Cartas de Março (16)

 

“O COMPLICADO É QUE A GENTE NÃO PERCEBE AS PRÓPRIAS FALHAS”

 Eu não gostava de beber. Incrível como as pessoas insistem para que você aceite o primeiro copo. Parece até que têm prazer de ver você engolir aquele gole de toxina.

Eu estava numa reunião de trabalho e, para agradar aos meus chefes, aceitei aquela vodka.

Vou dizer que foi o início do fim. Eu não consegui me controlar e não fiquei no primeiro copo. Fiz vergonha porque não tinha o hábito de beber e constrangi muitos colegas de trabalho.

Mas, que ridículo! Eles não queriam que eu bebesse?

Foi aí que a coisa ficou feia porque eu quis mostrar que sabia beber e não consegui me livrar daquela vontade estranha de desejar o álcool. Eu bebi de tudo. Realmente aprendi a beber porque eu não me embriagava fácil, mas ficava profundamente modificado. Tinha paranóias, ficava muito nervoso e perdia a cabeça com qualquer um.

Foi assim que meus colegas começaram a se distanciar. Eles até gostaram quando eu entrei na curtição, riam quando eu parecia tolo, zombavam de mim, caçoavam, mas quando eu me transformei no valente, eles preferiram se afastar.

Isso porque ninguém queria arriscar a sua vida com o bêbado valente que dava em cima de mulher casada e tudo o mais.

Eu bebia tanto que não conseguia acordar cedo no outro dia, ficava lá desmaiado e acordava com uma ressaca horrível. Eu não era rico, precisava trabalhar para ter meu sustento. Comprometi tanto minha reputação no trabalho que fui demitido por justa causa.

O complicado é que a gente não percebe as próprias falhas, nem que a bebida te agrediu tanto que você passou a ser um estorvo para a sociedade que prefere te deixar de fora de tudo.

Minha família não me queria por perto, nem meus colegas. Eu bebia por cinco ou seis pessoas, às vezes, até me espantava da quantidade que eu ingeria. Eu era um cliente bom para o dono do bar, mas quando fui mandado embora e passei a comprar no fiado, ele suspeitou que eu seria um inadimplente e me escorraçou do boteco.

Eu quebrei tudo, fiquei endividado, impedido de arrumar outro emprego porque não rendia mais, parece até que a mente estava mais lenta.

Eu fui morar na rua quando não pude mais pagar o aluguel. Eu tinha uma vida tão promissora...

Logo, o corpo não aguentou a situação de bebida, fome e frio. A cirrose chegou golpeando tudo e eu desencarnei.

Falavam: “Suicida! Agora nós vamos beber juntinhos. Parceria que começou há tanto tempo meu brother! Agora é só nos apresentarmos. Nós somos aqueles que estavam sempre com você. Quantos copos nós não dividimos? Agora que somos parceiros é curtir deste lado também.”

Suicida? Mas, eu não me matei. Pensei que não, mas já me explicaram que eu arruinei minha vida. Eu destruí meu corpo aos poucos e antecipei meu retorno para a pátria espiritual.

É tudo tão ruim e delicado. Começou com o primeiro gole e se estendeu até depois da morte do meu corpo. Correndo atrás de bêbado para sentir o fluido da bebida. Que horror!

SERÁ QUE TEM COISA PIOR QUE SE ANIQUILAR DESTA FORMA?

 

LEONARDO

26/03/2022

 

--------Paula Alves-----

 

“AS PESSOAS SE INCOMODAM QUANDO PERCEBEM QUE AS PESSOAS NÃO TÊM VÍCIOS”

 

Fui na onda da galera doutor! Eu nunca fui viciado e achei que podia controlar meu organismo. Eu não acreditava quando me diziam que a pessoa se modificava por causa do vício.

Eu achava que tudo dependia do controle mental, por isso, fui na onda da galera.

Eles são muito espertos. Começam a falar que você é um moleque. Fracote que não é de nada e tem medo de se perder pra voltar para casa, bebê da mamãe...

Tudo pegando no meu orgulho, daí eu provei uma bituquinha. Pra quê meu velho? Eu nunca devia ter feito isso.

Comecei a entrar numa brisa danada. Eu viajei legal e deixei meu corpo flutuar numa vida de magia. Eu não queria mais compromisso e nem queria escutar meu pai dizendo o que eu tinha que fazer. Achei que a vida podia ser mais leve, do meu jeito e me entreguei para as irresponsabilidades da vida dos prazeres do corpo.

As necessidades orgânicas são fora do comum cara! Eu enlouqueci querendo um pouco mais. Ninguém se controla, ninguém dá conta.

Eu quis mais e mais. Claro que eu morri de overdose, claro.

Relaxado e burro demais para perceber que tinha uns adversários me cobrando e influenciando as decisões ruins.

Saí do corpo muito louco, deveras entorpecido e fui capturado. Mas, eles nem contavam que um escravo perdido e desestruturado não é servidor eficaz.

Fui abandonado, nem eles me quiseram. Vaguei no meio dos viciados, tentando captar algum tipo de fluido alucinógeno.

Suicida, drogado, nem sei como fui capaz de chegar aqui.

Eu fui muito bem assistido meu velho. Tô fazendo a desintoxicação porque, sem isso, eu corro daqui direto para as bocas.

Eu não consigo seguir em frente sem o tratamento e, por isso, vou agradecer o tempo todo. Eu só tenho a agradecer porque ninguém se incomodou com minha aparência, meu cheiro e meu linguajar. Aqui, do jeito que sou, fui respeitado e tratado como uma pessoa decente, apesar das minhas inúmeras imperfeições. Quem dera que na Terra todos fossem assim.

Acredito, meu amigo, que o melhor para todos seria a sobriedade, ser careta é bom. As pessoas se incomodam quando percebem que as pessoas não têm vícios. Pois aquele que consegue se manter sóbrio e lúcido no corpo de carne, que consiga se manter nos seus propósitos. Eu não consegui, mas sei que este é o melhor caminho.

Permitir que o corpo se desgaste naturalmente e retornar dentro do tempo fixado pelo Grupo Maior deveria ser o objetivo de todos. Aproveitar o tempo para trabalhar por seu aprimoramento, mas eu não sabia que funcionava desta forma.

