Foto Cedida por Magno Herrera Fotografias
“O QUE DEVE NOS MOVER NESTE MUNDO É O AMOR E NÃO A COBIÇA
OU O EGOÍSMO”
Eu construí tantas
casas. Nunca me faltou serviço. Serviço exaustivo que colocou comida na mesa e
criou meus sete filhos. Foi com muito suor do meu rosto, com muitos calos nas
mãos que pude colocá-los em escolas e fornecer o estudo simples, mas
necessário. Estudo que nunca tive, mas senti falta o tempo todo. Eu lia, apenas
o básico com enorme dificuldade e desejar saber, mas em mim, imperava a
ignorância e a inveja.
Foi difícil construir tudo para os
outros sem ter a oportunidade de fazer uma casa decente para minha família por
falta de recursos. É muito fácil apontar e criticar a situação alheia, difícil
é se colocar no lugar do outro porque falta escrúpulos e indulgência. Eu queria
aquele piso para colocar na minha casa, mas não tinha como pagar por ele, porém
eu me esmerava para fazer para os outros, fazia com capricho, com cuidado para
não errar. Fazia para os outros como se estivesse fazendo para mim, invejava
sim, verdade. Eu queria ter e não podia.
Os filhos que Deus me deu foram minha
maior riqueza. Tanta dificuldade para colocar o pão dentro de casa, para calçar
e vestir todos eles, mas foram o meu presente. É muito difícil escutar o filho
pedir alguma coisa e não poder dar, dói na alma, então, minha casa foi ficando
de lado. Entre comprar um doce, comprar um pedaço de carne, uma misturinha
diferente e comprar o acabamento da casa, eu preferia matar a vontade da
criançada. Dentro do possível nunca faltou nada para nós, mas eu trabalhei até
não aguentar mais e foi muito freguês feliz, falando bem do meu trabalho por
aí. Eu cheguei a ouvir um vizinho comentando que eu nunca ia progredir com a
mulher embuchando o tempo todo.
Minha esposa foi uma santa. Nunca
reclamou de nada e me ajudou demais. Fazia as tarefas de casa com carinho,
limpa, organizada e teve fino trato com nossos filhos. A mãe que nunca precisou
levantar a mão, nunca ouvi um grito daquela criatura. Com o olhar ela
disciplinava as crianças. Pobres, mas com uma educação de lordes. Nem sei explicar,
acho que foi o exemplo. Quem ousaria bater o pé contra aquela mãe que tirava da
boca para dar aos filhos? Quem poderia esbravejar contra uma mãe que era tão
abnegada e se sacrificava por todos o tempo todo? Nunca! Jamais! Nem eu
permitiria. Mas, os vizinhos falavam que eu nunca iria terminar minha casa com
tantos filhos. Falavam que se eu quisesse progredir teria, apenas um porque
filho custa dinheiro. Que falta faz o conhecimento da espiritualidade... quanta
ingratidão contra o Pai!
As pessoas devem se esquecer do que
trataram antes de reencarnar, mas deixam de lado pequenos atos de delicadeza e
subordinação com o Criador. Nós pedimos uma família antes de receber o corpo
carnal, mas é difícil arcar com tantas responsabilidades, mais fácil abrir mão
dos compromissos assumidos e viver a facilidade da materialidade. Podendo ter o
carro do ano abrimos mão daquele ser que precisa vir em nosso lar para que
possamos nos entender, nos reconciliarmos. Eu aceitei todos! Aceitei com
Cecília, minha santa. Nós fomos felizes com nossa família, foi nosso maior
tesouro e eu, apesar de minha inveja, pude compreender que o que deve nos mover
neste mundo é o amor e não a cobiça ou o egoísmo. Apenas o amor pode nos salvar
de nós mesmos porque o amor nos faz enxergar o outro com todas as suas
necessidades e fragilidades. Com o amor nos colocamos no lugar do outro e nos
doamos inteiramente para suprir suas carências afetivas ou materiais.
Agora estou no Céu.
Pude ver o quanto são pessoas maravilhosas meus filhos. Eu construí casas para
os outros, mas para mim, construí a morada que habito a partir dos corações e
do amor que cultivei. Obrigado meu Deus!
LAURO
30/11/19
-----------------------Paula
Alves------------------
“DEUS SEMPRE ABENÇOA O BOM TRABALHADOR, AINDA MAIS
QUANDO DESEJA O BEM DOS SEUS SEMELHANTES”
Eu odiava aquela terra miserável,
aquele trabalho que não me levaria a lugar algum. Não conseguiria compreender o
porquê de tanta exaustão e sofrimento se eu era igual aos outros. Eu deveria
ter as mesmas oportunidades, a mesma condição. No fundo, eu me sentia
injustiçado pela posição social e instintivamente culpava meus pais por sermos
tão pobres.
Ainda na juventude, ao invés, de
estudar eu deveria estragar minha saúde com aquele trabalho escravo. Será que
meu pai não percebia o quanto aquele dono de terras nos explorava?
Cansei de falar que deveríamos lutar
por melhores condições de subsistência, mas meu pai nem entendia o que eu
estava falando. Falei com outros jovens que também tinham revolta e começamos
uma rebelião. Os mais velhos não concordaram conosco, mas éramos em maior
número e nos negamos a trabalhar. Como um tipo de greve por melhores salários e
condições trabalhistas. Vejam, mesmo sem estudo, dentro de nós brotava a lei da
igualdade. O fato é que com revolta não se consegue nada. Ele simplesmente nos
dispensou e arrumou outros que eram mais submissos, outros que cumpriam ordens,
diferentes de nós que estávamos sendo desordeiros e ingratos.
O problema é que perdendo
o emprego, também perdemos nosso teto porque estávamos nas terras dele. Eu tive
que sair de lá com meus pais velhos e dois irmãos mais jovens. Fomos para a
cidade porque eu estava inconformado demais para me sujeitar a trabalhar na
mesma atividade. Tanto incentivei meus pais que consegui convencê-los. Na
cidade a dificuldade foi ainda pior, falta de emprego, pobreza por toda parte,
falta de moradia e fome. Logo meus pais adoeceram, morreram e meus irmãos se
envolveram com marginais. Vida perdida que não serviu para quase nada.
O aprendizado é que todos nós
recebemos uma chance que pode dar certo se você se esforça e não reclama, não
se revolta. Fazer com paciência e com gratidão, faz dar certo. Por mais que
seja cansativo. Por mais que pareça que não vai levar a lugar algum, a gente
sempre recebe algo de bom. A gente acha que a vida está ruim e ainda pode ficar
pior se você faz tudo com interesses egocêntricos.
Eu precisei passar por tudo aquilo
porque também havia abusado do poder em outras existências, mas eu poderia ter
sido útil. Se eu tivesse sido mais brando poderia ter convencido o dono das
terras a nos auxiliar e dar melhores condições. Deus sempre abençoa o bom
trabalhador, ainda mais quando deseja o bem dos seus semelhantes. Nós sempre
podemos ser úteis.
ANÍSIO
30/11/19
------------------Paula
Alves------------------
“OS NOSSOS ATOS DO PRESENTE FAZEM PESSOAS MELHORES
PARA UM FUTURO QUE NEM PODEMOS IMAGINAR”
Eram mensagens telegrafadas. Notícias
que iam e vinham. Eu me sentia importante na minha função e considerava
imprescindível a possibilidade de dar notícias aos entes queridos e aos
oficiais. Hoje, o mundo está tão mudado, tão evoluído. As notícias chegam de
todos os lados com tanta facilidade e rapidez. Eu ouvia de tudo. Mensagens de
amor, mensagens de óbitos e até pedidos de socorro.
Tão difícil conviver com a dor das
pessoas, tão difícil quando a gente quer ajudar e não sabe como. Quando você
ouve o problema, você sente o desespero e deseja ajudar, mas não tem nada a
fazer, só rezar mesmo. Eu rezei muito, por muita gente que eu nem conhecia e
queria saber o que aconteceu com eles e nunca tive conhecimento, mas a vida da
gente tem um rumo estranho. A gente pode até pensar que somos seres aleatórios.
Que fomos criados sem muito propósito. Pensar que Deus criou sem saber o que ia
dar cada um de nós é uma grande besteira. Ele tem um plano para cada um. Deus
sabe o que pode ser de cada um de nós e Ele vai encaminhando. Não existem
acasos, nem brechas. Cada vida, cada momento vai encaminhando para nos
tornarmos os seres perfeitos que Deus quer que nos tornemos.
