor. A mulher evolui muito quando se dedica totalmente aos filhos. É uma oportunidade grandiosa que consegue purificar qualquer uma de nós, mas eu sofri muito em nome deste amor.
Sempre fiz por eles sem esperar nada em troca. Eu consigo me lembrar de tudo, de cada fase, de cada momento que foi tão especial e, por mais doloroso que tenha sido, ainda assim, teve uma boa experiência como em relação as doenças que tiveram na infância ou com os relacionamentos amorosos que não floresceram.

Em cada momento, eu me lembro dos olhares, dos sorrisos ou das lágrimas. Ficou tudo tão bem registrado em mim, eu me lembro de tudo. Me esforcei para ser amorosa e para conduzi-los num bom caminho. Eu não quis que faltasse nada, nem material, nem moral, tentei ser um bom exemplo e uma grande amiga, mas algo deu errado.
Eles se tornaram adultos, estudaram, trabalharam, se tornaram independentes e formaram suas famílias, mas um dia, meu esposo sofreu um acidente e desencarnou. Eles tiveram a oportunidade de pensar o quanto tínhamos. Sabiam que o nosso patrimônio poderia beneficiá-los. Parece que aguardavam ansiosos até que eu morresse para colocar as mãos em tudo o que conquistamos. Não era muito, pior ainda porque faria, apenas uma pequena diferença na vida de cada um.

Eu vivi sozinha no meu lar, até que cai e quebrei a perna. Eu ainda era jovem, mas eles tiveram a chance que queriam para me internarem justificando que não podiam abrir mão dos empregos e familiares para cuidarem de mim. Eles me internaram com cinquenta e quatro anos e eu nunca mais saí de lá.
No início, ainda me visitavam, mas eu cobrei que me tirassem de lá. Eu compreendi que não sairia jamais. Passaram seis anos e eles já tinham vendido a casa e não puderam me levar para morar com eles porque os familiares não entenderiam, eu não tinha mais lugar em suas casas.
Eu queria gritar, me desesperei. Eu não posso mensurar o quanto eu senti o fracasso de um amor. Três filhos que me viraram as costas, que me traíram.

Eles me traíram.
Chegando aqui, depois de oito anos internada naquele local, vítima de uma tuberculose, tristeza profunda, eu desejei saber os motivos deles.
Enquanto estava encarnada, ouvia: “uma mãe cuida de dez filhos, mas dez filhos não cuidam de uma mãe.”
Eu não aceito. Eu precisava saber como acionei a Lei e me informaram. Eu lembrei de um tempo longínquo quando os abandonei.
Eu engravidei inesperadamente e dei meus filhos sem o menor remorso. Três vezes, três abandonos. Eu pedi para recebê-los nesta vida, eu jurei que iria amá-los. Eu me responsabilizei em fazer da maternidade uma missão e jurei que não fracassaria. Eles me perdoaram no plano espiritual antes de reencarnarem e disseram que aceitavam novamente serem meus filhos, mas após o reencarne, eles deixaram as sensações falarem mais alto, eles quiseram se vingar de mim.
Eu ainda não aceitei, tenho que ser sincera com você. O perdão não pode existir da boca para fora.
Eu ainda tenho mágoa.

Acho que nada justifica os maus tratos com uma mãe. Eu errei muito, mas eles não deviam revidar, ainda assim, eu os amo.
Eu quero que eles se conscientizem que fiz tudo por eles e faria tudo de novo, com o mesmo amor, porém com uma dose importante de educação religiosa, isso faltou.
MARIA LÚCIA
10/05/20


----------------------------Paula Alves------------------

“TANTO RESPEITO E CONSIDERAÇÃO”
Eu era jovem quando descobri o câncer de mama, mas naquela época era um atestado de óbito.
Não sabia como poderia contar para minha filha. Ela era a criatura mais doce que eu conhecia. Entre nós existia um amor tão natural e puro, cheio de respeito e amizade.
Eu não queria que ela sofresse e sabia que não poderia me curar. O médico foi tão específico dizendo que o câncer estava bem avançado, não tinha nada a fazer e, por isso, eu preferi viver os dias mais alegres que pudesse.
Naquele dia, eu olhei para ela e silenciosamente agradeci a Deus por estarmos juntas, por ela ser tão especial.

