Cartas de Agosto (16)

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“NINGUÉM NOTICIOU, NÃO GANHEI NENHUMA MEDALHA, NENHUM APLAUSO, NINGUÉM COMENTOU MEUS GESTOS NOBRES, MAS PARA MIM, FAZIA TODA A DIFERENÇA”

Era uma vida simples como tantas que existem por aí. Foi como se eu despertasse de uma hora para outra e me visse em meio a uma multidão de pessoas que carecem de tudo. Uns necessitados de paz, outros de amor: amor próprio, amor recíproco, amor sincero. Havia outros, carentes de alimentos, roupas, o mínimo de conforto, o mínimo de higiene, a mais necessária saúde. Pessoas que iam e vinham. Pareciam dementes na submissão material e eu era uma delas, mas naquele momento, no meio da Avenida Paulista me senti parte daquele conjunto insano. Eu quis me desesperar quando acordei. Eu quis gritar e correr dali. Eu simplesmente me esqueci, por algum momento, das coisas que me interessavam e haviam me levado até lá.

Eu chorei e ninguém, sequer se deu conta do quanto minhas lágrimas rolavam, eu estava enxergando a ausência de Deus na vida deles, a ausência de paz e serenidade que são tão fundamentalmente importantes para que possamos continuar vivendo.


Retornei para ao meu lar e desejei sentir a paz. Eu quis me tornar parte de algo que me preenchesse, algo que me confortasse porque entendi que minha vida não poderia ser, apenas um dormir e acordar que não me levavam a lugar algum.

E eu me questionei, será que eles não percebem?

Será que ninguém sente o que estou sentindo?

Deve ter algum sentido para tudo isso. E eu pedi para que Ele me mostrasse o caminho porque eu havia acordado e precisava caminhar para frente. Eu precisava ser conduzida. Pensei em tantas pessoas que sorriem com paz e transmitem serenidade. Será que elas haviam encontrado esta resposta?

Como caminhar com paz e encontrar tudo o que é necessário para viver neste mundo sem perder a razão?

Eu sonhei com um senhor tão tranquilo que me explicava que eu só podia sentir paz se promovesse a paz. Eu só poderia encontrar o amor, se o distribuísse de forma altruísta, sem interesse algum. Ele me convenceu de que realmente era isso o que importava e quando acordei me lembrei de tudo e até das sensações prazerosas que tive com aquele encontro. Senhor este que reencontrei aqui como meu protetor.
No outro dia, fiquei bem atenta. No meu trabalho fiquei de olhos bem abertos para ver se alguém precisava de mim e fiquei espantada de ver quantas pessoas pareciam entristecidas. Naquele dia, sorri para todos e dei bom dia, fui o mais amável que pude. Muitos me trataram com indiferença, outros zombaram de mim, mas alguns me retribuíram o sorriso, responderam com simpatia e partiram com outro semblante, com ânimo, modificadas. Saí do meu trabalho e levei alguns lanches que distribuí por onde passei. Ajudei uma senhora a atravessar a Paulista, ganhei um abraço afetuoso e, voltando para casa, ouvi uma moça que lamentava a perda do companheiro. Eu sofri algumas vezes, mas no geral, me senti útil e, com isso, me envolvi tanto com as pessoas, que me senti parte do todo, fiquei feliz. Com o passar dos dias aquilo tudo se tornou um hábito e eu fui modificando meu ambiente de trabalho, pois todos se sentiam obrigados a serem gentis. Foi maravilhoso! Minha vida mudou muito. Isso foi bom para mim.

Ninguém noticiou, não ganhei nenhuma medalha, nenhum aplauso, ninguém comentou meus gestos nobres, mas para mim, fazia toda a diferença. Eu me transformei e senti prazer com isso, eu estava modificada. Quando desencarnei, muitos anos depois de tudo isso. Após constituir família, ser muito feliz. Cheguei aqui e encontrei tantos amigos. Encontrei demonstrações de afeto, ganhei até parabéns por todos que estavam vendo de longe o que eu fazia. Estou feliz e sou grata pela oportunidade que vou ter de atuar como tutora. Ser Espírito protetor é um presente que implica em abdicação, comprometimento e amor ao próximo. Eu estou me sentindo honrada. Gratidão.
CONCEIÇÃO
24/08/19

--------------------------Paula Alves-----------------------

“HOJE SEI QUE NÃO EXISTEM CASTIGOS, MAS SITUAÇÕES NECESSÁRIAS PARA NOS CONSCIENTIZAR DE NOSSOS REAIS ATOS NOCIVOS PARA NÓS E PARA OS OUTROS AO NOSSO REDOR”

Eu havia me cansado da rotina de dona de casa. Todo dia era a mesma coisa. Logo após o casamento, eu cuidava da minha casa com tanto esmero. Limpava e perfumava a casa, colocava vaso de flores e preparava o jantar tentando fazer pratos diferentes, incrementados para satisfazer o gosto apurado do meu marido. Mas, com o passar dos anos, os filhos chegaram e minhas obrigações domésticas se tornaram infinitas. Era tanto trabalho que eu me senti irritada, cansada e desanimada. Eu estava frustrada porque a sensação que eu tinha é que eles (meus familiares) me tratavam como uma empregada no lar. Eu tinha horário para começar as tarefas, mas nunca para terminá-las. Meus filhos e meu esposo eram exigentes e mimados. Eu estava tão saturada que já não conseguia disfarçar a indiferença e má vontade com que realizava meus trabalhos. Parecia que uma indignação se apoderava de mim.

Mas, a vida é tão perfeita que bastou um acontecimento para tudo mudar. Eu estava lamentando ter tantas pessoas para cuidar. Estava lamentando ter tantas tarefas e, enquanto fazia meus trabalhos, o telefone tocou dizendo que meu filho havia sofrido um acidente de carro, eu gelei. Fiquei desesperada e achei que aquilo tudo era castigo por causa da minha má vontade. Eu me queixava por ter família, por ter que cuidar deles e Deus me mostrava o quanto eles eram importantes para mim. O quanto eu preferia ter de trabalhar para agradá-los sem descanso por toda a minha vida.