 

ISAAC

26/03/2022

 

------Paula Alves-----

 

“EU PISEI NA BOLA PORQUE TAMBÉM CHEGUEI AQUI COMO SUICIDA”

 

Eu parecia uma chaminé e sei que era desagradável para os meus familiares que não eram fumantes.

Eu dizia que era uma mulher muito ansiosa e o cigarro me acalmava. Depois encontrei uma outra vantagem, ele não me permitia engordar e eu era muito vaidosa, então, continuei fumando.

Mas, eu não conseguia puxar o ar profundamente e meus filhos me fizeram ir ao médico, eu sabia que não seria boa coisa, mas fui.

Ele fez exames e falou com ímpeto que eu estava me matando aos poucos. “Como pode uma mulher ter cheiro de nicotina com a boca fechada?”

Eu quase morri de vergonha. Nunca tinha parado para pensar que eu cheirava a nicotina. Ele falou das minhas unhas, pele ressecada e sem brilho, meu cabelo arruinado, disse que eu parecia ser vinte anos mais velha. Que horror!

Na boca daquele médico eu estava acabada. Eu fiquei com raiva e virei as costas para ele que afirmou para os meus filhos que o sistema respiratório me daria grandes problemas porque meus pulmões não conseguiriam se reestruturarem.

Levou poucos meses e eu nem conseguia colocar o cigarro na boca, parecia que ia morrer de falta de ar. Então, fui internada, o danado do médico disse: “Eu avisei!”

Precisava sapatear? Eu quis esganá-lo, mas não tinha forças nem para mim.

Apesar de tudo, ele fez um bom trabalho e conseguiu me fazer melhorar, mas quando eu fiquei de pé, qual foi a primeira coisa que desejei? Fumar!

Cheguei em casa e traguei bem fundo. Que sensação prazerosa. Mas, meu marido viu e me matou de vergonha porque me expôs aos filhos. Todos me repreenderam, enfim, nem assim eu tomei jeito.

Eles acabaram me deixando a vontade para me matar e foi isso o que ocorreu.

Eu acho que os viciados são uns terríveis porque não têm jeito nem compromisso com ninguém. É preciso muita força de vontade para se livrar da coisa errada.

Tem gente que pede ajuda e diz que vai mudar, faz uma encenação tão real que o familiar até se convence e o abençoado está fumando escondido, exalando a nicotina por todo os poros. Tem familiar que finge não ver porque sabe que o mentiroso já perdeu o rumo, não tem quem conserte.

Eu acredito na mudança das pessoas. Tenho fé que muitos podem se regenerar, mas precisa de um motivo, de um objetivo.

Aqui mesmo, já ouvi relatos lá no grupo, de pessoas que conseguiram se libertar de seus vícios quando o filho nasceu, quando encontraram o grande amor ou descobriram o Mestre Jesus.

Eu creio que seja possível, mas eu fui muito egoísta. Não pensei na minha família e nem sabia de Jesus, só pensei em saciar minhas necessidades.

O duro é que o familiar sofre e se desespera sem saber o que pode fazer para ajudar. Acho que o familiar ajuda com bons pensamentos e prece, mas é o próprio viciado que tem que manter um firme propósito de renovação.

Dizer para si mesmo tomar vergonha na cara e não ceder aos impulsos da carne, instintos que destroem.

Por que depois de tanta evolução científica e tecnológica ainda nos deixamos levar pelos instintos?

Eu pisei na bola porque também cheguei aqui como suicida. Tenho muito trabalho a fazer.

 

SAMANTA

26/03/2022

 

-------Paula Alves----

 

“SERÁ QUE A VIDA SE RESUME NISSO?”

 

Comia e não saciava minha fome. Era impressionante seu moço o que eu ingeria.

Meus pais estavam desesperados com a grande quantidade de refrigerante e pizzas que entravam em casa e ficaram preocupados quando notaram o ganho de peso desenfreado.

Eu estava no primeiro emprego e queria matar a vontade de comer as coisas boas que vendiam por aí.

Sempre fui fortinho, mas depois de consumir tanta gordura e doces, depois de comer de forma compulsiva, eu engordei demais.

O corpo começou a reclamar, eu me sentia mal, mas a gula falava mais alto. Eu tinha passado tanta necessidade, na infância cheguei a ficar doente de vontade de comer um doce que um coleguinha não me ofereceu.

Então, eu pensei: “Agora é minha vez de sentir o lado bom da vida!”

Mas, a vida era só isso? Comer, beber e dormir. Ser consumista, egoísta, guloso e nada mais, um inútil na sociedade?

Será que a vida se resume nisso?

Mas, eu estava viciado na minha boca nervosa. Só ficava feliz comendo. Então, minhas articulações começaram a doer, ficava difícil para caminhar, tinha falta de ar, problemas estomacais e intestinais também. Minha mãe me levou ao médico que ficou chocado com meu peso.

O pior para uma pessoa como eu é passar pelo constrangimento de ser apontado na rua. Uma pessoa do meu tamanho não podia passar sem ser vista. Parece até que nestas situações eu sentia mais fome.

O médico chegou a mencionar que estava relacionado com algum desequilíbrio psíquico porque a gente tem que encontrar prazer em outras coisas, mas eu só queria comer.

Não tinha muito a fazer, ele medicou para os distúrbios orgânicos, pediu uma super dieta, exercícios físicos e desejou boa sorte. Eu ri.

Levou um tempo, não consegui mais sair de casa e minha mãe me alimentava na cama. Ela reduziu tudo o que engordava, eu chorava. Eu desejei morrer comendo aquela sopa de legumes, eu morria de fome. Fiquei tão deprimido que pensei em me matar, mas não foi preciso. Meus órgãos estavam repletos de gordura e, de repente, eu tive uma parada cardiorrespiratória.

Você precisava me ver doutor. Desencarnei e não conseguia andar, morto de fome, chorava e os caras me irritavam dizendo que eu havia me matado de tanto comer: “Seu gordo horroroso! Por que não foi viver sua vida? Comer tanto assim pra quê?”   

É deprimente ver o que a gente é capaz de fazer com o próprio corpo. Tem gente que fala o quanto o ser humano é cruel com o semelhante, mas não faz ideia do que ele é capaz de fazer consigo mesmo.

Me leva a crer que somos aquele que mais nos aflige. Ninguém nunca me feriu como eu me feri. Sei que não é só isso. Aqui tem muitos casos né doutor?

