Cartas de Novembro (16)

“AS PESSOAS NÃO SE DÃO CONTA DE QUE SEUS ATOS FALHOS FEREM FATALMENTE OUTRAS PESSOAS?”

 Eu fiquei profundamente revoltada! Levei anos para conseguir voltar àquela cena e visualizar todos os acontecimentos sem chorar.

A minha vida estava no auge. Eu tinha tantos planos, tantos envolvimentos afetivos. Pessoas que me amavam e que se importavam comigo ficaram deprimidas, arrasadas, enquanto para ele, o que ficou foi uma perna quebrada.

Ele, nem mesmo, se arrependeu do que fez. Assim que saiu do hospital voltou a beber, como se nada tivesse acontecido, como se eu não tivesse perdido minha vida.

As pessoas não se dão conta de que seus atos falhos ferem fatalmente outras pessoas? Ninguém nunca parou para pensar que toda sandice pode comprometer alguém?

Tudo o que eu lanço no Universo, de bom ou mal vai atingir alguém, beneficiando ou agredindo uma pessoa ou um ser vivo qualquer. Mas, as pessoas agem sem pensar. Fazem coisas de forma impulsiva como se não fosse prejudicar ninguém. Como se não precisassem usar a racionalidade.

Eu fui a vítima de um acidente automobilístico. Estava retornando para casa quando um motorista bêbado, profundamente embriagado, atirou seu carro contra o meu. Desencarnei no ato, os médicos disseram que eu nem sofri, sério?

Como é que eles podem saber disso? Eu sofri deveras, muitíssimo!

Senti todo o golpe no corpo físico antes de me desprender, ouvi tudo o que se passava perto de mim, vi muitas coisas naquele local e distante, envolvendo meus amados entes, vi o motorista e, após o meu desprendimento pude conhecer um pouco da vida medíocre que ele levava.

Difícil não se tornar um obsessor numa circunstância como esta. Dói fundo no peito, pensar que alguém comprometeu nossa trajetória, simplesmente porque queria afogar as mágoas como ele mesmo mencionou. Fácil assim?

Eu andei sem rumo depois daquilo porque estava com ódio daquele homem. A gente, apenas se deixa levar pelas fortes emoções de revolta.

Eu nunca fui má, pelo contrário, trabalhei como enfermeira e estava voltando para casa, após o plantão, cansada, morrendo de sono. Nunca desejei mal a ninguém e não pensei que perderia meu tempo com um homem como aquele, mas perdi.

A minha revolta fez com que eu me colocasse diante dele por muito tempo, até que eu me cansei daquela vida e pedi à Deus por socorro. A minha vida não poderia ficar reduzida aquilo.

Foi aí que pude enxergar as pessoas que estavam ao meu lado. Pessoas bondosas que conversaram comigo e me trouxeram para cá.

Estou precisando me esclarecer melhor para perdoar. De qualquer forma, aquele seria meu dia de retornar, mas eu não pude aceitar e precisei culpar alguém.

Eu não tinha este tipo de conhecimento, esta lucidez. Eu só precisava retornar e ele fez a sua escolha, preparou o destino para a infração da Lei que fatalmente irá cobrá-lo pelo mal causado ao semelhante.

Um sendo usado em benefício do outro.

Eu já entendi e estou tentando me conscientizar porque ainda acho que perdi muito com esta mudança de plano, mas já me informaram que é muita prepotência de minha parte, achar que sei melhor do que a espiritualidade que me dirige, o que é melhor para o meu desenvolvimento. Meu plano foi traçado e eu não podia revogar aquela data pré-fixada, o dia do meu desencarne. Aconteceria de qualquer maneira.

Tudo muda diante do conhecimento, por isso, a análise dos fatos e o estudo constante são tão importantes para o ser espiritual. Este foi um dos meus erros, enquanto encarnada.

Eu não sabia que precisava me esforçar para adquiri este tipo de saber. Só me ensinaram a viver como encarnada e como encarnada eu tinha que buscar a matéria. Assim, eu me preocupei com a aquisição de valores intelectuais, adquirir provisões materiais, formar bases afetivas entre os parentes consanguíneos e não prejudicar ninguém. Para mim, isso tudo era o bastante para agradar a Deus e ter uma vida plena.

Mas, eu estava errada. A vida é muito mais do que isso.

O ser espiritual precisa continuar o seu desenvolvimento na matéria, por isso, deve buscar formas de enobrecer-se, adquirir conhecimentos espirituais e moralizadores. Deve buscar o equilíbrio com tudo e todos os seres da Criação, deve agradar a Deus servindo os semelhantes. É muito árduo o trabalho de desenvolvimento do ser espiritual no corpo físico, mas as pessoas não têm esta conscientização.

Ninguém pensa que deve, a todo custo se libertar dos seus vícios físicos e morais?

Aproveitar o corpo para a depuração do Espírito?

Aproveitar o reencontro com várias pessoas e o esquecimento para ser bom integralmente, independente se é um desconhecido ou um parente de sangue?

De outra forma, não existe mérito real.

Eu aprendi muito e desejo que isso faça parte de mim, do meu jeito de ser e pensar para que tenha a jornada facilitada e bem aproveitada da próxima vez.

 

SELENA

26/11/2022

 

--Paula Alves—

 

“É MELHOR SER UM COVARDE DO QUE SER UM MELIANTE”

 

Levei tempo para lembrar. Foi confuso e doloroso.

A história sempre tem dois lados e os interlocutores podem inverter os papéis.

Quem disse que eu fui o vilão? Normalmente, o protagonista é o mocinho.

Eu quis acreditar que foi para me defender. Quis me colocar numa posição em que eu defendia meus próprios direitos, mas não foi nada disso.

A inveja é algo que destrói a integridade, arrebenta por dentro e te leva a cometer desatinos.

Eu não podia permitir que aquele homem me humilhasse novamente. Eu tinha meu orgulho.

Enquanto adolescente desajeitado, eu sofri todo tipo de humilhações, agressões físicas e verbalizadas diante de todos no bairro.

Ele não era covarde, mas se aproveitava do fato de ser muito mais forte que eu, em termos de controle mental.

Ele nunca me bateu com os amigos, éramos só nós dois, mas ele me humilhava tanto que eu me sentia bloqueado, impossibilitado de bater nele ou de me defender e quando percebia, já estava no chão.

Confesso que estar novamente caído me fazia sentir a dor da agressão moral, da vergonha moral, do meu fracasso.

Eu precisava modificar aquela situação de abuso mental onde eu estava sendo acuado.

Parti dali, fui morar em outra cidade, sozinho, mas não adianta fugir. Você leva tudo consigo, em sua mente. Fica tudo registrado, todos os medos, as situações vexatórias, as piadinhas, tudo.

Eu sonhava com as surras e me via jogado no chão. Passei anos, me lembrando daqueles dias de ridículo, até que resolvi voltar, afinal já estávamos mais velhos e seguros de quem éramos.

