“NUNCA
COMETER SUICÍDIO, JAMAIS DISTORCER OS ATOS LEVIANOS COMO SE FOSSEM FUGA OU
LIBERTAÇÃO”
Eu
senti o gosto do sal na minha boca por muito tempo. A sensação horrível de
sufocamento e o arrependimento dominando o meu ser. Quanta covardia!
Eu
planejei tudo, achei que estivesse colocando um ponto final naquela história
tão medíocre e miserável. Eu me cansei de tentar. Me cansei de fracassar. A
verdade é que a certeza de uma impotência me causou um sentimento de
prostração.
Eu
não queria mais me esforçar para possuir as coisas, para pagar as coisas, para
provar que eu era forte ou capaz.
Eu
queria que a vida fosse mais simples e queria ter a satisfação de apreciar as
belezas da Terra sem constrangimento. Por que eu tinha que ser como todos os
outros?
Esta
necessidade de superação me irritava. Esta nobreza material me fazia sentir uma
pessoa pobre e esfarrapada. Eu quis uma vida mais simples, sem ostentação ou
vantagens e percebi que nada se assemelhava à beleza do mar.
Então,
eu quis acabar no meio do mar.
Não
sei se era depressão, não sei se foi medo de não atingir as expectativas e ter
que viver sob as comparações daqueles que conseguiram muitas coisas... Ah! Me
sufocava...
Então,
eu planejei. Pensei que seria tão rápido! Pensei que seria o fim de tudo, fim
de questionamentos ou análises, conjecturas que não me tornavam melhor ou
aceitável. Eu não queria pensar ou sentir tantos tormentos de uma vida inútil e
desatenta.
Quando
vi o barco pensei que seria tão perfeito. Eu imaginei que eles sofreriam minha
partida, sim, eu me preocupei com eles, todos eles, mas o sofrimento não dura
para sempre. As pessoas têm prazeres e ambições, logo se interessam por outras
coisas e esquecem daqueles que partiram. Eu desejei que se esquecessem de mim.
Não
foi um ato egoísta ou impensado, foi muito pior porque eu pensei em tudo e
gostei de imaginar que existiria uma aniquilação.
Como
fui tolo! Nem por um minuto cogitei que não sou dono de mim mesmo. Nunca
argumentei que não teria fim. Uma vida criada para a destruição? Com propósito
de quê?
Quanta
arrogância achar que eu seria livre para decidir se poderia desaparecer...
Descobri
a duras penas que tenho um superior, todos nós temos. Alguém soberano Senhor
que decidiu me criar e exige que eu melhore e me desenvolva. Este alguém que me
observa e me reconhece como sou, exige que eu seja conhecedor de meus
princípios e me desenvolva para poder atingir uma potencialidade que me coloque
na Sua direção.
Eu
nunca entenderia se tentassem me explicar, fui tão cético, tão descrente.
Quando
me atirei no fundo do mar, amarrado, com âncora, achei que fosse rápido, quase
indolor e me deparei com a escuridão total que pode amedrontar o mais corajoso
dos seres. Eu fiquei apavorado!
Tentei
gritar e me soltar, me debati por tantos anos, tantos anos, morrendo de medo,
congelando, ouvindo gritos e gemidos no fundo do mar.
Realidade
ilusória que me fez desejar nunca ter cometido tal delito contra minha própria
carne. Arrependimento estimulado pela dor.
Perfeita
cobrança da Lei que nos faz desejar voltar no tempo e nos movimentarmos no
tempo e no espaço com a satisfação dos eleitos de Deus. Eu poderia ter me
esforçado mais.
Falta
de esforço e coragem que faz escolher o caminho mais fácil: a desistência dos
planos, a rebelião diante do Senhor que ajusta nossa caminhada para evolução
irremediável.
Nunca
cometer suicídio, jamais distorcer os atos levianos como se fossem fuga ou
libertação.
Ninguém
será isento de culpa ou punição após ter cometido um crime tão cruel como este.
“Não
matarás!” — É um mandamento da Lei. Não matarás irmão algum, também não matarás
a ti mesmo.
Nós
não morremos, mas interrompemos o tempo permitido para realizar as provas
necessárias como se fossemos dono do tempo, donos da própria vida e não somos.
Eu
sofri demais para compreender que minha vida pertence ao Senhor. Por isso,
hoje, após este socorro misericordioso, entrego minha vida ao Pai, pedindo que
Ele me forneça discernimento e fé para prosseguir, para aceitar os planos que
traçaram para mim e realizar tudo a contento do Altíssimo por gratidão e submissão
a Sua inteira vontade.
LÚCIO
27/08/22
--Paula
Alves--
“QUANDO
VOCÊ SUPORTAR AS MALDADES DO MUNDO E SE ENTREGA AOS PLANOS DE DEUS, CERTAMENTE,
NO TEMPO OPORTUNO, DEUS VAI TE ELEVAR DIANTE DAS LUZES DO MUNDO MAIOR”
Acreditei
que ele pudesse se reformar. Eu orei tanto!
Todos
os dias, apesar das surras e maus tratos, eu ainda orava para que Deus me
fortalecesse e guiasse minha consciência para direcionar minha família. Eu o
amei.
Apanhar,
ser ferida e negligenciada quase todos os dias e não desejar matá-lo, foi a
maior prova de amor que eu pude dar para um homem. Eu o perdoei todos os dias.
Curava
minhas feridas, estancava o sangue e, com a alma dilacerada, me esforçava para
ter ânimo e esperança de que os dias seriam melhores no futuro se eu me
esforçasse para levantar.
Olhava
para os filhos e pedia ao Senhor para que, no futuro, eles não se lembrassem das surras que eu
levei, eu temia que as imagens do espancamento pudessem interferir nas vidas
deles como adultos, fazendo com que fossem possíveis agressores. Nenhuma mulher
merecia sofrer tanto quanto eu.
Pensei
em fugir, mas eu jurei que ficaria com ele. Pensei que ele estivesse possuído,
só podia ser um Espírito ruim que se apoderava do meu esposo que tentava me
matar daquela forma. Uma mulher que vive para a família, deseja protegê-la e trabalha
arduamente para que ela se eleve, não devia ser tão maltratada.
O
que será que se passava com ele? Eu me questionei durante tanto tempo e, no
fim, quando eu não aguentava mais e comecei a achar que teria que envenená-lo,
foi aí que Deus agiu nas nossas vidas e ele recebeu a mão forte do Senhor.
Meu
marido teve uma síncope e começou a se revirar todo diante de mim. Naquele dia,
ao levantar a mão para me ferir, quem caiu foi ele. Eu me encolhi e fiquei
esperando o tapa quando vi que ele se revirava no chão. Eu tentei socorrer meu
agressor, fiquei preocupada com ele e chamei ajuda. Dali em diante, não pude
acreditar nos planos de Deus para nós.
Meu
esposo teve um AVC. Ele ficou completamente dependente de mim e dos nossos
filhos, sem poder andar, sem falar, debilitado e aquela mão, a mão que me feria
dia e noite, completamente inválida, enrijecida, como quem afirma seus graves
delitos.
Foi
impressionante!
