Cartas de Agosto (16)

“NUNCA COMETER SUICÍDIO, JAMAIS DISTORCER OS ATOS LEVIANOS COMO SE FOSSEM FUGA OU LIBERTAÇÃO”

 

Eu senti o gosto do sal na minha boca por muito tempo. A sensação horrível de sufocamento e o arrependimento dominando o meu ser. Quanta covardia!

Eu planejei tudo, achei que estivesse colocando um ponto final naquela história tão medíocre e miserável. Eu me cansei de tentar. Me cansei de fracassar. A verdade é que a certeza de uma impotência me causou um sentimento de prostração.

Eu não queria mais me esforçar para possuir as coisas, para pagar as coisas, para provar que eu era forte ou capaz.

Eu queria que a vida fosse mais simples e queria ter a satisfação de apreciar as belezas da Terra sem constrangimento. Por que eu tinha que ser como todos os outros?

Esta necessidade de superação me irritava. Esta nobreza material me fazia sentir uma pessoa pobre e esfarrapada. Eu quis uma vida mais simples, sem ostentação ou vantagens e percebi que nada se assemelhava à beleza do mar.

Então, eu quis acabar no meio do mar.

Não sei se era depressão, não sei se foi medo de não atingir as expectativas e ter que viver sob as comparações daqueles que conseguiram muitas coisas... Ah! Me sufocava...

Então, eu planejei. Pensei que seria tão rápido! Pensei que seria o fim de tudo, fim de questionamentos ou análises, conjecturas que não me tornavam melhor ou aceitável. Eu não queria pensar ou sentir tantos tormentos de uma vida inútil e desatenta.

 

Quando vi o barco pensei que seria tão perfeito. Eu imaginei que eles sofreriam minha partida, sim, eu me preocupei com eles, todos eles, mas o sofrimento não dura para sempre. As pessoas têm prazeres e ambições, logo se interessam por outras coisas e esquecem daqueles que partiram. Eu desejei que se esquecessem de mim.

Não foi um ato egoísta ou impensado, foi muito pior porque eu pensei em tudo e gostei de imaginar que existiria uma aniquilação.

Como fui tolo! Nem por um minuto cogitei que não sou dono de mim mesmo. Nunca argumentei que não teria fim. Uma vida criada para a destruição? Com propósito de quê?

Quanta arrogância achar que eu seria livre para decidir se poderia desaparecer...

Descobri a duras penas que tenho um superior, todos nós temos. Alguém soberano Senhor que decidiu me criar e exige que eu melhore e me desenvolva. Este alguém que me observa e me reconhece como sou, exige que eu seja conhecedor de meus princípios e me desenvolva para poder atingir uma potencialidade que me coloque na Sua direção.

Eu nunca entenderia se tentassem me explicar, fui tão cético, tão descrente.

Quando me atirei no fundo do mar, amarrado, com âncora, achei que fosse rápido, quase indolor e me deparei com a escuridão total que pode amedrontar o mais corajoso dos seres. Eu fiquei apavorado!

Tentei gritar e me soltar, me debati por tantos anos, tantos anos, morrendo de medo, congelando, ouvindo gritos e gemidos no fundo do mar.

Realidade ilusória que me fez desejar nunca ter cometido tal delito contra minha própria carne. Arrependimento estimulado pela dor.

Perfeita cobrança da Lei que nos faz desejar voltar no tempo e nos movimentarmos no tempo e no espaço com a satisfação dos eleitos de Deus. Eu poderia ter me esforçado mais.

Falta de esforço e coragem que faz escolher o caminho mais fácil: a desistência dos planos, a rebelião diante do Senhor que ajusta nossa caminhada para evolução irremediável.

Nunca cometer suicídio, jamais distorcer os atos levianos como se fossem fuga ou libertação.

Ninguém será isento de culpa ou punição após ter cometido um crime tão cruel como este.

“Não matarás!” — É um mandamento da Lei. Não matarás irmão algum, também não matarás a ti mesmo.

Nós não morremos, mas interrompemos o tempo permitido para realizar as provas necessárias como se fossemos dono do tempo, donos da própria vida e não somos.

Eu sofri demais para compreender que minha vida pertence ao Senhor. Por isso, hoje, após este socorro misericordioso, entrego minha vida ao Pai, pedindo que Ele me forneça discernimento e fé para prosseguir, para aceitar os planos que traçaram para mim e realizar tudo a contento do Altíssimo por gratidão e submissão a Sua inteira vontade.

 

LÚCIO

27/08/22

 

--Paula Alves--

 

“QUANDO VOCÊ SUPORTAR AS MALDADES DO MUNDO E SE ENTREGA AOS PLANOS DE DEUS, CERTAMENTE, NO TEMPO OPORTUNO, DEUS VAI TE ELEVAR DIANTE DAS LUZES DO MUNDO MAIOR”

 

 

Acreditei que ele pudesse se reformar. Eu orei tanto!

Todos os dias, apesar das surras e maus tratos, eu ainda orava para que Deus me fortalecesse e guiasse minha consciência para direcionar minha família. Eu o amei.

Apanhar, ser ferida e negligenciada quase todos os dias e não desejar matá-lo, foi a maior prova de amor que eu pude dar para um homem. Eu o perdoei todos os dias.

Curava minhas feridas, estancava o sangue e, com a alma dilacerada, me esforçava para ter ânimo e esperança de que os dias seriam melhores no futuro se eu me esforçasse para levantar.

Olhava para os filhos e pedia ao Senhor para que, no futuro,  eles não se lembrassem das surras que eu levei, eu temia que as imagens do espancamento pudessem interferir nas vidas deles como adultos, fazendo com que fossem possíveis agressores. Nenhuma mulher merecia sofrer tanto quanto eu.

Pensei em fugir, mas eu jurei que ficaria com ele. Pensei que ele estivesse possuído, só podia ser um Espírito ruim que se apoderava do meu esposo que tentava me matar daquela forma. Uma mulher que vive para a família, deseja protegê-la e trabalha arduamente para que ela se eleve, não devia ser tão maltratada.

O que será que se passava com ele? Eu me questionei durante tanto tempo e, no fim, quando eu não aguentava mais e comecei a achar que teria que envenená-lo, foi aí que Deus agiu nas nossas vidas e ele recebeu a mão forte do Senhor.

Meu marido teve uma síncope e começou a se revirar todo diante de mim. Naquele dia, ao levantar a mão para me ferir, quem caiu foi ele. Eu me encolhi e fiquei esperando o tapa quando vi que ele se revirava no chão. Eu tentei socorrer meu agressor, fiquei preocupada com ele e chamei ajuda. Dali em diante, não pude acreditar nos planos de Deus para nós.

Meu esposo teve um AVC. Ele ficou completamente dependente de mim e dos nossos filhos, sem poder andar, sem falar, debilitado e aquela mão, a mão que me feria dia e noite, completamente inválida, enrijecida, como quem afirma seus graves delitos.

Foi impressionante!

