Cartas de Agosto (20)

 


“ACHO QUE TODOS SABEM O QUE SÃO VERDADEIRAMENTE”

 

É difícil admitir para si mesmo o quanto se é terrível.

Todos nós sabemos o que guardamos no peito, todos podem definir suas más inclinações. Mas, é ruim saber que você esconde um monstro do resto do mundo.

Eu sempre tentei deixar meu monstro adormecido. Eu fiz o possível para silenciá-lo. Houve momentos em que pensei não conseguir, mas deu certo.

Quantas vezes, vi outras mulheres. Pensei nelas, desejei tocá-las. Eu sonhei como se fosse real, como se estivesse vivenciando a traição cheia de sedução e momentos de prazer.

Eu vivia na minha mente, me envolvi com as amigas da minha esposa, com as colegas da minha filha e até com a minha sogra.

Eu me remoía, depois de viver mentalmente, em todos os detalhes, fases de traição. Eu me culpava.

Eu não queria, apenas resistir fisicamente, eu queria resistir mentalmente, em todos os aspectos queria ser fiel, mas eu não conseguia.

Dentro de mim, existia um homem que era viciado em sexo, viciado em trair e eu gostava de sentir o desejo e de concretizar o ato, mas minha esposa não merecia.

 

Será que todas as pessoas que carregam o mal sabem disso?

Existe a consciência do quanto são levianas?

 

Eu pensei em diversos distúrbios da mente que carregam atos falhos e até criminosos, aquele que tem mania de roubar, mentir, ferir, enganar, trair...

Eu me questionei se existe grau para se mensurar a maldade. Se eles são mais maldosos do que eu porque eu só traia na mente. Acho que não! Todo mal é mau. Minha esposa nunca soube de nenhum delito porque eu, de fato, não o cometi.

Eu nunca estive com outra mulher que não fosse ela, após nosso enlace. Nunca me insinuei ou mesmo admirei, de forma a demonstrar qualquer tipo de desejo por outra mulher, além dela.

Minha esposa sempre falou bem de mim para as amigas e familiares, dizia que eu era um marido exemplar.

Mas, foram inúmeras as vezes, em que estive com ela, pensando em outras mulheres. Eu me culpei tanto porque sentia que ela ficava diferente. Será que, inconscientemente, ela sentia-se traída?

As pessoas diziam que ela não tinha motivos para ser insegura, mas eu sabia que sim. Eu a traia o tempo todo na minha mente, nas minhas fantasias.

 

Hoje, eu sei, que isso atraia Espíritos que vibravam como eu, Espíritos viciados em sexo e traição. Vinham todos para o nosso quarto, desestabilizando o ambiente doméstico.

Minha esposa foi uma mulher excepcional e não merecia que eu a tivesse traído, nem em pensamento. Sempre me senti mal por causa disso, mas evolui muito, mesmo assim.

Em vidas pregressas, eu a traí diante de todos, eu a humilhei, feri emocional e fisicamente porque acreditava que podia ter quantas esposas quisesse.

Eu achei que as mulheres deviam servir os homens como seres superiores. Eu menosprezava muito o sexo feminino. Então, nesta vida, já consegui controlar para não ter outros relacionamentos, respeitei minha esposa, tentei fazê-la feliz, consegui reparar e me tornei um homem mais digno, porém, ainda não foi suficiente porque eu sabia o que guardava no meu coração, um homem doente por sexo.

Acho que todos sabem o que são verdadeiramente. Aquele que tem a raiz do mal, sabe o que tem que extirpar e se envergonha diante de si mesmo. Estou me esforçando para não trair nem mesmo em pensamento e ser um homem digno de merecer uma mulher como Emanuele.

JORGE AFONSO

28/08/2021

 

--------------------Paula Alves--------------

 

“NEM SEMPRE PODEMOS BEM ENCAMINHAR OS FILHOS PORQUE TROPEÇAMOS NAS NOSSAS FRAQUEZAS”

 

Mania de limpeza para arrancar de dentro de mim as perversidades do passado. Eu queria surrar aquele menino, mas eu sabia que não era correto.

Por que um filho pode tirar a gente do sério sem fazer nada?

Ele queria estar comigo, queria o meu afeto e a minha aceitação, mas eu nem conseguia olhar para ele.

Daí eu limpava, limpava para lavar a alma, sabe?

Eu queria tirar o erro de dentro de mim.

Você poderia dizer que eu não suportava crianças, mas por quê?

Ele crescia e eu pensava no quanto minha vida havia mudado por causa daquela obrigação. Eu era a mãe!

 

A mãe tinha que ser perfeita para o filho, dar afeto, cuidados integrais, ser responsável, amável, ou seja, a mãe tinha que ser virtuosa e eu nunca fui virtuosa.

Eu sempre fui toda errada, cheia de indecisões, queria curtir e viver livremente, mas engravidei e tudo mudou.

Eu não queria ser apontada, não queria que tirassem ele de mim porque ele era meu, meu filho, mas para ser mãe eu tinha que ser perfeita para ele e exigia muito de mim ser perfeita.

Eu limpava e nem assim, conseguia colocar a cabeça no lugar.

 

Percebi que, por mais que eu fizesse, nunca seria perfeita, nem para ele e nem para o mundo que sempre cobraria de mim. Por que as pessoas gostam tanto de criticar as outras pessoas?

Orgulhosa? Quem não é? Eu não queria ser apontada e limpava tudo para não descontar nele minhas frustrações.

É muito triste a gente viver a vida inclinada a realizar tudo por convenções e sentir que é um robô, uma máquina que faz tudo de forma automática, todo dia da mesma forma sem motivação, sem emoção, só para cumprir a tabela.

Eu vi meu filho crescer e me tornava louca, enquanto ele fazia suas escolhas tendo como base o que eu achava correto.

Como é que a gente tem coragem de pôr filho no mundo sendo tão doente?

Como eu poderia ensiná-lo a viver em sociedade se eu mesma não sabia socializar com ele?

 

É assim que o mundo vai se tornando esta grande oficina onde uns sobrevivem aos outros sem compreensão nenhuma.

Devíamos parar um pouco, eu deixei a vassoura de lado e pensei. Eu precisava raciocinar sobre mim, sobre os meus dias.

As minhas tarefas e deveres me enlouqueciam, mas eu precisava ser forte. Mudar a forma como encarava o mundo para ser feliz com a minha vida. Sem otimizar a vida alheia. Encarar que tudo o que eu tinha poderia me elevar e me fortalecer como pessoa real, de carne e osso, com defeitos e qualidades, como qualquer um.

Ele cresceu, eu cresci, enquanto ele me mostrava que o amor dele poderia preencher a minha vida e me ensinar a ser uma pessoa melhor.

Nem sempre podemos bem encaminhar os filhos porque tropeçamos nas nossas fraquezas, mas Deus é tão bom, coloca diante de nós um filho especial que nos ensina a caminhar com firmeza. LEANDRA

28/08/2021

 

-----------------Paula Alves--------------

 

“NÃO PRECISA TER FRUSTRAÇÃO, DEPRESSÃO, TRISTEZA”

 

 

Eu queria pintar, mas não era bom. Sabe quando você tem um sonho de vida? Você deseja desde sua infância ser alguma coisa, mas não tem recursos pra isso.

Eu não tinha talento, inspiração. Era como se minha veia criativa estivesse obstruída, impedida de criar. Eu era um fracasso.

Tentei muitas vezes, fiz cursos, viajei o mundo, eu sabia apreciar. Meu pai me apoiou, pagou tudo o que pode para me incentivar, mas eu não desabrochava como artista. Muito lógico e racional.

Levei anos para admitir. Fiz algumas obras que os mais íntimos tentaram elogiar, mas eram apenas representações borradas de artistas famosos.

Eu precisei admitir que aquilo não era para mim. Agradeço até hoje por todos os olhares que recebi, pelos aplausos e palavras de incentivo, eu agradeço por terem me impulsionado, mas não era para ser.