Hoje sei que não existem castigos, mas situações necessárias para nos conscientizar de nossos reais atos nocivos para nós e para os outros ao nosso redor. Mas, naquele momento eu pensava como uma fatalista. Rezei e pedi perdão, antes de sair correndo para o hospital, dobrei os joelhos e orei com fé. Eu me entreguei a Deus e disse que iria me reformar e fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para direcioná-los ao Pai e eu, que era uma filha bem ingrata, estaria disposta a viver todos os dias com satisfação, com gratidão. Eu estava disposta a mudar minha postura de filha manhosa e ingrata. Eu estava barganhando com Deus. Até ali mostrei minhas atitudes imaturas, mas o Pai é tão bondoso. Meu Daniel melhorou em poucos dias. Ele se submeteu a uma cirurgia muito bem conduzida e pudemos voltar para casa. Quando entrei em casa, me lembrei de todas as minhas juras e comecei a pôr em prática minha conversão. Primeiro um sorriso porque quem é grato, sorri. Eu agradeço por tudo o que vivi. Graças a Deus.
ONDINA
24/08/19

-------------------------Paula Alves-----------------------

“AS MÁSCARAS SEMPRE CAEM E A VERDADE É SEMPRE REVELADA NUM MOMENTO OU EM OUTRO”

Todos nós podemos mudar de lado a qualquer momento. Mudar o rumo da vida, mudar de pensamento. Acho que é sábio admitir o erro, se arrepender e fazer tudo o que pode para melhorar, para não errar mais. Conheci muito bonzinho que virou a cangaia. Conheci bom que teve perda difícil e mudou de cara, passou a ser malvado. Conheci bom que se frustrou, sentiu a maldade no fundo da alma e desejou vingança, se tornou ruim. Mas, comigo foi diferente. Eu já tinha cometido crime, eu persegui e arruinei a vida de famílias inteiras porque eliminei alguém por dinheiro. Eu fui o criminoso. O pecador que todos dizem não ter salvação. Eu nunca pensei que pudesse mudar de lado, mas mudei.

Tem bom que mudou em nome da fé. Tem bom que mudou porque pediu saúde para si ou para os outros, pediu libertação. Tem bom que mudou por amor.

Eu me amiguei com a Fernanda e, ainda assim, não via mal nenhum em executar outra pessoa porque achava que alguma coisa ela devia ter feito para ter morte encomendada, mas não é bem assim.
Tem tanta gente que faz o mal sem ter grande motivo.

Sabia que tem gente que fere por inveja, por orgulho?

Tem gente que elimina o outro porque o outro é ameaça ao sucesso ou porque é rival do coração. As pessoas acham que tem motivo, mas às vezes, a vítima nem sabia que estava sendo espiada. Eu fazia tudo tão direitinho. Era uma peça do carro, uma cela do cavalo, sempre um acidente que ninguém podia perceber. Eu era astuto. Sempre considerei que, se não tinha ninguém para me impedir, era porque o dia estava certo. Todo mundo tem o dia da morte marcado. Tem dia para nascer e dia para morrer. Simples assim. Se não aparecia um mocinho para salvar, eu nem fiz nada de errado, era o dia certo e pronto!


Daí a Fernanda cismou de engravidar. Nem sei explicar meu sentimento quando vi aquela menina. Minha filha Eduarda. A menina tinha cara de anjo. Eu não podia receber aquele presente de Deus e continuar no erro. Minha filha foi o motivo da minha mudança. Também considero que minha mudança ocorreu por amor. Por amor a minha menina. Eu chorei tanto quando olhei para ela porque desbloqueou alguma coisa na minha mente. Eu pensei que ela poderia viver no meio de tanta gente que cometia o mal como eu. Eu era o instrumento do mal. Pensei em tudo que ela podia viver. Estudar, conhecer alguém. Podia encontrar tantos adversários, tantos traíras, tanta gente com sorriso e cheio de inveja, pessoas que são lobos em pele de cordeiros.

Eu precisava mudar porque achava que ela podia ser punida pelo mal que eu sempre cometi e prometi para mim mesmo que seria um bom homem para que ela pudesse me ver como um bom homem. A gente não consegue enganar o mundo todo o tempo inteiro. As máscaras sempre caem e a verdade é sempre revelada num momento ou em outro. Eu queria ser integro para minha filha e fui. Eu acho que não consegui limpar todo o meu passado, mas sei que fez diferença ter interrompido o mal porque eu fui feliz.

Desencarnei devedor, sofri e paguei uma parcela grande da minha culpa, foi necessário, mas agora estou aqui, posso me tratar e sou grato pela atenção que estou recebendo. Deus abençoe vocês. ESTEFAN
24/08/19

------------------------Paula Alves---------------------------

“TEM GENTE QUE FALA QUE NÃO EXISTE O INSUBSTITUÍVEL, MAS EXISTE UMA CONTROVÉRSIA NESTA QUESTÃO PORQUE SE AS PESSOAS SÃO ÚNICAS, NINGUÉM PODE SUBSTITUÍ-LAS”

Deu um trabalhão mudar de lado. Eu já tinha vivido mais de trinta anos achando normal a leviandade. Não posso jogar tudo nas costas dos meus genitores, mas a verdade é que fui criado num lar desestruturado. Vi minha mãe apanhando, meu pai bebendo, traindo minha mãe. Era tão normal homem ter amante. Era normal homem ser autoritário dentro de casa. Eu aprendi assim, são os exemplos que ensinam o que a gente nunca mais esquece.

Tive a sorte muito grande de encontrar a Odalina. Mulher boa, prendada, trabalhadora. Minha esposa nunca foi exigente. Se faltava alguma coisa dentro de casa, ela se virava lavando roupa, passando, fazendo faxina e, quando eu chegava em casa, estava tudo lá. Ela nunca me deu dor de cabeça, eu nunca precisei pensar que tinha problema em minha casa. Chegava todo suado e procurava minha esposa que me atendia com o maior respeito e eu nunca parei para pensar por que ela fazia tudo aquilo, eu estava adormecido no erro.


