Cartas de Junho (20)

  

 “O CORPO TEM SUAS NECESSIDADES, MAS O PIOR É A NECESSIDADE DA ALMA”

Quanta tristeza! Eu não tinha motivos para sorrir, pelo contrário, tinha uma dificuldade enorme para conter as lágrimas insistentes.

Eu me constrangia da melancolia que compelia meu coração, mas tudo me afligia. A situação dos outros, a minha, as necessidades sociais e a apatia do mundo, a inércia das pessoas, a discriminação, a fome, guerra, injustiças sociais. Eu me comovia e gerava em mim muita angústia.

Ver o quanto as pessoas curtiam a vida, enquanto outros tinham suas necessidades básicas contrariadas, me fazia sofrer demais. Tentei fazer algo por onde passei, eu tentei ser útil, mas dentro do meu peito brotava a súplica por um futuro melhor.

Até que um dia, eu não tive forças para lutar, foi como se tudo estivesse perdido. Eu olhei para o céu e parecia que, por mais que eu desejasse, as coisas jamais tomariam um rumo diferente. Pensei que eu estava destoando no mundo porque as pessoas conseguiam seus minutos de felicidade e eu, não. Não tinha como ser feliz com tantos sofrendo a minha volta, de mãos atadas, dizendo uma verdade que, apenas eu reconhecia.

 

As pessoas se deslumbram facilmente e se deixavam enganar, aquilo me enojava. Eu me permiti chorar, me deitei e não senti mais vontade de sair dali. Eu fiquei na cama por três dias. Os pensamentos aflitivos me atormentavam sem cessar e, por mais que eu me sentisse uma covarde, não tinha forças para me erguer. Depressão?

Não sei dizer quando tudo começou. Só sei que eu vi um abismo no mundo, um buraco sem fim que não cedia lugar para a esperança ou vitalidade. Eu desisti. Não tinha nada que me fizesse desejar seguir em frente.

Não tinha ninguém ao meu redor que pudesse perceber o meu sumiço. O mais triste de tudo é perceber o quanto você é substituível, o quanto as pessoas não se preocupam com seus sentimentos ou inclinações. Eu não tinha ninguém que pudesse sentir minha falta e desejar que eu ficasse melhor. Não podia desejar chamar a atenção porque não havia ninguém.

Eu simplesmente, me deixei levar pela apatia e fiquei ali esperando que algo acontecesse, mas eu, apenas senti fome e tristeza.

O corpo tem suas necessidades, mas o pior é a necessidade da alma. Necessidade de mudança, de elevação e de alegria.

Eu sai de lá, cuidei do meu corpo e orei, pedi a Deus que me ajudasse a tocar a vida porque eu só podia contar comigo e com Ele. Nunca foi muito melhor do que isso. Foi uma vida inteira percebendo as negatividades do mundo, tentando produzir sem avançar quase nada. A sensação de que perdi um tempo precioso e a vontade de fazer mais sem poder. Ainda tenho isso dentro de mim. Parece que perdi aquela vida e as oportunidades. Eu me deixei levar por este sentimento de derrota que avassala muitas pessoas. Todas que parecem caminhar pelo mundo sem serem percebidas.

É triste viver sem deixar nada que possa ser lembrado. É como uma vida que foi jogada fora.

 

LILIANE

25/06/2023

  

--Paula Alves—

  

“TODOS MERECEM SER OUVIDOS, OS JUSTOS E OS INJUSTOS, CERTOS E ERRADOS, MAS MERECEM SER OUVIDOS COM RESPEITO E PACIÊNCIA”

 

Eu falava em casa, pedia ajuda, mas meus pais achavam que eu era exagerada. Dizia que eu precisava fazer amigos e namorar. Minha vida era sem graça e isso não me dava motivação. Mas, eu me sentia triste demais. Não podia ser normal.

Falei com meus irmãos, esperava que me entendessem, mas eles riram de mim. Falavam que eu era esquisitona, dava muita importância para banalidades, sofria demais, tinha que ter uma vida mais despojada e feliz. Eu precisava curtir os bons momentos da vida e deixar de bobagens.

Eu não tinha amigos, falei com uma professora e ela disse que eu estava com os hormônios aflorados, por isso, era muito sentimental. Falou que as coisas iam melhorar nos próximos anos.

Eu chorei tanto... Por que as pessoas não podiam me compreender? Procurar me ouvir com atenção e compreender meus sentimentos? Eu chorei e pedi a Deus que meus sentimentos pudessem ser acalmados porque eu não aguentava mais aquela inquietação, desespero e dor.

Eu sentia como se tivesse um buraco no peito, era o fim sem chance de recomeço ou de salvação e eu não aguentava mais me sentir assim, todos os dias. Eu chorava todos os dias e sentia que ninguém me entendia todos os dias porque eles riam, faziam chacota e diziam que era besteira. Por que meus sentimentos eram sempre besteira? Por que eram meus?

 

Lutei durante tanto tempo, mas não aguentei quando fizeram gracinhas com minha situação numa festa de família. Doeu demais! Ouvi uma voz dentro de mim, aconselhando para acabar com tudo, pôr um fim na vida doente que eu levava. É difícil lutar contra a inclinação de destruição. É muito difícil!

Chorei e para controlar a vontade que ameaçava minha vida, fiz uma loucura. Peguei umas peças de roupas, meus documentos e fui embora. Não tinha como saber como seria minha vida, eu também não tinha como conjecturar naquele momento, mas eu precisava me salvar saindo dali, daquele ambiente onde tudo era levado na base da brincadeira e as pessoas insistiam em me fazer de boba. Ninguém nunca me levou a sério.

É insuportavelmente desagradável quando as pessoas não nos compreendem e não tentam nos compreender. Alguns fazem isso para encerrar o assunto, outros para se colocar como superiores em determinada ocasião, para fazer gracejos ou simplesmente porque não se importam. De qualquer forma, isso denota falta de indulgência ou de empatia, como preferir.

As pessoas que são realmente indulgentes, conseguem compreender até os bebês, os mudos, as pessoas com limitações intelectuais, os irritadiços, aqueles que já perderam a razão e os Espíritos. Tenha voz ou não, estejam presentes de carne e osso ou não, estejam com discernimento ou não. Todos merecem ser ouvidos, os justos e os injustos, certos e errados, mas merecem ser ouvidos com respeito e paciência.

Eu queria que as pessoas pudessem ter me ouvido e fizessem o possível para entender o que eu estava dizendo, mas nunca encontrei ninguém assim. Então, segui meu caminho. Fui embora.

Durante muitos anos, tive uma vida difícil, com uma moradia bem precária e um emprego extremamente cansativo, dependendo da bondade de estranhos. Aprendi muito, principalmente que, não vale a pena pensar no fim porque a vida é rica de possibilidades.

As pessoas que mais me ajudaram foram aquelas que não tinham vinculo comigo. Pessoas que cruzaram a minha vida, aparentemente por acaso, me deram atenção e auxilio. Eu sei que foi Deus que colocou estas pessoas no meu caminho para me encorajar e guiar no mundo do bem.

Sou muito agradecida a Deus que cuidou bem de mim e desejo àquelas pessoas toda felicidade do mundo porque souberam ser bons com uma desconhecida.

 

RAQUEL

25/06/2023

   

---Paula Alves—

 

“ÀS VEZES, É MELHOR SE FAZER DE BOBO, SURDO E MUDO PARA CONTINUAR NO RUMO DA EVOLUÇÃO E NÃO SE CORROMPER DIANTE DE TANTA LEVIANDADE”

 

 

Eu sabia falar, mas não queria. Eu já sabia o que eles diriam e não queria passar raiva diante de suas tagarelices cheias de reprimendas.

Chegaram a cogitar que eu tinha algum problema psíquico, mas eu não tinha nada além de pavio curto e indignação. As pessoas gostam de quem lhes convém. As pessoas mais amadas são aquelas que agradam pelo que conseguem favorecer: benefícios, auxílios materiais e risos, festas, badalações.

Os vínculos afetivos, normalmente, estão cheios de trocas. Os filhos mais amados são aqueles que podem ser guiados, aceitam tudo o que os pais decidem fazer com eles. Nas amizades são os mais alegres e festeiros. No ambiente de trabalho são aqueles que trabalham por todos, é importante sempre dizer sim, sem contrariedades ou chatices.

Estes são os queridos, mas também incluem aqueles que podem fornecer as posses, passeios e diversões.

Eu não queria agradar ninguém, não tinha nada a dizer, me calava diante de toda sujidade que via. Eles nem sequer se constrangiam, falavam à vontade como se as pessoas não pudessem compreender sua autoridade tosca, seu palavreado ridículo, toda ostentação de falsas moedas.

Faltava maturidade para muita coisa. Então, eu não tinha nada a dizer. Me entreguei ao trabalho e encontrei muita gente assim. Muitos que seguem na vida achando que tudo isso é normal. Achei que poderia encontrar pessoas diferentes nos ambientes mais sofisticados, ligados às artes ou trabalhos filantrópicos, mas eu me enganei, em todos os lugares são as mesmas pessoas: é a Humanidade.