Mas, quando eu o encontrei naquela festa da igreja, novamente ele tentou me achincalhar. Eu me esquivei e procurei ir embora, notei que a moça que estava com ele se compadeceu de mim, fiquei muito irritado. Este era o único sentimento que eu podia despertar em alguém?

Eu não permitiria que ele abusasse de mim novamente e armei uma arapuca. Comprei uma arma e estaria pronto para atirar. Foi assim que me comprometi com a Lei, de novo.

Tudo por vacilo! Por orgulho ou vingança.

Ouvi, aqui mesmo, que eu faria isso de qualquer maneira porque estava em mim este sentimento de revide. De todas as vezes que nos agredimos, esta foi a mais trivial.

Em outros tempos, travamos duelos complexos, afirmando que era para defender a honra de alguma donzela ou para fazer justiça diante de um roubo, mas desta última vez, não houve nenhum motivo, tudo bobagem, só para nos comprometermos de novo.

A conscientização da vida complexa, da imortalidade e necessidade de ser integro e valoroso para ascender na evolução permitem que o ser humano evite quedas, evite o mal porque isso só pode trazer desonra e retardar o seu progresso.

Se eu soubesse de tudo isso, jamais teria regressado. Se o homem sabe o seu limite, a sua má tendência e qual seria o motivo de seu fracasso, poderia evitá-lo e procurar sair vitorioso.

É melhor ser um covarde do que ser um meliante.

 

OSVALDO

26/11/2022

 

----Paula Alves---

 

“SERES INERTES PRECISAM DE CHOQUE DE REALIDADE. DE QUALQUER JEITO, A VIDA ENSINA. PENSA BEM!”

 

Pessoas normais também sofrem.

Eu não tinha nada de bom para contar porque fiquei em casa o dia todo.

Diferente das mulheres que ele encontrava na rua ou no trabalho.

Quem sai para trabalhar todos os dias sempre tem assuntos diferentes, é sempre interessante, mas eu só tinha o trabalho doméstico e minhas novelas.

Ele dizia que eu era acomodada, que eu não tinha interesse para me informar ou para buscar motivação em aprender coisas novas.

Meu marido desejava me estimular, que eu pudesse sair de casa e me encantar com alguma coisa, mas nada me alegrava na rua.

Eu queria que ele pudesse ver algo agradável em mim, da forma como eu era. Por que será que as pessoas sempre procuram mudar as outras?

Quando ele me conheceu eu era uma mulher caseira e dedicada aos trabalhos domésticos. Naquela época, ele disse que eu tinha sido feita para o casamento e cuidados com a família.

Após casarmos, a mesma virtude que o conquistou, começou a irrita-lo.

Como isso é possível? Por que eu tinha que ser diferente para agradá-lo?

Mas, da forma que ele dizia, parecia que eu era um ser errado. Eu tinha que ser como as outras que se dedicam à profissão e estudos, mas isso não me dava prazer. Eu gostava de cuidar do meu lar e da minha família.

Ele chegou a dizer que a mulher que trabalha, ajuda o esposo com os recursos de toda a família, assim, o lar prospera.

Mas, nunca nos faltou nada. Tínhamos uma vida tranquila financeiramente.

Ele se encantou com mulher que se pinta todos os dias e se arruma diferente. Mulheres que são agradáveis o tempo todo, bem humoradas.

A esposa é o que é. Eu não era desleixada, mas era simples.

Fiquei pensando em tudo o que fiz da minha vida. Eu não fui vaidosa, não quis ostentar e não exigi bens materiais do meu esposo. Soube ser uma boa esposa e mãe, fui previdente, honesta, mas podia ter feito mais.

Após meu desencarne, eu ouvi o que todos diziam e raciocinei. Foi simples demais!

NÓS PODEMOS FAZER O NOSSO MELHOR. NÃO SER BOA, SER ÓTIMA!

Eu podia ter continuado como esposa e mãe, mas poderia ter me envolvido mais. Ter espalhado o bem, ter auxiliado minha nora nos cuidados com meus netinhos, ter feito amigos, feito caridade, sentido o bem dentro de mim, o bem que contagia, que anima e faz toda a diferença porque se é diferente.

Eu levei anos para compreender o que ele me dizia. Acho que ele não soube se expressar. Nunca desejou outra esposa, nem queria me mudar, ele queria me ver em êxtase, deslumbrada com alguma situação, demonstrando estar satisfeita e realmente feliz.

Eu vivi por viver e não é assim que se deve viver. A vida é tão majestosa que deve ser ricamente valorizada e aproveitada de forma integral, cada instante ser bem proveitoso para todos.

Então, eu consegui ver quantas pessoas estavam a minha volta precisando de ajuda e atenção, enquanto eu estava vendo novela, parada no tempo e no espaço, deixando o tempo correr solto, se extinguindo diante de mim.

Eu via um relógio como se a vida estivesse me informando que o tempo se acaba sem percebermos e tem gente que ainda reclama de partir. Como se precisasse de mais tempo. Pra quê? Para continuar não fazendo nada proveitoso?

Seres inertes precisam de choque de realidade. De qualquer jeito, a vida ensina. Pensa bem!

 

CLOTILDE

26/11/2022

 

---Paula Alves—

 

“CADA UM ATRAI PARA JUNTO DE SI OS SEUS SEMELHANTES

 

 

Sinalizava que aquela vida era um martírio.

Fazer unhas o dia todo. Eu só estava ali por causa do dinheiro. Minhas costas doíam tanto e aquelas freguesas me irritavam com seus papos fúteis.

Levei tempo para perceber que eu era tão fútil como elas, por isso, estava desempenhando aquele serviço. Cada um atrai para junto de si os seus semelhantes.

Elas me irritavam e eu fazia cara de quem estava adorando. Isso porque eu precisava daquele serviço, daquele dinheiro.

Mas, meus sonhos materiais, nunca me conduziram para uma vida tão elevada do ponto de vista moral ou espiritual.

Sempre soube das necessidades dos meus pais, mas eu achava que eles tinham que ser prudentes com os recursos que tinham. Achava injusto ter que ser responsável por eles, enquanto meus irmãos tinham uma vida confortável e sem preocupações.

Então, meus planos eram comprar meu apartamento e ter um carro. Fazer viagens, aproveitar minha vida e eu podia ter tudo o que quisesse, era só trabalhar.

Eu não estive errada, o trabalho poderia me proporcionar estas satisfações, mas eu não precisava ter sido tão egoísta.

Aos poucos, as dores foram tomando conta de mim, tanto que eu mal conseguia trabalhar. A depressão chegou com uma intensidade cruel, parecia que eu não tinha mais alegria de viver.

Eu não soube viver. Achei que os bens materiais me trariam felicidade. Sério, eu realmente imaginei que se tivesse bens conseguiria me sentir realizada.

