CArtas de Março (12)

 

“Páscoa é vida. Vida com Jesus!”

 

A comunhão que temos com o mestre não pode ser platônica.

Temos que nos envolver com ele, fazer planos com Jesus e termos uma vida ativa com o Senhor de imensa bondade.

Na Páscoa, nós fortalecemos nosso relacionamento com Jesus, firmamos nossa intenção de segui-lo e realizar os atos de pacificação, solidariedade e fraternidade que são da vontade do Pai.

Só estaremos envolvidos com ele se tivermos identificação com o Mestre. Se todos os propósitos edificantes de Jesus fizerem parte de nossos próprios ideais.

Será que nós já nos condoemos pelo padecimento de nossos irmãos e nos esforçamos para beneficiá-los? Faço o meu melhor para espalhar a esperança e o bem, o otimismo e o bom ânimo?

Eu perdoo, alimento, esclareço e enxugo o pranto?

Aqueço, fortaleço e amparo?

A exemplo de Jesus seguiremos traçando um caminho de progresso para a Humanidade, sem queixas, sem preguiça ou esmorecimento. Seguiremos com fé, certos de que a espiritualidade nos incentiva e impulsiona, apesar de nossas árduas trajetórias podemos fazer algo a mais em prol do nosso semelhante, uns pelos outros.

Mais uma Páscoa! Mais um ano, sendo verdadeiros cristãos a caminharmos com Jesus. Enriquecendo nossas vidas com seus ensinamentos, consolidamos esta união e reiteramos nosso compromisso.

Páscoa é a certeza plena da imortalidade da alma porque Ele vive para sempre. Estará sempre que for solicitado por corações genuínos de bondade.

Estará quando duas almas fraternas solicitarem sua presença amorosa. Ele sempre viverá em nós.

Que Jesus se faça presente em sua vida, hoje e para sempre. Entregue nas mãos do Nazareno todas as aflições e angústias, se restabeleça e prossiga espalhando amor.

Páscoa é vida. Vida com Jesus!

Luís Felipe


Psicografado por Paula Alves




“Nossas irmãs precisam de apoio e demonstrações sinceras de trabalho árduo”

 

Eu queria saber por que tanto menosprezo. Eu não tinha mais tempo para provar que eu tinha potencial e que estava me dedicando ao máximo.

A vida podia ter sido muito mais simples, se tivessem me deixado trabalhar em paz. Mas, quem é que tem uma vida fácil.

Ser mulher já é um desafio neste mundo. Eu sabia que a minha missão era árdua e eu sabia que estaria rodeada por homens machistas e por mulheres machistas, numa sociedade que se propõe seguir rótulos e títulos, mas eu acreditei que poderia ser alguém que luta e se desenvolve, cria e beneficia aqueles que não tinham, nem mesmo, a chance de tentar.

Mas, eu estava errada porque nada mudou e eu sinto que fracassei porque me deixei levar por eles e abandonei minhas convicções, cansada de brigar e provar que meus estudos poderiam ser utilizados para beneficiar as pessoas.

Quando eles disseram que eu devia arrumar um marido que cuidasse de mim, me esquivei. Quando minha mãe disse que eu não tinha chance porque era uma mulher, eu me zanguei tanto e cheguei a pensar que seria mais fácil ter nascido um homem, mas compreendi que precisamos sentir na pele as adversidades do sexo feminino para lutarmos pela igualdade.

Esta necessidade nasce dos pequenos olhares de indiferença, dos risinhos hipócritas daqueles que desacreditam porque acham que o sexo determinou que você não conseguirá alcançar seus objetivos. Eles nem mesmo sabiam falar, usar fórmulas simples, cheios de complexos e amarguras, tão necessitados de uma mulher que pudesse preencher o seu vazio ou seu complexo de inferioridade.

Pobres criaturas atrasadas que não conseguiam enxergar que nunca tinham abandonado as “tetas” de suas mães, amarrados aos cordões umbilicais, sempre os bebês que precisavam ser amparados.

Eu briguei, gritei, sai às ruas com megafones, esbravejando pela Lei da Igualdade que pudesse assegurar melhores condições de vida nesta sociedade desviada, mas foi um momento na minha eternidade.

Cheguei aqui, frustrada. Conhecendo minha bagagem e minhas necessidades evolutivas. Analisei minha vida e sofri o arrependimento daquele que se permitiu fracassar em decorrência do seu orgulho.