Eu sempre ouvi muitos comentários de mães que sofrem com seus filhos e eu ganhei um presente rico de Deus porque aquela moça nunca na vida havia me dado um só motivo para chorar, a não ser de alegria e contentamento.
A pessoa mais carinhosa e delicada, educada e atenciosa. Eu tive tudo dela, todos os mais singelos cuidados e dedicações. Eu fui muito amada.
Olhei para ela e senti que éramos seres conhecidos há muito tempo, longa data em que nos identificávamos e nos amamos de corpo e alma.
Eu sorria, enquanto ela cuidava dos cabelos da minha netinha. Quanto amor!

Os dias que se seguiram, vivi com imensa cautela para não perder um momento radiante. O bom de saber que a morte se aproxima é poder viver intensamente, com gratidão e sempre se proporcionando viver melhor.
Nós passeamos, rimos e relembramos bons momentos. Eu dei conselhos e deixei cartas. Sabia que não estaria presente nos próximos anos, queria que elas se alegrassem comigo, sabendo que eu não iria desaparecer.
Foram meses maravilhosos, mas a dor chegou e eu não conseguia mais disfarçar. Ela me conhecia muito bem e notou que eu estava me contorcendo. Foi falar com meu médico que pediu para que falassem comigo, eu não aguentava mais. Pedi analgésicos e que tivessem calma, não falei mais do que isso, Isabel e o pai, perceberam que aquilo era grave.

Eles cuidaram de mim até o fim, beijos e atenções para que eu tivesse conforto e paz. Como foi lindo este fim. Tanto respeito e consideração. Eu os tive ao meu lado e não me senti sozinha, eu tive coragem na hora da morte. Foi uma transição branda, tranquila.
Aqui vi tantas coisas belas, logo me reestruturei e lembrei das muitas existências em que estivemos unidas como irmãs, avó e neta, amigas leais ou como pai e filho. Somos muito unidas
Eu tenho a oportunidade de vê-la neste dia das mães. Estou tão feliz.
Será a primeira vez, desde o meu desencarne.
Eu sempre soube que somos eternos, eu senti que seria uma separação momentânea. Sou muito grata a Deus.
CARMEM
               ------------------Paula Alves-----------------

“NÓS SOMOS O REFLEXO DOS NOSSOS PAIS”

A falta que ela fez nem consigo mencionar. É dolorido pensar o que seria de mim se eu tivesse tido mãe naquela vida.
Eu não estou justificando os meus erros pela falta de alguém que nunca conheci, mas as incertezas sempre se relacionaram à ela.
Desde pequeno, na rua, no frio e eu pensando por que ela me recusou. Por que ela me jogou.
E o pior é que ninguém me quis. Sei lá como foi que aconteceu. A dona Maria do seu Zé falava que ela ficou comigo porque ela precisava de um pequeno para levar para o sinal.
Como pode uma mãe entregar um filho para uma mulher levar ao sinal, pedir esmola com o filho dos outros?

Assim, eu cresci. Nos braços de uma mulher que nunca foi minha mãe de verdade e me tratava como uma amostra da miséria para arrumar dinheiro para beber. A gente comia lixo.
Sei lá o que ela poderia ter feito por mim. Se ela me entregou para uma mulher da rua é porque também era da rua, eu pensei.
Cresci e depois de muito tempo, eu tentei melhorar a minha situação, dizendo para mim mesmo que a minha vida era melhor do que se ela tivesse me abortado ou tivesse me jogado no rio.
Tem mãe louca para tudo, podia ser.
Mas, depois de algum tempo, eu tentei não pensar. Eu precisava me afastar da dona Maria do seu Zé e fugi.
Fiquei mocinho, me virei, lavando para-brisa, vendendo bala e depois fui descarregar caminhão. Consegui sair da rua, fiz supletivo, enfim, batalhei, consegui emprego decente.
Mas, a mãe sempre na minha cabeça. Eu queria alguém para conversar, mas não confiava em ninguém. Sempre a mesma sensação de abandono e de revolta. Vivendo por viver uma vida de sobrevivente. Vida de quem sofreu misérias e queria família e teto. Eu queria minha identidade.