Alcóolatra, drogado, sexólatra, maledicente, avarento, pessimista. Até porque não se destrói só o corpo físico, a gente também agride a mente, a gente se tortura demais e se maltrata tanto.

Eu queria ter tido maturidade para desempenhar o meu papel. Eu tinha tanta coisa para fazer. É muito frustrante chegar aqui e perceber que perdeu a oportunidade de avançar e ainda chegou todo derrotado precisando de tratamento, de esclarecimento, de ajuda que não tem tempo para se prolongar.

Foi um fracasso. Eu não fiz o mal para os meus semelhantes, também não fiz o bem, mas eu me agredi por gula e preguiça de me mexer na vida. Que vergonha doutor!

 

KIKO

26/03/2022

 ----------Paula Alves--------



“SE VOCÊ PUDER SENTIR O CONTATO DOS SEUS FAMILIARES, NÃO DEIXA PRA DEPOIS”

Eu tive tanto... Tudo o que alguém pode desejar. Mas, depois de muitos anos de vida, quando olhei para trás, saudoso, pude notar que as melhores situações envolveram meus familiares.

Eu senti a perda de uns, sofri com o distanciamento de outros, me arrependi das palavras infelizes que proferi, me culpei pela falta de jeito, podia ter demonstrado mais o meu amor.

Acho que a gente perde muito tempo com formalidades e poses, com obrigações.

Acredito que a sinceridade e a delicadeza deviam estar presentes em nossas vidas. Dizer o que sente é importante, sem ferir ninguém.

Eu senti falta do tempo que passei com eles. Dediquei a maior parte do tempo para as conquistas materiais e nem percebi que perdi tempo com isso. Perdi fases essenciais com eles: o casamento da filha, o batizado do neto, o velório do meu genro. Eu estava trabalhando e considerei que muitas pessoas estariam presentes, eu não era indispensável, mas era!

Eles queriam a mim, naquela época.

Somos indispensáveis e insubstituíveis para muita gente, mas só percebemos isso quando estamos no lado oposto.

Esperei por uma visita ansioso. Quando os médicos disseram que eles vinham, eu senti o coração saltar do peito. Estava morrendo de saudades. Sabia que o tempo não me daria tanta oportunidade.

Eu tive medo de não ter tempo, mas quando eles entraram sem graça, sorrateiros, eu quis correr para abraça-los, eu quis pular de alegria.

Meu corpo não dava para isso, estava difícil de aguentar, mas o tempo foi muito amistoso, permitiu que eu tivesse mais aquele momento.

Se você puder sentir o contato dos seus familiares, não deixa pra depois. Se envolve com eles, mesmo que o trabalho tenha que esperar, ainda que suas posses sejam básicas porque o tempo não vai esperar o “para sempre”. Não aqui.

Aproveita o hoje, o agora e diz tudo o que você pensa de bom, elogia, encoraja e agradece pelo prazer de estar com aqueles que te amam.

A gente faz muita burrada na vida e valoriza excessivamente coisas, deixando as pessoas de lado.

Valorizemos nossos afetos.

 

SEBASTIÃO

19/03/2022

------PaulaAlves--

“EXISTE DOIS TIPOS DE MULHER”  

Eu sempre soube. Mas, foram tantas as vezes que me questionei se valia a pena permanecer naquele relacionamento.

Eu não tinha mais o amor de antes porque me sentia ofendida e humilhada, desprezada.

Olhei para o álbum de casamento... Eu era tão novinha!

Depositei todas as minhas melhores intenções. Eu criei um mundo romântico onde o “felizes para sempre” seria nosso.

Nunca imaginei que meu príncipe era tão namorador. Me deixava em casa sozinha e chegava tarde, com cheiro de perfume de mulher.

Eu só chorava, menina, frustrada, mas o tempo passou e eu me modifiquei, enterrei meus sonhos, minhas ilusões e endureci os sentimentos.

Muitas vezes, carregamos um escudo, tamanha fragilidade, por medo de sofrer atacamos com antecedência para não sermos pegos despercebidos.

Eu criei uma couraça e maltratei meu esposo com palavras e pensamentos. Nunca falei nada, preferi esconder que sabia de todas as traições.

Achei mais digno, ainda mais porque eu não queria me separar.

Existe dois tipos de mulher: aquelas que são corajosas, sinceras, falam, exigem e não têm medo de seguir sozinhas se não conseguem o que desejam, ou seja, a fidelidade no lar.

As outras (estou neste grupo), ponderam sua situação, questionam a si mesmas, lembrando da questão econômica, dos filhos, percebem que preferível é continuar com o leviano, sendo ele um provedor confiável.

Eu me enterrei como mulher, sofri e sofro porque me arrependo. A mentira é algo triste, infeliz.

Me pergunto se a vida poderia ter sido diferente. Se eu podia ter me tornado uma pessoa diferente: otimista, alegre e realizada.

Não desejo culpar o outro por minhas decepções, mas penso que muitos são extremamente egoístas. Pessoas que exploram os familiares, exploram a dona de casa, a esposa, a mãe.

Mulher que tem obrigações o dia todo, nunca alguém lhe pergunta: “como foi o seu dia?”.

Queria que alguém tivesse me chamado para tomar um café, olhando nos meus olhos pudesse perceber como eu estava triste e cansada.

Os familiares são muito egoístas. Você tem valor, enquanto tem algo para acrescentar, senão começam a dizer que você é chata, doida, insuportável.

Nem se dão conta de tantos sacrifícios teve que fazer para conduzir a família, do quanto se esforçou para não ir embora.

Eu também queria ter sido feliz.

 

LEONORA

19/03/2022


-------------Paula Alves-------

 
 Queria ter tido coragem para dizer o quanto era visível a discriminação e a falta de respeito.

Queria que soubessem que eu percebi a extrema falta de vontade para comigo.

SERÁ QUE AS PESSOAS ACHAM QUE PALAVRAS DOCES E SORRISOS DISFARÇAM TUDO? Sua hipocrisia e desejo de controle e poder?

Nunca ficaram satisfeitos com minha presença, mas sentiam-se intimidados por meu esposo. Chegaram a publicar uma pequena dissertação para manter relacionamentos com meu cônjuge.

Um chefe de seção chegou a ser sincero afirmando que, se meus escritos, fossem redigidos com o nome do meu esposo ou meu irmão, eles seriam publicados mensalmente.