Eu não precisava discutir com eles, eu tinha que ter trabalhado cada vez mais. Nossas irmãs precisam de apoio e demonstrações sinceras de trabalho árduo. É pelo exemplo real que podemos modificar a sociedade e fortalecer o “sexo frágil”. Concedendo às mulheres o empoderamento necessário para que se desenvolvam cada vez mais e se orgulhem do que são.

Mulher bem resolvida e decidida a seguir em frente pelo bem de si mesmo e dos seres confiados aos seus cuidados. Mulher que se alinha aos demais membros da sociedade para o progresso de todos.

Não perde tempo defendendo teses ou reconhecendo quem sabe mais, quem é o mais poderoso ou inteligente. Mulher que trabalha e busca se aliar aos homens num objetivo comum que é a fraternidade e a pacificação.

Somos eternos, independente do nosso sexo, devemos nos amparar no bem comum rumo ao progresso geral.                                                                                                                                                                           Guida

 

                            ***

 

“Homens e mulheres vivendo em paz, reconhecendo seu devido valor e necessidades”

 

Minha situação nunca foi boa ou confortável. Meu pai não cansava de mencionar que uma filha era algo inútil que dava trabalho e dor de cabeça. Ele dizia que precisava arrumar marido o quanto antes para não emprenhar e ficar na casa dos pais dando despesa.

A impressão que eu tinha é que ele tinha vergonha de nós. Minha mãe sempre foi muito submissa, parecia até que ela morava de favor na casa dele. Ela se desculpava por tudo e morria de medo de contrariá-lo, então, ela nunca ficava do nosso lado e, por conta disso, as filhas se sujeitavam a casar com qualquer homem que o pai levasse para casa. Ele estava se desfazendo das filhas para não ter mais trabalho.

Ele gostava dos filhos homens, também não contava como primogênita a primeira filha, nem contava, o primeiro era o filho, o homem. Eles eram bem tratados, podiam até estudar. Ele dava dinheiro e ensinava várias coisas, apresentava na cidade com muito orgulho. Era como receber um prêmio ter nascido homem.

Eu ficava enojada daquele circo, daquela situação, dos risinhos do meu pai que só sabia nos ofender. Ele usava minha mãe e todas as mulheres eram tratadas como objeto.

Eu bem que percebia como ele olhava para as mulheres que iam até nossa casa, primas, vizinhas, nossas amigas ou amigas de nossa mãe, ele tinha um olhar devorador, era horrível. Eu nem queria receber ninguém em nossa casa para não passar raiva e vergonha. Meu pai era um homem de pouco valor moral e não tentava esconder.

Eu não queria me casar, meu pai não me ensinou nada de bom vindo de homens. Por mim, eu teria ido embora, para bem longe, viver minha vida em paz, mas eu ficava com dó das mulheres da minha família, minha mãe e irmãs precisavam de mim. Nós tínhamos olhares e tentávamos nos apoiar nas dificuldades da vida feminina.

Minhas irmãs já estavam casadas e tinham filhos sem parar, eu sempre ia ajudar com o parto e o resguardo delas, cuidando dos bebês, mas também não era legal porque meus cunhados chegaram a dar em cima de mim. Que nojo! Que situação terrível!

Nunca deixei que minhas irmãs soubessem, eu fazia de tudo para me afastar deles e ir embora o quanto antes.

Do nada, meu pai arrumou casamento para mim com um homem bem mais velho que me tratava como mulher objeto, nenhum pouco carinhoso ou delicada. Três anos depois, ele morreu numa emboscada e eu fiquei com dois filhinhos pequenos. Esta foi a benção de Deus na minha vida.

Viúva com dois filhos. Eu amava meus filhos. Adorei ter ficado livre daquele sujeito que me maltratava. Compreendi que eu precisava ensinar valores aos meninos. Valores que os tornassem homens conscientes, eles deviam aprender que as mulheres têm sentimentos e precisam ser bem tratadas.

Eu podia educar meus meninos em paz. Trabalhei, cuidei dos meus filhos, nunca mais quis me envolver com homem. Me dediquei exclusivamente na educação dos meninos e eles se tornaram homem incríveis.

Homens raros para aquela época machista. Minhas noras tiveram sorte de encontra-los. Elas sempre foram boas para mim, eu as recebi como minhas filhas e eu recebi de Deus a oportunidade de ter a família amorosa que eu tanto sonhei.

