Foi uma vida e
tanto...
Intensa de
sentimentos e motivações. Eu cuidei de tanta gente...
Pacientes com
cânceres. Eu fui enfermeira e amei minha profissão, cuidei com devoção e
envolvimento, apesar de muitos afirmarem que eu não devia me envolver tanto.
Cada um deles teve
um significado em minha vida. Percebi que eram como enviados dos Céus. Eu
pensava que estava fazendo algo por eles, mas cada um acrescentou de uma forma
específica. Quando eu achava que não tinha mais nada para adquirir, chegava
alguém me ensinando alguma coisa, me comovendo, me fazendo sentir algo
diferente.
Assim, eu pude
compreender como Deus falava comigo através dos meus pacientes. Em cada vida,
eu pude perceber o amor do Pai. Em cada sofrimento, pude compreender a nossa
necessidade de elevação e doação diante de todos. Somos um!
Fazemos parte do
todo e por mais que você não queira se envolver é, para isso, que estamos no
mundo. Todos nós devemos compartilhar experiências, afeição e ensinamentos. Só
assim, crescemos, apesar da dor.
Muitos me levaram a
crer o quanto a minha vida era fácil e tranquila. Eu tive tudo o que alguém
pode desejar. Uma família boa e unida, saúde, alguns amigos leais e
oportunidades materiais que me permitiram um caminhar sólido. Então, quando me
deparava com alguém vivenciando um grande martírio, minha única intenção era a
de facilitar o processo. Fazer por esta pessoa o que estivesse ao meu alcance
para que o sofrimento fosse apaziguado e ela ainda tivesse um pouco de conforto
e alegria.
Eu sorria e
brincava, falava demais, mas quando estava sozinha me permitia chorar. Sofrer
por eles, orar por eles, clamar por cada um deles.
Eu queria que as
pessoas estivessem mais envolvidas com o que é realmente importante, mas elas
só podem despertar e enxergar tudo isso quando reduzirem seu egoísmo e amor
próprio. Precisa de doação e desprendimento de si mesmo, senão, não se pode
enxergar o outro.
Eu queria que eles
pudessem compreender que nós podemos nos amparar mais e permitir que as pessoas
sejam assistidas em seus padecimentos. Isso é o mais importante: amar!
Eu servi aqueles
pacientes e fiquei muito triste quando não pude mais trabalhar por causa da
minha provação. Quando a doença tomou conta de mim parecia que tinha perdido
completamente minha alegria de viver porque eu só sabia cuidar de gente e era
tudo o que me agradava: cuidar, higienizar, consolar, ouvir, acalmar.
Sem isso, eu
definhei. Existem tantos que se movem por necessidades orgânicas, por conta das
paixões ou vícios e nem se deram conta do que as verdadeiras aspirações podem
fazer. O sacrifício e abnegação podem conduzir sem que você perceba que não se
alimentou ou não dormiu. É como se você não fizesse mais parte deste mundo
porque não precisa viver como os demais.
Eu tive esta grande
alegria. Eu tive olhos e ouvidos para ver e ouvir. Isso me proporcionou imensa
satisfação. Eu soube de todos os motivos e aproveitei demais as oportunidades
que me foram entregues. Só existem motivos para agradecer tudo o que foi feito
por mim. Agradecer pela confiança que me foi depositada para conduzir aquele
grupo de pessoas até o tratamento que os conduziria para um local muito melhor.
Com fé, serenidade e confiança no poder de Deus.
Gratidão por toda
equipe que conduziu meus passos.
CARMEM
26/03/23
--Paula Alves--
“AS PESSOAS TÊM A MANIA DE ACHAR QUE FOI LEVE QUANDO NÃO LEVOU A MORTE
OU NÃO DEIXOU MARCAS, MAS TUDO FERE”
Ainda não consegui
me livrar de algumas cicatrizes. Compreendo que elas estão enraizadas na mente,
por isso, o perispírito não se modificou.
Eu tenho tentado
compreender a situação dele. Tive acesso as imagens mentais e vi o que ocorreu
em sua infância. Os comprometimentos psicológicos em decorrência de abusos por
conta das agressões que a mãe sofria no ambiente doméstico.
Eu sou indulgente
porque concordo que nenhuma criança terá desenvolvimento saudável se vê sua mãe
sendo espancada todos os dias, mas daí a reproduzir na própria casa? Isso não
facilita o meu perdão.
O perdão é algo
sincero, sentimento que brota quando você eliminou toda porção de dor, de pesar.
Eu não desejo vingança, pelo contrário, quero esquecer, deixar para trás, mas
as marcas indicam que eu só falo, é tudo da boca para fora. Eu não consigo
eliminar o mal que ele causou em minha vida.
Também já me
mostraram o que causei a outras mulheres no passado, quando um dia, fui homem,
cruel, agressor. Eu compreendi a necessidade de sentir na pele o que fiz outras
sofrerem, mas não era para ser a Lei de Talião. Nesta ocasião, eu não mereci.
Porém, insisto
mencionar que sou grata porque a pena foi abrandada. Eu não desencarnei vítima
da crueldade do meu companheiro. Ele foi preso por crimes que cometeu fora de
casa e fiquei livre por muitos anos, mas nem por isso, sofri pouco enquanto
estava com ele.
As pessoas têm a
mania de achar que foi leve quando não levou a morte ou não deixou marcas, mas
tudo fere, fere na alma. Tem mulheres que são violentadas no próprio leito, por
seus próprios maridos quando não querem se entregar naquele momento, todos os
dias, quando eles acham agradável. Elas acreditam que precisam servir ao
marido. Por quê?
Tantas outras
analisam a situação da mulher afirmando que os tempos mudaram e estão muito
propícios porque na casa delas não ocorrem violências. Será que melhorou?
Quantas foram maltratadas hoje? Quantas perto de você foram ofendidas?
Não tem idade para
os insultos e covardias. No trânsito ou na escola, no local religioso. Basta
ser mulher para que a coragem em insultar se faça presente, mas se houver uma
presença masculina, o machão se acalma na hora. O diálogo muda e a frase é
melhor estruturada.
Vim para cá tão
ofendida e amargurada que tive a oportunidade de encontrar muitas vítimas.
Profundamente entorpecidas de tanto ódio e sede de vingança. Feminicídios que
não acabam mais e por quê? Se são as mulheres que insistem em dizer que as
coisas mudaram e melhoraram?
Não é geral.
Existem homens empenhados em defender e lutar pela igualdade e respeito para
todos. Existem mulheres que educam, amparam e socorrem. Mulheres de fibra e
caráter que não menosprezam o potencial de suas irmãs. Mulheres que torcem para
a vitória de outras mulheres sem competição ou inveja. Mas, o mundo ainda
precisa se preparar melhor para tudo o que está por vir.
Mentes mais
abertas, mais amor nos corações para que as pessoas possam avançar na evolução.
Que homens e mulheres possam se amparar com honestidade e decência. Sem
rivalidades ou disputas, sem medo ou qualquer tipo de discriminação.
Eu sofri e sofro
com as lembranças. Me dói quando uma delas chega aqui, vítima de agressões. Eu
queria que elas tivessem tido melhores oportunidades e pudessem ter sentido o
amor que eleva. Pudessem ter tido por companheiro, um homem de verdade. Homem
que se envolve com a mulher amada. Homem que não vê a mulher, apenas como uma
fonte de prazer, mas de desenvolvimento.