 

Muitas vezes, nós perdemos um tempo precioso insistindo naquilo que não há de ser.

Isso acontece com profissão, amores, trabalhos, cursos, caminhos de vida que não têm que ser.

Nós assumimos planos na espiritualidade, mas às vezes, ficamos empacados em momentos marcantes de outras vidas. São momentos inebriantes, inesquecíveis, luminosos que te deram notoriedade ou a felicidade que, no íntimo, você não consegue esquecer.

É uma sensação de deslumbramento que você deseja para toda a eternidade, para todas as vidas, mas cada vida é algo especial.

Em cada vida devemos aprender algo mais, sentir e despertar para virtudes e qualidades, deve ser para evoluir, avançar, receber coisas novas, por isso, temos que nos reinventar.

Eu não podia ser artista e tive que admitir que era péssimo para poder ser um excelente advogado.

Compreendi, me esforcei e mudei a rota da minha vida. Parecia que eu nunca seria feliz, como se estivesse abandonando um sonho, mas Deus coloca luz no caminho e eu encontrei o meu lugar.

Nós não devemos nos iludir e nem nos menosprezarmos. Existem várias inclinações.

Se estiver muito difícil de um jeito é porque não tinha de ser. Não precisa ter frustração, depressão, tristeza.

Basta parar de lutar contra si mesmo e deixar voar livre para encontrar o caminho da elevação. CLAUDIO

28/08/2021

 

                                   -------------Paula Alves------------

 

“SE TODOS UTILIZASSEM APENAS O NECESSÁRIO, TODOS TERIAM O SUFICIENTE PARA VIVER”

 

Eu sabia o que eles pensavam de mim. Não precisava falar nada.

Eu sempre soube o que as pessoas querem ouvir. Em muitas situações, utilizei isso a meu favor para conseguir o objeto de desejo, emprego, moradia, amizade. Eu falava para conquistar, para persuadir, manipulava.

Mas, eu sempre soube o que pensavam de mim. Por mais que eu me esforçasse, eu sabia que nunca seria como os filhos do patrão, nunca.

Eu trabalhava mais, estudava mais. Fiz o trabalho deles tantas vezes, mas a assinatura era do filho do patrão.

Eles me olhavam com pena e me sobrava indignação. Eu acho que a diferença de posição social, a discriminação racial, as injustiças sociais sempre vão existir porque precisamos sentir desfavorecidos para entender como se sofre de verdade.

 

Não é injusto não, temos que sentir na pele.

Eu achava injusto antes de chegar aqui.

Nunca entendi por que eu tinha que trabalhar tanto para ter um salário mínimo e o filho do patrão nasceu em berço de ouro. Não entendia por que o jogador de futebol tinha tanto, salário que dava para colocar comida na mesa de tanto pobre e eles ficavam ostentando, lucrando e a população aplaudindo.

 

Será que eles não viam estas coisas?

Eles, a maioria, a base da pirâmide?

 

Salário de político, médico que abusa, funcionário público que abusa, todo tipo de coisas que a gente não aguenta e não pode falar porque é tabu ou censura.

Deus me livre brigar com o cara que prepara o lanche, vai que ele faz brincadeira com o meu alimento, sabe assim?

Como é que eu vou brigar com o médico que está tratando da minha mãe doente?

São estas coisas que você tem que engolir a seco, coisas que mexem com suas fibras mais íntimas e te dão vontade de gritar, mas ninguém fala. Todo mundo pensa igual, mas ninguém fala.

Se todos utilizassem apenas o necessário, todos teriam o suficiente para viver. Nenhum de nós passaria fome, frio ou estaria na miséria.

 

SERÁ QUE TERIA VIOLÊNCIA, SUICÍDIO OU CATÁSTROFES SE AS PESSOAS FOSSEM FRATERNAS E CARIDOSAS?

 

Eu fui pobre e me questionei sobre tudo isso olhando a vida dos filhos do patrão.

 

Eu não sei se teria tido tempo para pensar nisso se eu fosse rico.

 

SERÁ QUE AS PESSOAS QUE TÊM PODER, QUE TÊM CONDIÇÕES, PENSAM NOS OUTROS E SENTEM-SE COMPADECIDOS DE VÊ-LOS SOFRER?

 

Eu tentava fazer pelos vizinhos, eu me doía por eles porque eu era pobre e também senti fome?

Sei não... Por isso, que os papéis devem se inverter. Por isso, existe justiça na reencarnação. O pobre vem rico e o rico vem pobre. Mas, a gente erra tanto porque os ricos são sempre egoístas e se esquecem de doar tudo o que não seja necessário para eles.

Acho que retornando muitas vezes, no futuro, vamos ter a certeza do que devemos fazer para não sofrermos tanto.

SE COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO É O ÚNICO CAMINHO.

GERSON  

28/08/2021


                                       -----------------------Paula Alves----------------



“TODOS TÊM PROVAÇÕES E DIAS RUINS, DEVÍAMOS SABER RESPEITAR A VIDA DOS OUTROS E NÃO CAUSAR MAIS INFORTÚNIOS”

 

 

Eu não sabia nada da vida dele. Era tão fácil criticar. Menosprezar suas habilidades no trabalho, achar defeito.

Tudo me levava a crer que ele fazia as coisas para me afrontar, vivia para me irritar...

Eu não podia imaginar que ele tinha tantos problemas. Por que será que é mais fácil se sentir vítima das circunstâncias e acreditar que as pessoas se incomodam com a nossa presença?

Eu cheguei a falar que ele tinha inveja de mim. Imagina! O pobre rapaz nem tinha tempo para reparar na minha existência.

Acho que a verdade é essa, nós acreditamos ser tão importantes...

Achamos que as pessoas reparam se colocamos o cabelo de lado, se mudamos o calçado e que isso vai fazer diferença na vida de alguém. Quanta bobagem!

 

Ele tinha um filho especial, mãe doente, gente precisando de ajuda e muita atenção. O pobre homem trabalhava feito um sei lá o quê para amparar a família e eu me supervalorizando, achando que era grande coisa para ele reparar.

Competição? Só se fosse da minha parte.

Eu é que estava cheio de problemas e nem percebi.

Acho justo se preocupar com questões importantes que envolvem os familiares, mas as minhas preocupações envolviam questões mesquinhas e eu ainda fui tirar satisfação.

Bastou acordar de mau humor para cobrar do meu colega de trabalho a cordialidade que ele não dava aos outros subalternos.

Arrumei briga com a pessoa errada. Ele me deixou falando sozinho porque disse que não podia perder o emprego e eu nem liguei. Dei um soco na cara dele, foi um horror.

Ele apanhou quieto, eu nunca vi tanta covardia da minha parte. Eu queria que ele brigasse comigo, mas não brigou porque desejava manter o cargo. No final, ficamos suspensos.

Eu achei correto, mas dias depois, quando me encontrei com outros colegas de trabalho, eles me falaram da condição dele e eu fiquei muito constrangido.

Eu nunca me esqueci da atitude daquele homem. Aquilo mexeu tanto comigo que procurei observar as pessoas de forma diferente.

Acho que devíamos procurar uma postura de igualdade com todos, tentar auxiliar sempre e, quando não for possível, não atrapalhar. Quem não ajuda, também não atrapalhe!

 

As pessoas têm seus afazeres, suas preocupações, seus deveres e dificuldades. Todos têm provações e dias ruins, devíamos saber respeitar a vida dos outros e não causar mais infortúnios.

Se todos pudessem facilitar, ajudar, ouvir, acalmar e incentivar no bem, seria mais produtivo para todos.

As pessoas deviam olhar para os outros como reais irmãos e não como adversários. Sair por aí buscando desavenças, desejando duelar, gratuitamente estragar com o dia de alguém, não são posturas promissoras.