Compreendi que, nem sempre, nós recebemos da vida aquilo que desejamos, mas podemos nos esforçar para triunfar e alcançar o que almejamos.

Eu vivi muitos anos de paz e tranquilidade com aquela família amada. Cercada por meus filhos, noras e netos. Conscientes de que todos nós devemos nos apoiar para ultrapassar provas difíceis. Homens e mulheres vivendo em paz, reconhecendo seu devido valor e necessidades.

 Amparo

 

    ***

 

É com amor e delicadeza que as mulheres conseguem educar, informar, consolar e amparar todos que estão ao seu redor.

 

Controlei tudo no meu lar. Aquele marido não tinha condições de cuidar de nossas finanças. Eu me casei com ele porque meu pai determinou, mas logo deixei claro que eu não era mulher de colocar cabresto. Ele gostava de mim e aceitou meu jeito de ser, então fui cuidando de tudo à minha maneira.

Ele era muito trabalhador, quando recebia o salário, colocava tudo na minha mão e eu determinava o que seria feito. Foi, por isso, que logo conseguimos comprar nosso terreno e construímos nossa casa. Ele falava que não estava satisfeito com o trabalho, mas eu não permitia que ele fosse fraco, então, incentivei a manter o cargo. Ele era manhoso e precisava de uma mulher forte para controlar as coisas.

Eu estive de olho em tudo e em todos, conduzindo a situação, cuidando dos mais velhos. Achava um absurdo a forma como meu pai falava com a mãe. Ele já estava no fim da vida, dando ordens, acreditando que éramos escravas do lar, falei umas verdades, por que ele tinha o direito de morrer achando que nossa vida foi um mar de rosas?

Falei todas as verdades que estavam sufocadas na minha garganta. Ele não tinha ideia do quanto éramos ressentidas e nos sentíamos perturbadas coma maneira que fomos criadas. Eu falei tudo e disse que ele não desejaria nascer mulher na nossa casa, sofrer o que sofremos.

Meu pai chorou de desgosto e pediu perdão para todas nós. Eu me arrependi porque isso não mudou o mundo, só fez o meu pai chorar.

Meu esposo entrou em crise por causa da infelicidade no trabalho e precisou fazer tratamento com psiquiatra, eu também me arrependi por causa disso, ele não tinha estrutura psíquica para ser controlado por mim.

Repensando minha vida, eu creio que nós mulheres somos muito fortes para suportarmos todas as injustiças sociais e ainda continuarmos de cabeça erguida. Eu precisava ter sido mais delicada com todos. Assumi uma postura de ogro, um ser que tem crosta para suportar todas as injúrias, mas eu devia ter sido ainda mais feminina, esta foi a minha essência e eu devia ter me aproveitado dela.

É com amor e delicadeza que as mulheres conseguem educar, informar, consolar e amparar todos que estão ao seu redor. Nunca na briga ou na desvalorização do outro. Eu queria a valorização da mulher, mas acabei sendo tão cruel quanto os homens da minha época.

 

Dorotéia

 

      ***

 

Homens e mulheres devem se respeitar e ter as mesmas oportunidades na vida.

 

Mulheres vulgares! Todas elas eram vulgares e não tinham nada de bom a oferecer, mas meus filhos se encantavam com elas e me faziam ter de suportar aquela convivência ruim e medíocre.

Eu recebi quatro filhos homens e os amava mais do que a mim mesma. Via por toda parte mulheres acomodadas que tentavam se apoiar em homens que eram apaixonadas por elas. Mulheres que exploram e se acomodam, tremendamente ociosas e aproveitadoras. Eu não queria isso para os meus filhos.

Hoje sei que nenhuma delas seria boa o suficiente. Uma a uma, elas se aproximavam deles e eu fazia de tudo para acabar com o relacionamento porque via sempre um defeito ou um motivo para que elas não fossem minha nora, as mães dos meus netos.

Mas, eles me conheciam e escolheram aquelas que, para mim, foram as piores porque me afrontavam e debochavam de mim.

Eu não podia dar razão a elas porque eu não confiava naquelas mulheres. Um dos meus filhos disse que eu era machista. Imagina, uma mulher machista...

Então, fiquei pensando e achei que ele estava certo. Acho que eu fui educada num mundo machista e era normal pensar daquela forma, mas eu bebi do meu próprio veneno quando nasceu minha primeira neta. Quando olhei para ela foi como reencontrar o amor da minha vida. A menina se tornou a luz dos meus dias e daí comecei a pensar em diversos aspectos da vida que nunca me incomodaram. Ela cresceu e me ensinou tanta coisa, radical, enérgica, contagiante, ela queria estudar e conquistar tanto quantos os homens, ela desejava ser independente.