Mas, eu tenho fé
que, um dia, as coisas possam mudar realmente. Quando crianças e jovens
receberem melhores orientações em seus lares. Não por estas mulheres alienadas
e egoístas. Mulheres que, satisfeitas com suas vidinhas, viram as costas para
as demais. Mas, orientadas por mulheres que amam a Deus, a vida e a todos que
estão a sua volta. Porque nós fazemos parte do todo. Eu aceito retornar mais
uma vez como mulher. Porque a mulher pode fazer a sociedade ser respeitada por
todos.
ZIZA
26/03/23
--Paula Alves--
“TUDO SERÁ ELIMINADO EM NOME DO AMOR QUE VOCÊ SENTE POR SEU FILHO”
Levou um tempo para
encontrar, mas eu prometi que encontraria seus pais. Ele ficou conosco por
cinco anos e chorava a falta dos pais biológicos. O menino logo se afeiçoou e todos
nós acostumamos com ele.
Meus filhos tiveram
muita afinidade e minha esposa o tratava como filho. Tínhamos todas as
preocupações e conversamos com todos na pequena cidade para que nos informassem
se soubessem o paradeiro dos pais. Mas, como o tempo passou, decidimos
matricular em escola e cuidar para que nada lhe faltasse.
Jeremias estava
crescido e cheio de vida. Depois de cinco anos, desistimos de procurar por eles
e o menino estava reagindo bem à nossa família. Já estávamos fazendo planos de
estudo e profissão quando eles retornaram para reaver o filho.
Achei tudo aquilo
um absurdo. Eles abandonaram uma criança sozinha numa pequena casa no sertão.
Eu o encontrei, enquanto procurava um cavalo perdido. Como podiam reivindicar a
posse de um jovem como se tivessem entregue o menino aos nossos cuidados?
Eu não quis
entregar. Minha esposa ficou muito indignada. Nossos filhos tentaram impedir
dialogando com Jeremias, mas o menino ficou comovido pelo apelo dos pais.
A mãe biológica
disse que o pai estava doente e precisavam de toda a ajuda para que ele se
curasse. Eu disse que podia ajudar e ela se interessou pelo dinheiro, mas
Jeremias preferiu partir. Ele deve ter se lembrado de algum fato de sua
infância, algo que os unia com sentimento maior.
Depois de muitos
anos, eu o reencontrei. Eu nunca me esqueci dele. Tinha afeto como por um
filho. Sempre pensei que ele estivesse sofrendo, passando por privações, coisas
que conosco não passaria. Eu me questionei dos motivos que teria para
acompanhar aqueles pais. Mas, do nosso encontro, Jeremias me falou.
Disse o quanto o
pai sofria de dores terríveis. Eles não fizeram grande coisa com o dinheiro que
dei porque nunca tiveram juízo. O rapaz foi trabalhar para sustenta-los.
Conseguiu dar um fim digno para o pai e continuou vivendo com a mãe. Ele me
agradeceu, afirmando que jamais poderia retribuir tudo o que fizemos por ele.
Não apenas do ponto de vista material, muito mais do que isso, do ponto de
vista educacional. Ele tinha aprendido valores em minha casa. Valores que ele
não tinha conhecido com seus pais. Estes valores ficaram tão impregnados que
favoreceram na tomada de decisões até ali, ele se tornara um homem por tudo o
que aprendeu conosco.
Jeremias foi das
raras pessoas que conheci que me mostraram uma nobreza de caráter
impressionante. Ele se mudou para a nossa cidade, estávamos sempre nos reunindo
como se fossemos parentes. Ele se uniu com uma bela moça, teve filhos e cuidou
de sua mãe até o fim dos seus dias como um filho responsável.
Eu pensei muito
naquele exemplo de vida. O que os pais ofertam aos seus filhos? O que nós temos
para entregar? O que é mais valioso dentro de nosso lar? Como nós desejamos ser
lembrados por eles? Inevitavelmente, eles sempre se lembrarão dos pais, mas
como se lembrarão?
Como figuras
negligentes, ausentes, autoritárias, imprudentes, agressoras ou amorosas? O que
nós representaremos em suas vidas? Como ponto de incentivo ou destrutivo?
Eu sei que existem
lares tão terríveis que muitos preferem as ruas. Sei que existem pais tão
intimidadores que muitos, preferem os estranhos. Sei que outros desejarão fugir
ou se esconder. As lembranças serão tão terríveis que nunca se envolverão com o
sexo oposto, nunca terão filhos, nunca terão uma vida promissora. Porque não
terão forças para lutar contra as lembranças que ferem e magoam.
Mas, por que os
pais não podem amar? Veja como tudo está envolvido com o amor ou com a falta de
amor. Não importa o que você viveu com seus pais quando você sente amor pelo
seu filho. Com ele o círculo vicioso será quebrado. O círculo de ódio,
vingança, etílico, de hostilidade, do mal. Tudo será eliminado em nome do amor
que você sente por seu filho.
É assim que as
pessoas vão mudar todo o cenário, senão, será apenas um vai e vem de gente que
deseja o revide, deixando a evolução para a próxima existência, sempre para a
próxima existência.
OTON
26/03/23
--Paula Alves—
“O TEMPO É O NOSSO BEM MAIS PRECIOSO”
O que eu podia
querer? A vida sorriu para mim quando me colocou diante daquela pessoa. Eu me
senti tão a vontade. Eu estava reencontrando alguém muito importante que se
perdeu de mim por motivos que não pudemos impedir.
Nós éramos
vizinhos, melhores amigos, mas nossos pais tiveram uma grande desavença por
causa do trabalho. O pai do meu amigo perdeu o emprego e eles se mudaram. Nós
não tínhamos como nos falar. Depois, eu também me mudei com minha família.
Por um tempo, você
se envolve com as situações da vida e parece que esquece de algumas pessoas que
passaram por você. Sua vida segue, uns vão, outros vêm.
Quando ele apareceu
no meu curso, eu fiquei na dúvida, será que é ele? Mas, bastou um sorriso para
me certificar que era ele. O coração, apenas dispara, dando a certeza do quanto
aquela pessoa é tão importante para você.
Não tinha mais
necessidade de explicações ou de intimidações. Eu era apaixonada por ele e não
queria mais nada, nem ninguém. Depois de alguns meses, nos casamos. Claro,
contrariados por nossos pais, mas e daí? Eu só queria a nossa felicidade.
Parecia até que
sabíamos o que a vida nos apresentaria. No meio de tanta alegria, eu engravidei
da Estela, meu raio de luz. Alguns anos se passaram com as dificuldades
naturais da vida de casados, mas nada nos deprimia porque estávamos juntos.
Foi quando eu
comecei a me sentir mal, muito mal. Descobri a leucemia e fiquei muito triste
porque sabia que teria de me separar deles. Como seria? Ficar distante, eu
achava que distante para sempre. Eu pensava no meu fim e me preocupava com os
dois sentindo minha ausência e driblando a realidade. Eu me senti muito infeliz
e entendi o motivo de não duvidar do nosso amor.
Era como uma
certeza, um pressentimento. Eu precisava fazer tudo aquilo sem perder tempo. Eu
precisava estar com ele e ter nossa filha, enquanto eu tinha forças para isso,
enquanto tinha saúde, tempo de vida.