Eu ouvi tanta mensagem e achava que
trabalhava para viver. Eu achei que fosse só um número, uma trabalhadora que
ninguém sabe nem o nome e que meu trabalho era útil para levar comida para
dentro de casa, mas depois de desencarnada eu entendi pra que aquela vida
serviu. Quando cheguei aqui eu estudei. Estudei para novamente receber
mensagens após reencarnar. Agora eu seria médium.
Como
foi difícil minha vida de médium. Isso porque, inicialmente, eu não quis
aceitar que eu podia ouvir o mundo espiritual. Só compreende quem é médium,
todos os outros acham loucura, charlatanismo. O médium convive o tempo todo com
seus pensamentos e outros pensamentos que se confundem aos seus. São certezas,
tormentos, sensações, medos e desvarios que os médicos não podem explicar. São
doenças da mente, são dores pungentes, são sufocamentos, descontroles,
tormentos de todos os tipos que nos levam a crer que estamos sendo castigados,
mas quando você percebe o compromisso que tem, quando você se entrega ao
trabalho e passa a falar, a escrever ou a informar, tudo se esclarece. Foi como
se eu me descobrisse como uma pessoa normal e vivesse livre dos preconceitos e
das restrições das outras pessoas.
Eu fui médium e, por isso, fui
isolada porque tudo o que você não consegue entender, você prefere deixar de
lado, se afastar é mais simples.
Mesmo assim, eu me
entreguei ao trabalho mediúnico, sem cobrar nada por ele, me fazendo de ponte,
informando, auxiliando quem sofria, eu fui feliz. Apesar de toda incompreensão,
eu entendi que o trabalho era o mesmo. Eu escutava as dores dos outros, eu
informava e tentava ajudar, mas não tinha muito a fazer. Até porque são as
pessoas que devem criar forças e fazer mais por si mesmas. Ainda assim, eu
queria fazer mais. Pensei que eu não podia ser só isso, este sentimento de
inutilidade, este pesar. Cheguei aqui e compreendi que tudo me preparou para
fazer o que desempenho hoje.
Atualmente sou mentora. Hoje eu
inspiro. Ainda sofro. Sinto o medo dela, torço para que tome o caminho certo
para levá-la ao rumo que traçou antes de reencarnar. Eu inspiro, eu sugiro.
Hoje sou eu quem tenta passar a mensagem, mas nem sempre ela ouve meus
conselhos. Aprendi que tudo tem dificuldade, mas também tem uma beleza que está
oculta. Nós só conseguimos sentir prazer em nossas vidas se paramos de almejar
e percebemos nossas reais potencialidades. Em tudo existe um ponto fundamental
de nossa participação. Na sociedade, na família, no ambiente de trabalho. Em
todos os lugares que você está, sempre existem fatos que seriam totalmente
diferentes sem a sua participação. Isso nos leva a crer que somos
insubstituíveis e imprescindíveis. Faça o seu melhor sempre. Pense, tenha calma
para refletir e escolher suas ações com sabedoria porque tudo o que decidimos
fazer interfere no nosso futuro. Os nossos atos do presente fazem pessoas
melhores para um futuro que nem podemos imaginar. Tudo muito prazeroso e feliz.
Foi como ter tido uma promoção. Eu sou grata.
LUCIANA
30/11/19
---------------------Paula
Alves------------------
“AS PESSOAS DEVIAM AMAR SUAS VIDAS, INDEPENDENTE DA
FORMA COMO SUAS VIDAS SÃO”
Eu insisti tanto para lembrar que
misturei todas as lembranças. Mulher rica, sem muitas obrigações, vira ociosa.
Bom mesmo é se cansar, ter muita coisa para fazer. Se encher de coisas úteis,
mesmo que isso não te traga recursos financeiros, mas certamente vai trazer
vantagens pessoais que te enobrecerão.
Minha vida era muito vazia, faltava
alguma coisa e eu culpava meu casamento, meu esposo que nunca me deu motivos
para duvidar dele, mas eu não tinha nada para me ocupar, então, ficava
vasculhando minha vida para ter alguma emoção.
Fui ao psicólogo, ele me incentivou a
fazer regressão, mas para que lembrar do que está escondido?
Se eu soubesse que não devemos
vasculhar...
Levou bastante tempo
para ele conseguir que eu visse algumas imagens. Eu falei que deviam ser imagens
de algo que eu vivi durante o dia, mas ele me sugestionou. Tanto falou que me
deixou com a pulga atrás da orelha. Falava de uma relação do passado. De um
homem que estaria ligado a mim em outras vidas e que isso me fazia sentir vazio
e solidão.
A
verdade é que eu procurei um problema para resolver e encontrei alguém que
queria me proporcionar isso para ter o meu dinheiro. Cada um atrai para sua
vida o que realmente deseja e eu atrai. Fiquei maluca com o que ele falou e
queria saber quem era o homem. Começou com um cisco, uma bobagem e foi ganhando
proporções enormes dentro de mim. Eu passei a ter saudades de alguém que não
conhecia, desprezei meu esposo, falei coisas terríveis que acabaram com meu
casamento, mas eu não queria um problema?
As
pessoas deviam amar suas vidas, independente da forma como suas vidas são. Eu
tive tudo e ainda assim, me achava no direito de reclamar, achei defeito e
destruí tudo de bom que tive. Existem outros que têm doenças, dificuldades
financeiras, mesmo assim, Deus coloca um grande motivo na sua vida para você
agradecer. Pode ser uma família maravilhosa, um amigo leal, uma missão para
você dedicar todos os seus dias e as pessoas ainda reclamam. A reclamação é a
pior ofensa contra Deus porque mostra o quanto somos ingratos com tudo o que
Ele fez por nós.
Típico do ingrato não perceber nada de
bom e se julgar uma vítima como eu fui.
Depois que tive meu casamento desfeito,
me vi sozinha e arrependida porque eu amava o Augusto. Daí, fui brigar com meu
psicólogo que havia se tornado meu guru. Briguei, falei um monte e ele jogou na
minha cara que só fez por mim o que eu havia solicitado. Ele estava certo, por
isso, antes de você vasculhar o seu passado, se concentre no seu presente meu
irmão.
Nós devemos enxergar a vida como ela é de
verdade. Ver nossa vida com o bom e o ruim que ela nos oferece para podermos
aprender com as dificuldades, nos esmerarmos para melhorarmos, assimilar
conhecimentos novos para superar as adversidades, mas sempre com alegria por
cada dia que temos, por cada nova chance que temos. Saber o que aconteceu em
outras existências não ajuda a tomar decisões enquanto encarnados. As boas
decisões partem das virtudes conquistadas com trabalho sério. Deixe o que
passou para trás para que as pessoas tenham o mesmo valor pra você, todos os
seres como irmãos, filhos do mesmo Deus. Você partirá de um novo ponto onde
todos os dias podem ser um recomeço e, assim, no fim da vida você poderá ser
mais feliz do que eu fui.
ISABEL
-----------------------------------------Paula Alves---------------------------------
Foto Cedida por Magno Herrera Fotografias
“EU VIVI O NATAL DOS
MATERIALISTAS”
Eu também me preocupava com os preparativos. Pensava em todos, no que
poderia alegrá-los. Saia atrás dos presentes e decorava a casa. Me envolvia com
a ceia o dia todo. Eu gostava de preparar, eu gostava de servi-los. O Natal
para mim, era a data mais importante do ano e eu sempre convidava os parentes
distantes e amigos. Minha casa estava sempre cheia. Eu sei que eles gostavam de
tudo o que eu fazia porque nunca recusaram meus convites, porém, eu via como
estavam alheios ao verdadeiro sentido da data.
Na verdade, eu levava dias para preparar a festa que alegrava a todos e
no final das contas, eles comiam tão rápido. Após a comemoração ficava tudo
bagunçado para mim. Eu tinha que assumir a reorganização da casa sem auxílio
nenhum, mas nunca me queixei disso.
Naquela época, eu pensava como eles, por isso, não os culpo. Eu vivi o
Natal dos materialistas. O Natal de quem deve ser e deve ter para ser. O Natal
dos consumistas e dos que ostentam. O Natal que pede o peru e os enfeites de
todos os tipos, o Natal do brilho.
Nunca parei para pensar que o Natal simboliza um Mestre que pregou a
fraternidade e a caridade. Caridade de matéria e sentimento. Apenas, quando
mudei minha condição e passei a ser Espírito, pude perceber o quanto estive
errada.
Andei por aí, vaguei sem saber o que fazer de mim, fui uma perdida no
mundo espiritual. Mundo de quem não foi má, mas também não foi boa. Ser bom de
verdade é viver para o todo, muito mais do que viver para si. Viver para o todo
implica em pensar naqueles que não têm laços de sangue, é sentir a dor alheia e
se esforçar para levar esperança e pão.