Eu a apoiei, os meus filhos ficaram risonhos e falavam: “a Glorinha pode tudo, né mãe?”

Ela podia, ela tinha que ganhar o mundo. Ela era feminista, queria sair às ruas, lutar por melhores condições de igualdade, votar, trabalhar, ter diploma, queria ser juíza.

Minha neta foi meu maior exemplo de vida e de realidade feminina, linda, educada, equilibrada e amorosa. Uma mulher com todos os atributos femininos que só desejava as mesmas condições para se desenvolver intelectual e profissionalmente.

Eu ouvi tudo o que ela disse de todas as situações machistas que envolvia na sociedade, fatos que para mim eram tão banais, se acontecesse com minhas noras ou qualquer outra mulher na face da Terra, menos com ela. Sendo com ela, me chocava e deixava irritada.

Eu diria que a Glorinha me reeducou para a vida. Uma machista que foi machista em várias vidas e conseguiu, através do amor, entender que homens e mulheres devem se respeitar e ter as mesmas oportunidades na vida.

 

Regina

 "Psicografado por Paula Alves"


“Será que estamos agindo segundo a vontade de Deus?”

 

Elas me procuravam quando estavam correndo perigo. Eu nunca me esquivei, compreendi o pânico que lhes invadia o ser e fazia o chá de ervas antes que a barriga pudesse crescer, acabando com a reputação.

Eram mocinhas novas e ingênuas que se deixavam levar pela paixão ou aquelas que eram arruinadas pela sordidez de um crápula que as tomava à força.

Em todos os casos, elas chegavam profundamente martirizadas, cheias de arrependimento, tentando se livrar de um pesado fardo que podendo comprometer sua integridade moral as levassem a serem banidas de suas casas e também da sociedade.

Naquela época, as mulheres não eram tratadas como hoje. Tudo era motivo para perseguições e humilhações deveras, era como receber uma sentença de morte pelas circunstâncias penosas em que seriam obrigadas a conviver.

Eu só pensava nisso, ficava completamente penalizada pela forma como chegavam à minha casa. Eu temia que o organismo frágil não resistisse ao poder das ervas e, infelizmente, algumas delas não aguentavam. Mas, era tudo o que eu podia fazer com a minha intelectualidade na época.

Foram muitos casos, quando me descobriram vinham rapidamente me procurar. Eu era a neta de uma bondosa curandeira e sabia manipular as ervas.

Eu não podia imaginar que minha vontade de ajuda-las era totalmente culpável diante da Lei de Deus. Nunca me dei conta de que eu estava interrompendo os planos da espiritualidade de enviar seres ao plano físico. Minha vida, passou a ser calvário, ali mesmo, naquela existência, contraí uma doença que não me permitia refletir direito, parece que tudo conspirava para que eu não me envolvesse.

Quantas vezes, nossa vontade de ajudar alguém, só faz prejudicar. Nosso intuito pode ser bom, mas nós avaliamos as coisas e nosso ponto de vista é errôneo. O que parecia um bem, é de fato o mal sendo causado por nossas próprias mãos.

Será que estamos agindo segundo a vontade de Deus? Realmente estamos influenciando positivamente nas vidas de nossos semelhantes?

Eu cometi delitos gravíssimos. Desencarnei, muito tempo passou na espiritualidade até que eu tivesse compreensão do que fiz e pudesse receber auxílio e tivesse permissão de reencarnar.

Nesta nova jornada, eu tive um marido integro e leal, possibilidade promissora de ter uma família linda com ele, mas eu nunca consegui engravidar. Eu tive o útero cheio de lesões, seco, estéril.

Não conseguia compreender porque, com tanta saúde, eu não podia ser mãe. Isso me deixava inquieta e frustrada, profundamente revoltada com os planos de Deus na minha vida. Eu blasfemei e ignorei Seus propósitos porque achei que Ele estava sendo injusto comigo, afinal, eu achava que nunca havia feito mal a ninguém.

Mas, tudo é perfeito na Lei. O Senhor permite que tenhamos consciência das coisas e dos nossos delitos, sentindo na pele as necessidades evolutivas. Eu não podia ter aquilo que seria o meu maior sonho. Tudo o que eu queria na Terra era ser mãe e isso eu não podia ter.