A gente é tão vulgar. Se acostuma com a vida de sempre. Fica pensando no prazer, na bebida, no cigarro, na vizinha. Se esquece de pensar em coisas importantes. Não vê nada, vive na cegueira. Aí cheguei em casa e nem percebi que Odalina estava pálida. Ela estava emagrecendo e eu não tinha notado. Eu nem olhava para ela, coitada. Ela desmaiou e, de repente, eu me desesperei porque não sabia fazer nada sem minha esposa. Eu parecia um homem firme, independente, mas era ela quem cuidava de todos e resolvia tudo. Eu precisei crescer como pai de família e cuidar da minha esposa que adoeceu. Era grave, era câncer. Eu sofri demais. Foi como se uma criança brincalhona tivesse que se tornar adulto sério. Eu chorei e pedi para Deus não fazer aquilo comigo.

Então, descobri o quanto a doença era fatal. No nosso tempo, o tratamento não era como é hoje não. Era sentença de morte mesmo. Eu fiz o possível para fazer o melhor para ela no tempo que restava. Eu quis que ela visse o bom pai que ficaria com os filhos dela. Eu a tratei como uma mulher preciosa e mostrei todo o meu amor. Quando chegou o dia da despedida, eu já era outro homem. Eu me modifiquei pela dor da perda e me transformei num bom marido e num pai amoroso antes da minha esposa partir. Senti muito, me arrependi de não ter sido presente e responsável durante todo o nosso tempo de casados. Acho que a gente nunca pensa que as pessoas podem desaparecer da nossa vida de uma hora para a outra. É tão fácil explorar a boa vontade dos outros. É tão fácil ficar no controle de tudo só ditando ordens e nunca colaborar, nunca colocar a mão na massa. Na verdade, a gente só sabe reconhecer o quanto as pessoas são firmes, trabalhadoras e essenciais num local ou nas nossas vidas quando elas não estão mais.

Tem gente que fala que não existe o insubstituível, mas existe uma controvérsia nesta questão porque se as pessoas são únicas, ninguém pode substituí-las.

Ninguém nunca vai preencher o espaço de uma pessoa que é realmente importante. Uma pessoa que fornece amor e estabilidade para outras pessoas. Uma mãe é insubstituível sim. Um amigo é insubstituível sim. Eu tive meus filhos comigo, pessoas lindas, mas mulher como a Ondina nunca mais achei. Eu não quis mais saber de flerte, não quis mais arruaça.

Me modifiquei porque fiz análise mental e reconheci que somos levianos com as pessoas. Somos cruéis, orgulhosos e mesquinhos. Nós humilhamos com o olhar, constrangemos e nem sentimos nada. Isso é terrível! Pensar que as pessoas cometem tantos erros e a consciência não reflete a respeito. O começo da elevação é através do arrependimento e da reparação dos erros. Se você não reconhecer que errou, vai melhorar como? 
MANUEL
24/08/19


 -------------------------------------------Paula Alves------------------------------







Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“EU PRECISO DESBLOQUEAR MEUS SENTIMENTOS E TER MAIS INDULGÊNCIA PORQUE TODOS NÓS PODEMOS ERRAR”

É bom poder confiar em alguém. Se doar por inteiro sem qualquer tipo de insegurança, é bom. Eu nunca desconfiei dela. Estávamos casados há quinze anos. Estivemos juntos pelo dobro de tempo. Ela sabia de toda a minha vida. Para mim, era minha amiga, minha ouvinte, era o meu mundo. Eu a amei como a nenhuma outra, em todas as outras vidas.

Foi um grande ensinamento para mim, saber o quanto podemos nos envolver com uma pessoa e o quanto podemos nos preencher dela. Eu me sentia um cara completo com uma boa esposa e filhos que me deram uma imensa felicidade – ter família. E quando se tem família, se faz tudo pensando no bem desta família. Todas as aquisições materiais são para a felicidade da sua família, portanto, todas as horas extras que você fez são para o bem-estar, conforto ou segurança da sua família. Tudo para eles. Os conhecimentos que adquiri foram por causa deles, para beneficiá-los, para que eu pudesse ocupar uma colocação mais elevada no meu ambiente de trabalho e, por fim, o local religioso que frequentamos foi para que, em nosso lar, tivéssemos paz e harmonia, para que nossos filhos conhecessem um Deus Pai que poderia me auxiliar na educação deles.

Enfim, eu fazia tudo com o objetivo de encaminhá-los na vida, de alimentá-los materialmente, mas também espiritualmente e tentava ser um homem exemplar para que tivessem exemplos morais de um homem sério e centrado. Mas, para quê?

Compreendi que foi tudo em nome de um amor puro, incondicional, mas eu sofri tanto. Eu me senti humilhado, usado, abandonado. Tudo o que fiz com a certeza de que era recíproco e minha esposa estava me traindo há muito tempo. Tanto tempo que não tinha a certeza se o nosso primogênito era de fato meu filho. Isso me causou muita indignação. Ela disse que iria embora e levaria meus filhos. Eu seria trocado por outro homem, por outro que, na concepção dela, seria melhor esposo e pai do que fui durante toda a minha vida, mas como? Se eu me transformei como pessoa para ser o melhor que pudesse para eles? Foi aí que me senti humilhado porque o melhor que pude ser não foi o suficiente para ela. Nasce uma indignação que acaba com você brother.

Fiz questão de raciocinar onde errei durante todo o tempo em que estivemos juntos. Por que não percebi as escapadas dela? Será que estive tão ausente assim? Mas, eu sempre estive no lar, no lazer e nas conversas. Eu estive com eles e me recordo da ausência dela. Do olhar longínquo e dos pedidos de férias e carro novo. Eu me lembrei de todas as roupas que não serviam e todos os sapatos que ela quis e eu não pude comprar. Como eu pude ser trocado se eu os amava tanto?