Nós somos todos iguais, dotados de leviandades que insistimos não perceber, mas está tudo enraizado em nós. Alguns notam e têm este constrangimento, esta indignação, uma tristeza visível que denuncia o quanto precisamos agir para sermos melhores. Eu sei o que tem em mim que amedronta e danifica. Eu sei o que devo retirar de mim e estou me esforçando para isso.

Não vinha ao caso discutir o mérito da questão com as pessoas que estavam a minha volta, então, eu trabalhei muito. Quando eles queriam me destratar ou me excluir devido minha falta de jeito ou habilidade de diálogo, eu procurava algo para fazer e deixava de lado a situação desagradável, por isso, achavam que eu não os compreendia.

Às vezes, é melhor se fazer de bobo, surdo e mudo para continuar no rumo da evolução e não se corromper diante de tanta leviandade.

 

THOMÁS

25/06/2023

 

--Paula Alves—

 

 

“QUEM TEM DOR, PENSE EM AJUDAR SEU SEMELHANTE. TEM MUITO TRABALHO QUE PRECISA SER DESENVOLVIDO’

 

Eu me sentei para contemplar e foi um importante exercício, mas não precisou mais do que trinta minutos para reparar no quanto este mundo e estas pessoas precisam de melhoria. Eu vi de tudo: crianças sendo ameaçadas por seus pais, cães sendo espancados, idosos agredidos verbalmente, pessoas que pediam comida e outras fingiam não ver, ladrões bem vestidos, muita gente que tentava ganhar dinheiro no farol. Eu vi lixo, chuva e confusão.

Diante de tudo tive muitas sensações: medo, tristeza e frustração. Não tinha nada de bom e eu também não fiz nada, só observei. Conclui que as pessoas podiam fazer muito mais, fazer o bem, mudar a situação que destrói tantas outras, dar motivos para sorrir, ter dignidade e esperança, mas preferem não fazer nada porque é mais fácil não se envolver.

Deve ter um motivo para tudo isso. Será que a vida é só uma ocasião de dormir e acordar?

Nascer, crescer, procriar e morrer? Pagar contas, consumir, beber, festejar?

Não podia ser só isso. Não podia ser nascer e sofrer para a maioria, enquanto para outros seria, nascer e aproveitar. Não! Eu não podia crer.

Será que o problema estava, apenas diante de mim? Ao um redor, apenas caos e horror? Será que outras pessoas tinham o prazer de ter ao seu lado amigos leais, familiares amados, gente sincera que se apoia e faz o bem?

Será que eu podia encontrar, em algum lugar, seres que fazem o bem porque sabem ser abnegados, doam sem desejar receber e amam porque veem em todos irmãos?

Eu não sei. Temi que as pessoas estivessem sofrendo por toda parte. Nos asilos, orfanatos, presídios, hospitais, escolas, abrigos, mundos espirituais, igrejas e cemitérios. Eu sentia que existia tanta dor...

Era a minha alma doente ou a realidade do mundo? Tantas questões e eu vi que precisava trabalhar. Não importava onde, mas eu tinha que atuar porque aqueles que têm olhos para ver que estejam empenhados em servir. Foi assim que trabalhei por mais de quarenta anos, doei tempo e atenção àqueles que estavam nas ruas.

É estranho dizer, mas eu só me senti realmente realizado quando pude doar a eles o melhor de mim, sem esperar retribuição. Foi a partir dali que minha vida teve sentido. Acho que, quando você ajuda alguém, deixa de lado as bobagens do mundo e se envolve com algo realmente sério: o ser humano. Passa a se elevar para se dedicar mais e aprende com cada um que cruza o seu caminho. Recebe tanto que se enobrece.

Quem tem dor, pense em ajudar seu semelhante. Tem muito trabalho que precisa ser desenvolvido. Você nunca estará pronto, então, pode começar agora mesmo. Cada dia de trabalho dedicado ao bem faz com que a pessoa avance rumo ao aprimoramento individual. Sua paga é a melhoria de si mesmo. Deus ilumine todos que sabem ser bons.

 

DIONÍSIO

25/06/2023

“O QUE FAZ COM QUE SUPEREM AS ADVERSIDADES E INJUSTIÇAS?”

 A minha vida não tinha nada de bom, nem esperança para que pudesse ficar melhor. Mas, a vida dele era bem interessante. Eu vi quando a esposa foi encontra-lo, eu vi o afeto que existia entre eles. Eu não gostei!

Acho que o maior sofrimento para aquele que já é infeliz, é ver a felicidade alheia. Eu não me conformava de ver os carinhos daqueles dois na porta da saída do serviço. Pra quê aquelas demonstrações explícitas de afeto e delicadeza? Para menosprezar os demais?

Fiquei com raiva e desejei que eles fossem infelizes. Acho que, quando a gente está de mal com o mundo, não quer ver ninguém feliz. Eu sempre fui um pouco revoltado mesmo. A questão é que eu desejava o mal e não me incomodava que as pessoas sofressem, também nunca fui hipócrita ou dissimulado. Tem gente que finge demais. Faz cara de quem está aprovando, mas emite ondas de desprezo ou de inveja para acabar com a paz alheia.

 

Eu não, aquilo me incomodava e pronto! Acho que foi, por isso, que minha avó dizia que a gente não devia falar da nossa vida para ninguém. Não ficar escandalizando por aí. Guardar para a família tudo o que tinha de ser feito, fizesse em casa. Acho que era para não atrair estes olhares, como os meus.

Eu fiquei tão chateado que comprei briga com ele. Aquilo precisava parar, onde já se viu ficar se abraçando na porta da empresa!

Fui ter com eles e, nem deu tempo de falar nada, o doido do cara me cumprimentou todo feliz e disse que ela estava grávida. Eu fiquei sem palavras porque estava ali para brigar com eles. Eu só queria desestabilizar porque a felicidade deles estava me incomodando. Mas, ele falou com tanta educação que me fez corar.

Eu não tive mais argumentos quando ele falou do filho. Disse que aquela mulher era o amor da sua vida porque, a partir dali, ele teria família. Daí ele me falou que viveu no orfanato, não conheceu os pais, enfim... O cara achou que era o meu amigo. Ela também foi educada. Eles estavam muito felizes por causa do bebê. Eu senti o amor deles, eu senti no fundo do meu peito um aperto grande que me fez perder o fôlego e senti um nó na garganta de vontade de chorar. Eu que sempre fui durão e encrenqueiro, me deixei levar por aquele sentimento dos três.

Era uma família tentando resistir às pressões do mundo e eu não seria o inimigo deles. Daquele dia em diante, eu fiquei pensando naquela família e na felicidade daquele homem, no contentamento dos dois que só queriam estar unidos e ter o filho deles. Eu me perguntei qual é a motivação das pessoas.

O que será que faz com que cada um se esforce mais um pouco todos dias?

O que dá equilíbrio ou força mental?

O que torna as pessoas capazes de aguentar desaforos ou sobreviver neste mundo terrível?

O que faz com que superem as adversidades e injustiças?

Eu pensei que elas toleram tudo isso para que possam voltar para aqueles que amam. Para que possam ampará-los e tê-los em segurança. Então, quer dizer que, as pessoas se superam e se desenvolvem em benefício de quem se ama. É sempre por alguém, em nome do amor.

Eu não tinha ninguém e ninguém me tinha. Eu não tinha motivos para lutar ou para ser melhor. Eu não tinha por que esperar o dia de amanhã, eu não tinha motivações e, por isso, vivia enfadado, cheio de tédio e frustração. Por isso, meu mau humor e indiferença diante do céu ou do mar.

Eu raciocinei e me entreguei a pensar se eu poderia ser diferente em nome do amor.

Eu poderia amar?

Será que eu tinha este sentimento dentro de mim? Sentimento que conduz a tantos outros como sacrifício e abnegação?

Seria loucura pensar que eu poderia dar um órgão para salvar alguém ou minha própria vida por amor a outra pessoa?

Logo eu?

Me atrevi a pensar que Deus existe e que eu poderia estar despertando de algum torpor porque eu tinha muitos questionamentos e inclinações. Eu tinha desejos. Desejo de ser feliz e ter família. Sentir por alguém, tudo o que aquele louco sentia por ela e pelo filho que iria nascer.

Eu despertei quando me senti tocado pelo amor deles. Será possível? Sentir o amor dos outros dentro de nós? Mesmo quando este amor não foi oferecido a mim? Mas, eu senti e tudo se modificou em minha vida.

Foi depois disso que olhei diferente para a Cleusa. Ela me pareceu muito mais bonita e atenciosa, senti vontade de conversar com ela, de poder conhece-la melhor. Eu tomei coragem e passei a cumprimenta-la, convidei para sair, senti insegurança e medo, medo da rejeição.

Todos os sentimentos provêm do amor, mesmo que não seja amor concedido a você. Eu me coloquei a disposição de amar e encontrei na Cleusa a esposa que me completou trazendo muita alegria.