Eu andei por muitos lugares nas noites de Natal. Fui ao meu antigo lar e
reparei que a festa foi bem parecida com as que providenciei, só eu não estava
lá, mas tudo continuou com as poses de sempre, os mesmos assuntos e
leviandades, nunca Jesus. Aí saí, mudei de ares, fui por toda parte procurando
um lugar onde eu pudesse pertencer e achei coisas tão simples, gente tão pacata
onde tinha pouco recurso, mas muita paz. Fui a lares onde as crianças não
tinham roupas boas ou sapatos novos, não recebiam brinquedos caros na noite de
Natal, mas sabiam rezar, sabiam ser gratos aos genitores e todos se lembravam
de Jesus.
Fui a locais onde as pessoas recusavam estar à vontade em seus lares
para estarem no frio ou na chuva, levando um prato quente para saciar a fome na
noite de Natal. Tantos que precisavam e encontravam caridade e compreensão.
Eu busquei e o Senhor me entregou o maior ensinamento da minha vida: o
Natal é Jesus. Pode não ter mais nada, você pode até estar sozinho no Natal,
mas se você estiver cheio da palavra do Senhor, encontrará a paz necessária
para entender que o Natal deve ser composto de esperança, alegria e a lembrança
do amado Mestre Jesus que pode nos transformar em pessoas muito melhores.
Atualmente, gosto ainda mais do Natal, justamente porque podemos
comemorar o nascimento do Messias, do Salvador e, após toda a reflexão, agora
posso auxiliar, juntamente com o grupo de trabalhadores abnegados, todos
aqueles que pedem uma ajuda no Natal. Tudo é possível para aqueles que desejam
fazer o bem.
BERTA
23/11/19
-----------------------------Paula Alves-------------------------
“CADA UM SÓ VAI QUANDO CHEGA A HORA
CERTA”
Eu me preparei para aquela viagem por dois anos. Estive eufórico e muito
ansioso. Fiz planos e desejei imensamente me aventurar em terras estrangeiras. No
dia da viagem, encontrei minha mãe chorando porque teve um sonho. Ela sempre
acreditou nos sonhos que lhe revelavam coisas sobre o futuro, mas para mim,
tudo aquilo eram tolices e superstições que eu não podia tolerar. Inicialmente,
imaginei que ela estivesse inventando para me amedrontar e me prender em casa
por mais tempo. Confesso que eu a achava bastante controladora, mas ela chorou
tanto, ela acreditava realmente em tudo o que dizia. Eu a abracei e disse que
nenhum mal me aconteceria, mas eu fiquei receoso. Como poderia garantir a ela
que nada me aconteceria?
Quem pode garantir uma coisa destas? Mas, era o meu caminho. Eu havia me
preparado para aquilo minha vida toda. Havia uma força maior que me
impulsionava para lá. Sem conseguir compreender o que estava acontecendo, eu a
deixei chorando. Se agarrava em mim, eu me desvencilhei e parti.
Por que somos tão fortes?
Por que eu não me entreguei aos pedidos dela?
Seria possível alguém no mundo inteiro, desejar meu bem mais do que
aquela mulher que vivia para mim?
Peguei minhas malas e parti. No trajeto, tudo me revelava que os
instantes finais se aproximavam. Eu revi momentos maravilhosos da minha vida,
lembranças que estavam adormecidas e me diziam o quanto a vida é boa demais.
Por isso, não queremos interrompê-la. Mas, só o que Deus quer pode acontecer...
Havia um engarrafamento. Por algum motivo eu estava me atrasando e não
conseguia chegar no aeroporto. Comecei a suar, eu não queria perder meu voo.
Nem por um minuto pensei com clareza e admiti que aquilo estava acontecendo
para o meu bem. Eu esbravejei, xinguei, desci do veículo que me conduzia,
tentei seguir a pé e não consegui chegar a tempo. Enfurecido e cansado, deixei
para lá e retornei para casa. Qual não foi minha surpresa quando minha mãe me
abraçou chorando e disse que seu filho estava morto e renasceu?
Houve um acidente e o avião caiu. Exatamente o voo que eu deveria ter
pego. Eu não conseguia entender, não podia acreditar que eu havia escapado. Minha
mãe dava graças a Deus, ela me beijava e me pedia para ouvi-la. Ela dizia: “Eu
sabia, eu sabia.”
Ela sabia mesmo, mas por que eu não confiava nos instintos da minha mãe?
Para mim bastou, acreditei!
Por isso, não reclame meu irmão. Quando você se atrasar uns minutos,
quando pegar um congestionamento ou quando, de repente, uma pessoa te forçar a
permanecer num local por mais alguns instantes, se acalme. Com certeza, Deus
tem um plano para cada um de nós e todos estaremos no lugar certo e na hora
exata para cumprir este plano.
Eu morri sim, desencarnei, bem se vê que estou aqui me comunicando como
Espírito, mas levou um tempo enorme para retornar para a pátria espiritual.
A conclusão é que ninguém parte antes da hora marcada. Todos nós temos o
momento certo para regressar. Muito interessante este modo de enxergar a morte
que é a própria viagem e só podemos embarcar quando estamos prontos de verdade.
Quando alcançamos alguns objetivos ou mostramos que estamos empacados por
completo. Cada um só vai quando chega a hora certa.
Aproveite este trajeto com consciência e se prepare para a sua viagem
que não precisa ser triste, dramática ou com sofrimento. Pode ser tranquila e
prazerosa como uma verdadeira contemplação das grandiosidades de Deus.
PATRÍCIO
23/11/19
---------------------------Paula Alves----------------------
“ELA NÃO FALOU PARA
DEUS”
Eu sei que ela me amava muito. Fazia tudo por mim e eu entendia muitas
coisas. Olhava para ela e, por mais que meu cérebro me confundisse, eu
conseguia saber o sentimento dela, a partir do timbre da sua voz. Ela se
preocupava comigo e fazia tudo para aliviar meu sofrimento. Eu sentia dores
constantes por causa da limitação de movimentos, por causa das deformidades. Eu
tinha vontade de me mexer e não conseguia, incomodava não poder mudar de
posição.
Sentia calor, outras vezes, sentia frio e sempre quis me molhar na
chuva.
Eu quis comer, sentir o sabor daquilo que meus irmãos apreciavam e quis
brincar, cantar, dançar. Desejei ser como eles, viver como eles.
Eu pensava. Não era como as pessoas com corpos normais. Não é como
conjecturar sem lesões cerebrais. É tudo lento, difícil, mas eu pensei em tanta
coisa. Pensei em não estar com ela, sei que sofreria demais.
Eu olhava aquelas paredes e queria ir até o som, me virar para ver o que
faziam, mas não pude e caí. Fiquei bem pior e ela se sentiu culpada, ela sentiu
tanto que doeu em mim. Eu nem sabia que a gente podia, de verdade, sentir a dor
do outro, mas eu senti. Era remorso, indignação e dor, dor de culpa.
Aí eu chorei e ela pediu para Deus nos confortar porque a vida era dura
demais. Eu pensei se Deus podia me tirar dali, mas eu não queria que minha mãe
sofresse minha falta, porém sem mim, ela poderia retomar sua vida, fazer
escolhas por ela, sem pensar nas minhas limitações. Ela poderia voltar a viver
a vida dela e ser feliz de novo. Não sei se dá para ser feliz sem o filho, mas
eu exigia muito da minha mãe e seria sempre dependente dela para tudo.
Ela me queria junto para sempre. Depois de muito tempo me mostraram,
depois que eu cheguei aqui, que ela orava e perguntava para Deus o que seria
dela se eu morresse. Ela estava confusa e dizia para Deus que não sabia o que
poderia ser pior: morrer primeiro e me deixar aos cuidados dos outros ou me ver
morrer.
Ela me queria junto, mas não sabia que eu não estava aguentando mais
aquela situação. Aquele corpo era uma prisão, um cárcere, um encapsulamento.
Uma clausura que não me permitia dialogar, correr ou me jogar do penhasco.
Nada! Eu só vivi preso naquele corpo e ela, por causa do seu imenso amor, nunca
pensou que eu tinha o direito de ser liberto. Ela não falou para Deus: “Ó Deus,
obrigada por libertar meu filho deste calvário, desta prisão. Obrigada Deus por
permitir que ele retorne para a verdadeira vida, de onde pode desfrutar de
momentos de alegria por restituir seu corpo perfeito, íntegro e saudável. Sei
que agora, meu Pai amado, ele poderá fazer tudo o que desejou, falar, correr e
dançar”.