Então, segui sozinho por anos. Conheci uma mulher que me alegrou muito. Foi uma amiga incrível a quem eu quis dedicar meus melhores dias, mas percebi que os meus melhores dias já haviam passado com a família que não me quis. Eu fiquei com Elisete, me casei com ela, porém nunca tivemos filhos. Eu nem conseguia olhar para ela porque eu sentia o seu amor, eu queria amá-la, mas foi como se meu coração estivesse machucado e não quisesse mais sentir tudo tão profundamente. Eu estava desiludido. Compreendo porque tenho que me tratar. Estou tão desenganado. Meu coração se embruteceu, se encouraçou buscando defesa. Sei que, se reencarnar desta forma, não vou conseguir nutrir amor por ninguém. Eu preciso desbloquear meus sentimentos e ter mais indulgência porque todos nós podemos errar. Ela errou e eu também errei? Será que amei demais?
AUGUSTO DIAS
18/08/19

-------------------------Paula Alves------------------

“QUEM NÃO FAZ O BEM NÃO É BOM, É OMISSO, É INERTE, É INDIFERENTE”

Vivi buscando explicações que justificassem por que eu me esquivava tanto das pessoas. Nunca me senti a vontade com elas. Sempre achei melhor ter uma distância que me protegesse do excesso de intimidade que poderia nascer numa amizade ou num relacionamento onde as pessoas soubessem dos meus sentimentos ou das minhas intenções. Eu não fui má ou leviana, apenas preferi ficar a um metro de distância de qualquer um. Isso aconteceu, primeiramente no meu lar fraterno. Não gostava de me abrir nem mesmo para os meus pais ou irmãos. Achava bobagem entregar às pessoas meus pensamentos mais secretos. Afinal, se todos precisassem saber o que estamos pensando, poderíamos ler pensamentos e como isso só pode acontecer deste lado, eu pensava o que queria e não ousava revelá-los a ninguém.

Segui assim por muito tempo, meu jeito, minha escolha, mas de repente, isso passou a me incomodar. Eu me senti só. Após as pessoas terem feito inúmeras tentativas para se tornarem minhas amigas, depois de algum tempo, todas se afastavam, eu era chata e quieta. Foi uma vida simples com direito a morte sem graça e quase ninguém no enterro. Eu não tinha pensado nisso, mas quem não tem amigo em vida, também não tem ninguém para chorar no enterro. Foi horrível perceber que ninguém sentiu minha falta. Minha mãe tinha partido antes, muitos dos meus irmãos também e os outros familiares nem me conheciam o suficiente para perder tempo com enterro de estranho. Foi assim.

Peregrinei um pouco porque quem não faz o bem é como se estivesse escolhendo fazer o mal porque se recusou a ser bom de forma integral. Quem não faz o bem não é bom, é omisso, é inerte, é indiferente. Peregrinei e aprendi muito do que é precisar e não ter e aí senti bastante falta das pessoas ao meu redor, amigos e familiares que cuidassem de mim, que gostassem de mim ou que pudessem me observar ou me ouvir. Tudo cheio de insanidade, mas com um sentimento cheio de querer. Cheguei aqui na carência e quando me vi nesta situação de desencarnada que não fez nada na vida estou pensando nos motivos que me levaram ao afastamento com a sociedade.
Lembrei do quanto sofri com a falta de lealdade de uma grande amiga em outra existência. Eu a amava como a uma irmã e ela me traiu. Eu me senti tão ferida que jurei nunca mais confiar em ninguém nesta vida, mas perdurou por outras, muitas outras. Como uma coisa que alguém faz para a gente pode nos ferir desta forma? Eu nunca imaginei que pudesse ser assim. Preciso de tratamento porque sozinha não consigo mais. Eu não consigo eliminar este fel que existe dentro de mim, me ajude.
MARLENE
18/08/19

-----------------------Paula Alves---------------------
AMIZADE QUE NÃO TEM LEALDADE NUNCA VAI PARA FRENTE”

Sensação boa de vingança eu tive sim. Ela tripudiou em cima de mim roubando meu noivo. Senti mais por ter perdido a amizade do que por ter perdido o namorado. Acho que, no fundo eu nem gostava dele tanto assim, mas minha amiga ter me traído foi demais. Eu chorei tanto. Eu me magoei tanto. Nunca fui a mesma. Foi como se ela tivesse fechado meu coração porque eu não podia confiar em mais ninguém.
Nenhuma amiga poderia ser confiável e nenhum homem poderia ser fiel. Resultado: amizades frias, relacionamentos mornos que nunca me levaram ao altar, nunca tive filhos ou família porque para constituir família você precisa entregar sua vida ao outro de forma despretensiosa. Você se mostra como realmente é e espera que isso que você é de verdade seja agradável ao outro. Você deseja que esta pessoa seja digna de ter você com seu coração meigo, sua doçura, sua paciência, boa vontade e lealdade, fidelidade. Acho mesmo que a lealdade vale mais do que a fidelidade, ambos são muito parecidos, mas o relacionamento cheio de lealdade já tem fidelidade embutida, entendeu?

Amizade que não tem lealdade nunca vai para frente. Sabe aquele amigo que fala para todo mundo o que você só contou para ele? Tem como considerar amigo um sujeito assim? Fala sério? Para ter uma vida social muito mais ou menos tive que fingir que não via ou não escutava certas coisas. Fazia de conta que era boba para não discutir com todo mundo. Assim, me tornei uma velhinha bem simpática. Guardando meus pensamentos ofensivos só para mim, com um sorrisinho no rosto, fui levando e fingindo que as pessoas são agradáveis e não hipócritas.