A mãe reflete quem você é. A família é o que você é.
Tem gente que reclama da mãe, sempre tem motivos para falar mal, criticar, julga e maltrata.
Será que era melhor não ter tido uma mãe?
Será que a vida teria sido melhor se tivesse sido como eu?
A minha mãe me abandonou porque não queria falar para a família que engravidou de traficante. Moça rica, bem vivida, mas não podia correr o risco de ser deserdada. Eu podia ter tido tudo na vida, neto de ricos, mas ela se recusou a lutar por mim. Ela preferiu me dar para a dona Maria e eu ainda sou grato que ela me deixou tentar. Ela me permitiu o esforço e a coragem de viver por mim mesmo e o que aconteceu?
Eu consegui uma vida digna, honrada no trabalho sério. Consegui uma mulher de bem, ela me quis, mas eu não consegui me relacionar. Levei anos para entender que o que me separou da Eva foi a minha desilusão com a minha mãe. Eu via em todas as mulheres a mulher que abandona.
Demorou muito para eu ter gratidão ela Adriana                                  minha mãe rica.
Só soube de tudo isso quando cheguei aqui.

O fato é que a gente sempre colhe o que plantou. Eu também fiz isso com ela. Eu a abandonei grávida porque não quis levar um bastardo para a minha esposa criar. Eu a abandonei e fui abandonado, não justifica o erro, mas aconteceu. Quem nunca errou que atire a primeira pedra.
Todas as mães são importantes. O filho grava a imagem da mãe e manifesta isso por toda a existência. O tempo todo projeta a mãe. Inconsciente têm as afirmativas dela, tem os apelos e todos os deslizes. Nós somos o reflexo dos nossos pais.
Ter em mente que elas fazem o que podem e sermos gratos por tudo o que tivermos delas.
ALEXANDRE
          10/05/20
 
                 -------------------Paula Alves----------------




Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“EU PERCEBI O QUANTO NECESSITAMOS DAS PESSOAS”

Eu nunca tive paciência com ninguém. Por onde olhava encontrava motivos para me irritar. Via o quanto as pessoas eram negligentes e preguiçosas. Tão submissas ou desorganizadas. Por diversas vezes, cheguei a passar mal por conta das leviandades alheias.
Aos poucos, eu mesma comecei a me incomodar com meus sentimentos. Eu precisava saber por que eu me sentia tão mal com as atitudes dos outros. Isso tudo fazia com que eu estivesse sempre só. Eu era solteira, quase não me envolvia em encontros sociais, não tinha amigos, me afastei dos meus pais e irmãos. Isso porque eu estava sempre envolvida com  brigas, disputas e rivalidades, mas eu sofria.

Nunca fui uma solteira resolvida e feliz. Nunca tive motivos para me alegrar com minha vida ou com minhas atividades. Pelo contrário, estava muito obesa porque a única coisa que me dava satisfação era a comida. Eu comia para preencher um vazio, uma necessidade de adequação. Alguma coisa, precisava me preencher, mas por mais que eu comesse, ainda estava me sentindo vazia. Faltava tudo, motivação, felicidade, ambições. Sabe um viver por viver? Sabe uma vida sem brilho, sem gosto? Eu era mal amada. Não tinha pessoas a minha volta que desejassem a minha companhia. Isso me causava uma grande frustração, mas confesso que é difícil reconhecer tudo isso.

Eu fiz terapia por anos e foi no metrô que encontrei as respostas que eu procurava. Eu fui tremendamente grosseira com uma passageira belíssima, super delicada e simpática. Ela estava sentada e percebeu que eu estava com muitas bolsas pesadas, ela simplesmente me ofereceu o seu lugar e eu fui muito ofensiva com ela. Nem percebi o quanto ela estava sendo educada e eu quis humilhá-la diante de todos os outros passageiros. Ela naturalmente me disse que eu não precisava humilhar ninguém para ser superior. As pessoas não precisavam se defender o tempo todo porque ela, apenas desejava me ajudar.

