Cartas de Julho (16)


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“É MUITO BOM SABER QUE NÃO ESTAMOS SÓS”

 Eu precisava passar por aquele abalo emocional para me deparar com o mundo espiritual. Perder minha mãe foi algo difícil de superar. Eu não pensei que a dor seria tão profunda.

Eu sempre fui independente, tinha marido e filhos. Meus pais eram importantes, mas acho que eu não saberia prever que eram tão importantes assim.

Quando meu pai morreu, nós sentimos muito, mas ela ficou e precisou de tantos cuidados, afeto e atenção para que pudesse superar e eu estava ali para segurar a mão dela. Eu me preocupei tanto com ela, que ela conseguisse se reerguer que nem notei o tempo passando, apesar de toda minha dor.

 O fato é que nós nos acostumamos com as pessoas disponíveis, bem perto de nós. É fácil saber que aquele que ama sempre estará lá e você não se preocupa com o que pode acontecer porque as tarefas são inúmeras e o tempo corre.

Mas, um dia, ela teve que partir, o coração não aguentava mais e chegou o dia dela retornar, mas eu não estava preparada.

Eu queria segurá-la comigo, perto de mim. Ela me ouvia com tanto amor, ela me dava bons conselhos e torcia para que desse certo.

Seus pais são seus melhores amigos, com certeza! Pais de verdade são sinceros e leais, torcem, oram, compreendem e são solícitos, prestativos, carinhosos. Por que será que muitos filhos ainda não perceberam isso? Decerto porque estão muito iludidos com a matéria, deslumbrados com miragens.

 Ela morreu e eu perdi meu chão. Naquele instante, foi como se eu compreendesse o quanto estaria perdendo em termos de afeto. Ninguém poderia substituí-la, mas eu precisava continuar. Retornei à casa dela, casa que nos alojou por muitos anos e eu a vi sentada no sofá, ela estava tristonha e pensativa, mas sorriu para mim.

Eu quase pirei. Achei que era o fim, a morte, o ponto final. Então, imaginei que estava exausta e vendo coisas da minha imaginação. Somos tão tolos! Não queremos racionalizar sobre coisas que não compreendemos e, sobre isso, eu não sabia nada.

 Chorei tanto. Depois disso, passei a vê-la com uma frequência impressionante, mas nunca contei a ninguém. Ela me consolava sobre a sua própria morte e eu me acostumei com aquele contato amoroso, amigo.

Mas, tudo o que é bom, um dia chega ao fim e, numa noite de outono, ela se sentou ao meu lado e disse que teria que partir, aquele não era um jeito adequado de prosseguir. Eu chorei porque, para mim, era um jeito de continuar, mas ela disse que sempre estaria me observando e, um dia, estaríamos juntas novamente. O verdadeiro amor fortalece os laços de afeição, mesmo, após a morte.

Assim, tive momentos onde visualizei uns e outros, recebi mensagens, senti arrepios.

Minha mediunidade chegou após o tormento de perder minha mãe e me trouxe a certeza da imortalidade. Somos seres eternos, cheios de responsabilidades.

Se tivéssemos esta compreensão, desde pequenos, poderíamos evitar tantos erros, tantos tropeços. Nós poderíamos nos tratar com mais respeito e humildade sabendo que nossas posições na sociedade mudam o tempo todo e cada um de nós reencontra seres queridos em posições diferenciadas.

É muito bom saber que não estamos sós.

JACINTA

25/07/20

 ----------------------Paula Alves------------------------

 “AS INFESTAÇÕES VIRAIS VÊM DISSO”

 Eu gostava de pescar. Ficar no silêncio, admirando o paraíso de Deus e refletindo sobre os homens insensatos.

Por que fazem isso ou aquilo? Eu nunca fui melhor que ninguém, mas me impressionava com a maldade humana. Com as atitudes alheias, com a falta de vergonha na cara, a falsidade e a malandragem.

Cheios de cobiça, necessidades materiais e hipocrisia. Não importava a condição financeira ou intelectual, sempre tinha alguém querendo tirar vantagem e se prevalecer sobre os demais.

 Eu vi muita coisa que gerou indignação. No início, não sabia o motivo de tanta agitação, tanta rebeldia.

Desde criança, em nossa casa, com um pai abusado que batia em minha mãe e tentava, de forma insistente, molestar minha irmã. Eu tive tanto horror e critiquei minha mãe diversas vezes, por que ela não o coloca para fora de casa?

Por quanto tempo teremos que fingir que ninguém aqui percebe o que está acontecendo?

Mas, Deus é tão justo, a Justiça divina é tão correta que, um dia, ele não voltou para casa e foi achado morto num beco sujo. Ainda tinha gente falando que ele não merecia, era um bom homem, marido amoroso e bom pai. Aonde?

 Foi um alívio não ter meu pai por perto, um grande alívio. Cresci, minha mãe superou, meus irmãos cresceram. Mas, nós sempre convivemos com mesquinhez e preconceito de todos os tipos. Por que minha mãe era viúva, nós éramos pobres, negros ou por que não gostavam de nossa cara mesmo. Sempre existe um motivo para alguém te apontar. As pessoas gostam de tratar mal. Vai demorar muito ainda para isso mudar, muito tempo.

As crianças sofrem, os idosos sofrem, mulheres sofrem e todos que são diferentes sofrem porque a maioria quer ditar as regras.

Sei lá. Vi tanta coisa ruim, pescar era uma saída para respirar fundo. Acho que isso tudo que está acontecendo deve servir para que todos reflitam em suas ações. As pessoas poderiam deixar a vida dos outros de lado e serem honestas consigo mesmas. Pensar quando foi a última vez que agiu com sinceridade com outra pessoa. Quando foi a última vez que se preocupou com a integridade física ou mental de alguém?

Se esta pessoa tem o que comer em casa ou se ela está pensando em se suicidar porque está desesperada?

 Na verdade, os pensamentos habituais estão relacionados ao eu. Sempre primeira pessoa do singular e se eu me der bem, que se dane o mundo.

Se eu me curar, ótimo. Se eu tiver dinheiro para meu bem estar, ótimo. Se eu dormir em paz, ótimo. Os outros não me interessam, eu não me comovo e nem me incomodo. A verdade é esta, meu amigo.