Muitos
disseram que eu deveria abandoná-lo. Entregá-lo aos cuidados dos pais e irmãos,
mas eu sabia o que Deus queria para nós.
Eu
não abandonei meu marido agressor, também não abandonei meu marido inválido.
Não
sei como pude suportar tanta provação, mas eu suportei e foi minha salvação.
O
caminho de cada um é individual. As pessoas se envolvem e se amparam. As
pessoas se castigam e judiam, mas a caminhada é individual.
Quando
você suportar as maldades do mundo e se entrega aos planos de Deus, certamente,
no tempo oportuno, Deus vai te elevar diante das luzes do mundo maior.
Quando
desencarnei e vim pra cá, recebi tantos esclarecimentos. Este marido sofreu
tanto em minhas mãos. Eu fui o agressor do pretérito, eu fui o malvado, aquele
que feriu e humilhou.
Foi
difícil para mim observar as cenas do passado e reviver aquele passado de
quedas no mal. É muito melhor ser vitima do que algoz. Ele jurou me perdoar,
mas não conseguiu e revidou com muita crueldade. Porém, alguém tinha que
colocar um ponto final e eu consegui.
Acredito
que teremos um envolvimento no futuro e poderemos nos amparar com fraternidade.
Eu creio no poder de Deus em nossas vidas.
ELISA
27/08/22
--Paula
Alves—
“AS
MULHERES DEVIAM PRESTAR ATENÇÃO NA MANEIRA COMO ELES TRATAM TODAS AS PESSOAS DA
SOCIEDADE”
Eu
tentava revidar, mas não tem como uma mulher medir forças com um homem. Ô
covardia!
Por
mais que se queira, os braços não dão conta não.
Eu
não consigo me esquecer do dia em que ele quebrou meus dentes. Eu chorei não
foi de dor não, foi de vergonha. Como eu podia sorrir? Toda banguela!
Eu
virei um farrapo de gente. Ele me depreciou, me reduziu a uma mulher que não
era nem metade do que eu era no passado. Eu fui bonita e integra, mas não dá
para confiar nas pessoas, não dá.
Eu
não lembro quando foi a primeira surra, mas me lembro de ferimentos que
deixaram marcas profundas. Eu não posso esquecer.
Sabia
que tinha que fugir. Ele levou as chaves e falou que eu tinha que ser uma
mulher de verdade, se não obedecesse, nem sinal da vida lá fora. Quanto abuso!
Ele
se sentia meu dono, vê se pode!
Esperei
ele sair e fiz uma bagunça no barraco. Tentei fugir, eu tentei, mas não deu
tempo.
O
homem ficou tão furioso que me bateu com gosto. Bater em mulher é a mesma
sandice que bater em criança porque na hora da raiva você não tem como
controlar sua força, você bate pra valer e arrebenta a pessoa.
Foi
muita covardia. Ele bateu, bateu e nem percebeu quando meu corpo parou de
respirar. O problema foi que eu senti tudo, até o final e quando ele se
desesperou, quando percebeu que eu não estava respirando, eu ainda estava
achando que estava viva, mas já tinha destruído meu corpo, eu morri.
Morri
e ainda estava ali sentindo dor e medo daquele selvagem. Eu não tinha que ter
me envolvido com ele.
Fiquei
pensando como é que a gente pode se defender de homens deste tipo...
Acho
que eu não devia ter arrumado relacionamento no forró. Eu via a forma bruta
como ele falava com as pessoas, sempre briguento e autoritário. Por que achei
que seria diferente comigo?
As
mulheres deviam prestar atenção na maneira como eles tratam todas as pessoas da
sociedade. Como é o relacionamento com os pais dele. Como eles são com os
superiores. Como eles refletem em relação ao mundo e se eles são controladores,
possessivos, irritadiços, sem paciência sabe?
Eu
queria ter tido mais tempo. Tinha muita coisa que eu queria fazer, mas acho que
foi um desperdício de vida infeliz porque as coisas realmente importantes, eu
nem me dei conta. Acho que nunca perceberia. Eu estava decidida a perder tempo
e oportunidades prestando a atenção em leviandades, bobagens corriqueiras.
Perdi
minha vida e me arrependo por não ter cuidado de mim adequadamente. Nós
somos
responsáveis
por nossa integridade física, mental e emocional. Devemos, antes de mais nada,
ter este instinto de preservação sempre acionado para proteger a própria
índole, funcionalidade e desenvolvimento.
RENATA
27/08/22
--Paula
Alves--
“AS
MÃES PRECISAM ESTAR CONSCIENTES DO SEU PAPEL DE EDUCADORA PARA QUE POSSAM,
POUCO A POUCO, ELIMINAR A VIOLÊNCIA GERADA CONTRA AS MULHERES”
Foram
muitas vidas. Antigamente, ninguém nem se espantava.
A
mulher era considerada como alguém inferior ao homem e, se uma mulher aparecia
morta, podiam considerar que esta mulher fez uma afronta deveras que merecia
ser corrigida por seu companheiro. Ninguém contestaria o homem que poderia
alegar infidelidade ou desrespeito no ambiente familiar.
O
homem tinha direito de domesticar sua esposa. Ele podia impor punição e não era
repreendido pelos membros da sociedade.
As
mulheres eram ensinadas a respeitarem seus maridos e daí decorria a sua
inclinação para a submissão e facilitação para serem capachos dos homens.
Dentro
e fora dos lares, elas não podiam, nem mesmo, levantar os olhos para seus
superiores, os homens!
A
vida da mulher sempre foi muito dura.
Recentemente,
após tantos direitos concedidos às mulheres, dentre eles, este direito de
divulgação da palavra e intelectualidade, a mulher compreendeu que a outra
mulher está sendo abusada, insultada e ofendida física e moralmente,
necessitando de amparo, proteção, acolhimento e impulsionamento numa sociedade
machista que é desenvolvida por mulheres que estão se incomodando com situações
desagradáveis de preconceito sexista.
Todo
preconceito ofende a coletividade. As mulheres pedem um basta às diversas
tentativas de violência feminina, sejam elas, ofensas intelectuais,
trabalhistas, morais ou físicas.
Nós
não aceitamos olhares maldosos, toda forma de perversão, escândalo ou surras.
Toda mulher merece ser ouvida e considerada em suas diversas formas de
convicção, inclusive a religiosa.
As
mães precisam estar conscientes do seu papel de educadora para que possam,
pouco a pouco, eliminar a violência gerada contra as mulheres.
A
escola instrui, mas é no lar que temos a educação moralizadora como base de uma
sociedade avançada e reformada. Se as mulheres não considerarem este papel
fundamental de diretriz, nós não poderemos nos envolver em planos mais
harmoniosos entre os sexos.
Todo
ser que reencarne num corpo masculino poderá sentir as tendências de poder, força
e superioridade, consequentemente, coagir as mulheres que estão ao seu redor,
não permitindo, nem mesmo, que argumentem, se mostrando como realmente são, ou
seja, Espíritos em evolução, dotados de conhecimentos e virtudes.