Ou seja, bastava que um homem pensasse como eu, que se expressasse como eu, tremenda discriminação.

Eu me ofendi e tomei a liberdade de desabafar com uma amiga que riu gostoso, enquanto falava da importância da mulher no lar.

O que é isso? Então, eu não podia desempenhar as duas funções? Quem era responsável na minha casa e família?

Degradação moral! Eu vejo as necessidades que as mulheres têm. Eu compreendo! É ultrajante!

A maturidade das mulheres, o senso ético e de responsabilidade social, as noções materiais e edificação no lar são criteriosamente desempenhados por muitas e, ainda assim, a discriminação é evidente dentro e fora de casa.

Falta de conhecimento e progresso. Um dia, nenhuma mulher permitirá que, homens ou mulheres, a menosprezem por ela ser mãe, ideologista, autodidata, solteira ou seja ela o que for.

Se olharmos com toda seriedade para as diferentes situações que nos envolvem na sociedade, ficaremos espantados em perceber o quanto o preconceito sexual está enraizado em nós.

Isso deve mudar para que as mulheres tenham mais oportunidades e liberdade de ação, sem que possamos reestruturar nossas bases sociais na igualdade, devemos respeitar as mulheres da mesma forma que respeitamos os homens.

 DJANIRA

19/03/2022

-----PaulaAlves----“POR ISSO, É TÃO IMPORTANTE PERDOAR, APESAR DE TUDO”


Furiosa! Eu não poderia permitir que aquele homem arruinasse a vida de mais alguém, além de mim. Me namorou, prometeu casamento e me tomou a força. Depois, foi tão fácil dizer que conseguiu o que queria.

Eu me vi no chão, tão humilhada, me sentindo nojenta. Devia ter pedido a paz ao próprio Deus. Devia ter pedido sabedoria, mas me deixei dominar pela crueldade.

A gente nunca sabe o que alguém pode chegar a fazer num momento de loucura. Não dá para afirmar que a ingênua não vai perder a cabeça.

Eu armei uma cilada, ele saiu comigo novamente e eu o feri em suas partes íntimas.

Cruelmente?

Apliquei a Lei de Talião, mas a pena só se aplicou a mim na Lei dos homens.

Fui presa e punida com a prisão por muitos anos.

Prisão não reforma, revolta, faz perder a cabeça. Eu pensei nele todos os dias. Mas, quando sai jurando vingança, ele já estava morto.

Eu fiquei frustrada. Nem tinha percebido o quanto estava envolvida com meu agressor.

É certo que, se eu não tivesse me colocado para pensar, teria me envolvido também após o desencarne. Mas, pensei que, se tivesse me esforçado para esquecer e perdoar, apesar de toda minha dor, eu poderia ter tido uma vida melhor.

Meu caso foi lamentável, mas faz pensar no número de pessoas que se envolvem num laço de ódio e revolta que parece ser eterno.

O quanto é importante a libertação. Esquecer a ofensa é prosseguir no mundo, apesar da ofensa, da dor, do trauma, do ferimento físico e/ou moral.

Prosseguir e se dar a oportunidade de progredir e adentrar o caminho da esperança, fé e renovação.

Por isso, é tão importante perdoar, apesar de tudo.

 

MARIA SALOMÃO

19/03/2022


--------Paula Alves-----


“TUDO COMEÇA EM CASA”

 

Era o meu tormento! Chegar em casa cansado e encontrar aquela mulher prostrada no sofá assistindo novela, todos os dias.

Não tinha comida pronta, as crianças não tinham tomado banho, roupas sujas e a casa toda bagunçada. Era um terror!

Eu não aguentava aquilo. Primeiro cuidava das crianças, depois providenciava o jantar e cuidava da casa. Quando ela era indagada sobre todas as tarefas que estavam por fazer, apenas dizia que estava sem vontade.

Me subia o sangue. Será que ela não percebia o quanto eu me cansava em meu trabalho para trazer renda para casa?

Em muitas circunstâncias, eu me questionava se ela não percebia o quanto nossas posições eram injustas e desiguais. Como homem, eu tinha obrigação de trazer dinheiro para casa, colocar comida, pagar as contas, dar tranquilidade e conforto para ela e para os nossos filhos. Ela, tinha que cuidar das crianças e da casa, mas ela não cumpria o seu papel e sobrava tudo para mim.

 

Eu a culpava, costumava dizer que, quando alguém não cumpre com a sua responsabilidade, sobra mais para os outros desempenharem. Estava sobrando tudo para mim e eu estava exausto.

Reconheci que eu precisava desabafar para não pôr tudo a perder e resolvi me encontrar com um amigo, mas para minha infelicidade, meu amigo estava de luto porque tinha acabado de perder a esposa.

Enquanto meu amigo se queixava da perda da esposa amada, eu me queixava da esposa preguiçosa que habitava em meu lar. Mas, para o meu espanto, meu amigo não me apoiou. Ele tentou me abrir os olhos e disse que aquilo tudo não era normal, minha esposa devia estar passando por algum problema e eu não tinha notado porque perdia meu tempo reclamando e visualizando os erros que existiam em nossa casa. Ele falou de tristeza, depressão, obsessão.

 

Meu amigo era muito direto e dizia que nós perdemos muito tempo na vida com as convenções, com “o que deve ser”, com poses e dramas que não conduzem a lugar algum.

Ele falou que eu devia conversar com ela olhando nos olhos e pedir ajuda para criar nossos filhos. Meu amigo disse que era amigo de sua esposa, eles conversavam sobre tudo e ela disse o quanto as mulheres precisam de atenção e apoio no lar. As mulheres querem um companheiro, querem ser reconhecidas.

Eu fiquei irado porque ele não percebeu meu sofrimento, fui embora chateado, mas adentrando o lar num horário que não era o rotineiro, fui surpreendido com o pranto dela. Logo, ela se escondeu e tratou de disfarçar.

Daí eu pensei: “todo mundo tem problema”.

Eu nem percebi que ela é um indivíduo, independente de nós, marido e filhos. Ela deve ter anseios e frustrações que nem imagino.

Eu tentei conversar, prestei mais atenção nela e disse que me perdoasse se eu fui um ausente. Um alguém que só sabe fazer cobranças.

No outro dia, estava tudo arrumado, as crianças estavam cheirosas e satisfeitas após o jantar. Ela mudou drasticamente, após a minha mudança de atitude.

