Cartas de Setembro (16)

 

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“SOMOS PARTE DA CRIAÇÃO E DEVEMOS HONRÁ-LA”


Eu acreditei que as coisas seriam muito melhores, seriam totalmente diferentes, se tivéssemos as mesmas oportunidades. Eu queria a revolução, queria sentir na pele a igualdade e ter direitos que me concedessem um lugar propício na sociedade.

Antes de mim, foram tantas. Mulheres de todos os tipos que foram silenciadas. Mulheres que foram obrigadas a se casarem e, como um objeto qualquer, foram trocadas por posição social ou para aumentar os bens da família. Casamentos de convenções, casamentos de fachada, de contrato. Mulheres que foram entregues ao matrimônio tão jovenzinhas, nem mesmo, sabiam o que as esperava, as formalidades de um casamento sem amor, sem afeto, sem laços. Elas abandonavam a pureza infantil e eram forçadas a fornecer ao marido sua sexualidade caladas, oprimidas, quase violentadas.

A questão sempre foi tratada com normalidade, ninguém se opunha, não podiam reclamar. Depois, a desonra de ser trocada, abandonada, insultada, tudo concedido aos homens. A mulher não tinha razão, ficava mal vista no meio social.

 

Elas desejaram falar, desejaram ser amadas, desejaram ter opinião. Queriam trabalhar, ter as mesmas condições trabalhistas, desejam estudar, saber ler e ter profissões como os homens, votar.

Nas diversas nações, as mulheres buscaram melhores condições de vida. Sei que todas as mulheres que tiverem acesso a este relato se lembrarão de uma mulher da família, de uma amiga ou, talvez seja, o seu caso.

Quanta luta, quanta batalha para ser auto suficiente? Quanto esforço para ser respeitada e ouvida?

 

Mas, as mulheres se enganaram mais uma vez porque nunca serão iguais aos homens. A igualdade se faz necessária em termos de respeito e valorização, no que tange as oportunidades e também responsabilidades, porém, nunca serão iguais aos homens e nem podem ser porque as diferenças entre ambos são fundamentais para a evolução coletiva.

As mulheres buscaram a igualdade e, algumas delas, acreditaram que deveriam estar em guerra contra o sexo masculino e isso não pode acontecer. Não existe oponente, devem somar as potencialidades e se tratarem com parceria e companheirismo para que possam desenvolver uma série de virtudes.

Acho que eu errei, achei que devesse competir e me virar sozinha seria uma forma de vencer, de me tornar independente, superior. Eu me enganei. Quando deixei o gênero de lado para entrar em disputa com todos os homens que estavam a minha volta, eu me recusei a receber auxílio, tornei minha vida muito mais árdua e nem permiti me envolver completamente com aquele homem que estava predestinado para minha jornada.


As mulheres devem estar atentas, conscientes do que envolve o verdadeiro feminismo, a verdadeira missão da mulher na sociedade que é a de educadora. Ela deve orientar meninos e meninas para que sejam irrepreensíveis cidadãos. Cada mulher no lar, educando o futuro homem de bem, a futura mulher de caráter, isso muda o mundo inteiro.

A mulher pode e deve fazer parte do processo de regeneração do planeta e recolocar-se na sociedade à medida que moraliza pequenos seres que estão sob a sua tutela.

Esta é a melhor maneira de progresso para o sexo feminino. Fazer com que todos os homens respeitem as mulheres, fazer com que todas as mulheres se valorizem por seus esforços, intelectualidade e dignidade.

Sempre lembrando das diferenças marcantes e adequadas aos sexos. Somos parte da criação e devemos honrá-la.

MARIA CECÍLIA

26/09/20

 

 -----------------------Paula Alves--------------

 

“TOLO É O HOMEM QUE ACREDITA QUE PODE DOMINAR O SEU VÍCIO”

 

Eu fui perdendo o respeito de todos que estavam a minha volta.

Tive bons empregos, estudei e minha família foi maravilhosa comigo. Eu me casei e tive dois filhos que eram dedicados, mas minha vida mudou muito por causa do vício. No início são pequenas doses em reuniões sociais, para comemorar e acompanhar os amigos, mas logo, se torna um hábito.

Não existe comemoração sem bebida, ninguém sabe sorrir ou dialogar, todos ficam acanhados e constrangidos. Eu achava que socializava melhor quando bebia uma dose ou outra, porém, aos poucos, comecei a perder o controle e ingeri doses cada vez maiores que ocasionaram deslizes terríveis. Foram desentendimentos, situações vexatórias e até insultos que colaboraram para o término de longas amizades.

 

Eu me transformei numa criatura tosca, agressiva e ridícula. Agredi minha esposa, fiz meus filhos sentirem vergonha e medo de mim. Ninguém me queria por perto, isso me humilhou, eu fiquei indignado, não conseguia compreender por que eles me ignoravam, então resolvi ir embora.

Saí com a roupa do corpo, após meus pais e irmãos tentarem resolver nossa vida familiar. Eu não permitia que eles colocassem o dedo na minha cara, eu queria tomar meu conhaque, minha pinguinha e não entendi como aquela bebidinha poderia me afastar daqueles que diziam me amar.

 

Eles me deram um ultimato, eu deveria parar de beber ou se afastariam de mim, daí eu fiquei louco, disse que não precisava deles para nada, eu que não os queria por perto me dizendo como eu deveria viver, por isso, fui embora indignado.

Fui para a rua com a roupa do corpo. Passei maus bocados e quando me perguntaram por que eu morava na rua se eu tinha estudo, era jovem e tinha uma boa família, eu dizia que queira a minha vida sem imposições.

Passaram longos anos até que eu percebesse com a vida difícil, vendo a dificuldade das pessoas que viviam na rua, que eu estive totalmente errado. Eu coloquei imposições, forcei amigos e familiares a me aceitarem com minhas doses de álcool, palavrões e agressões físicas. Eu forcei que aceitassem situações deprimentes e revoltantes, egoísmo e drogas.

 

Eu nunca mais voltei para o lar, por uma questão de vergonha e de orgulho, morri sozinho, jogado na sarjeta como indigente, mas me arrependo amargamente por tudo o que perdi, por mais uma ruína ligada aos vícios físicos e morais, por minha fraqueza e covardia em me reformar porque é mais fácil você se aceitar como é do que se tornar uma pessoa muito melhor que pode conviver pacificamente na sociedade.

 

Tolo é o homem que acredita que pode dominar o seu vício. O esperto é humilde e reconhece que precisa de ajuda para se libertar das mazelas físicas e morais. O valente chora e pede perdão, ele se revela fragilizado para sua família e pede socorro.

O AMOR LIBERTA, A UNIÃO AMPARA E O ESFORÇO DE CADA UM LEVA AO DESENVOLVIMENTO.

Boa sorte para vocês.