Todos
devem se amparar, homens e mulheres, com união e apoio, compreendendo que todos
nós temos pontos fortes e frágeis, todos nós podemos avançar unidos na fé e no
propósito de desenvolvermos potencialidades para o ganho da maioria.
Mas,
é a própria mulher que mudará esta situação por sua consciência digna e cheia
de gratidão à oportunidade que recebeu de ser mulher.
Valorização
e zelo do corpo feminino, integridade, inclinação civil e religiosa, certeza do
comprometimento educacional da primeira infância nos desígnios de ambos os
sexos. Tudo isso vem esclarecer e nortear a mulher no compromisso de
moralização e desenvolvimento pleno do homem que deve olhar para a mulher com
respeito e cooperação.
JANUÁRIA
27/08/22
“ACHAVA QUE “EU” BASTAVA PARA O MEU FILHO”
Ela dizia que eu precisava arrumar um pai para
o meu filho, vê se pode!
Eu tinha sofrido tanto com o pai do Murilo que
não quis mais saber de homem, mas minha irmã achava que mulher sem marido tem
uma vida muito difícil. Ela dizia: “ruim com ele, pior sem ele”.
Mas, o meu ponto de vista era diferente. Eu
considerava que as mulheres podem fazer qualquer coisa, desde que tenham
iniciativa e ânimo. Eu ainda contava com a minha fé. Tinha a certeza de que
Deus estava sempre me protegendo, me amparando e seguia em frente, sem me
abater.
Porém, meu filho estava passando por momentos
difíceis na escola e minha irmã disse que aqueles comportamentos retraídos,
tímidos demais, amedrontados diante das pessoas, tudo aquilo estava relacionado
com a falta de uma autoridade masculina no lar.
Eu ri, imagina, falta de pai... Eu debochei da
minha irmã e fui para casa, mas comecei a prestar mais atenção no Murilo e
realmente, ele era introspectivo demais, medo do mundo? Por quê?
Eu precisava cuidar melhor do meu menino. Não
desejava que ele sofresse no mundo, conversei, argumentei e me posicionei como
a mulher mais forte do mundo, porém, nada mudou. Observei as crianças que
tinham pais presentes, eu não queria acreditar que ele sofria a ausência do pai.
Achava que “eu” bastava para o meu filho. Me
senti tão mal e procurei racionar defendendo minha posição. Quantas vezes não
presenciei crianças sendo maltratadas por pai e mãe que não queriam ouvi-las,
que agrediam publicamente ou que ignoravam? Quantas vezes o pai não agiu com
uma postura repressora no lar? Quantas vezes não percebi pais que eram inertes,
não serviam para nada e deixavam tudo nas costas da esposa? Como se a educação
dos filhos fosse tarefa exclusiva da mulher.
Eu não tinha motivos para acreditar que minha
irmã estava certa, mas queria que meu filho tivesse toda a base que permitisse
uma educação plena.
Pedi a Deus que me direcionasse, que Ele me
iluminasse os pensamentos para que eu pudesse cria-lo com a base necessária
para que ele se transformasse num homem valoroso.
Então, no dia da reunião de pais, pude
conhecer pessoas muito compromissadas com a educação de seus filhos, entre
elas, um jovem senhor muito educado. Ele me chamou a atenção pela forma como
conversava com seus filhos. Notei que ele tinha autoridade em sua voz, mas sem
perder a sensatez. Conversamos por algum tempo e expliquei minha situação de
mãe solteira, ele, por outro lado, disse o quanto lamentava não ter uma figura
materna em casa, já que era viúvo há cinco anos.
Naquele momento, conversei com Deus em
pensamento e não pude controlar o risinho: “Esta é a tua resposta Senhor?”
Aquelas crianças precisavam de nós, contudo,
muito mais do que isso, precisávamos um do outro. Alguém que fosse a autoridade
moral no lar, alguém que fosse a presença do amor abnegado e cheio de
sacrifício. Alguém que pudesse ser exemplo para os meninos, alguém que fosse a
conselheira, a apaziguadora.
Nos unimos pelo bem comum, em nome da harmonia
e desenvolvimento dos meninos. Eu gostei muito dele, me senti a vontade para
desabafar. Parecia que ele compreendia todos os meus padecimentos como mãe e eu
gostei dos meninos, rapazinhos que me respeitaram de início e simpatizaram com
meu filho.
Entre nós nasceu uma bela amizade e pudemos
nos amparar, até que nasceu um amor fortíssimo que fez com que convivêssemos
durante muitas décadas.
Eu não imaginava mais minha vida sem eles, a
minha família!
Foi uma família tão diferente naquela época.
Ele era viúvo com dois filhos, eu era mãe solteira com um filho. Ninguém diria
que daria certo, mas deu porque nós pensamos primeiro neles, nos nossos
meninos.
Foi um casamento arranjado por nossas
necessidades e que fez nascer o amor decorrente do respeito e amparo mútuo. Foi
muito bom recebê-los por presente de Deus.
MARINA
21/08/22
---Paula Alves—
“NÓS
PRECISAMOS REFLETIR PARA EDUCAR MELHOR OS FILHOS”
Ele era estúpido com a menina, sempre foi. Eu
tentava abafar, colocar panos mornos e disfarçava, dizendo que ele estava
cansado ou qualquer coisa assim, mas eu sempre notei.
O desejo era um filho homem. Na época, todos
eles queriam um filho homem, era o orgulho do pai, mas a mulher era um
escândalo.
Acho que eles pensavam que a mulher podia se
perder na vida, enquanto o rapaz podia ser um braço forte no auxílio do lar,
sei lá.
Sempre amei minha filha. Nunca me deu um pingo
de trabalho, delicada e atenciosa, não ousava levantar os olhos para o pai, me
dava dó.
Eu me esforcei e consegui engravidar. Quando o
menino nasceu, foi a alegria daquele homem. Ele tomou um porre de tanto
contentamento, dizia: “O meu
filho!”
Ele falava com a boca cheia, sei lá o que ele pensava.
Mas, ele mordeu a língua. Com o passar dos
anos, o menino deu tanto problema. Acho mesmo que foi por causa da forma que
foi criado. Predileção sem disfarce, muita tolerância, sem reprimendas. Meu
esposo achava bonito tudo o que o menino fazia, ele criou um monstro.
Eu me perguntei por que não fui mais dura. Por
que não tive uma conversa séria com meu esposo, expondo meu ponto de vista. Eu
estava percebendo tudo, era tão fácil distinguir.
Os pais amam, podem até ter predileções, mas
conseguem saber quem é o filho, conseguem reconhecer seus deslizes e
limitações.
Eu não acredito naquele pai que fala que não
sabia que o filho era ladrão ou espancava mulheres. Claro que ele sabe. Será
que não viu o desenvolvimento deste filho? Por que se surpreende com o
linguajar ou a forma de se relacionar com as pessoas?
Cada um vai colher o que plantou e nós
plantamos uma semente com más tendências, não fizemos o trabalho de poda ou
limpeza da terra, nós não colocamos a terra fértil da educação moralizadora
porque permitimos que fizesse tudo o que achava conveniente. Foi o fim!