Mas, eu morri, quer dizer, desencarnei e encontrei a Leninha na carne, velha e acabada. Sofria de um reumatismo que já era ruim, mas eu quis judiar um pouco mais dela por ter se passado por minha amiga e roubado meu noivo. No início, eu me senti super bem, me vinguei, mas depois eu comecei a sentir o reumatismo em mim e também outras coisas ruins que a Leninha sentia. Credo! Quem ia imaginar? Desejei sair de lá e vim para cá. Eu nem sabia de nada disso. Agora tenho muito o que fazer. Preciso saber de tantas coisas antes de pensar em voltar para novas oportunidades. Como a vida da gente é confusa.
NEUSA
18/08/19

----------------------------Paula Alves------------------

“CADA LOUCO COM A SUA MANIA”

Não tinha como saber que as pessoas conservavam seus traumas, psicoses, neuras ou toques, deste lado. Quando eu era psicólogo, achei que era a melhor das profissões porque eu ficava sentado ouvindo e, às vezes, me perdia nos meus próprios pensamentos. Quando eu via, já tinha dado o tempo de finalizar a terapia e meu paciente ia embora. Eu não falava nada porque a intenção era permitir que ele ouvisse o que estava dizendo. Eu queria que encontrassem o problema e a solução por si próprio, mas depois de anos de comodismo, eu acordei. Estava usando a profissão de forma antiética. Eu nunca fui um bom profissional. Eu me aproveitei da oportunidade de ganhar dinheiro sem esforço nenhum. Quando me esforcei para tratá-los, meus pacientes foram escasseando e, num dado período da minha vida, não tinha mais ninguém para cuidar, para tratar como psicólogo.

Procurei empregos fora da minha área, mas eu não tinha ânimo, coragem, era preguiçoso e mal acostumado. Virei um sujeito medíocre que se aproveita das boas intenções dos seus familiares. Sofri muito quando desencarnei porque ouvi o lamento de muitas pessoas, choros, gritos. Era como se eu estivesse diante de todas as lamentações dos meus pacientes. Um mundo terrível onde meus pensamentos foram meus piores algozes. Vim para cá decidido a me reformar. Eu desejo auxiliar doutor.

Quando for possível eu quero ajudá-lo. Será muito bom para mim. Estou aqui notando o quanto as pessoas precisam de ajuda. São muitos doentes na crosta. Pessoas que se acham normais e têm algum tipo de problema psicológico sem nunca se dar conta. Questões ligadas a vidas passadas, questões ligadas a rejeições ou falta de amor que leva a manipulação desenfreada ou desejo de cometer o mal, isso em se tratando de pessoas normais, as boas ou mais ou menos boas.
“Cada louco com a sua mania” – dizem. Pior é que é verdade doutor.
CAMILO
18/08/19

                          ---------------------------------------Paula Alves---------------------------


Foto cedida por Magno Herrera Fotografia


“FOI AQUI QUE TIVE A CONSTATAÇÃO DE QUE, AQUELES QUE SE AMAM ESTÃO SEMPRE SE ESBARRANDO”

Eu sempre quis que minha mãe estivesse por  perto. Na verdade, ela adoeceu logo que eu nasci, eu nem sequer me lembrava do rosto dela. Fui criado apenas, por meu pai. Além de pai, foi amigo. Um amigo que esteve sempre ao meu lado. Nunca permitiu que eu me desviasse do caminho correto. Com toda a delicadeza me esclarecia dúvidas. Fez de mim mulher honrada. Meu pai amado!

Eu era tão próxima dele que comecei a temer por sua saúde. Temer que, por qualquer motivo que fosse, ele se afastasse de mim. Conheci Danilo que foi um homem maravilhoso, mas quando ele me propôs casamento, minha única insegurança era deixar meu pai solitário. Eu adiava marcar a data porque não sabia como dizer ao meu noivo que não queria me separar do meu pai. Aquele pai era tão bondoso que sempre se privaria da felicidade para ver um sorriso nos meus lábios, mas eu sofreria muito se visse uma só lágrima molhando o seu rosto.
Deus foi tão misericordioso comigo. Danilo percebeu minha angustia e compreendeu que eu não queria deixar meu velho pai sozinho e disse que nossa casa seria no mesmo bairro de papai. Eu não ficaria longe dele. Fiquei feliz. Nos casamos e meu pai estava sempre conosco, almoçando, tomando um café. Uma amizade que se fortalecia a cada dia. Nunca houve um amigo mais leal e nem tão interessado no meu triunfo. Mas, o dia dele chegou.

Após um inverno vigoroso meu pai adoeceu. Depois de um aneurisma, ele ficou tão debilitado e eu senti fundo na alma que ele não iria aguentar. Eu não saí do hospital, fiquei o tempo todo com ele. É uma dor tão forte. Um sentimento tão surpreendentemente estarrecedor de perda, de impotência. Eu não queria perdê-lo. Eu não estava pronta para ficar sem meu grande amigo. Meu pai iria fazer falta. Eu precisei me ausentar. Papai ainda consciente me fez um pedido que eu não poderia recusar. Ele queria ver o retrato de minha mãe, seu único amor. Eu temi me afastar, mas fui correndo pra casa. Antes de ir, eu olhei bem fundo nos olhos dele e senti que era uma despedida. Como sofri com o telefonema do hospital. Foi só eu me afastar. Acho que estava atrapalhando sua partida. Minha intenção não era ser egoísta, mas eu fui. Todos nós temos um caminho. Este caminho é único e não tem fim.

Meu pai precisava continuar, mas eu não compreendia isso naquela época, nem tinha como saber enquanto estava na carne. Eu corri para o hospital e me lamentei muito. Sofri o luto da perda do meu pai durante dois anos. Tudo me lembrava ele. Ele estava em todas as cenas importantes da minha vida. Meu esposo não sabia mais o que fazer para me alertar que devia continuar. Aí, Deus permitiu que eu recebesse uma visita. Numa noite em que estava profundamente saudosa, sonhei com ele. Meu paizinho, estava tão lindo, todo de branco. Ele me deu uma rosa branca e me abraçou. Disse que eu precisava continuar para que ele pudesse ter uma continuação. Naquele momento eu não compreendi nada. Mas, aquele abraço e a sensação de bem estar. Eu sabia que ele estava bem, em paz. Acordei com ânimo, alegre. Seis meses depois, eu estava grávida. Eu senti por Cláudio a mesma ternura. Olhava para meu filho e era como se estivesse enxergando meu pai. Eu não sabia nada sobre reencarnação. Foi aqui que tive a constatação de que, aqueles que se amam estão sempre se esbarrando. Meu pai, se tornou meu amado filho. Eu só posso agradecer a Deus Pai que me presenteou duas vezes na mesma vida. Duas vezes em contato com este ser tão maravilhoso que me ama incondicionalmente, sem interesse, só amor. Gratidão.