Nós devemos nos perguntar se estamos à disposição de amar, de sermos pessoas melhores. Se nossas relações sociais ou familiares estão satisfatórias e se eu estou acrescentando de forma positiva no meu convívio com os demais. Tudo depende da maneira que eu me relaciono com as pessoas.

 

DIEGO

17/06/2023

 

-----Paula Alves—

 

“POR QUE AS PESSOAS NÃO PODEM DOAR UM POUCO DO SEU TEMPO?”

 

Pra mim estava bom o distanciamento. Eu não queria ver ninguém. Era muito melhor em contato com os cães. Ali eu tinha tudo o que precisava. Consertava as bicicletas, tinha uma vida simples e envolvido com a natureza que podia serenar meus pensamentos. Eu não queria viver na loucura de antes.

Loucura de trabalho, de trânsito, de ganância. Correria e estresse. Gente correndo para todo lado, gritaria e o relógio voando.

Eu estava para ter um ataque. O coração parecia arrebentar dentro do peito. Eu não aguentava mais aquele chefe me dizendo que estava vencendo o prazo, eu estava devendo o documento e tinha um almoço com cliente importante... Eu ganhei tanto dinheiro...

Mas, não tinha tempo para gastar. Foi acumulando e eu surtando, desespero que dava dó. Passei a tomar medicamentos para tentar remediar um ataque que pudesse acabar comigo. Não quis saber de família, nem de amigos. Eu tentei pedir ajuda, falei com alguns deles e disse que eu precisava parar, largar aquele trabalho que me dava vontade de morrer.

Mas, ninguém me entendeu. Muitos, nem me ouviram. Por que as pessoas não podem doar um pouco do seu tempo? Eles têm pressa até para se expressarem. Ninguém consegue ouvir ninguém, não dá tempo, não têm paciência.

Eu precisava de paz, mas naquele mundo de ganância e ambição, ninguém tinha paz. Eu quis abandonar tudo, mas me segurei, até que um dia, surtei de verdade.

Falei uns desaforos para o meu chefe, mostrei todos os sinais de descontrole, distúrbio, ataque de pânico. Tinha gente falando de esquizofrenia. Mas, não foi nada disso. Eu só precisava ter paz.

 

Acho que eu podia ter encontrado a paz em alguém ou numa religião, mas nunca fui apresentado para estas pessoas ou lugares. Então, resolvi ir embora e não quis me despedir ou deixar endereço. Saí e não disse adeus. Parti para longe daquela vida.

Pensei que, no fundo, somos sós. Cada um de nós tem uma trajetória individual. Nascemos sós, morremos sós. Eu nunca tive ninguém para me amparar e precisei raciocinar sozinho. Tinha medo de internação, fui embora.

Naquele local, cidade pequena, cheio de verde, ar puro, com passarinho cantando para todo lado, cachoeira, eu recebi outra oportunidade de harmonia e paz.

Consegui me conhecer, saber das minhas necessidades e novamente achei meu equilíbrio. A verdade é que, nós precisamos de pouco para viver. Basta um teto, vestes simples, alimentos saudáveis e paz. Eu vivi buscando luxos e benefícios. Tive uma vida boa com cargo importante e salário invejável, mas deixei tudo para ouvir o vento e sentir o sol.

Eu precisava me reencontrar sem aquelas buzinas. Admito que a melhor coisa que fiz foi ter me distanciado daquela vida louca.

 

MAURÍCIO

17/06/2023

 

--Paula Alves—

 

“SE AQUELES QUE TÊM SAÚDE E POSSES, FAMÍLIA E OPORTUNIDADES PUDESSEM VER...”

 

É difícil mudar os valores adquiridos com a educação familiar. Muitos de nós, apenas prossegue com tudo o que recebe dos pais e avós. A maioria continua a linha que foi traçada por seus genitores. Seguem com a mesma linguagem, objetivos ou necessidades. É como se fosse a mesma história contada em outra versão. Mudam os protagonistas, mas a história é a mesma.

Mas, existem algumas pessoas que raciocinam. Refletem em suas próprias necessidades e objetivos. Pensam nos porquês da existência e em seus potenciais engrandecedores. Estas pessoas se esforçam por si e pelos demais. Para eles, tudo é mais intenso, mais delicado, mais verdadeiro.

Estes têm ponto de vista específico, diferente da maioria. São os justos, pacíficos e laboriosos. Os bons que se revelam nas sociedades, apesar de tanta indiferença e descaso daquela maioria que pensa, apenas em satisfazer seus prazeres e ostentações.

Não é fácil para os bons, nunca foi. Até porque eles podem não ter base, nem apoio. Em muitas ocasiões, sentem-se solitários e enfraquecidos, como se seus sonhos e intenções não fossem corretos porque o mundo ensina outro tipo de coisa. É difícil ser compreendido e auxiliado, parece que seus propósitos enfraquecerão, mas a espiritualidade sempre ampara o lado do bem e a da seriedade.

Ouvi uma pessoa dizer que tudo é sério demais. Cada minuto do dia, cada situação é séria. Porque o tempo não volta, nem as oportunidades. Aquele que tem compromisso com a espiritualidade sabe que não tem tempo a perder e que cada decisão pode ser ponto de apoio ou derrocada para alguém, há necessidade de raciocinar e agir com rapidez e discernimento, para que tudo transcorra a beneficiar aquele que precisa de ajuda.

 

Aquele que está disposto a servir numa causa nobre e se sente peça atuante, sabe que tem obrigações a cumprir com os seres espirituais, é sério e compromissado. Não tolera a injustiça e calamidades provenientes de orgulho e amor próprio. Estas pessoas enxergam a tirania, o crime, o roubo, a traição, a maledicência e sentem-se indignados, mas confiam no poder do Senhor e na infalibilidade das Suas Leis.

Estranhos para o mundo, servos das forças espirituais. São todos aqueles que trabalham com dor ou cansaço, não param de tentar, mostram com seus exemplos o quanto cada um é nobre diante de Deus e lamentam que a maioria não possa estar disposta a deixar suas leviandades de lado para se dedicar à coletividade.

Há tanto a fazer. São tantos que precisam ser ajudados. Se aqueles que têm saúde e posses, família e oportunidades pudessem ver...

Como são necessários no trabalho de salvação. Salvação do frio e da fome, da angústia e do desespero, da ira e da revolta, do abandono e falta de fé.

Existe muito a ser feito. Que Deus possa abrir os olhos daqueles que estão dormindo. Que sejam muitos no exército do bem para que, um dia, as crianças tenham lares, que ninguém morra de frio, que os idosos sejam cuidados por seus entes queridos, que o marido não espanque e nem traia sua esposa, que todos se curvem diante do poder e do amor de Deus.

 

DORCELINO

17/06/2023

 

--Paula Alves---

 

“NO CONTATO ENTRE UNS E OUTROS NÓS AVANÇAMOS E NOS ENOBRECEMOS”

 

 

Minha esposa estava se recuperando de uma cirurgia e eu tinha muito trabalho a fazer. Naqueles momentos, percebi o quanto era intenso o trabalho dela no lar. Eu não havia raciocinado no quanto era trabalhoso preparar as refeições, cuidar da casa e da roupa, se preocupar com as crianças, cuidar delas e dos deveres escolares.

Eu estava exausto, pensei que alguém precisava me ajudar, mas a mulher era muito ciumenta e não queria ninguém em casa para me ajudar, ela dizia que logo, poderia retomar suas tarefas domésticas.

Mas, eu estava exausto e vi aquele senhor recolhendo papelão. Eu perguntei se ele não aceitava fazer uns trabalhos para mim. Ele ficou tão feliz, então eu pedi que me ajudasse na área externa da casa. Ele realizava bem o trabalho, conversava comigo e notei que ele tinha bom papo e certo esclarecimento. Ele não devia ser morador de rua.

Fiquei tão curioso! Conversamos muito, enquanto estávamos cuidando dos trabalhos de minha casa, ele me ajudou bastante, minha esposa também simpatizou com ele. Confesso que aquele homem me fez pensar em assuntos que eu desconhecia como fé, Deus, compromisso com os meus pais já idosos.

Ele me fez ficar mais atento diante de várias obrigações que estavam sendo negligenciadas. Mas, diante de nossas conversas, notei sua modificação gradativa. Ele veio mais asseado, educado e feliz. Disse que foi visitar a filha, fez as pazes com ela, conheceu o netinho. Dias depois, ele voltou para casa e me agradeceu muito pela oportunidade de compreender coisas da vida.

Mas, que coisas eram aquelas? Nós precisamos uns dos outros. Eu aprendi valores com ele, mas foi recíproco. Do contato com minha família, nasceu a vontade de estar com a família dele. A necessidade de estar vivenciando momentos que podem nos preencher para sempre.

 

As memórias afetivas são patrimônio do Espírito. Elas podem marcar tanto que não se perdem jamais. Vira um carimbo de aquisição. Isso é o que nos une aos entes queridos e faz atrair estas pessoas amadas, independente do tempo e do espaço. Isso faz agregar e formar novamente os círculos de família em cada reencarne. É elo fortíssimo.