OSCAR

26/09/20

 

-----------------------Paula Alves---------------------

 

“O TRABALHO DIGNIFICA O HOMEM”

 

Fazer o trabalho de cada dia com responsabilidade e gratidão tinha que ser a meta de todo trabalhador que deseja manter-se no mercado de trabalho e atingir a prosperidade.

O trabalho é lei natural. As pessoas deveriam valorizar cada dia em que podem ganhar o seu pão e sustentarem-se com dignidade, mas existem tantos vacilantes, tantos que acreditam que o dinheiro compra tudo, o dinheiro é o bem precioso da sociedade, enganam-se completamente.

Mamãe dizia: “o trabalho dignifica o homem”, não sei onde ela escutou e gostava de dizer para nós na olaria.

Desde pequeno, tive que trabalhar e eu odiava o trabalho. Eu sonhava em ser rico, ter uma empresa importante para ter muitos funcionários e mandar, exigir, ficar sentado de forma elegante e ganhar muito dinheiro com pessoas que se esforçam para mim.

Com o passar dos anos, parece que a vida, apenas me beneficiou porque de criança que trabalhou em olaria tive a chance de dirigir uma grande empresa, quem diria?

Parece que o plano era me testar para ver se eu faria jus a todos os calos que adquiri nas mãos em minha pobre juventude. Tanto que eu pedi e tive a chance de ser rico e ter subalternos para encaminhar.

 

A posição veio depois de muito trabalho pesado, muito esforço mesmo, mas eu que me esforcei sem descanso nunca admiti um preguiçoso, jamais um abuso onde a pessoa trabalha de qualquer forma, apenas para receber seu salário. Eu ficava sempre por perto, gostava de observar meus funcionários que, nem sempre, sabiam que eu era o patrão.

Eu até me disfarçava de faxineiro para ver quem precisava de promoção e quem merecia a demissão.

Existia muita gente que pensava que estava enganando o chefe, roubavam pequenas quantias, saiam minutos mais cedo, chegavam horas mais tarde, cometiam erros e colocavam nas costas de outros colegas de trabalho ou, então, tentava prejudicar um colega para se sobressair e ser promovido.

Eu vi de tudo. Tentei ser justo, paguei estudos para muitos jovens dedicados, ajudei quem queria realmente trabalhar e, com isso, eu aprendi demais.

Mamãe estava certa: “o trabalho dignifica o homem”. Trabalho sério faz a pessoa progredir, dá ânimo, coragem, traz esperança para o futuro.

 

A pessoa que consegue se sustentar e sustentar os seus com um trabalho honesto consegue dormir em paz. Chega em casa com o corpo moído, mas dorme tranquilo sabendo que cumpriu com o seu dever.

Eu aproveitei muito bem a oportunidade que Deus me concedeu e sou grato ao trabalho que começou na olaria, encheu minhas mãos de calos e fez com que eu aprendesse a valorizar também o trabalho dos outros. Graças a Deus.

GERALDO

26/09/20

 

---------------------------Paula Alves-----------------

 

SIGAM COM ESPERANÇA E FIRMES PROPÓSITOS EDIFICANTES QUE SERÃO ABENÇOADOS POR DEUS”

 

A leitura me levava para o mundo inteiro, para mundos surreais onde eu poderia ser quem eu quisesse. Fantasia, realidade, biografia, ciência, tudo me interessava e eu queria que todas as pessoas tivessem acesso à leitura.

Eu pensei que a informação poderia libertar as pessoas. Elas poderiam ser despertadas para a verdadeira realidade onde todos estavam interligados e faziam parte do todo, deviam ser observados como iguais, sem rivalidades ou guerras, sem distinções ou preconceitos.

Eu quis mostrar à eles que podiam avançar em termos de descobertas e fazer deste mundo, um local melhor para todos, mas não é interessante que todos possam fazer escolhas, não é interessante que todos possam ver com os olhos e ouvir com os ouvidos.

Nós precisamos ser castrados para sermos controlados por um grupo que deseja o poder e o controle sobre a maioria.

A igualdade e a fraternidade não são interessantes para aqueles que desejam controlar riquezas, para que a pirâmide da desigualdade social continue prevalecendo é importante que alguns sejam desvalidos dos conhecimentos básicos que libertam.


“CONHEÇA A VERDADE E A VERDADE VOS LIBERTARÁ”.


Eu não conseguia compreender porque a educação não era igual para todos, por que muitos não sabem ler e, nem mesmo, fazer conjecturas simples, mas o motivo sempre foi este, o controle da maioria.

Se souberem escolher, se conseguirem reconhecer suas limitações e puderem fazer esforços para a melhoria coletiva a pirâmide quebra. Como seria com todos os homes esclarecidos?

Ou melhor, como será quando todos compreenderem que a paz, elimina a guerra?

A utilização correta de todos os recursos mantém todos os povos sadios e sem fome?

Como será quando as pessoas reduzirem o consumismo e trabalharem ativamente em prol da maioria?

Quando as pessoas estiverem a trabalhar pela fraternidade protegendo os desvalidos e amparando os fragilizados?

Quando as crianças todas tiverem lares e os idosos receberem cuidados?

Quando os jovens não entorpecerem seus sentidos com uso de drogas e puderem raciocinar adequadamente?

Quando eliminarmos as chagas morais e estivermos unidos para melhoria global?


Eu fui e sou professora com o maior orgulho e dedicação. Ainda auxilio professores na árdua tarefa de educar e socializar. Sigam com esperança e firmes propósitos edificantes que serão abençoados por Deus.

PELA REGENERAÇÃO DO PLANETA.

ESTER  

26/09/20            

              ------------------------Paula Alves---------------------



Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“HONRA, DIGNIDADE,COMPROMETIMENTO COM A COMUNIDADE, VERDADE E TRABALHO SÉRIO DEPENDEM DO SER HUMANO QUE DESEJA O BEM ACIMA DE TUDO, INDEPENDENTE DA COR DA SUA PELE”

 

Foi um orgulho ter me formado. O primeiro da família a conseguir um diploma. Meus velhos pais olharam com admiração, eles sabiam que tudo poderia ser muito melhor de posse daquele certificado.

Eu me esforcei tanto, teve dias em que pensei que não conseguiria suportar o cansaço de trabalhar durante o dia e estudar de noite, mas consegui, finalmente.

Todos nós desejamos ser tratados com igualdade, mas não havia possibilidades de esquecermos a cor da pele e a posição social. Foi importante passar por aquela experiência. Para mim, foi fundamental admitir que  as pessoas são nobres por conta de suas conjecturas e virtudes. Nós somos o que pensamos e sentimos, jamais o que achamos possuir com bases materiais.