Minha filha, estudou, desistiu de conquistar o
pai. Ela já sabia que só teria um pai omisso, que a ignorava, então, ela foi à
luta. Logo, conseguiu diploma, emprego, apartamento, mas me visitava sempre
procurando não encontrar com o pai e o irmão que faziam de tudo para
humilhá-la.
Meu filho teve um período triste: envolvimento
com drogas, roubos, tormentos que nos arruinaram. Meu esposo ainda tentava justificar
dizendo que o problema eram as más companhias, sempre teria uma justificativa.
Por último, precisamos recorrer à internação
porque ele estava incontrolável, tentou agredir o pai, roubou pertences do lar.
Eu me senti frustrada, derrotada como mãe, a
gente sempre acha que a culpa é nossa. Que não fizemos todo o possível para
moralizar o filho, por isso, ele se desvia. Na verdade, nunca teve
direcionamento adequado, Deus, envolvimento com prece, autoridade legítima de
pai e mãe, falhamos feio.
Envelhecemos e aquele rapaz internado. Quando saiu, mal sabia se comportar, não tinha estudo, não tinha conhecimento nenhum, experiência, como iria arrumar emprego? Foi a irmã quem ajudou. Arrumou emprego, inseriu na escola para adultos e cuidou de nós.
Quanta coisa errada! Minha filha teve
escrúpulos, dignidade, nos auxiliou porque teve bom coração e não desamparou a
família porque se fosse rancorosa teria deixado tudo de lado para viver a
própria vida.
O fato é que houve muito preconceito no lar
porque ela era mulher e ele recebeu mordomias por ser homem, privilégio como
homem. Sexo forte? Não parecia.
Eu também errei muito. Nós precisamos refletir
para educar melhor os filhos. Conversar com o cônjuge que se ilude e confunde
as coisas.
Ter juízo para conduzir os semelhantes, para
não cair nas próprias mazelas e comprometer o desenvolvimento de quem Deus
coloca sob a nossa tutela.
LEANDRA
21/08/22
--Paula Alves—
“OS
PAIS DEVERIAM SABER QUE PODEM RECEBER NO LAR AFETOS OU DESAFETOS DO PASSADO”
Eu escutava aquele choro e saia correndo
tentando impedir. Lá se foi outra surra. Eu pedia explicações, qual era o
motivo de tudo aquilo?
Ele dizia que o menino não o respeitava. Mas,
eu perguntava se precisava bater daquela forma.
Eu tentava defender, mas não conseguia.
Estavam sempre brigando, sempre. Cheguei a pensar que meu esposo era
problemático porque não era normal bater no único filho daquele jeito.
Ele dizia que os pais tinham que dar corretivo
aos filhos, senão cresciam sem controle, mas o menino ficava cheio de hematomas
e eu chorava de tanta tristeza.
Por isso, pensei em me separar para que o
Júlio pudesse ficar em paz, sem os murros daquele pai tão autoritário.
Em mim, ele nunca encostou um dedo, sempre foi
educado e cordial, mas com o filho era um terror. Mas, num dia, meu filho
apanhou tanto e eu disse: “Vamos embora! Eu não aguento mais tudo isso.”
Eu estava arrumando as nossas coisas e o
garoto falou:
— Deixa mãe. Ele é assim mesmo. Eu vou crescer
e vou embora, enquanto isso, vou suportar. Você não precisa largar o seu marido
por minha causa.
Eu chorei mais ainda. Como aquele menino podia
ser mais maduro que nós?
Eu achei mais conveniente mandar meu filho
estudar em outra cidade, só para afastá-lo do pai. Viveram separados até que
ele se formou e chegou para me ver. O pai olhou para ele com sangue nos olhos,
foi como se o tempo não tivesse passado.
Ele procurava um motivo para brigar, mas eu
fui apaziguando, queria tanto que ele viesse morar conosco, mas não poderia.
Como estaria a mente daquele jovem? Quais
seriam a lembranças que ele guardava durante todos aqueles anos? Falta do pai?
Não daquele pai agressor.
Foi uma vida de distanciamento, eu via o meu
filho raramente e só entendi tudo o que se passou quando cheguei aqui.
Meu esposo aceitou receber como filho um
antigo desafeto do passado. Na hora de formalizar o plano pareciam como pessoas
que se reconciliaram e se tornavam amigos, mas quando ele sentia a presença do
desafeto diante de si, com as lembranças apagadas pelo corpo físico, nutriu a
animosidade, o rancor e a ira faziam com que ele agredisse o filho de qualquer
maneira.
Como seria possível impedir tudo o que
sucedeu?
Os pais deveriam saber que podem receber no
lar afetos ou desafetos do passado. São sempre as mesmas pessoas que estão se
envolvendo, raramente são pessoas novas, desconhecidas.
Aqueles que se unem pelo sangue podem ser
inimigos que têm a oportunidade de se fortalecer pelo afeto sincero, pela amizade
construtora e o amor que remove as montanhas da dificuldade e intolerância.
Ninguém sabe quem é o bebê que está no berço,
mas se você sente desconforto e impulsos negativos, se fortaleça no amor de
Jesus que nos pede para amparar os irmãos que estão sob o nosso amparo.
Lembre-se de Jesus dizendo que devemos nos reconciliar com os irmãos, enquanto
estamos a caminho com ele, enquanto estamos encarnados, ao lado deste irmão, no
mesmo lar.
Aquele ser que mais causa repulsa pode ser o
objetivo da nossa vida. Pode ser o motivo pelo qual reencarnamos e devemos
fazer tudo o que podemos para nos conciliarmos com ele, desenvolver nobres
sentimentos e amparar no que precisar.
Senão, precisarão de muitos regressos para
concluir o plano. Precisarão de muito esforço para despertar o amor que pode
quebrar os elos de desavença que os une.
NICOLE
21/08/22
--Paula Alves—
“E
POR QUE É QUE UM PAI ACHA QUE O FILHO NÃO PRECISA DELE?”
Eu não podia exigir que ele me amasse. Meu pai
dizia que nunca quis ter filhos, mas minha mãe forçou a barra para casar com
ele.
Ele ficou furioso quando soube do golpe da
barriga. Ele tinha uma boa posição social e levou uma dura do meu avô. Este
deixou bem claro que meu pai envergonhou toda a família, mas iria arcar com a
sua responsabilidade, mas meu pai não queria casar.
Casou na marra, obrigado. Minha mãe estava
muito feliz, mas ele se tornou um homem violento e foi melhor a separação para
libertá-los.
No meio disso tudo, eu surgi. Foi um
nascimento turbulento, mas mamãe me adorou. Ela dizia que valeu a pena todo o
martírio porque eu era a luz da vida dela. Minha mãe me criou cheia de carinho,
mas eu sentia falta do meu pai.
Ele nunca deixou faltar nada para nós, nada
mesmo. Eu tive uma casa maravilhosa, estudei nos melhores colégios, festas das
mais lindas, porém, nunca tive a presença dos familiares paternos. Foi como se
fossemos oportunistas durante toda a nossa vida.
Eu soube que ele se casou e teve três filhos
amados e cheios de felicidade. Senti tanta inveja! É difícil crescer sem o amor
de um pai. A gente sempre quer o que não tem.