O que há de mais importante é fortalecer estes elos de afeição íntima entre pais e filhos, cônjuges, avós e netos, primos e amigos que são como irmãos. É uma troca que nos desenvolve e faz modificar para muito melhor.

Todos nós ensinamos valores. Independente da idade. Os pequenos já ensinam através do amor e da amizade, da sinceridade e paz. Mas, precisa enxergar. Por isso, que o egoísta e o orgulhoso perdem tempo de aprimoramento porque só têm olhos para si.

No contato entre uns e outros nós avançamos e nos enobrecemos.

 

LÚCIO 

17/06/2023

                            --Paula Alves---

“PREFERI INTERROMPER UM RELACIONAMENTO QUE PODERIA SE TRANSFORMAR EM TURBULÊNCIA, RANCOR E AGRESSÃO”

 Eu não via vantagem em continuar casada. Analisei durante anos e procurei me manter firme no propósito de estar em família. Afinal, acho que ninguém casa para separar, mas ele achou que eu não precisava de atenção ou de afeto.

O pior é quando você percebe que a pessoa te trata com indiferença. Como um vaso ou um móvel qualquer. Nem boa noite, nada. Saia e entrava em casa sem perguntar nada sobre mim. Eu compreendi que ele não tinha a menor preocupação, não tinha interesse.

Quando eu conversava com algumas pessoas, elas me diziam que era bobagem porque nós não brigávamos, parecíamos tranquilos e em paz. Por que separar? Estava tudo bem. Eles não podiam entender que me faltava tudo no lar, eu não tinha um companheiro, eu tinha um colega de quarto.

 Era conveniente para aquele homem estar casado comigo. Era como se ele tivesse uma empregada doméstica que se ocupava de toda a sua casa e objetos pessoais, cuidava dos seus filhos com total dedicação e ainda cuidava de seus familiares com muito carinho. Eu estava sempre presente e muito solícita sem exigir nada em troca, nenhum tipo de pagamento, bastava uma cama para dormir, um prato de comida e um teto.

Mas, as coisas não funcionavam desta maneira dentro de mim. Eu sentia a ausência. Eu queria alguém para dialogar, passear e receber afeto, cordialidades, gentilezas. Alguém que pudesse olhar nos meus olhos e ter objetivos comigo. Eu pedia pouco.

Tentei conversar e ele disse que os meus assuntos eram cansativos, após um dia de trabalho. Eu também havia trabalhado o dia todo, mas para ele, o trabalho de casa não era trabalho. Cansei!

Quando decidi me separar houve um momento em que o medo se apossou de mim porque pensei no que faria da minha vida. Como podia me separar se não tinha para onde ir? Não tinha emprego ou renda. Talvez, não tivesse apoio dos familiares ou dos nossos filhos porque para todos eles, não havia motivos aparentes.

 O que seria feito de mim? Mas, eu não podia continuar vivendo naquele desleixo afetivo. Eu precisava me colocar em primeiro lugar e decidi falar com ele. Aquele homem que escolhi para ser meu companheiro, o pai dos meus filhos, riu de mim, debochou. Falou que eu não era ninguém sem ele, podia tentar e voltaria pedindo abrigo como uma imunda. Aquela frase me deu a certeza do eu precisava.

Eu ainda tinha esperanças de que ele pudesse me fazer mudar de ideia e despertar o que, um dia, parecia amor dentro de mim, mas foi muito pior. Eu passei a dormir na sala, procurei um advogado e me informei. Eu arrumei emprego, dei entrada na papelada e conversei novamente com conhecimento de causa. Eu tinha direitos como esposa. A Lei devia servir para alguma coisa.

Eu me separei, recebi muitos olhares como discriminação. Mulher separada não era bem vista, mas segui com minha vida. Com meus filhos que não chegaram a me apoiar, mas nunca mencionaram que agi errado. Minha filha, uma vez, disse que os filhos não podem julgar o relacionamento dos pais porque, apenas quem pode reconhecer o marido, é a sua esposa. Ela estava ciente de que o relacionamento dos pais com os filhos é de um jeito e o relacionamento do casal é outra coisa.

 Me perguntei muitas vezes, como teria sido se eu tivesse continuado com ele, me sujeitando a viver de lado, como um vaso. Eu acho que não ia aguentar. Ele se casou novamente, a esposa bem mais jovem, linda, aparentemente feliz. Eu, nunca mais me envolvi com outro homem. Busquei felicidade em muitas ocupações, trabalho, estudo, fiz cursos, me satisfiz no contato com filhos e netos, viajei e participei de trabalhos sociais. Fui muito feliz, me senti ativa e útil.

Consegui me reconhecer como uma pessoa melhor distante dele. Acho que a resposta é esta. Se você me perguntar se valeu a pena. Eu te responderia que nós precisamos ser melhores com aquela pessoa, se você é infeliz, apagada, inconstante com ele, talvez este não seja o seu melhor. Sozinha, eu fui alegre e espontânea, me senti viva novamente. Preferi interromper um relacionamento que poderia se transformar em turbulência, rancor e agressão. Preferi buscar a paz longe dele.

 

IVONETE

11/06/2023

 

---Paula Alves---

“TODO CASAMENTO CARREGA LAÇOS ESTABELECIDOS PELA  ESPIRITUALIDADE”

Olhei para ele e não o reconheci. Eu me lembrava de um garoto romântico que parecia fazer tudo por mim. Agradável e alegre, bem humorado e prático. Por que ele se transformou?

Vivia bêbado e ranzinza. Cheio de gritos e palavrões. Ele nunca me bateu, mas as agressões verbais diante de todos causavam humilhações terríveis. Mas, eu tentava encontra-lo dentro daquela carcaça envelhecida. O que aconteceu com ele?

Por que tanta indignação?

Eu amava nossos filhos, a família que construímos com trabalho e dedicação. As minhas lembranças eram lindas, cheias de bons momentos, mas notei quando ele foi se modificando. Deixou de falar dos passeios e das aventuras que sonhávamos e passou a falar de contas e imóveis, bens materiais que jamais conseguiríamos.

Ele me mostrava um alguém bem diferente do que eu quis ter ao meu lado, para sempre. Por que as pessoas não percebem o quanto são desagradáveis? Eu cheguei a pensar que eles, apenas se permitem ser o que verdadeiramente são no lar, onde ninguém poderá criticá-los e seus entes queridos têm a obrigação de suportá-los porque não tem como dispensar uma pessoa da família.

 

Se as pessoas soubessem o quanto todos estão com o pavio curto e com a paciência limitada... Será que em nome do amor, sou obrigada a aceitar qualquer coisa que o outro tem a me oferecer?

Será mesmo que as pessoas conseguem tolerar certas coisas, para sempre?

O “felizes para sempre” não é deste mundo, isso eu já sabia, mas se casar para ser atormentada por alguém pela vida inteira é um pouco demais para mim. Estava chegando no meu limite. Cansei de ser agredida, estava tão atormentada, ouvindo uma amiga de infância lembrar dos meus sonhos e do quanto eu estava modificada pelas obrigações familiares, aquilo tudo foi me incomodando, era o batizado do meu netinho. Eu não estava querendo ser envergonhada naquele dia. Quando ele fez uma gracinha dizendo que eu estava gorda como uma porca, eu irei.

Meus olhos pareciam estar soltando fogo, me aproximei dele e disse que nunca mais receberia aquele tipo de insulto dentro ou fora de casa, jamais. Peguei uma jarra de suco e virei todinha na cabeça dele (risos). Nunca mais vou esquecer.

Ele ficou sem palavras, todos ficaram mudos e eu simplesmente pedi para que ninguém se envolvesse numa briga de casal. Cortei o bolo, tiramos fotos com os padrinhos e quando todos partiram, olhei nos olhos dele e não ouvi nada.

Meu esposo nunca mais foi abusado de me ridicularizar em público. Acho que ele queria falar e lembrava do suco, se mantinha silencioso. Eu não me separei dele como muitos diziam. Minhas familiares falavam que não sabiam como eu aguentava. Mas, no fundo, eu sentia que aquele compromisso precisava ser mantido, eu precisava resgatar débitos do passado. Precisava suportar com resignação para me elevar, mas isso não significa ser mal tratada no lar. As coisas precisam ser compreendidas.

Todo casamento carrega laços estabelecidos pela espiritualidade. Todo compromisso deste nível contem provas, expiações, resgates ou renuncias, podem ser compromissos de afinidade ou não, mas todos formados na espiritualidade para que os membros da família se engrandeçam no contato uns com os outros.

Contudo, isso não quer dizer que as pessoas precisam ser flageladas no lar. Os membros da família não devem ser agredidos ou insultados, pelo contrário, no lar nascem os limites, os sentimentos sinceros, os pontos comuns, os objetivos e trabalhos pelo bem geral. Todos devem se envolver e formar parâmetros de elevação.

Eu escolhi continuar com ele, mas se fazia necessário ter respeito no lar. A base geral: respeito. Ele entendeu e tudo se tornou mais fácil. Funcionou bem graças a Deus.