Eu vi naquele homem alguém que estava precisando de ajuda e resolvi mudar minha postura com ele. Eu me desculpei sinceramente, nos tornamos amigos. Eu conheci seus familiares e ele mudou minha forma de enxergar o mundo. Todos nós podemos modificar a posição em que nos achamos.

VICENTE

24/08/2021

 

---------------Paula Alves------------

 

 

“ACREDITO QUE TUDO NA VIDA TEM SEU TEMPO”

 

Eu quis estudar. Mulher madura, com filhos criados. Meu marido dizia que eu não precisava me preocupar com dinheiro porque minhas contas estavam pagas.

Ele queria dizer que eu podia ficar em casa tranquila, ele sempre me sustentaria. Realmente, meu esposo foi um companheiro maravilhoso.

Meus deveres com a família foram cumpridos com todo o meu amor e ele sabia disso, mas os filhos cresceram, casaram e eu fui ficando sozinha no lar. Tudo em ordem, sempre, não tinha ninguém para bagunçar.

Cozinhava, passava, limpava e ainda me sobrava tanto tempo. Eu queria ser útil, aprender coisas novas e viver, sem me sentir sozinha.

Falei para ele, contei meus motivos para estudar. Eu não tinha necessidade de sair para procurar emprego, mas eu podia me desenvolver como pessoa e como profissional.

Quando jovem, eu interrompi os estudos para me casar e, ainda era uma mulher ativa e podia prosseguir.

Então, eu me matriculei, meu esposo ainda disse que eu iria tirar a vaga de um jovem que estava no início da vida. Acho que ele queria que eu desistisse, mas eu o compreendi. Ele sempre me viu em casa, seria diferente para ele, podia ser que ele se preocupasse comigo, mas mesmo assim, eu precisava ver o mundo de uma forma nova.

 

Fui estudar, ele me aceitou como estudante e eu gostei de aprender. Gostei de conhecer pessoas novas e de fazer amigos. Eu tinha um mundo novo pela frente e não podia permitir que o preconceito de faixa etária me fizesse empacar na vida.

As pessoas riam quando eu dizia estar fazendo supletivo, mas eu consegui meu diploma. Depois, resolvi fazer faculdade, por que parar?

Então, riram mais ainda. Os primeiros foram os familiares, dizendo que os meus netos se formariam antes do que eu, mas eu aproveitava a zombaria para me divertir com eles, dizendo que estudaríamos juntos e seria muito animador.

Foi uma fase engraçada, acho que se eu tivesse me ofendido, ficado entristecida, talvez, não teria vivido dias tão maravilhosos.

Entrei na faculdade, fui apontada, criticada e ridicularizada, nem liguei. Adorava minhas aulas. Eu aproveitei bastante.

Acredito que tudo na vida tem seu tempo. Eu estudei no momento mais oportuno. Foi numa fase de maturidade emocional e psicológica que me forneceram um equilíbrio importante para aprender mais e mais. Eu conclui o curso e me tornei arquiteta.

O interessante é que todos achavam que, na minha idade, eu nem mesmo conseguiria encontrar emprego...

Eu abri o escritório com uma colega bem mais nova, porém, tão madura que parecia termos a mesma idade. Tivemos prosperidade e alegria fazendo o que amávamos.

Eu entendi que a idade é símbolo. Algumas pessoas são jovens, mas têm a mente retrógrada, limitada, preconceituosa, cheia de objeções e contrariedades, frustrações, bloqueios e moléstias, jovens com mente velha e antiquada.

 

Outras pessoas têm alegria de viver, ânimo, disposição, felicidade, saúde mental, espirituosas, elas chegam na velhice tão bem inspiradas que são belas e formosas, sabem ouvir, sabem viver e não passam por velhas, mas por mentes eternamente jovens que sabem apreciar o que realmente importa e desejam usar todo o tempo para assimilar o conhecimento que seja possível.

SUELEN

24/08/2021

 

 ----------------------Paula Alves---------------

 

“FOI A PURIFICAÇÃO NECESSÁRIA”

 

O facão pegou na perna de forma certeira. Eu me arrependi na hora, nem era para eu estar ali.

Sabe aquele dia que você acorda e pensa que devia ficar dormindo? Alguma coisa te avisa que não é bom seguir no caminho de sempre.

Eu senti que daria errado, eu quis ficar em casa, mas eu precisava trabalhar, sabe como é assalariado...

Eu fui para a roça e desejei que o dia passasse rápido, como sempre, mas eu machuquei a perna.

O sangue correndo e eu pensei como poderia estancar aquele sangue todo, como podia correr dali para que alguém me ajudasse.

Na roça, nem médico, nem curador. Nada! Um ferimento podia custar a vida.

Eu fiquei ali caído, esperando que alguém desse fé de que eu estava ferido, mas não apareceu ninguém e eu voltei para casa, caminhando quilômetros.

Cheguei em casa, fiz um curativo com ervas, como minha avó ensinara. Passei a noite com mal estar, arruinou e para finalizar o assunto, perdi a perna no hospital da capital.

Como podia trabalhar sem perna? Eu não tinha o que fazer. Sem família, sem perna e sem trabalho...

Muita gente fala do pedinte, daquele que está jogado na rua e questiona se é vagabundo – “Por que não trabalha o indigente?”

Queria que tivessem ideia que não é de intenção ser apontado, virar a sombra na rua, a imagem feia da sociedade.

Eu tinha sonhos que foram perdidos naquele dia.

 

Eu aprendi muito naquela ocasião. A gente nunca mais quer viver uma ruina daquelas e quem aponta devia não desejar estar no lugar daquele doente.

A dor da perna, a fome e o mal cheiro, tudo me incomodava, mas eu aprendi. Eu valorizei cada detalhe. Lembrava da minha vida antes do ferimento e desejava voltar no tempo. Eu tentei não me revoltar.

A vida que eu tinha e não sabia dar valor, cada passo que eu dei com minhas pernas sãs, sem dor alguma, minha vitalidade, meu trabalho árduo, suor escorrendo no rosto e todas as possibilidades de progredir com meu esforço, ter família e felicidade.

Nesta vida, foi só sofrimento e dor, demorou para entender que foi reajuste, pagamento de dívida por causar sofrimento a outras pessoas. Fruto da Lei que cobra o pagamento da dívida. Muitas vezes, para sermos bons precisamos sentir a dor, sentir na pele o mal que causamos a outros irmãos pelo desejo de poder e ambição desmedida.

Agora eu compreendo e agradeço por tudo o que vivi. Foi a purificação necessária. Se for pensar bem no assunto, passou rápido, um piscar de olhos. 

SIMEÃO

24/08/2021

 

                       --------------------------Paula Alves-------------------------

 

“QUALQUER UM PODE PASSAR POR ISSO”

 

Eu trabalhava na loja há dois anos e era uma funcionária respeitada pelo bom trabalho que eu realizava.

Eu via aquelas pessoas transitando por ali e ficava com medo deles, medo que pudessem nos roubar ou afastar os clientes.

Mas, naquele dia, estava tão frio. Eu aproveitei para trocar a vitrine e mostrar as roupas de inverno. Foi bom, apareceram novos clientes e eu vendi bastante. Fiquei feliz.

No fim do dia, a mulher chegou na porta e me abordou, eu nem quis ouvir, corri para dentro da loja assustada. Ela falava baixinho e eu nem queria entender, dizia para ela ir embora.

Mas, ela insistiu e eu peguei o pé de cabra, fui para cima dela. Escutei quando ela perguntou se eu não tinha uma blusinha para dar à menina e apontou para a calçada.

 

Eu vi a criança que devia ter uns quatro anos, ela era tão fraquinha, tremia. A mãe nem tinha forças para falar e eu a ameaçava. Fiquei envergonhada, derrubei o pé de cabra e pedi desculpas.

Eu fiquei parada por um instante e pensei tantas coisas. Foram alguns segundos, mas parecia que eu me deparava com um longo enredo em que minha mente me repreendia sobre os preconceitos que carregava na alma. Eu olhei a loja com tantas roupas de frio e aquelas duas a tremer.