Então, eu me envolvi com as crianças na igreja. Eu precisava senti-las junto de mim, sentir os abraços e sorrisos, sentir o amor delas e isso me fez feliz por muitas décadas.

Enquanto estive encarnada, não consegui ser grata a Deus e nem entendi a necessidade daquele aprendizado, mas quando retornei para o mundo espiritual, fui muito agradecida.

Minha pena foi branda, apesar de todo mal que cometi. Deus levou em consideração minhas intenções de auxiliar, mas nem por isso, eu era digna que carregar um bebê no meu ventre porque em outra existência não permiti que eles se desenvolvessem em paz.

Hoje sei de tudo, já cumpri minha pena e pedi perdão mil vezes por todos aqueles que comprometi com meus atos. Recebi a permissão de retornar e, desta vez, poderei vivenciar o contentamento de procriar, sentir um ser crescendo em meu ventre é tudo o que desejo, enquanto ser encarnado.

Estou tão feliz! Sei que serei uma boa mãe porque aguardo por esta oportunidade há muitas vidas. Gratidão ao Pai pela forma como cuida de todos os seus Filhos.

 Salomé

                            ***


 “A cura vem do amor”

 Eu tinha outros planos. Sempre achei muito injusto o fato de as mulheres precisarem mudar toda a vida em decorrência da gravidez.

Os homens podiam continuar com suas vidas inalteradas, sem preocupações, ter planos de carreira e estabilidade, mesmo com família e filhos, mas às mulheres cabia deixar tudo de lado para se dedicarem exclusivamente a criação de seus filhos.

Era o abandono de si mesma para se dedicar a outros seres que podiam ser ingratos na fase adulta. Esperar que tanta abnegação serviria para alguma coisa, ao meu ver, era a total renúncia de si mesma, tolice, alienação, romantismo exagerado que não cabia em mim.

Então, eu estava decidida a não ceder. Não tinha intenção alguma de me entregar ao relacionamento familiar, ter crianças não estava nos meus planos. Mas, eu namorava, saia, me divertia. Fui uma mulher independente desde jovem, trabalhei, tive carreira e me permiti ter vida social saudável.

Porém, conheci um homem que me amou demais e dizia que acabaria com aquela vida difícil de mulher independente. Ele queria se casar comigo, queria me mudar, fazer com que eu me tornasse dona de casa, mãe.

Tanto fez que eu acabei engravidando. Eu não pensei duas vezes, terminei com ele e encerrei a gravidez que estava, apenas no princípio.

Mas, foi um ledo engano acreditar que, por estar no princípio, não seria considerado ato cruel por parte da Lei Divina. Eu infringi a Lei e vivi atormentada deste então. Foi como se minha consciência soubesse perfeitamente o momento em que me arruinei.

Nada mais foi como antes, eu não alcancei a paz e nem a alegria. Não quis mais me envolver, vivi inquieta e repugnava a ideia de ter acometido aquele ato terrível. À noite, tinha pesadelos como se alguém me cobrasse pela oportunidade de não ter tido família.

Eu me atormentei e me entreguei aos vícios. Foi uma vida efêmera e sem propósito.

Quando reencarnei, novamente como mulher. Eu tive outros planos, desejei me envolver e me casar. Eu queria ser mãe, mas não consegui porque tive câncer de colo de útero. Quando descobri a doença, não tinha muito a ser feito para tratar o órgão, para proteger minha vida, ele foi sacrificado. A extração do órgão reprodutor tirou minha possibilidade de gerar um filho, mas dentro de mim, o desejo de ter um filho foi maior.

Eu busquei na adoção, o amor que poderia me salvar. A cura vem do amor.

Meu filho João trouxe todo amor e contentamento que eu poderia ter para transformar minha vida num ato de abnegação e devotamento. Com ele, eu vivi os dias mais floridos que uma mãe pode ter. O fato de ele não ter sido gerado no meu corpo físico, não reduziu em nada o amor que eu senti, pelo contrário, eu nutri uma gratidão indescritível porque ele permitiu que eu fosse sua mãe.

Eu o agradeci todos os dias com meus afagos e educação moralizadora, tentando me esforçar para ser uma mãe virtuosa e amorosa pelos dias que Deus nos permitisse viver aquela afeição.

Eu digo para todas as irmãs que não podem gerar seus filhos, adotem! Sejam mães de qualquer jeito porque, apenas o amor pode nos libertar.