Muitos disseram que eu deveria abandoná-lo. Entregá-lo aos cuidados dos pais e irmãos, mas eu sabia o que Deus queria para nós.

Eu não abandonei meu marido agressor, também não abandonei meu marido inválido.

Não sei como pude suportar tanta provação, mas eu suportei e foi minha salvação.

O caminho de cada um é individual. As pessoas se envolvem e se amparam. As pessoas se castigam e judiam, mas a caminhada é individual.

Quando você suportar as maldades do mundo e se entrega aos planos de Deus, certamente, no tempo oportuno, Deus vai te elevar diante das luzes do mundo maior.

Quando desencarnei e vim pra cá, recebi tantos esclarecimentos. Este marido sofreu tanto em minhas mãos. Eu fui o agressor do pretérito, eu fui o malvado, aquele que feriu e humilhou.

Foi difícil para mim observar as cenas do passado e reviver aquele passado de quedas no mal. É muito melhor ser vitima do que algoz. Ele jurou me perdoar, mas não conseguiu e revidou com muita crueldade. Porém, alguém tinha que colocar um ponto final e eu consegui.

Acredito que teremos um envolvimento no futuro e poderemos nos amparar com fraternidade. Eu creio no poder de Deus em nossas vidas.

 

ELISA

27/08/22

 

--Paula Alves—

 

“AS MULHERES DEVIAM PRESTAR ATENÇÃO NA MANEIRA COMO ELES TRATAM TODAS AS PESSOAS DA SOCIEDADE”

 

Eu tentava revidar, mas não tem como uma mulher medir forças com um homem. Ô covardia!

Por mais que se queira, os braços não dão conta não.

Eu não consigo me esquecer do dia em que ele quebrou meus dentes. Eu chorei não foi de dor não, foi de vergonha. Como eu podia sorrir? Toda banguela!

Eu virei um farrapo de gente. Ele me depreciou, me reduziu a uma mulher que não era nem metade do que eu era no passado. Eu fui bonita e integra, mas não dá para confiar nas pessoas, não dá.

Eu não lembro quando foi a primeira surra, mas me lembro de ferimentos que deixaram marcas profundas. Eu não posso esquecer.

Sabia que tinha que fugir. Ele levou as chaves e falou que eu tinha que ser uma mulher de verdade, se não obedecesse, nem sinal da vida lá fora. Quanto abuso!

Ele se sentia meu dono, vê se pode!

Esperei ele sair e fiz uma bagunça no barraco. Tentei fugir, eu tentei, mas não deu tempo.

O homem ficou tão furioso que me bateu com gosto. Bater em mulher é a mesma sandice que bater em criança porque na hora da raiva você não tem como controlar sua força, você bate pra valer e arrebenta a pessoa.

Foi muita covardia. Ele bateu, bateu e nem percebeu quando meu corpo parou de respirar. O problema foi que eu senti tudo, até o final e quando ele se desesperou, quando percebeu que eu não estava respirando, eu ainda estava achando que estava viva, mas já tinha destruído meu corpo, eu morri.

Morri e ainda estava ali sentindo dor e medo daquele selvagem. Eu não tinha que ter me envolvido com ele.

Fiquei pensando como é que a gente pode se defender de homens deste tipo...

Acho que eu não devia ter arrumado relacionamento no forró. Eu via a forma bruta como ele falava com as pessoas, sempre briguento e autoritário. Por que achei que seria diferente comigo?

As mulheres deviam prestar atenção na maneira como eles tratam todas as pessoas da sociedade. Como é o relacionamento com os pais dele. Como eles são com os superiores. Como eles refletem em relação ao mundo e se eles são controladores, possessivos, irritadiços, sem paciência sabe?

 

Eu queria ter tido mais tempo. Tinha muita coisa que eu queria fazer, mas acho que foi um desperdício de vida infeliz porque as coisas realmente importantes, eu nem me dei conta. Acho que nunca perceberia. Eu estava decidida a perder tempo e oportunidades prestando a atenção em leviandades, bobagens corriqueiras.

Perdi minha vida e me arrependo por não ter cuidado de mim adequadamente. Nós somos   

responsáveis por nossa integridade física, mental e emocional. Devemos, antes de mais nada, ter este instinto de preservação sempre acionado para proteger a própria índole, funcionalidade e desenvolvimento.

 

RENATA

27/08/22

 

--Paula Alves--

 

“AS MÃES PRECISAM ESTAR CONSCIENTES DO SEU PAPEL DE EDUCADORA PARA QUE POSSAM, POUCO A POUCO, ELIMINAR A VIOLÊNCIA GERADA CONTRA AS MULHERES”

 

 

Foram muitas vidas. Antigamente, ninguém nem se espantava.

A mulher era considerada como alguém inferior ao homem e, se uma mulher aparecia morta, podiam considerar que esta mulher fez uma afronta deveras que merecia ser corrigida por seu companheiro. Ninguém contestaria o homem que poderia alegar infidelidade ou desrespeito no ambiente familiar.

O homem tinha direito de domesticar sua esposa. Ele podia impor punição e não era repreendido pelos membros da sociedade.

As mulheres eram ensinadas a respeitarem seus maridos e daí decorria a sua inclinação para a submissão e facilitação para serem capachos dos homens.

Dentro e fora dos lares, elas não podiam, nem mesmo, levantar os olhos para seus superiores, os homens!

A vida da mulher sempre foi muito dura.

Recentemente, após tantos direitos concedidos às mulheres, dentre eles, este direito de divulgação da palavra e intelectualidade, a mulher compreendeu que a outra mulher está sendo abusada, insultada e ofendida física e moralmente, necessitando de amparo, proteção, acolhimento e impulsionamento numa sociedade machista que é desenvolvida por mulheres que estão se incomodando com situações desagradáveis de preconceito sexista.

Todo preconceito ofende a coletividade. As mulheres pedem um basta às diversas tentativas de violência feminina, sejam elas, ofensas intelectuais, trabalhistas, morais ou físicas.

Nós não aceitamos olhares maldosos, toda forma de perversão, escândalo ou surras. Toda mulher merece ser ouvida e considerada em suas diversas formas de convicção, inclusive a religiosa.

As mães precisam estar conscientes do seu papel de educadora para que possam, pouco a pouco, eliminar a violência gerada contra as mulheres.

A escola instrui, mas é no lar que temos a educação moralizadora como base de uma sociedade avançada e reformada. Se as mulheres não considerarem este papel fundamental de diretriz, nós não poderemos nos envolver em planos mais harmoniosos entre os sexos.

Todo ser que reencarne num corpo masculino poderá sentir as tendências de poder, força e superioridade, consequentemente, coagir as mulheres que estão ao seu redor, não permitindo, nem mesmo, que argumentem, se mostrando como realmente são, ou seja, Espíritos em evolução, dotados de conhecimentos e virtudes.

Todos devem se amparar, homens e mulheres, com união e apoio, compreendendo que todos nós temos pontos fortes e frágeis, todos nós podemos avançar unidos na fé e no propósito de desenvolvermos potencialidades para o ganho da maioria.