“O tempo é o nosso
bem mais precioso” - diz a médium, eu concordo com ela. O hoje é imprescindível
para fazer o que você acha mais importante. Não perca tempo, nem perca as
oportunidades. Faça o que acha correto e indispensável. Nós sentimos, nós
sabemos no fundo da alma o tempo que temos.
Muitos de nós,
conscientes das necessidade evolutivas, correm na vida, se esforçam, duplicam
as atividades para render porque sabem do seu tempo. Enquanto tantos outros
param e observam, ficam na ociosidade, cegos e embriagados, com as mentes
cheias de névoas e entorpecentes. Será que viverão muito e têm este tempo para
perder?
Faça tudo o que
puder, passa muito rápido pra quem tem compreensão das necessidades e deveres
assumidos.
Eu vivi
intensamente. Antes e depois da doença. Sem arrependimentos ou decepções. Foi
uma vida simples e maravilhosa. Eu tive uma família doce, gerei uma criança
linda e amável. Eu fui amada por meus pais e meu esposo. Eu deixei que o
sofrimento pudesse depurar meu Espírito e resgatei. Eu desejei ficar com eles e
no minuto final, tive medo de partir, eu tive muito medo porque não queria me
separar deles.
Mas, foi tão
tranquilo. Reencontrei pessoas que se lembraram de mim e me ajudaram no
desprendimento corporal e afetivo. Hoje, me preparo para retornar. Eu tive
muitos momentos alegres deste lado, fiz descobertas felizes.
Pude aguardar o
retorno do meu esposo e estamos juntos. Os laços não se quebram. Minha filha
está velhinha, logo virá para este lado. Ela teve uma boa vida.
Faremos planos e eu
regressarei em breve. Siga com fé, tudo está no caminho de Deus.
ROBERTA
26/03/23
--Paula Alves--
Eu me aprisionei
por muitos anos e preciso da libertação.
Foi como estar numa
caixa, encolhida e sufocada. Sozinha e temerosa de que o futuro não seria nada
melhor.
Muitos de nós são
responsáveis pela tortura psíquica a que se entregam, imobilizando ações
enobrecedoras, bloqueando os sentimentos sublimes e a consciência lúcida.
Por inúmeros
motivos assumimos a postura de algozes de nós mesmos e não permitimos qualquer
tipo de ação que possa tirar as algemas e fazer visualizar a luz.
Acredito que a
culpa e o remorso são os elementos indispensáveis para que isso ocorra, mas
existem outros fatores como complexo de inferioridade, medo ou a simples
submissão decorrente de autoridade paternal ou marital.
O fato é que, em muitas circunstâncias, precisamos de ajuda para abrir a caixa e dar o primeiro passo a caminho da luz porque a luz também amedronta.
Quando se passa
algumas dezenas de anos presa na caixa, já se conhece o espaço físico e a
dimensão do ambiente, você se acostuma com tudo na vida, até com o sofrimento.
É a fascinante oportunidade de adaptação do ser humano.
Mas, um lampejo de
luz insistente faz com que você tenha necessidade de superação e de libertação.
Eu sabia que
precisava me reencontrar no marasmo de mim mesma. Eu precisava me reconhecer e
tinha receio do que poderia descobrir sobre mim.
Passei a vida
tentando fugir, tentando me esconder, criando máscaras que pudessem me tornar
melhor. As pessoas estavam confortáveis com a pessoa que fui. Apagada,
silenciosa, apenas reagindo e cumprindo deveres. Uma vida morna e sem graça que
se acabou completamente sem deixar grandes vestígios.
Eu, simplesmente,
morri para o mundo.
Mas, aqui eu ainda
sou a mesma pessoa, precisando de esclarecimentos e ação. O que não se faz,
enquanto encarnado, irá se realizar no mundo dos Espíritos.
Eu recebi a ajuda
que tanto solicitei e estou fazendo análises, por isso, tenho boas
perspectivas. Eu não queria saber quem sou, do que sou capaz e o que me move
porque é feio e afasta as pessoas, mas isso não me tornou melhor, foi apenas
uma farsa.
Agora eu sei e me comprometo a mudar. Eliminar o mal que existe em nós não é fácil, exige esforço, renúncia e disciplina, exige sinceridade e força moral. Mas, a renovação é possível quando você tem motivos para que a mudança aconteça.
Já me sinto livre
porque a verdade apareceu. Eu não tenho motivos para me envergonhar porque
estou me separando da imagem que tive, da pessoa horrenda que fui, aquela que
punia e castigava inocentes.
Agora é um mundo
novo, cheio de possibilidades porque eu desejo ser livre de maus sentimentos e
indagações. Quero a certeza de ter a luz brilhando em mim.
NOÉLIA
19/03/23
--Paula Alves—
“A PENA É SEMPRE ABRANDADA. NÓS SÓ TEMOS MOTIVOS PARA AGRADECER”
Cheguei aqui e
naturalmente, meu corpo se espreguiçou.
Foi longo o período
de clausura naquele corpo imóvel, rígido e sem função.
A aparência que
assusta e afasta. A certeza de que nada te espera, não existem melhoras ou
oportunidades. É estar ali, sempre do mesmo jeito, esperando o dia de morrer.
Muitos diziam isso, achando que eu não compreendia e não falava, mas eu pensava
em tudo e eu falava com a mãe, chorava com ela, reclamava.
Eu me perguntava
por que tinha que ficar ali, parado, enquanto os outros tinham vida e
movimento, tinham felicidade.
Mas, a mãe falava
longos momentos do quanto eles sofriam. Meus irmãos também desabafavam no seio
maternal. Diziam que o trabalho era ruim, falavam do carro que não era tão
confortável, do quanto a esposa era instável e desequilibrada, dos filhos que
perturbavam o ambiente familiar e também mencionavam a tragédia do ter para
ser. Eles almejavam tanto...
Eu também ouvia, eu tinha que ouvir. Com a extrema necessidade de sair dali correndo para me entregar a outros assuntos, eu precisava ouvir todas as lamentações infantis e tolas dos meus irmãos.
Será que eles não
percebiam o quanto eram favorecidos com uma vida maravilhosa? Eles não podiam
reconhecer que já possuíam muito e, além disso, podiam conquistar com seus
esforços?
Reclamavam e eu
desejando assumir seus lugares, apenas por um dia, por um instante sair daquela
posição em que a mãe me deixou.
Ela dizia que eu tinha um raciocínio brilhante e que Deus tinha um propósito para mim porque só Ele podia ter as respostas, as justificativas para explicar porque eu precisava permanecer ali. Se eu pudesse, teria conquistado tantas coisas e feito trabalhos de elevação. Eu ajudaria, teria uma família e apoiaria minha esposa. Trataria minha mãe como rainha e iria ensinar aos irmãos que o mais importante é ser gente do bem.
Mas, por um
estranho motivo, eu era espectador, crítico, analista. Queria saber o que deu
errado, por que eu precisava padecer naquela clausura, definhar aos poucos até
que minha vitalidade se extinguisse por completo.
Antes de partir,
tive as respostas num sonho. Fui padre, ouvi tantas lamentações, tantas confissões
que não me comovia com mais nada, nem me chocava.
Era compreensível
que o ser humano podia fazer todo tipo de crueldade. Eu não podia mudar
ninguém, nem ajudar, então era tudo igual, todo dia, as mesmas sentenças: “Reze
70 vezes, reze 100 vezes, reze!”