 

                   Graice

 

   ***

“Família é o bem mais precioso que se pode ter na face da Terra”

 Eu senti que não era o fim, mesmo quando o médico deu o diagnóstico e meu marido chorou.

Ele disse que tinha uma pequena possibilidade sem os tratamentos estranhos que ele propôs e eu disse: “Será feita a vontade de Deus”.

A endometriose era bem extensa e o médico não acreditava no poder da oração numa situação daquelas, mas sentia dentro de mim que seria mãe e falei ao meu marido que conseguiríamos. Eu disse, inclusive, que sentia que as crianças já estavam entre nós.

Eu arrumava a casa e dançava, preparava o quarto que seria dos nossos filhos e via minha barriga crescendo. Minha mãe dizia que não era saudável ficar imaginando tanto porque toda a equipe da saúde dizia que era impossível ser mãe. Acho que ela pensou que eu estava ficando louca, mas era fé.

Eu não sei explicar, mas era uma fé forte e inexplicável de que eu seria curada e teria meus filhos, então eu aguardei, calmamente esperei.

Até que um dia, senti algo estranho em mim, fui ao médico e ele constatou que o meu útero estava alojando um pequenino ser. Foi como ser tocada por um anjo, a certeza de que eu era amada pelo Senhor que aprovava minha decisão de ter aquele filho do meu ventre, eu consegui.

Sei que aquela doença veio para testar a minha fé e para que eu tivesse plena consciência de que minha família é o bem mais precioso que se pode ter na face da Terra.

Depois do Gustavo, tivemos a Estela e fomos imensamente felizes. Eu precisei, anos mais tarde fazer a retirada do meu útero, mas estava agradecida ao órgão reprodutor pelos presentes que Deus havia entregado para nossa plena felicidade.

Cheguei a ouvir uma vez se os filhos valem tudo isso. Digo, sem sombra de dúvidas que valem muito mais do que isso. Eu teria feito qualquer sacrifício por eles. Nem uma hora de sono mal dormido ou as tantas vezes que quase morri de preocupação, os dias em que discutimos ou quando se casaram e demoraram para nos visitarem, ainda assim, valeram cada segundo da minha vida.

Eles representaram o melhor de mim e todas as melhores experiências que eu podia ter tido encarnada. Sem eles, meus dias teriam sido pouco iluminados e nada teria sentido. Mudaria tudo e eu gostei de cada momento. Sou muito agradecida ao Pai pela oportunidade que recebi.

 

Lolita

 ***



“ Tudo o que colhemos da vida tem razão de ser”

 Eu não pensei que sofreria discriminação como doente, mas confesso que, apesar de sentir alguns desconfortos, demorei para procurar assistência médica. No fundo, eu sabia que alguma coisa estava errada.

Acho que o primeiro ponto de preconceito se inicia em nós mesmos.

Quando procurei ajuda, ouvi os risinhos, os comentários, eles achavam que eu era homossexual por causa do diagnóstico médico. Eu era casado e até minha esposa começou a desconfiar de minha fidelidade por causa dos comentários maledicentes.

Falavam que um homem casado também poderia ter tido flertes com rapazes e isso justificaria minha doença colorretal. Foi câncer! Eu estava fadado à morte. Naquela década, era sentença de morte, longe do que vocês têm nos dias de hoje.

Tudo começa pela procura de tratamento, diagnóstico rápido e seguro, tratamentos eficazes, daí pode-se obter a cura, mas no meu tempo... Era morte!

Eu já estava entregue a minha sorte, não queria sentir dor, mas senti. Senti muita dor e a dor faz a gente perder a paciência e os bons modos, tira o sossego, foi aí que eu comecei a revidar os insultos que recebia, nem precisavam dizer, eu percebia os olhares maldosos e brigava, minha esposa morria de vergonha.

Então, houve um dia que eu cobrei dela, aquele comportamento que se espera de quem se ama. Será que até ela duvidava de mim, do meu amor e do respeito que eu tinha por ela?

Mas, minha esposa tão descabeçada se perguntava por que eu estava sendo punido daquela forma.

Eu, sabendo que nada tinha feito, fiquei tão indignado e dizia que ela era uma ignorante. Era doença que chega e destrói com a gente, nem precisa ter motivo, eu fui um azarado, mas tudo tinha razão de ser.