 

Apesar de tantos covardes que desejavam nos achincalhar, ainda assim, conseguimos conservar nossas raízes, valorizar nossa cultura afrodescendente, unificar pensamentos e ideologias com aqueles que eram nossos irmãos de causas democráticas e trabalhistas. Eu tinha na minha negritude razão e sensibilidade. Nunca me escondi, mas sempre acreditei que aquele que grita está errado, sempre imaginei que paz se faz com socialização racional, com ideologias e trabalho sério, trabalho social.

Estudei e me dediquei às reformas sociais que pudessem incluir. Incluir no trabalho, no estudo e na democracia onde o negro poderia escolher o seu lugar, sua ocupação e sua identidade baseados na racionalização e não na cor da sua pele.

Nós não poderíamos pertencer a classes preestabelecidas como a nos menosprezar por gênero ou classe social. As pessoas deviam ser livres para buscar o seu local e o seu grupo, não na base da força ou da punição, castigo por ser negro.

 

Eu tive orgulho da minha raça e sempre trabalhei para que as pessoas soubessem se valorizar, recebendo a identificação desde a mais tenra idade, valorização da pele, do cabelo, da lógica, da igualdade e da legitimidade do ser humano que arrisca ser o que é.

Nunca aceitar a forma taxativa ou escandalosa da humilhação, pelo que você nunca vai atingir. O negro que é o pseudobranco que fere a sua raça, que denuncia o irmão ou que se acovarda para não ser agredido.

Os escândalos surgirão em toda parte e as coisas só poderão ser modificadas à medida que as pessoas acreditarem na imortalidade. Quanto mais provas da Lei tiverem, quanto mais puderem compreender que nós estamos aqui hoje, amanhã mudamos de corpo e assumimos a forma que é necessária para entender que somos iguais, as pessoas temerão a Lei.

 

As pessoas se confrontarão com paradigmas que foram impostos por elas mesmas e terão a certeza de que o branco de hoje pode ser o negro de amanhã e que o racista de hoje receberá na próxima oportunidade a punição por sua discriminação e ato de desonra contra o seu irmão.

Honra, dignidade, comprometimento com a comunidade, verdade e trabalho sério dependem do ser humano que deseja o bem acima de tudo, independente da cor da sua pele.

 

LUÍS VITÓRIO

19/09/20

 

-------------------Paula Alves----------------

 

“ALMEJAR APENAS O QUE SE PODE TER E DAR VALOR PARA O QUE É REALMENTE IMPORTANTE”

 

 

Recebi muito dinheiro. Eu não tinha como saber que a morte é apenas uma mudança de plano. Eu queria viver com conforto e proporcionar para minha família uma casa elegante onde a minha mulher pudesse criar nossos filhos com lazer e paz.

Trabalhei muito e não era uma vida fácil, eu poderia entregar minha alma por um pouco de descanso. É fácil julgar, difícil compreender o que cada um enfrenta. Eu sei que fiz planos, mas a vida é muito dura e injusta, eu fracassei.

Teria me vendido por muito menos, mas consegui comprar uma mansão com o dinheiro que eles me deram para mudar os papéis e vender todos aqueles lotes de terra. Árvores centenárias que foram colocadas no chão, reserva que precisava ser destruída para proporcionar riquezas para uns e outros. A gente consegue forjar o que quiser, mas tudo fica registrado no código divino.

 

Eu não poderia imaginar que ficaria tão bem registrado. Tem gente que fala: “aqui se faz, aqui se paga...”.

Eu achei que nunca seria pego, me achei tão esperto. Mas, após mudar de vida, eles quiseram mais. O problema da corrupção é que ela não tem fim. Você sempre fica obrigado a fazer mais um favorzinho e não tem como dizer não. Os caras deviam se lembrar disso quando aceitam lavar, adulterar, incriminar...

Eu só pensei em mudar de vida mesmo, não tive juízo. Este relato acaba sendo um desabafo porque sei que nada muda. A ganância das pessoas faz com que elas vendam até as próprias mães.

Quando tentei parar, me chantagearam, falaram que colocariam a vida dos meus familiares em risco, sumiram com minha filha. Eu sabia o porquê do sumiço dela. Minha esposa não pode me perdoar, eu ainda tive que realizar o serviço para poupar meus três filhos.

Foi um serviço atrás do outro, eu estava em suas mãos. Eu não consegui conviver com toda a culpa que tinha dentro de mim e me suicidei.

 

A morte pode ser um alívio, a gente se mata para ver se consegue se afastar de alguma coisa, mas eu me entreguei às trevas, ao desespero e a minha consciência me cobrou ainda mais.

Com tudo isso, consegui ver onde errei. Se tivesse que corrigir alguma coisa, certamente, seria nunca ter me entregado ao mal, à coisa errada. Não se envolver com atos criminosos, ter uma vida mais simples, almejar apenas o que se pode ter e dar valor para o que é realmente importante.

Ver as pessoas que eu amava em paz, cheias de saúde, isso era importante para mim, mas eu me fascinei pela riqueza e a vida fácil.

Cada um de nós recebe uma vida, vinda de Deus, uma chance de melhorar e se enobrecer com os atos da existência que recebeu.

Uns têm que trabalhar muito, ficam exaustos e a vida será assim, cheia de trabalho, renúncia e não tem nada errado, é isso mesmo. Para dar certo, você tem que ter resignação, paciência, se fortalecer, ter uma vida mais regrada, ter consciência que Deus sabe dos motivos, pelos quais, você tem que passar por tudo isso.

Aquele que coloca sua vida nas mãos de Deus e aceita os planos de Deus não falha. VALDIR LACERDA

19/09/20

 

-----------------------Paula Alves-------------

 

“ACHO QUE A ESPERANÇA DO REENCONTRO TERIA ME DADO ÂNIMO PARA PROSSEGUIR”

 

A morte acabou com minha alegria de viver. Eu amava aquele homem e quando ele morreu, eu achei que fosse morrer junto com ele, mas tinha meus filhos que precisavam de mim.

Eu demorei a concluir que todos perderam. Eu perdi o marido, mas meus sogros perderam o filho e meus filhos, perderam o pai. Foi uma perda irreparável para todos nós.

Eu sofria e não me incomodava de chorar a vontade ou de me entregar para a cama e passar dias sem sair dela, mas por um momento, me lembrei dele, do ânimo que ele dava para todos nós quando algo nos inquietava, eu percebi que estava sendo egoísta.

 

Olhei para todos os outros, eu vi o quanto estavam desamparados, o quanto estavam doídos, sensíveis e destruídos.

Eu me aproximei deles e a minha dor diminuiu. Eu não estava só, eu estava com as pessoas que ele havia aproximado de mim. Quando nos unimos com alguém, desta união, vem outras uniões, mesmo sem querer, formamos um elo com os outros membros da família e podemos nos unir e nos ampararmos. Na verdade, compreendi que era isso o que Deus queria para nós. Eu podia cuidar de cada um deles, eu podia ser o elo de união entre nós.