Eu vi muita coisa e percebi que aqueles que tem olhos para ver, devem falar o que estão vendo. Não é gritar, nem esbravejar, tão pouco brigar, mas dialogar, informar, notificar.

 As pessoas precisam ser acordadas. O mundo está doente faz tempo, muito tempo. A doença mental e moral que quase destruiu o planeta todo. As infestações virais vêm disso, mas pode ser corrigida com o bem, com o antídoto do amor, da fraternidade e da solidariedade que tantos pronunciam e bem poucos sentem o que realmente significa.

Quem souber sentir dentro do peito, ensine os outros através de exemplos no bem. Tenham Jesus por Mestre perfeito que distribuiu sem pedir nada em troca. FAÇAM SEM DESEJAR MOSTRAR, SEM OSTENTAR, MAS FAÇAM PARA ESPALHAR O ANTÍDOTO DO AMOR.

MISAEL

25/07/20

 -----------------------------Paula Alves---------------------

 “SE NÓS FOSSEMOS TÃO PREOCUPADOS COM OS SENTIMENTOS COMO SOMOS PREOCUPADOS COM A MATÉRIA, SERIAMOS MUITO MELHORES?”

 Passei minha vida sentada naquela máquina de costura. A maioria daquelas roupas finas, nunca poderia ter acesso. Eu ficava feliz quando terminava um vestido e via o que minhas mãos fizeram. Eu criei meus quatro filhos como costureira e um dia, eu me arrependi de não ter vivido fora daquela máquina.

Sei lá, o tempo passa muito rápido. Eles cresceram tanto, se tornaram homens e mulheres sem que eu tivesse tido tempo para perceber.

Eu vivi no automático, apenas cumprindo deveres, realizando formalizações. Não tive tempo para passeios, festas ou conversas fiadas, passatempo. Meus filhos se acostumaram em me ver sentada ali, sem ter tempo para nada. Levantava de madrugada e me deitava tarde para terminar a tempo.

 Eu vi quando se formaram, eu vi quando alguns se casaram e outro foi morar longe para trabalhar. Vi quando saíram, nem me deram um abraço, não reclamo, eles me trataram da forma que ensinei.

Muitas vezes, nós nos queixamos que as pessoas não são carinhosas conosco, falamos que elas não nos dão atenção, não visitam, mas foi esta a maneira que eu fiz com eles.

Quando crianças, eles me pediam para brincar, passear, ler com eles ou ficar assistindo uma coisa qualquer, mas eu tinha que trabalhar, eu sempre os deixei de lado por obrigações que achei imprescindíveis.

Eu pensei que teria o tempo ao meu dispor. É terrível se arrepender por causa disso. Eu achei que poderia esperar. A brincadeira poderia esperar, a novela poderia esperar, o carinho, a conversa, tudo podia esperar até que eu terminasse o meu trabalho, mas eles não esperaram.

Eu errei muito. Ensinei que fossem trabalhadores, mas eles, tanto quanto eu, acabaram valorizando o lucro material, o benefício, a casa, o carro, a conta. As pessoas sempre podiam esperar.

 Então, um dia, eu morri sem ter feito o que eu realmente queria fazer. Um deles, se separou porque a esposa cansou de esperar por atenção do marido. A minha filha também se divorciou porque soube que o marido a estava traindo, os outros dois, nem mesmo se envolveram porque não tinham tempo para namorar, estudavam demais, trabalhavam demais.

Por que as pessoas fazem isso?

Por que não seguem o desejo do coração? Ainda mais quando este desejo só pode trazer paz e contentamento? Se você se senta com o seu marido para conversar, fica em paz, fica feliz. Se quando você brinca com o seu filho, você fica em paz, fica feliz e a sua criança se sente amada e querida?

Por que não podemos viver os sentimentos com cuidado?

 Se nós fossemos tão preocupados com os sentimentos como somos preocupados com a matéria, seriamos muito melhores?

Já pensou se as pessoas ficassem tão preocupadas com os sentimentos alheios?

Cautelosas para não ferir ou magoar os sentimentos das outras pessoas?

 Eu acho que tudo teria sido bem diferente. Na verdade, eu não precisava ter sido uma funcionária relapsa, nem precisava ter sido inadimplente, mas poderia ter arrumado um tempinho para fazer um cafuné nos meus filhos e isso poderia ter mudado tudo.

ELZA

25/07/20

 --------------------Paula Alves----------------

 “ATÉ UMA CRIANÇA PODE SABER O QUE É CERTO E ERRADO”

 Eu queria aquele anel. Estava cansada daquela mulher ficar se exibindo para nós.

Por que ela tinha que ser tão escandalosa?

Eu trabalhava tanto. Dia e noite, trabalhava naquele hotel para solucionar os problemas de nossa casa, mas eu odiava aquela vida.

Sabe quando o seu corpo dói de tanto trabalhar? Sabe quando você tem que levantar bem cedo, mas queria dormir mais um pouco?

Eu poderia ter sido rica porque não gostava nem um pouco daquele trabalho. A verdade é que eu tinha que trabalhar muito e não via como as coisas podiam melhorar para mim. O pessimismo já havia invadido o meu ser e eu não sentia vontade de sorrir para nada.

Aí aquela gerente ficou se exibindo com aquele anel de noivado. Eu achei um absurdo. Não roubei o anel porque pretendia usá-lo, eu nem era tão vaidosa assim, eu roubei para acabar com aquela conversa, chega de ficar comentando, falando de casamento e vida cheia de felicidade.

Felicidade? Pais velhos, irmão doente, aluguel para pagar, telhado quebrado, como assim?

 Eu roubei o anel, sem remorso, procurei um local para vender e conheci algumas pessoas que me incentivaram a roubar as joias dos hóspedes, foi assim que tudo começou.

Roubo e dinheiro fácil, quase fui pega, saí de lá, me envolvi com roubo de automóveis e consegui comprar uma casa para minha família.

Eu já paguei doutor. Eu já revisei tudo e na minha cabeça existem uma série de motivos, uma série de problemáticas.

Até uma criança pode saber o que é certo e errado. O errado não se justifica, mas é mais fácil fazer o certo tendo possibilidades né?