Eu nunca informei,
nunca tentei impedir que o mal se alastrasse dentro ou fora deles. Era como
dizer que podiam errar novamente porque a repetição verbal os absolvia.
E eles pecaram,
muitas vezes, sem que eu me incomodasse. Refleti que minha prisão foi necessária,
mas Deus, ainda assim, soube ser Pai porque me aprisionou num corpo e permitiu
que uma mulher maravilhosa cuidasse de tudo.
A pena é sempre
abrandada. Nós só temos motivos para agradecer.
GABRIEL
19/03/23
--Paula Alves—
“A VIDA BRILHA PARA A PESSOA QUE SE ENCHE DE FÉ E SE TRATA COM O DEVIDO
RESPEITO”
Levei as meninas
comigo. Jamais permitiria que lhe fizessem algum mal.
A privação material
é prova leve diante dos maus tratos. Agressor em casa é calvário. Chega num
ponto em que você perde a própria identidade, como se entendesse que nasceu
para ser castigada e precisa aceitar.
Eu me subordinei
àquela vida. Apanhei tanto que não tinha mais constrangimento das minhas
filhas, familiares ou vizinhos.
Ele também se
acostumou. Bateu tanto que perdeu a vergonha, não se intimidava e batia por
qualquer coisa.
Eu estava horrível,
sempre machucada e mancando porque a mão do homem é pesada. Não existe tapa que
não fere, murro que não derruba. Toda agressão é violência na alma que a gente
leva uma vida para esquecer.
Ela falou que eu
permiti que começasse. Eu permiti que ele dominasse a minha vida. As pessoas
nos tratam da forma que permitimos, todas as pessoas da nossa vida, até mesmo,
aquelas que vem de forma passageira.
Fiquei me perguntando onde errei para dar a entender que eu permitia ser insultada. Como foi que ele entendeu que eu não gostava de carinhos e delicadeza, respeito e diálogo?
Mas, depois de
tantos coices, já não tinha mais como mudar. Vivi ofendida por anos. Até que me
surpreendi com o olhar da minha filha. Por um instante, inverti os papéis. E se
fosse com ela? Se fosse um homem espancando minha filha? Eu conseguiria dormir
em paz?
Me olhei no espelho
e despertei. Aquela situação ridícula tinha que mudar. Pensei em mata-lo,
tamanha raiva que senti do corpo machucado e de todos aqueles anos vivendo como
refém.
Mas, eu podia
reconstruir minha vida e ser bom exemplo para minhas filhas. Quando ele saiu,
peguei alguns pertences, arrumei minhas meninas, sorri para a vida que podia
sorrir para nós e partimos.
Não tive medo, mas
esperança porque tinha tudo o que necessitava. Encontrei a clareza mental pra
me libertar do agressor, coragem para cuidar de mim e da minha família, fé
porque sabia que Deus conduziria nossos passos.
Foi incrível como
as coisas mudaram, tudo deu certo, mas eu passei anos me perguntando por que me
submeti a tudo aquilo. Por que não dei um basta logo que começou? Por que eu
permiti que me tratassem como um saco de pancadas, um “lixo” como ele dizia.
Nenhuma mulher
merece ser tratada como “lixo”, como “ser inferior”, como criada.
Nossos sonhos são
respeitáveis, temos todas as condições de encontrarmos a felicidade por nossos
esforços.
A vida brilha para
a pessoa que se enche de fé e se trata com o devido respeito.
Não permita que
ninguém te trate com leviandade e agressão. Trate-se com respeito e dignidade.
Deus sempre abençoa nossos esforços, perseverança e dedicação.
PATRÍCIA
19/03/23
--Paula Alves—
AS PESSOAS OUVEM E REFLETEM NAS PALAVRAS E EXEMPLOS. O TEMPO NÃO É
PERDIDO E TUDO SE ENCAMINHA PARA O BEM.
Ele matou meu
cachorro porque disse que o bichinho urinou no carro. Eu tinha 6 anos.
A mãe dizia que ele
tinha problemas, acho que ela queria justificar a maneira como ele nos tratava.
Ela dizia que eu
tinha que amar muito e ter respeito porque ele nunca deixou faltar nada para
nós, mas eu morria de raiva. De forma inconsciente, me colocava a imaginar
diversas situações onde ele morria, por acidente ou doença.
Parecia que minha
felicidade dependia do seu fim, mas eu sabia que não podia desejar a morte do
meu pai, então eu chorava, me sentia mal como se a maldade procedesse do fundo
da minha alma.
Eu desejei mudar e
me entender com ele, mas foi impossível pela maneira que ele me surpreendia,
sempre tratando as pessoas com grosseria ou discriminação, sendo impulsivo. Eu
tinha vergonha daquele homem, do meu pai.
Me esforcei para
sair de casa, sabendo que a mãe jamais o abandonaria, mas eu não suportava mais
aquele convívio. Fazia de tudo para não encontrar com ele e viver em paz,
porém, problemas com pai e mãe, questão mal resolvida, pesa nos outros
relacionamentos.
Eu via nas outras
pessoas as características dele. Os defeitos detestáveis estavam por toda
parte, me lembrando que em alguma parte, aquilo estava em mim. Mas, como
eliminar de si tanta influência?
Aprendi com ele, aprendi como não deveria agir, o quanto era detestável conviver com alguém intransigente.
Eu não podia ser
como ele e, mesmo que tivesse todas as suas características, eu tinha que
bloqueá-las, silencia-las até que sobressaísse, apenas características mais
brandas e delicadas, assim eu podia ter melhores relacionamentos na sociedade.
Envelhecemos, ele
foi piorando. A menos que a pessoa compreenda a péssima criatura que é e se
esforce sinceramente para uma nova postura, nada muda, pelo contrário, ainda
piora.
Cheio de
arrogância, parecendo ser o dono da verdade, grosso e mal humorado, ele
padeceu. Primeiro da solidão porque nem a mãe aguentou tanto insulto. Ele já
não tinha amigos leais ou familiares amorosos, então, ficou só.
Depois, veio a
doença. Alma ruim, corpo doente. Não se pode ter plena saúde e vitalidade
quando a mente desencadeia os bloqueios decorrentes de energias deletérias.
Ele padeceu e eu
tinha a obrigação de socorrer e cuidar. Eu fiz tudo o que pude por dever
filial, não por amor porque meu pai não cultivou amor em mim. Mas, compreendi o
quanto ele precisava receber o melhor que pudesse entregar.
Naqueles dias
difíceis, quando esperamos por horas para realizar exames, eu não facilitei. Em
cada palavra ofensiva eu retruquei, eu me posicionei diferente e informei que
as pessoas gostam de gentileza e educação.
Ele ficou
pensativo, como se estivesse descobrindo alguma coisa. Eu devia ter falado
antes.
Deus nos coloca em
contato uns com os outros, todos misturados, bons, ruins, inteligentes,
diplomáticos, atenciosos, arrogantes, orgulhosos, vaidosos, generosos, todos
juntos, para que, uns possam aprender no convívio com os outros, mas quando
calamos diante do erro ou da maldade é como se fossemos coniventes, como se
apoiássemos a coisa errada.
Você deve falar!
Expor, demonstrar, explicar senão, eles não entendem e não avançam, não
progridem e nada muda.
As pessoas ouvem e
refletem nas palavras e exemplos. O tempo não é perdido e tudo se encaminha
para o bem.