Eu vivi feliz com nossas lembranças e, após algum tempo, só ficou muita saudade e gratidão. Eu amparei todos da família e segui em frente.

Era jovem quando meu marido morreu, não me uni em matrimônio com outro homem porque eu ainda tinha amor pelo cônjuge falecido. Eu recebi tudo dele, amor, consideração, amizade, tudo o que uma mulher pode querer me preencheu.

Eu não sabia que não morremos realmente, mas no dia em que a morte chegou para mim também, quando eu me separei do corpo, tive uma maravilhosa surpresa, meu amado marido estava lindo e reluzente a minha espera, ele me deu a mão e me acolheu em seus braços. Quanta alegria!

 

Se me falassem que um dia isso seria possível, eu não acreditaria, mas se eu tivesse esta certeza, acho que a esperança do reencontro teria me dado ânimo para prosseguir. É tudo verdade.

FLÁVIA

19/09/20

 

------------------------Paula Alves-------------------

 

“JÁ PENSOU COMO SERIA SE A SOCIEDADE CUIDASSE DE TODAS AS PESSOAS FRÁGEIS E INCAPAZES QUE NECESSITAM DE CUIDADOS?”

 

Juntei as roupas da minha filha desencarnada e fui levar ao orfanato. Eu só queria que todas as coisas dela fossem úteis para outras crianças.

Eu não queria desapegar das coisinhas dela. Era como se aquele quarto conservado e intacto pudesse me ligar a ela, mas estava ficando muito sofrido entrar ali, passar pela porta do quarto e não entrar era como ignorá-la.

Decidimos vender a casa e eu precisava arrumar todas as coisas. Para quê levar tudo para a casa nova?

Montar um altar?

Continuar com o sofrimento que não a traria de volta?

Eu decidi me desfazer de todos os bens que pertenciam a minha menina.

Quando entrei no orfanato me deparei com outra realidade. Eu era uma mãe sem filha e encontrei muitas filhas e filhos sem mães. Que tristeza, meu Deus!

As pessoas querem bebês, as pessoas acham que aquelas crianças estão cheias de mazelas e problemas associados aos seus genitores, problemas que impossibilitarão a educação amorosa e promissora que une as famílias.

ELES PRECISAVAM DE LARES E EXISTIAM LARES QUE PRECISAVAM DE FILHOS.

Eu chorei. Nunca tinha pensado nisso, ninguém nunca ergueu esta bandeira, nunca esta realidade.

FALTAM ROUPAS PARA MORADORES DE RUA, COMIDA PARA MISERÁVEIS E PAIS PARA CRIANÇAS ABANDONADAS. FALTA COMIDA E AMOR.

Eu os vi tentando se mostrarem, eu os vi tentando chamar a atenção, eles queriam ser tirados dali e ter um lar. A esperança de ter um alguém que possa cuidar deles de forma incondicional, com doação e renúncia.

Eu perguntei qual seria o processo para adoção, me disseram que era complicado. Com as informações que recebi era mais fácil ter pensado em outra coisa, mas voltei com aquilo na cabeça e falei com meu esposo. Eu queria ajudar.

Primeiro me candidatei ao voluntariado, depois comecei a participar de campanhas para a adoção de crianças, eu vi tanta coisa, eu soube de tantas histórias que quase acabaram com meu emocional, eu queria levar todos para minha casa.

Até que um dia, conheci uma menina que se identificou comigo, nos tornamos amigas e eu quis que ela ficasse conosco. Levou um tempo, mas conseguimos adotá-la.

Foi a melhor coisa que eu fiz. Carmem ficou comigo até o fim dos meus dias. Ela foi educada por nós, sempre uma boa menina, amorosa e cheia de gratidão, ela estudou, se casou e teve filhos que me chamaram de vovó. Meu marido desencarnou, Carmem cuidou de mim como uma filha amada e abnegada. Nunca imaginaram que ela havia sido adotada, tamanho devotamento.

 

Eu tive uma família maravilhosa e agradeço por todas as experiências que adquiri com o trabalho que realizei nos orfanatos.

Sou grata a Deus que coloca no caminho de cada pai e mãe o filho ideal.

SE CADA UM SENTISSE O AMOR QUE FALA MAIS ALTO EM SEU CORAÇÃO, NÃO EXISTIRIA CRIANÇA ABANDONADA E O MUNDO SERIA UM LOCAL MUITO MELHOR PARA SE VIVER.

Já pensou como seria se a sociedade cuidasse de todas as pessoas frágeis e incapazes que necessitam de cuidados? ADRIANA

19/09/20

 

----------------------------------------------Paula Alves------------------------------------



Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“AS PESSOAS DEVEM SE ENVOLVER PARA ACRESCENTAR COISAS BOAS UMAS ÀS VIDAS DAS OUTRAS”

 

     Eu não queria sair de casa e aquela mulher achava que estava me ajudando. Eu ficava me perguntando se ela poderia ter tanta certeza de que o mundo lá fora poderia me beneficiar como dizia.

Eu estava bem em minha casa, eu recebia minha pensão, meus filhos iam me visitar de vez em quando, eu tinha os meus gatos e as minhas plantas, isso me bastava.

Existia vida em mim e existia certa felicidade, eu não precisava estar no meio das pessoas. Elas me cansavam, eu ficava agitada e descontrolada. Sempre achava que estavam esperando algo de mim, eu não podia desapontá-las. Acreditava que era um fingimento de ambas as partes.

A socialização era feita de posturas e comportamentos exclusivos para se beneficiar. As pessoas agiam esperando serem recompensadas.

 

Eu não achava que existia verdade e comprometimento. Todos estavam ali por um motivo, tinham interesse no convívio social. Mas, eu não precisava de nada. Eu tinha tudo o que precisava e não precisava disfarçar nada e, nem mesmo, exigir nada de ninguém, eu estava bem sozinha.

Mas, a minha vizinha me achava esquisita, ela dizia que eu tinha algum problema com a socialização. Dizia que eu não podia me isolar, mas por que não?

Tudo dependia de mim e eu não queria ver ninguém.

Por que é que eu tinha que ficar feliz quando alguém aparecia na minha casa sem ser convidado? Será que ela não pensava que tirava a minha paz?

Será que era mesmo super divertido deixar meus afazeres e responsabilidades para me ocupar da vida dos outros como tantos faziam?

Eu sempre achei que as pessoas devem se envolver para acrescentar coisas boas umas às vidas das outras, se eu não tenho nada de bom para fazer por elas, devo ficar no meu canto, só isso.

Eu sabia de tantos defeitos sociais, situações de extorsão, crimes, violência e não queria sair da minha paz, do meu mundinho para correr riscos por aí.

 

Quando o meu marido era vivo, achamos ideal cultivar um clima agradável no nosso lar. Mesmo que o mundo lá fora estivesse ruindo, no nosso lar, haveria paz e harmonia. O meu lar, para mim, era o melhor lugar do mundo.