Até que encontrei Gisele. Eu a vi na casa minha amiga, ela estava adotando a criança e eu pensei que ela estava muito atrapalhada porque podia viver bem com o marido e estava preocupada em ser mãe.

Mas, fiquei um tempo conversando com a menina e senti coisas que me despertaram. Ela era meiga e sabida, dizia coisas interessantes como quem conhecesse o íntimo do outro.

Eu senti que receber afeto e ser boa para alguém, vale muito.

Eu estava aplicando toda minha energia na aquisição dos bens materiais que podiam se perder e, de qualquer forma, eu não me sentiria preenchida ou realizada por causa disso.

Continuei com meu trabalho, mas fui visitar o orfanato. Eu precisava saber o que me fazia vibrar por dentro.

Naquele período eu aprendi muito. Parecia que as crianças tinham muito para me ensinar e eu aprendi.

Valorizei o contato com meus pais e com minha família. Valorizei cada dia, o sol ou a chuva. Eu sorri com flores e borboletas. Aprendi a contar histórias, eu gargalhei sem medo de ser escandalosa ou atrapalhada.

Eu parei de sentir dores e trabalhei mais feliz, sem julgar minhas clientes porque eu estava muito bem comigo mesma.

Então, eu desejei ser uma pessoa melhor e passei a ordenar minhas ações de forma simplificada e justa. Ajudei meus pais com amor e gratidão.

Desejei formar família e formei com alguém muito especial. Tive filhos do meu ventre e adotei mais duas crianças que foram excepcionais.

Enfim, eu aproveitei aquela vida com tudo o que ela podia me oferecer, mas porque mudei a maneira de pensar a partir do que aquelas crianças me ensinaram.

Quando Deus quer nos falar, Ele usa os seres do bem para nos tocar. Foi maravilhoso!

 

LIVIA

26/11/2022


--Paula Alves--


 “ENTRE MORTOS E FERIDOS SALVARAM-SE TODOS”

 Eu me salvei. Compreendi que ninguém morre, apenas o corpo que não tem mais condição de se manter erguido diante de tantos ferimentos, diante de tantos desgastes. O corpo morre e a alma prossegue para o lugar que manda sua consciência, mediante as coisas que pensou, falou e fez durante o período de tempo em que esteve encarnado.

Eu compreendi tudo isso, mas nunca foi fácil. Aceitar a separação é algo extremamente doloroso. Como abrir um buraco no peito, ter a alma em chamas, ter uma frustração enorme por não poder estar onde se almeja.

Eu queria estar com eles, meus filhos e netos. Sentia muita saudade de meu antigo lar e das coisas que eu fiz naquela vida. Senti saudade da pessoa que fui com eles.

Foi como perder minha identidade. Foi como estar sem um local para chamar de meu, então, eu vaguei. Perambulei por aí, visitei antigos parentes, chorei de saudade. Vi muitos que nunca gostaram de mim, aqueles que diziam ter tanto respeito e, na verdade, não me suportaram, falaram de mim pelas costas e eu fiquei entristecido porque também gostava deles. Meus parentes mostraram a face diante de Deus e dos homens, eles eram hipócritas, mas havia entre eles, aqueles que sentiram com a minha partida, eles sofreram e mostraram a dignidade de amar. Eu fui muito amado e sou feliz por isso.

Quando senti a extrema bondade daquele que me amou pela pessoa que fui, quando pude sentir este afeto vindo diretamente em minha direção, eu senti sono e adormeci. Foi aí que recebi o amparo que tanto precisava e vim para cá.

Hoje, eu valorizo este momento. Valorizo este auxílio e todo empenho de vocês para me esclarecer. Mais do que isso, eu valorizo aquela existência onde fui homem simples, humilde e que teve uma grande família. Valorizo todos os meus familiares, desde os que me amaram com todo o respeito e consideração, até aqueles que me negligenciaram e trataram com hostilidade só porque eu já era velho e, aparentemente, não tinha nada de útil para oferecer.

Valorizo a vida e tudo o que novas oportunidades podem nos trazer, todos os benefícios de novos e grandiosos ensinamentos.

Salvaram-se todos porque após seguirmos para a verdadeira morada, notamos um ser mais desenvolvido, dotado de ricas potencialidades e isso é muito gratificante. Tudo vale a pena!

 

TIMÓTEO                                                                                                                   19/11/2022

----Paula Alves—

 

“MUITA COISA A GENTE FAZ POR FALTA DE INFORMAÇÃO”

 

Eu queria estar com eles. Permanecer ali naquela casa que eu mesmo construí. Por que eu não podia ficar ali? Naquele local onde eu habitei por tantos anos e já estava habituado com todos?

Eu nunca faria mal a eles. Minha intenção só era ficar por ali. Afinal, para onde eu iria?

            Eu não me preparei para o fim, para a partida e, talvez, este tenha sido o meu erro. Eu vivi, curti minha vida o máximo que pude. Uma vida como a de tantos outros, com compromissos e rotina. Trabalho, família, encontros com amigos, uma bebidinha de fim de semana, sem prejudicar ninguém.

 Eu mantive minha vida sempre assim. Quando me senti mal, me recusei a ir ao médico porque acreditava que os médicos descobrem muitas doenças e eu podia viver bem pelo tempo que tivesse pela frente, mas não contava que a doença se desenvolvia dentro de mim.

Me senti mal e não quis contar para ninguém. Com o passar dos dias fiquei desesperado e notei que o fim estava próximo, mas para quê buscar ajuda quando tudo se está findando?

Eu só queria festejar e curtir meu finalzinho com alegria. Não imaginei que seria responsabilizado pela forma como cuidei do meu corpo. Nunca imaginei que seria penalizado. Eu negligenciei minha saúde e, pior do que isso, padeci do câncer de próstata.

Os vícios, mesmo que nos finais de semana contam como transgressão da Lei, eu não cuidei adequadamente do corpo que recebi para passar por aquela reencarnação, mas negligenciar a saúde até o ponto de permitir que a doença se instalasse de vez...

Foi o meu maior tropeço.

Eu só queria ficar em meu antigo lar quieto no meu canto, mas eles diziam que eu não podia ficar porque ali era um local para os encarnados e eu estava desestruturando o campo energético dos meus familiares. Você acha que eu sabia disso?

Ninguém quer ser estorvo ou atrapalhar o ente querido, mas eu não sabia qual seria o lugar apropriado para mim.

Até que uma senhora chegou e me explicou que eu devia seguir com a equipe que ia me dar maiores informações e cuidar do meu estado de saúde. Eu aceitei, claro!

Muita coisa a gente faz por falta de informação. Existem muitos conhecimentos que seriam importantes para pessoa evitar sofrer tanto no corpo e fora dele. Eu aprendi na base da dor.