SILVIA
11/08/19

------------------------------Paula Alves-------------------------

“FILHOS TENHAM PACIÊNCIA COM SEUS PAIS”

Sempre fui rebelde, meu jeito, estourada, encrenqueira. Fui assim, intensa. Meu pai sempre me desaprovando. Tivemos brigas terríveis, cheias de ofensas e acusações. Cheguei a pensar que ele me detestava. Era tudo por impulso, impulso que fazia coisas para irritá-lo. Por que os pais são tão importantes na nossa vida?

No fundo eu queria ser aceita. Eu queria ser a preferida, mas eu sabia que ele não concordava em nada comigo. Saí de casa e quando ia visitar mamãe, lá estava ele me censurando, discordando de mim. Até que eu adoeci. Uma bela leucemia para abranda meu coração de pedra. Tive que voltar para casa dos meus pais porque necessitava de cuidados. Logo de cara pude ver o sofrimento dele.

Meu pai estava abatido, triste demais. Eu entrei de cabeça erguida, mas quase caí na escada e meu pai me carregou até a cama. Ele se sentou ao meu lado e disse o que eu nunca imaginei ouvir. Meu pai falou que eu sempre fui a menina dos olhos dele. Nós sempre fomos muito parecidos e ele não queria que eu cometesse os mesmos erros que ele cometeu. Disse que tudo o que um pai quer é a felicidade dos seus filhos. Que ele preferia morrer a me ver naquele estado, mas se era pra eu passar por todo sofrimento seria com o apoio deles. Meu pai falou que eu podia ficar tranquila que não ia faltar nada para mim, nem material, nem moral, eu seria amada, cuidada de todas as formas, tudo para o meu bem sempre. Ele me abraçou e chorou quietinho. Eu fiquei me sentindo muito mal por tudo, pela vida toda. Quantas bobagens eu disse para aquele homem que se importava tanto comigo?

Quantas vezes eu o fiz sofrer? Ah! Se a gente pudesse prever o fim... Se pudesse saber que de uma hora para outra a gente pode perder tudo o que tem, pode perder quem a gente ama...

Eu fiquei nove meses tentando me curar, mas durante este período, por incrível que possa parecer, eu fui muito feliz. Mais feliz do que fui durante toda a minha vida, época em que eu esbanjava saúde. Fui feliz porque senti o amor. Eu senti a minha família comigo. No fundo tudo o que realmente importa. As pessoas querem ser aceitas. Elas querem se sentir amadas. Eu fui muito amada e se, eu tinha que adoecer, para ter esta certeza, então eu agradeço a Deus por ter adoecido, eu tive este amor. Os pais se preocupam muito com os filhos, mas nunca devem deixar de demonstrar o quanto amam estas criaturinhas inseguras. Os filhos devem pensar que os pais têm muitas coisas para fazer pelo bem estar dos filhos. Filhos tenham paciência com seus pais.

Familiares devem aproveitar todo o tempo que têm porque a vida é passageira, o tempo voa e depois é só saudade.

BIANCA
11/08/19

--------------------------------------Paula Alves---------------------------------

“CADA UM DE NÓS TEM UM PLANO E UMA TRAJETÓRIA”
Nunca conheci pessoas tão amistosas e amorosas quanto meus pais.
O seu Agenor deixava de comer para nos alimentar. Fomos muito felizes, sempre amado e bem educado por nossos pais, mas para que tivéssemos o necessário, meu pai saia com roupas esfarrapadas, sapatos furados.

       Trabalhador, queria que tivéssemos as oportunidades que eles não tiveram. Ele queria nos ver formados. Meu pai trabalhou muito e eu me preocupava com ele, com sua saúde. Minha intenção era arrumar um bom emprego e dar melhores condições de vida aos meus pais. Mas numa noite meu pai não voltou para casa.
Foi muito difícil me libertar da revolta que senti quando soube que meu pai foi atropelado e nem sequer recebeu o socorro necessário. Meu pai ficou caído na estrada, sofrendo, agonizando. Eu me desesperei. Senti raiva, descaso, será se não fosse tão pobre poderia ter vivido por mais 10 ou 20 anos?
Passei a vida toda me culpando por não ter ajudado mais. Eu me senti responsável, em parte, pelo sofrimento dele.

Mas, muito tempo se passou, em meio a amargura que eu carreguei dentro de mim, vivi uma vida pacata, normal. Nunca me esqueci dele. Cheguei aqui, após peregrinar porque meus sentimentos negativos não me permitiram adentrar a luz. Quando finalmente fui resgatada, vivi meu pai. Lindo com seu sorriso simpático. Corri para lhe abraçar e recebi uma advertência.
Meu pai falou que ele pode adentrar este local porque se deparou com aquele desencarne difícil. Disse que nunca devemos alimentar a mágoa e a revolta. Cada um de nós tem um plano e uma trajetória. Meu pai passou por uma expiação  libertadora e foi bem assistido por causa de sua resignação. Adorei ver meu pai. Sou grato por todos que me auxiliam aqui.

SIMONE
11/08/19
 
---------------------------Paula Alves------------------------

“EU ME ARREPENDI MUITO DE NÃO TER DADO OUVIDOS AOS CONSELHOS DO MEU PAI”

Sempre fui boa filha. Nunca discordei do meu pai porque percebia em tudo o seu amor por nós, mas eu me apaixonei e queria viver o amor.
Apresentei Robson e, no ato, vi a contrariedade no rosto do meu pai.

A partir daquele encontro, tudo mudou. Meu pai exigiu que eu me distanciasse do Robson e eu o enfrentei. Meu pai afirmou que Robson era interesseiro, só estava comigo por causa de minha posição social. Eu falei que abdicava de tudo, se fosse para ficar com ele. Meu pai riu, disse que, se eu fizesse isso, ele iria embora porque queria regalias que meu dinheiro poderia dar.

Eu estava tão apaixonada, tão iludida. Enganei meu pai, fingi que me distanciei, mas estreitos os laços com Robson e engravidei. Robson me propôs casamento, eu conversei com meus pais que aceitaram que eu casasse por causa do bebê, mas meu pai disse que queria estar errado, porém, sabia que eu iria sofrer muito com aquele homem.