 Um riquinho roubar é um absurdo, mas eles roubam até dos miseráveis.

Eu digo que não é justificando, mas a necessidade faz o ladrão. Você ouvir um parente falar de fome quando não tem nada dentro de casa, é a ocasião. Você sentir frio, você sentir dor ou não ter dinheiro para comprar o remédio de alguém que você ama, é a ocasião.

Eu poderia ter recusado. Poderia ter procurado trabalhar mais ou ser humilde e ter pedido dinheiro emprestado, eu cheguei a fazer isso e não consegui ajuda nenhuma. Quando notei, estava totalmente envolvida com atos ilícitos.

 Eu já paguei, mas se você me perguntar se eu faria tudo de novo, vou pensar para responder porque eu sei que é errado, mas eu tinha gente dentro de casa que precisava de mim, precisava daquele remédio, daquela comida, daquele dinheiro.

Deus é bem amoroso doutor. Ele avalia tudo, as nossas intenções importam bastante.

Eu sou criminosa, estou chegando aqui e sendo bem tratada. Faço tratamento, tenho oportunidades, mas é complicado analisar a vida e pontuar onde errou e os motivos que te levaram a fazer isso ou aquilo. Eu ainda não sei. Fácil julgar, mas eu sei que ninguém queria estar no meu lugar, ninguém!

CRISTINA

25/07/20




-----------------------Paula Alves-------------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“DESTA FORMA, PODEMOS ABANDONAR VELHOS HÁBITOS DE DELINQUÊNCIA, FANATISMO OU ESCRAVIDÃO”

 

Foi uma grande alegria quando soube que poderia estudar. Eu tinha completa noção de que não estudaria muito, mas saber as letras e poder formar palavras, escrever meu nome, era motivo de felicidade.

Naquela época, eram muitos que colocavam o polegar, a impressão digital era a assinatura de tantos quantos não tivessem a oportunidade de serem alfabetizados.

Por outro lado, as mulheres sempre passando por discriminação, estavam em menor número porque se achava que não precisássemos ler ou escrever, a não ser para procurar leviandades. Era o contrário, eu queria saber ler o jornal, queria poder me basear nas certezas, não ser enganada porque era analfabeta como aconteceu com meus pais e irmãos mais velhos. Por ter perdido alguns bens, meus pais acharam essencial que os filhos mais novos pudessem ser alfabetizados e eu tive esta oportunidade.

Em outras existências, poetisa.

Quanta contrariedade para evoluir. Nós temos que deixar uma série de potencialidades de lado para despertar outras. Eu tive que abdicar de meus desenvolvimentos intelectuais para me enriquecer como mulher negra e pobre no Brasil.

 

Valeu a pena! Tudo o que aprendi me fez valorizar muito mais os conhecimentos que adquiri nas diversas jornadas.

Saber ler, conseguir escrever com desenvoltura, raciocinar sobre o que aprendeu, é riqueza absoluta. É desta forma, que nos libertamos de raízes profundas, desta forma, podemos abandonar velhos hábitos de delinquência, fanatismo ou escravidão.

O conhecimento é tudo. A leitura faz com que possamos nos atrever a sermos aquilo que desejamos. Nós podemos ir a todos os lugares e pensar de muitas maneiras, sem alucinação ou alienação.

Por isso, eu fiquei tão feliz, mesmo sendo criança, mas já sabendo a importância que teria aquele momento para o resto daquela vida.

 

Os pais devem se esforçar e deixar claro a todos os seres que procuram se alfabetizar o quão importante é esta experiência para toda a jornada que se seguirá.

Realizando todos os compromissos com gratidão, nunca com pesar ou queixas. Grato pela oportunidade de aprendizado edificante que abrirá muitas portas no futuro.

VALDENICE

18/07/20

 -------------------------Paula Alves------------------------

 

“NÓS NÃO PODEMOS JUSTIFICAR COM DIFICULDADES DE TODOS OS TIPOS A DERROCADA DO SABER

 

Eu quis que eles aprendessem, eu desejei ensinar para que fossem ágeis, astutos e não fossem coagidos ou enganados por falta de sabedoria ou de entendimento.

Eu queira que a igualdade prevalecesse em toda parte e a forma como a instrução chegava a uma pequena parte da nação me intrigava.

Eu poderia ter ensinado na cidade, mas preferi me sentir extremamente útil naquele povoado onde as crianças se felicitaram com a minha chegada e os adultos me pediram para ensinar também a eles.

 

Faltava de tudo! Cadernos, lápis, borracha, tudo de improviso, tudo com dificuldade, mas quando as pessoas começaram a compreender, foi a minha alegria.

Não existe paga maior do que perceber que o seu trabalho digno, cheio de esforço, transformou a vida de alguém. Saber que a sua iniciativa modificou a vida das pessoas traz uma satisfação que não tem palavras.

Eles se tornaram indivíduos. Pessoas que pensam para responder, que raciocinam, que se sentem capazes de falar à altura.

Percebi que as pessoas precisam de respaldo intelectual, precisam se sentir cheias de conhecimento para se estruturarem com confiança.

       Eles tiveram posturas diferentes.

Hoje tudo está mudado. A nova geração tem tantas possibilidades. No mundo atual, com o avanço tecnológico, o saber se tornou fácil e rápido, nós não podemos justificar com dificuldades de todos os tipos a derrocada do saber.

 

Em outros tempos, quando os autodidatas precisavam colher das próprias mãos o saber, foi por conta de forçoso aprendizado, mas agora as pessoas podem se instruir com pesquisas independentes, assistidas ou associadas.

Ninguém pode justificar impossibilidade para se instruir. O mundo deve avançar, a coletividade deve e pode avançar e continuar o seu progresso independente da crise atual. Que o mais avançado auxilie o retardatário, que o superior sustente o inferior para que todos possam progredir.

JUSSARA FREIRE

18/07/20

 -------------------------Paula  Alves-----------------------

“NÃO SE PREOCUPE, ORE E PEÇA FORÇA A DEUS QUE ELE TE SUSTENTARÁ”

  

Eu fui o único numa família de sete irmãos. Eles diziam que a faculdade não era para nós porque nascemos na favela.