Mas, é a própria mulher que mudará esta situação por sua consciência digna e cheia de gratidão à oportunidade que recebeu de ser mulher.

Valorização e zelo do corpo feminino, integridade, inclinação civil e religiosa, certeza do comprometimento educacional da primeira infância nos desígnios de ambos os sexos. Tudo isso vem esclarecer e nortear a mulher no compromisso de moralização e desenvolvimento pleno do homem que deve olhar para a mulher com respeito e cooperação.

 

JANUÁRIA

27/08/22 


 “ACHAVA QUE “EU” BASTAVA PARA O MEU FILHO”

 

Ela dizia que eu precisava arrumar um pai para o meu filho, vê se pode!

Eu tinha sofrido tanto com o pai do Murilo que não quis mais saber de homem, mas minha irmã achava que mulher sem marido tem uma vida muito difícil. Ela dizia: “ruim com ele, pior sem ele”.

Mas, o meu ponto de vista era diferente. Eu considerava que as mulheres podem fazer qualquer coisa, desde que tenham iniciativa e ânimo. Eu ainda contava com a minha fé. Tinha a certeza de que Deus estava sempre me protegendo, me amparando e seguia em frente, sem me abater.

Porém, meu filho estava passando por momentos difíceis na escola e minha irmã disse que aqueles comportamentos retraídos, tímidos demais, amedrontados diante das pessoas, tudo aquilo estava relacionado com a falta de uma autoridade masculina no lar.

Eu ri, imagina, falta de pai... Eu debochei da minha irmã e fui para casa, mas comecei a prestar mais atenção no Murilo e realmente, ele era introspectivo demais, medo do mundo? Por quê?

Eu precisava cuidar melhor do meu menino. Não desejava que ele sofresse no mundo, conversei, argumentei e me posicionei como a mulher mais forte do mundo, porém, nada mudou. Observei as crianças que tinham pais presentes, eu não queria acreditar que ele sofria a ausência do pai.

Achava que “eu” bastava para o meu filho. Me senti tão mal e procurei racionar defendendo minha posição. Quantas vezes não presenciei crianças sendo maltratadas por pai e mãe que não queriam ouvi-las, que agrediam publicamente ou que ignoravam? Quantas vezes o pai não agiu com uma postura repressora no lar? Quantas vezes não percebi pais que eram inertes, não serviam para nada e deixavam tudo nas costas da esposa? Como se a educação dos filhos fosse tarefa exclusiva da mulher.

Eu não tinha motivos para acreditar que minha irmã estava certa, mas queria que meu filho tivesse toda a base que permitisse uma educação plena.

Pedi a Deus que me direcionasse, que Ele me iluminasse os pensamentos para que eu pudesse cria-lo com a base necessária para que ele se transformasse num homem valoroso.

 

Então, no dia da reunião de pais, pude conhecer pessoas muito compromissadas com a educação de seus filhos, entre elas, um jovem senhor muito educado. Ele me chamou a atenção pela forma como conversava com seus filhos. Notei que ele tinha autoridade em sua voz, mas sem perder a sensatez. Conversamos por algum tempo e expliquei minha situação de mãe solteira, ele, por outro lado, disse o quanto lamentava não ter uma figura materna em casa, já que era viúvo há cinco anos.

Naquele momento, conversei com Deus em pensamento e não pude controlar o risinho: “Esta é a tua resposta Senhor?”

Aquelas crianças precisavam de nós, contudo, muito mais do que isso, precisávamos um do outro. Alguém que fosse a autoridade moral no lar, alguém que fosse a presença do amor abnegado e cheio de sacrifício. Alguém que pudesse ser exemplo para os meninos, alguém que fosse a conselheira, a apaziguadora.

Nos unimos pelo bem comum, em nome da harmonia e desenvolvimento dos meninos. Eu gostei muito dele, me senti a vontade para desabafar. Parecia que ele compreendia todos os meus padecimentos como mãe e eu gostei dos meninos, rapazinhos que me respeitaram de início e simpatizaram com meu filho.

Entre nós nasceu uma bela amizade e pudemos nos amparar, até que nasceu um amor fortíssimo que fez com que convivêssemos durante muitas décadas.

Eu não imaginava mais minha vida sem eles, a minha família!

Foi uma família tão diferente naquela época. Ele era viúvo com dois filhos, eu era mãe solteira com um filho. Ninguém diria que daria certo, mas deu porque nós pensamos primeiro neles, nos nossos meninos.

Foi um casamento arranjado por nossas necessidades e que fez nascer o amor decorrente do respeito e amparo mútuo. Foi muito bom recebê-los por presente de Deus.

 

MARINA

21/08/22

 

---Paula Alves—

 

“NÓS PRECISAMOS REFLETIR PARA EDUCAR MELHOR OS FILHOS”

 

Ele era estúpido com a menina, sempre foi. Eu tentava abafar, colocar panos mornos e disfarçava, dizendo que ele estava cansado ou qualquer coisa assim, mas eu sempre notei.

O desejo era um filho homem. Na época, todos eles queriam um filho homem, era o orgulho do pai, mas a mulher era um escândalo.

Acho que eles pensavam que a mulher podia se perder na vida, enquanto o rapaz podia ser um braço forte no auxílio do lar, sei lá.

Sempre amei minha filha. Nunca me deu um pingo de trabalho, delicada e atenciosa, não ousava levantar os olhos para o pai, me dava dó.

Eu me esforcei e consegui engravidar. Quando o menino nasceu, foi a alegria daquele homem. Ele tomou um porre de tanto contentamento, dizia: “O meu filho!”        

 Ele falava com a boca cheia, sei lá o que ele pensava.

Mas, ele mordeu a língua. Com o passar dos anos, o menino deu tanto problema. Acho mesmo que foi por causa da forma que foi criado. Predileção sem disfarce, muita tolerância, sem reprimendas. Meu esposo achava bonito tudo o que o menino fazia, ele criou um monstro.

Eu me perguntei por que não fui mais dura. Por que não tive uma conversa séria com meu esposo, expondo meu ponto de vista. Eu estava percebendo tudo, era tão fácil distinguir.

Os pais amam, podem até ter predileções, mas conseguem saber quem é o filho, conseguem reconhecer seus deslizes e limitações.

Eu não acredito naquele pai que fala que não sabia que o filho era ladrão ou espancava mulheres. Claro que ele sabe. Será que não viu o desenvolvimento deste filho? Por que se surpreende com o linguajar ou a forma de se relacionar com as pessoas?

Cada um vai colher o que plantou e nós plantamos uma semente com más tendências, não fizemos o trabalho de poda ou limpeza da terra, nós não colocamos a terra fértil da educação moralizadora porque permitimos que fizesse tudo o que achava conveniente. Foi o fim!

Minha filha, estudou, desistiu de conquistar o pai. Ela já sabia que só teria um pai omisso, que a ignorava, então, ela foi à luta. Logo, conseguiu diploma, emprego, apartamento, mas me visitava sempre procurando não encontrar com o pai e o irmão que faziam de tudo para humilhá-la.