Eu sei que ela nunca pensou isso. Não seria feio se ela admitisse que é
verdade. É verdade mãe!
Cheguei aqui e fui acolhido. Consegui resgatar naquele corpo-cárcere.
Consegui receber um atendimento que me fez restabelecer em pouco tempo e me
levantei, andei, falei e tenho amigos que me amam. Eu sou um Espírito com
potenciais de perfeição, assim como todos os outros, assim como você.
Eu te agradeço e peço que não sofra porque eu estou muito feliz.
LEANDRO
23/11/19
----------------------------Paula Alves---------------------
“ME CURVEI, CHOREI E DESEJEI SAIR DALI,
ME TRATAR DESTE DELÍRIO QUE É CUIDAR DA VIDA DOS OUTROS”
Lamentei a ausência dele. Eu não pensei que poderia ser feliz sozinha.
Foi uma paixão doentia. Não havia fome ou desejo de me arrumar se não fosse
para satisfazê-lo. Um amor que se transforma em posse e, de uma hora para
outra, passa a ferir.
Me casei tão novinha e me entreguei ao meu esposo como se a única coisa
que pudesse me alegrar, fosse a sua companhia. Eu não quis filhos porque achei
que a criança poderia nos dividir. Eu estava satisfeita com meu casamento e
poderia viver para sempre ao lado do Sérgio.
Não notei quando fiz exigências. Não reparei quando fui grosseira com os
parentes ou quando reagi inadequadamente com colegas de trabalho. Fiz escândalo
e o agredi. Eu achava tudo normal. Via erro nas outras pessoas, mas não em nós
e, por medo do constrangimento, eu o levei ao isolamento.
Sim, ele me amava, mas não podia suportar a reclusão. Ele não tolerou
minhas loucuras e não se anulou por minha causa.
Ele foi embora e eu delirei. Quebrei a casa toda e tomei tantos
comprimidos que quase morri. Meus pais me socorreram porque meu esposo pediu a
ajuda deles. Eu fui internada e, se não fosse um médico excelente, nem sei o
que teria sido de mim.
Vivi assim, desnorteada, reclamando, dando dor de cabeça para meus pais
e o Sérgio sempre por perto querendo saber como eu estava. Ele se casou novamente,
teve filhos. Encontrou uma mulher muito diferente de mim que confiava nele e
dava total liberdade para ser quem ele realmente é. Eles viveram muito bem sem
mim.
Eu fiquei muito pior quando soube dos filhos deles e da sua felicidade,
até que chegou minha hora. Eu queria ficar grudada nele, nunca parei para
pensar que todos nós somos indivíduos, um. Nunca vai ou volta acompanhado. Cada
um de nós tem uma história, uma necessidade evolutiva, um objetivo de
enobrecimento. Somos únicos. Eu morri sozinha, apesar de ter meus pais sempre
comigo, era apenas eu a passar por aquele momento da minha vida.
Claro que me revoltei, nada mudou, minha concepção de vida, minhas
revoltas, era eu como sempre. Vi uma facilidade para me incluir na casa dos
outros, me meter em suas vidas e passei a persegui-los. Sergio e sua linda
família sofreram minha obsessão por suas vidas. Tanto tentei afastar que uni
ainda mais, eu sofria a mágoa e a falta de amor por mim mesma. Aí vi minha mãe
que desencarnara no período que estive vagando. Ela me falou as verdades que eu
temi ouvir a vida toda. Me chamou de narcisista, egocêntrica, louca, ciumenta,
possessiva, ousada e má. Nunca desejei ouvir tudo aquilo, mas ela me conhecia
mais que eu.
Chorei e tive que aceitar que estava passando dos limites. Ela me fez
ver o que a esposa do Sérgio fazia com a família, deixando que fizessem suas
escolhas e desejando que voltassem para casa.
- Ela deixa as portas abertas para que voltem com prazer para o seio
doméstico. Eles querem estar com ela porque é divertida, sábia, amorosa e
tranquila. Ela compreende as necessidades dos seus familiares. Ninguém pode
tirar a paz e a liberdade de quem quer que seja. Aprenda com ela, já que te
permitiram estar aqui.
Foi uma lição de moral. Aprendi sendo obsessora, me curvei, chorei e
desejei sair dali, me tratar deste delírio que é cuidar da vida dos outros.
Ainda estou em tratamento com o doutor Erasmo. Ainda falta um longo caminho até
que possa retornar mais controlada e disciplinada quanto aos meus sentimentos.
Eu sou grata pela forma como estão cuidando de mim.
LEDA
23/11/19
----------------------Paula Alves------------------
Foto cedida por Magno Herrara Fotografias
“RACISMO É CRIME, MAS AINDA TEM MUITA GENTE QUE
PRATICA”
Eu lembro da fome. Nós servíamos os brancos, preparávamos suas
refeições, mas não podia nem tocar na comida. Então, os restos deviam nos
alimentar. A feijoada era um bom prato, quem poderia imaginar que, dos restos,
todos poderiam ficar satisfeitos?
Era muita humilhação e dor, muita revolta. Eu via meus filhos e depois
meus netos e achei que aquilo nunca iria mudar, depois veio muitas vidas como
negra, negro e branco. Muitas vidas aprendendo que isso não diz nada.
Nós temos uma inclinação à discriminação, ao pré-conceito. Nós julgamos
e imaginamos que aquela pessoa é isso ou aquilo. Nós criamos uma imagem sem
conhecer e acreditamos que a pessoa deve ser tratada de determinada maneira,
mas o que deveria era tratar todo mundo como gostaria de ser tratado e pronto.
Se você não gosta de tapa, não bata. Se você não gosta de grosseria,
seja mais delicado com as pessoas. Se você não gosta de mentira, então, seja
sincero, franco e leal.
É assim que deve ser, assim que eu aprendi.
A vida foi muita dura, mas vivenciei diversas situações onde as pessoas
não me trataram como uma negra, uma escrava, mas como uma amiga, uma pessoa com
valores. Tive uma sorte imensa de ter uma boa sinhá que nos tratou como
verdadeiros seres humanos, aí nossa vida mudou bastante, comemos bem, dormimos
em camas, fomos tratados com dignidade. Eu tive medo de perdê-la e, com ela,
todo conforto que conquistamos. Mas, a vida foi se modificando e correu tudo
bem para nós. Sem grandes maus tratos ou castigos.
Depois de tantos séculos, a vida mudou tanto... Percebo as conquistas da
Humanidade. Para muitos, grandes tolices, mas acredito que já avançamos. Espero
que, em breve, avancemos ainda mais.
Ainda temos notícias de grandes choques idealistas, de envolvimento com
cor da pele. Ainda sei que existe uma rispidez enorme e uma falta de empatia
por este ou aquele. As pessoas ainda têm muitas chagas morais. Um abuso atrás
do outro que nos coloca como seres tão pequeninos, tão miseráveis. Parece comum
achar que o negro é uma raça à parte, um ser diferenciado na criação?
Apenas quem conquistou uma clareza mental e o conhecimento da
eternidade, aqueles que já reconhecem a imortalidade e toda a certeza das leis
divinas, podem extinguir a discriminação. Até mesmo porque, dependendo da sua
necessidade evolutiva, você pode ter a cor negra, branca ou amarela. Vai variar
pelas necessidades morais e intelectuais.
Já pensou o que será do racista, renascer como negro?
Ter que olhar no espelho um rosto enegrecido por toda a encarnação? Se
assumir como negro, se aceitar como um negro? É um trabalho árduo este de lutar
contra a discriminação.
Por isso, compreendo que o melhor de tudo seria a conversação, o diálogo
aberto porque quem não sofre aqui, sofre em outra parte. Quem não sofre nesta,
sofrerá na outra existência todos os abusos que fizer um semelhante passar
porque usou de preconceito.
Todos os seres como criaturas divinas. Todos como filhos de um mesmo Pai
são irmãos. Portanto, independente de sua condição, ainda assim, são irmãos. Não
faça julgamentos precipitados, pare de ser taxativo e veja se você não tem
dentro de si um uma necessidade de esclarecimento ou, até mesmo, de tratamento
para eliminar a antipatia que tem em relação a cor do outro.
Racismo é crime, mas ainda tem muita gente que pratica.
LÉIA
18/11/19
----------------------------Paula Alves------------------------
“A MORALIZAÇÃO É URGENTE EM TODAS AS
CLASSES SOCIAIS”
Eram tratados como bichos. Acorrentados, espancados e torturados. Parecia
mesmo que os brancos gostavam de maltratar. Foi horrível! Eu cresci e fui
educado para achar que aquele mundo era normal. Pessoas que nos serviam e não
mereciam nada de bom, ao contrário, estavam ali para isso, era obrigação.