Estávamos acostumados com a invasão da polícia, balas perdidas, drogas e prostituição, mas ninguém estava acostumado com pobre doutor.

Por quê?

Eu não podia mudar o rumo das coisas?

Meus irmãos falavam que era tolice da minha parte tentar ser diferente porque o destino me colocou como filho de pobre e eu tinha que aceitar minha condição. Alguns deles, diziam que eu devia ter vergonha da minha gente porque queria ser melhor do que eles. Não era nada disso.

Eu sentia necessidade de estudar. Eu amava estudar e queria aprender cada vez mais.

 

Enquanto, todos ficavam felizes quando não tinham aula, eu ficava contrariado, desagradado. Eu chorava porque sentia que precisava lutar muito para atingir meu objetivo. Cada vez que não tinha aula, eu procurava um livro e tentava aprender algo sozinho para ganhar tempo.

Ninguém nunca me falou que eu poderia coseguir, pelo contrário, o mundo todo me colocava empecilhos e demonstrações gratuitas de que aquela vida de médico não era para mim, mas eu não me entregava, eu não esmorecia.

Eu estudei muito, tudo o que pude. Consegui entrar na biblioteca para trabalhar e achei livros incríveis, tive acesso ao conhecimento, conheci pessoas esforçadas que deram incentivo. Claro que eu consegui.

Foi muito difícil! Recebi vários nãos. Muitas lágrimas de revolta porque a dificuldade do pobre é imensurável, mas o destino está nas nossas mãos e a vontade de traçar um rumo te coloca perseverante, te fortalece e te reanima.

Era o meu plano. Plano abençoado por Deus. Eu consegui.

Me tornei médico, levou mais tempo que os alunos normais é verdade, mas eu consegui e cliniquei por anos com todo o meu amor e minha dedicação.

Não desista! Aprenda! Realize! Faça por sua conta. Se as coisas ficarem difíceis para você, não se preocupe, ore e peça força a Deus que Ele te sustentará, mas agarre as oportunidades com toda a sua força vital.

EUCLIDES

18/07/20

 ------------------Paula Alves-----------------

 

“APROVEITEM O TEMPO QUE SE EXPANDIU PARA SE APRIMORAREM EM SEUS CONHECIMENTOS”

 

Eu via os livros na estante empoeirar. Tinha muita vontade de ler, mas era analfabeta, crioula, sem instrução, louca de vontade de compreender o que aquelas letrinhas diziam.

A menina estava aprendendo a ler com professor particular, o moço letrado tinha toda paciência e a menina era desalmada, boca dura, gritava com o coitado.

Eu aproveitava para tirar o pó, enquanto ele estava ensinando, levava café, lanche e ouvia tudinho, atenta.

 

Comecei a levar livro para casa, eu sempre devolvi, só queria tentar ler. Fui juntando as letrinhas e consegui.

Quando comecei não parei mais, que maravilha!

Por que não podia ser para todos?

Quando passei para outra vida, desejei ser homem porque sabia que poderia aprender mais fácil e consegui. Aprender tudo aquilo foi mágico, eu era muito criticado por todos, caçoavam de mim porque diziam que eu devia me dedicar às mulheres e noitadas, mas eu só queria estudar. Por que as pessoas debocham de tudo?

Eu não tinha nenhum outro interesse, queria aprender o que fosse possível, física, química, leis, tudo o que fosse possível.

Da outra vez que reencarnei, me tornei uma mulher e precisava me casar, ter filhos, mas a minha paixão pelo conhecimento me fez desviar do meu propósito matrimonial.

Eu perdi a oportunidade de desenvolver moralidade, mas aprendi tanto, pude ser útil, auxiliei como professora com grande satisfação.

 

Quando reencarnei de outra vez, me foi privado o estudo para que eu pudesse ter família, mas eu estava sempre tristonha, foi como se eu cumprisse todas as minhas obrigações, sem satisfação alguma.

Porém, da última reencarnação, quanta alegria!

Eu nasci numa família que prezava o estudo, meus pais sempre apreciaram a leitura e nos incentivaram a ter profissão. Eu fui uma mulher letrada, tive um bom emprego e também pude ter a minha família com direito a ter um marido maravilhoso que gostava de estudar tanto quanto eu. Quanta satisfação e prazer!

A boa leitura, o conhecimento, a dedicação por um propósito de vida, é bem precioso.

Todos aqueles que têm oportunidade de conhecer coisas novas, línguas, ciências, leis, morais, culturas, todos os saberes são imprescindíveis para o nosso avanço.

Não se acomodem irmãos! Aproveitem o tempo que se expandiu para se aprimorarem em seus conhecimentos. Tudo será utilizado nas diversas existências para que você saiba mais e sirva para um bem maior.

VÂNIA       

18/07/20

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Foto cedida por Magno Herrera Fotografia

“NÓS RECEBEMOS DA VIDA AQUILO QUE OFERTAMOS A TODOS QUE PASSAM NO NOSSO CAMINHO”

 

Eu sinto que precisava deles, mas por uma questão de orgulho me afastei definitivamente. Ainda não consigo precisar por que nós nos desviamos das coisas que gostamos. De uma hora para outra tudo pode parecer contrário e adverso.

Eu tinha tantos amigos ou, pelo menos, eu achei que tivesse, mas durante aquela situação, onde eu mais precisava de apoio, todos se afastaram de mim. Foi como se as pessoas tivessem vergonha de andar ao meu lado, eles preferiram assim. Por mais que eu falasse, ninguém acreditou na minha defesa, ninguém.

Eu tinha uma vida estável, tinha esposa, amigos e uma vida social agradável, mas ela se aproximou e tudo mudou.

Na empresa, eu tinha um bom cargo, ela era minha secretária e confesso que gostei quando percebi que ela estava se insinuando, mulher bonita e sedutora, mas eu nunca trairia minha esposa, eu sorri, desconversei e fui embora, mas ela fez tudo parecer tão real, como se eu a estivesse assediando, foi bem o contrário. Foi tudo de caso pensado, acabou comigo.

Incrível como ninguém acreditou em mim, minha esposa, meus familiares, foi um escândalo. Meus amigos preferiram se afastar e eu ainda perdi meu emprego depois da soma alta que tiveram que pagar para ela.