Será que meus pais têm bola de cristal?

Eu apanhei tanto do meu esposo que perdi o bebê. Meu marido tinha plenos poderes em tudo que eu tinha, ele estava me mantendo presa no lar para que eu não pudesse pedir ajuda ou contar o que ocorria em nossa casa. Meus pais sentiram que algo não estava bem. Se preocuparam com meu sumiço e foram na minha casa. Quando me encontraram em situação precária por falta de alimentação e cuidados médicos, meu pai ficou furioso e disse que se, meu marido me procurasse novamente ele o mataria.

Eu fui socorrida e recebi cuidados dos meus pais. Meu esposo tendo compreensão do quanto errou, nunca me procurou, ele foi embora.
Eu me arrependi muito de não ter dado ouvidos aos conselhos do meu pai. A família só quer nosso bem. Se pudéssemos compreender seus conselhos evitavamos muitas circunstâncias desagradáveis.

LUIZA
11/08/19
 ------------------------------Paula Alves---------------------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


COMO EU PODERIA SER UM BOM PAI?

Eu não tinha consciência do que era ser pai. Acho que a gente aprende a ser pai com o pai da gente e eu não tive um pai, nem sequer o conheci porque o desalmado abandonou minha mãe quando soube de mim, quando soube da gravidez dela. Eu sempre pensei que, quando tivesse meus filhos, seria um pai muito bom, daria para os meus o que sempre quis e nunca tive. Eu não estava pensando em bens materiais não. Eu estava me referindo ao afeto. Ter um pai para proteger, ensinar e encaminhar na vida. Ter um pai para te dar apoio era o que eu queria e não tive. Isso mexeu comigo a vida toda.

A sociedade cobra que você tenha família. Sabe, mãe, pai, irmãos, tios e primos. Acho até que faz parte da base da pessoa. A gente é normal quando tem família, mas eu não tive. Todos abandonaram minha mãe, então, fomos só eu e ela durante muito tempo. Eu passei por muitas situações inconvenientes, principalmente na escola. O dia dos pais sempre me amedrontou. Eu ficava imaginando o que as professoras iriam inventar para me constranger. Elas estavam sempre pedindo para os alunos levarem seus pais em comemorações, eles tinham que falar para os outros alunos e eu nunca tive pai para levar à escola, então, comecei a faltar neste dia, mas não adiantava, tudo era motivo para me ridicularizarem.

Eu cresci e quando conheci Marlene sabia que poderíamos ser felizes juntos. Quando ela engravidou eu fiquei com medo. Não sabia o que seria de mim. Se eu seria um bom pai, se eu trazia na genética a maldade de abandonar um filho e a mãe dele. Eu nunca falei isso para Marlene, passou tanta coisa em minha cabeça. Como eu poderia ser um bom pai, se eu não sabia o que era ser pai, eu nunca tive um modelo, mas me lembrei de Deus.

Eu lembrei que Deus é Pai de todos. Comecei a frequentar a igreja e lá ouvi muitas coisas sobre Deus e sobre Jesus – seu filho, nosso irmão. Aí eu tive referência do que é ser bom pai e bom filho. Foi isso o que eu fiz. Todas as vezes que precisei educar o Oliver. Todas as vezes que meu filho deu trabalho, eu recorri ao Evangelho, pensei em como Deus faria conosco. Eu sempre procurei amá-lo e, ainda assim, deixá-lo livre para fazer suas escolhas. Eu sempre estive por perto mesmo quando estive distante. Eu o amei desde o primeiro chutinho na barriga da Marlene e tenho muita pena daquele que foi meu genitor nesta existência porque ele nunca sentiu o amor de um filho.

O pai aprende muito com esta missão. Para ensinar, o pai aprende todos os dias e é uma tarefa muita árdua porque o filho olha para o pai como o verdadeiro exemplo.
Oliver me observava com um brilho no olhar. Como se eu fosse um super-herói. Eu sentia que tudo o que eu dizia era importante para ele. Depois do Oliver eu quis mais. Falei com Marlene que queria uma grande família. Eu podia ser um bom pai e fui porque a certeza disso são meus filhos. Tive oito filhos e todos me encheram de motivos para continuar com meu plano. Segui o exemplo do meu Pai que está nos céus e tive a honra de receber seres amados no meu lar. Eu só tenho a agradecer porque minha vida foi boa demais.
CLEBER
04/08/19

----------------------Paula Alves----------------------

“A GENTE, ÀS VEZES, ACHA QUE NÃO VAI CONSEGUIR TRANSFORMAR O FILHO EM GENTE DO BEM”

Desde pequeno era só arruaça. O menino me deixava de cabelos em pé. Dava trabalho na vizinhança, na escola e até com as namoradas. Não adiantava conversar, não adiantava bater e eu já não sabia mais o que fazer para colocar o menino na linha. Eu conversava com a Matilde, mas a mãe fazia todas as vontades do garoto, passava a mão na cabeça.

Ah! Matilde se você soubesse que não dá para educar assim. O menino precisava de não, precisava de disciplina e a mãe apoiava o garoto, ficava contra mim. Ele cresceu e só faltava me mandar calar a boca. Eu era desacreditado no meu lar. Foi indo, perdi o ânimo. O menino acabou com a nossa casa, andava com mau elemento. Foi um dia que não aguentei mais. O rapaz me apareceu com um carro e de onde ele tirou um carro? Vagabundo nunca trabalhou. Eu desconfiava que ele pegava dinheiro da minha carteira. Eu fui trabalhador, pobre, mas decente e a mãe do rapaz só limpando a barra dele. Quando eu perguntava quem tirou dinheiro da minha carteira, ela dizia que precisou para comprar alguma coisa, mas eu a via piscando para ele. Depois do carro, eu virei homem. Quis saber de onde era o carro, ele nem me ouviu, deixou falando sozinho e a mãe percebeu minha indignação. Naquela noite eu tive uma conversa seria com minha esposa. Falei tudo o que eu sentia, disse que ela nunca me respeitou como pai, por isso, meu filho também não me respeitava. Falei que minha maior tristeza era perceber que nosso filho era um marginal. Eu chorei e ela se comoveu. Ela me abraçou e perguntou o que poderia ser feito para corrigir tudo aquilo e eu disse que, se ele não confessava o furto, eu iria entregá-lo para a polícia. Foi isso o que eu fiz.