Ele não teve uma
mudança drástica, não deu tempo. O corpo se acabou e ele morreu. Mas, eu já o
encontrei aqui. Quase não o reconheci. A mente superou tantos obstáculos que
modificou a estrutura perispiritual, deixando a aparência bem diferente.
Gostei do que vi e
do que ouvi. Não temos muitos elos de afinidade, mas ele me agradeceu e eu me
senti livre daquela vida de angústia.
ISABELLY
19/03/23
--Paula Alves--
“COLOQUE-SE NO LUGAR DA OUTRA PESSOA E AUXILIE SEMPRE”
Queria que todas as
meninas da comunidade pudessem ter condições de estudo e trabalho digno, comida
na mesa e pais amorosos.
Me doía ver o
quanto eram molestadas e agredidas dentro e fora de casa. A discriminação é
algo doentio.
Cada uma de nós
sabe o peso de ser mulher. Se não sofreu pelo machismo dentro de casa, sofreu
indiferença e abusos, fora de casa. Para mim, a situação era complicada fora de
casa. Eu percebia nitidamente a diferença quando me tratavam diante de um rapaz.
Meus chefes não ficavam constrangidos para pagar muito menos pelo trabalho que
as mulheres desempenhavam.
Até na hora de
falar conosco era diferente. Com a mulher tem autoritarismo, com homem tem
respeito. Muito diferente! Nós recebemos olhares diferentes, olhares que nos
diminuem ou olhares de cobiça. Eu nem sei dizer o que é pior.
No meio de mulheres
a coisa é mais cruel porque existe uma disputa irracional. Nós devíamos nos
apoiar, sermos mais solícitas e indulgentes porque conseguimos compreender os
problemas das outras, mas não é assim. As mulheres olham com inveja, repelem e
afastam. Tratam muito melhor o homem e ofendem a irmã sem conhecê-la.
Por que isso acontece?
O meu maior consolo é saber que existe a inversão dos papeis. Se hoje você é mulher, na próxima vida, pode vir como homem e vice versa. Isso expressa a máxima Lei de Justiça e Igualdade.
Se você tratou uma
mulher com discriminação, pode atrair pela Lei de Causa e Efeito, a situação
semelhante na próxima vida. Pra mim, tudo faz sentido e me consola demais.
Porém, reconheço
que as pessoas precisam pôr um fim na discriminação de todo tipo para que o
sofrimento nesta Terra tenha fim. Perda de tempo taxar alguém, confundir,
imaginar, ser maledicente, caluniador ou preconceituoso. Não tem justificativa!
As pessoas devem
ser medidas por seu valor e por suas obras. Ninguém pode ser avaliado por seu
sexo, cor ou nacionalidade. Eu sofri a discriminação e abusos por ser mulher,
mas ainda assim, acredito que nascer no sexo feminino abre um campo grandioso
de enobrecimento.
O corpo feminino
permite desenvolver inúmeras sensibilidades e potenciais. A maternidade nos
coloca diante de um amor que é inexplicável, tamanha proporção. Capaz de fazer
com que o sacrifício e renúncia sejam naturais. Nós sentimos tanto e nos
afeiçoamos tanto, embora nem sempre, os filhos sejam do ventre, o que quer
dizer que o amor não está ligado ao sangue.
Eu aproveitei
deveras minha última passagem pela Terra como mulher e solicito retornar mais
uma vez como mulher. Eu amo a experiência feminina, apesar de todos os
empecilhos e dificuldades que envolvem este sexo, ainda assim, eu desejo me
desenvolver mais uma vez nesta condição.
Rogo a Deus que as
pessoas desenvolvam suas consciências e compreendam que todos nós precisamos nos
apoiar, homens e mulheres. Nós precisamos observar no outro, um ser nivelado na
igualdade, sermos mais humildes em nossas considerações.
Não deve haver
rivalidades, mas respeito dos direitos concedidos por Deus e pela Lei dos
homens. As mulheres devem amar-se, aproveitar a oportunidade no vaso sagrado e
estimular ao máximo tudo o que a feminilidade pode conceder como a maternidade.
Entre as mulheres
deve haver mais união e apoio mútuo, sem competitividade ou invejas. Coloque-se
no lugar da outra pessoa e auxilie sempre. Faça pelo outro o que deseja para
si. Crer que a superação é possível quando você se esforça de verdade porque
Deus sempre abençoa.
LETÍCIA
11/03/23
---Paula Alves---
“A MISSÃO DA MULHER DIANTE DO MUNDO É GRANDIOSA, LIGADA A RENÚNCIA
COMPLETA DE SI MESMA PELO BEM COLETIVO, FAMILIAR”
Foi uma época tão
antiga. Eu gostava de cavalgar, correr pelos bosques e me sentir livre, apesar
dos atos insolentes dos homens ao meu redor.
Meu pai não deixava
nem respirar, estava sempre controlando meus passos. Eu achava tão errado a
distinção que fazia entre os filhos e as filhas, mas ninguém tinha coragem de
olhar nos olhos dele, apenas eu. Por isso, fiquei sendo a filha rebelde.
Ele nos humilhava diante de todos e dizia que a mulher não tinha alma. Fora criada por Deus para servir os homens. Que pensamento ridículo e antiquado! Eu me sentia profundamente ofendida, queria contrariá-lo, mas o padre insistia nisso.
Não era permitido
estudar, nem decidir qualquer tipo de coisa, incluindo o casamento. Éramos como
coisas dos homens. Passadas do pai para o esposo, na melhor das hipóteses, sem
contrariedades. Sempre muito educadas e submissas.
Foi, por isso, que
muitas de nós se rebelaram. Surgiu tanto ódio e desejo de vingança. Quantas
violentadas e agredidas brutalmente. Isso sempre aconteceu! A mulher com
direito de expressão, direito ao voto e diploma é progresso.
Sei que precisa de
muito diálogo para que as pessoas compreendam o real papel da mulher na
sociedade. Me parece bem óbvio, mas noto que, entre as próprias mulheres,
existe certa confusão.
A mulher conduz a
Humanidade porque é ela que participa assiduamente da educação dos filhos. Este
é o poder da mulher. Poder no desenvolvimento dos menores. Assim, ela incute
nas mentezinhas infantis, com todo o seu amor e desvelo, tudo o que quiser. Ela
será diretamente responsável por tudo o que infundir na mente infantil, está
diante dela a sua total responsabilidade se este ser se sair bem ou mal no seu
caminho porque foi ela que montou o cenário do bem ou do mal.
Existem muitas que
desviam do compromisso e se recusam a assumir compromisso com família. Achando
que podem se entregar aos prazeres do mundo. Crendo que, diplomas, ascensão no
trabalho ou conquistas materiais fazem dela uma pessoa realizada. Pergunte-se
se isso preenche o seu coração.
A mulher foi feita
para grandes realizações diante do semelhante. Quando ela não pode ter filhos
do próprio ventre, pode adotar ou consagrar-se a tarefas beneméritas junto a
necessitados nos asilos ou orfanatos. Dar amor é seu dever.
Existem muitas
outras que formam família e sentindo a tarefa árdua demais, entregam-se ao
desânimo e abandono do dever. Fingem que não veem os vacilos dos familiares
como se não dependesse dela a correção dos entes queridos.
Está diante de nós
o cumprimento do dever e o jubilo de sentir-se vitoriosa. A missão da mulher
diante do mundo é grandiosa, ligada a renúncia completa de si mesma pelo bem
coletivo, familiar. A mulher se desenvolve de tanto se doar. Ela compreende
que, apenas o amor nos salva e nos guia rumo a Deus.