Meu filho teve um período triste: envolvimento com drogas, roubos, tormentos que nos arruinaram. Meu esposo ainda tentava justificar dizendo que o problema eram as más companhias, sempre teria uma justificativa.

Por último, precisamos recorrer à internação porque ele estava incontrolável, tentou agredir o pai, roubou pertences do lar.

Eu me senti frustrada, derrotada como mãe, a gente sempre acha que a culpa é nossa. Que não fizemos todo o possível para moralizar o filho, por isso, ele se desvia. Na verdade, nunca teve direcionamento adequado, Deus, envolvimento com prece, autoridade legítima de pai e mãe, falhamos feio.

 Envelhecemos e aquele rapaz internado. Quando saiu, mal sabia se comportar, não tinha estudo, não tinha conhecimento nenhum, experiência, como iria arrumar emprego? Foi a irmã quem ajudou. Arrumou emprego, inseriu na escola para adultos e cuidou de nós.

Quanta coisa errada! Minha filha teve escrúpulos, dignidade, nos auxiliou porque teve bom coração e não desamparou a família porque se fosse rancorosa teria deixado tudo de lado para viver a própria vida.

O fato é que houve muito preconceito no lar porque ela era mulher e ele recebeu mordomias por ser homem, privilégio como homem. Sexo forte? Não parecia.

Eu também errei muito. Nós precisamos refletir para educar melhor os filhos. Conversar com o cônjuge que se ilude e confunde as coisas.

Ter juízo para conduzir os semelhantes, para não cair nas próprias mazelas e comprometer o desenvolvimento de quem Deus coloca sob a nossa tutela.

 

LEANDRA

21/08/22

 

 --Paula Alves—

 

“OS PAIS DEVERIAM SABER QUE PODEM RECEBER NO LAR AFETOS OU DESAFETOS DO PASSADO”

 

Eu escutava aquele choro e saia correndo tentando impedir. Lá se foi outra surra. Eu pedia explicações, qual era o motivo de tudo aquilo?

Ele dizia que o menino não o respeitava. Mas, eu perguntava se precisava bater daquela forma.

Eu tentava defender, mas não conseguia. Estavam sempre brigando, sempre. Cheguei a pensar que meu esposo era problemático porque não era normal bater no único filho daquele jeito.

Ele dizia que os pais tinham que dar corretivo aos filhos, senão cresciam sem controle, mas o menino ficava cheio de hematomas e eu chorava de tanta tristeza.

Por isso, pensei em me separar para que o Júlio pudesse ficar em paz, sem os murros daquele pai tão autoritário.

 

Em mim, ele nunca encostou um dedo, sempre foi educado e cordial, mas com o filho era um terror. Mas, num dia, meu filho apanhou tanto e eu disse: “Vamos embora! Eu não aguento mais tudo isso.”

Eu estava arrumando as nossas coisas e o garoto falou:

— Deixa mãe. Ele é assim mesmo. Eu vou crescer e vou embora, enquanto isso, vou suportar. Você não precisa largar o seu marido por minha causa.

Eu chorei mais ainda. Como aquele menino podia ser mais maduro que nós?

Eu achei mais conveniente mandar meu filho estudar em outra cidade, só para afastá-lo do pai. Viveram separados até que ele se formou e chegou para me ver. O pai olhou para ele com sangue nos olhos, foi como se o tempo não tivesse passado.

Ele procurava um motivo para brigar, mas eu fui apaziguando, queria tanto que ele viesse morar conosco, mas não poderia.

Como estaria a mente daquele jovem? Quais seriam a lembranças que ele guardava durante todos aqueles anos? Falta do pai? Não daquele pai agressor.

Foi uma vida de distanciamento, eu via o meu filho raramente e só entendi tudo o que se passou quando cheguei aqui.

Meu esposo aceitou receber como filho um antigo desafeto do passado. Na hora de formalizar o plano pareciam como pessoas que se reconciliaram e se tornavam amigos, mas quando ele sentia a presença do desafeto diante de si, com as lembranças apagadas pelo corpo físico, nutriu a animosidade, o rancor e a ira faziam com que ele agredisse o filho de qualquer maneira.

Como seria possível impedir tudo o que sucedeu?

Os pais deveriam saber que podem receber no lar afetos ou desafetos do passado. São sempre as mesmas pessoas que estão se envolvendo, raramente são pessoas novas, desconhecidas.

Aqueles que se unem pelo sangue podem ser inimigos que têm a oportunidade de se fortalecer pelo afeto sincero, pela amizade construtora e o amor que remove as montanhas da dificuldade e intolerância.

Ninguém sabe quem é o bebê que está no berço, mas se você sente desconforto e impulsos negativos, se fortaleça no amor de Jesus que nos pede para amparar os irmãos que estão sob o nosso amparo. Lembre-se de Jesus dizendo que devemos nos reconciliar com os irmãos, enquanto estamos a caminho com ele, enquanto estamos encarnados, ao lado deste irmão, no mesmo lar.

Aquele ser que mais causa repulsa pode ser o objetivo da nossa vida. Pode ser o motivo pelo qual reencarnamos e devemos fazer tudo o que podemos para nos conciliarmos com ele, desenvolver nobres sentimentos e amparar no que precisar.

Senão, precisarão de muitos regressos para concluir o plano. Precisarão de muito esforço para despertar o amor que pode quebrar os elos de desavença que os une.

 

NICOLE

21/08/22

 

 --Paula Alves—

 

“E POR QUE É QUE UM PAI ACHA QUE O FILHO NÃO PRECISA DELE?”

 

Eu não podia exigir que ele me amasse. Meu pai dizia que nunca quis ter filhos, mas minha mãe forçou a barra para casar com ele.

Ele ficou furioso quando soube do golpe da barriga. Ele tinha uma boa posição social e levou uma dura do meu avô. Este deixou bem claro que meu pai envergonhou toda a família, mas iria arcar com a sua responsabilidade, mas meu pai não queria casar.

Casou na marra, obrigado. Minha mãe estava muito feliz, mas ele se tornou um homem violento e foi melhor a separação para libertá-los.

No meio disso tudo, eu surgi. Foi um nascimento turbulento, mas mamãe me adorou. Ela dizia que valeu a pena todo o martírio porque eu era a luz da vida dela. Minha mãe me criou cheia de carinho, mas eu sentia falta do meu pai.

Ele nunca deixou faltar nada para nós, nada mesmo. Eu tive uma casa maravilhosa, estudei nos melhores colégios, festas das mais lindas, porém, nunca tive a presença dos familiares paternos. Foi como se fossemos oportunistas durante toda a nossa vida.

Eu soube que ele se casou e teve três filhos amados e cheios de felicidade. Senti tanta inveja! É difícil crescer sem o amor de um pai. A gente sempre quer o que não tem.