 

JOEL                                                                                                                19/11/2022

 

--Paula Alves—

 “NÃO EXISTE TRABALHO HUMILHANTE QUANDO ACEITAMOS E TEMOS GRATIDÃO POR CADA OPORTUNIDADE”

 

Esperança de que aquela tortura chegasse ao fim.

Eu tinha sonhos e almejava uma vida boa, pelo menos, tranquila. Casa, crianças bem cuidadas, comida fresquinha e um marido que não fosse agressor.

Mas, eu atraí um marido agressor e tive que escolher se continuava naquela vida de martírio ou sofria de outra forma.

Então, fui embora, carregando minhas crianças. Não tinha para onde ir porque se procurasse parentes, ele nos encontraria. Fui para a cidade grande, sumi com nossos filhos pequenos.

Mas, na cidade nada é fácil. Eu morei na rua e vi de tudo, passei de tudo, inclusive fome e muito frio. Do calor da Bahia para a garoa de são Paulo.

Aquecia minhas crianças com o próprio corpo.

Procurei serviço, levei muitas portas na cara e vi a miséria bem de perto, marginalidade, criminalidade, agressões e crianças sendo usadas na rua.

Mas, eu não desisti.

 Cheguei aqui pensando, eu sei que escolhi passar por tudo isso. Eu me lembro de uma época onde eu precisava escolher um planejamento e fiquei me perguntando se conseguiria superar a miséria e o abandono.

Naquele momento, tendo retornado de uma vida onde fui rica, orgulhosa e egoísta, eu queria uma vida de superação. Vida onde eu poderia afirmar para mim mesma, minhas potencialidades, meu esforço no trabalho árduo e meu otimismo. Eu achei que aquele seria um bom motivo de crescimento pessoal.

Porque quando se está no mundo espiritual, sabe-se que a vida material é como um breve instante de tempo. Vale a pena passar por diversas privações para retornar jubiloso. Por isso, eu quis. Eu solicitei todas aquelas provações e rezei para que pudesse descobrir os melhores caminhos de redenção.

Naquela vida, eu não me deixei abater. Procurei emprego e trabalhei de tudo, nunca me prostitui, mas trabalhei em lugares muito exaustivos e humilhantes sem fraquejar.

Logo, pudemos sair da rua e encontramos um lugarzinho para nos abrigarmos. Pouco a pouco, fui melhorando nossa condição de vida.

Vivi muito, criei bem meus filhos, tive netos e bisnetos. Não escondi deles nossa origem porque tudo isso fazia parte de quem somos. Foi a forma de dizer a eles que todos somos capazes quando perseveramos e não escolhemos trabalho. Não existe trabalho humilhante quando aceitamos e temos gratidão por cada oportunidade.

Voltei muito feliz com tudo o que conquistei e compreendi que é muito difícil a prova da pobreza. Muitos vacilam e não conseguem melhorar sua condição. Realmente não é para qualquer um.

É muito fácil olharmos de fora da situação e apontar o dedo, mas sentindo na pele os maus tratos da sociedade, a sensação sufocante de falta de tudo, a covardia moral toma conta dos melhores seres humanos. Eu vi muita coisa e aprendi com cada caso, com muitos que se entregaram para a mendicância e pobreza.

Eu contabilizei tudo. Estou me envolvendo com as lembranças das duas vidas: quando fui rica e quando fui miserável.

Temos aprendizados variados, mas quando fui pobre me permitiu ser mais indulgente com os irmãos que passam privações.

Espero que todos aqueles que desperdiçam recursos materiais, desde desperdiçar alimentos, roupas, calçados, água, dinheiro, todos aqueles que são egoístas, mesquinhos e avarentos com os irmãos padecentes de recursos sociais, possam nas vidas sucessivas se entregar ao aprendizado da miséria, sentindo na pele, a negligência e o abuso social.

 

MIRIAN                                                                                                                    19/11/2022

 

--Paula Alves—

 

“NEM SEMPRE TEMOS AQUELES QUE NOS SUSTENTAM”

  

Eu vi os olhos dela chorando. Senti as suas indagações. Ela estava desesperada.

“O que faria sem mim?”

Não imaginei que minha filha ficasse tão abandonada. Ela parecia tão forte, tão independente e bem resolvida, mas cada pessoa sabe o que traz dentro do peito.

Ela era frágil e precisava dos meus conselhos, do meu apoio.

Eu me senti perdido, achei que não tivesse medo da morte. Para mim, estava tudo certo, afinal eu vivi muito e fiz o que achei que tinha que fazer.

Chega um momento na vida que a gente cansa. Admite que está na hora de mudar de vida e partir. Foi assim para mim, uma vida que se tornou sem graça e cheia de dores. Eu precisava mudar de vida, mas ela me queria por perto.  

Eu não vejo como egoísmo, nada disso.

Quem pensa assim é porque não pode ser indulgente com o sofrimento alheio, não deve ter perdido nenhum ente realmente querido, amado.

Ela precisava de mim e havia se acostumado com minha presença. É isso, depende de se acostumar, se adaptar.

É muito pedir um pouco mais de tempo? O tempo que cura tudo. Fortalece e dá condições de examinarmos as pessoas que somos. Ela precisava de tempo e eu também, por isso, me encaminharam para um local para dormir.

Olha que eu estava exausto, dormi por dias e meses. Acho que este é o tal do descanso que tanto falam...

Enquanto eu dormia, minha filha tinha tempo de rever sua vida, seus planos, sentindo minha falta, mas sabendo que eu sempre estaria ali nas suas lembranças.

Nós deixamos um pouco de nós com aqueles que amamos. Tudo o que a pessoa faz lembra de alguma frase ou expressão, ela sorri, recorda com gracejo e alegria, deixa de chorar. De repente, passa por alguma situação adversa e pensa: “O que fulano faria nesta situação?”

Age da mesma forma, então, é como se você estivesse sempre ali. Nada se perde, ficou com um pedacinho daquele a quem tanto ama.

É bonito visto desta forma e serve para que todos nós possamos seguir rumo ao progresso que é necessário.

Nascemos sozinhos, morremos sozinhos. Devemos ter este controle emocional de sabermos fazer escolhas e sabermos nos bancar diante dos momentos difíceis porque nem sempre temos aqueles que nos sustentam.

As crianças também devem ser ensinadas a pensar com sensatez e discernimento para não ficarem desvalidas ou se tornarem adultos que não amadureceram nas adversidades.

O Pai sempre estará conosco! Também podemos contar com bondosos amigos espirituais, mas seres em desenvolvimento como nós devem ser estimulados a seguir com independência para não sofrer tanto com a separação.  

Passados alguns anos, eu estava melhor, ela estava melhor. Cada um com a sua vida, ela no plano físico e eu aqui no plano espiritual, trabalhando e estudando, já pensando em outra oportunidade de regresso, em que estarei bem pertinho dela, sentindo seus possíveis carinhos e afagos.