Meu pai me ensinou que deveriam ser tratados com autoridade e submissão,
mas em mim, havia uma repulsa de tudo aquilo, eu não gostava de violência. Queria
sair dali, não presenciar momentos de covardia e revolta. Via que muitos dos
negros que corriam por ali, serviam meu pai e eram forçados a trabalhos
exaustivos, rudes, eles tinham nossos traços físicos. Meus irmãos de sangue.
Crueldade de todos os tipos: sexuais, morais, verbais, físicos. Eu não
queria ser como ele. Discutimos tanto, até que ele envelheceu e eu não quis
continuar. Acho que tudo poderia ter sido diferente e evitado tanta morte,
tanto crime.
O fato é que mancha a nossa mente. Impregna no ser de uma forma que por
mais que você queira, não consegue esquecer. São os idealistas que desejam a
igualdade e a paz. Buscam os direitos humanos e a liberdade de expressão.
Eu me casei com uma negra, em outra vida. Depois de muitos anos, mesmo
depois de muitas vidas, novamente como branco, encontrei na negritude o amor da
minha vida e me casei com Lívia. Não tinha mais escravidão, mas o preconceito
não acabou quando as correntes se quebraram. Tronco abolido, mas as palavras e
os olhares ainda eram duros demais. Em tudo, comportamentos levianos de quem
nos observava. Riam e soltavam piadinhas. Meus filhos sofreram numa época em
que todos eram livres.
Até que ponto existe a liberdade?
Tudo é para todos?
Nós temos mesmo os mesmos direitos? Trabalhistas, estudantis? Quem
falou?
A hipocrisia está em aceitar esta vergonha. Acreditar que as pessoas não
menosprezam e não humilham. Por todo lado, fomos maltratados. Meus filhos,
moreninhos, nunca tiveram as mesmas oportunidades, sempre tiveram que se
esforçar tanto para quase conseguir alguma coisa. Fantasia minha? Será?
Comparem, vejam nas regiões onde moram que, ainda hoje, o racismo está
por toda parte. São pequenas frases de preconceito que denunciam quem você é. O
pior de tudo é aceitar ser desmerecido. Não mais, nem menos. Exija o que você
merece por quem você é. Sem gritos, sem confrontos, com dignidade.
A dignidade que se conquista com gestos nobres. A moralização é urgente
em todas as classes sociais. Brancos que devem respeitar, negros que devem se
dar ao respeito. Moralização urgente!
TOBIAS
18/11/19
----------------------Paula Alves---------------------
“QUEM TIVER ALGO BOM PARA DOAR, POR
FAVOR, COMECE AGORA”
Ela bateu na minha porta e eu tinha acabado de preparar o jantar. A casa
tinha um cheiro bom e quando ouvi a campainha estranhei porque chovia muito. Quando
abri a porta me deparei com uma mulher com um bebê que chorava bastante. Ela
disse que tinha uma criança, além daquela, que estava ali perto. Eles estavam
com fome e ela não tinha nada em casa. Eu não sabia o que fazer. Meu primeiro
impulso, confesso, foi dizer que eu não podia ajudar e voltar para minhas
tarefas com minha família, mas pensei: “E se fosse comigo?”
Eu me coloquei no lugar dela, respirei fundo e pedi que esperasse um
pouco. Fui até a cozinha e separei um pouco de tudo o que tinha nas panelas.
Dividi meu jantar com ela. Quando ela viu a sacola grande que eu lhe entregara,
quase chorou. Ela me agradeceu comovida e partiu. Eu me alimentei naquela noite
pensando naquela mulher.
Dias depois, eu estava andando pela rua, ia até o mercado e vi a mesma
mulher. Reparei que ela estava mudada, parecia que estava indo para o trabalho.
Eu fiquei pensando, por que ela teria ido à minha porta?
Por que estava a passar necessidade? Seria verdade ou não?
A questão é que nós temos o hábito de julgar todas as pessoas que cruzam
o nosso caminho. Muitas vezes, Deus coloca as pessoas necessitadas em nosso
caminho para que possamos agir com humildade e solidariedade, mas perdemos a
oportunidade de nos elevarmos e sermos instrumentos de Deus porque julgamos.
Quem ajuda deve fazer o seu melhor, ofertar tudo de bom que puder sem se
questionar se é mentira ou verdade, se a roupa será usada ou vendida, se o
alimento será dado aos filhos ou ao companheiro. Pensar que estamos fazendo o
dever como semelhante daquele que pede ajuda.
Você faz o seu papel e deixa o outro livre para se resolver como achar
melhor, solta a caridade.
Soltar a caridade é desprender o ato moral. É rever o seu papel e a
possibilidade de auxílio e não ficar julgando como o outro vai reagir com a sua
doação. De outra forma, poderá perder o enobrecimento da ação.
Passados meses, a mulher voltou à minha porta com o bebê e a criança
mais velha, ambos bem arrumados. Ela disse que não queria tomar meu tempo, mas
precisava agradecer a boa ação que realizei a ela. Ela me entregou um bolo e
disse que fez para me retribuir. Falou que naquele dia estava sem nada em casa,
havia perdido o emprego, estava desesperada e com fome, assim como as crianças.
Depois do meu gesto, ela ficou feliz e esperançosa, teve ânimo e foi em
busca de novas oportunidades. Conseguiu um bom emprego e devia tudo a Deus e a
mim que fui uma serva amorosa.
Eu fiquei tão feliz por saber que a ajudei. Nunca me esqueci e procurei
observar melhor as oportunidades de auxílio. Muitas pessoas, depois que são
ajudadas, mudam a consciência sobre as outras pessoas, passam a se sentir parte
do todo. Como se não fossem deixadas de lado ou esquecidas. Estas questões
quando não são trabalhadas em coletividade podem levar o individuo à
frustração, crises emotivas, depressão e até ao suicídio.
Portanto, quem tiver algo bom para doar, por favor, comece agora. Em
toda parte, existem pessoas precisando de ajuda de todos os tipos.
Quem ajuda também recebe muito. Se eleva e sabe que é instrumento. Deus
sempre te encaminhará pessoas que precisam de ti porque está capacitado a doar.
CLAUDIA
18/11/19
-------------------------Paula Alves --------------------------
“EU APRENDI QUE AS PESSOAS TÊM ATALHOS
PARA NOS OFERECER”
Eu não tinha como me sustentar. Do interior para a cidade grande, cheio
de esperanças, cheio de planos. Eu queria estudar e fazer carreira, achei que
era possível. Pensei que as chances eram para todos. Mas, em pouco tempo,
minhas economias acabaram e eu não achava emprego. Os pensamentos são os
piores. Eu pensei em retornar para a casa dos meus pais, mas o orgulho me
impedia. Eu pensei em cometer pequenos delitos, furtos, mas eu não tinha esta
capacidade, tinha medo de ser pego, preso, era um covarde.
Então, pensei em pedir para a dona da pensão, explicar minha situação e
pedir um prazo para que pudesse arrumar um emprego, porém, eu não queria me
humilhar. Eu não sabia o que fazer. Poderia arrumar um bico, ajudante geral ou
catar material reciclável para arrumar um dinheiro, mas era humilhante demais
para mim, então, deixei esta ideia de lado. Eu suava porque não encontrava uma
saída.
Na hora do jantar dona Catarina me viu calado entre os outros rapazes e
veio conversar comigo. A dona da pensão era uma portuguesa astuta, parecia ler
a nossa alma, ela me interrogou sobre diversos assuntos e notou o meu desânimo,
minha tristeza.
Naquela noite, ela falou da vida de imigrante, da luta para se sustentar
e arrumar uma vida decente fora do seu país de origem. Ela explicou o que fez
para manter a família e disse que todo trabalho é digno se for bem feito, sem
picaretagem, com idoneidade. Falou também que quem quer ter alguma coisa e não
nasceu rico, tem que trabalhar duro, ser sério e sóbrio, ser controlado nos
gastos e ser humilde com todos.
Falou que a cortesia e a gentileza abrem portas para toda vida. Falou
que as pessoas gostam de gente educada, quem lida com a pessoa educada e
calorosa, nunca se esquece dela e sempre prefere contratar quem é assim. Ela me
deu uma lição de bons modos e depois falou que precisava fazer muitos reparos
na pensão, mas não tinha mão de obra, se eu quisesse poderia ajudar e ainda
dava tempo de procurar um emprego. Eu entendi que ela sabia de tudo o que se
passava comigo. Ela estava me ajudando. Deixei meu orgulho besta de lado e
resolvi seguir as orientações dela.