Isso quer dizer que todos esperam algo de nós. No lar, existem muitas pessoas que contam conosco, não contam só com o dinheiro das contas ou com os alimentos que colocamos na mesa.

Eles contam com a nossa presença real, apoio, diálogo, parceria, atenção, enfim, contam com a nossa solidariedade para superar suas próprias dificuldades e limitações.

Quando nós doamos uma pequena parte de nós, as pessoas se sentem mais confortáveis, mais seguras e podem mostrar seu lado bom, isso também nos beneficia e todos ganham. Sempre existe uma troca, mas você deve ofertar o seu melhor sem esperar receber nada porque este é o verdadeiro ato de caridade, amor e fraternidade que podem nos colocar num mundo muito melhor. Tudo começa em casa.


JOÃO EUCLIDES

13/03/2022

 ----Paula Alves---

 

“DEVE SER MUITO RUIM VOCÊ RECEBER EM SEU LAR UM DESAFETO”

 

Eu queria aquele vestido, desejei e pedi a minha mãe que comprasse para vestir nas bodas que iriam celebrar.

Minha mãe olhou bem para mim e disse que ainda não era o momento. Eu sentia uma repulsa nos olhos dela. Não havia disfarce para dizer o quanto eu estava me transformando numa linda mulher e ela tinha que controlar minhas euforias.

Percebi com o passar dos anos que estávamos disputando tudo. A atenção do meu pai e os sorrisos das pessoas que frequentavam nossa casa.

Ela tinha inveja de mim!

Meu pai insistia em afirmar que aquilo era normal, briguinha de mãe e filha, logo passaria. Ele achava que era um problema dos nossos hormônios, mas eu não me sentia bem ao lado dela.

Compreendo que muitas mulheres têm antipatia ou inveja, mas entre mãe e filha?

Eu não podia permitir que nosso relacionamento se baseasse nisso, então, perguntei o motivo daquele tratamento hostil e ela respondeu que eu acabei com a vida dela. Minha mãe argumentou que, por minha causa, ela teve seus sonhos destruídos, pois no momento em que engravidou de mim, teve que abdicar da sua carreira e futuro traçados para se dedicar a maternidade, mas ela nunca desejou ser mãe e eu era a culpada pela mudança de trajeto da sua vida miserável.

Eu fiquei chocada, nem tinha condições de chorar porque não estava acreditando que ela era tão maldosa. Falar isso para uma filha, que horror!

Mas, a verdade é que eu não podia crer que tinha responsabilidade disso porque foi ela que permitiu a gravidez, como eu poderia ser culpada?

Quebrou algo dentro de mim naquele dia. Foi como se eu a renunciasse como mãe, tamanha decepção. Eu arrumei minha mala e fui embora sem olhar para trás, mas não adianta fugir do problema.

Eu me mudei para bem longe e me lembrava daquelas frases todos os dias. Foi como carregar minha mãe nas costas, uma mãe que apontava os meus defeitos e exigia que eu fosse uma pessoa que não sou.

Por toda parte, eu carreguei aquela imagem de juíza que me condenava e eu precisava me libertar daquilo. Eu precisava perdoar, mas como se eu estava tão magoada, tão ofendida.

Acho que o pior é, nestas ocasiões, se achar a vítima, a ofendida, a maltratada.

 

Então, após três anos, decidi voltar e ter uma boa conversa com ela. Eu encontrei minha mãe na cama, debilitada e doente, muito doente.

Acho que aquelas palavras, primeiramente, feriram a ela. Quando minha mãe me viu, chorou na hora e estendeu as mãos para que eu me aproximasse do leito.

Ela falou que não soube por que o sentimento era tão vingativo e invejoso, tão cruel, mas ela sentiu. Ela me pediu perdão pelo mau comportamento, por ter sido uma péssima mãe. Ela não soube compreender que a maternidade era a melhor forma de se transformar numa pessoa de bem. Ela apenas reclamou da vida e viu em mim uma rival, alguém que tirou todos os seus sonhos.

Eu a perdoei e me despedi, dias depois ela desencarnou e eu sofri muito.

Chegando aqui, soube que fomos rivais mesmo, em outras vidas. Ela me feriu, se casou com meu noivo, dificultou minha vida de diversas formas, fazendo nascer entre nós um sentimento de ódio e vingança que levou muito tempo para ser neutralizado na espiritualidade quando desejamos nos reajustar na mesma família.

Mas, se a mãe não olha para os filhos com todo o seu amor... Se ela não faz despertar em si, este sentimento sublime, tudo vai por água a baixo.

Eu não tiro a razão dela, deve ser muito ruim você receber em seu lar um desafeto, mas eu só queria ser aceita por ela, eu queria ser amada.

A Sabedoria divina é muito perfeita porque se nós não podemos amar um filho, de outra forma, ficará bem complicado despertarmos para o perdão e o amor.

 

 RICHIELLE

13/03/2022

  ----Paula Alves---

 “NÃO AOS ABUSOS SEXUAIS!”

  

Eu fiquei louca de raiva. Depois de tanta dedicação, tanto empenho, eu estudei e me esforcei muito pra ocupar aquela vaga e meu chefe disse que eu nunca seria competente quanto ele, homem.

Um absurdo do século XXI. Depois de tantas conquistas, tanta luta por melhores condições de vida e trabalho, mas a mulher não podia ser equiparada a um homem? Por que não?

Eu tinha qualificação, experiência e competência. A promoção tinha que ser minha, mas ele disse que ficava feio para a empresa colocar uma mulher no comando, não tinha nem cabimento uma mulher como líder de equipe. Seria muito humilhante para todos os homens, que eram muitos, serem comandados por uma franzina como eu.

Ah! Que ira. Eu fiquei com vontade de agredi-lo.

Nunca aceitei discriminação. Nunca concordei com atos de racismo, mas ouvir aquilo me deixou muito indignada. Depois de tantos esforços, eu tinha que aceitar isso e tolerar aquela forma distorcida de enxergar as coisas?

Eu tinha que me convencer de que nunca teríamos os mesmos direitos e seríamos sempre as subalternas porque não ficava bem ser chefe de homem?

Nunca! Me lembrei de tantos abusos da história, tantas crueldades com as mulheres, tanta perversão, machismo, hipocrisia, ofensas e danos morais. Deu nojo, embrulhou meu estômago. Gente ingrata!