LUÍS                                                                                                                      19/11/2022

---Paula Alves--


“AS PESSOAS NÃO IMAGINAM O QUANTO PODEM INCENTIVAR ALGUÉM COM SEU FEL”

 

Acho que ele pensou que eu desistiria.

Suas palavras entravam como farpas afiadas nos meus ouvidos, verdadeiras lanças que acertavam meu coração. Foi muito bom para atingir meu orgulho!

As pessoas não imaginam o quanto podem incentivar alguém com seu fel.

Eu sinceramente, não teria coragem de destilar tanto veneno contra uma pessoa que estava iniciando seu trabalho. Tão insegura e cheia de bloqueios. Precisando de alguém que lhe dirigisse no caminho das incertezas...

Mas, ele foi cruel e tentou me desanimar. Fez de tudo para que eu desistisse de continuar com aquele trabalho que, além de ganha pão, era meu sonho.

Me agarrei com força nas minhas crenças e imaginei que muitas pessoas deviam passar por tantas tribulações e se entregar aos descasos do mundo, abandonando aquilo que verdadeiramente almejavam.

Por preconceitos variados as pessoas menosprezam o potencial dos demais. Alguns porque se tratava de uma mulher, outros porque seria uma mulher pobre, outros ainda porque era uma mulher pobre com características nordestinas, enfim, seria como fosse, como acontece com homens, homossexuais, analfabetos, estrangeiros, doentes, separadas ou tantos outros que são taxados na sociedade.

 

Por que não acontece com os preconceituosos, ladrões, estupradores ou mentirosos? Por que estes têm lábia doce, estes conseguem comover e ludibriar como lobos, enganadores ardilosos sempre implacáveis.

Mas, em meio aos meus lamentos, eu precisava acreditar que a justiça sempre impera e que Deus observa o mundo inteiro.

Eu precisava acreditar no senso moral, na verdade, na ética, no bem e no amor. Eu não podia perder a esperança de que as pessoas realmente poderosas são aquelas que se entregam aos bons sentimentos.

 

Eu precisava prosseguir, mesmo ouvindo todos os dias que eu não era capaz.

Então, na dúvida, eu estudei, eu me organizei cheia de disciplina e boa vontade, arregacei as mangas e trabalhei com afinco. Quando o cansaço parecia tomar conta de mim, ouvia as palavras dele ecoando dentro de mim: “Você não é capaz!”

Assim, eu aguentava mais uma hora.

Quando dei por mim, já estava modificada. Graduada, pós graduada, competente e resolvida, capacitada. Quando nos preenchemos de conhecimento, isso traz a segurança que não pergunta se você pode fazer aqui ou ali, agora ou amanhã. Nós simplesmente, executamos. Seguros do que tem de ser.

Ele me moveu adiante e eu não imaginava que isso era o que dizem: “Há males que vem para o bem.”

É isso! Quando você tem propósitos edificantes e se comprometeu em realizar algumas coisas para o bem de todos, as pessoas até podem tentar te menosprezar e te impedir de concretizar seus objetivos, mas elas só vão conseguir te impulsionar.

Por que é dos planos de Deus que você se envolva com o progresso e a luz.

 

SORAIA

12/11/2022

 

--Paula Alves—

 

COMO É QUE AS PESSOAS PODEM VIVER ESPERANDO O FIM TODOS OS DIAS?

 

Ele não tinha chance. Meu pequenino ser. Tão amedrontado diante do mundo.

Meu filho nasceu com uma doença genética que me fazia perder o sono e me culpar porque imaginei que ele jamais andaria.

Ele chorava querendo colo e eu tentava o atrair para mim, enquanto buscava engatinhar.

Os médicos diziam que eu era louca porque era impossível alcançar o deslocamento voluntário e independente, mas eu tinha algo dentro de mim que dizia ser possível.

Não sei explicar, acho que uma intuição de que ele precisava ser tratado com ânimo e motivação.

Eu li muito a respeito e acreditei cada vez mais no poder das palavras. A força que projetamos em cada palavra pode colocar alguém de pé ou deprimir ainda mais. Eu entendi e acreditei. Passei a depositar todas as minhas forças nesta ideia.

Fiz isso com meu filho. Tentava me controlar para jamais sentir pena, eu não queria contaminar minhas palavras de incentivo. Então, eu o estimulava e ele cresceu se esforçando muito.

Fazia tanta força para se arrastar que os músculos se desenvolveram. Os médicos não entendiam como era possível e eu não mencionava como eram nossas brincadeiras no lar. Afinal, eles estavam sempre animados para me desmotivar. Parecia que a cadeira de rodas os fazia sorrir.

Mas, por milagres que só o Bom Deus pode compreender, Miguel andou e falou. Com imensa dificuldade, mas andou.

Pra mim, foi uma vitória. Eu me senti radiante. Não sei descrever a alegria que senti com aqueles passos tão curtos.

Acho que tudo é possível para aquele que crê!

Às vezes, quando todos te falam para parar, desistir, se entregar... É aí que você tem mais coragem, mais garra. Acho que vem do céu esta força de impulsão, sei lá.

Mas, eu sentia que se Miguel não fosse estimulado a vida dele acabaria a qualquer momento de tanto desânimo, de uma vida que não tem objetivo algum.

Como é que as pessoas podem viver esperando o fim todos os dias? Eu dizia que, se nós temos que viver porque é da vontade de Deus, que seja com garra. Se temos que despertar do sono e pensar no hoje, que seja com desejo de dias melhores.

Se ele tinha que passar aquele dia comigo seria para falarmos de coisas boas e almejando os passos, os sorrisos e as realizações dele.

Meu filho aprendeu a ser otimista como eu, demorou viu?! Otimismo é treino.

Ele ouviu tanto que era capaz, ele ouviu que tinha oportunidades como todos os outros, ele conseguiu. Sempre precisou fazer tratamentos e controles de várias coisas, mas Miguel andou, se formou advogado, se casou e me deu dois netos lindos e completamente saudáveis.

Isso me traz a certeza de que Deus quer o melhor para cada um de nós.

A vida é como um jogo. Ganha quem se supera, supera a si mesmo. Supera sua forma de enxergar as coisas, de se aprimorar e evoluir diante das dificuldades.

Deus dá condições, inúmeras, para que todos possam sair vitoriosos e felizes de todos os jogos da vida, mas tem que se esforçar como um verdadeiro atleta.

 

ELOÍSA

12/11/2022

 

--Paula Alves--

  

“VEJA SE A LUZ QUE HÁ EM TI SÃO TREVAS!”

 

Eu odiava aquela cara de coitada!

Por que ela tinha que ter tudo? Uma vida tão perfeita, pais perfeitos, casa, cabelos, noivo, tudo?

Eu era muito invejosa. Queria ter a vida da minha colega de quarto.

A minha vida até parecia engraçada, mas quando conheci Amanda parece que virou um terror porque a felicidade dela atormentava a minha paz.