SOLANGE
11/03/23
---Paula Alves—
“PRECISARÁ RECOMEÇAR E COLOCAR EM PRÁTICA AQUILO QUE ADIOU”
Abdiquei de tudo
por minha liberdade. Foi demais para mim!
Eu amava meu esposo
e achava que podia viver com ele para sempre. Nossa vida era feliz, mas logo
vieram os filhos. Ele dizia que queria uma grande família e não estava de
brincadeira. Eu engravidei muitas vezes, a contra gosto.
Cheguei a tomar
chás abortivos para me livrar de mais uma responsabilidade. Eu estava cansada
de parir, ficar sem dormir, amamentar, correr com criança doente e ter uma vida
cada vez mais precária a cada nascimento.
Dizem que: “onde
como um, comem dois...”
Mentira! Comem
nada! Tudo se acaba: a paciência, a coragem, o dinheiro. Eu não tinha como
suportar. Só sabia bater em todos eles que não paravam de correr e de aprontar.
Criançada chata! Eram meus filhos, mas me irritavam demais. Eu não conseguia
descansar um só minuto.
Teve gente dizendo
que eu tive depressão e não tive tempo de me recuperar. Sei lá de depressão, só
sei que um dia surtei. Peguei uns trapos e fui embora sem olhar para trás.
Fiquei muito tempo pensando o que aconteceu com eles.
Sete crianças e um
homem abandonado. Eu levei dez anos para voltar e observar de longe. Deixei meu
menor com quatro anos. Observei da esquina e vi como estavam crescidos. Até
perguntei deles na padaria e o moço falou que era uma família de muito respeito
porque haviam sido abandonados pela mãe, mas o pai soube cuidar de todos muito
bem.
Eu nunca me esqueci
do amor que meu esposo tinha pelos filhos. Muito carinhoso e atencioso. Quando
chegava em casa não tinha cansaço, me ajudava a dar banho e alimentar, velava
quando estavam doentes.
Ele era homem, mas
soube dar amor de mãe, por isso, estavam tão bem cuidados. Eu só entendi quando
cheguei aqui. Dizem que é a pessoa que já evoluiu demais nesta Terra. Ele é
homem, mas sabe expressar sentimentos femininos. Não tem nada a ver com
questões homossexuais, de jeito nenhum. É ser homem por completo, gosta de se
relacionar com mulher, mas sabe ouvir e apoiar, sabe amar integralmente, com
abnegação, renúncia e sacrifício. Desvelos de mulher.
Meus filhos tiveram
muita sorte porque o pai podia oferecer tudo o que necessitavam. Acho até que
ficaram livres de mim. Eu seria aquela a perturbar a paz do ambiente familiar.
Fracassei! Já me
disseram que terei de retornar com a mesma proposta porque meu plano ficou
inacabado. É isso que ninguém quer entender. Quando a gente opta pelo caminho
mais fácil, tenta fugir do caminho das pedras, nós renunciamos o plano de Deus
nas nossas vidas e ficamos em débito com a Lei. Passe o tempo que passar,
seremos sempre devedores. Precisará recomeçar e colocar em prática aquilo que
adiou. Isso quer dizer que você acha que é esperto de se livrar de um
compromisso e está sendo tolo porque não enganou ninguém só perdeu tempo de
evolução.
Bobeira! Não faz
hoje para fazer daqui há duzentos anos. Sofre de consciência pesada, passa
pelas regiões umbralinas para sentir na pele o que fez os outros sofrerem e tem
que enfrentar tudo de novo. Ah! Se eu soubesse... Será que teria enfrentado?
MARIA SUELI
11/03/23
---Paula Alves---
“UM DIA, A MULHER TERÁ ORGULHO DO CORPO QUE RECEBEU, APROVEITARÁ SUA
OPORTUNIDADE E SERÁ HONRADA EM CASA E NA SOCIEDADE”
Não deu certo!
Naquela época não tinha estudo, ninguém tinha assumido os riscos. Você aceita
ser cobaia porque não bate bem da cuca, sabe que pode dar errado.
Mas, o fascínio
pelo que se quer é grande. Eu não queria aquele corpo de mulher.
Eu já tinha passado
por tantos sofrimentos já na infância. Molestada pelos tios, insultada pela
mãe, meu pai era tão machista...
Eu tive uma família
de seres cruéis. Quem é que merece ser tão maltratada dentro de casa? Sempre me
perguntei isso. Eu devia ser alguém muito ruim para não ser aceita dentro de
casa. Ser mulher me fez sofrer tanto que eu repugnava aquele corpo de
mulherzinha, indefesa e frágil. Deixando claro que as pessoas podiam fazer de
mim tudo o que quisessem.
Eu não queria mais
sofrer por causa da minha aparência, então cortei os cabelos bem curtinhos,
deixei os vestidos de lado e não me contive para usar trajes de homem, mas
ainda tinha traços muito femininos que me denunciavam. As pessoas me olhavam e
os rapazes me ameaçavam. Eu não suportaria ser usada novamente.
As marcas de um
estupro são profundas. Leva muitas vidas para apagar. A gente sofre a vida
toda, passa para o mundo espiritual com bloqueio psíquico, precisa de terapia
por tempo indeterminado e reencarna sentindo medo, repulsa de homem, com
complexo de inferioridade, medo de falar em público, tudo para não se mostrar
porque pode ser agredida novamente.
Isso é empecilho ao
desenvolvimento. Mas, os doentes por sexo não podem alcançar este raciocínio,
infelizmente!
O fato é que eu
achei que precisava apagar os traços femininos que existiam em mim. Soube de um
estudo experimental com uso de fármacos que podiam mudar a aparência e eu quis
me candidatar, mas a coisa toda estava no início.
Eu sabia que não
tinha garantia e refleti que podia ter efeitos colaterais, mas era minha única
alternativa. Tentei por meses. Mesmo me sentindo mal, não fraquejei, insisti.
Eu tinha muitos
efeitos colaterais, dores abdominais, crises intermináveis de enjoo e vômito,
mas me animei achando que estava crescendo um pelos no rosto. Em seis meses
meus rins começaram a reclamar, depois foi o fígado, enfim, para encurtar o
drama, o corpo não aguentou e eu desencarnei.
Teria sido um
grande alívio me livrar daquela vida de sofrimento, se não fosse pela causa da
morte. Eu antecipei meu regresso, então, suicida. Mas, o pior, violei mais uma
Lei. Eu não aceitei os planos de Deus na minha vida. Desejei ser o próprio Deus
que muda até o sexo. Eu afrontei as leis e estava distorcendo as células. Tive
o abrandamento da pena porque é analisado. Cada caso é um caso, Deus ama todos
os Seus filhos e os recebe com misericórdia, mas eu ainda estou tentando
corrigir as lesões que ocasionei no corpo espiritual e na mente em desajuste.
Tudo é delicado.
Não pode ser resolvido da forma que almejamos. Não é fácil mudar tudo e ser
quem não é. Cada um de nós tem um planejamento organizado especialmente para a
sua evolução e desenvolvimento. Tudo depende de nossos esforços e compreensão,
respeito pelas Leis e ações nobres.
Eu compreendi que
foram resgates necessários. Não existem vítimas! Eu também já fui homem e usei
o sexo de forma leviana, mas “ai daquele que causar escândalo”. Nada justifica
o ato cruel diante da mulher.