Mas, as pessoas não entendiam como eu podia ser feliz estando, aparentemente sozinha, aparentemente porque eu considerava meus animais e plantas, criaturas maravilhosas.

O fato é que aquela vizinha começou a me irritar e eu precisei ser sincera com ela. Eu não queria ter a vida que ela tinha. Eu não tinha entusiasmo em ficar de bate papo na calçada e nem queria saber da vida das outras pessoas, ela me chamou de antissocial.

Eu não me considerava uma antissocial porque sabia me comportar adequadamente quando precisava me socializar, mas eu preferia meu mundo na minha casa.

 

Eu fui só, em se tratando de seres humanos, após o desencarne do meu esposo. Mas, não me importei que meus filhos não tinham tempo para me visitar, nem queria cuidar da vida dos outros, achava entediante, preferia ficar com minhas lembranças e minhas tarefas de casa, meus bordados, minha música. Eu tinha muitas coisas para fazer no meu lar. Para mim, ficar em casa foi um refúgio, mesmo que eles me chamassem de isolada, eu não liguei.

GUILHERMINA

12/09/20

 

 --------------------------Paula Alves-------------------

 

“EU DESPERDICEI TUDO QUERENDO A VIDA DOS OUTROS”

 

Eu esperei até que ele estivesse pronto. Esperei tanto que não percebi a juventude se esvaindo por meus dedos. Eu nem mesmo me dei conta de quantas oportunidades havia perdido, oportunidades de emprego e, até mesmo, oportunidades de relacionamentos. Eu só tinha olhos para ele.

Achei que estivesse tão evidente minha vontade de casar e constituir família, não precisava ser dito, mas ele disse que eu estava errada. Vi minhas amigas casando e, uma a uma, todas às vezes, achei que eu seria a próxima.

É estranho como tantas coisas estiveram aguardando a mudança do meu estado civil. Eu tinha sonhos e fazia planos que nunca se concretizaram.

Aquele homem teve os melhores anos da minha vida, ele ficou com minhas expectativas e me deixou grandes frustrações.

Só percebi o quanto era tola quando a minha última amiga solteira se casou e fui feita de chacota diante de todos. Um amigo em comum perguntou se eu aceitava ficar para titia e meu namorado disse que não poderia passar disso, todos riram e eu fiquei tão desconcertada.

 

Quando pedi uma explicação, ele disse que eu sabia que ele não queria se casar ou ter filhos, isso era uma grande perda de tempo e, pelo tempo que estávamos juntos, eu sabia disso e concordava com ele, senão já teria me mandado.

Eu fiquei furiosa, eu nunca soube disso, senão talvez, teria procurado outra pessoa, mas ele disse que não. Eu era como ele, será?

Naquele dia fui embora me questionando onde havia errado naquele relacionamento e compreendi que almejamos o relacionamento e imaginamos que aquela pessoa é o que desejamos que ela seja, mas nem sempre ela é de verdade. Eu me deixei enganar porque sempre soube quem ele era. Acho que eu fui muito covarde, achei que era mais fácil que ele cedesse aos meus anseios, do que me esforçar para encontrar alguém que fosse o que eu queria. Um esposo!

 

Eu fui embora e nunca encontrei este alguém e me pergunto como é possível achar alguém neste mundo louco.

Como é possível amar alguém se as pessoas se impressionam tanto com as aparências e com os bens materiais?

Como é possível reconhecer alguém que se assemelha com você se as pessoas fingem o tempo todo?

Será que eu não planejei nada com ninguém? Eu não tenho laços? Por quê?

Eu tentei receber esclarecimento e me lembrei de quando meu instrutor disse que muitos de nós, nunca vai se envolver com uma pessoa que pode desviá-la do seu caminho nobre, caminho de trabalho árduo que pode encaminhar e instruir uma série de indivíduos, mas eu não fiz nada de bom para ninguém. Eu me perdi do meu real objetivo.

Fiquei tão envolvida com romance. Queria que minha vida fosse parecida com a vida das minhas amigas, mas nenhuma vida é igual.

Elas precisavam  ser esposas e mães, eu não, mas enquanto estive ligada a este objetivo nem vi chances construtivas passarem, eu desperdicei tudo querendo a vida dos outros.

 

Errei duplamente. Eu não dialoguei com meu namorado, não deixei claro minhas reais intenções com ele. Talvez, se as pessoas fossem sempre sinceras, poderiam ter envolvimentos amorosos mais promissores. JENIFER

12/09/20

 

---------------------------Paula Alves-------------------

 

“POR QUE AS PESSOAS TÊM NECESSIDADE DE SE AVENTURAR FORA DE CASA, QUANDO TEM UMA FAMÍLIA TÃO LINDA?”

 

Com tanto homem no mundo, eu fui me envolver com homem casado. Coisa de balada, ninguém sua aliança. Eu estava só me divertindo e percebi quando ele estava flertando comigo. Eu me deixei levar e senti por ele algo muito bom, eu queria ficar ao seu lado. Ele também gostou de mim e tivemos momentos românticos, até que ele disse que não poderia mais me ver e confessou o seu casamento. Eu fiquei louca!

De cara me senti enganada, usada e não poderia permitir que ele fizesse aquilo comigo. Orgulho? Pode ser, mas naquele momento, eu não teria maturidade para pensar nisso, eu queria que ele ficasse comigo.

Eu nunca tinha me envolvido com homem casado, sempre achei muito baixo, mas a vida me pregou uma peça, eu estava apaixonada e o queria comigo.

Ele se foi, mas eu era esperta e descobri tudo sobre ele, a casa, o serviço, a família, vi a esposa e o filho pequeno. Eu o seguia e pude ver o ambiente doméstico e o quanto eram carinhosos um com o outro. Tudo me irritava, fez nascer em mim um sentimento de revolta e desejo de vingança.

 

Uma amiga me aconselhou a deixá-lo em paz, a esposa era mulher direita, boa mãe e a criança precisava dos pais para crescer bem, mas eu achava incorreto ele sair e se envolver com outra mulher, que culpa tinha eu que nem sabia dela? Ele não quis se envolver? Então, que assumisse as consequências.

Eu estava decidida a contar para a esposa, fui à casa deles e ela abriu a porta da casa para mim quando informei que era uma amiga da empresa.

A esposa foi tão gentil, o menininho era bem educado, carinhoso. Senti naquela casa um ambiente acolhedor e cheio de paz, eu me constrangi com a forma que conheci o marido dela. Aquela mulher me fez lembrar da minha própria mãe e não quis que ela se ferisse com minha atitude, mas me irritei deveras com aquele marido que não valorizava a sua família.

Por que as pessoas têm necessidade de se aventurar fora de casa, quando tem uma família tão linda?