Em outras existências, eu fui um nobre e precisei me casar com uma mulher muito rica a mando do meu pai, mas não me sentia seduzido por mulheres e mantinha envolvimento com outros colegas à escondidas. Muitas vezes, eles não queriam se envolver comigo, mas eu os obrigava devido minha alta posição social.

Eu me comprometi com a Lei divina de diversas formas e, com isso, atrai como sentença a doença que me puniu.

Eu entendi que tudo o que colhemos da vida tem razão de ser. Não existe corrigenda que não tenha motivo sério e justo.

Considero que todos neste mundo sofrem e que seremos mais felizes quando vivermos nossas vidas sem prejudicarmos ninguém, nem a nós mesmos, assim estaremos afinizados com a Justiça divina que só quer a evolução de todas as criaturas.

De qualquer forma, desejo que todos os doentes tenham um lugar mais confortável para viver suas expiações. Que as pessoas saibam ser mais condescendentes com seus semelhantes, mais indulgentes e parem de perseguir com olhares maldosos e palavras ferinas aqueles que já estão em sofrimento físico, espiritual, psíquico ou moral.

 Pietro 

***Psicografado por Paula Alves***







“É assim, a Lei da vida, uns vão, outros vem e todos se entrelaçam no meio do caminho”

 

Recebi o diagnóstico e não fiquei preocupada. O médico achou que eu não havia compreendido as informações e repetiu a gravidade da situação. Não tinha jeito, era terminal.

Eu sorri. Dentro de mim, houve uma certeza de que tudo estava acontecendo pela vontade de Deus e eu já tinha entregado a minha vida para Jesus.

Então, eu o agradeci quando ele se esforçou para me dizer que não podia fazer mais nada por mim.

Será que ele achou que eu iria me revoltar?

Eu não podia fazer isso eu sempre soube que a vida é transitória e que nós não temos o controle de nossas vidas. Eu sabia que, um dia, precisaria de um motivo para voltar para a espiritualidade, mas não sabia explicar para o médico minha crença, a minha realidade. Eu, apenas agradeci e fui para casa.

Refleti se havia algo importante para realizar, se tinha alguma coisa pendente. Eu não queria me arrepender de alguma coisa inacabada. Estava tão convicta de que tudo ocorre pela vontade do Senhor e me lembrei de Jesus no momento da oração. Ele solicitou ao Pai que afastasse o cálice: “Pai, afasta de mim este cálice, mas cumpra-se a tua vontade e não a minha”.

Eu precisava ter fé, mas acima da minha vontade, estava a vontade de Deus e eu era grata por toda a minha vida, pelas pessoas formidáveis que estavam comigo, por tantas alegrias e possibilidades de realizar coisas que foram úteis para mim e para outras pessoas.

Eu estava em paz e pude aproveitar os momentos com meus amados familiares e amigos. Vivi muita coisa boa.

A doença me deixou um pouco debilitada, mas não me roubou a alegria de viver e nem tão pouco a esperança.

Quando nós sabemos que estamos doentes, perdemos tempo com a sensação de desastre e frustração, ficamos atormentados e revoltados porque desejamos viver muito mais, mas quem garante que isso não é uma grande oportunidade, se muitos outros morrem sem saber o dia, vão de repente, sem ter tempo de finalizar projetos, etapas e despedidas.

Eu não deixei nada inacabado. Comemorei com eles, orientei, fiz recomendações e me lembrei de momentos importantes, assim como Jesus fez com seus discípulos no Sermão do Cenáculo.

Eu aproveitei a ocasião para me entregar completamente a Deus e deixar claro a todos o quanto a vida foi generosa comigo. Não quis que eles chorassem porque meu tempo tinha se esgotado, bolei uma despedida linda e pude estar presente porque pude me desprender pouco a pouco, sem revoltas ou ressentimentos.

É assim, a Lei da vida, uns vão, outros vem e todos se entrelaçam no meio do caminho. Tudo para que possamos progredir. Sou muito grata.

 

Alcinda

 

***

 





“Eu sei que o amor cura e beneficia”

 

Ela trocou nossas posições.

No início, me senti constrangida, principalmente quando eu não consegui realizar minha higiene. Eu nunca pensei que minha filha adolescente tivesse que suportar o odor fétido e as obrigações do banho no leito e da troca de fraldas.

Mas, ela mostrou o quanto era uma menina forte e decidida. Cuidou de mim com imenso amor e dedicação. Fez tudo com tanto devotamento que não me senti humilhada, pelo contrário, eu só queria agradecer por tê-la ao meu lado.