Pedi que entrassem, separei roupas para ambas e fiz que provassem. Elas nem sabiam como agradecer, a mãe da menina disse que elas estavam vendendo balas no farol. Contou a vida difícil de quem engravida e é excluída de casa, abandonada pelo pai da menina, forçada a viver a vida das migalhas de quem deseja ajudar. Eu chorei.

 

“Qualquer um pode passar por isso” – pensei.

Eu pedi que ela me informasse o local da sua moradia e no outro dia fui atrás de emprego com uma amiga que me devia um favor. Na fábrica estavam contratando e por indicação tudo era mais fácil.

Eu fui atrás dela, logo a mulher estava trabalhando na fábrica, cheia de alegria.

Dias se passaram quando ela retornou à loja com a criança. Ela disse que era a sua folga e desejava me agradecer por tudo o que eu havia feito. Ela falou que nunca foi preguiçosa ou mal intencionada. Disse que muitos são tratados com preconceito, são espezinhados na sociedade, tão desvalorizados que se entregam à delinquência e humilhação, se inclinam aos vícios e crimes e se perdem para sempre num mundo de marginalidade. A maioria das pessoas só precisa de apoio e oportunidade.

 

MAS, QUEM PODE OLHAR NOS OLHOS E ESTENDER A MÃO?

 

Aquelas palavras ficaram impregnadas em mim. Eu me lembrava que ela disse que eu havia sido a fada madrinha na vida dela e da filhinha. E ela falou que tem gente que age como as mãos de Deus libertando as almas que sofrem do seu calvário.

Eu havia ajudado sem me sentir cansada, sem grande esforço, foi rápido e prático o jeito como ajudei e fiquei pensando o que um pouco de esforço não poderia fazer por tantos que precisam?

A partir daquele dia, eu me dediquei a servir ao próximo, eu me senti bem e motivada. Parecia que as ideias brotavam em minha mente, foi inspiração com certeza. Eu conheci pessoas boas, fizemos grandes ações e ajudamos muitos a se reestruturarem e seguirem como pessoas dignas e laboriosas.

Eu agradeço muito por ter tido a oportunidade de modificar minha forma de encarnar as pessoas que estão em dificuldade.

Todos nós podemos colaborar para o progresso geral.

ANTÔNIA 

24/08/2021

 

                       ----------Paula Alves--------

 

“ESTE É O NOSSO MAIOR ENGANO, ACREDITAMOS QUE O AMANHÃ SEMPRE CHEGARÁ”

 

Eu estava no leito e via tudo. As pessoas dos antigos tempos, afetos e desafetos, estavam todos ali.

Elas entravam e saiam fazendo comentários, observando todos os meus pensamentos e fazendo acusações sobre a pessoa que fui.

Ninguém poderia acreditar que era possível entrar em contato com todos eles.

Eu não tinha medo, sabia que aquela hora chegaria num momento ou em outro. Eu sabia que o fim se aproximava e eles não podiam me ferir, não mais do que antes.

A dor maior seria a perda, ficar distante de todos aqueles que eu amava. Eu já havia sido ofendida antes, eu fui destratada, fui menosprezada e, nem por isso, me dei por vencida, não. A dor seria o afastamento daqueles que aprendi a amar e me sentia amada.

Nos últimos anos, eu pensava sempre na morte como um ato inevitável da vida, proveniente de uma Lei da Natureza que traz igualdade para todos. O mais lindo sobre ela é que não exclui ninguém, sejam pobres ou ricos, belos ou feios, saudáveis ou não, ninguém escapa da morte e, quando chega o dia, não existe ressalva ou adiamento, todos devem partir na hora exata.

Eu pensava muito nos últimos anos, mas eu senti quando ela se aproximou, senti forte como algo inadiável e eu pensei em tudo o que não fiz. Deixei de fazer tantas coisas por medo ou submissão, por revolta ou orgulho.

Eu me arrependi de não ter dito tantas coisas, me arrependi da falta de sinceridade, eu não menti, mas omiti. Eu podia ter dado minha opinião sincera e podia ter dito o quanto eu o amava.

Eu desejei ter viajado e ter andado no pedalinho, eu quis conhecer o sabor do kiwi. Eu queria ter andado de cavalo e gostaria muito de ter ido ao cinema. Foram tantas coisas que não conheci, tantas oportunidades que desperdicei... Tantas!

Mas, a pior delas foi não ter revelado a verdade à Fernanda, ela devia saber que o pai desejava ter ficado conosco. Ela precisava saber que não foi rejeitada, nunca foi. Mas, eu não tive coragem de dizer e me arrependi.

Na hora final, eu estava cheia de culpa. Culpa por ter feito minha filha achar que o pai dela tinha nos abandonado, mas não foi nada disso e eu precisava dizer, naquele instante.

Eu ouvia os ruídos e todos a minha volta sabiam o quanto eu tinha fracassado. Como é triste o fim daquele que não concluiu seus deveres. Muito triste o fim daquele que tem algo para realizar, para falar, para pedir perdão. Eu desejei ter mais tempo e ouvi claramente:

- Se você tivesse mais tempo, não faria nada.

Este é o nosso maior engano, acreditamos que o amanhã sempre chegará e poderemos pensar melhor no assunto, poderemos adiar e vamos empurrando para o outro dia.

“Não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje!”

É uma frase adequada para quem sabe que um dia vai morrer.

ESTER

15/08/2021

 

-----------------Paula Alves--------------- 

 

“FORMAR TESOUROS NO CÉU É FAZER AFETOS, É SE ENCHER DE BONS SENTIMENTOS E PODER LEVAR TUDO CONSIGO QUANDO CHEGA A HORA”

 

Eu quis voltar para aquele corpo que foi minha oficina de trabalho por mais de setenta anos. Tive muitas oportunidades, fiz muita coisa boa. Coisas boas que me encheram de alegria e entusiasmo. Eu gostava da vida e das pessoas com quem convivi.

Tive família e amigos, tive trabalho e estudei, fiz tudo o que desejava, eu me realizei. Acho que foi uma das melhores experiências dos últimos tempos. Eu aproveitei muito esta oportunidade, mas quando chegou a hora de partir...

Lá estava eu apegado à minha vida, apegado à roupagem física, apegado à família maravilhosa que tive.

 Nossa! Como é difícil a despedida. Eu sabia que não era o fim. Eu acreditava que existia um mundo adiante, mundo cheio de potencialidades, mas eu gostava de lá e queria prosseguir com eles.

Eu não quis interromper aquela vida e partir.

Mesmo que tenhamos a convicção de que a morte não nos destrói, ainda assim, é difícil deixar tudo para trás. Isso é só para aqueles que são muito elevados, desapegados da matéria e que sabem ser independentes emocionalmente. Eu pensei que fosse tudo isso, mas não era.

Me deixaram ali, para a despedida. Eu participei da cerimônia fúnebre, vi meus afetos e desejei abraçá-los mais uma vez.

Fui grato a salva de palmas, a homenagem que me prestaram foi linda. Todos eles foram muito respeitosos, lembrando dos momentos mais agradáveis, falaram bem de mim e oraram. Eu me senti fortalecido em minha fé, eu também orei por eles e por mim.

Foi a melhor despedida que alguém podia ter.

 

Eu entendi perfeitamente bem quando Jesus se referiu aos tesouros do céu. Formar tesouros no céu é fazer afetos, é se encher de bons sentimentos e poder levar tudo consigo quando chega a hora. Eu tinha muito para levar, minha bagagem estava pronta. Eu senti grande alívio quando percebi que não devia nada a ninguém, eles não me cobravam, eles me agradeciam e sentiam saudades, mas sem pesar, sem mágoa ou ressentimento.

Eu só podia partir com alegria e gratidão porque eu estava cheio de amor e só tinha boas lembranças dentro de mim. Foi a melhor vida que eu podia ter tido.