Eu me senti enganado e difamado. Nunca imaginei que um homem pudesse passar por isso, mas o que foi pior de tudo, foi perder o apoio de todas as pessoas que estão sempre comigo. Eu fui desacreditado.

Sabe quando você sempre deu provas de sua honestidade e, mesmo assim, as pessoas preferem acreditar numa mentira?

 

Eu cansei de tentar argumentar com eles. Eu cansei de ter de me explicar. Acho mesmo que as pessoas gostam de andar ao lado de vencedores, pessoas que têm algo a oferecer. Quando você está na pior e não tem coisa alguma para dividir, as pessoas podem escolher se afastar de você.

Eu já tinha ouvido falar que numa situação financeira ruim muitos acabam sozinhos, numa situação de enfermidade, muitos acabam sozinhos, em situações que envolvem a lei, muitos acabam sozinhos, mas nunca imaginei que pudesse ser tão real. É a mais pura verdade.

As pessoas são todas iguais e gostam de prestigiar e se envolver com quem está no poder, com certa posição de superioridade, eu temia que fosse verdade, sempre via meus chefes rodeados de pessoas e dizia secretamente, “puxa-saco”, eu ria, todos têm o direito de falsear o quanto quiserem, mas não pensei que pudesse acontecer comigo.

Eu perdi o contato com as pessoas que eu pensei que me amavam e que fossem meus amigos, mas aprendi muito com isso, não perdi minha dignidade.

Eu não briguei, nem esbravejei, minha esposa pediu o divórcio, eu chorei, mas fui embora.

Depois de alguns anos refletindo, percebi que fui como todos os outros, eu também valorizei o que não era real. Eu também fui um verdadeiro disfarce, falso, polido, usando minhas melhores máscaras, sem nenhuma simplicidade.

Refleti naquele que se escondia dentro de mim e admiti que eu também queria estar entre os melhores, mas que eram melhores nas aparências, sofisticação e títulos.

 

Eu me mudei dali e descobri no cultivo de flores minha verdadeira vocação. Eu conversei com as flores e tive na natureza uma voz silenciosa que me colocou em contato com o espiritual, eu me vi como realmente sou e gostei do que eu encontrei.

Depois disso, eu conheci uma bela e singela mulher que foi leal e honrada me deu três lindos filhos. Tive alguns amigos, poucos, sinceros e cordiais. Amigos que estiveram comigo nas horas boas e ruins. Aprendi muito.

Nós recebemos da vida aquilo que ofertamos a todos que passam no nosso caminho. Exatamente na mesma proporção. Amigos são tesouro, mas como todos os tesouros você deve encontrar e cuidar muito bem deles.

ELIEZER

11\07\20

 

---------------------Paula Alves----------------------

 

“EU PENSEI QUE AQUILO TUDO QUE EU SENTIA POR ELE ERA AMOR”

 

Ela esteve sempre comigo, segurando minha mão. Eu sabia de olhar nos olhos dela quando estava chateada ou feliz. Pude perceber o quanto se irritou quando cheguei ferida. Naquele dia, imaginei que ela fosse acabar com ele, mas ela chorou comigo.

Minha amiga sempre me deu conselhos, pediu tantas vezes para eu me livrar dele. Parece que ela estava pressentindo que não acabaria bem, mas eu não ouvi. Eu pensei que ele pudesse mudar. Eu tinha fé que ele pudesse mudar porque ele ficava tão diferente quando não bebia.

Em muitas das nossas conversas, eu disse a ela que ele era um homem maravilhoso quando estava sóbrio. Mas, em compensação, quando ele bebia, se transformava e virava um demônio naquela casa. O cara quebrava tudo e via erro aonde não tinha. Ele via traição, romance, via mentira e me agredia até acabar comigo. Mas, quando a bebedeira passava, ele pedia perdão e tentava me conquistar, ele trazia flores, ele era tão carinhoso. Eu gostava dos pedidos de desculpa, minha amiga falava que eu era doente, que eu aceitava aqueles murros para viver a reconciliação, modo doente de me sentir feliz e desejada. Será doutor? Eu ainda não sei.

 

Eu pensei que aquilo tudo que eu sentia por ele era amor. Eu não pensei que ele pudesse me ferir tanto.

Minha amiga sofreu demais. Eu estava lá, eu vi. Minha mãe sofreu sim, mas ela tinha tantos filhos para cuidar, ela disse que eu tive o que procurei. Já a Denise, ela chorou demais, ela me abraçou dentro do caixão, ela fez um escândalo. Ela foi à polícia, ela denunciou, ela exigiu que ele ficasse preso.

Minha amiga sofreu muito doutor. Ela foi mais que uma irmã. Sabe destas pessoas que me dava a roupa do corpo, dividia o prato comigo, me recebia na casa dela e não tinha a menor cerimônia, especial, delicada e sincera demais. Um amor de pessoa, sempre disposta a me ouvir, ela fazia o possível para não se envolver nos meus conflitos emocionais, mas estava tão preocupada comigo.

Eu já soube que ela foi minha irmã por diversas vezes, ela estava disposta a me defender se preciso fosse, faria tudo para que eu fosse feliz, mas eu fui muito tola.

Meu marido já fez isso muitas vezes. Ele me matou em muitas vidas, me feriu, denegriu minha imagem, me roubou em diversas vidas, como meu pai, como meu irmão, como meu cunhado, eu estou sempre disposta a recomeçar e tentar novamente, mas ele não melhora em nada. Falta de perdão? Pode ser. Acho que eu preciso modificar minha conduta com ele. Talvez eu seja muito permissiva. Acho que preciso me apegar numa forma de educação que seja mais firme. Ainda não sei como será o próximo plano, só sei que do jeito que está, estamos tão ligados que deveremos voltar unidos novamente.

 

Eu não quero mais falhar. Quero prosseguir, aprender coisas novas, mudar de ares, mas para isso, preciso me afinizar com ele. Espero que Deus me ajude.

RITA

11\07\20

 

-----------------------------Paula Alves----------------------

 

“EU QUERIA QUE AS PESSOAS SE COLOCASSEM MAIS NA PELE DOS OUTROS”

O paraquedas simplesmente não abriu. Eu me esborrachei no chão e cruzei o limite como suicida, mas não foi só isso.