Eu aprendi que as pessoas têm atalhos para nos oferecer. Gente que já
viveu bastante e já aprendeu bastante e pode ensinar lição de vida. Isso vale
muito. Eu trabalhei duro na pensão, a danada da portuguesa era exigente e em
tudo via uma oportunidade de me ensinar a ser perfeito. Ela queria me educar e
conseguiu, eu nunca me esqueci dela e sou muito grato a dona Catarina, anjo em
minha vida.
Eu progredi, reformado, sério, homem de bem com humildade, respeito,
sobriedade e controle financeiro. Trabalhei, estudei, me casei e formei uma
linda família.
Problemas enfrentei, em cada solução, um aprendizado, uma sensação boa
de dever cumprido. Sempre foi assim, tentando enxergar o que precisava aprender
e conquistando a sabedoria que me fez prosseguir. Que bom que Deus coloca
irmãos mais instruídos em nosso caminho.
JONATAN
18/11/19
----------------------------------Paula Alves----------------------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“TALVEZ SEJA UMA QUESTÃO
DE CONSCIENTIZAÇÃO PORQUE NINGUÉM NUNCA SE ACHA VICIADO”
Eu levei um
tempo, quando cheguei aqui, para entender que ele sofreu muito com meu comportamento.
A bebida destrói toda a família. Eu gostava de beber com meus amigos. Era o
momento em que eu podia me esquecer dos problemas e viver feliz. Só que o tempo
passava e eu não me dava conta de que estava fazendo falta na minha casa.
No início
minha esposa pedia para o meu filho ir me buscar e o menino aparecia na porta
do bar, me chamava e eu ridicularizava o pobre. Meu filho saia chorando por
causa das bobagens que eu dizia na frente de todos. De repente, ela não enviou
mais o menino. Notei que ele se tornou distante. Simplesmente, fazia de tudo
para não me apresentar aos amigos e não estar no mesmo local que eu. Entendi
que ele tinha vergonha de mim. Os anos se passaram e eu sempre acreditei que
meu filho queria ser o que não era. Eu achava que ele desejava um pai melhor
com posses, alguém diferente de mim, mas chegando aqui precisei raciocinar
sobre o que de fato aconteceu.
O vitimismo
é terrível! Ele evitava estar nos mesmos locais que eu porque houve uma série
de encontros que foram muito constrangedores. Houve surras, insultos
verbalizados que acabaram com ele. Fizeram com que fosse menosprezado pelo
grupo de amigos para sempre, meu filho nunca se recuperou da maneira como o
tratei. Incrível como, deste lado, podemos ter um juízo equilibrado dos fatos.
Temos acesso ao que realmente ocorreu sem ficar facilitando para o ego.
Eu sinto
muito por tudo o que houve entre nós. Sei que fui o único responsável porque o
filho deseja o pai. As crianças idolatram seus pais e mães. Todos querem ter pais
modelos que podem exibir por aí. É um prazer para o filho poder apontar o pai,
poder dizer “Esta é minha mãe!” Mas, ninguém vai exibir o pai ou a mãe se estes
o constrangem de alguma forma. Se eles são propensos ao mal, se são
delinquentes ou desajustados, os filhos preferem mesmo a distância como uma
forma de se proteger de insultos que ferem sua moral, sua integridade física,
social ou mental.
Acho que no
ato, nem é um pensamento raciocinado, é mais instintivo. A pessoa faz de tudo
para se afastar com medo de sofrer. Eu não tinha como saber disso, enquanto
estive encarnado porque sempre estava alcoolizado demais para reparar nos meus
familiares. Uma enorme tolice a minha vida. Eu perdi muito tempo entorpecido.
Vi as imagens da minha esposa precisando de mim. Eles passando necessidade e eu
bebendo. Tentavam falar comigo, pediam ajuda, se preocupavam com as contas da
casa e eu ria e fazia gracejos, nem ligava, ia dormir.
Eles se
cansaram de mim. Minha esposa tentava pedir para os vizinhos em casos de
extrema necessidade e o pior, ela ainda era humilhada porque diziam que eu
tinha dinheiro para pagar a conta do bar.
Humilhações
de todos os lados que foram verdadeiras provações que souberam ultrapassar
unidos. Mãe e filho fortaleceram-se no mais puro amor. Lindo de ver o quanto
foram leais e cordiais entre si. Meu filho teve meu exemplo de vício e nunca se
envolveu com bebida, pelo contrário, ele se esforçou para auxiliar os filhos do
vício. Sempre teve o intuito de auxiliar jovens que tinham pais viciados. Ele
se formou psicólogo e deu uma ajuda comovente para estes jovens e também
encaminhou os pais para os tratamentos adequados, só comigo não funcionou.
“Santo de casa não faz milagre, mãe” – dizia ele.
Eu só
queria pedir perdão para o Josué, queria que ficasse bem claro que eu reconheço
meu erro, agora compreendi. Se eu pudesse teria me esforçado para fazer
diferente. Talvez seja uma questão de conscientização porque ninguém nunca se
acha viciado. As pessoas acham que podem parar a qualquer momento e também tem
uma falsa ideia de que o seu vicio não prejudica ninguém, mas vejam aí o que
ocorreu com minha família.
Eu espero que ele me perdoe e que o meu relato possa
ajudar alguém.
JOÃO PEREIRA
10/11/19
---------------------------Paula Alves-------------------------
“O DESENCARNE PODE SER
COLETIVO, MAS TODOS CAMINHAM SOZINHOS, POR ISSO, DEVEMOS BUSCAR A SERENIDADE
DOS SENTIMENTOS E O CONTROLE MENTAL”
O passeio
foi muito divertido, mas quando o carro rodou eu senti que não acabaria bem.
Meu pai não se preocupou de verificar os acessórios de segurança e nós
estávamos nos divertindo tanto.
Nunca imaginei que o cinto de segurança pudesse fazer
tanta falta. Naquele momento desejei estar em casa, estar no meu quarto para
que a vida não se acabasse. Eu tive medo e tentei orar, mas não consegui, foi
tão rápido. Aí escutei o barulho e senti um baque forte. Ouvi alguém dizer:
“Pode se soltar, vai! Faz de conta que vai flutuar e solta”.
Eu nem
estava entendendo o que ele queria dizer, mas sabia que alguma coisa tinha
acontecido, foi um acidente. Eu não ouvia meu irmão falando, meus pais também
silenciaram. Eu ouvi aquela pessoa que parecia estar me ajudando.
Respirei
fundo e soltei. Aí saí do corpo. Que horror! Eu me vi jogado dentro do carro, o
corpo estava em frangalhos, vi minha família e sofri, chorei. Estava para
entrar em desespero, mas o meu instrutor falou: “Vamos embora!”.
Eu não
queria ir. Eu nem sabia para onde ir e também não queria deixar meus familiares
e meu corpo. Como seria sem meu corpo? Eu não podia acreditar na minha morte
porque eu estava vivo. Eu estava tão vivo que consegui me lembrar do dia
anterior. Eu lembrei de todos os meus compromissos e da minha casa, da Melissa,
eu me lembrei de muitas pessoas. Estranho! Tinha certa lucidez em mim, mas o
instrutor lembrou que eu deveria prosseguir, ele me garantiu que eu receberia
todo o auxílio necessário para me reajustar e prosseguir. Eu aceitei e tentei
não olhar para trás. Fui muito bem assistido, fui bem informado. Já reencontrei
meus familiares, eles estão bem.
Engraçado!
Nós nascemos sozinhos e partimos sozinhos. A família estava unida no carro, mas
na hora do acidente nem deu tempo de dar a mão, ou seja, o caminho é
individual. O desencarne pode ser coletivo, mas todos caminham sozinhos, por
isso, devemos buscar a serenidade dos sentimentos e o controle mental, assim
será mais fácil, um pouquinho mais fácil na hora de partir.
CLAUDIO
10/11/19
-------------------------Paula
Alves----------------------
“CULPA É FEL QUE RÓI
DEVAGAR”
Eu estava
fugindo da polícia. Uma vez no caminho errado, nem a gente acredita que pode
mudar. Eu só sabia agir no mal, então já não me questionava se devia mudar de
vida, eu só conheci isso. Mas, foi complicado ver os erros que cometi. Enquanto
estava relacionado com questões materiais, eu não sofria, mas eu precisava me
esconder e resolvi apelar para uma moradia. Sai correndo, não pensei que o
policial investiria fundo na minha captura.