ISAAC

15/08/2021

 

----------------Paula Alves------------

 

“SEJA OS OUVIDOS DE ALGUÉM”

 

Tinha tanta coisa na minha mente. Eu queria tanto desabafar, mas nunca tinha alguém para me ouvir.

Eu pensei: “Será que todos passam por isso?”

Acho que no mundo inteiro, as pessoas não têm muito tempo para ouvirem as outras pessoas. Será que é por que todos têm muitos problemas para resolver? Será que estão muito atarefados com suas contas e trabalhos árduos?

Eu não sabia o motivo, mas por onde eu passava, via pessoas com olhares entristecidos e cheios de solidão.

Eu precisava tanto conversar que me vi puxando conversa nas filas, mas as pessoas me evitavam.

Eu resolvi falar com os familiares, meus pais certamente poderiam me ouvir, afinal, quem no mundo inteiro, me amava mais do que eles?

 Mas, meus pais queriam falar de uma vizinha que estava jogando lixo na calçada, eles estavam tão irritados. Eu não consegui falar, mas ouvi tudo o que disseram e percebi o quanto ficaram mais aliviados, comemos e eu fui embora.

Eu continuava com a cabeça cheia e desejava conversar, então procurei uma amiga, liguei para ela e qual não foi meu espanto quando ela disse que eu liguei na hora certa?

Ela queria desabafar sobre o rompimento com o namorado. Ela falou, falou, chorou e depois disse que precisava descansar, me agradeceu e desligou.

Eu notei que as pessoas estavam cheias de problemas, na verdade, eram bem maiores do que os meus, mas eu não consegui falar nada.

Reparei que nas duas ocasiões, eles se sentiram melhores após o desabafo. Eu me senti útil, mas também queria ser ouvida...

Eu fui para minha casa e lembrei de alguém que podia me ouvir. Ele estava sempre disponível com todo o Seu amor. Eu me ajoelhei e falei em pensamento tudo o que se passava em meu coração. Problemas banais, corriqueiros que só interessavam para mim. Fatos ocasionais que não interessavam para ninguém, mas me faziam sofrer. Eu chorei silenciosamente e pedi proteção, pedi paz. Eu queria senti-Lo, eu precisava d’Ele para prosseguir.

 Foram tantas vezes em que senti solidão, vendo as tristezas do mundo sem poder aguentar.

Mundo que deprime, ofusca e atormenta a gente. Eu pensei em me matar, mas era uma covarde. Eu pedi que Ele me direcionasse na vida e ouvi o telefone tocar.

Mamãe disse ao telefone que me sentiu diferente, triste e se desculpou porque não me deixou falar. Eu não queria mais falar porque eu já tinha sido ouvida por Deus. Ele me provou que sempre envia pessoas para nos ajudar e se mostra quando mais precisamos d’Ele.

Seja os ouvidos de alguém.

CAMILE

15/08/2021

 

--------------Paula Alves--------------------

  

“POR QUE SERÁ QUE AS PESSOAS FAZEM TANTA FALTA QUANDO PARTEM?”

 

 Quem fica sempre sente dor.

Dor que pode ser a certeza de que sentirá a ausência, mas também pode ser remorso ou arrependimento de quem não fez tudo o que deveria.

Eu senti doer muito porque deixei os dias passarem e não fui vê-lo. Eu estava envolvida com minha vida, com meu trabalho e com minha família.

Eu podia justificar, falar que o filho adoeceu ou que meu marido precisava de mim. Podia afirmar que minhas irmãs cuidavam dele muito bem e que meu pai nunca gostou de me ver.

A verdade é que eu não gostava de ver a forma como ele me repreendia, como me criticava. Eu evitava passar pela situação de ser achincalhada por ele.

Fiquei meses sem aparecer após a última discussão. Eu falei, ele falou, seria melhor que tudo fosse apagado porque no fundo é terrível saber que ofendemos um pai.

É vergonhoso mesmo, não é honrar. Honrar pai e mãe deve ser engolir sapo, deixar para lá, permitir que ele diga as verdades que vêm à cabeça?

A gente não pode ter orgulho em se tratando de pai e mãe, esta é a verdade.

É preferível ser ofendido, ser negligenciado ou ser mal tratado do que revidar e promover ofensas ao pai. Isso é dor de perda.

 Eu fui a filha má, a filha que ofendeu, que negligenciou e abandonou o pai justificando que não era desejada.

No final, eu nunca vou saber, mas o que ficou foi uma dor profunda no peito, dor de mágoa e arrependimento.

Acredito que se eu tivesse dado a outra face, não tinha doido tanto. A diferença daquele que seguiu Jesus como um verdadeiro discípulo é esta. Aquele que seguiu o Mestre vai se esforçar para perdoar setenta vezes sete, vai dar a outra face, vai amar até seu inimigo, vai procurar a reconciliação, enquanto está a caminho com ele e, fazendo tudo isso, vai ter um coração limpo de quaisquer ressentimentos, vai poder se apresentar a Deus de alma lavada, mas eu...

Eu não segui Jesus. Eu achei que podia julgar e condenar meu pai. Eu me achei melhor do que ele, vítima.

Eu não consegui compreender que ele me permitiu reencarnar por intermédio dele e da minha mãe, apesar de tudo o que vivemos no passado.

Nem por um minuto, eu pude analisar sua vida difícil, eu não reconheci o quanto ele se esforçou para me amar e concedeu uma vida confortável, oportunidades de estudo e trabalho para que eu pudesse levar minha vida para um caminho de renovação.

Eu não avaliei as escolhas dele. Todos podem fraquejar e abandonar seus deveres se desejarem, nós temos o livre arbítrio respeitado. Mas, ele não nos abandonou, ele trabalhou por nós, ele sempre lutou por mim, para que eu ficasse no bom caminho e não ousou abandonar minha educação para estabelecer uma união pacífica. Ele não tentou me agradar permitindo que eu cometesse deslizes morais, ele foi enérgico e comprometido, mas eu não vi nada disso, enquanto ele estava encarnado.

Por que será que as pessoas fazem tanta falta quando partem?

Tem gente que fala: “Só dá valor depois que perde...”

Será? Eu amava meu pai. Só compreendi tudo o que ele representava para mim e tudo o que fez para mim, após a sua partida.

Que as pessoas saibam valorizar seus afetos, enquanto estão próximos. Que saibam fazer homenagens em vida, que saibam dizer belas palavras e fazer gestos de carinho. Que as pessoas reconheçam seus afetos, enquanto estão com eles. SOLANGE  

15/08/2021      

          

                 ------------Paula Alves-------------

    



“UMA HORA OS PAPÉIS INVERTEM E ELE CUIDARIA DE MIM ATÉ O FINAL”

Quando eu o vi tão frágil e indefeso, tão pequenino... Deu vontade de desaparecer. Eu confesso que pensei em fugir.

Não foi por mal. Eu me senti incapaz de cuidar dele, de direcioná-lo na vida.

Era minha responsabilidade, só minha.

Ser pai era um papel que eu não podia delegar a mais ninguém, cabia a mim e eu não podia fracassar.

Mas, o pior de tudo isso, era saber que eu não tinha referência. Eu não sabia o que era ser um bom pai, já que eu não tinha tido um. Mas, eu sabia o que um mau pai podia fazer com a gente.

Eu sempre soube o que a ausência de pai faz com a cabeça da gente, o que os maus tratos de um pai podem fazer com a nossa estrutura psicológica, então, eu não queria que meu filho passasse por isso e eu tinha medo. Medo de errar, medo de fracassar com ele, medo de prejudicá-lo.

Eu pensei em tudo o que vivi na infância, nas minhas rejeições, frustrações e anseios, pensei no quanto seria bom ter meu pai por perto, um pai amoroso que me desse conselhos, que ficasse feliz por ser avô.