Eu entenderia se ele não quisesse ver minha
mãe, contudo, nunca entendi por que ele não queria me ver, não sentiu vontade
de me conhecer e de se relacionar comigo.
Isso me envolveu a vida toda, mexeu muito
comigo. Questão de psicanálise, as pessoas sempre acham que nosso problema se
relaciona com pai ou mãe, é mesmo. No meu caso, cem por cento.
Queria ter a mínima atenção, ter contato com a
família e poder apresentá-lo como meu pai, mas isso foi impossível.
Eu tentei entender na terapia que as pessoas
vão doar para nós aquilo que elas têm para nos fornecer, mas estas frases de
efeito não funcionavam no fundo do meu ser, era tudo da boca para fora para não
comover as pessoas com a minha carência afetiva.
Acho que o mais prudente seria se prevenir
para não ter filhos. Ele não sabia que poderia engravidar minha mãe? Então, por
que se relacionou com ela? Um romance rápido e passageiro que permitisse alguns
minutos de contentamento foram permitidos?
Eu não posso perdoar o que ele me fez. Por
mais que eu tente entender os seus motivos, ele se dizia enganado e, ainda
assim, eu não consigo sentir indulgência por ele.
As pessoas acham que estão nesta posição de
superioridade tamanha que podem ignorar as outras, determinar que elas não se
aproximem como se fossem serem contagiosos de doença terrível. Ele me humilhou
e entregou uma pequena fortuna para nos calar.
Talvez, meu mal tenha sido usufruir a vida
toda de regalias que eu sei nunca me pertenceram. Dinheiro amaldiçoado porque
fez com que ele nunca se aproximasse de mim, nunca me visse como alguém que
precisasse dele.
E por que é que um pai acha que o filho não
precisa dele? Não precisa do apoio moral? Nem tudo se compra com dinheiro...
Eu vou fazer terapia deste lado também? E não
vou conseguir compreender por que aquele homem nunca quis ser meu pai.
ISABEL
21/08/22
----Paula Alves---
“FIZ
POR ELES, O QUE QUERIA TER RECEBIDO DO MEU PAI”
Difícil? Será que foi difícil? Chegar, namorar com a mãe e fazer outro filho?
Era só isso que ele sabia fazer, filhos e
deixar que a mãe se encarregava de educar, amar e dar todos os cuidados. Isso
era difícil, o trabalho da mãe.
Eu cansei de ver meu pai chegando em casa e
procurando a mãe, sem ver o que estávamos fazendo. Ele nunca se preocupou se
tinha alguém doente ou precisando de algum corretivo que fosse, nunca perguntou
se estávamos metidos em encrenca.
Ele gostava da mãe, mas a mãe tentava fugir.
Acho que ela não aguentava mais fazer filho e ter que assumir tudo sozinha,
isso sim.
Tem homem que age desta forma, ama a mulher e
a maneira como eles se entendem. É tanto que, muitos deles, quando se separam
da mulher, não se interessam pelos filhos. O laço de união é a mulher, nunca o
amor pelos filhos.
Meu pai foi assim, ausente como pai, ausente
como alguém que pudéssemos admirar ou que pudéssemos solicitar nos momentos
difíceis das nossas vidas. Pessoa não grata, que nunca desejou nos conhecer e
que sentia que éramos como peso morto a exigir coisas que ele não era capaz de
executar.
Para mim, estava muito claro que ele só serviu
para nos fazer nascer e mais nada. Mas, teve um dia que ele cobrou:
— Mais respeito, cabra.
— Respeito? E você sabe o que é isso? Então,
dê-se ao respeito, meu senhor. Todo aquele que pede respeito, deve, antes de
mais nada, saber o que isso significa. Creio que o senhor não saiba o que diz o
respeito porque nunca nos ensinou a respeitá-lo — eu falei.
Naquele dia, eu já era homem feito,
trabalhador e responsável. Eu não admitia que ele me exigisse o que quer que
fosse e nem permitia que ele abusasse de mãe.
Respeito se conquista, ninguém pode exigir.
Acredito que, desde cedo, os pais cativam o respeito dos filhos através da sua
autoridade moral, amor e condescendência. É algo adquirido naturalmente e não
imposto.
Eu não tinha como respeitá-lo e, muito menos
amar alguém que nunca desejou cuidar de mim ou me conhecer. Cheguei a duvidar
se ele sabia nossos nomes.
Que tristeza! Pai só porque fecundou? Não pode
ser só isso.
Mas, quando ele estava velho e acabado,
precisando de ajuda e cuidados integrais, soube pedir nossa ajuda. Exigiu que
fossemos filhos decentes, mas como nenhum de nós quis ficar com ele, o
irresponsável procurou a mãe. Minha velha mãe, tão delicada não permitiu que
ele ficasse na rua, colocou o homem para dentro e pediu que cuidássemos dele.
Ela nos fez jurar.
Acho que é a mulher quem sabe unir os familiares,
ela que faz considerações importantes e sabe ser abnegada e fazer sacrifícios
para ver todos em paz.
Nós cuidamos dele por causa dela. Mas, super
contrariados. Foi muito difícil porque eu esperava mais dele. Ao menos, no
final da vida, esperava que ele percebesse o quanto errou, mas não houve um
momento em que ele percebesse o muito que nos fez sofrer.
Um pai faz diferença na vida da gente. Acho
até que transforma o ser para melhor ou pior. Dependendo da imagem de pai que
você tem, isso te coloca diante dos superiores com outra consciência. Mesmo sem
querer, a gente acaba seguindo os passos do pai.
Mas, eu me esforcei e posso afirmar que fui
muito diferente do meu pai. Eu me casei, procurei ser bom esposo e bom pai para
que tivessem orgulho de mim e pudessem me considerar como alguém que poderiam
contar em todos os momentos da vida. Fiz por eles, o que queria ter recebido do
meu pai.
TOMÁS
14/08/22
--Paula Alves—
“COM
POUCAS PALAVRAS VOCÊ PODE ANULAR TODO O MAL”
Cresci ouvindo aqueles lamentos. Ela chorava
noite e dia porque causa dele. Ela pensava que éramos pequenos e não tínhamos
como saber o que se passava em nossa casa, mas era fácil compreender.
Meu pai era tão mulherengo! Minha mãe sofria
com as diversas mulheres que iam procura-lo em nossa casa. Ela chegou a agarrar
uma delas pelos cabelos. Que horror!
Eu jurei para mim mesma que nunca iria me
apaixonar para viver uma vida de lamentos. Todos os homens me faziam lembrar o
pai e aquela solidão que a mãe sentia, o constrangimento que ela sentia. Até
que ele se cansou da mãe e fugiu com a nossa vizinha. Foi um baque para a mãe,
como ela chorou...
Daí para frente foi o fim de qualquer
compromisso que eu pudesse ter. Eu matei os homens dentro de mim e não quis que
se aproximassem, então me caracterizei de homem e me interessei por mulheres.
Eu não deveria culpa-lo por minha
homossexualidade, mas após refletir inúmeras vezes, sei que o motivo foi este
dentro do meu ser.