Adentrei o
barraco e uma criança me viu entrar. Quando ela gritou, eu assustei. Ouvi o
policial vindo na minha direção, ele correu e eu precisei me defender. Mas a
criança estava tão perto que foi atingida no fogo cruzado.
O policial
foi atingido e eu corri. Não soube o que ocorreu com a criança, mas o remorso
me acompanhou para sempre. A incerteza da crueldade cometida contra uma criança
foi suficiente para me deixar louco de culpa. Eu nunca mais peguei numa arma. O
cárcere mental em que me atirei foi pior do que todas as grades que você puder
imaginar. Culpa é fel que rói devagar.
Espero que
um dia esteja preparado para retornar e limpar toda a sujeira que eu fiz.
LUÍS INÁCIO
10/11/19
--------------------------Paula Alves--------------------
“AS PESSOAS QUE ESTÃO
SOB OS SEUS CUIDADOS NECESSITAM DO SEU MELHOR PARA QUE SE RESTABELEÇAM”
Eu pensei
que cuidava bem dele. Era o meu pai e eu queria viver minha vida, mas por causa
da forma errônea como ele se cuidou a vida toda, eu era obrigada a sacrificar
minha felicidade para cuidar dele. Eu achava o fim. Durante meses, eu fui atrás
de especialistas que pudessem me ensinar como cuidar daquela ferida, meu pai reclamava
de muita dor, mas eu não podia fazer grande coisa. Quando conseguimos uma
avaliação séria, o médico informou que a situação era delicada. Ele precisava
fazer curativos frequentes para que houvesse a cicatrização e não corresse o
risco de perder a perna, mas não adiantou ele explicar, eu achava que o médico
era exagerado e não fiz como ele explicou.
Nas
primeiras semanas eu fiz, mas depois fui me soltando, porém dois meses após
sofrer com a pele arruinada, ele retornou no médico e fui informada que ele
teria de amputar a perna porque não houve a cicatrização adequada, devido maus
cuidados.
A culpa foi
inteiramente minha. Eu fiquei com ele no hospital, cuidei dele, ele se
recuperou bem na base do possível, mas ele não teria sofrido tanto se não fosse
a minha negligência para cuidar dele.
Isso acontece com muita frequência. Nós somos
responsáveis, se a pessoa ou até mesmo o animalzinho que está sob nossos
cuidados, se fere ou adoece.
Deus sempre
nos fornece possibilidades de passar por nossas provações, mas se você não
realiza seu dever com todo o empenho, algo pode dar errado e, se dá errado, é
porque você não fez o seu melhor, mas as pessoas não têm culpa da nossa
irresponsabilidade, preguiça e má vontade.
Lembre-se:
as pessoas que estão sob os seus cuidados necessitam do seu melhor para que se
restabeleçam. Devemos fazer aos outros, apenas o que desejamos que os outros
nos façam.
LEONOR
10/11/19
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“O QUE FOI QUE EU
GANHEI COM ISSO?”
Foi como um efeito cascata. Nós desejamos melhorar de vida. Desejamos
ser independentes, ter nossa casa e nossa família. Então, arriscamos. Arriscar
é normal - dizia Karen. Eu estava feliz, ela havia aceito se casar comigo, eu
sempre fui apaixonado por ela. Tentava fazer todas as suas vontades, mas ela se
tornou muito exigente.
Nos casamos, compramos a casa que ela adorou. Mas, a casa era grande
demais, ela não conseguiria arcar com todas as tarefas domésticas, então
contratei uma serviçal. À medida que fomos adquirindo bens, foi necessário um
padrão de vida para mantê-los. Eu nunca imaginei que funcionava assim. Uma casa
grande exige recursos para mantê-la em ordem, para conservá-la em bom estado
precisa sempre de reparos e funcionários para tudo. Móveis caros para a casa e
uma dona de casa à altura.
Karen se preocupou em demasia com sua aparência porque as vizinhas se
comportavam de tal forma e ela tinha que estar à altura. Chegou num ponto que
meu emprego não conseguia manter o padrão, eu adorava meu emprego e meus
colegas, mas Karen me incentivou a buscar novos projetos e mudar de serviço.
Eu a ouvia em tudo e fiz o que aconselhou. Eu arrumei outro emprego que
me remunerou muito bem, porém não me deixava tão a vontade para realizar meus
projetos, mas o importante é que minha esposa estava feliz.
Foi quando eu disse a ela que precisávamos aumentar a família e ela se
espantou. Disse que eu estava diferente e descuidado. Eu precisava me arrumar
mais e me colocar à altura do nosso padrão de vida, ela desconversou. Notei que
Karen evitava crianças. Ela se irritava com crianças.
Eu pensei que poderíamos viajar para ficarmos mais unidos, foi aí que
ela veio com muitas solicitações. Se comparou com nossos vizinhos, pediu por
uma viagem ao exterior, desejou comprar roupas, sapatos e joias que a
valorizassem. Eu percebi que, mesmo no novo emprego, eu ia gastar mais do que
possuía, mas ela disse que eu estava trabalhando e daria conta de tudo. Fiz
dívidas e mais dívidas. Karen estourou o cartão. Quando percebi estava bem
endividado, porém ainda tinha o emprego para liquidar todas elas. Foi quando ela
disse que estava grávida e eu fiquei extremamente feliz. Ela quis uma festa
para mostrar a todos que seríamos pais. Eu faria todas a vontades dela, não
liguei para o preço. Eu estava feliz, mas de repente, tive uns problemas na
empresa e fui demitido. Karen ficou irritadíssima e me agrediu verbalmente de
uma forma que eu não imaginei ser ofendido. Eu me controlei porque ela estava
grávida, mas depois de dois dias ela falou que tinha perdido o bebê e ia embora
para a casa dos pais dela até que eu tirasse minhas coisas para que ela pudesse
retornar para casa.
Eu fiquei louco, desesperado. Estava envergonhado por causa das minhas
dívidas e não via solução em mais nada. Todas as ambições que eu tinha haviam
sido destruídas. O meu filho havia morrido e minha esposa não me queria mais, o
que eu poderia fazer.
Não pensei muito. Fui até a garagem, fechei tudo, entrei no carro e me
permiti morrer, findar aquela vida de derrota. Mas, o fim não chegou, apenas a
sensação asfixiante, o desespero e o remorso.
Lutei por muito tempo naquele corpo que morreu, depois perambulei por
muitos lugares e até ao lado da minha esposa. Ela me chocou, me fez desejar
nunca tê-la conhecido porque eu ouvi dos lábios dela ofensas ainda piores.
Ela nunca esteve grávida, apenas mentiu para ganhar uma festa. Ela nunca
me amou. Karen foi tão sincera com uma amiga. Após minha morte se sentiu
beneficiada porque, como viúva, era mais fácil conhecer alguém importante e se
casar sem que eu a impedisse de reconstruir sua vida. Nunca me enviou um pensamento
de carinho ou gratidão por tudo o que vivemos.
Eu me desesperei, acabei com minha vida e deixei de fazer coisas boas
para mim e por outras pessoas. Ela me cegou e o que foi que eu ganhei com isso?
NESTOR
03/11/19
------------------------Paula Alves----------------------
“ABRA OS OLHOS E VEJA
O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO POR TODOS QUE TE CERCAM”
Eu vivi muito. Foi uma vida boa, cheia de aventuras, de altos e baixos,
como dizem. Fui discriminado de muitas formas: como nordestino, como negro,
como pobre e, por último, mas nem menos importante, por ser velho.
Eu acrescento aqui ser um privilégio chegar na senilidade. Quanto mais
velho, mais tempo de encarnado. Eu aprendi muitas coisas, aproveitei a vida. Talvez,
não tenha aproveitado da forma como muitos acham que é bom aproveitar, com
vícios e prazeres. Não!
Eu trabalhei como ambulante. Eu vendia lanches na praça. Trabalhei assim
por quarenta anos. Vendi lanches e encontrei com muita gente. Quando você lida
com o público tem a oportunidade de conversar com muita gente. Aos poucos, só
de olhar sabia quando uma pessoa estava feliz ou triste, preocupada, indignada.
Eu prestava a atenção nas pessoas e usava tudo para o meu melhoramento.
Verdade, fui sozinho. Nunca tive uma família para mim. Nunca esposa ou
filhos que pudessem desejar minha companhia, mas eu tinha o povo. Tive meus
clientes. Tinha gente que vinha de longe para comprar meu cachorro quente.
Diziam que eu também dava conselhos. Sabe o que é? A gente ouve a pessoa e
torce para ela corrigir a vida, torce para ser feliz. Eu tentava me colocar no
lugar dela e dizia o que eu faria se pudesse decidir por ela. Foi muito legal
quando alguns deles voltaram para me agradecer. Diziam que tinham seguido meu
conselho e haviam se beneficiado de alguma forma. Isso me alegrava bastante.