 Ter um pai que me ajudasse nesta fase me faria muito feliz, mas eu não tinha um pai presente, eu nunca tive. Até preferi quando ele partiu para bem longe e nunca mais voltou, foi bem melhor.

Eu vi meu filho e lembrei de Deus. Deus Pai, cheio de amor. Pai que nunca me faltou e concedeu tudo de bom que eu tinha: emprego, mãe, moradia e uma boa esposa, ele me deu um filho lindo e saudável.

O Pai Deus me abençoou com tudo, eu não podia reclamar da falta de pai carnal, então, eu pensei que deveria ser o melhor que eu pudesse.

Eu faria isso: eu seria o melhor pai que pudesse ser.

Durante os anos que se seguiram, nos momentos de dúvidas, eu sempre recorri a Deus. Todas as vezes que tinha que escolher um caminho para conduzir meu menino, eu me perguntava como Deus nos trata e sempre achava a melhor escolha.

Eduquei, sem passar a mão na cabeça durante os atos falhos, ensinando que as pessoas devem ser responsáveis e previdentes. Eu nunca me preocupei em envolvê-lo com presentes materiais, mas me esforcei para dar ensinamentos morais e afeto.

Eu desejava alcançar um objetivo: fazer do meu filho um homem de bem. Era tudo o que eu queria.

Após o seu nascimento, o mais importante era a sua felicidade, era a construção do seu caráter e independência. Eu alcançaria a felicidade se meu trabalho fosse bem concluído, trabalho de pai.

 Depois de cinquenta anos, olhei para ele e gostei muito do que vi. Era um homem maduro, firme e convicto, um homem bom, dedicado à família, esperançoso e cheio de fé.

Eu gostei de ver que aquele era o meu filho e, acima de tudo, era o meu melhor amigo, o meu parceiro. Ele era aquele que estava ao meu lado. Já não era mais eu que o aconselhava, agora ele cuidava de mim, levava ao médico e confortava nos momentos de dor.

Eu nunca imaginei que era assim que funcionava: uma hora os papéis invertem e ele cuidaria de mim até o final. Adorei meu trabalho de pai. Conclui com muita alegria. Gratidão.

ENOQUE

08/08/2021

 

---------------------------Paula Alves-------------------

 

“QUE CADA UM POSSA ENXERGAR A CRIANÇA QUE DEUS LHE CONCEDEU COMO UM PRESENTE”

 

Eu fiquei na dúvida. Ela saia com muita gente e disse que o filho era meu. Disse que não tinha condições de assumir, eu não confiava nela, mas aquilo me atormentou. E se ele fosse meu filho?

Eu não podia deixar um filho abandonado. Resolvi não pensar mais no assunto, me arrependi de me envolver com ela, mas acompanhei de longe.

Eu precisava ter certeza e soube do nascimento, precisava me certificar.

Quando eu o vi na maternidade, meu coração disparou.

Ele era meu! Eu soube naquele momento que era meu filho e não podia permitir que ele crescesse distante de mim. Eu via nos seus traços físicos as minhas marcas, ele era meu.

 Eu falei com a mãe da criança e pedi que ela ficasse comigo para criarmos juntos o menino que precisava de nós. Mas, ninguém muda ninguém.

Ela não queria compromisso, disse que queria liberdade, falou que homem nenhum mudaria seu jeito de ser. Eu fiquei impressionado, achei que toda mulher queria família e proteção.

O jeito foi cuidar dele à distância, cada um na sua casa, mas eu me preocupava com ele o tempo todo. Achava que ela não dava os cuidados básicos e essenciais. Vi que meu filho estava sempre fraquinho e mal cuidado, sujo e doentinho. Eu propus novamente que ela se casasse comigo para que eu pudesse cuidar dele mais de perto, ela recusou, queria espaço.

Vi que ela gostava de sair, deixava o menino comigo para se divertir, eu adorava meu filho comigo, era a minha alegria, mas ele precisava da mãe.

 Nós tivemos muitas discussões, até que um dia, ela falou que ele não era meu. Aquela notícia doeu no fundo da minha alma. Eu não podia acreditar. De fato, ela nunca provou que ele era meu, não tinha como me provar naquela época.

Mas, o menino crescia, tinha meus olhos, o furinho no queixo e tinha todo o meu amor. Eu era o pai que ele conhecia, ele era meu filho amado e nada podia mudar os nossos sentimentos.

Eu pedi a guarda, mas o juiz não deu, ela alegou que ele não era meu. Mas, a vida sempre faz o melhor por todos nós.

Ela se envolveu com um músico e desejou partir com a banda, mas a criança poderia atrapalhar. Ela pediu que eu ficasse com o nosso filho, falou que eu sempre cuidei dele melhor do que ela. Eu nem acreditei, sorri feliz.

Sempre me esforcei para não falar mal da mãe para ele, sempre me preocupei com os sentimentos do menino que cresceu forte e saudável.

Nós nunca mais tivemos notícias dela. Ele se tornou um homem muito competente e amigo, bom filho, trabalhador, empenhado em cumprir seus deveres, cheio de bons sentimentos.

Eu acho que, independente do sangue, ele estava destinado a ser meu. Já não importava se era meu filho ou não. Eu o criei, eu me preocupei com ele, eu desejei que ele tivesse saúde e alegrias, eu fui o pai.

É disso que as pessoas se esquecem, dos planos de Deus para nós. Deus coloca as pessoas no nosso caminho e, muitas vezes, olhamos para elas como problemas. As pessoas não podem ser tratadas como problemas. As crianças não são problemas, elas são luz e benção. Que cada um possa enxergar a criança que Deus lhe concedeu como um presente.

MOACIR

08/08/2021

 -----------------------Paula Alves--------------------

 

“NO SEIO FAMILIAR, TUDO SEMPRE ACONTECE PARA QUE POSSAMOS REPARAR ATOS FALHOS, NUTRIR AMOR, DESPERTAR AFEIÇÃO”

 

 Eu não gostava dele. Tive mais três filhos, mas aquele meu incomodava. Tudo o que fazia me irritava, me tirava do sério.

Eu buscava explicações dentro de mim, algum motivo que pudesse justificar aquela total falta de paciência, a menor boa vontade, falta de amor.

Eu buscava motivos para amá-lo, para brincar com ele e sentir alguma coisa boa, mas independia da minha vontade.

Cresceu assim, sendo rejeitado por mim. Ele tentava se aproximar e eu recusando o contato. Até que, chegou um momento, aceitamos. Eu e ele aceitamos que não gostávamos do contato um do outro e nos afastamos. Ele respeitou e eu gostei.

Mas, no seio familiar, tudo sempre acontece para que possamos reparar atos falhos, nutrir amor, despertar afeição.

 A minha esposa faleceu, meus três filhos eram casados e pediram para o meu filho rejeitado ficar comigo, apesar de falarmos que não tinha a menor necessidade.

Eu precisei de cuidados, após problemas neurológicos.

Adivinha quem teve que cuidar de mim? Aquele filho que eu não gostava nenhum pouco. De repente, fui reconhecendo nele um cara legal. Vi atitudes formidáveis, notei o quanto me tratava com respeito, apesar da minha distância. Eu identifiquei muita similaridade em nosso caráter, percebi que tinha pontos positivos e comecei a admirá-lo. Foi daí que surgiu uma fagulha de amor.

Claro que já fui informado que isso vem de longe. Foi muita repulsa de outras vidas, rebeldia que vem do ódio de outras existências. Difícil de superar, mas ele fez tanto por mim...

Quando penso em tudo o que vivemos, eu sei que ele se modificou. Ele me aceitou como pai, respeitou meus sentimentos e me beneficiou muito quando precisei.

Ele soube pagar o mal com o bem e, disso, eu não posso me esquecer. Compreendo agora que, numa próxima ocasião, saberemos desenvolver amor e respeito, mas é aos poucos que o passado ruim fica perdido no tempo e dá espaço para um nobre sentimento de devoção.