Eu entenderia se ele não quisesse ver minha mãe, contudo, nunca entendi por que ele não queria me ver, não sentiu vontade de me conhecer e de se relacionar comigo.

Isso me envolveu a vida toda, mexeu muito comigo. Questão de psicanálise, as pessoas sempre acham que nosso problema se relaciona com pai ou mãe, é mesmo. No meu caso, cem por cento.

Queria ter a mínima atenção, ter contato com a família e poder apresentá-lo como meu pai, mas isso foi impossível.

Eu tentei entender na terapia que as pessoas vão doar para nós aquilo que elas têm para nos fornecer, mas estas frases de efeito não funcionavam no fundo do meu ser, era tudo da boca para fora para não comover as pessoas com a minha carência afetiva.

Acho que o mais prudente seria se prevenir para não ter filhos. Ele não sabia que poderia engravidar minha mãe? Então, por que se relacionou com ela? Um romance rápido e passageiro que permitisse alguns minutos de contentamento foram permitidos?

Eu não posso perdoar o que ele me fez. Por mais que eu tente entender os seus motivos, ele se dizia enganado e, ainda assim, eu não consigo sentir indulgência por ele.

As pessoas acham que estão nesta posição de superioridade tamanha que podem ignorar as outras, determinar que elas não se aproximem como se fossem serem contagiosos de doença terrível. Ele me humilhou e entregou uma pequena fortuna para nos calar.

Talvez, meu mal tenha sido usufruir a vida toda de regalias que eu sei nunca me pertenceram. Dinheiro amaldiçoado porque fez com que ele nunca se aproximasse de mim, nunca me visse como alguém que precisasse dele.

E por que é que um pai acha que o filho não precisa dele? Não precisa do apoio moral? Nem tudo se compra com dinheiro...

Eu vou fazer terapia deste lado também? E não vou conseguir compreender por que aquele homem nunca quis ser meu pai.

 

ISABEL 

21/08/22


----Paula Alves---


“FIZ POR ELES, O QUE QUERIA TER RECEBIDO DO MEU PAI”

 Difícil? Será que foi difícil? Chegar, namorar com a mãe e fazer outro filho?

Era só isso que ele sabia fazer, filhos e deixar que a mãe se encarregava de educar, amar e dar todos os cuidados. Isso era difícil, o trabalho da mãe.

Eu cansei de ver meu pai chegando em casa e procurando a mãe, sem ver o que estávamos fazendo. Ele nunca se preocupou se tinha alguém doente ou precisando de algum corretivo que fosse, nunca perguntou se estávamos metidos em encrenca.

Ele gostava da mãe, mas a mãe tentava fugir. Acho que ela não aguentava mais fazer filho e ter que assumir tudo sozinha, isso sim.

Tem homem que age desta forma, ama a mulher e a maneira como eles se entendem. É tanto que, muitos deles, quando se separam da mulher, não se interessam pelos filhos. O laço de união é a mulher, nunca o amor pelos filhos.

Meu pai foi assim, ausente como pai, ausente como alguém que pudéssemos admirar ou que pudéssemos solicitar nos momentos difíceis das nossas vidas. Pessoa não grata, que nunca desejou nos conhecer e que sentia que éramos como peso morto a exigir coisas que ele não era capaz de executar.

 

Para mim, estava muito claro que ele só serviu para nos fazer nascer e mais nada. Mas, teve um dia que ele cobrou:

— Mais respeito, cabra.

— Respeito? E você sabe o que é isso? Então, dê-se ao respeito, meu senhor. Todo aquele que pede respeito, deve, antes de mais nada, saber o que isso significa. Creio que o senhor não saiba o que diz o respeito porque nunca nos ensinou a respeitá-lo — eu falei.

Naquele dia, eu já era homem feito, trabalhador e responsável. Eu não admitia que ele me exigisse o que quer que fosse e nem permitia que ele abusasse de mãe.

Respeito se conquista, ninguém pode exigir. Acredito que, desde cedo, os pais cativam o respeito dos filhos através da sua autoridade moral, amor e condescendência. É algo adquirido naturalmente e não imposto.

Eu não tinha como respeitá-lo e, muito menos amar alguém que nunca desejou cuidar de mim ou me conhecer. Cheguei a duvidar se ele sabia nossos nomes.

Que tristeza! Pai só porque fecundou? Não pode ser só isso.

Mas, quando ele estava velho e acabado, precisando de ajuda e cuidados integrais, soube pedir nossa ajuda. Exigiu que fossemos filhos decentes, mas como nenhum de nós quis ficar com ele, o irresponsável procurou a mãe. Minha velha mãe, tão delicada não permitiu que ele ficasse na rua, colocou o homem para dentro e pediu que cuidássemos dele. Ela nos fez jurar.

Acho que é a mulher quem sabe unir os familiares, ela que faz considerações importantes e sabe ser abnegada e fazer sacrifícios para ver todos em paz.

Nós cuidamos dele por causa dela. Mas, super contrariados. Foi muito difícil porque eu esperava mais dele. Ao menos, no final da vida, esperava que ele percebesse o quanto errou, mas não houve um momento em que ele percebesse o muito que nos fez sofrer.

Um pai faz diferença na vida da gente. Acho até que transforma o ser para melhor ou pior. Dependendo da imagem de pai que você tem, isso te coloca diante dos superiores com outra consciência. Mesmo sem querer, a gente acaba seguindo os passos do pai.

Mas, eu me esforcei e posso afirmar que fui muito diferente do meu pai. Eu me casei, procurei ser bom esposo e bom pai para que tivessem orgulho de mim e pudessem me considerar como alguém que poderiam contar em todos os momentos da vida. Fiz por eles, o que queria ter recebido do meu pai.

 

TOMÁS

14/08/22

 

 --Paula Alves—

 

“COM POUCAS PALAVRAS VOCÊ PODE ANULAR TODO O MAL”

 

Cresci ouvindo aqueles lamentos. Ela chorava noite e dia porque causa dele. Ela pensava que éramos pequenos e não tínhamos como saber o que se passava em nossa casa, mas era fácil compreender.

Meu pai era tão mulherengo! Minha mãe sofria com as diversas mulheres que iam procura-lo em nossa casa. Ela chegou a agarrar uma delas pelos cabelos. Que horror!

Eu jurei para mim mesma que nunca iria me apaixonar para viver uma vida de lamentos. Todos os homens me faziam lembrar o pai e aquela solidão que a mãe sentia, o constrangimento que ela sentia. Até que ele se cansou da mãe e fugiu com a nossa vizinha. Foi um baque para a mãe, como ela chorou...

Daí para frente foi o fim de qualquer compromisso que eu pudesse ter. Eu matei os homens dentro de mim e não quis que se aproximassem, então me caracterizei de homem e me interessei por mulheres.

Eu não deveria culpa-lo por minha homossexualidade, mas após refletir inúmeras vezes, sei que o motivo foi este dentro do meu ser.