Eu decidi que ia descobrir o que me aconteceu e tomei um choque quando descobri a armação deles, a traição deles.

O suicídio foi por que eu arrisquei tudo, arrisquei minha vida e quando acontece qualquer fatalidade em decorrência de uma imprudência sua, vira um suicídio. Eu entendi porque não tinha necessidade nenhuma de arriscar minha vida por uma sensação, entendi e compreendo.

Eu não entendia como o paraquedas podia falhar, eu já tinha feito o salto muitas vezes, eu sabia, mas como isso foi acontecer?

Quem poderia ter atrapalhado tudo?

Quem poderia desejar minha morte?

Se Claudio era meu amigo, piloto experiente, cuidadoso com todos os materiais de segurança e, por este motivo, eu só voava e saltava com ele...

Mas, o que eu não poderia supor é que Claudio estava tão envolvido com minha esposa.

Como eu poderia imaginar se o sorriso dela acabava comigo. Eu esquecia do que estava falando quando ela sorria para mim. Eu seria capaz de lhe entregar o mundo, se possível fosse, e ele também.

Por isso, quando Ivana se aproximou dele não tinha como ele ser leal a mim?

 

Não. Isso não justifica.

Onde está a lealdade, a amizade franca e sincera?

Eu queria tanto que as pessoas pensassem nos compromissos, que ele tivesse colocado Ivana no lugar dela, desse uma dura e a fizesse se constranger por desejar me trair com meu melhor amigo, mas não foi isso que aconteceu, nós não tivéssemos moralização.

Eles me traíram e combinaram tudo. Foi tão fácil se livrar de todas as acusações e me colocar como o único culpado por minha própria morte...

Eu não quis vê-los. Eu sei que eles se afastaram de todos e ficaram juntos por algum tempo. Até que ela se cansasse dele e fosse embora com todo o meu dinheiro.

Mas, isso não era o que mais importava. A sensação de ser enganado é terrível. Dói fundo na alma, só não é pior do que a sensação de morrer porque se foi enganado, esta é muito pior. Eu me sentia delirar de tanta raiva, mas não queria estar com eles, porém havia uma força irresistível que me ligava a eles, uma punição, um elo.

 

Foram muitos anos, muitos destroços, até que eles vieram para cá e nos perseguimos, mas e agora?

Como posso confiar em alguém?

Eu compreendo estas pessoas que se isolam, pessoas que não confiam em ninguém, fica sempre uma sensação de mentira ou de aproveitamento, como se quisessem te explorar.

Eu não sei quando será possível acreditar em alguém. Todos mentem doutor. Todo mundo sempre manipula para ter o que quer. Eu queria que as pessoas se colocassem mais na pele dos outros. LEONE

11\07\20

 

------------------------Paula Alves--------------------

 

“AS PESSOAS NÃO DEVIAM PENSAR, APENAS EM SE BENEFICIAR DO QUE O OUTRO PODE OFERECER”

 

Aquela dor acabava comigo, mas ninguém acreditava que eu poderia estar doente. Na minha casa, eu precisava estar bem para trabalhar todos os dias em horários bem intensos.

A renda não podia cair. Nós tínhamos quatro crianças e, apenas o meu esposo não dava conta das nossas despesas.

Então, eu trabalhava em casas de família, trabalho duro de faxina, não podia simplesmente adoecer, não podia me afastar.

Mas, a dor era enorme. Tinha dia que eu não aguentava nem sair da cama, não tinha ânimo, mas respirava fundo, pedia a Deus para abençoar meu dia e dar forças para eu não fraquejar.

 

Comentei com Samuel o quanto estava com dor e ele justificou dizendo que o meu trabalho era muito árduo, era natural ficar dolorida, mas a prostração foi ficando maior e ele foi claro, disse que compramos a casa que eu quis e ele não podia sustentar todos os meus luxos. Falou que eu quis filhos, devia ajudar a criá-los porque ele não tinha condições de fazer tudo sozinho. Se eu queria ser dondoca deveria ter casado com homem rico.

Eu respirei fundo, quis sumir, gritar, quis que ele percebesse que não era manha, mas engoli pelo bem dos meus filhos.

Eu não sabia nem o que pensar. Ele era trabalhador, mas não tinha tantos afazeres quanto eu. Por que a mulher tem o dever de trabalhar fora de casa e quando chega em casa todas as tarefas são responsabilidade, apenas dela?

 

Eu não descansava, estava a ponto de tombar, e tombei mesmo. Fui levada ao pronto atendimento e o médico pediu um exame específico que diagnosticou um câncer super invasivo que estava em estágio avançado.

Eu fiquei pasma. Na hora só pensei nas minhas crianças. Quando cheguei em casa e contei a novidade para o meu esposo, ele disse que era castigo na vida dele. Disse que ele iria me levar para os meus pais porque ele não tinha condições de cuidar de mulher doente, ele me abandonou.

Eu nunca imaginei que uma pessoa vale tão pouco. Eu valia com saúde, bela, esforçada, trazendo dinheiro para casa, mas doente, eu não valia nada.

Eu sofri muito, o câncer evoluiu mais.

Eu não queria morrer e, mais do que isso, eu não quis ter tanto desgosto na vida. Eu me iludi muito com aquele homem. Eu achei que houvesse amor e cumplicidade. Pensei que o esforço fosse de ambos para que a nossa família tivesse um futuro melhor. Eu não queria que os meus filhos passassem as dificuldades que eu passei. Queria que eles tivessem um lar e estudos, só isso, o básico para viver com decência.

Ele nunca foi um homem para me visitar, para pedir desculpas pelos insultos que me fez, nunca foi um companheiro.

 

Quando eu morri, senti no fundo da alma, a saudade das minhas crianças, o pesar por não poder mais cuidar deles. Meu marido já tinha uma outra mulher, não sofreu nenhum pouco. Ele dizia que não podia morrer comigo.

Nem sei o que dizer. Eu senti sim, não é orgulho, a gente sente, qualquer um sentiria.