Eu sabia que aquilo só podia ser um deslize moral muito grande porque ela não merecia, porém só quem sabe da vida de um casal é o próprio casal. Eu não falei nada a ela. Esperei até que o marido chegasse, ele ficou desesperado com minha presença, mas eu deixei claro que eles tinham sido feitos um para o outro e eu desejava que ele valorizasse a mulher e o filhinho que tinha porque ele havia ganho um presente dos céus. Falei também que fui tão bem tratada por aquela esposa que faria de tudo para retribuir aquele acolhimento não permitindo que nada comprometesse a harmonia daquele lar. Ele entendeu meus olhares. Eu me despedi e fui embora.

Nunca me esqueci daquela cena. Saí de lá me lembrando de diversas mulheres da minha vida que sofreram com a traição dos maridos, tias, irmã e minha mãe. Eu fui a traidora sem saber, eu fui a amante, mas valeu a lição.

Eu não desejo a experiência para ninguém. Nós não podemos fazer aos outros o que não desejamos para nós mesmos e os maridos deveriam pensar nisso. Se eles não pensam nisso, então, que as mulheres criem vínculos de ética e respeito, nunca se envolvendo com homens que estejam comprometidos.

ÉRICA

12/09/20

 

----------------------------------------------Paula Alves--------------------------------

 

 

“MULHER QUE EDUCA HOMEM E MULHER COM DELICADEZA E SERIEDADE POSSIBILITA UM MUNDO RENOVADO”

 

Eu saí arrastando minha amiga. Não queria que ela ficasse exposta daquela forma, era muita humilhação. Ele já havia rompido o envolvimento amoroso e ela o queria de volta, mas por perturbação, chantagem emocional, loucura.

Foi até o emprego do homem desejando comprometê-lo, mas virou chacota. Ela procurou de todas as formas, fazer com que ele rompesse com a esposa, foi até os passeios da família e fez várias abordagens ridículas onde deixou claro que a esposa foi traída e que ela o aceitava por amor.

É claro que depois de tantos dias de persuasão o esposo se cansou: ele a agrediu várias vezes.

Eu fiquei muito preocupada, acreditei que tudo aquilo não acabaria bem e tentei convencer minha amiga a mudar o rumo da sua vida. Existiam tantos outros, tantos homens íntegros, inteligentes e que poderiam ser amorosos, fornecer um relacionamento de paz e amor onde ela pudesse formar família, mas ela estava fascinada e não desistiu.

 

Ele prometeu encerrar o assunto e ela continuou infernizando a vida da família, até que um dia, eu não a encontrei em parte alguma.

Eu sabia que o pior poderia ter acontecido. Passou tanta coisa na minha mente. Por que ela se dedicava tanto para ter aquele homem que não a queria? Por que ela não pensou na família dele, nos filhos do casal e não o deixou de uma vez?

Será que o orgulho é tão grande que leva as pessoas a agirem sendo piores a cada dia, passando por cima dos seus princípios e de tudo o que acreditavam?

Eu pensei muito em como as pessoas se deixam conduzir por suas paixões, por seus instintos sexuais e passam por cima de bens criteriosos como a família.

Por fim, imaginei que ela estaria para sempre sumida e que eu nunca mais veria minha amiga e foi isso o que aconteceu.

Hoje eu sei o que aconteceu, nunca mais pude dormir tranquila, mesmo após tantas décadas, nunca me esqueci dela e quando cheguei aqui este assunto ainda me incomodava e recebi o real esclarecimento. Ela sofreu um golpe fatal na cabeça que a levou para as regiões inferiores devido o seu desejo de vingança. Hoje já está bem melhor, recebendo o tratamento necessário, mas para que tudo isso?

Por que não existe a valorização da mulher e da família começando por nossa parte?

Seria diferente se fosse com alguém que você conhece? Uma irmã ou sua filha? 

Por que as mulheres não se conscientizam de que merecem respeito e que o respeito nasce dentro de cada uma de nós, pela forma como nos comportamos e desejamos receber a palavra e a ação respeitosa. Pela forma como agimos e como nos mostramos na sociedade. Pela maneira como nos apoiamos e nos unimos em respeito mútuo.

Eu fiquei muito revoltada por anos, sem saber como agir e para quem falar tudo o que eu sentia.

Aqui me foi dada a oportunidade de falar e estou vendo que os números, apenas aumentam, por quê?

Nós não devíamos permitir que isso aconteça. Tudo começa no lar. Mulheres amadas e respeitadas pelas próprias mulheres que ensinam aos filhos, desde pequenos, o quanto a mulher é importante na sociedade e merece ser valorizada.

Mulher que educa homem e mulher com delicadeza e seriedade possibilita um mundo renovado.

VANESSA

12/09/20

 -------------------------Paula Alves----------------- 

    

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


ACHO QUE, NO MUNDO, EXISTEM MUITOS SEM NOÇÃO COMO EU”

 

Eu sempre fui valentona, durona, gostava de ter a última palavra, sempre a razão.

Nunca admiti que as pessoas levantassem a voz para mim, por outro lado, eu fazia de tudo para irritar as pessoas.

Se você me perguntar por que eu fazia isso, nem sei dizer, mas a verdade, é que eu era a do contra, nunca concordava com ninguém.

É claro que este meu jeito de ser me causou muitos problemas, aprendi a brigar desde cedo. Estava sempre envolvida em discussões e, por minha rebeldia, as pessoas tinham uma estranha aversão a mim.

Tomei muitos sopapos e, ainda assim, não me cansei de ser briguenta. Aproveitando esta oportunidade de renovação, chego a pensar que a vida toda sempre colocou diante de mim, pessoas que pudessem me fazer dobrar, saber me inclinar à verdade, me transformar numa pessoa mais clean, mais mansa e pacífica, porém, eu fui dura mesmo e inflexível.

 

Saia para toda parte e arrumava tanta encrenca que foi fácil ter por perto os briguentos que um dia acabaram comigo.

Tomei uma surra tão seria que me acabou com o cérebro, eu fiquei em coma por vinte dias e depois desencarnei, judiada e ofendida.

Incrível como, até depois da morte, a gente continua sendo o que é, encrenqueira, folgada. Eu me achei vítima e cheguei, aqui deste lado, querendo argumentar, cobrar privilégios e tratamentos vips na região umbralina, pode?

Agora até que eu acho cômico, mas foi terrível meu momento de sofrimento.

Eu estava tão acostumada a comprar briga por tudo o que me acontecia. Ia num órgão público e achava que não podia esperar, tinha que passar na frente dos outros, tinha que ter tratamento especial, sem nenhum motivo, por ousadia mesmo.

Num restaurante lotado, achava que tinha que receber minha refeição num instante, brigava com a garçonete, armava barraco, super constrangedor. As pessoas tinham receio em sair comigo para não passarem vergonha. Mas, eu achava que aquilo era meu jeito de ser e as pessoas tinham que respeitar.