Eu não queria que ninguém me fizesse sofrer como ele fez a mãe sofrer. Comigo não e para não condenar o meu pai, falava que nenhum homem prestava. O problema era ele, o meu pai, mas eu não tive maturidade emocional para perceber isso.

Ele se esqueceu de todos os compromissos assumidos com a nossa família por causa daquela mulher. Será que é tão fácil esquecer da família?

É muito humilhante e horrível ver seu pai ir embora com outra mulher, não desejo para ninguém, mas minha mãe o amou tanto, ela não merecia.

Eu pensei na piedade filial quando desejei que ele morresse. Eu me lembrei do Honrar pai e mãe quando desejei que ele adoecesse e viesse nos pedir por cuidados. Eu sabia que devia desejar coisas boas para o meu pai, mas do fundo do coração eu não podia perdoar o que ele nos fez.

Teve muita gente que disse que ele só abandonou a minha mãe, mas quem abandona a mãe, abandona a família toda. Não existe meio termo. Ele nunca mais quis saber de nós.

Então, no fim da vida, ele quis me ver para pedir perdão. Falou que se arrependeu por tudo o que nos fez sofrer. Então, ele sabia que nós sofremos por ele?

Ele desejou me ver e quando me viu disse que ele nunca teve um filho, mas sim, uma filha. Ele nem me reconheceu. Então, eu me aproximei e disse quem eu era, sua filha.

Ele não conseguiu me pedir perdão porque eu disse que não podia perdoá-lo. Que ele ia se entender com a Justiça de Deus, não comigo, mas dentro do meu coração não tinha nada de bom para entregar a ele.

Ele chorou e eu me senti livre daquela situação.

Estranho, mas eu precisava saber que ele se lembrava de nós. Eu só queria que ele mostrasse arrependimento, mais nada.

Acho que muitos de nós, só precisam saber que as pessoas sabem que fizeram algo errado e nos ofenderam. Muitas vezes, as palavras não são necessárias, outras vezes, com poucas palavras você pode anular todo o mal, quando o outro diz sinceramente o quanto errou.

Isso é necessário para que o perdão brote nos corações.

 

SANDRA

14/08/22

 

--Paula Alves—

 

“MEU FILHO DISSE QUE EU FUI O SEU HERÓI”

 

Eu nem sabia que gostava tanto de crianças. Quando vi aquele rostinho, tão parecido com o meu, eu me apaixonei.

Faria tudo por ele, o meu filho. Nasceu naquele momento, ali na maternidade, um novo homem. Eu jurei pra mim mesmo que precisava me comprometer com coisas mais integras e nobres para que o meu menino não tivesse motivos para se envergonhar de mim.

Parei de beber e me entreguei ao trabalho sério, bem executado porque queria que pudesse ouvir de mim, apenas coisas boas.

O menino cresceu e o pai se esforçando em ser um homem de bem. Claro que deu trabalho! Eu já não estava envolvido com as mesmas pessoas que se distanciaram de mim porque diziam que eu era muito careta.

Mas, meu filho estava crescendo e eu precisava me reformar para poder cuidar dele.

Quando meu garotinho estava com cinco anos, comecei a perceber estranhas tendências ligadas ao furto. Fiquei intrigado: “Meu filho?”

Não podia ser, tão pequenino e já estava comprometido com o mal?

Eu não bati, mas repreendi e expliquei claramente que um homem de bem não pode pegar nada que seja do seu semelhante. Falei de amor ao próximo e do direito da propriedade alheia. Notei que eu estava cometendo uma falha: o menino não conhecia o Evangelho do Mestre.

Tratei de levar para a catequese. Ele precisava de exemplos e de respeitar uma força maior: Deus.

Meu menino nunca mais quis roubar. Mas, eu fiquei na cola dele. Estava sempre conversando para compreender o que se passava em seus pensamentos e desejando corrigir se tivesse algum desvio.

 

Sei que, com o passar dos anos, foram inúmeras as vezes em que pensava não ser possível disciplina-lo e colocá-lo no caminho do bem. Mas, um pouco antes de eu morrer, antes de deixar meu corpo físico para trás, tivemos uma conversa proveitosa.

Meu filho já estava criado, homem de bem, trabalhador, amoroso e sério, servo do Senhor. Ele disse que jamais poderia me agradecer adequadamente por tudo o que fiz por ele. Meu filho disse que eu fui o seu herói, o seu exemplo de homem de bem, digno, responsável e amoroso com a família.

Eu fiquei tão feliz. Quando modifiquei toda a minha vida por ele, não foi para ouvir isso, foi simplesmente porque eu queria que ele tivesse um exemplo de homem centrado, funcionou. Eu parti muito feliz porque deixei meu filho melhor do que o recebi. Acho que cumpri meu papel de pai.

 

JOAQUIM

14/08/22

 

 ---Paula Alves—

 

“DAS PROVAS QUE TEMOS PARA PASSAR, SÓ DEUS PARA COMPREENDER”

 

Tem pai que cuida melhor que uma mãe.

Tudo depende da intensidade do sentimento. Ele nos amou infinitamente.

Quando minha mãe arrumou as malas e foi embora, nos deixou pequenas com o pai que mal sabia lavar uma roupa. Meu pai chorou dizendo que ela não ia nos levar embora para passar necessidade na rua, se ela queria ir, fosse sozinha. E ela foi.

Meu pai foi pai e mãe. Nunca foi leviano ou desonesto. Nunca nos deixou por causa de mulher, jogos ou bebidas. Ele nos criou muito bem e soube colocar nossas necessidades físicas e morais sempre em primeiro plano.

Penso como deve ter sido difícil para ele. Assumir uma casa e três menininhas sem saber o que fazer, sozinho. Ele fez tudo tão bem e ainda cuidou da casa.

À medida que fomos crescendo, as coisas se tornaram mais fáceis e após dez anos, ela retornou muito mudada, tão maltratada, sem dentes, emagrecida e esfarrapada que nós não a reconhecemos, mas ele a reconheceria a quilômetros de distância.

Ela entrou em casa, morta de fome e quis se aproximar de nós, mas quem era ela? Um alguém que nos deixou por um homem qualquer?

Ele a alimentou e pediu que fosse embora porque estávamos bem sem ela. Nós o apoiamos, ela partiu para sempre.

Crescemos e ajudamos o pai em tudo. Apoiamos para que ele arrumasse outra companheira, mas ele se decepcionou muito, não quis ninguém.

Foi ótimo pai, bom avô, sogro, amigo, bom filho. Uma pessoa maravilhosa que merecia ter sido mais feliz, mas das provas que temos para passar, só Deus para compreender.

Eu sou muito grata por ter tido um pai tão presente e amigo. Meu pai foi um herói, um exemplo, um conselheiro.

Meu pai foi o melhor pai do mundo e eu sou muito agradecida por ter recebido nobres ensinamentos do meu pai.

 CRISTIANE

14/08/22


     “POR QUE DESEJAMOS TANTO?” MAIS DO QUE NECESSITAMOS, MAIS DO QUE PODEMOS GASTAR OU USUFRUIR?”