Eu fiquei muito constrangida, ainda mais quando ela se levantou e disse: “Pode sentar, eu vou me afastar de você, deve ser o que deseja.”
Eu sentei muito envergonhada. Tive tempo para pensar no quanto fui grosseira e sem juízo. Eu sempre fiz isso. Eu me lembrei das diversas vezes, em que eu fiz isso, com todos que se aproximavam de mim e não encontrei justificativas para os meus ataques, mas encontrei para minha solidão.
As pessoas não queriam ficar do lado de quem iria atacar o tempo todo. Ataques verbais e demonstrações de rispidez gratuitas, ninguém queria isso.
Eu tentei mudar. Participei de seminários que pudessem fazer com que eu mudasse minha conduta, eu queria me socializar.
Demorou, mas precisei de um reajuste mental sério e sincero, para que pudesse, pouco a pouco, me acostumar a conviver em sociedade, tendo bons princípios de respeito e simpatia.

As pessoas voltaram para a minha vida e foi incrível como minha alegria voltou. Eu percebi o quanto necessitamos das pessoas. Tive que fechar os olhos para muitas coisas, tive que treinar a indulgência, tive que ser menos exigente com elas. Tive que me policiar para ser mais delicada e gentil. Foi tão bom conhecer um homem que gostasse de estar comigo, formar família com ele. Vida maravilhosa quando me permiti estar em círculos sociais.

Chegando aqui, compreendi que meu bloqueio era muito antigo. Em outras existências, fui muito menosprezada por meus pais que me comparavam com uma irmã lindíssima. Eu também fui obesa e meus pais se envergonhavam um pouco de mim. Minha irmã tinha tudo e eu era ridicularizada. Isso fez com que nascesse em mim, um bloqueio, uma defesa do ataque. Antes que alguém pudesse me ofender, eu ofendia antes. Mas, isso não me protegeu, mas me isolou de todos.
Nós precisamos viver em sociedade para nos tornarmos pessoas melhores. Precisamos aprender a estarmos com os outros e respeitarmos seus direitos, ouvirmos suas opiniões, aceitarmos que não são todas as pessoas que vão nos apoiar ou gostar de nós. Teremos divergências e, mesmo assim, continuaremos amando. Enfim, deste contato tão íntimo e pessoal, nascerão relações duradouras e eternas de amizade e amor onde tudo o que importa é o bem do outro, por mais diferente que sejam de nós. Com isso, despertaremos os mais nobres sentimentos de lealdade, cordialidade, ternura, gentileza, podendo chegar à renúncia completa de nós mesmos para priorizar o bem estar alheio. Como Deus é maravilhoso.
ANA PAULA
03/05/20

                           -------------------------Paula Alves------------------------------

POR QUE PENSAR NO FIM E NÃO NA TRANSIÇÃO?

Eu tinha uma sensação de morte todos os dias. Enquanto, era mais jovem eu era tão corajoso, destemido. Vivia minha carreira com orgulho e satisfação em poder servir sem pensar no dia de amanhã, apenas me colocando à disposição de uma tarefa que achava primordial e me sentia bem em ser apontado como aquele que faz o bem para o próximo como um herói.
Mas, os anos passam e a vida da gente toma um rumo diferente. À medida que envelhecemos e adquirimos certa maturidade, tudo muda, os pensamentos mudam e as necessidades mudam. Eu desejei formar família, me casei e tive filhos que me transformaram num homem que eu não imaginei que poderia me tornar. A coragem e o orgulho se desfizeram para a necessidade de estar com eles, como se nada fosse mais importasse.

O medo da morte começou a fazer parte da minha vida e eu não queria nem sair de casa, mas precisava ser forte e prosseguir. Eu era bombeiro e em cada salvamento existia a hipótese de que eu não voltaria para casa. Isso passou a me assombrar. Eu fiz um seguro de vida, passei a tornar os momentos em família, inesquecíveis. Eu sei que eles me amaram.
Eu não pensei que a minha família assumiria um papel tão essencial em minha vida. Não podia nada sem eles. Parecia que era um forte pressentimento para mim, mas qualquer um diria que eu estava com problemas psíquicos decorrentes dos acidentes terríveis que vivi. De todas as coisas ruins que pude tomar conhecimento.