Eu não queria que ninguém me fizesse sofrer
como ele fez a mãe sofrer. Comigo não e para não condenar o meu pai, falava que
nenhum homem prestava. O problema era ele, o meu pai, mas eu não tive
maturidade emocional para perceber isso.
Ele se esqueceu de todos os compromissos
assumidos com a nossa família por causa daquela mulher. Será que é tão fácil
esquecer da família?
É muito humilhante e horrível ver seu pai ir
embora com outra mulher, não desejo para ninguém, mas minha mãe o amou tanto,
ela não merecia.
Eu pensei na piedade filial quando desejei que
ele morresse. Eu me lembrei do Honrar pai e mãe quando desejei que ele
adoecesse e viesse nos pedir por cuidados. Eu sabia que devia desejar coisas
boas para o meu pai, mas do fundo do coração eu não podia perdoar o que ele nos
fez.
Teve muita gente que disse que ele só
abandonou a minha mãe, mas quem abandona a mãe, abandona a família toda. Não
existe meio termo. Ele nunca mais quis saber de nós.
Então, no fim da vida, ele quis me ver para
pedir perdão. Falou que se arrependeu por tudo o que nos fez sofrer. Então, ele
sabia que nós sofremos por ele?
Ele desejou me ver e quando me viu disse que
ele nunca teve um filho, mas sim, uma filha. Ele nem me reconheceu. Então, eu
me aproximei e disse quem eu era, sua filha.
Ele não conseguiu me pedir perdão porque eu
disse que não podia perdoá-lo. Que ele ia se entender com a Justiça de Deus, não
comigo, mas dentro do meu coração não tinha nada de bom para entregar a ele.
Ele chorou e eu me senti livre daquela
situação.
Estranho, mas eu precisava saber que ele se
lembrava de nós. Eu só queria que ele mostrasse arrependimento, mais nada.
Acho que muitos de nós, só precisam saber que
as pessoas sabem que fizeram algo errado e nos ofenderam. Muitas vezes, as
palavras não são necessárias, outras vezes, com poucas palavras você pode
anular todo o mal, quando o outro diz sinceramente o quanto errou.
Isso é necessário para que o perdão brote nos
corações.
SANDRA
14/08/22
--Paula Alves—
“MEU FILHO DISSE QUE EU FUI O SEU HERÓI”
Eu nem sabia que gostava tanto de crianças.
Quando vi aquele rostinho, tão parecido com o meu, eu me apaixonei.
Faria tudo por ele, o meu filho. Nasceu
naquele momento, ali na maternidade, um novo homem. Eu jurei pra mim mesmo que
precisava me comprometer com coisas mais integras e nobres para que o meu
menino não tivesse motivos para se envergonhar de mim.
Parei de beber e me entreguei ao trabalho
sério, bem executado porque queria que pudesse ouvir de mim, apenas coisas
boas.
O menino cresceu e o pai se esforçando em ser
um homem de bem. Claro que deu trabalho! Eu já não estava envolvido com as
mesmas pessoas que se distanciaram de mim porque diziam que eu era muito
careta.
Mas, meu filho estava crescendo e eu precisava
me reformar para poder cuidar dele.
Quando meu garotinho estava com cinco anos,
comecei a perceber estranhas tendências ligadas ao furto. Fiquei intrigado:
“Meu filho?”
Não podia ser, tão pequenino e já estava
comprometido com o mal?
Eu não bati, mas repreendi e expliquei
claramente que um homem de bem não pode pegar nada que seja do seu semelhante.
Falei de amor ao próximo e do direito da propriedade alheia. Notei que eu
estava cometendo uma falha: o menino não conhecia o Evangelho do Mestre.
Tratei de levar para a catequese. Ele
precisava de exemplos e de respeitar uma força maior: Deus.
Meu menino nunca mais quis roubar. Mas, eu
fiquei na cola dele. Estava sempre conversando para compreender o que se
passava em seus pensamentos e desejando corrigir se tivesse algum desvio.
Sei que, com o passar dos anos, foram inúmeras
as vezes em que pensava não ser possível disciplina-lo e colocá-lo no caminho
do bem. Mas, um pouco antes de eu morrer, antes de deixar meu corpo físico para
trás, tivemos uma conversa proveitosa.
Meu filho já estava criado, homem de bem,
trabalhador, amoroso e sério, servo do Senhor. Ele disse que jamais poderia me
agradecer adequadamente por tudo o que fiz por ele. Meu filho disse que eu fui
o seu herói, o seu exemplo de homem de bem, digno, responsável e amoroso com a
família.
Eu fiquei tão feliz. Quando modifiquei toda a
minha vida por ele, não foi para ouvir isso, foi simplesmente porque eu queria
que ele tivesse um exemplo de homem centrado, funcionou. Eu parti muito feliz
porque deixei meu filho melhor do que o recebi. Acho que cumpri meu papel de
pai.
JOAQUIM
14/08/22
---Paula Alves—
“DAS
PROVAS QUE TEMOS PARA PASSAR, SÓ DEUS PARA COMPREENDER”
Tem pai que cuida melhor que uma mãe.
Tudo depende da intensidade do sentimento. Ele
nos amou infinitamente.
Quando minha mãe arrumou as malas e foi embora,
nos deixou pequenas com o pai que mal sabia lavar uma roupa. Meu pai chorou
dizendo que ela não ia nos levar embora para passar necessidade na rua, se ela
queria ir, fosse sozinha. E ela foi.
Meu pai foi pai e mãe. Nunca foi leviano ou
desonesto. Nunca nos deixou por causa de mulher, jogos ou bebidas. Ele nos
criou muito bem e soube colocar nossas necessidades físicas e morais sempre em
primeiro plano.
Penso como deve ter sido difícil para ele.
Assumir uma casa e três menininhas sem saber o que fazer, sozinho. Ele fez tudo
tão bem e ainda cuidou da casa.
À medida que fomos crescendo, as coisas se
tornaram mais fáceis e após dez anos, ela retornou muito mudada, tão
maltratada, sem dentes, emagrecida e esfarrapada que nós não a reconhecemos,
mas ele a reconheceria a quilômetros de distância.
Ela entrou em casa, morta de fome e quis se
aproximar de nós, mas quem era ela? Um alguém que nos deixou por um homem
qualquer?
Ele a alimentou e pediu que fosse embora
porque estávamos bem sem ela. Nós o apoiamos, ela partiu para sempre.
Crescemos e ajudamos o pai em tudo. Apoiamos
para que ele arrumasse outra companheira, mas ele se decepcionou muito, não
quis ninguém.
Foi ótimo pai, bom avô, sogro, amigo, bom
filho. Uma pessoa maravilhosa que merecia ter sido mais feliz, mas das provas
que temos para passar, só Deus para compreender.
Eu sou muito grata por ter tido um pai tão
presente e amigo. Meu pai foi um herói, um exemplo, um conselheiro.
Meu pai foi o melhor pai do mundo e eu sou muito
agradecida por ter recebido nobres ensinamentos do meu pai.
CRISTIANE
14/08/22
“POR QUE DESEJAMOS TANTO?” “MAIS DO QUE NECESSITAMOS, MAIS DO QUE PODEMOS GASTAR OU USUFRUIR?”