 

Eu sempre fui muito trabalhador. Acreditei que fosse incansável!

Me submeti a longas jornadas de trabalho, sem pausas ou parada para o almoço. No início, nem percebi a debilidade orgânica, achei que fosse, apenas mal estar passageiro, mas com o passar do tempo...

Naquela época, eu justificava minha conduta pensando na família que merecia mais conforto e possibilidade de desenvolvimento educacional, mas na verdade, eu queria me gabar, ostentar junto a amigos e familiares. Mostrar para todos minha ascensão, mérito meu, dos meus esforços.

Eu nunca acreditaria se alguém me dissesse que eu estava sendo tão orgulhoso. Para mim, estava bem intencionado, buscando o progresso da família, mas para quê?

 

Por que desejamos tanto? Mais do que necessitamos, mais do que podemos gastar ou usufruir? Se ainda tivesse a preocupação de ajudar os semelhantes, se tivesse a preocupação de dar de comer para os menos favorecidos, vá lá, mas não foi este o motivo.

Nós corremos tanto e nos descabelamos para ter, ter mais do que todos para sermos apontados como os mais favorecidos, onde os “abençoados” se distinguem pelos que têm mais. Inversão de valores!

Ter mais para acumular nos celeiros. Construir celeiros maiores para guardar, nunca pensando em dividir, em beneficiar o próximo. É uma loucura!

Por isso, fui me desgastando. Primeiro fisicamente e depois, mentalmente.

Eu nem percebi porque não tinha tempo para nada. Minha esposa podia ter percebido se ela não se sentisse beneficiada pelos meus esforços, por meus delírios e tormentos de ter mais e mais. Ela não tinha tempo para reconhecer o quanto eu estava definhando, ela só olhava para os móveis, roupas e sapatos de luxo. Ficava procurando viagens e casas maiores, carros novos. Era muito para se preocupar, nem reparou no marido se esvaindo.

 

EU NÃO A CULPO. EXISTEM QUANTAS POR AÍ?

A questão é que, quando a doença chegou, nada mais era tão importante e eu me indignei. Me revoltei comigo, com ela, com meus filhos, amigos e parentes. Até me lembrei de Deus, eu o culpei também.

Ingrato! Um filho que nunca percebeu a existência de seu Pai e Criador, na hora do sofrimento, da fragilidade e impotência, ergue o olhar para o céu para blasfemar. Que vergonha!

Eu fiz tudo isso. Tive que me afastar do trabalho, aos poucos precisei de tratamentos sofisticados, caríssimos. Vendi meus bens, pouco a pouco, foi a derrocada.

As pessoas se afastaram, minha mulher se separou. Ela foi muito esperta, conseguiu ficar com boa parte dos nossos bens e eu, estava sozinho e empobrecido, doente e indignado.

Como a vida muda! Ninguém pode dizer: “Desta água não beberei”.

Não pode não, sabe por que? Quantos existem iguais a mim?

Será que aquelas pessoas que te cercam, te amam sinceramente? Te amam por quem você é, pelo que representa ou pelos bens que possui?

São os afetos alicerçados na areia, fantasia, ilusão, baseados nas necessidades materiais. Aqueles afetos que dissolvem naturalmente, somem sem deixar rastros, sem deixar nada de bom.

Dizem que é, nestas horas, que conhecemos a verdadeira face das pessoas e a nossa também, quando estamos despojados da matéria.

Eu aprendi muito nesta vida. Solidão, doença, orgulho, mesquinhez. Tudo poderia ter sido bem diferente se eu tivesse valorizado a matéria na justa medida, nem mais, nem menos.

Eu compreendi porque devemos tentar ter uma vida mais simples com desejos mais simples, sonhos mais simples, menos ambição, mais progresso moral.

Viver de forma simples, aproveitando os bons momentos, os afetos sinceros, a brisa da manhã, os abraços saudosos, as lembranças de infância, as ambições infantis, o luar, a nobreza da alma.

Eu aprendi muito nesta vida. Foi bom compartilhar.

 

ELÍSIO

06/08/22

 

--Paula Alves--

 

“QUEM SERÁ QUE VAI ENTRAR?”

 

Maria queria ouvir Jesus e deixou as tarefas domésticas de lado, elas podiam esperar.

— Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada — disse Jesus.

O que é a melhor parte da existência terrestre? Eu ficava me perguntando e não conseguia entender. Acho que, naquela época, ainda não estava desenvolvido o suficiente para compreender o que significa esta passagem evangélica.

De certo, porque eu me comportava semelhantemente a Marta e estava sempre tão afobado para concluir meus trabalhos e inquietações do plano físico.

Eu não compreendia o quanto a vida serve para nos ajustarmos com toda a Criação.

Nunca parei para contemplar o Universo com esta visão do quanto somos pequeninos. A humildade é a maior lição que recebemos do Cristo porque nos leva a crer que não temos vantagem nenhuma sobre os demais. Nós somos iguais e merecemos as mesmas concessões, permissões, mas também temos que ter os mesmos esforços e provas, assim como temos as mesmas necessidades.

 

Enfim, era difícil para mim, entender que Marta era como eu, pensando na matéria, nos problemas da carne, desesperada diante de questões triviais e corriqueiras, deixando passar diante dela um momento esplendoroso e se conservando na cegueira, perdendo a chance de sentar-se aos pés do Mestre, perdendo a oportunidade de servir-lhe, atenta, alimentando-se da Palavra que ilumina.

Eu também fiz o mesmo. Lia e não compreendia. Lia e não fazia o mínimo necessário para servir-lhe de instrumento, para segui-lo.

Eu nunca pratiquei a caridade, eu não fiz o mal, porém, também não fiz o bem. Eu não me esforcei para a reforma interior, não me preocupei em assimilar novos conhecimentos ou adquirir virtudes que poderiam me enobrecer. Acomodação!

Acho que esta palavra resume: Acomodação!

Ler o Evangelho e não refletir. Ler e não compreender. É como comer e não mastigar. É ficar entalado, não se nutrir adequadamente. Não tem como operar transformação sincera. É falar do Mestre da boca para fora. Isso não é ser cristão!

Eu demorei muito tempo para entender que foi uma falta de respeito. Uma mentira, uma farsa.

SERÁ QUE A GENTE NÃO CONSEGUE ENTENDER TUDO ISSO, ENQUANTO ESTÁ ENCARNADO PORQUE ESTÁ TÃO ENVOLVIDO COM A MATÉRIA?

Mas, eu acho que não justifica porque em todas as religiões existem pessoas que conseguem vivenciar o Evangelho e podem iluminar os caminhos daqueles que desejam se converter como um fiel servo do Cristo.

Mas, é que isso exige renúncia. É a renúncia de si mesmo, renúncia dos seus prazeres, gostos e hábitos, vícios e pensamentos mundanos.

As pessoas zombam de quem age assim. Passa a ser taxado de ridículo, brega, demodê.