Eu penso que entre um casal deve ter uma união de pensamentos onde aquilo que é importante para um também é importante para o outro. Quando se ama de verdade, se preza pela integridade física, mental e emocional de quem se ama. As pessoas não deviam pensar, apenas em se beneficiar do que o outro pode oferecer. Isso nunca será amor, só pode ser exploração.

ANA CÁSSIA

11\07\20            

 -------------------------Paula Alves-----------------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“EU NUNCA CONVERSEI COM ELES SOBRE ISSO”

 

No início tinha a dor da separação, tão forte e intensa como se nada mais existisse. Como se eu fosse sufocar sem eles, sem o contato deles. Eu desejei retornar, implorei para quem quer que fosse, para que pudesse me recolocar em minha vida junto dos meus.

Eu vi tudo de novo. Minha antiga casa, meus filhos e meu esposo. Desejei abraçá-los, falar com eles, mas não pude, foi uma das maiores provas que enfrentei: o distanciamento que nada pode superar. Eu chorei de forma sentida porque eles acreditavam no meu fim.

 

Por que estamos tão distantes da verdadeira realidade? Eu nunca conversei com eles sobre isso. Achei tão feio falar sobre a morte porque estava tudo bem, estavam todos bem e quando se está bem falar da morte é como atraí-la, mas não. Eles achavam que a morte era o fim de tudo.

Eles simplesmente se livraram de tudo o que era meu, achavam que isso poderia aliviar a dor.

Eu queria me comunicar e avisar que eu estava viva e sentia as mesmas coisas, ainda mais intensas, mas seria em vão. Eles justificavam tudo com fatos materiais. A porta bateu por causa do vento... Todos pensaram em mim por uma questão de coincidência... Os arrepios e a vontade de chorar foram porque ainda estavam emotivos com a perda tão recente...

Eles não podiam crer na sobrevivência da minha alma.

 

Mas, eu estava ali e me lembrei de tudo o que vivi. Dos bons momentos e de todas as ocasiões difíceis que nos uniram ainda mais. A verdadeira família que aproveita as adversidades para se unir e se apoiar. Eles sempre foram prestativos e, apesar de nossa condição humilde de posses, nunca passamos privações porque soubemos nos auxiliar. Eu não poderia esquecer que todos os familiares estavam sempre dispostos a ajudar.

Não houve maus momentos porque houve apoio e muito amor.

Hoje, eu sinto saudade. Uma enorme saudade! Vontade de abraçar e conversar com eles. Eu desejo saber se estão seguindo bem, num bom caminho e aguardo ansiosa pelo dia em que poderei reencontrá-los.

Eu sei que neste dia, muitos sofrerão com a morte carnal deles, mas eu estarei tão feliz, aguardando pelo momento radiante em que poderei tocá-los, beijá-los, novamente.

STEFANIE

04/07/20

--------------------------Paula Alves-----------------------

 

“O TRABALHO É BEM INTENSO, MAS SE UM AJUDAR O OUTRO, NÃO TEM ERRO”

 

Era uma festança muito grande quando a gente se reunia. A família grande, gente que morava bem distante, mas a gente sempre se reunia no São João. Era a nossa oportunidade de rever todo mundo e deixar todos eles bem próximos dos avós que já eram velhos, mas ainda bem lúcidos, queriam cuidar de toda a família.

Coisa linda de ver. Gente crescida, os menores, todo mundo chegando e pedindo a benção para os mais velhos com tanto respeito, com tanto amor. Fomos uma raça muito trabalhadora que colocou a mão na massa, realizou trabalhos braçais, cansativos, intensos para conseguir um pedacinho de chão pra criar a prole. As mulheres bem resolvidas apoiaram seus maridos, guerreiras, trabalharam sem parar e ainda deram o juízo dos filhos, encaminharam sem ilusões com o esforço e a dignidade que se deve ter em qualquer época da Humanidade.

Os maridos sempre honrando suas famílias, decentes, sábios nunca deixaram de exercer seus compromissos e levar o pão de cada dia, nunca ousaram virar o rosto por rabo de saia ou vício que pudesse levar a fome e a perdição.

 

Eu tenho muito orgulho da minha gente e me lembrar destes nossos momentos me enche de alegria.

Eu fui um dos quatorze filhos. Tive muito ensinamento vindo dos meus pais, tão trabalhadores e amorosos.

As festas de São João que reuniam nossa gente faziam com que pudéssemos reparar uns nos outros, colocar ordem e disciplinar em uns e outros que pudessem se desviar dos planos de Deus e isso deu muito certo.

 

Hoje sei que somos um grupo que está sempre junto, amor que fortalece a cada experiência nova. Nós vivemos tempos difíceis onde nos entregamos à ambição e corrupção, juramos nos apoiar, focar sem distração para que todos pudessem evoluir e graças a Deus deu tudo certo.

Eu sei que outras famílias podem conseguir se desejarem. O trabalho é bem intenso, mas se um ajudar o outro, não tem erro. Não pode ter egoísmo, tem que pensar que o grupo todo vale por um e um vale pelo grupo inteiro. A honra de um será a honra do grupo e a desonra também será equivalente.

Eu me lembro das festas de São João, ehhh tempo bom! 

MANÉ

04/07/20

 

------------------Paula Alves----------------

 

“FOI UM AMOR PLATÔNICO E CHEIO DE ENCANTO QUE NOS ELEVOU”

 

Foi em Camanducaia. Em andei tanto, cansado, suor a escorrer pelo rosto. Eu havia sido roubado e não tinha como pedir um copo d’água. É duro precisar do auxílio de alguém que nunca te viu na vida...

Esmolar não é brincadeira não. Mas, eu era honesto, trabalhador. Estava tentando ganhar a vida em outra cidade porque na minha terra de origem já não tinha mais oportunidade.

Cheguei na casa grande, longe de tudo e pensei em pedir abrigo e um prato de comida para poder continuar.

Dei de cara com a crueldade, a moça estava sendo molestada, meu Deus! Eu nem pensei duas vezes, lembrei da minha irmã. Corri, tirei aquele malandro de cima dela, ele assustou e jogou a moça de lado. Mas, ele era maior que eu umas duas vezes. Bateu tanto que eu nem tinha forças para me defender, mas eu pensei na moça e não sei como consegui mostrar para ele o que é um homem de verdade. Quando ele pegou uma faca na soleira da porta e ia me furar chegaram os familiares dela e tiraram o homem de perto de mim.