Meu filho ficou com medo de mim, pela primeira vez me ouviu e entregou o veículo roubado. Tive que mudar de cidade, recomeçar. Eu não desisti dele. Me esforcei para ensinar alguma moral e consegui. Fiz ele arrumar emprego, qualquer coisa servia para entender o que o trabalho faz com a mente do homem. Ele se dignificou, amadureceu e me respeitou como pai. Foi muito difícil para mim. Houve dias em que achei que não iria conseguir. O pai é esta figura que deve saber de tudo e deve conduzir a família, mas não é fácil não. A gente também se preocupa muito com o bem da família. A gente, às vezes, acha que não vai conseguir transformar o filho em gente do bem. Pai e mãe têm que conversar para saber conduzir os filhos. Pais não devem discordar na presença dos filhos. Devem mostrar para todos que são um. Devem se unir e nunca discordar do cônjuge para defender o filho, senão, é ruina doméstica.
SEBASTIÃO
04/08/19
------------------------------------Paula Alves-------------------------------------
“ELES SÓ AMARAM E NUNCA EXIGIRAM NADA DE MIM”

A vida era corrida demais. Eu tinha que trabalhar para que não faltasse nada em nossa casa. Quando eu estava de folga queria ver meus amigos, queria jogar bola e me distrair. Não tinha a menor paciência para brincar com criança. Minha esposa falava que eu tinha que ter um tempo para a família, mas eu não sabia o que ela queria que eu fizesse. Aí o tempo passou, eu envelhecendo e eles crescendo, virando adultos. Meus filhos tinham respeito por mim, mas não tinham amor porque a gente nem se conhecia. Fiquei doente, minha esposa cuidou de mim com atenção e solicitude, mas meus filhos, percebi, só me visitavam por obrigação. Eles faziam tudo pele mãe, mas por mim era de má vontade.

Quando Adélia morreu fiquei desesperado. O que seria de mim? Eles nunca fariam por mim o que ela fez. Eu esperava que me colocassem num asilo, mas me enganei. Eu realmente não os conhecia.
Minha filha me levou para a casa dela. Os rapazes sempre me visitavam. Para mim, nunca faltou nada. Fui tratado como um lorde, cheio de atenções e mimos de todos os tipos. Bons médicos e disciplina nos cuidados. Minha filha Rita não descuidou de nada. Era ela mesma quem me dava banho e alimentação com todo o carinho. Então, não aguentei. Um pouco antes de partir eu precisava saber. Como eles me tratavam tão bem, apesar de toda minha ausência. Foi aí que eles me disseram que minha esposa sempre falou a eles que eu era um bom pai do meu jeito. Ela sempre falou bem de mim. Disse que cada um ama do seu jeito. Do meu jeito eu cuidei de todos, nunca deixei faltar nada em casa, sempre me preocupei com escola e tudo o que fosse necessário a eles. Ela falou que o filho tem obrigação de assistir os pais na velhice e, por isso, eles cuidavam tão bem de mim. Eu era o pai e merecia tudo. Eles me abraçaram e ensinaram uma bela lição. Sei que eu os repelia e só entendi aqui que se tratava de um grupo de desafetos que se esforçou para a reconciliação. Eu quis voltar atrás do nosso plano, me recusei a perdoar, mas eles estavam dispostos a reconciliação e conseguiram. No final, eu os amei por toda a bondade que tiveram para comigo. Foram delicados com o seu amor. Eles só amaram e nunca exigiram nada de mim, por isso, eu me arrependo e sou imensamente grato.
VICENTE
04/08/19

---------------------------Paula Alves-------------------------

“FELIZ É O HOMEM QUE RECONHECE O QUANTO A SUA FAMÍLIA É IMPORTANTE”

Eu sou um carrasco. Não deve ter nada de bom em mim doutor. Eu pedi para ela abortar, nunca desejei filhos. Antoninha não me ouviu, nós poderíamos ter sido felizes, se ela tivesse abortado, mas ela quis a criança. Senti dentro de mim que não poderia formar família naquele momento e a abandonei. Existem muitos canalhas como eu, não é?! Gente que anda por aí como bom moço, mas só abusa das mulheres e quando elas engravidam, viram as costas para elas.


É como se a responsabilidade do filho fosse apenas das mulheres porque elas carregam os nove meses e ainda fornecem com seu próprio corpo tudo o aquele ser precisa. Elas fazem muito, participam da formação do corpo, da nutrição dentro e fora do ventre, mas e o pai? Será que o pai não serve para nada? Eu abandonei a família que poderia me fortalecer como uma pessoa boa. Passei minha vida toda imaginando como teria sido conviver com eles. Passei a vida pensando em como a Antoninha estava e como seria o meu filho ou filha. Eu não tive coragem de voltar e falar com ela, me mantive distante para sempre. Eu tive notícias deles. Ela se casou e eles viviam bem. Mas, será que eu não fiz falta?

Estava conversando com um rapaz aqui na colônia que me garantiu que fiz falta. Ele foi filho adotivo e sempre quis saber como era o seu pai de sangue. Eu me escondi por covardia. Não queria filhos e achei que ela estava querendo me prender. Depois de um tempo, eu me esqueci deles, mas depois das festas e da minha vidinha sem graça, veio a doença e a velhice e percebi que eu poderia ter tido uma vida bem diferente. Eu buscava respostas sobre o meu fracasso e só o que vi foram pais com seus filhos. Em toda parte, eles estavam juntos e felizes. Brincando com seus pequeninos na praça ou levando seus filhos ao estádio de futebol. Eles conversavam como bons amigos e se apoiavam. Eu passei a desejar meu filho. Eu errei. A família é elevação para o homem. Na família nos empenhamos por seres que amamos, nós conseguimos triunfar por amor. Feliz é o homem que reconhece o quanto a sua família é importante. 
RENATO
04/08/19

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