 

NAIR

11/06/2023

 

--Paula Alves—

 

“O OBJETIVO NÃO É ENCONTRAR A SUA OUTRA METADE, MAS ENCONTRAR-SE EM SI MESMO”

 

Todos me pareciam falsos. Eu não podia confiar neles. Gostei de alguns, me envolvi com aqueles que me pareceram mais cordiais e educados, fáceis de amar.

Foram pessoas interessantes que me ensinaram algo de precioso, mas eu não podia confiar. Sempre percebi alguma inclinação que podia me ofender, então, eu me separava deles. A vontade que eu tinha de ter uma família não era grande o suficiente para correr o risco de ser tratada como a minha mãe.

 

Meu pai não a agredia fisicamente, mas eu ouvia os soluços dela. Choro, depressão e ligações de amantes tarde da noite. Ele quase não dormia em casa, passamos muita necessidade porque ele se envolvia com jogos e boates, mulheres e mais mulheres.

Minha mãe era muito submissa, quase não falava, triste e inclinada ao suicídio. Eu estava sempre preocupada com ela. Isso me fez refletir se precisava de um relacionamento abusivo como aquele. Permitir que um homem entrasse na minha vida e desperdiçasse o meu tempo e minha juventude com questões mesquinhas, abusando dos meus nobres sentimentos? Para quê?

 As pessoas dizem que todos querem um par. Mas, pra quê? Se minha necessidade fosse a procriação vá lá, mas eu não estava inclinada a isso. Não tinha a menor vocação para ser amante ou esposa traída, nem tinha paciência para ouvir justificativas de homem safado. No fundo, aquilo me cansava demais, eu achava um monte de baboseiras de homens viciados em sexo e egoístas o suficiente para não se preocuparem com a família e com as consequências de seus atos levianos.

Trauma? Pode ser, mas eu não acho que seja saudável para uma criança conviver numa família destas. Eu ficava angustiada vendo minha mãe naquele estado, para quê ter um filho e permitir que um homem parecido com meu pai estragasse a nossa paz?

Eu não quis me sujeitar. A felicidade não está, apenas no envolvimento amoroso. As pessoas que buscam a felicidade ao lado de alguém, para mim, são carentes, talvez como eu, não tenham recebido afeto dos pais e imaginam que vão ter ao lado daquele ser que tem tantos problemas afetivos como ela. Bobagem! De traumatizada basta eu!

Bom para o comércio a data dos românticos. Ninguém mais do que eles lucram com isso. Quando o fim do romance se aproxima, vai tudo parar no lixo. Ilusões meus caros, apenas ilusões.

Seus sentimentos serão preenchidos com suas questões pessoais bem resolvidas. Análise de si mesmo e comprometimento com saúde mental e emocional, isso é o que deve ser feito. Se envolver com a elevação do ser. Parar de buscar alguém que supra suas necessidades afetivas porque ninguém pode depositar em nós o que está ausente. Ninguém vai eliminar meus problemas, pelo contrário, pode ser a soma de problemas de dois descabeçados que ainda não aprenderam a andar no mundo.

Eu preferi ficar só. Vivi bem com minha carreira, com meus alunos, com minha fé. Eu fui feliz. Cuidei dos meus pais, tentei fornecer todo afeto que eles pareciam não conhecer. Ter tempo para me dedicar a estes setores, me fez promover um encontro comigo mesma e encontrar a paz que eu almejava.

O objetivo não é encontrar a sua outra metade, mas encontrar-se em si mesmo. Saber quem você é e o que aspira, é o objetivo. Primeiro devemos amar a nós mesmos para depois conseguir amar o próximo.

 

ZILDA

11/06/2023

 

--Paula Alves--

 

“NÓS DEVEMOS AMAR E ESPALHAR O AMOR.”

 

Foi como um reencontro. Diante daquele momento difícil saber que eu podia contar com alguém, foi o oásis. Eu recebi a notícia de que tinha câncer de tireóide e no mesmo dia encontrei um rapaz que acompanhava a mãe para a coleta de exame. Nós conversamos, ele me ouviu desabafar de uma maneira muito especial porque parecia que eu já o conhecia. Como pude falar tão abertamente com um estranho?

Mas, depois daquele dia, nos tornamos grandes amigos e foi num momento em que eu precisava de alegria, ele chegou com entusiasmo, me levando esperança e sorrisos.

Eu me tratei e fiquei bem. Nós saímos, namoramos e descobrimos muitas afinidades. Parecia que a vida era diferente ao seu lado, como se nada mais importasse. Era uma vida onde tudo pode dar certo com felicidade e paz.

Eu me casei com ele, tive três filhos e nunca discutimos com agressões ou desavenças que nos permitissem ficar com raiva ou distanciamento. Ele me completava.

Foi como se as almas gêmeas fossemos nós. Ele entendia meus pensamentos, eu sentia seus sentimentos em mim. Todos ao nosso redor pareciam ficar melhores porque se nutriam do nosso sentimento harmonioso. Passamos por muitos momentos delicados, por tribulações, mas foi como se eles não implicassem tanto porque nós conseguíamos superar com união e delicadeza.

Meu esposo foi o melhor amigo, o mais dedicado companheiro e o irmão mais amoroso que eu já tive. Nossos filhos e netos usaram nosso enlace como exemplo para ter paz em seus lares e sempre estivemos prontos para sermos conselheiros de todos aqueles que nos procuraram para rearmonizarem seus relacionamentos.

Nunca ficamos muito tempo separados, nem viajamos um sem o outro. Mas, quando chegou a hora da partida, o retorno para a pátria espiritual, deixou nossas almas destruídas. Eu sabia que este dia chegaria porque a velhice estava diante de nós, mas não queria pensar quem iria primeiro.

Quando ele me olhou, eu sabia que era a despedida e eu senti medo porque não saberia viver sem ele. Meu esposo segurou minha mão e disse: “será tão difícil pra mim, mas seja boazinha, estarei a sua espera”. Eu não pude falar nada e nem precisava, só chorei e o abracei com o máximo das minhas forças como tentando agarrá-lo em mim.

Naquela vida, foi a maior prova que enfrentei, me separar dele. Eu entendo que as pessoas estão muito envolvidas em suas necessidades e aspirações. Compreendo suas torturas mentais e anseios, mas a maior parte das pessoas ainda não conseguiu despertar para as formas de amor que estão presentes em sua vida e só percebem quando tudo se escapa das mãos. Quando perdem.

Têm tanto tempo para amar e valorizar. Deus permite que tenham tantos anos para viverem unidas e em paz, mas preferem se torturar com questões banais. Só percebem quando perdem, quando não dá mais tempo.

Eu vivi o meu amor por mais de cinquenta anos e sou muito grata por todas as experiências e oportunidades que tivemos juntos, ainda assim admito, foi o momento mais difícil de todos.

Ele partiu, eu fiquei por mais quinze anos, sonhando com ele, me lembrando de nós, sentindo tanta saudade, sentindo falta. Pensando que não houve ninguém no mundo que tivesse me compreendido como ele. Doía de tanta saudade. Até que um dia, eu também precisei partir. Eu estava fraca e cansada. Muito solitária e entristecida.

Quando o meu dia chegou, eu fiquei tão feliz. É um alivio sair do corpo doente e ser recebida por pessoas que te amam, é muito bom. Meu esposo apareceu modificado, mais moço, mas era ele, o mesmo olhar e delicadeza. A nossa amizade radiante como sempre me fortaleceu e tranquilizou. A morte não é o fim, mas o recomeço.

Tudo começa com o namoro. Com a esperança de encontrar alguém que seja o seu amor. Nós devemos amar e espalhar o amor. Jamais usar alguém para satisfazer nossos interesses, jamais menosprezar o amor de alguém. Mas, se envolver com humildade e sabedoria para desenvolver nobres sentimentos.

 

AMARILIS

11/06/2023 


---Paula Alves--


“CADA UM  DE  NÓS  SE ENTREGA  AO DESTINO  QUE  ESCOLHEU”

 

Ele não era apenas um amigo, era um irmão. Eu me importava com ele, com seu bem-estar e felicidade, por isso, fiquei angustiado quando soube do seu envolvimento com a tropa do Johny.

Todo mundo sabia o que acontecia com quem se envolvia com eles. Se não acabava por causa do vício, acabava por causa da ambição, de qualquer forma era a vala comum. Eu não suportava a ideia de ver meu parceiro metido nesta confusão e jogar uma vida fora por bobagem. A gente podia ser muito mais do que aquela vida de criminalidade. A gente podia ser gente do bem como meus pais foram do bem.

Eu queria que as pessoas me conhecessem como alguém que venceu por seus próprios méritos e esforços. Um homem trabalhador, apesar da pobreza e das dificuldades. Eu sentia orgulho do meu pai ter criado os filhos no meio do mal e ter vivido com honestidade sem dever nada a ninguém. Eu queria considerar a possibilidade de existir uma justiça no mundo que beneficia os caras bons.