Ele foi preso porque a família da moça tratou de jogar ele na prisão.

A mãe da moça falava que Deus tinha me colocado naquele lugar para livrar a coitada da menina que não parava de chorar.

 

Naquele dia, eu recebi o melhor jantar até aquele momento. Comi, pude tomar banho, recebi um canto para dormir e a dona da casa pediu para o marido me oferecer trabalho, ela tinha gratidão.

Eu tinha que ter partido, mas olhei nos olhos da moça e parecia que alguma coisa me segurava ali, na hora eu nem entendi, mas depois que o tempo passou eu entendi tudo.

Levou tempo, eu trabalhando naquelas terras, ela foi amadurecendo e olhando para mim, mas o pai dela arrumou esposo e ela tinha que casar. Casou.

 

Casou com desgosto, foi embora para outra cidade, cidade grande e eu fui vivendo minha vida.

Anos se passaram, eu não tive ninguém, só uns namoros que não sortiram efeito. Ela teve filhos, eu sempre sabia dela pela mãe que me contava na hora do cafezinho. Ela falava que a moça sofria na mão do marido, apanhava, era traída, eu ficava com raiva e pensava nela como se eu tivesse que defender mais uma vez, nem sabia por quê.

Até que o marido morreu, morte matada. Ela voltou, eu já tinha a confiança do pai dela, era muito direito e honesto, jamais olharia para ela.

Os pais morreram e eu ajudei a resolver tudo, ajudei com a fazenda, com os contratos, braço direito e nunca passou disso.

Dentro do meu coração um amor que não cabia no peito. Sentimento que crescia cada vez mais, com cada dever cumprido, sendo uma mãe cada vez mais amorosa, uma mulher cada vez mais reta, escrupulosa. Eu a amei em cada minuto.

 

Mas, nunca pude me declarar por causa da sua retidão moral. Foi um amor platônico e cheio de encanto que nos elevou permitindo que nos reencontrássemos e pudéssemos descobrir o quanto estávamos ligados.

Quando as almas estão unidas por um amor tão puro e real, elas têm seus planos traçados e podem estar distantes para que evoluam junto de outras pessoas, mas este amor as atrai.

Eu fui guiado para junto dela e não pude sair dali na esperança que ela voltasse e precisasse de mim, mas ela tinha que cumprir os planos e eu também, cada um no seu mundinho.

Hoje estamos unidos deste lado, relembramos coisas do pretérito, soubemos identificar os porquês do nosso distanciamento e somos gratos por todo aprendizado que adquirimos e por este sentimento ter se fortalecido nos dois planos.

SEVERIANO

04/07/20

 

------------------------Paula Alves-----------------

 

“DEUS PODE LHE FAZER INVISÍVEL PARA QUE OS OLHOS COM INSTINTO DO MAL NÃO LHE NOTEM E VOCÊ POSSA PROSSEGUIR COM SUA VIDA”

 

Eu lavava os lençóis. Ela me dava serviço e eu era muito grata porque dali vinha a renda que abastecia o meu lar, que dava o necessário para meus filhos, principalmente após eu ter ficado viúva.

Mas, eu sabia que ela me olhava com revolta, como se eu a tivesse prejudicado tanto. Era como se, com aquele serviço, ela pudesse me humilhar e eu dava graças a Deus por todos aqueles lençóis que vinham do hotel.

 

Mas, naquele dia, ela estava doente e pediu para o noivo levar os lençóis para mim. Quando eu olhei para ele, foi como reencontrar alguém. Eu fiquei constrangida com aquela sensação, parecia que ele também estava me revendo.

Dias se passaram e novamente ele veio trazer os lençóis, eu me preocupei porque poderia sentir o cheiro dos problemas se aproximando, perguntei por ela e disse que preferia que ela levasse os lençóis pra mim, mas ele insistia em aparecer.

 

Eu sabia que aquilo não chegaria num bom destino e pensei que teria que me livrar do serviço para não arrumar encrenca com a moça que já não ia com a minha cara, mas ela apareceu e desejou me cobrar contas, falando que o noivo havia rompido com ela e, por minha causa ela estava sozinha, ela bateu na minha cara, disse vários palavrões e disse que eu era leviana, por isso, deveria passar necessidades. Eles sumiram.

 

Entendi que uma disputa feminina, muitas vezes, nos leva a derrocada. Eu não estava competindo com ninguém, apenas precisava de um pouco de apoio para cuidar dos meus filhos. Em outras ocasiões tivemos uma disputa amorosa com aquele homem, mas pelos meus filhos eu deixaria qualquer envolvimento amoroso de lado.

Durante minha vida, pude perceber o quanto as mulheres são competitivas e ambiciosas. Se houvesse mais apoio, se houvesse mais lealdade, as coisas seriam mais fáceis, mas nunca foi assim.

Sempre uma puxando o tapete da outra, sempre torcendo para se dar mal.

 

Eu consegui emprego de arrumadeira e veja lá, no mesmo hotel. Soube que aquela mulher era amante do gerente e o rapaz sabia de tudo, mas fingia não ver para que pudessem subir de cargo. Eu não queria estar ali, mas eu precisava trabalhar.

Aprendi mais uma preciosa lição: a discrição. Como é bom cada um cuidar da sua vida. Se pudermos ajuda, ajudemos sem pensar duas vezes, mas se você puder silenciar e cuidar da sua vida é a melhor coisa que você pode fazer.

Eu trabalhei por dois anos, fazendo de tudo para não passar no caminho deles, para não ser notada, tentava não me arrumar muito para não chamar a atenção e voltava para minha casa feliz em levar o pão para os meus filhos.

Quando percebi, ela e o gerente haviam sido descobertos por um superior deles e foram transferidos. E pude trabalhar em paz.

As coisas são assim. Às vezes, nós parecemos empecilhos para algumas pessoas, faça apenas o que lhe cabe, cumpra o seu papel e tenha confiança que Deus pode lhe fazer invisível para que os olhos com instinto do mal não lhe notem e você possa prosseguir com sua vida.

VIRGINIANA

04/07/20            

 

 

 


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