Teve uma vez que eu fiquei bem de olho em duas amigas. Uma delas estava super
feliz porque o namorado a pediu em casamento, mas a outra julgava o sujeito,
falava mal e aconselhava a pensar melhor. Até falou de um outro sujeito que
estava gostando dela. Incentivou a deixar o noivo porque este era pobre, ela
devia se envolver com o que tinha carro.
Eu fiz o lanche e tentei não me envolver, mas não aguentei. Disse que
ela não devia ser tão invejosa, se fazendo de amiga e tentando atrapalhar a
vida da moça. Naquele dia me xingaram. Depois de seis meses a moça voltou, a
noiva. Ela me agradeceu, disse que estava de casamento marcado e era muito bem
tratada pelo noivo que era um homem honesto e trabalhador. Ela percebeu, depois
disso, que a suposta amiga, estava de olho no noivo, por isso, estava falando
mal dele. Quem desdenha quer comprar!
Com tudo isso, compreendi o quanto mexemos na vida dos outros. Mesmo que
de forma inconsciente. Cada um de nós está sempre se envolvendo na vida dos
outros. Devíamos pensar bem nisto. O que queremos dos outros e o que queremos
ser para os outros. Se estamos participando da vida das outras pessoas que seja
de uma forma positiva. Que seja para encorajar, amparar, impulsionar, dar
esperança e fé. Eu sempre desejei participar desta forma e acho que ajudei uns
e outros. Pense você também de que forma você entra na vida dos outros porque
tem gente que é egoísta, quer controlar os passos de todos só para se
beneficiar, ainda faz cara de santo.
Tem outros que se esquivam de suas responsabilidades, deviam cuidar
muito mais e são negligentes, neste contexto podemos falar de pais que fazem de
conta que as crianças podem se assumir sozinhas, depois que o pior acontece, se
queixam. Existe tanta forma de ajudar. Abra os olhos e veja o que você está
fazendo por todos que te cercam.
EMANUEL
03/11/19
-------------------------Paula Alves-------------------
“ACHO QUE BOM SENSO E DEVER TODOS NÓS
TEMOS, MAS ESCOLHEMOS SE IREMOS USAR OU NÃO”
Eu fiz a sopa do jeitinho que ela pediu e me esforcei para que gostasse.
Nos últimos três dias, ela estava sem apetite. Magrinha, quase sem forças para
tudo. Minha mãe foi um amor de pessoa e eu só tinha a ela.
Quando o fim se aproximou, eu temi. Eu não queria ficar só e ela era
tudo o que eu tinha. Eu me apavorei, orei muito, pedi para Deus não me tirar
dela. Senti que estava sendo egoísta, senti que ela tinha que ir, ficar livre
daquela doença que não a deixava respirar direito. Mas, eu tinha medo da
solidão, rezei tanto.
Não sei se foi Deus que ouviu minhas preces ou foi puro descuido meu. Só
sei que o caminhão veio e acabou comigo. Senti tanta dor. Olhei para o chão e
quis voltar correndo. O desespero tomou conta de mim porque eu percebi que não
estava morta, mas meu corpo estava em frangalhos. Falei com um e com outro, mas
ninguém me ouvia, ninguém me via.
Aí lembrei de mamãe e voltei para casa. Lá estava ela. Sentava no sofá,
olhando para o relógio e preocupada comigo. Passaram-se uns dois dias, minha
mãe com fome, debilitada. Eu notei que realmente estava morta e agora o
desespero só me afligia ainda mais porque não tinha ninguém com mamãe. Eu me
arrependi do pedido que fiz para Deus.
Será que o ser humano tem limites para o seu egoísmo?
Eu chorei tanto, desejei voltar no tempo, mas não era possível. Então, a
porta se abriu, era a polícia e as vizinhas que estavam preocupados com minha
mãe. Já sabiam do meu falecimento.
Eu glorifiquei a Deus porque pensei que ela ficaria melhor. Eles levaram
minha mãe para um asilo até que encontrassem alguém que pudesse ficar com ela.
Eu acompanhei tudo para saber com ela ficaria, mas me decepcionei com tudo o
que vi.
Eles não tinham paciência, não tinham respeito e nem educação com os
idosos. Eles queriam atenção, carinho, conversar. Eles eram mal tratados até na
hora de tomar banho ou para se alimentar.
Por fim, encontraram uma sobrinha que eu nem me lembrava mais. Pediram
que ela ficasse com mamãe e ela disse que não podia. Deu todos os motivos
possíveis para não levar minha mãe e foi aí que eu soube o quanto estamos
abandonados neste mundo de meu Deus.
Cada um por si, salve-se quem puder!
Fiquei ali do lado da minha mãe esperando a morte chegar para ela.
Estava tão arrependida porque se eu tivesse ficado para cuidar dela tudo seria
diferente.
Hoje eu sei que nada foge da Lei de Deus. Tudo o que ocorreu foi
necessário para que nos elevássemos. Foi bom para mim, foi bom para ela.
Enquanto, ela estava sendo mal tratada pelas funcionárias do local,
minha ira nasceu, eu desejei avançar em todas elas que não sabiam perceber o
que minha mãe queria, tudo o que ela precisava para ficar bem naquele local. Acho
que bom senso e dever todos nós temos, mas escolhemos se iremos usar ou não.
Tratar o outro da forma como desejamos que nos tratem, este é o lema.
Um dia, ela voltou. Eu estava perto dela, mas eu não pude ajudar. Estava
tão irada, tão desajustada que não pude nem me aproximar dela, mas não foi em
vão, me socorreram. Agora estamos aqui. Ela ainda está se recuperando da falta
de ar, mas já nos encontramos. Estamos bem graças a Deus.
CLAUDINÉIA
13/11/19
---------------------Paula Alves--------------------
“EU APRENDI QUE A GENTE TEM QUE TOMAR
CUIDADO COM O QUE DESEJA PARA OS OUTROS PORQUE A GENTE PODE COLHER TUDO”
Eu confesso que fazia de má vontade. Aquele lugar sempre me irritou. Na
época eu fazia para sacanear. Era um leão por dia até chegar em casa tarde da
noite. Trabalhei numa lanchonete muito movimentada no centro da cidade. Foi o
melhor que eu consegui e eu precisava muito do salário para levar comida para
quatro crianças e uma mãe doente. Eu nem podia sorrir, mas tinha que ser
agradável com todos. Ser agradável com todos é abaixar a cabeça muitas vezes
por dia, ainda mais quando aparecem pessoas arrogantes que acham que podem até
te tratar como um ninguém.
Foi um bom emprego partindo do pressuposto que eu tinha que abrandar meu
coração. Eu precisava ser tão humilde e acho que um pouco de humildade
conquistei através do sofrimento que atraí.
Quando a pessoa era educada, eu fazia o serviço de qualquer jeito porque
estava sempre cansada, querendo ir logo para casa, mas quando a pessoa era
arrogante, metida e implicante, eu fazia questão de não ter tantas condutas de
higiene para entregar o pedido. Depois eu ria de ver como eles saboreavam o
lanche.
Sempre achei que não dava em nada o que eu fazia, eu só queria castigar
de alguma forma, a pessoa que estava me destratando só porque eu tinha que
servi-la. O problema é que eu logo perdi o emprego. No início fiquei feliz
porque eu estava cansada e tudo me irritava, depois ficou bem difícil arrumar
outro e eu já senti falta do meu trabalho, do meu salário, da minha
independência.
Cada porta na cara que eu levava, me lembrava da forma como eu tratava
os clientes. Eu estava sempre carrancuda e mal humorada.
Pra completar comecei a me sentir muito mal. Eu não conseguia me
alimentar direito, comecei a emagrecer, tinha dores terríveis no estômago. Fui
ao médico e recebi a noticia de que estava com úlcera. Mas como? Eu não
conseguia compreender.
Foi esta a causa da minha morte. Foi tão rápido, tão doloroso, tão
devastador.
Eu aprendi que a gente tem que tomar cuidado com o que deseja para os
outros porque a gente pode colher tudo. Quando fazemos o trabalho emprenhados
em servir, não damos muita importância para as pessoas que querem nos humilhar
porque só é humilhado quem se deixa humilhar. Eu tinha vergonha do meu
trabalho, é isso. Nunca quis trabalhar. Mas, trabalho é dignidade e evolução.
Eu cuspi tanto nos lanches e quem sofreu do estomago fui eu, acredita?
Se
eu soubesse...
RENATA
03/11/19
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