Eu sempre fui muito trabalhador. Acreditei que fosse incansável!
Me submeti a longas jornadas de trabalho, sem
pausas ou parada para o almoço. No início, nem percebi a debilidade orgânica,
achei que fosse, apenas mal estar passageiro, mas com o passar do tempo...
Naquela época, eu justificava minha conduta
pensando na família que merecia mais conforto e possibilidade de
desenvolvimento educacional, mas na verdade, eu queria me gabar, ostentar junto
a amigos e familiares. Mostrar para todos minha ascensão, mérito meu, dos meus esforços.
Eu nunca acreditaria se alguém me dissesse que
eu estava sendo tão orgulhoso. Para mim, estava bem intencionado, buscando o
progresso da família, mas para quê?
Por que desejamos tanto? Mais do que
necessitamos, mais do que podemos gastar ou usufruir? Se ainda tivesse a
preocupação de ajudar os semelhantes, se tivesse a preocupação de dar de comer
para os menos favorecidos, vá lá, mas não foi este o motivo.
Nós corremos tanto e nos descabelamos para
ter, ter mais do que todos para sermos apontados como os mais favorecidos, onde
os “abençoados” se distinguem pelos que têm mais. Inversão de valores!
Ter mais para acumular nos celeiros. Construir
celeiros maiores para guardar, nunca pensando em dividir, em beneficiar o
próximo. É uma loucura!
Por isso, fui me desgastando. Primeiro
fisicamente e depois, mentalmente.
Eu nem percebi porque não tinha tempo para
nada. Minha esposa podia ter percebido se ela não se sentisse beneficiada pelos
meus esforços, por meus delírios e tormentos de ter mais e mais. Ela não tinha
tempo para reconhecer o quanto eu estava definhando, ela só olhava para os
móveis, roupas e sapatos de luxo. Ficava procurando viagens e casas maiores,
carros novos. Era muito para se preocupar, nem reparou no marido se esvaindo.
EU NÃO A CULPO. EXISTEM QUANTAS POR AÍ?
A questão é que, quando a doença chegou, nada
mais era tão importante e eu me indignei. Me revoltei comigo, com ela, com meus
filhos, amigos e parentes. Até me lembrei de Deus, eu o culpei também.
Ingrato! Um filho que nunca percebeu a
existência de seu Pai e Criador, na hora do sofrimento, da fragilidade e
impotência, ergue o olhar para o céu para blasfemar. Que vergonha!
Eu fiz tudo isso. Tive que me afastar do
trabalho, aos poucos precisei de tratamentos sofisticados, caríssimos. Vendi
meus bens, pouco a pouco, foi a derrocada.
As pessoas se afastaram, minha mulher se
separou. Ela foi muito esperta, conseguiu ficar com boa parte dos nossos bens e
eu, estava sozinho e empobrecido, doente e indignado.
Como a vida muda! Ninguém pode dizer: “Desta
água não beberei”.
Não pode não, sabe por que? Quantos existem
iguais a mim?
Será que aquelas pessoas que te cercam, te
amam sinceramente? Te amam por quem você é, pelo que representa ou pelos bens
que possui?
São os afetos alicerçados na areia, fantasia,
ilusão, baseados nas necessidades materiais. Aqueles afetos que dissolvem
naturalmente, somem sem deixar rastros, sem deixar nada de bom.
Dizem que é, nestas horas, que conhecemos a
verdadeira face das pessoas e a nossa também, quando estamos despojados da
matéria.
Eu aprendi muito nesta vida. Solidão, doença,
orgulho, mesquinhez. Tudo poderia ter sido bem diferente se eu tivesse
valorizado a matéria na justa medida, nem mais, nem menos.
Eu compreendi porque devemos tentar ter uma
vida mais simples com desejos mais simples, sonhos mais simples, menos ambição,
mais progresso moral.
Viver de forma simples, aproveitando os bons
momentos, os afetos sinceros, a brisa da manhã, os abraços saudosos, as
lembranças de infância, as ambições infantis, o luar, a nobreza da alma.
Eu aprendi muito nesta vida. Foi bom
compartilhar.
ELÍSIO
06/08/22
--Paula Alves--
“QUEM SERÁ QUE VAI ENTRAR?”
Maria queria ouvir Jesus e deixou as tarefas
domésticas de lado, elas podiam esperar.
— Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe
será tirada — disse Jesus.
O que é a melhor parte da existência
terrestre? Eu ficava me perguntando e não conseguia entender. Acho que, naquela
época, ainda não estava desenvolvido o suficiente para compreender o que
significa esta passagem evangélica.
De certo, porque eu me comportava
semelhantemente a Marta e estava sempre tão afobado para concluir meus
trabalhos e inquietações do plano físico.
Eu não compreendia o quanto a vida serve para
nos ajustarmos com toda a Criação.
Nunca parei para contemplar o Universo com
esta visão do quanto somos pequeninos. A humildade é a maior lição que
recebemos do Cristo porque nos leva a crer que não temos vantagem nenhuma sobre
os demais. Nós somos iguais e merecemos as mesmas concessões, permissões, mas
também temos que ter os mesmos esforços e provas, assim como temos as mesmas
necessidades.
Enfim, era difícil para mim, entender que
Marta era como eu, pensando na matéria, nos problemas da carne, desesperada
diante de questões triviais e corriqueiras, deixando passar diante dela um
momento esplendoroso e se conservando na cegueira, perdendo a chance de
sentar-se aos pés do Mestre, perdendo a oportunidade de servir-lhe, atenta,
alimentando-se da Palavra que ilumina.
Eu também fiz o mesmo. Lia e não compreendia.
Lia e não fazia o mínimo necessário para servir-lhe de instrumento, para
segui-lo.
Eu nunca pratiquei a caridade, eu não fiz o
mal, porém, também não fiz o bem. Eu não me esforcei para a reforma interior,
não me preocupei em assimilar novos conhecimentos ou adquirir virtudes que
poderiam me enobrecer. Acomodação!
Acho que esta palavra resume: Acomodação!
Ler o Evangelho e não refletir. Ler e não
compreender. É como comer e não mastigar. É ficar entalado, não se nutrir
adequadamente. Não tem como operar transformação sincera. É falar do Mestre da
boca para fora. Isso não é ser cristão!
Eu demorei muito tempo para entender que foi
uma falta de respeito. Uma mentira, uma farsa.
SERÁ QUE A GENTE NÃO CONSEGUE ENTENDER TUDO ISSO, ENQUANTO ESTÁ
ENCARNADO PORQUE ESTÁ TÃO ENVOLVIDO COM A MATÉRIA?
Mas, eu acho que não justifica porque em todas
as religiões existem pessoas que conseguem vivenciar o Evangelho e podem
iluminar os caminhos daqueles que desejam se converter como um fiel servo do
Cristo.
Mas, é que isso exige renúncia. É a renúncia
de si mesmo, renúncia dos seus prazeres, gostos e hábitos, vícios e pensamentos
mundanos.
As pessoas zombam de quem age assim. Passa a
ser taxado de ridículo, brega, demodê.