 

Mas, meu amigo estava farto de passar fome e ver a mãe ser achincalhada. Trabalhar de sol a sol e não ter o que comer porque paga o vício do esposo que só sabe espancar. Eu entendo que isso deve ter comprometido a mente dele. A gente cansa de ver coisa ruim e se entrega para o mal. Mas, eu não podia permitir que ele se entregasse porque ele era meu irmão. Eu precisava abrir os olhos dele.

Falei sem parar. Um discurso comovente, sentido, cheio de verdade, mas ele falou que estava cansado e sabia que o seu futuro não passaria daquilo. Nunca teria condições de ter diploma, carro ou casa nobre. Ele também queria a comodidade.

Eu disse que seria muito melhor viver com pouco, mas de cabeça erguida e ele começou a rebater minhas investidas. Pela primeira vez, compreendi que ele estava se afastando de mim. Já estava modificado pelo fascínio diante das luxúrias e prazeres do mundo. Ele já tinha sido comprado. O meu amigo desapareceu diante de mim e eu fraquejei.

Ele falou tanto, cheio de certezas e necessidades. Inconformado com as injustiças sociais, diante de tanto preconceito. Ele também merecia ser feliz. Eu silenciei.

Depois de tanto tempo, revendo aquela cena em minha consciência, acredito que eu errei feio. Eu não podia ter me calado. Eu estava do lado da razão e da coerência do bem. Por que eu silenciei? Por que todos os bons se calam? Tímidos e envergonhados. Por que nós permitimos que as injustiças aconteçam? Por que ficamos sem palavras diante das arrogâncias do mal? Das perversidades do mundo?

Eu me calei e ele foi embora como se estivesse com a razão. Nós nunca mais conversamos. Foi como se decidíssemos o lado em que pertenceríamos dali em diante. Ele fez parte da tropa do Johny, sempre de arma na cintura, sorrindo, de olhos atentos para guardar as costas do chefão do morro.

Eu de cadernos nas mãos. Eu acreditei que o estudo podia mudar minha situação e conceder um espaço no mundo dos trabalhadores. Eu só queria ser digno como o meu pai.

Depois de alguns anos, eu soube que o meu irmão, meu amigo querido tinha sido desovado. Ele não cumpriu bem com o seu dever de guarda costas e foi inutilizado. Eu chorei de tanto arrependimento. Foi como se eu tivesse desistido dele naquele dia. Eu me senti arrogante por ter tido uma família um pouco mais estruturada. Eu tinha oportunidades que ele não teve, mas isso fez de mim um ser favorecido como se a escolha já fosse feita antes que eu pudesse pensar, como um joguete de Deus?

Não! Levei muito tempo chorando até refletir que cada um de nós se entrega ao destino que escolheu. Não foi Deus ou os nossos pais. Fomos nós!

Cada um de nós escolhe o seu destino e decide o caminho todos os dias, mediante sua forma de pensar e agir. Eu aconselhei e realizei exatamente o que incentivei meu amigo fazer. Eu realmente acreditei que o bem nos recompensa e faz sentir a paz que almejamos para sermos felizes. Desejei que ele estivesse comigo, procurando cursos e empregos. Desejei que pudéssemos formar família e, ainda assim, estivéssemos juntos para nos ampararmos e continuarmos nossa amizade, mas ele se perdeu naquele caminho desastroso.

Nós precisamos investir nas pessoas. Não, apenas o tempo que sobra, mas nos empenharmos para que sintam fé e confiança em si mesmas. Ter a certeza de que o bem é o caminho único, caminho que Deus aprova para nós. Falar sem cansaço.

 

MURILO

08/06/2023

 

-----Paula Alves---

 

“NÃO PODEMOS AVALIAR O QUANTO AS SITUAÇÕES SÃO IMPORTANTES PARA ELIMINAR OS ERROS DO PASSADO”

 

Eu pensei em cada palavra. Pedi a Deus que me desse um direcionamento para que ela pudesse compreender meus motivos de falar do seu relacionamento. Eu não queria que ela sofresse como tantas mulheres que existem por aí.

Mas, minha irmã não queria me ouvir. Ela estava tão certa de que aquele homem era o amor da sua vida que eu não tinha argumentos. Mas, eu via de longe que aquilo não podia acabar bem. Eu sentia no fundo do coração que ela podia se prejudicar e eu me sentiria mal, profundamente arrependida se algo acontecesse com ela.

Não foi um pressentimento. Ele não demonstrava nenhum pouco de respeito por nossa família e falava dela com descaso. Todos sabiam do seu envolvimento com outras mulheres. Ele não trabalhava e se drogava. Os pais dele estavam preocupados com a minha irmã. Era natural que eu me intrometesse em sua escolha.

Mas, ela não desistiu dele. Muito pelo contrário, disse que, se eu não o aceitasse, podia ter certeza de que nunca mais a veria. Ela parecia enfeitiçada, louca por ele. Eu não tinha mais nada a fazer. Eles se casaram, logo ela engravidou e a vida se tornou ainda pior.

A pobrezinha trabalhava tanto para sustentar a família e o vicio do marido. Ela se acabou, num instante envelheceu e apresentou sinais de doença, mas não se cuidava, trabalhava sem parar.

 

Ela me confessou que sofria muito, mas não se arrependeu de sua escolha porque sentia no fundo da alma que aquela era a vida que devia viver.

Foi de mal a pior, ela nunca reclamou, mas houve um dia em que a vida dela pareceu acabar. Foi quando ela soube que ele foi morto por uma vingança. A coitadinha parecia almejar sofrer mais algumas décadas, a ter de ficar sem ele. Eu me perguntava como alguém pode amar tanto. Tamanho sacrifício e abnegação sem receber nada em troca, nada.

 

Mas, foi apenas quando nos reencontramos aqui que pude compreender melhor as coisas...

Minha irmã veio me receber e agradecer todo o tempo que me esforcei para ajudá-la. Eu sempre estava por perto e, após o casamento, nunca mais o critiquei. Ajudava sem apontar os erros dele. Ela me agradeceu e esclareceu que aquele casamento precisava acontecer para que ela pudesse resgatar débitos do passado. Ela precisava conviver com aquele esposo inconsequente para reparar erros cometidos com ele em outras vidas. Ela ainda me informou que, muitas vezes, nós olhamos e julgamos o quanto alguém é sofredor, mas não podemos avaliar o quanto as situações são importantes para eliminar os erros do passado. Apesar disso, a minha presença foi o sustentáculo que ela precisava para ter forças para superar. Ela sentia desgosto, mas algo em si, dizia que ela não podia fraquejar. Isso fez com que ela retornasse de alma lavada, limpa diante dos servos do Senhor. Ela cumpriu o plano que poderia edifica-la. Eu compreendi e fiquei muito feliz.

 

LÁZARA

08/06/2023

 

----Paula Alves---

 

“DEUS PERMITE QUE AS PESSOAS SE OBSERVEM COM AMOR PARA QUE A FRATERNIDADE SE INICIE ENTRE O CASAL”

 

Todos almejam encontrar o amor.

Amor sincero e verdadeiro que preencha lacunas do ser. Se envolvem e se permitem escolher. Justificam o fim porque, nem sempre, a pessoa escolhida satisfazia suas necessidades afetivas. Normalmente, as pessoas possuem muitos defeitos e incompatibilidade de gêneros.

As pessoas são criadas em famílias diferentes, com costumes, cultura, educação e hábitos diferentes. São histórias de vida com traumas, bloqueios e inseguranças que não permitem amar reciprocamente.

As pessoas precisam de autoanálise e transformação interior para que o amor floresça verdadeiramente.

Mas, é mais fácil acusar o outro. Se não deu certo, a culpa é sempre do outro. Faltou educação, respeito, comprometimento, afeição. Faltou tempo de qualidade e demonstrações de amor. Mas, eu fui excelente! Será?

Devemos raciocinar sobre o que oferecemos para o outro. O que nós temos a oferecer? Será que somos um bom partido? Será que eu permito que as pessoas me amam pelo que sou? Sou agradável, respeitável, sincero e bem humorado? Sou humilde, atencioso, amoroso e indulgente? Quais são minhas qualidades? O que beneficia este relacionamento?

 

É fácil terminar um relacionamento sempre que o outro não nos agrada, difícil é permanecer unido, apesar das adversidades. As pessoas possuirão muitas diferenças, mas nós devemos compreender que todos nós necessitamos de um bom convívio. Ter alguém para passear, sorrir e cantar, dividir assuntos problemáticos, ter alguém que ampare na dor, na doença e na velhice. Todos nós precisamos de alguém.

A vida não será um eterno momento de juventude e festança. Virão tribulações e dificuldades. Nós passamos por estes momentos e suportamos melhor o fardo quando estamos bem acompanhados. Mas, para termos uma boa companhia, antes é preciso que sejamos uma boa companhia para alguém.

Dar para receber: este é o lema.