Nem por um segundo se lembram de quem os apresentou ao mundo...

As mulheres são a primeira manifestação de sociedade no lar para homens e mulheres. São elas que educam, que ensinam valores e inserem diversos atos na mente dos indivíduos. Se eles soubessem valorizar suas mães, teriam nas outras mulheres as figuras de santas.

Respeito e obediência seriam mantidos dentro e fora de casa num sinal de gratidão e desvelo. 

Mas, eu me pus a pensar que, sendo as mulheres as educadoras dos lares, o que estaria errado? Será que estas mesmas mulheres que foram tratadas com inferioridade e submissão, humilhação e derrota, estavam entregando estes mesmos critérios para serem continuados para tantas gerações?

Eu estava sendo leviana com as mulheres? Acreditei que elas tratavam seus filhos diferente e as meninas também eram tratadas como sendo inferiores aos seus irmãos. As meninas tinham cobranças e responsabilidades que seus irmãos não recebiam no lar e, depois, na sociedade de forma geral.

Será que as mães não eram machistas e preconceituosas?

Cansei de pensar, pedi demissão e gritei que: “comigo seria diferente”.

Eu não aceitava porque era muito boa, muito esforçada e exigia que me respeitassem pelo trabalho que desempenhava, independente do meu sexo.

Eu queria terminar com um final feliz, cheio de motivação para minhas irmãs, mas a verdade é que nunca foi fácil. Eu não consegui mais a oportunidade de assumir cargos de liderança. Casei, tive meus filhos e cuidei do lar, enquanto meu marido trazia o sustento.

Nunca foi fácil para nós e, por mais que eu reclamasse, lembrei de todas que sofreram muito mais, por causa da beleza, da pobreza, da escravidão, enfim, mulheres mártires da Humanidade que sofreram tanto para nos mostrar que podemos fazer diferente como educadoras.

Tudo começa na casa que é pequeno núcleo social. Se todas se empenharem em transmitir valores éticos e morais, um dia, as mulheres receberão o respeito que merecem e serão avaliadas por sua competência e não por seu sexo e fragilidade física. Isso é um absurdo!

Não aos abusos sexuais!

 

RITA

13/03/2022

 ----paula Alves---

 

“É POR ISSO QUE, O RESPEITO É A PORTA DE ENTRADA PARA O AMOR”

 

Ele batia tanto que eu nem chorava mais. Dizia que eu era posse, direito concedido pelo casamento. Ah, que vida doente!

Usava e abusava, eu trabalhava tanto e ele gritava que eu era posse. Que me mataria se eu tentasse levantar a cabeça, mas que vida!

Eu pedi ajuda para os meus pais e minha mãe disse que, se eu fosse mais obediente, nada daquilo aconteceria.

A coitada da velha estava tão acostumada a ser maltratada que para ela era normal. Eu não queria aquilo para uma vida inteira, então, eu fazia de tudo para não pegar barriga, eu tentava correr dele. Arrumei um remedinho para dormir e colocava o cara na cama cedinho para que ele nem encostasse em mim, mas ele era muito esperto e quando descobriu me bateu até cansar.

 Aquilo foi um golpe muito duro, suficiente para que eu perdesse todo o meu discernimento. Eu o envenenei, depois tentei sentir um pouco de remorso, mas nem isso, nem uma lágrima.

Eu pensei que existem pessoas que põe em evidência o pior de nós. O lado mais sombrio, mais malvado, o pior de nós é revelado no contato diário com estas pessoas.

Por isso, ninguém pode se dizer extremamente bom nesta Terra.

É fácil ser bom quando você é amado, tem uma vida estável, tranquila, tem amigos, casa e nada te falta para ter paz.

Mas, eu não tinha nada de bom, pedi ajuda e me negaram. Eu não via solução para meus problemas e quis cuidar de mim, me defender, eliminar aquilo que estava me derrotando, desta forma, mostrei novamente, meu pior lado.

Por isso, que o ideal é não confrontarmos ninguém, não pressionar. Por que as pessoas que estão aqui na Terra estão cheias de uma bagagem de delitos, cansadas de torturas mentais e físicas.

Eu nunca mais tive paz depois daquele episódio. Ninguém descobriu, mas a consciência me penitenciou e eu não pude ser feliz carregando aquele erro nas costas. Eu me perguntei por muito tempo, se Deus iria me deixar num sofrimento eterno com aquele marido, se teria outra solução para o meu caso.

Eu não tenho como saber, mas seguramente não foi a decisão mais acertada. Antes eu tivesse fugido. Após meu desencarne, lá estava ele para me cobrar, mas eu estava tão cansada de sofrer por causa dele. Eu me transformei num algoz que cobra a dívida, que se recusa a permitir novos açoites.

Mesmo assim, vivemos por vinte anos aquela união que não tolerei na Terra, enquanto encarnados, até que fomos resgatados, orientados, assistidos e fizemos um novo plano.

Agora seremos mãe e filho. Eu já não posso recebê-lo como esposo, pois ainda não confio nele. Preciso ensinar valores importantes como o respeito pela esposa. Espero que eu possa triunfar nesta missão e auxiliar a nora que foi escolhida.

É por isso que, o respeito é a porta de entrada para o amor.

 

SILVIA 

13/03/2022

 

---Paula Alves----

“UM DIA, AS PESSOAS ESTARÃO TÃO ENVOLVIDAS NA FRATERNIDADE QUE NÃO MAIS NECESSITARÃO DESTES REAJUSTES COM AS LEIS DE DEUS”

 

Claro que dá medo! Eu fiquei apavorado.

Percebi que as tropas inimigas estavam se aproximando e eu desejei voltar no tempo de infância, quando meus pais cuidavam de mim com tanto desvelo e nada era motivo de preocupação.

Eles destruíram toda a cidade e queriam tomar tudo, destruindo nossas casas, matando tanta gente.

Mas, quando eu tive coragem de olhar pela janela vi meninos segurando armas de fogo. Eram só meninos, mal tinham pêlos no rosto e pareciam estar desesperados, muito mais do que nós.

Eu temi por mim, por eles e por meu país, minha pátria. Até aquele momento, nunca havia me dado conta do quanto é tola a ideia do patriotismo porque ele era distinto e limitado. Como se todas as fronteiras nos distinguissem, mas nós somos todos iguais, com as mesmas necessidades e aspirações. Por que nós precisamos matar uns aos outros?