Um medo diário da morte, uma aflição, um pesadelo que acontecerá para todos, mas por que pensar desta maneira? Por que pensar no fim e não na transição?
Eu sofri tanto até que não pude suportar o desespero diário e procurei um amigo para confessar a minha inquietação. O meu colega de serviço sempre se mostrou muito sensato e equilibrado e eu suponha que ele me recomendaria ir ao psicólogo, mas ele me convidou para um café e conversamos sobre a vida após a morte.

Ele me deu um livro: “O livro dos Espíritos” e disse que eu poderia obter maiores informações se fossemos numa palestra espírita. No início não entendi, mas li o livro e passei a fazer minhas próprias pesquisas.
Eu me deparei com uma visão de vida totalmente diferente e uma visão de morte cheia de vida. Fui tendo tantas dúvidas e precisei de mais esclarecimentos que me conduziram ao centro espírita para assistir palestras e depois para fazer cursos. Quando dei por mim, já estava trabalhando em alguns núcleos de assistência social e minhas dores foram ficando de lado diante das necessidades alheias. Minha vida foi se tornando mais fecunda e cheia de entusiasmo. Eu não tinha mais tempo para medos porque eu tinha muita coisa para fazer. Eu tinha muita gente para me preocupar, tinha que tirar os olhos de mim para ajudar os outros.

Eu vivi muito. Me aposentei como bombeiro, casei meus filhos, participei da vida dos meus netos e servi como cristão por muitos anos.
Vida maravilhosa de serviço edificante onde aprendi com muitos. Fiz amigos em vários lugares, recebi muito afeto e tive a honra de aprender com o Evangelho importantes lições de nobreza e fé.
O MEDO DESAPARECE DIANTE DA NECESSIDADE DE SER ÚTIL.
Gratidão por tudo o que recebi.
SEBASTIÃO
03\05\20

              -------------------Paula Alves----------------

“CADA UM DEVE SE OCUPAR DO SEU QUINTAL, AO INVÉS, DE CUIDAR DA VIDA DOS OUTROS”

Eu fazia os bolos porque não tinha condições de arrumar emprego na fábrica. Bem cedo fazia café e levava os bolos para vender na porta da fábrica. Eu tinha criança pequena e não podia ficar tanto tempo fora de casa.
Mas, tinha uma mulher que achava que eu não deveria me sujeitar a isso porque meu marido tinha a obrigação de me sustentar. A vizinha insistia em dizer que, quando uma mulher se casa ela deve ser cuidada pelo seu esposo. Dizia não fazer sentido eu sair da casa dos meus pais e sofrer com o marido. Aquilo não era vida.

Eu gostava dela, sempre boa comigo, mas percebi que ela estava enchendo a minha cabeça.
Meu esposo era um homem bom, honesto e estava se esforçando para que comprássemos a nossa casa, ele não queria viver no aluguel para sempre. Tudo o que ele ganhava eu mesma guardava, ele se vestia de forma simples e não gastava dinheiro com nada. Sempre foi respeitador e educado comigo e com as crianças, mas ela achava que eu devia exigir. O dinheiro que eu ganhava podia comprar roupinhas para os meus filhos, sapatos, tudo era ajuda.

Eu respirei fundo e tive que dizer a ela que eu gostava de ajudar, meu trabalho era honesto como qualquer outro e eu amava meu esposo e não me sentia explorada por ele. A mulher ficou tão ofendida e nem quis falar comigo, virou a cara.
Eu refleti como tem gente que sai de casa para cuidar da casa da vizinha. Se ocupar tanto em cuidar da vida dos outros. Eu sempre fui feliz com o que tinha e gostava de ser útil, mas ela julgava que minha vida era ruim porque não gostava de trabalhar. Minha vizinha tinha empregada porque todas tinham empregadas, ela tinha carro e roupas caras, mas nunca conseguiu comprar a casa porque precisava ostentar.