Um dia, o homem
olhará para a mulher com o maior respeito, tentando ser companheiro e amigo no
desenvolvimento em questão. Um dia, a mulher terá orgulho do corpo que recebeu,
aproveitará sua oportunidade e será honrada em casa e na sociedade, será
presença fundamental para a elevação de todos.
MARA
12/03/23
“TUDO PARTE DO PENSAMENTO. ENQUANTO, AS PESSOAS NÃO COMPREENDEREM A REAL
NECESSIDADE DE REAJUSTE MENTAL, CONTINUARÃO SOFRENDO”
As pessoas têm a
tendência de achar que o mal é provocado, apenas quando se fere gravemente
outra pessoa, seja este mal, físico ou moral. Porém, não costumam refletir
diante dos males provocados através do pensamento.
Inveja,
maledicência, ressentimento, rancor, desejo de vingança. Tudo o que aciona a
força do pensamento e emanação fluídica maléfica que pode provocar danos
terríveis em si mesmo e no outro.
Tudo parte do
pensamento. Enquanto, as pessoas não compreenderem a real necessidade de
reajuste mental, continuarão sofrendo.
É difícil controlar
uma mente em desequilíbrio. Ainda mais, uma mente que passou centenas de anos,
muitas reencarnações vibrando de forma negativa. Mas, depende do esforço de
cada um.
Primeiramente, a
pessoa tem que aceitar que está mantendo um pensamento viciado no mal. Ela é
pessimista, maldosa, invejosa ou vingativa. Depois que aceita que está
necessitando de reajuste, passa a disciplinar o próprio pensamento numa atitude
diária de empenho contra o mal que existe em si.
Desta maneira, ela
precisa mudar o foco do pensamento sempre que reiniciar o padrão deletério.
Alguns dizem que é muito difícil porque não conseguem, nem sequer, orar para
desviar do padrão negativo. A prece seria a melhor maneira de desviar do mal.
Mas, se não conseguirem finalizar o “Pai Nosso”, por exemplo, devem buscar
outra forma de desviar o pensamento do mal, como por exemplo, ouvindo música
harmoniosa ou com leitura edificante.
Tudo é uma questão
de treino. Disciplinar o pensamento é fundamental para se alcançar a melhoria
individual.
A forma como
projetamos o pensamento pode trazer saúde e bem estar, neutralizar as
influências de seres do mal e nos colocar em contato direto com seres do mais
Alto. Em contraposição, quando insistimos em manter uma postura hostil diante
de nossos semelhantes, somos os primeiros que nos nutrimos do próprio fel, isso
desajusta nossos centros de energia, permitindo que doenças se instalem em nós.
Somos responsáveis
por nossos próprios pensamentos e também por tudo o que estes pensamentos
despertam nas outras pessoas. Responsáveis pela onda de harmonia ou de
sensações desagradáveis produzidas nos ambientes em que nos encontramos.
Nós podemos viver
mais e melhor quando estamos com plena consciência de nossas responsabilidades
diante do mundo. Todos os nossos atos trazem consequências.
ERASMO
GURGEL
04/03/2023
----Paula Alves—
“QUANDO NÓS TEMOS UM PROBLEMA, NÃO DEVEMOS NOS DESESPERAR OU ACHAR QUE É
INSOLUCIONÁVEL”
Eu não queria
aceitar, mas morria de inveja.
Enquanto eu tinha
uma vida medíocre, ela parecia estar sempre feliz, sempre bonita. Por que ela
podia conquistar todas as coisas boas, enquanto eu vivia um inferno todos os
dias?
Eu já acordava
pensando no que ela estava comendo. Imaginava o que ela estaria fazendo durante
o dia e como tinha que se divertir à noite.
Eu olhava para a
minha vida e só tinha frustrações, meu marido nem me olhava direito, tinha
vícios e não trabalhava. Meus familiares nunca se importaram conosco, meus
filhos viviam doentes. Eu só reclamava. Cheguei a blasfemar dizendo que Deus se
esqueceu de mim. No fundo, eu me sentia uma pessoa desprezada e infeliz. Então,
olhar para a vida dela era o meu único passatempo.
Eu nem me dei conta
de que passei a persegui-la. Pra mim, foi algo natural, perguntar da vida dela
para todos que estavam ao seu redor.
Nós trabalhamos
juntas por um tempo, mas ela sempre se mostrou muito animada e esforçada. Ela
dizia que, com esforço e disciplina, podemos conquistar qualquer coisa porque
Deus abençoa aqueles que se esforçam. Eu achava bonito aquele jeito de enxergar
a vida, mas pensava que tudo era muito mais fácil para alguém como ela.
Eu me sentia
injustiçada diante dela, mas aqui fui obrigada a pensar que nós temos o mesmo
Pai que não faz distinção entre seus filhos amados. Eu também tinha boas
oportunidades, mas perdi muito tempo cuidando da vida dela, invejando. Perdi
energia pensando em como ela estava vivendo e esqueci de cuidar da minha vida.
Eu aprendi que,
quando nós temos um problema, não devemos nos desesperar ou achar que é
insolucionável, mas nos acalmarmos, colocar a cabeça em ordem e nos
concentrarmos para achar o melhor caminho para solucioná-lo. Com tranquilidade
mental sempre achamos uma solução. Deus não envia fardos maiores do que podemos
carregar. Mas, o meu problema foi a tal da inveja. Eu não pude me concentrar em
minha própria vida.
Sei que as
emanações fluídicas decorrente de pensamentos de inveja foram produzindo
toxinas em meu cérebro. Aos poucos foi ficando cada vez mais difícil
conjecturar de forma clara. Eu não produzi uma doença no cérebro que
necessitasse de cirurgia, não desenvolvi um tumor ou Alzheimer, mas eu estava
sempre agitada, inquieta, ansiosa, não conseguia refletir adequadamente para
encontrar estratégias para o meu progresso.
Eu pensei tanto
nela que desestruturei meu cérebro. Eu não sabia que acontecia desta forma.
Acho que se tivesse tido algum tipo de esclarecimento teria tentado me
controlar. Mas, a verdade é que, às vezes, nós fazemos isso como um escape. É
fuga da própria realidade sabe? Coisa de gente covarde que não quer enfrentar
os próprios problemas e se entrega a pensamentos inúteis sem saber que eles
podem comprometer de forma irreparável.
Graças a Deus que
consegui esta assistência e estou sendo bem esclarecida deste lado. Assim,
posso me comprometer com um novo retorno cheia de boas possibilidades. Eu
desejo um seguro recomeço.
CLARISSA
04/03/2023
--Paula Alves—
“APRENDI QUE UMA PALAVRA MAL DITA PODE ARRASAR COM A VIDA DE ALGUÉM”
Minha língua ferina
foi o meu mal. Era um vício.
Eu nem percebi
porque fazia isso desde pequenino. Aprendi com meus familiares que, levando na
brincadeira, falavam de Deus e o mundo.
Eles falavam dos
vizinhos e gargalhavam diante de algum desassossego, alguma ruina social,
gravidez indesejada, filho homossexual, doença incurável, falência financeira,
traição, divórcio, morte, tudo era motivo. Do fato pequeno que causava vergonha
diante dos outros, do tropeço na esquina, do alcóolico que falou alguma
bobagem, até uma grande tragédia, tudo era motivo.