SALOMÃO

08/08/2021

 ---------------------Paula Alves-----------------

 

“EU REALMENTE NÃO SEI COMO ALGUNS PAIS PODEM ABANDONAR SEUS FILHOS POR VERGONHA, NEGLIGÊNCIA OU PREGUIÇA”

 

Vida de viciado é brasa, arde na alma da gente. Eu me questionava onde errei com meu filho.

Ele tentou agredir a mãe, vendeu nossas coisas, invadiu a casa e me enfrentou diversas vezes. Saiu de casa e foi morar na rua.

Eu procurei por ele por longos e aflitivos anos. Não desejo para ninguém.

A maior alegria que um pai pode ter é o bem estar dos seus filhos. O presente para um pai amoroso é ver seu filho com saúde, em paz, trabalhando, vivendo bem com sua família. Que não tenha muita coisa, que se preocupe com as contas, mas isso é de menos.

Quando você desconhece o paradeiro do seu filho, você se pergunta se ele está vivo ou morto, você se penitencia por não ter feito o seu melhor porque parece que tudo foi erro seu, foi culpa sua.

E eu me perguntava por onde ele andava, se sentia frio ou fome, se estava bem.

Minha esposa nunca soube, mas eu procurei por ele em toda parte, eu fui à polícia, fui aos hospitais e necrotérios, procurei nas ruas e becos, fui até os traficantes, daí eu o encontrei.

Parecia um farrapo de gente, uma apresentação miserável da imagem humana, sujo e fétido, escorraçado da sociedade, quase não o reconheci, mas era ele.

 Em minha memória, desfilavam passagens antigas de quando ele era uma criança amável, um adolescente impulsivo, um homem estranho.

Eu o recolhi, levei para um hotel para banhá-lo e alimentá-lo. Eu não queria que minha esposa o visse naquele estado deplorável. Conversamos, mas ele parecia alheio, destrambelhado. Eu o internei naquele dia, paguei o que eu não tinha para que fosse tratado. Eu faria o impossível para vê-lo bem.

Após nove meses, ele estava bem melhor. Voltou para casa, mas eu nunca tive paz. Ele arrumou emprego, conseguiu casar, teve filhos, mas eu sempre inseguro, achando que ele pudesse se envolver novamente.

A verdade é que a paternidade para mim veio como uma missão dolorosa, trabalho árduo, paciente, fatigante, mas o amor que sinto por ele não permitia que fosse diferente disso. Eu realmente não sei como alguns pais podem abandonar seus filhos por vergonha, negligência ou preguiça.

O amor de pai é grandioso, amor que nos faz crescer ao observar no outro uma criatura importante demais para ser deixada de lado. É muita responsabilidade.

Se os pais se envolvessem mais no cumprimento do dever, a sociedade seria bem diferente.

Não devemos deixar toda a responsabilidade para as mulheres. Quando pai e mãe se unem no lar, os filhos têm mais chance de progredir e alcançar a felicidade.

O compromisso do homem na família é de fundamental importância, mas infelizmente, alguns agem apenas como procriadores, deixando ao léu os condutores da sociedade.

Quem tem pai, tem direção. Quem tem pai maduro, tem mais chance de suportar os baques da vida.

Por pais mais conscientes.

LUÍS GUSTAVO 

08/08/2021

 

----------------------Paula Alves-----------------


“A GENTE DEVIA SE PREOCUPAR COM A PRÓPRIA VIDA E PERMITIR QUE AS OUTRAS PESSOAS EVOLUÍSSEM”

 

Eu recusei ajuda porque queria ficar perto dela. Minha filha precisava de mim. Eu não aceitei que havia chegado minha hora de partir.

Eu sabia dos sofrimentos dela, das preocupações envolvendo a família e achei que fosse necessária minha presença naquela casa.

Quando os seres do bem vieram para me levar, eu recusei.

Eu ainda sentia dores fortíssimas, dores de cabeça que pareciam me enlouquecer, mas eu precisava ficar para cuidar dela e das crianças. Eu sempre cuidei dela e das crianças, não poderia me ausentar.

Aquela senhora que estava disposta a me levar, explicou que aquele lugar não era mais para mim, falou que eu iria desestabilizar o ambiente doméstico, mas eu preferi ficar perto da minha família.

Engraçado! Eu sempre falei mal do meu genro, do fundo do coração, eu achei que ele tinha uma amante e enganava minha filha. Passei anos tentando abrir os olhos dela, nada me tirava da cabeça que o homem só explorava a minha menina, mas eu estava enganada...

 

Eu precisei morrer para saber da verdade. Como pode? Enquanto estamos no corpo nos equivocamos tanto, depois entramos no mundo dos Espíritos e podemos ouvir e ver tudo o que se passa a nossa volta, ouvimos até os pensamos e eu o compreendi.

Ele nunca teve amante, sempre amou a Michele, ele tinha vontade de estudar e estava fazendo supletivo. Ele chegava tarde porque estava estudando, tentava fazer uma surpresa para a minha filha, chegando com o diploma em casa e eu vendo erros onde não tinha. Que vergonha!

Eu me deparei com um homem esforçado, honesto e amoroso. Me arrependi amargamente do quanto o prejudiquei porque minha filha desconfiava dele.

Daí me arrependi, tive outra chance de seguir os bons. Mas, eu não podia ir embora porque tinha que dizer à Michele o quanto eu estava errada, eu queria que ela soubesse que o marido era honesto com ela, mas ela não me ouvia, então, apareci em sonho, mas ela ficou tão emocionada e, nem mesmo, me deixou falar.

Foi assim que a Michele passou a ter dores de cabeça como eu, fiquei preocupada, será que ela também teria aneurisma?

 

A senhora bondosa veio de novo e me explicou que as dores da Michele eram culpa minha. Ela sentia o que eu sentia, tamanho envolvimento que tínhamos.

Ela explicou que eu não podia ficar ali tentando cuidar da vida dela, de novo. Eu sempre cuidei da vida dela. Eu tive que ouvir e quis morrer novamente, de vergonha!

Parti, um pouco contrariada, um pouco envergonhada, mas eu não podia deixar minha filha sofrer por minha causa.

O fato é que, mesmo estando aqui, não consigo desviar a preocupação dela. Eu me preocupo demais com a minha menina. Já não sei mais o que fazer.

A gente devia se preocupar com a própria vida e permitir que as outras pessoas evoluíssem e soubessem conduzir as suas vidas de forma consciente e responsável, mas eu nunca ensinei minha menina a viver sem mim. Eu errei demais. Não permiti que ela fosse emocionalmente independente porque tive medo que ela pudesse me abandonar. A verdade é essa.

DAMIANA

03/08/2021


------------------------Paula Alves------------- 

 

“ACHO QUE, PARA SER MULHER NESTE MUNDO, TEM QUE SER SUPER

 

É verdade que fomos gêmeos, mas eu nunca me beneficiei desta nossa relação. Meu irmão sempre foi muito machista e se aproveitou da minha condição para me forçar a assumir trabalhos intensos, enquanto ele ganhava a vida na farra.

Levei várias surras por causa da malandragem dele e, um dia, eu pensei que cometeria um delito, com a enxada nas mãos, quase cometi um crime.

Eu só queria sair daquela vida. Vida miserável de mulher da roça, mulher que não tem valor algum. Ele ainda queria me arrumar marido e ficava me oferecendo para qualquer um. Mulher em troca de bebida ou um quilo de carne.

Eu não queria mais aquela vida e parti.

No caminho foi só desgraceira. Estupro, violência de todos os lados, marginalidade, comendo lixo, passando frio.

Por um tempo, eu imaginei que tinha escolhido o caminho errado. Será que eu precisava me subordinar a tudo o que aquela gente queria para mim? Será que, quando a gente se dá mal é porque escolheu o caminho errado?

Eu fiquei pensando se era possível ter evitado meus sofrimentos...