Será que a morte de uns e outros fazem de alguns homens mais felizes ou realizados?

Como dizer que venceram uma guerra se, para vencer, é necessário que tantas milhares de pessoas inocentes morram?

Naquele instante, eu me achei medíocre, mau, até cruel. Como eu me diferenciava daqueles que mandavam acionar as bombas? Se eu, que era tão patriota, dizia que tínhamos que exterminar gente inocente tanto quanto aqueles cruéis governantes?

Nossas mentes são muito levianas. Em nada eu me elevava comparado a eles.

Eu me deixei esmorecer no tapete da sala. Lembrei de meus filhos que foram levados para a guerra. Eu me lembrei da minha esposa que morreu de tanta tristeza. Ainda bem que manuela não viveu para ver a ruina da nossa cidade.

Mas, eu estava ali, sozinho e sentia tanto medo que desejava morrer antes que algum soldado invadisse minha casa. Mas, por que temer, se eu já sabia da minha sorte?

Ora, todos nós morremos. Só não fazemos ideia do dia e da causa. Eu queria morrer dormindo, mas qual seria a diferença se tudo levava ao fim?

Eu não tinha ideia do que me aconteceria, acho que eu tinha medo de sofrer, mas aquilo ali já não era um baita sofrimento?

O fato é que se não fosse aquele momento, eu jamais me teria feito todas aquelas perguntas. Tão alheio às coisas espirituais. Tão soberbo, tão entendido de política e economia para acreditar que a guerra é um absurdo.

Eu precisei passar pelo pânico da guerra para admirar o céu. Para me questionar sobre o futuro daqueles que morrem e das minhas necessidades evolutivas. Parar para refletir sobre a importância da vida e dos meus erros.

Eu pensei em deus. Madalena sempre falava de deus e eu debochava d’ele. Eu nunca imaginei que ele estava no controle de tudo.

Quando eu ouvi a bomba explodindo só pensei no poder dos homens que criam armas, mísseis, caminhões tanque. Eu pensei na inteligência do homem que deseja o poder acima de tudo, destrói tudo a sua volta e é invencível.

Eu não podia crer que deus usa tudo isso para nos disciplinar e se mostrar para nós. Eu não imaginei que ele pode interromper tudo isso quando quiser. Nunca pude imaginar que deus usa todas as tragédias para educar filhos imprudentes e terríveis. Eu não podia crer, mas é a mais pura verdade.

Eu sinto muito por não ter tido mais tempo de pensar nisso, enquanto podia ensinar aos meus filhos e falar com manuela.

Mas, agora eu sei e respeito. Eu me curvo e compreendo os motivos de deus para permitir que estas coisas aconteçam. Creio que, um dia, as pessoas estarão tão envolvidas na fraternidade que não mais necessitarão destes reajustes com as leis de deus.

 

MELCHIOR

05/03/2022

 

 ------Paula Alves----

 

“PARA DEUS É APENAS UM MOMENTO, PARA NÓS É A OPORTUNIDADE DE VALORIZAÇÃO DO SER HUMANO”

 

Eu me encolhi atrás da cama e desejei que mamãe chegasse logo. Aqueles minutos pareciam eternos, eu vivi o terror.

Achei que eles iam invadir o barraco. Abracei meu irmãozinho e pedi a deus para que ele não acordasse chorando. Nós precisávamos de silêncio.

Eu não sei quem eu temia mais, se era a polícia ou os traficantes.

Eles tinham seus motivos para manter aquela guerra no morro, mas a gente só queria viver em paz.

Eu tinha doze anos e já morria de medo. Eu queria dormir em paz, enquanto minha mãe trabalhava para trazer comida para gente. Meu irmão tinha dois anos e ele era bonzinho, dormiu em paz com todo aquele barulho de mundo acabando.

Eu tinha medo de tudo, de vez em quando, acordava desesperada porque achava que eles estavam atirando lá dentro, mas era só pesadelo mesmo.

Sabe lá o que é gente honesta ter que viver neste lugar? Parece uma penitência, um castigo. Todo dia você nunca sabe se vai acordar vivo ou se vai ter que sair correndo no meio dos becos.

Todos eles diziam que brigavam para defender a comunidade, mas nós tínhamos medo de todos. Nada era para gente, tudo envolvia dinheiro e poder.

Acho que na vida é sempre assim... Uma minoria que briga por poder e posses, mas envolve um montão de gente que não tem voz e nem vontade própria, vive submisso a tudo o que os grandes desejam, estes montes morrem sem saber o motivo, sofrem e se desesperam sem paz. Nas guerras isso sempre existiu, eu aprendi na escola.

Tinha inocente morrendo de todos os lados na guerra do morro. Todo mundo que era contra a tudo o que faziam e tentavam falar, morriam. Professor, padeiro, mães, todo mundo. Eu não queria morrer, só queria ficar em paz com a minha família, então, aprendi a ficar quieta. Nunca vi e nem ouvi nada.

Mas, acho que é este o motivo para a omissão dos bons, eles querem viver em paz. Ninguém quer morrer e deixar um familiar desamparado, então, esconde os seus princípios, fica no silêncio. É muito melhor do que ser silenciado.

A guerra interna que acontece no brasil mata milhares de pessoas todos os anos e nunca acaba. Guerra por causa das drogas, da política, do poder. Sempre o poder.

Pobre que fica cada vez mais pobre, impunidade que sempre existe e a gente ainda acha motivo para sorrir e para sobreviver.

Eu queria viver num mundo onde a paz e a fraternidade imperassem, mas eu vivi mais de quarenta anos no morro esperando o dia em que iam invadir o barraco. Quando isso aconteceu, eu até achei normal.

Mas, o normal é quando as pessoas se incomodam com a crueldade e se unem para que a paz prevaleça aqui ou do outro lado do mundo.

Um dia, quando tudo de ruim for anormal para a maioria, quando as pessoas se envolverem com as obras sociais e com a necessidade da igualdade e justiça, neste dia, não por interesse de posses, mas por interesse de pacificações, o mundo começará a tomar uma direção muito oportuna para todos, aqui e no estrangeiro.

Enquanto isso, precisamos acionar os nobres valores com estas questões tão dolorosas para ver se afetam a alma e a consciência.