Procure observar seu par com os olhos do coração. Recorde o que chamou atenção nos dias floridos que envolveram vocês com cordialidade e inspiração. Por que você se apaixonou? À medida que envelhecemos, o relacionamento também se modifica, amadurece, mas têm qualidades incríveis.

Aproveitar a oportunidade para formar laços de união indissolúveis, regados com amizade e esperança. Amparando os liames que estão unindo vocês. Estes liames podem ser filhos, amigos ou familiares que se beneficiam da sua ligação.

Deus permite que as pessoas se observem com amor para que a fraternidade se inicie entre o casal. Lembrando que o amor integral não se baseia na permuta de espécie alguma. Nem na permuta sexual ou mesmo afetiva. Assim como acontece na caridade, o amor entre os casais deve ser despretensioso, sem exigir nada em troca.

 

MARCOS AUGUSTO

08/06/2023

 

------Paula Alves-----

 

“COM DEDICAÇÃO PUDE TER UM RELACIONAMENTO QUE ME ENSINOU A AMAR E A OFERTAR AMOR”

 

Eu observava aqueles dois e me fazia bem admirá-los. Era como se eles fossem eternos apaixonados.

Eu sonhava em ter um relacionamento como o deles. Meus pais estavam juntos há muitos anos e se compreendiam por um simples olhar. É claro que, às vezes, eles discutiam, mas logo começavam a rir das bobagens que falavam e quando menos esperávamos, lá chegava ele com algum gracejo ou carinho, lá vinha ela oferecendo um suco ou alguma coisa que ele gostava muito.

Eles não ficavam brigados e, quase sempre, concordavam. Até parecia que ela começava uma frase para ele terminar e vice-versa. Era incrível fazer parte daquela família com aqueles dois sorrindo o tempo todo. Brincando conosco, fazendo gracinhas. Nós crescemos e eles continuavam unidos. Os netos chegaram e presenciaram aquele amor que virou amizade cheia de lealdade e reciprocidade.

Eu nunca conheci casal como os meus pais. Eles foram exemplos para nós. Dos três filhos, sei que todos nós sempre almejamos relacionamentos como o deles. Eu mesma, cresci muito romântica. Tive poucos namorados e me entreguei para o homem que despertou meus mais sinceros sentimentos. Foi com ele que me casei e tive dois filhos lindos.

Mas, meu esposo nunca me olhou como meu pai observava a mamãe. Eu não pude encontrar nele a imagem do que vi no lar paterno. Entendo que, muitos de nós, jamais vai vivenciar um amor assim, tão sublime. Meus pais, com certeza, foram seres muitíssimos afins. Pessoas ligadas de outros tempos que se reencontraram com propósitos elevados para despertarem nas pessoas ao seu redor, o amor puro e delicado que um homem e uma mulher podem nutrir, despertando gotejamentos deste amor por todos os lados, beneficiando a todos.

Mas, apesar disso, eu me esforcei para encontrar o amor compatível com a minha evolução e encontrei. Todas as vezes que me senti ofendida no lar. Todas as vezes que desejei sair de casa e abandonar situações que me fizeram chorar de descontentamento, lembrei daqueles dois. Quando as coisas pareciam difíceis, eles mantinham a calma e a paciência. Eles silenciavam e buscavam compreender o momento difícil do outro. Eles tentavam reconhecer o outro sempre. Eu entendi que precisamos ter indulgencia no lar. Abnegação e sacrifício no lar. Caridade no lar.

Parar de sentir de forma tão profunda e egocêntrica para compreender o outro, o sentimento alheio no seu lar. Isso salvou o meu casamento. Eu precisava salvar meu casamento para conduzir bem os meus filhos e me sentir em paz com a minha consciência. Então, um dia, me esforcei para encontrar nele algo de bom e me senti muito mal porque percebi que eu estava sendo muito arrogante. Por quê? Ele não tinha qualidades? Então, eu era um poço de virtudes? Quanta arrogância!

Eu me envergonhei diante de Deus. Agradeci por ele ter me entregue aquele esposo porque nenhuma união acontece ao acaso. A espiritualidade permite que esbarremos naquela pessoa. Permite que nos envolvamos com ela para formar família e possamos aprender juntos, amparar nossos familiares juntos. Mas, para isso é necessário esforço e dedicação.

Meus pais foram o exemplo. Com dedicação pude ter um relacionamento que me ensinou a amar e a ofertar amor.

 

MELISSA 

08/06/2023

“A MATERNIDADE É COISA DIVINA, MAS QUANDO NÃO É ENCARADA DESTA MANEIRA, ALGUÉM SOFRE”

 

É impressionante como podemos incutir coisas nas cabeças das crianças.

Eu não imaginei que podia causar tantos problemas...

Recebi um presente de Deus. Eu sempre o amei, mas tinha uma vida conturbada, tive sonhos e expectativas frustradas. Eu reclamei demais. As crianças estão em todos os lugares, mesmo quando achamos que estão distantes, ali estão elas, ouvindo e percebendo tudo o que você faz.

Eu devia ter me contido, controlado minhas palavras e acusações. No fundo, eu tinha esperanças e via o mundo como um local bom para viver, mas diante de tudo o que fiz e falei, o mundo para ele, se tornou um local terrível e amedrontador.

 

Eu não podia imaginar o que estava em sua mente. Nunca pensei que podemos criar tantos monstros e situações amedrontadoras. O adulto devia se preocupar com a mente infantil, mas geralmente não estamos preocupados com isso. O adulto, quase sempre, vive sua vida, seus pecados e deslizes, tem suas necessidades físicas e afetivas, vive sua forma egoística de ser. Enquanto, as crianças crescem.

Quando você imagina que a vida infantil é muito fácil e que as necessidades estão apenas ligadas às necessidades básicas, dentro daquele cerebrozinho, todas as situações estão sendo armazenadas para formar um adulto responsável ou perturbado, amoroso ou revoltado. Tudo depende da forma como foi estimulado na infância.

Eu ligava para mim e pensava que bastava estar com ele. Suprir suas necessidades alimentares, orgânicas, de higiene, educacionais e emocionais, mas não pensei que o registro de tudo o que vivi fosse influenciar tanto.

Ele cresceu, eu envelheci. Notei, tarde demais, o medo de relacionar-se com os demais, a ausência de amigos e relacionamentos. Ele não queria sair, não se esforçava pelo próprio desenvolvimento, era emocionalmente dependente.

Mas, nem assim, eu me preocupei com ele. Nunca parei para observar as situações de carência e medo. Ele tinha tanto medo. Pobre ser que sentia solidão. Eu nunca estive realmente com ele. Uma mãe que está vivendo com o filho, mas é ausente.

 

Foi só depois do meu desencarne. Quando precisei analisar as ocasiões construtivas da minha vida, me deparei com o quanto fui negligente com meu menino. Eu fracassei! Não digo que ele piorou como indivíduo, como Espírito eterno em desenvolvimento do ser, mas digo que ele desperdiçou muitas chances, pois não teve coragem de enfrentar as situações difíceis da vida, estagnou e não cumpriu com o próprio planejamento, o que deste lado, é motivo de grande pesar.

 

Servindo como base de estudo e elevação, para que eu pudesse compreender onde erramos, me mostraram as formas pensamento do filho que deixei de encaminhar. Eram cenas torturantes. Eu não sei como ele suportou. Acredito que muitos teriam enlouquecido, mas ele ainda se mantinha forte, quase perdendo a linha tênue de clareza mental, necessitando de apoio e atenção.

Eu fiquei extremamente preocupada, frustrada e arrependida. Entendo que, muitas mães, podem negligenciar a sua família porque precisam trabalhar para levar o sustento, outras participam de obras assistenciais, várias mães têm muitos para criar e precisam dividir a atenção, então, podem negligenciar em decorrência de suas inúmeras tarefas do bem, mas eu...

 

Eu não tive justificativas para fracassar com ele. Filho único de uma mulher que não precisava trabalhar. Eu podia me dedicar à família em tempo integral. Eu podia ter olhado para ele, mas faltou amor e humildade. O meu egoísmo não permitiu que eu me preocupasse com alguém que não fosse eu mesma. A verdade é esta.

Eu não soube ter inclinações afetivas de uma verdadeira mãe. Achei que bastava dar à luz e um prato de comida, algum afeto e estava bom para produzir um cidadão de bem. Mas, será que isso basta?

Será que nós não somos inteiramente responsáveis por tudo o que pensam e fazem, por suas escolhas e más inclinações devido à falta de amor e cuidados?

Eu compreendi porque definem como missão. Devemos cumprir com todo cuidado e delicadeza como a coisa mais importante das nossas vidas. Se dedicar ao máximo, num esforço legítimo e infindável, com sacrifício, se preciso for, com abnegação e altruísmo. A maternidade é coisa divina, mas quando não é encarada desta maneira, alguém sofre. Meu filho sofreu e sofre.

 

Eu preciso me restabelecer doutor. O mais rápido possível para ser, deste lado, a mãe que não fui, enquanto estive encarnada. Ele precisa de socorro deste lado e solicitei permissão para auxiliar, mas devo me restabelecer.