 

Eu me sentia uma vítima da sociedade machista onde a mulher vale tão pouco. Mesmo aquelas que nasciam em berço de ouro, nasciam para servir, para parir, para satisfazer.

Eu não tinha grandes ambições. Aqui ouvi as feministas falando de estudo, profissão, igualdade de direitos, eita! Eu devo ser muito limitada intelectualmente porque eu nunca nem pensei nisso.

Para mim, bastava ser tratada com o mínimo de respeito, sem coices, sem surras, com um pouco de delicadeza, poder trabalhar e ter o meu dinheiro para as coisas básicas. Só isso!

Eu queria poder escolher se eu queria marido, se eu queria que me tocassem, se eu queria ser levada por quem quer que fosse. Eu queria ser ouvida e que respeitassem o meu não. Só isso.

Mas, a vida foi dura para mim, o tempo todo.

Daí, eu reencarnei de novo como mulher e quando percebi que eu era mulher, me deu tanta revolta que não quis aquele corpo. Eu preferia ser homem porque são muitas as facilidades, eles são os donos do mundo.

Eu não aceito ouvir um homem reclamando porque eles não sabem o que é sofrimento. Não aceito ouvir dizer que a vida é difícil ou que falta emprego porque eles podem fazer qualquer coisa e fazem.

A verdade é que a minha revolta ainda está aqui. Eu não consigo imaginar que retornarei num corpo feminino. Tudo de novo?

Como é que elas conseguem amar a maternidade? Conseguir emprego, valorizar o corpo e conseguem respeito? Será?

Acho que, para ser mulher neste mundo, tem que ser super. Conseguir credibilidade, compromisso sério, atuação de liderança e independência não é para qualquer uma.

Eu não me sinto capaz!

MARIA JOÃO

03/08/21


--------------------Paula Alves-------------------


“NÓS MUDAMOS TODOS OS DIAS NO CONTATO COM AS OUTRAS PESSOAS”

 

Eu não queria que eles se encontrassem, pois sabia que ela iria sucumbir.

As coisas podiam se repetir e, mais uma vez, ela estaria enfeitiçada pelo malandro de antes.

Depois de tantos e tantos anos, numa nova condição, tudo novo, nova vida e eles estavam tão perto, eu não podia permitir.

Tudo o que fiz foi por amor. Eu não podia deixar que ele a maltratasse novamente. Ela havia sido a minha mãe no passado, tão delicada, tão importante para mim, mas ele a humilhou tanto e a agrediu até que não sobrasse mais nada. Eu ainda tinha todas as cenas vivas na minha mente.

Depois de vagar por tanto tempo, eu a encontrei numa nova oportunidade e queria muito que ela fosse feliz. Ela merecia, mas não poderia ser feliz com ele, aquele marginal!

Eu soube da possibilidade de reencontro, notei que ela me ouvia ou me sentia, não sei bem, mas o importante é que ela captava minhas influências e me aproveitei disso.

Nossa! Foi um trabalhão. Eu sabia dos locais onde eles podiam se esbarrar e estava sempre desviando, quanto trabalho...

Mas, num dia qualquer, eu nem sei por que, me distrai com outro desencarnado. Era um cara estranho que parecia saber muito mais do que eu. Ele falou comigo e notei que ele estava me embaraçando sabe? Me tapeando para eu perder o horário, foi assim que eles se viram pela primeira vez.

Ah! Olho no olho que acende o coração.

Aquela mulher estava fadada a morrer de amores por aquele crápula?

Não esqueceu mais, só pensava nele. Tanto investigou que descobriu o local do trabalho e, por mais que eu tentasse, ela não me ouvia mais.

Eles ficaram juntos e eu saí de obsessor, mas como? Minha intenção era das melhores. Eu queria protegê-la.

Mas, depois que fui socorrido me informaram que eu não devia me meter na vida dos outros. Explicaram que aquele desencarnado estava ali, exatamente para que ninguém atrapalhasse os planos, eles tinham que se cruzar, era o plano.

Eles planejaram retornar e se unir novamente em matrimônio. Será que ela era louca?

Daí falaram de reconciliação, de um novo começo. Eles se prepararam para suportar o casamento com renúncia, abnegação, amor e paciência. Tinham que receber crianças...

E eu sou uma delas. Poxa! Eu nem podia imaginar que eu estava nos planos deles. Fui socorrido para que pudesse ser preparado para renascer na família deles. Não se esqueceram de mim e desejaram me fornecer um lar cheio de amor e amparo.

Eu não sei se confio nele. Não sei se vale a pena confiar numa pessoa que errou tanto, dar segunda chance para um cara todo errado, compensa?

Mas, me falaram que ele teve muito tempo para pensar, para se arrepender e as pessoas mudam. Nós mudamos todos os dias no contato com as outras pessoas. Ninguém consegue ficar exatamente como era num período de dez ou quinze anos, imagine a cada vida...

Então, estou me preparando. Eu ainda tenho alguns anos para me preparar e retornar como o filho mais novo deste casal. Vou tentar e que Deus me ajude.

LUCAS

03/08/2021

 

---------------------------Paula Alves---------------------

       

“DEVIA AJUDAR QUANDO PODE E FICAR QUIETO SE NÃO PODE FAZER O BEM”

 

Fiquei de longe olhando, ela era tão bonita. Eu me senti revigorado daquele contato, então, percebi que minhas chagas se fecharam um pouco, mas como podia ser?

Eu achei melhor ficar por ali, passei uns dias e fiquei ainda melhor. Ela era feliz, cantava o tempo todo e gostava de se arrumar, pintava-se.

Mas, conforme eu fui ficando a menina passou a ficar mais calada, parecia estar sempre cansada, tristonha, começou a apresentar uns sintomas gástricos, vomitava sem parar e chorava, irritadiça, gritava e isso começou a me irritar.

Então, eu pensei que aquilo não era lugar para mim, casa de malucos, menina irritante, eu não precisava presenciar aquela angústia e sofrimento de uma adolescente que estava tão desleixada. Falei: “Chega, tô indo!”

Mas, eu não consegui sair da casa. A menina começou a falar sozinha e eu fiquei com medo da menina. Que horror!

Ela falava sozinha, mas parecia que estava falando comigo. Daí eu pensei: “Coitada deve estar louca, mas como é que eu saio daqui?”

Tentei, tentei sair e nada. Parecia que eu estava preso com ela.

A menina começou a ter pensamentos horríveis de suicídio, de delitos com outras pessoas, insatisfeita com as amizades e com os pais.

Eu estava surtando naquele local, tanto que comecei a pedir ajuda para qualquer um que pudesse me ouvir. Então, eu vi aquele homem que trabalha com vocês, ele explicou tanta coisa e eu fiquei aliviado quando ele chegou.

Ele disse que a gente não devia brincar com a mente dos outros porque a gente nunca sabe até onde vai a sanidade de alguém.

As pessoas enlouquecem com um simples empurrãozinho. Ela já tinha tendência, eu não criei nada na cabeça dela, mas eu incentivei. Eu fiquei bem assustado, não sabia que era assim. O homem falou que isso acontece também entre os encarnados. As pessoas colocam coisas na cabeça das outras e nem imaginam no que pode dar. Alguém pode se transformar numa fera sem tamanho e pra quê?

A gente devia deixar os outros em paz. Cada um vivendo a sua vida. Cada um se ocupando com a sua elevação e enobrecimento. Devia ajudar quando pode e ficar quieto se não pode fazer o bem, só seguir o caminho porque quem não ajuda, também não devia atrapalhar.

Depois de um tempo, depois que eu fui levado, eu soube que a mãe da menina procurou médico e psicólogo para que ela fosse tratada. Ainda bem que a mãe dela procurou ajuda. Dizem que hoje em dia, ela se cuida e está bem melhor, não tem mais pensamentos malignos. Que bom!

CÍCERO 

03/08/2021

        

 


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