Para deus é apenas um momento, para nós é a oportunidade de valorização do ser humano.

 

BIANCA

05/03/2022

 

-------Paula Alves---

 

“QUE TODAS AS MULHERES SAIBAM DO SEU DEVIDO VALOR E NUNCA PERMITAM QUE OS HOMENS AS AGRIDAM, MESMO QUE PARA ISSO, TENHAM QUE FUGIR DA GUERRA QUE AMEAÇA SUAS VIDAS”

 

Era uma guerra quando aquele homem chegava em casa. Bêbado e violento.

Primeiro ele pensava em satisfazer os instintos, nem se dava conta das crianças que estavam pela casa. Ele me estuprava e batia até cansar.

Eu morria de vergonha dos meus filhos maiores, eu tinha asco do meu marido, eu tinha nojo.

Eu queria tanto viver em paz, uma vida simples, podia ser até cheia de privação, mas que eu pudesse contar com ele para criarmos nossa família. Se eu não tivesse tanto medo, já estaria bom.

Eu via tanta gente comentando das derrotas que as pessoas viviam por aí. Minhas vizinhas se incomodavam com a situação econômica, com a crise financeira que desestruturava o país. Eles falavam de impeachment, mas eu nem sabia o que dizer, meu problema era em casa.

Quando você tem paz no lar, seu mundo pode ser pacífico, depende de como está o seu coração. Eu não digo que não me afligiam os problemas alheios, mas eu não tinha como pensar na sociedade se não conseguia parar de temer.

Cheguei a implorar uma solução para deus. Que ele pudesse tirá-lo do vício, transformar meu esposo num homem responsável com a família, leal ao nosso casamento. Eu quis que ele fosse bom e não um torturador.

Pensei que a culpa era minha porque eu me permitia dominar, eu era submissa e passiva. Muitas mulheres nunca permitiriam passar por tanta humilhação e violência, então resolvi afrontar, me impor, gritar se fosse preciso e mostrar para ele que eu não aceitava ser tratada daquela maneira, mas a surra foi ainda pior, fiquei toda marcada.

Depois disso, eu precisava sair daquele inferno. As pessoas ficavam alvoroçadas com as questões que ocorriam em brasília e nem se davam conta do que estava acontecendo na nossa rua. Guerra no meu lar. Ele podia ter me matado e as minhas vizinhas nunca se deram conta dos meus gritos de socorro. Ninguém nunca chamou a polícia.

Eu desejei que alguém pudesse nos defender. Que alguém pudesse interferir, pedi tanto a deus, mas como isso não aconteceu, eu tinha que usar outro recurso.

Eu não queria morrer de tanto apanhar e deixar meus filhos com aquele crápula, então, arrumei nossas poucas coisas e fomos embora sem deixar rastros.

Eu me senti uma fracassada, mas precisava sobreviver. Temi que ele nos achasse, mas ele nunca foi pai para aquelas crianças.

Fugir daquela guerra foi a coisa mais difícil que já enfrentei. Deus me deu forças para criar meus filhos com dignidade, muito trabalho e fé. Eu consegui.

Espero que as mulheres saibam desejar coisas boas para elas e seus filhos.

Que todas as mulheres saibam do seu devido valor e nunca permitam que os homens as agridam, mesmo que para isso, tenham que fugir da guerra que ameaça suas vidas.

 

SEBASTIANA

05/03/2022

 

----------Paula Alves-------

 

 

“EU  CONSEGUI ME LIBERTAR DA GUERRA MENTAL, APÓS ENTRAR EM CONTATO COM DEUS”

 

Eu vivia numa guerra mental. Nem mesmo, conseguia manter uma conversação simples, parecia louca.

Minha mãe argumentou com o médico e escutei quando ele falou: “esquizofrênica!”

Eles tinham nome para tudo, mas não tinha remédio que acalmasse meus pensamentos. Como eu podia dominar a vontade que eu tinha de atacá-lo?

Eu já tinha quebrado a casa inteira umas duas vezes e minha mãe não me queria mais. Era mais fácil para ela me internar e eu estava com muito medo. Todos já tinham ouvido falar do que acontecia nos sanatórios e eu conseguia prever o que me esperava.

Aquele médico me olhava estranho, será que minha mãe não percebia?

Ela nem sequer tentava me ouvir porque dizia que eu era desequilibrada, eu a irritava. O fato é que eu estava sozinha e isso me dava mais medo.

Quando as pessoas te definem é difícil se transformar em algo diferente disso, algo normal.

Ela me definiu como desequilibrada, eu seria sempre desequilibrada para a minha mãe. Depois que ela se envolveu com o dono da padaria piorou muito. Minha mãe queria refazer a vida, encontrar um homem que não a abandonasse como o meu pai era tudo o que ela queria. Filhos normais, marido normal, enfim, ela só queria ser feliz e isso me indignava.

Eu precisava de ajuda e minha mente só tinha pensamentos terríveis. Sabe quando só se pensa no pior, no mal, no doentio? Eu não tinha motivos para sorrir porque eu só via cenas de morte e sofrimento.

Eu pedi a deus para morrer muitas vezes porque acreditava que a morte podia me libertar com o ponto final. Eu pensei que seria aniquilada, uma consciência que se apaga e nada mais, quanto engano!

Se eu soubesse que a guerra da minha mente era estimulada por um espírito que estava se vingando de mim... Um obsessor que me dominou a mente com pensamentos de destruição.

Eu nunca poderia crer. Mas, como eu estava com tanto medo da minha mãe me internar, tomei coragem e fugi para bem longe.

Eu estava com fome e com medo, cheia de maus pensamentos e precisava que me acolhessem em algum lugar.

Foi aí que vi a irmã tereza, uma freira com olhar sereno e sorriso tranquilo. Eu a vi, enquanto comprava maçãs. Ela me perguntou da minha família porque percebeu que eu estava desestabilizada e faminta. Eu menti dizendo que era órfã. Ela me perguntou se eu não queria ir para o convento e eu aceitei.

Foi a melhor coisa que fiz na vida. Lá no convento, entre obrigações diárias e orações fervorosas, me libertei do meu obsessor. À medida que eu me reformava, limpava a mente e me sentia em paz.

Eu  consegui me libertar da guerra mental, após entrar em contato com deus.

 

FLAVIANA  

05/03/2022   

 

 

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