Eu queria estar no grupo de amigos de sempre. Fui muito sociável e me corrigir, me transformar exigia um novo estilo de vida, irrepreensível. Eu não sabia se estava pronto para assumir uma nova vida, por isso, fiquei na mesma.

Que pena! Eu poderia ter me elevado tanto. Sofri quando desencarnei.

Realmente a gente só descobre o caminho através dele. Todos os outros, precisam expurgar nas zonas inferiores. Não tem como acessar lugares melhores estando tão obscurecido. Precisa de luz para entrar no Reino dos Céus, ou seja, neste local de refazimento com tão boas criaturas.

Se eu soubesse, teria me esforçado mais. Porém, tem que ser sinceramente. Seguir por amor ao Nazareno.

QUEM SERÁ QUE VAI ENTRAR?

 

MAURO

06/08/22

 

--Paula Alves--

 

“SE EU TIVESSE ME ESFORÇADO PARA PRATICAR O BEM...”

 

Me colocaram para dar aula naquela sala e eu, estava descobrindo o quanto as crianças me incomodavam.

Nem de longe aquela ideia fantasiosa do quanto eram delicadas e ingênuas, elas me provocavam e eu me sentia ofendida.

Na real, hoje posso perceber que me coloquei no mesmo nível delas, parecia ter a mesma idade mental.

Aquele menino gritava, silenciosamente um pedido de socorro, mas eu estava vivendo meus dramas pessoais e não pude perceber o quanto estava sendo agredido no lar.

Eu falhei! Falhei comigo e com ele. Aquela era a minha oportunidade de resgate.

Eu fui tão infantil! Nós, nem sempre, podemos perceber que reencarnamos para ajudar uma pessoa em especial. Uma única pessoa e bum! Você se elevou, cumpriu sua prova, arrebentou de fazer bonito no desenrolar do planejamento.

Como é que eu ia saber? Tão envolvida com o aluguel, planos de aula e problemas governamentais que afetariam a minha carreira, mãe doente e namorado traidor.

A minha vida estava um caos e eu ia imaginar que minha vida estava atrelada àquele aluno?

Nunca! Não dava para imaginar, mas dava para sentir.

Sabe aquele nó na garganta, dor de cabeça e inquietação quando eu chegava perto do menino? Daí pensei que ele estava com energia pesada. Ai, quanta mistificação!

Era bem mais simples. Eu me sentia mal porque estava com assuntos mal resolvidos junto àquele menino - a minha missão.

Garanto que se eu tivesse me aproximado dele... Se eu tivesse cumprido o meu papel, deixado os problemas fora da sala de aula e observado melhor meus alunos, eu teria notado os hematomas dele.

Eu teria reparado na expressão corporal, a postura de inferioridade, medo, angústia e depressão em que ele estava.

Eu podia ter proposto uma conversa informal e descobriria que ele estava sendo molestado no lar pelo próprio pai. Será que eu podia ter ajudado?

Eu precisava ter ajudado, mas eu não fiz nada e soube, meses depois, que ele se suicidou.

Naquela época, eu fiquei chocada, mas retomei minha vida, nem por um minuto, me cobrei, achando que fosse, de alguma forma, responsável pelo acontecido.

Aquelas pessoas que podiam impedir e não fazem nada, por omissão, por negligência, são sim, todas responsáveis.

O menino sofreu, se postou ao meu lado, me perseguiu por um tempo, depois recebeu auxílio, mas eu...

A consciência é divina e nos cobra. Desenvolvi uma enxaqueca que não passava com nada, vivi anos tomando medicações que me dopavam, inconscientemente era a culpa que me cobrava.

Se eu tivesse me esforçado para praticar o bem...

Em todos os locais onde somos colocados para viver, existe a possibilidade de sermos úteis aos nossos semelhantes, assim ajudamos e somos ajudados.

Mas, eu estava tão envolvida com meu próprio umbigo que fracassei com aquele rapazinho que era tão importante para mim.

 

CIBELE

06/08/22

 

 --Paula Alves--

 

“CADA UM DE NÓS, PODE DESEMPENHAR SUA TAREFA NA SOCIEDADE E SE SENTIR MOTIVADO, FELIZ E SATISFEITO”

 

Horas intermináveis fazendo listas. Aqueles números estavam me angustiando. Parecia que eu ia surtar há qualquer momento.

A vontade de jogar tudo para o alto e viver uma vida sem restrições e impedimentos, sem obrigações e a loucura cotidiana, mas eu pensei que devia ser responsável com a minha família que precisava de mim.

Engolia aquele delírio e tocava só mais um dia naquele trabalho que eu odiava.

Sonhava em ser músico, qualquer lugar com um violão, qualquer quantia que me desse a chance de viver da música, mas eu tinha três filhos e meu pai sempre disse que aquilo era vida de vagabundo, não pagava as contas.

Saia do emprego e ia direto para o bar, só bebendo para esquecer daquele dia difícil. Eu achava que era só para relaxar. Pensei que tinha o controle dos copos que eu virava, mas quando eu via, minha esposa estava bem ali, diante de mim chorando, fazendo o maior esforço para me carregar.

De novo? — eu pensava. Então, não tinha controle.

Mas, todos os dias naquele emprego era tão infernal que eu voltava no bar.

Até que um dia, o dono do bar apareceu com um violão e falou que era uma brincadeirinha.

— Quem sabe tocar? — perguntou ele.

Eu falei que ia tentar. Até eu me espantei com a forma que eu tocava. Eu nunca estudei música, nunca fiz aula e sabia tocar daquele jeito? Me espantei. As pessoas foram chegando, dançaram e eu fiquei muito feliz porque toda a minha vida desejei tocar e cantar daquela forma, naquela noite eu nem bebi porque fiquei muito feliz.

Minha esposa estranhou meu contentamento. No outro dia, trabalhei mais feliz e, ao voltar para casa, o dono do bar disse:

— Toca! Canta! Se a gente faturar te dou uma comissão.

Eu fiquei muito contente, toquei e cantei. O bar ficou movimentado e eu ainda faturei um dinheiro, não bebi.

Foi assim que a música entrou na minha vida e eu me afastei do vício, tamanho contentamento de fazer aquilo que era minha paixão.

Depois daquela fase de renovação, eu trabalhei com a música, minha família aprovou e tivemos uma boa vida. Ótima vida!

Acredito que aquela arte estava adormecida dentro de mim. Conhecimento adquirido em outras existências, amor pela arte que não se perde, não importa quanto o tempo passa.

O vício esteve atrelado à frustração de uma vida sem sentido, sem graça, sem cor. Nós precisamos ter motivação.

O trabalho não precisa ser como punição, como um martírio. Cada um de nós, pode desempenhar sua tarefa na sociedade e se sentir motivado, feliz e satisfeito. Quando isso acontece é mais fácil dar o seu melhor, trabalhar uma hora a mais, independente do cansaço porque o trabalho estará sendo feito com prazer de servir.

Eu nunca pensei que era tão importante respeitar nossas aptidões.

 FLÁVIO    

06/08/22


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