Meus pais e avós
não perdiam uma ocasião de comentar e ridicularizar a vítima. Eu ouvia e dava
risadas, sem saber raciocinar direito sobre por que estavam rindo, mas aos
poucos, fui pegando a malícia de ser maledicente como meus antepassados.
Coisa de família.
Herança moral desastrosa que conduz a ruina. A gente não se dá conta de que
está agindo como disseminador do mal na sociedade.
Aprendi que uma
palavra mal dita pode arrasar com a vida de alguém. Fofocar, escandalizar,
bisbilhotar não ajuda em nada. Muitas vezes, o boato começa pequenininho, se
alastra como rastilho de pólvora e acaba com a integridade moral de alguém,
comprometendo o relacionamento conjugal, no ambiente de trabalho ou social de
forma geral. Afasta as pessoas, gera brigas, vinganças e separações, ou seja,
só produz o mal.
Nada de bom pode
nascer de um assunto no qual as pessoas não estejam envolvidas para se
defenderem, nem saibam o que realmente aconteceu, ainda mais, com um fundo de
maldade.
Nós fizemos isso
várias vezes. Fomos coautores do mal, participamos à distância de muitas
discussões e destruições de lares.
É incrível como as
notícias desastrosas chamam mais a atenção. Na sociedade, quando alguém faz
algo de bom, as pessoas até comentam, mas o assunto é passageiro e sem muitos
interesses, porém quando a coisa é ligada ao mal, rende por dias e meses.
Parece que todos se interessam em sua divulgação.
As pessoas deviam
avaliar se desejariam o mesmo para elas. Invasão de privacidade e sigilo
pessoal. Eu devia ter aprendido a silenciar dentro da minha casa. Ouvir um
assunto e não comentar, não espalhar a fofoca, deixar morrer em mim. Nós não
devemos repassar. Finalizar o assunto e dizer que não nos interessa, ou então,
mudar de conversa para algum assunto que seja produtivo, falando de auxílio,
caridade, trabalhos úteis, paz.
É difícil porque na
minha condição, não tive ninguém ao meu redor que fosse diferente disso, digo
que fui estimulado a ser maledicente desde criança. Mas, após ter sentido na
pele a maledicência acabar com meu casamento, me dei conta de que muitas
pessoas sofreram diante de nossas línguas ferinas.
Por fim,
desencarnei vítima de um câncer na língua, sofri bastante. Ninguém conseguia
entender porque eu tive esta enfermidade se eu nunca fumei. Mas, o mal foi
produzido pela própria língua venenosa. Eu compreendo e reconheço que necessitava
da pena que me foi imposta.
JURACI
04/03/2023
--Paula Alves—
“É ISSO QUE ACONTECE QUANDO NÓS NOS PREOCUPAMOS
TANTO EM FERIR O OUTRO”
Falei que havia
perdoado, mas no fundo, nunca consegui esquecer o que ela me fez passar.
Minha mãe me deixou
com a avó aos quatro anos. Ela dizia que estava indo para São Paulo em busca de
emprego e melhores de condições de vida para nós. Nunca esqueço a dor que senti
ao me separar dela. Numa criança, a sensação é de abandono. Como se ela não
quisesse ficar comigo e eu fosse desprezada.
Preferia ter
passado fome com minha mãe. Ter ido como ela para São Paulo e viver na
mendicância. Qualquer coisa seria melhor do que passei.
Minha avó não foi
boa para mim. Mesmo sem se lembrar, intuitivamente, devolvia as ofensas que a
fiz passar no pretérito. Ela me batia muito e deixava de dar alimentos para me
castigar. Eu tinha medo até de falar.
Quantas vezes não
dormi passando frio, sentindo fome e com medo do tio que chegava bêbado. Foi
por pouco que ele não me molestou.
Depois de dez anos,
ela apareceu, dizendo que sentia saudades e ia me levar com ela. Fui para fugir
da avó, mas não porque estava feliz em vê-la. Eu guardava muito ressentimento.
Ninguém tirava de mim a dor daquele abandono.
Eu olhava para
minha mãe sentindo raiva, uma vontade de revidar e fazer com que ela sentisse
tudo o que eu senti. Mas, fui ensinada pela avó a ter medo, por isso, eu passei
a vida toda respeitando minha mãe.
Casei, tive filhos
e dei graças a Deus que ia sair do contato dela para cuidar da minha família,
mas o amargor que eu guardava no coração nunca me permitiu ser realmente feliz.
Assuntos mal resolvidos com os genitores trazem muito sofrimento. Por isso,
Jesus falava tanto do perdão. Sem ele, não dá para seguir em paz.
Mas, eu não tinha
como limpar aquela magoa de criança, então, vivi como deu. Eu quase não a
visitava, não tinha a menor vontade de vê-la, mas eu fui sua única filha e
quando ela adoeceu, senti certa satisfação porque sabia que ela ia precisar de
mim.
Eu nunca falei para
ninguém porque não podemos ser tão francos na sociedade. Quem entenderia se eu
dissesse que estava me sentindo vingada. Como se uma justiça invisível
fornecesse a ela tudo aquilo que ela merecia passar para me ressarcir do
sofrimento de dez anos. Eu senti um quê de felicidade pela desgraça dela.
Eu nunca neguei
socorro e nem me ausentei. Levei nos tratamentos médicos, mas nunca fui sincera
ou carinhosa. Fui seca e cruel, dizendo que as coisas podiam piorar. Não
permitia que ninguém tomasse o meu lugar porque eu gostava de estar por perto,
vendo a situação dela. Eu regozijava.
Mas, ela partiu e
nem por isso, me senti muito melhor. No fundo, as coisas pioraram bastante
porque eu não tive o que desejei a vida toda. Eu só queria que ela tivesse
confessado que se arrependeu daquela escolha. Que sentia minha falta e fez
errado em seguir sem mim.
Por isso, acho que,
se as pessoas se colocassem no lugar das outras e agissem com mais franqueza,
tudo seria mais fácil. Eu podia ter perdoado a minha mãe e não teria deixado o
meu coração tão doente.
Foi tanto que
precisei colocar um marcapasso. Eu mal conseguia andar, sentia tanto mal dentro
de mim. Eu ainda me considero como uma vítima, mas estou pensando que não fui
muito diferente da minha mãe.
Existem mães que
estão de corpo presente. Estão em casa, ao lado dos filhos, mas não estão com
os filhos de mente aberta, coração entrelaçado no amor que eleva. Mães que se
preocupam mais consigo mesmas, se preocupam com o cônjuge, com o trabalho, com
o passeio ou namorado. Mães que reclamam da maternidade, que rejeitam os
filhos, mas não puderam abrir mão deles.
Estas mães também
não estão fornecendo o seu melhor e estão dentro de casa. Eu fui assim. Eu
pensei tanto na minha mãe, no meu revide e me esqueci que também tinha uma
filha para cuidar.
A Nádia precisou
muito de mim. Ela engravidou porque não tinha malícia, se deixou enganar facilmente
por um jovem que a desprezou e eu não me coloquei no lugar dela. Eu permiti que
ela tivesse o bebê em casa, mas não me cansei de culpa-la. Eu não dei o apoio
que ela precisava, a atenção de mãe também faltou no meu lar.
Enquanto
eu culpava a minha mãe, deixei de cumprir bem o meu papel. É isso que acontece
quando nós nos preocupamos tanto em ferir o outro.
REBECA
04/03/2023
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