É uma coisa incontrolável! Por mais que sua consciência insista em dizer que você não pode pensar determinadas coisas, ainda assim, você pensa, você julga e quando percebe já está enganando e manipulando a vida dos outros.

Eu me sentia muito mal, mas não podia evitar.

Acho que eu podia ter me controlado se tivesse conhecido este Mestre que ensina a viver na paz. Mas, eu não ouvia falar dele, nem de nenhum de seus seguidores.

A verdade é que todos precisam de exemplos bem vividos, de gente que faz e acontece no bem e na bondade, mas a real é que os maus sofrem.

As maldades produzem uma incrível sensação de derrota, frustração e angústia moral.

Ninguém que se envolva com o mal, seja de qual proporção for, sente paz ou leveza, todos experimentam torpor, peso, sombra e treva mental que não permite caminhar com segurança no mundo. É como saber que também será alvo de perseguições.

Comecei a plantar coisas na cabeça dela. Pequenos pensamentos sombrios de traição, decadência, humilhação e perdas de todos os tipos.

Pobre menina rica! Ficou tão afetada com meus comentários que terminou o romance e deslanchou nas ruinas psicológicas.

As notas foram as piores, insônia, tristeza e depressão. Por fim, ela se aniquilou!

Eu me senti péssima. Naquele momento, não foi como se me sentisse responsável pelo que motivou o desenlace físico. Eu só não queria que ela tivesse partido porque eu não tinha mais ninguém.

É triste confessar o quanto sofri depois da sua partida. Ela era meu mundo inteiro. Tudo girava em torno dela. Eu só podia viver pensando como seria o dia dela e como seria depois de tudo aquilo?

Foi, por isso, que me revoltei. Eu chorei e gritei. As pessoas diziam que eu estava descontrolada por perder a minha melhor amiga, mas eu nunca fui amiga dela, nunca.

Ninguém sabe o que as pessoas carregam no coração. Só Deus para saber o que se passa com cada um de nós.

Sofri muito sem a Amanda. Vivi angustiada, muito pior do que antes e só entendi quando desencarnei.

Ela se agarrou a mim, estivemos sempre juntas. Mas, o pior foi ser responsabilizada por sua morte infeliz.

Eu estimulei a mente dela a cometer o delito. Com minhas palavras negativas, aterrorizantes, com meus bloqueios mentais, manipulação dolorosa, foi como empurrar do precipício. Foi como em outra vida.

Eu aniquilando e impedindo que a vida fluísse continua e faceira.

Veja se a luz que há em ti são trevas!

Quantos de nós ferem sem a menor intenção e constrangem, magoam e humilham, tudo sem querer porque somos tão “bons de coração”.

Quantas vezes você só falou umas verdades para que a pessoa se tocasse de que ela não é talentosa, bonita ou especial? Quantas vezes você não falou por mal, mas sim para fazer um gracejo e expos alguém?

Somos responsáveis pelos sentimentos que despertamos nas pessoas a nossa volta.

Cuidado com tudo o que você alastra no mundo. Somos o que pensamos!

 

 IVETE

12/11/2022

 

--Paula Alves--

 

“TODAS AS PESSOAS MERECEM TER A OPORTUNIDADE DE ANDAR COM AS PRÓPRIAS PERNAS”

 

Eu não tinha forças para me reerguer. Eu não queria sair da cama.

Aquele homem fez parte da minha vida por mais de vinte anos e tudo estava em suas mãos. Eu não tinha controle da minha vida.

Meu esposo tinha o controle da casa e das finanças. Ele decidiu a melhor escola para as crianças, a melhor cidade para residirmos, minhas roupas e amizades.

Eu não saia sem ele, nem para ir às compras.

Nunca soube quando tínhamos guardado ou se estávamos endividados. Ele só precisava que eu estivesse lá, cumprindo o meu papel de esposa e mãe.                            

Isso me bastava e eu era feliz vivendo desta forma.

Muitos diziam que era desta maneira que ele me controlava e me mantinha no lugar que desejava. Mas, eu não tinha ambições, só queria cuidar da minha família.

Eu não entendia porque tinha que ser tão expansiva, ativa e desenvolta como minhas irmãs. Eu gostava de minha vida pacata e organizada. Eu gostava de viver no meu lar. Elas brincavam dizendo que era um casal perfeito porque se eu não tivesse aquele comportamento, ele me prenderia em casa.

Imagina! Elas não conheciam meu esposo. Apenas, cada qual tem suas necessidades e leva a vida como lhe convém. Eu gostava da minha vida, até que um dia, meu esposo morreu e eu perdi a minha razão de viver.

Foi como ter um buraco no peito. Nem mesmo nossos filhos me davam a coragem que eu precisava ter para sair daquela cama.

A cabeça te faz pensar que você deve prosseguir e não pode permitir que as coisas sigam assim, mas os dias passam sem que você mude a situação.

Eu não sabia viver sem ele. Minha mãe não permitiu que eu continuasse ali e agiu de forma impactante.

Ela me tirou da cama arrastada e jogou no chuveiro, na água fria. Ela gritou e esbravejou, depois me enxugou e vestiu como uma criança.

Minha mãe dizia, enquanto cuidava de mim, que é muita imprudência, colocarmos alguém sob a nossa sombra, seja este alguém, um filho ou um cônjuge. Todas as pessoas merecem ter a oportunidade de andar com as próprias pernas.

As pessoas precisam saber como gostam de comer seus ovos porque ninguém, neste mundo, é igual.

Eu ouvi e reagi. Algo se moveu em mim quando ela falou dos ovos. Eu não sabia se gostava de ovos porque sempre comi o que meu marido quis comer, viajei para onde ele escolheu e falava quando ele sinalizava.

Eu me questionei sobre eu gostar e não soube a resposta.

Abracei minha mãe e chorei porque não estava acostumada a pensar sozinha, a decidir sobre nada.

QUANDO FOI QUE ME TORNEI UM SER IMPENSANTE?

Mas, precisei mudar e me esforcei para isso.

Sei que meu esposo não fez por mal. Nosso amor foi maravilhoso! Ele esteve muito tempo no lar, tentando me ajudar, embora favorecendo ainda mais minhas sensações angustiantes porque, ali já não era o seu lugar. Mas, sem querer podemos atrofiar a mente das pessoas que estão conosco.

Impedir que façam escolhas ou que argumentem. Manipular a vontade, decidir, encaminhar ações. Isso normalmente acontece nos lares onde as pessoas são controladoras, mas podemos desenvolver isso também nos círculos sociais. Com amigos ou colegas de trabalho.

Sabe o que é ruim? Quando estas pessoas que são imprescindíveis em nossas vidas se afastam, por um motivo ou outro, não sabemos viver sem elas. É um baque, um choque!