 

A verdade é que eu acho que não recebi a educação que deveria. Não posso culpar meus pais que me trataram com toda a decência, excesso de amor das melhores intenções, mas cresci folgada e poderia ter tido a consciência de me comportar adequadamente em sociedade, mas isso não aconteceu. Achei que poderia reivindicar os melhores lugares, os melhores tratamentos por ser eu, melhor que todos os outros, por quê?

Acho que, no mundo, existem muitos sem noção como eu. Muitos que se acham tão especiais, portadores de inteligências extraordinárias, orçamentos mirabolantes, reputações escrupulosas, títulos de destaque que merecem honras e glórias.

No mundo material existem tantos sem noção!

Pessoas que acham que são melhores que as demais e são ridículas como eu fui uma ridícula. Hoje sinto vergonha. Vergonha de tantos deslizes. Vergonha de incomodar meus familiares com questões banais, mesquinhas e egoístas. Sinto vergonha de ter humilhado aqueles que estavam trabalhando de forma digna, enquanto, eu estava querendo ostentar em público, chamar a atenção, que vergonha!

 

Gritei, fiz barulho e só apareci para causar constrangimento e revolta. Minha mãe chegou a falar se eu não conseguia perceber que isso não se faz. Não se trata ninguém desta maneira. Eu sinto muito.

Aprendi tarde demais que o correto é ter sensatez, delicadeza e respeito por todos. Eu deveria ter notado como as auxiliares de limpeza mereciam um bom dia, o porteiro merecia muito obrigada e meus pais mereciam mais atenção. Tudo errado. Eu não adquiri nenhuma virtude e deixei o tempo passar em vão. Quanta ladainha e perda de tempo. Eu sinto muito.

VERÔNICA

05/09/20

 

-----------------------------Paula Alves---------

 

“QUEM NÃO ESTÁ DISPOSTO A SENTIR O AMOR, NÃO PODE AMAR NINGUÉM”

 

Eu tive bons exemplos, meus pais foram criaturas amorosas e educados com todos. Quando partiram deixaram saudades em toda a vizinhança que sempre falava deles com muito carinho.

Eu continuei morando na mesma casa, meus irmãos se mudaram, casaram, foram viver longe dali e eu fiquei.

Eu me achava jovem demais para ter responsabilidades com esposa, filhos e fui vivendo uma vida de curtição.

Passaram muitas mulheres em minha vida, mulheres inteligentes e carinhosas que teriam se tornado excelentes mães de família, mas eu não queria saber de me amarrar.

Acho que não percebi o que era verdadeiramente importante na vida. Muitos de nós, considera a própria vida super valorosa. Acredita que não deve ficar com este ou aquele porque não quer desperdiçar seu tempo, sua mocidade, quer viver o que lhe interessa sem dar satisfação, como se a outra pessoa fosse um estorvo.

É como se você achasse que é muito para se limitar àquela pessoa, mas isso é um erro detestável, é de uma arrogância incrível porque, na verdade, todos nós precisamos de alguém.

 

Cada um de nós, feito para viver em grupos, deveria se sentir honrado quando encontrasse alguém que quisesse dividir o mesmo espaço com você. Deveria se sentir lisonjeado em ter alguém que suportasse conviver com suas imperfeições e ainda dissesse um “eu te amo”, de vez em quando.

Já pensou que alegria, apesar de toda a sua implicância, encontrar uma pessoa que te espera para o jantar e sente prazer em te abraçar?

Um alguém que chora com as suas aflições e sorri com suas alegrias?

Faz de tudo para te valorizar e se compadece com suas infelicidades?

E quando você encontra uma pessoa destas pelo seu caminho, sei lá por que, você acha que pode encontrar outra pessoa que seja ainda melhor, você diz que desta não gostou tanto... Por quê?

Você é tão especial assim, meu amigo que merece outra ainda melhor? Há-há-há. Nós somos crianças mimadas...

Tem um brinquedo que causa alegria, mas deseja sempre outro e outro, nunca se satisfaz, nunca descobre a alegria em nada.

Eu passei por isso e me arrependo muito porque no final, acabei sozinho. Escolher tanto e acabar sozinho é burrice.

Aí você fala, mas não amou ninguém. Por que não?

Por que não podemos amar quem afirma que nos ama?

Por que você não pode ver os predicados do outro?

Você não pode se entusiasmar com o outro? Descobri-lo, fascinar-se?

 

Tolice. Quem não está disposto a sentir o amor, não pode amar ninguém. Por isso, são tantos miseráveis sentimentais, tantos confusos, tantos perturbados neste mundo, tantos solitários que dizem temer os sentimentos, temem ser feridos pelos outros. Tolice! São muito valorosos. Dá trabalho se envolver, admitir que o outro está coberto de razões e ter de mudar, dia após dia, para ter uma convivência pacífica, não é para qualquer um. BOA SORTE PARA VOCÊS QUE DESEJAM UM MUNDO MELHOR.

VANDO

05/09/20

 

 ----------------------------Paula Alves--------------------

 

“NA MINHA MALA A SABEDORIA DOS IDOSOS, SORRISOS DAS CRIANÇAS, AMOR DOS MEUS PAIS E A CERTEZA DA ETERNIDADE QUE DEUS NOS CONCEDEU”

 

Notícias ruins: eu estava morrendo.

Quem é que quer saber o dia da própria morte? Pra quê?

Deus fez tudo certo mesmo porque ninguém tem que saber o dia do fim. Até porque uma notícia destas te leva a pensar nisso o tempo todo. Anseio de morte?

Eu não tinha vivido muito bem até ali. Era jovem, leviano, não tinha me comprometido com nada que fosse sério, produtivo, abnegado.

Me surpreendi com uma sensação terrível de inutilidade, de desperdício, de vontade de deixar boas lembranças em quem quer que fosse.

 

Eu queria ter aproveitado a vida para ser alguém melhor. Acho que a gente é preconceituoso porque acredita que só velho tem os dias contados. Então, vai vivendo sem juízo, achando que tem tempo de sobra e quando tiver idade vai ser mais responsável, vai fazer de tudo para deixar marcas como filhos ou bons resultados na vida.

Na verdade, eu nunca tinha pensado nisso, até então, eu não tinha motivos para ser tão sério.

Passou tão rápido! De repente, eu estava para morrer e tinha muitas coisas que eu queria ter feito, mas não daria tempo de fazer quase nada e me perguntei o por que da vida, qual o objetivo de viver se é um sopro, um instante?

Imaginei que meus pais e irmãos sofreriam muito, mas teriam que suportar e retomariam suas vidas sem mim. O mundo não iria parar por minha ausência, só mais um. Lágrimas que secariam depois de alguns minutos e tudo voltaria ao normal, apenas para aqueles que me amaram muito.