Eu tenho fé de que Deus vai me dar sustentação para que não falhe novamente.

 

ROSA

04/06/2023

 

 

----Paula Alves----

 

“QUANTO MAIOR FOR O SEU CONHECIMENTO, MAIOR SERÁ A FALTA COMETIDA E TAMBÉM A SUA SENTENÇA”

 

É claro que incomoda. Saber que a pessoa está se deixando guiar por um caminho que não é o mais adequado para ela e para todos aqueles que, de alguma forma, estão sob suas orientações. Mas, ainda assim, o livre arbítrio será respeitado.

Muitos, têm o conhecimento da Lei, mas pagam para ver se a Lei se aplicará a eles. A espiritualidade não falha. As leis não falham. É a própria pessoa que atrai para si todas as situações compensatórias porque se utilizou do bem ou do mal.

Quanto maior for o seu conhecimento, maior será a falta cometida e também a sua sentença. Nada sai impune.

A pessoa que pensa que está sendo muito esperta e tentou convencer o mundo inteiro com suas características persuasivas e manipuladoras. Ela cria diante de si, a confiança de que jamais perceberão suas reais intenções e se aproveita de tipologia, tom de voz ou expressões fisionômicas para conquistar.

Questões que deviam ser quitadas, todas a oportunidade de ascensão, a elevação diante de esforço próprio e sinceridade, tudo desperdiçado pelo orgulho e vaidade. Necessidade de posição social elevada ou posição de liderança onde questões importantes como valorização do ser ou auxílio aos necessitados ficam de lado para reviver a sensação de superioridade.

 

“Quem quiser ser o melhor seja o servo.” Só o que importa é o que adquirimos em contato uns com os outros. Mas, o complexo de superioridade faz com que as pessoas desarranjem compromissos que podiam elevá-la.

A espiritualidade permite que isso aconteça porque cada um será responsabilizado por suas obras, se faz o bem e tenta se libertar do mal, terá mérito, mas se vacila e prossegue aliado ao mal, terá contas a acertar.

Diante da fé, a questão é ainda mais delicada. Pobre daquele que diante dos compromissos com a espiritualidade, persuadir seus irmãos para saciar seus interesses pessoais, para satisfazer sua luxuria e vaidade, sendo leviano diante das necessidades espirituais dos seus irmãos.

Somos analisados constantemente, mas ninguém pode manipular por muito tempo, ninguém pode comprometer as necessidades espirituais de seus irmãos e serão fortemente penalizados pelos prejuízos que forem causados de sua falta de escrúpulos religiosos.

 

CÍCERO

04/06/2023

 

---Paula Alves---

 

Nós não podemos imaginar o quanto nossas palavras e hábitos podem estimular ou destruir as pessoas a nossa volta.


Ele conviveu com uma mãe dominadora e um pai passivo. Eu me identifiquei com ela e tive o consentimento para nos casarmos. Eu sei que minha sogra preferia que eu cuidasse bem do seu filhinho. Todas elas, preferem quando o filho está contido no lar.

Então, seguindo seu próprio modelo de matriarca, eu me esforcei para que tudo saísse da maneira que eu queria. Eu já sabia como devia influenciá-lo. Na verdade, as mulheres têm esta facilidade para induzir o marido a fazer o que desejam. Eu só deixava tudo mais fácil para ele, pois não precisava tomar decisões, bastava assinar.

Fiz isso durante tantos anos, eu me acostumei a decidir tudo, enquanto ele não falava, nem fazia questão de escolher coisa alguma.

Mas, com o passar dos anos, ele foi ficando apático, entristecido, quase mudo. Ele comia o que eu servia, vestia o que eu separava, comprava o que eu solicitava e frequentava os locais que eu achava apropriados. Não tomava decisões.

Aquele sofá se tornou um berço. Tomava banho ou se barbeava quando eu mandava e ficava ali, quieto, quase imóvel.

Eu comecei a me preocupar, levei ao médico, ele falou de depressão ou alguma síndrome degenerativa. Queria investigar mais, porém, achei desnecessário porque não faria diferença, nada mudaria aquela situação que vivíamos por tantos anos.

Eu já estava acostumada com aquilo, eu gostava de silencio e de ser dominadora, controladora. Eu sempre fui assim. Mas, não tinha como saber que estas questões psíquicas evoluem até depois da morte do corpo.

Ele desencarnou quietinho. Eu fiquei encarnada muitos anos depois de sua partida. Mas, recentemente cheguei aqui. Me informaram que eu precisava me recuperar e precisava auxiliar num resgate psíquico. Eu ainda estou me acostumando com estas coisas. Eu soube que ele se perdeu. Não consegue reconhecer quem é. Sua individualidade está destorcida, ele não tem acesso porque bloqueou.

 

Eu fui a responsável porque não permiti que ele se expressasse ou fizesse escolhas. Isso é comum na primeira infância quando as crianças ainda não têm discernimento e senso de responsabilidade para escolherem. Mas, à medida que os jovens vão mostrando maturidade, naturalmente, devem ser encaminhados pelos diversos setores da vida a escolherem. Os pais, pouco a pouco, permitem que façam escolhas racionalmente, baseados na justiça, deveres e direitos. Devem viver na sociedade respeitando a si e aos demais.

Mas, o Marcos nunca teve este momento de demonstrar a sua maturidade, a partir de suas escolhas porque sua mãe não permitia e eu também não permiti. Ele limitou seu potencial intelectual e produziu a hipotrofia encefálica.

Eu preciso auxiliar neste tratamento para que ele resgate sua individualidade e, mais tarde, poderemos retornar como mãe e filho. Sei que é possível retornar com o corpo físico danificado por doença neurológica. Eu sei, mas preciso resgatar tudo o que fiz de mau.

Nós não podemos imaginar o quanto nossas palavras e hábitos podem estimular ou destruir as pessoas a nossa volta. Se estivéssemos bem-intencionados, sempre atentos às necessidades alheias, podíamos ter melhores experiências, nos desenvolvendo e ajudando no desenvolvimento alheio, mas devido as nossas infindáveis questões egoísticas, empacamos e ainda atrapalhamos no progresso alheio.

Eu estou muito arrependida.

 

IARA

04/06/2023

 

---Paula Alves---

 

“O MAIS IMPORTANTE NÃO É NOS PREOCUPARMOS COM NOSSO BEM-ESTAR O TEMPO TODO, MAS UTILIZARMOS BEM O NOSSO TEMPO PARA AGIRMOS EM FAVOR DOS OUTROS”

 

 

Ele tinha complexo de inferioridade. Percebi nos primeiros anos, mas eu o amava tanto. O meu prazer era estar com ele e, apesar de não ter muito tempo, sempre me esforçava para ter bom aproveitamento quando estávamos juntos.

Minha mãe cuidava dele para que eu pudesse trabalhar. Sem marido e com o pai falecido, éramos duas mulheres tentando fornecer muito amor para que ele não sentisse a ausência do pai.

Mas, eu sabia que algo estava errado em sua forma de agir. Ele tinha medo de todo mundo e não queria se expressar, muita vergonha, insegurança. Eu não tinha condições de buscar tratamento especializado e, naquela época, podiam pensar que meu filho era louco, preferi esconder dos demais que ele tinha problemas de socialização.

Fiz de tudo um pouco para estimular, passeios, formei um grupinho de amigos da vizinhança e fui interagindo de forma a mostrar para ele que todas as pessoas são semelhantes. Todos têm qualidades e defeitos, sofrem, têm sonhos ou questões mal resolvidas. Todos se inquietam de vez em quando, precisam de amparo e atenção.

O mais importante não é nos preocuparmos com nosso bem-estar o tempo todo, mas utilizarmos bem o nosso tempo para agirmos em favor dos outros.

Cada pessoa olhará para nós de uma forma porque as pessoas são assim. Depende de como veem o dia e todas as coisas, “se teus olhos forem bons...”

 

Não depende de mim conquistar o carinho e a amistosidade de todo mundo. Mas, depende de mim, me esforçar para ser alguém melhor hoje. Isso vai fazer diferença, mas mesmo assim, eu posso não agradar a todos, é normal.

Eu conversava muito com ele e dizia da necessidade de transformação interior para a boa convivência social. Saber estar em paz consigo para estar em paz com todos.

Assim, meu filho parou de se preocupar tanto com o que as pessoas pensavam sobre ele porque no fim, isso não importava, mas sim, o conhecimento de si mesmo e a certeza de que estava se esforçando para ser bom, digno e respeitável.

Ele foi se soltando, conversou muito mais, fez amigos leais, construiu uma família belíssima e me tratou como uma mãe especial. Eu quase quebrei minha cabeça para ajudar no desenvolvimento do meu filho e depois de algum tempo, pude perceber o quanto eu evoluí nesta tarefa. Para compreender o que ele sentia, tive que me colocar no lugar dele, a indulgência fez com que eu me desenvolvesse e colaborasse no avanço do menino. Ser mãe é uma oportunidade incrível de enobrecimento. Gratidão.

 

MIRIAM  

04/06/2023


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