Eu demorei muito tempo para fazer escolhas automáticas com segurança, para saber se eu gostava de ovos e como preferia comer meus ovos. Eu precisei entrar em contato comigo mesma e raciocinar sobre quem eu era de verdade. Você não pode se perder de você. Reconheça a pessoa que você é.                                              

  MILENA 

12/11/2022

                                                       --Paula Alves--


“MUITO SE ENGANA AQUELE QUE ACREDITA QUE O MAL QUE DISSEMINA NA SOCIEDADE FICARÁ IMPUNE                                   

 

Nunca foi fácil para mim, controlá-los. Meus pensamentos judiavam de mim.

Cheguei a pensar que minha loucura fosse obra de um ser maléfico que desejava se vingar, mas não foi nada disso.

Eu me perturbei por mim mesma. Tinha muitas tendências destrutivas. Eu não sabia como podia manter tudo quietinho dentro de mim e dava vasão para uma imaginação que me aniquilava.

Fui deveras imprudente, assistia filmes de terror e adorava conversações que davam detalhes de torturas ou crueldades. Eu era viciada no mal. Nunca me dei conta de que foi isso o que realmente aconteceu.

Durante séculos, fui a vilã. Cometi muitos crimes em diversas existências. Em outras vidas, recebi a punição por meus atos falhos, eu paguei tudo o que devia, mas no íntimo da minha consciência todo aquele mal ainda estava guardado e me torturava.

Tudo fruto de minha própria essência.

Me leva a crer que o bem e o mal estão dentro de nós, mas você precisa se esforçar para se libertar da maldade e desenvolver o bem no máximo das suas forças, só isso pode nos libertar dos pesadelos e torturas psíquicas.                               

Eu tinha medo e vergonha de confessar meus pensamentos íntimos para quem quer que fosse e, por isso, não tive coragem de fazer um tratamento psicológico. Imagina dizer tudo o que passava em minha mente...

Eu não podia permitir que aqueles pensamentos sombrios e violentos fossem revelados. Eu procurava escondê-los de todos e tentava, do fundo do coração, esconder de mim também, mas quando escurecia e eu estava sozinha, eles ganhavam forma, me assustavam tanto que eu suava, chorava, era aterrorizante, por isso, eu não queria dormir.

Não era insônia, eu me recusava a dormir com medo de ser pior no sonho, acredita? Assim, as coisas pioraram muito mais, sem dormir, a minha mente disparou. Por toda parte, eu via o mal se alastrar.

Tive diversas manias, entre elas, mania de perseguição, delírios. Meus familiares notaram minhas neuras, meu comportamento frenético, meu olhar inquieto e as palavras desconexas, quiseram me internar e eu fugi.

Eu não queria ficar encarcerada, dopada para sempre, fugi, senti muita saudade dos meus pais e irmãos.

Nesta vida, faltou muita coisa, porém, compreendo que ainda foi minha mente permitindo que eu fosse punida de tudo o que cometi no passado.

Muito se engana aquele que acredita que o mal que dissemina na sociedade ficará impune, que ninguém viu, ledo engano, você sabe, você viu, a espiritualidade toda viu, daí a infração da Lei leva ao reajuste que uma hora acontecerá e será triste, doloroso.

Foi o que aconteceu comigo, mas eu acho que podia ser melhor, mais fácil se eu tivesse pedido ajuda. Aconselhamento religioso, terapêutico, com amigos e familiares que me apoiariam por conta de todo o seu amor.

Nós não podemos enfrentar tudo sozinhos. Deus sempre nos esclarece e permite que seres bondosos nos amparem quando surge o momento do arrependimento e da reparação.

 

CONSUELO

05/11/2022

 

 -- Paula Alves—

 

“TODAS AS DIFICULDADES QUE SE APRESENTAM PARA NÓS SÃO CHEIAS DE POSSIBILIDADES ENOBRECEDORAS E DE PROGRESSO”

 

Surgiu aquele homem na minha vida que mais parecia um príncipe encantado. Eu sempre fui tão romântica, não pensei duas vezes, me envolvi e sem barreiras permiti que ele conhecesse toda a minha vida.

Tive muitas amigas que diziam que eu não devia abrir toda a minha vida para alguém que eu nem conhecia. Falavam que precisava de um tempo para se reconhecer que aquela pessoa é de confiança e que gosta sinceramente de nós, para não sofrermos com as maldades do mundo, mas eu achava exagero, enquanto elas diziam que era prudência.

Foi aí que me entreguei com todo o meu amor, investi naquele relacionamento e desejei ficar para sempre ao seu lado, mas meu sonho desmoronou quando ele riu dizendo que eu era, apenas mais uma.

 Eu senti ódio, indignação por ter sido roubada do que era mais valioso para mim, minha ingenuidade. Ele roubou aquele sentimento de amor singelo, puro, leal. Nunca mais me permiti sentir novamente aquele amor.

Depois daquele ato, engravidei e fiz um aborto. Eu não podia estar na casa dos meus pais grávida e sozinha. Eu não tinha como criar meu bebê naquelas condições.

Chegar àquela conclusão, realizar aquele ato contra a vida, foi uma agressão sem tamanho, acabou comigo porque imediatamente tive a certeza absoluta de que o arrependimento seria eterno, irremediável.

Eu chorei tanto, foi tão brutal, agressivo. Dor psíquica para sempre, culpa para sempre.

Mantive segredo, mas nunca me esqueci do ato cometido e vivi como se não fosse possível ter felicidade porque eu era uma criminosa aos olhos de Deus e do mundo.

Como uma mãe que deve proteger seu filhinho pode exterminá-lo?

Mas, eu tentava aliviar minha consciência, tentava buscar razões que justificassem o que fiz. Eu tentava expor minha condição de dependência econômica, menor de idade, sozinha, incapaz. Eu tentava ser a vítima, mas no fundo da consciência, eu sabia que podia ter recorrido aos meus pais. Eu podia ter explicado tudo o que aconteceu e lutado para proteger aquela criança. Foi o orgulho!

Sempre a leviandade da alma que não permite que o caminho seja realmente edificante. Eu me entreguei ao caminho, aparentemente, mais fácil e abortei.

Muitos anos se passaram, nunca desejei me casar e ter família porque sabia que não era uma mulher feita para a maternidade, afinal eu não saberia como proteger uma criança.

Vida de mulher sem filhos é seca. Eu senti como uma existência nula. Soube desde o princípio que foi um erro.

Eu me formei juíza, vivi uma vida confortável, tive meus relacionamentos que nunca foram duradouros e morri só, esquecida.

Tudo diferente do que foi traçado, tudo.

 Eu devia ter tido aquele filho. Fruto daquele relacionamento. O pai do meu filho tinha que nos assumir, mas se ele desistisse de nós, eu precisava assumir aquele filho e aquela vida difícil teria uma série de possibilidades de edificação, muito desenvolvimento como mulher e mãe.

Veja como uma existência pode ser rica de possibilidades e nós dispensamos todas elas por falta de coragem, por preguiça de se esforçar, por orgulho e medo de ser apontada na sociedade. Se eu soubesse...