Depois de muitos anos, nós conseguimos comprar a nossa casa. Meu esposo me agradeceu todo o esforço e cumplicidade para termos uma vida mais confortável com nossos filhos.
Com meu trabalho humilde aprendi muitas coisas. Eu me senti honrada de ganhar o meu dinheiro honesto, de proporcionar um café quentinho, um bolo saboroso que saciavam a fome daqueles que precisavam ganhar o seu sustento, ajudei meu esposo e deixei de lado algumas mazelas como orgulho, vaidade, preguiça, ostentação, entre tantas outras. Adquiri virtudes que me felicitaram como o esforço, a honra, a cumplicidade, o ânimo, a perseverança.
Eu nunca poderia imaginar que uma tarefa tão simples pudesse me encher de satisfação. Não foi pelo bem material que adquirimos, mas por tudo o que foi proveniente disso, por isso, cada um deve se ocupar do seu quintal, ao invés, de cuidar da vida dos outros.
MARIA INÊS
03/05/20

                      ---------------------------Paula Alves---------------------------

“EU NÃO ACEITAVA QUE PRECISAVA MODIFICAR MEUS PENSAMENTOS E ME POSICIONAR DIFERENTE NO MUNDO”

Eu reclamava demais. Me achei explorado e acreditava que eu tinha qualificação para fazer outras tarefas na empresa. Parecia até que tinha mania de perseguição porque todos os funcionários estavam sempre armando para mim, para me desmoralizar ou para tirar o meu cargo.
Insatisfação de todos os tipos: em relação a minha remuneração porque eu achava tinha que ganhar mais, receber gratificações, folgas, redução da jornada de trabalho.

Tudo sempre estava errado e eu me sentia desmotivado, por isso, meu trabalho não rendia tanto, culpa exclusiva dos meus superiores que nos tratavam tão mal.
Mas, um dia, meu chefe se indignou. Ele me chamou em sua sala e disse claramente que estava cansado de mim. Ele me lembrou que eu estava trabalhando há mais de dez anos na empresa porque a esposa dele  era amiga de infância da minha esposa. Ele falou que sabia exatamente o que eu dizia pelos corredores da empresa como se eu morresse de inveja dele porque minha vida era maldizê-lo. Ele perguntou se eu não me envergonhava e pensava que ele seria capaz de me suportar para sempre. Ainda afirmou que não sabia por que me aguentou na empresa por mais de dez anos, já que eu sempre fui um preguiçoso, folgado com mania de grandeza que não tinha o mínimo de qualificação para cumprir com tarefas simples que eram solicitadas e justificava meu baixo padrão produtivo alegando que todos eram piores que eu.

Ele falou tantas verdades e ainda finalizou dizendo que iria aproveitar o momento em que estava vivendo um inferno pessoal para me colocar no meu devido lugar. Ele estava se separando da esposa e não precisava fingir que precisava me poupar.
Eu fui demitido, fiquei deveras enfurecido e, naquele momento, não poderia conjecturar o quanto aquela fase seria imprescindível para minha evolução. Como o adolescente que tem tudo o que quer e não sabe valorizar nada, eu fui muito imaturo. Fiquei muito tempo maldizendo o dono da empresa. Fiquei desempregado por muito tempo. Acho que minha arrogância não abria portas para mim. Eu não aceitava que precisava modificar meus pensamentos e me posicionar diferente no mundo. Sofri os deslizes que eu mesmo cometi com as atitudes de orgulho e egoísmo.

Precisei pedir dinheiro emprestado, contei com o apoio da minha esposa que foi uma mulher valorosa, fiz um pouco de tudo para me humilhar e adquiri nobreza moral. Trabalhos de esforço físico e resignação que me mostraram o quanto existem pessoas bondosas em todas as classes sociais, o quanto somos ajudados quando mais precisamos por pessoas que não nos conhecem e que não exigem recompensas, o quanto os trabalhos simples nos dão satisfação, o quanto podemos aprender com tudo o que acontece em nossas vidas.

Enquanto estive desempregado dei muito valor para o trabalho. É horrível ficar ocioso vendo o tempo passar. Acordar e não ter para onde ir, ver as contas chegando e não saber como fazer para honrar com os compromissos da família, é horrível.
Aí eu aprendi a valorizar cada oportunidade de serviço que eu encontrei. Agradeci os meus empregadores porque a pessoa não tem obrigação de te contratar, existem muitos outros na mesma situação e podem servir muito melhor do que você, então, nós temos que ser gratos e nos esforçarmos da melhor maneira possível. O trabalho é benção. 
MESSIAS
03/05/20
        

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