 

Eu pensei que a vida só vale para quem a perde, para mais ninguém. No momento da solidão, da doença e da morte, você pensa em tudo o que fez, o que aproveitou, o que colheu e eu não tinha nada. Eu não tinha bagagem para levar, eu não tinha aprendizado.

Mas, eu tinha algum tempo e poderia utilizar de bom grado. Eu passei bons momentos com meus familiares, desejei conhecê-los. Fiquei mais perto dos meus pais, eu os amei, recebi tanto afeto, eu conheci a linda história de amor que os envolveu e soube que a minha vinda beneficiou o envolvimento dos dois.

 

Vi lugares lindos, senti o poder de Deus nas pequenas criações, eu ouvi falar de vida após a morte, li muito, fui a locais de interação com a espiritualidade, eu chorei e me emocionei com filmes e livros.

Eu visitei asilos e doei sorrisos, ouvi histórias de vida e me imaginei no lugar deles, chegando em idade avançada abandonado por filhos e familiares, era melhor morrer mesmo.

Fui à orfanatos, levei brinquedos e roupas de frio, por que nunca tinha feito isso?

Por que nunca formei família?

O abraço de uma criança não tem preço. Eu gostei de ser amado. Eu gostei muito.

Foram instantes de felicidade que me fizeram esquecer da vida que eu tinha. Da doença que eu tinha, do meu problema. Por que a morte em si não era um problema, mas a situação de vida daquelas pessoas tinha aflição e solidão.

Quando eu parei de viver para mim, olhando apenas para minha vida, dando atenção para as sensações que eu desejava, me esforçando para adquirir títulos ou bens materiais, aí eu comecei a viver e fiz minha bagagem. Eu cumulei na minha mala a sabedoria dos idosos, sorrisos das crianças, amor dos meus pais e a certeza da eternidade que Deus nos concedeu.

Foi um lindo fim de jornada. Meus familiares não sofreram com os dias que se seguiram, pois resolvi não dizer a eles que estava condenado. Foi muito melhor.

 

Quando o dia chegou, eu estava tranquilo, feliz, me sentia realizado porque estava preenchido de coisas muito ricas, muito gratificantes. Eu nem imaginava que teria uma vida tão maravilhosa. Os meus vinte e cinco anos podem ser pouco para você, mas para mim foram suficientes para um bom aprendizado.

GUSTAVO

05/09/20

 

---------------------------------------Paula Alves---------------------------------------

 

“EU COLHI A MINHA PAGA”

“A LEI É IMPLACÁVEL”

 

Eu judiava daquele cachorro coitado! Não gosto nem de lembrar. Não consigo compreender o motivo que levava a ser tão cruel com os animais.

Eu lembro de viver numa fazenda e meu pai solicitar que cuidasse dos animais, eu detestava por causa do cheiro das fezes. Era um trabalho exaustivo, mas eu era o filho mais velho e precisava poupar minha mãe que estava sempre engravidando.

Eu queria esganar aqueles animais. Hoje sinto vergonha, pois já compreendi o quanto eles são importantes para nós. Hoje, já sei que eles são criação divina tanto quanto nós, mas naquela época eu achava que eles estavam ali para nos beneficiar e eu odiava minha vida. Eu queria sair daquele local, ir para a cidade grande onde a vida deveria ser mais fácil e muito melhor.

 

De fato, quando tive uma oportunidade sai dali. Não me importei em deixar minha família com tantas crianças pequenas e os meus pais com dificuldades financeiras, eu queria fugir dali e cuidar apenas de mim.

Fui embora sem olhar para trás, só me arrependi quando cheguei aqui resgatado por minha mãe.

Fui para a cidade e não perdia uma oportunidade de imolar um animal, chutava, cuspia, puxava o rabo e dava veneno para os gatos da vizinhança. Veja que eu não tinha motivos racionais, eu não tinha justificativa para me importar com eles ou para castigá-los, se fosse coerente pensar assim.

Era por pura maldade. Sei que era para me vingar da infância que achei ser ruim. Eu é que era ruim. Descontava nos animais minha frustração, minha injúria. Eu queria me vingar dos meus pais, mas a igreja ensinou que devia honrar pai e mãe, então, a eles não podia fazer nada, mas ninguém me falou que os animais são nossos irmãos, precisamos defendê-los e utilizar os recursos que vem deles com sabedoria e respeito.

 

Eu colhi a minha paga. Estava passando pela rua e atrai para junto de mim um cão enfurecido, ele me atacou e foi aí que eu desencarnei.

Muitos que souberam da minha destruição, ficaram profundamente revoltados com o cão, mas nós sabemos que foi colheita. A lei é implacável. Eu criei meu próprio tropeço porque infringi a lei. Eu fui cruel contra vários seres de Deus, por isso, retornou para mim um ato terrível de um ser, porém ele não era racionalmente cruel.

Simplesmente foi atraído para mim por causa dos fluidos deletérios que eu exalava, pura maldade!

Eu cheguei no vale das almas perdidas, nome de filme né? Mas, demorou para ter final feliz. Uma alma bem perdida, correndo de cavalos com asas, tudo trevoso, cães horríveis que me forçavam a permanecer nas tocas escondido, morrendo de medo. Eu me lembrei de cada ocasião em que os ofendi, que chutei, cada dia em que fui cruel com as vacas ou com as galinhas. Os gatos grunhiam na minha cabeça, denunciando aonde eu estava, corria sem fim, sem ter paradeiro, até que eu senti uma presença.

O questionamento surgiu dentro de mim:

 

“Se tudo o que fiz, faria novamente”.

“Se eu achava que eles não sentiam dor”.

“Se eu queria sofrer o que fiz os animais sofrerem”.

 

Eu me vi como eles. Eu me senti um animal, um animal que tem que se esconder, que sente fome e que é humilhado.

Eu me arrependi porque senti na pele e ouvi quando ela falou que “isso nunca mais deveria se repetir”. Ela apareceu e eu me lembrei de quando fui embora, sem beijo, sem abraço, sem adeus, eu fugi da vida que eles podiam me dar. Ingrato e cruel, eu mereci o sofrimento, mas ela me amou e lutou por mim.

Cheguei aqui sem conseguir levantar os olhos. Tão mal, tão vergonhoso.

Eu não posso voltar a ser animal, não está de acordo com a evolução, mas se pudesse, seria correto passar por um período onde sou um bicho para valorizar a vida do animal. Porém, poderei trabalhar numa fazenda novamente, me envolver com o mundo animal para mostrar o quanto estou arrependido e mostrar respeito, consideração.

Tentar adquirir sentimentos nobres, a partir do trabalho com os cavalos.

Eu sou grato pelo tratamento em questão e pela oportunidade que me foi dada. 

JOSÉ AUGUSTO

05/09/20

 

 

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