Todas as dificuldades que se apresentam para nós são cheias de possibilidades enobrecedoras e de progresso. Ninguém deve chorar diante da dificuldade, mas arregaçar as mangas, meditar sobre os melhores caminhos e sobre as pessoas que podem ajudar. Deus sempre coloca ao nosso alcance seres caros que podem nos encaminhar, aliviando os percalços do caminho difícil, mas precisa de coragem e fé em Deus.

Fé em seus desígnios, a certeza de que Ele é um Pai que nos ama e só coloca diante de nós oportunidades de elevação.

 

ALUEDA

05/11/2022

 

--Paula Alves—

 

“SEI QUE POSSO ME CONDICIONAR A TER UMA VIDA SIMPLES, RETA E DIGNIFICANTE COMO MULHER”

 

 Precisava tanto passar naquela prova. Eu precisava conseguir aquele certificado de arte. Meu sonho e minha felicidade dependiam daquilo.

Mas, era tudo tão complicado, eu não me sentia capaz.

Quando ele chegou bem perto, percebi o seu interesse. Eu sempre ouvi da minha mãe que uma mulher pode conseguir tudo o que quer se tiver carisma.

Não sei se entendi bem o que minha mãe quis ensinar, mas usei meu poder de sedução para conquistar o que desejava, porém, depois do ato consumado sempre ficou uma sensação de sujeira, de lixo dentro de mim.

Fiz isso diversas vezes, acreditando que estava tomando um atalho. Fiquei com uma imagem muito promiscua, com razão. Ainda mais no campo da arte, alguns podiam achar natural, mas nunca foi, era errado.

A consciência sempre sabe medir o bem e o mal. No fundo do ser, nós compreendemos que agimos de forma inadequada e ficou uma sensação do quanto me ofendi, me agredi, me prostitui para conseguir o que almejava.

Eu me arrependo tanto...

 

Depois do meu desencarne, fui arremessada para uma região terrível e eu tinha um aspecto cheio de sujeira, fétida, podre porque era assim que eu me definia “podre”, “usada”.

Levei muito tempo sendo insultada porque todos podiam ver meu filme mental, que vergonha! Não se esconde nada de ninguém. Eles me xingavam e tentavam me usar, mas eu não queria mais aquela vida e fugia.

Eu fui resgatada e senti um grande alívio quando me trouxeram para cá. Hoje compreendo bem o que algumas mulheres diziam quando eu estava encarnada.

Na época, tentando justificar meus atos levianos, eu ria e falava que elas eram tolas e santinhas, mas elas estavam cobertas de razão.

“Todas as mulheres devem se valorizar pelo que têm de melhor: sentimentos e razão. As mulheres podem conseguir tudo o que desejam com esforço e atitude séria. Se todas nós nos empenharmos no caminho reto, eles nos respeitarão e valorizarão nosso trabalho e intelecto, mas se uma de nós se ofertar por tão pouco, denigre a imagem de todas. Todo o grupo fica danificado. O caminho mais longo pode parecer o mais árduo, mas é justamente aquele que traz maiores benefícios.”

 Hoje eu compreendo e concordo. Na próxima vida, eu não quero ir como um homem, pretendo novamente assumir o sexo feminino e me manter fiel aos meus objetivos. Através dos meus estudos e meus esforços conquistar os objetivos de elevação, me entregar apenas por razão dos sentimentos elevados, aproveitar tudo o que o corpo de mulher pode me permitir, fazer da maternidade meu ponto máximo de purificação. Sei que posso me condicionar a ter uma vida simples, reta e dignificante como mulher.

 

LESLIE

05/11/2022

 

--Paula Alves--

 

“SEM PAZ A GENTE NÃO VIVE BEM NESTA TERRA MEU POVO”

 

Aqueles barcos rendiam muito, mas eu consegui recursos que me renderam muito mais.

A lavagem de dinheiro me tornou um homem muito influente. Eu nunca fiquei pensando na justiça ou no crime organizado não. Para mim, era só uma forma de lucrar, simples e imparcial, eu via as minhas possibilidades, nada mais.

Acreditava que uma oportunidade perdida leva ao arrependimento e eu tinha muitas ambições. Como poderia ter uma boa casa e carros de luxo nascido de família humilde, sem estudo, eu era esperto e precisava me apoiar naquela esperteza porque era tudo o que eu tinha.

Muitos seguem como eu. Achei tão natural, mas não pensei que tudo na vida tem seu preço. A paz não tem preço.

Meus pais falavam que as pessoas deviam almejar a vida mais simples, com desejos simples e não teriam tantos problemas sem ambições desmedidas, mas eu achava que meus pais eram acomodados, pessoas sem ambição que não se incomodavam de permanecer na mesmice, só cuidando da família e trabalhando para ter uma vidinha medíocre.

Eu estava enganado!

Eles criticaram minha irmã que estava com depressão. Diziam que a Maria queria estudar um curso que não podia pagar, queria casar com o homem que já estava comprometido, queria morar na cidade e não aceitava a vida que Deus lhe entregou. Maria tinha depressão porque se recusava ser quem era, ter o que estava ao seu alcance. Maria chorava porque não pensava do tamanho do seu mundo.

Eu achava que os pais menosprezavam minha irmã. Eu dizia que as pessoas podem ter o que quiserem, só correr atrás, mas eu não imaginava que a gente escolhe a vida que vai ter.

Quando a gente age, apenas no bem, tem a vida que escolheu ter no plano espiritual e colhe coisas boas, experiências que são convenientes com o seu aprendizado.

Eu nunca podia imaginar. Dei maus conselhos para a Maria que se envolveu com homem casado e foi humilhada publicamente pela esposa do cara. Maria ficou muito pior da depressão, inconformada por não ter o que desejava.

E eu, me envolvi com criminosos, expus minha família. Meu filho foi sequestrado e acabei morto numa emboscada. Morto de forma violenta, imagina só? Fiquei vagando tanto tempo... Sofrendo horrores!

A paz é o mais importante. A mãe dizia: “Jesus disse —A paz vos dou, minha paz vos deixo! É porque a paz é presente de Deus. Sem paz a gente não vive bem nesta terra meu povo. A gente tem que fazer o possível para ter paz, não para ter posses que se perdem. Tudo o que você vai fazer tem que pensar se sua cabeça vai ficar na paz. Se sua escolha leva à paz, se levar, pode fazer na horinha.”          MINHA MÃE E MEU PAI NUNCA ENSINARAM QUE TÍNHAMOS QUE LUTAR PARA TER COISAS, MAS SIM PARA TER PAZ E SERMOS PESSOAS MELHORES.                       Se tivéssemos ouvido nossos pais, teríamos sido felizes na Terra e eu seria encaminhado para um bom lugar quando morri.                                                                                                       JOCIVALDO                                                                           05/11/2022

Nenhum comentário:

Postar um comentário