Senti como se fosse muito merecimento da minha parte, sofrer sendo sustentada por uma pessoa tão maravilhosa, de tão grande coração.

Ela fazia tudo por mim, preparava as refeições e limpava a casa, faltou nas aulas, tudo para que eu tivesse bem-estar e me sentisse confortável.

Eu precisei passar pela cirurgia para tratar aquele câncer e quando estava prestes a reclamar da vida, minha filha me assumiu e cuidou de mim como mãe.

Aquela jovem me deu provas de abnegação e renúncia, amor intenso que não vemos aos montes por aí, ela me amou. Consegui sentir em cada ato o quanto eu era importante em sua vida e fiz de tudo para me restabelecer, afinal ela merecia ter uma mãe ao seu lado. Então, eu roguei a Deus por mim e por ela.

Eu pedi com todo o meu amor que Ele pudesse me curar para que ela tivesse o amparo da mãe e me esforcei com pensamentos de cura, com palavras e atos de cura e gratidão.

Me cuidei tanto e tinha tanta fé na assistência divina que me curei completamente.

Eu sei que o amor cura e beneficia. Eu sei que foi por ela e graças a ela que pude viver mais trinta anos. Até que, um dia, a espiritualidade me chamou. Eu estava tranquila porque minha filha estava casada e feliz com sua família.

Eu podia retornar que ela não ficaria só.

Eu aprendi muito naquela inversão de papéis, quando a filha passou a ser mãe e me deu lição de moral e ética. Eu aprendi muito com ela, perseverança, disciplina, dedicação e fé. Eu tive tudo e agradeço a Deus que não deixa nada faltar.

Nós devemos apreciar tudo de bom que recebemos de Deus.

 

Tábata           

 

                                      ***

 






“Cada um de nós, tem a sua trajetória e vida que independem das vidas alheias”

 

Eu perdi o chão. Aquela mulher cuidava de tudo, de mim e de todos os nossos familiares.

Quando eu soube do seu diagnóstico, pensei que morreria antes dela e pensei se não seria melhor negócio Deus me levar antes porque, apesar de tentar me fazer de forte, eu sempre fui dependente da minha esposa.

Eu sempre fui o provedor, independente financeiramente, mas no fundo, eu não resolvia nada sem ela. Aquela mulher tinha as ideias, os argumentos, as decisões. Era ela quem orientava e educava nossos filhos, ela sabia se entender com nossas noras e recebi nossos netos.

Sem ela, não tinha encontros familiares e nem estrutura moral.

Eu tinha a certeza de que nossa família entraria em ruína quando Deus a levasse, por isso, entrei em pânico e fiquei desesperado. Por mais que eu tentasse esconder, ela percebeu e me deu uma chamada, me corrigiu e falou que, naquele momento, ela precisava que eu fosse o chefe daquela família e desse suporte para ela ser frágil.

Eu fiquei chocado e chorei sem nenhum constrangimento, eu a abracei e chorei. Ela estava séria e disse: “Homem, se controle e se restabeleça. Você precisa entender que, cada um de nós, tem a sua trajetória e vida que independem das vidas alheias. Eu estou nas mãos do Senhor e farei o que for da Sua vontade. Você e nossos filhos terão que aceitar se estiver no meu momento de partir. Será uma nova vida e eu não quero que ninguém me atrapalhe para cruzar a fronteira”.

Ela riu muito e falou que não fazia sentido ser atacada por maus pensamentos e sentimentos de apego e egoísmo, nesta fase de desprendimento e fé.

Ela era muito consciente das coisas, nem parecia uma pessoa normal. Falava que tínhamos que ser livres até na hora da morte. Ela sentia que existia um lugar muito melhor para se viver e nós aprenderíamos outras coisas quando ela não estivesse mais entre nós.

Então, eu fiquei pensando que eu me acomodei diante de todos os cuidados que recebi por parte da minha esposa. Eu estava me entregando à inércia. Já não pensava por mim mesmo, eu era a sua sombra.

Foi uma mulher tão importante em minha vida que me ensinou até diante da sua morte e vivi os instantes mais decisivos ao seu lado.

Ela partiu naquela fase, me ensinando a conduzir a família e a mim mesmo, me ensinando a libertar aquele ser que eu tanto amei.

 Vagner          


Nenhum comentário:

Postar um comentário