Eu queria estar no grupo de amigos de sempre. Fui
muito sociável e me corrigir, me transformar exigia um novo estilo de vida,
irrepreensível. Eu não sabia se estava pronto para assumir uma nova vida, por
isso, fiquei na mesma.
Que pena! Eu poderia ter me elevado tanto.
Sofri quando desencarnei.
Realmente a gente só descobre o caminho
através dele. Todos os outros, precisam expurgar nas zonas inferiores. Não tem
como acessar lugares melhores estando tão obscurecido. Precisa de luz para
entrar no Reino dos Céus, ou seja, neste local de refazimento com tão boas
criaturas.
Se eu soubesse, teria me esforçado mais.
Porém, tem que ser sinceramente. Seguir por amor ao Nazareno.
QUEM SERÁ QUE VAI ENTRAR?
MAURO
06/08/22
--Paula Alves--
“SE
EU TIVESSE ME ESFORÇADO PARA PRATICAR O BEM...”
Me colocaram para dar aula naquela sala e eu,
estava descobrindo o quanto as crianças me incomodavam.
Nem de longe aquela ideia fantasiosa do quanto
eram delicadas e ingênuas, elas me provocavam e eu me sentia ofendida.
Na real, hoje posso perceber que me coloquei
no mesmo nível delas, parecia ter a mesma idade mental.
Aquele menino gritava, silenciosamente um
pedido de socorro, mas eu estava vivendo meus dramas pessoais e não pude
perceber o quanto estava sendo agredido no lar.
Eu falhei! Falhei comigo e com ele. Aquela era
a minha oportunidade de resgate.
Eu fui tão infantil! Nós, nem sempre, podemos
perceber que reencarnamos para ajudar uma pessoa em especial. Uma única pessoa
e bum! Você se elevou, cumpriu sua prova, arrebentou de fazer bonito no
desenrolar do planejamento.
Como é que eu ia saber? Tão envolvida com o
aluguel, planos de aula e problemas governamentais que afetariam a minha
carreira, mãe doente e namorado traidor.
A minha vida estava um caos e eu ia imaginar
que minha vida estava atrelada àquele aluno?
Nunca! Não dava para imaginar, mas dava para
sentir.
Sabe aquele nó na garganta, dor de cabeça e
inquietação quando eu chegava perto do menino? Daí pensei que ele estava com
energia pesada. Ai, quanta mistificação!
Era bem mais simples. Eu me sentia mal porque
estava com assuntos mal resolvidos junto àquele menino - a minha missão.
Garanto que se eu tivesse me aproximado
dele... Se eu tivesse cumprido o meu papel, deixado os problemas fora da sala
de aula e observado melhor meus alunos, eu teria notado os hematomas dele.
Eu teria reparado na expressão corporal, a postura
de inferioridade, medo, angústia e depressão em que ele estava.
Eu podia ter proposto uma conversa informal e
descobriria que ele estava sendo molestado no lar pelo próprio pai. Será que eu
podia ter ajudado?
Eu precisava ter ajudado, mas eu não fiz nada
e soube, meses depois, que ele se suicidou.
Naquela época, eu fiquei chocada, mas retomei
minha vida, nem por um minuto, me cobrei, achando que fosse, de alguma forma,
responsável pelo acontecido.
Aquelas pessoas que podiam impedir e não fazem
nada, por omissão, por negligência, são sim, todas responsáveis.
O menino sofreu, se postou ao meu lado, me
perseguiu por um tempo, depois recebeu auxílio, mas eu...
A consciência é divina e nos cobra. Desenvolvi
uma enxaqueca que não passava com nada, vivi anos tomando medicações que me
dopavam, inconscientemente era a culpa que me cobrava.
Se eu tivesse me esforçado para praticar o
bem...
Em todos os locais onde somos colocados para
viver, existe a possibilidade de sermos úteis aos nossos semelhantes, assim ajudamos
e somos ajudados.
Mas, eu estava tão envolvida com meu próprio
umbigo que fracassei com aquele rapazinho que era tão importante para mim.
CIBELE
06/08/22
--Paula Alves--
“CADA
UM DE NÓS, PODE DESEMPENHAR SUA TAREFA NA SOCIEDADE E SE SENTIR MOTIVADO, FELIZ
E SATISFEITO”
Horas intermináveis fazendo listas. Aqueles
números estavam me angustiando. Parecia que eu ia surtar há qualquer momento.
A vontade de jogar tudo para o alto e viver
uma vida sem restrições e impedimentos, sem obrigações e a loucura cotidiana,
mas eu pensei que devia ser responsável com a minha família que precisava de
mim.
Engolia aquele delírio e tocava só mais um dia
naquele trabalho que eu odiava.
Sonhava em ser músico, qualquer lugar com um
violão, qualquer quantia que me desse a chance de viver da música, mas eu tinha
três filhos e meu pai sempre disse que aquilo era vida de vagabundo, não pagava
as contas.
Saia do emprego e ia direto para o bar, só
bebendo para esquecer daquele dia difícil. Eu achava que era só para relaxar.
Pensei que tinha o controle dos copos que eu virava, mas quando eu via, minha
esposa estava bem ali, diante de mim chorando, fazendo o maior esforço para me
carregar.
De novo? — eu pensava. Então, não tinha
controle.
Mas, todos os dias naquele emprego era tão
infernal que eu voltava no bar.
Até que um dia, o dono do bar apareceu com um
violão e falou que era uma brincadeirinha.
— Quem sabe tocar? — perguntou ele.
Eu falei que ia tentar. Até eu me espantei com
a forma que eu tocava. Eu nunca estudei música, nunca fiz aula e sabia tocar
daquele jeito? Me espantei. As pessoas foram chegando, dançaram e eu fiquei
muito feliz porque toda a minha vida desejei tocar e cantar daquela forma,
naquela noite eu nem bebi porque fiquei muito feliz.
Minha esposa estranhou meu contentamento. No
outro dia, trabalhei mais feliz e, ao voltar para casa, o dono do bar disse:
— Toca! Canta! Se a gente faturar te dou uma
comissão.
Eu fiquei muito contente, toquei e cantei. O
bar ficou movimentado e eu ainda faturei um dinheiro, não bebi.
Foi assim que a música entrou na minha vida e
eu me afastei do vício, tamanho contentamento de fazer aquilo que era minha
paixão.
Depois daquela fase de renovação, eu trabalhei
com a música, minha família aprovou e tivemos uma boa vida. Ótima vida!
Acredito que aquela arte estava adormecida
dentro de mim. Conhecimento adquirido em outras existências, amor pela arte que
não se perde, não importa quanto o tempo passa.
O vício esteve atrelado à frustração de uma
vida sem sentido, sem graça, sem cor. Nós precisamos ter motivação.
O trabalho não precisa ser como punição, como
um martírio. Cada um de nós, pode desempenhar sua tarefa na sociedade e se
sentir motivado, feliz e satisfeito. Quando isso acontece é mais fácil dar o
seu melhor, trabalhar uma hora a mais, independente do cansaço porque o
trabalho estará sendo feito com prazer de servir.
Eu nunca pensei que era tão importante
respeitar nossas aptidões.
06/08/22
Nenhum comentário:
Postar um comentário