Eu só queria ficar sozinho. Quieto no
meu canto.
Minha mãe insistia que eu devia
socializar com os familiares e ser mais amistoso, cordial, mas eu não queria
papo, eu precisava ouvir o silêncio, eu queria paz.
Por que é tão difícil para as pessoas
entenderem que é bom ficar sozinho?
Tentei, por diversas vezes, estar entre
eles, dialogar e fazer parte do grupo. Eu tentei compreender por que faziam
certas coisas, mas era tudo muito distante de mim. Acho que não tínhamos nada
em comum e ficou complicado me sentir aceito, então, a tristeza tomou conta de
mim.
Era uma melancolia que me deixava
apático, sem razão para viver. Eu não queria ser só, mas as pessoas ao meu
redor não me estimulavam a estar com elas, eu me sentia distante e
incompreendido.
Deve ser muito prazeroso quando as
pessoas se completam, quando as palavras não são necessárias porque existe uma
interação psicológica e emocional, uma empatia tão grande que as pessoas sentem
a aproximação dos seus afetos, mesmo estando a quilômetros de distância. É a
confiança que se tem por quem se ama. Isso eu nunca tive, mas desejei.
Eu preferia ficar no quarto com meus
livros, minhas músicas e minha solidão. As pessoas me cansavam porque era
desgastante dar motivos para o meu modo de ser.
Acho que eu conseguia viver com eles do
jeito que eram, mas eles se envergonhavam de mim e me cobravam uma mudança
comportamental, no vestuário, no linguajar, enfim, eles queriam outra pessoa,
não eu.
O grande problema nos relacionamentos é
a falta de aceitação. É como nos filmes, quando você torce para que o
protagonista desajeitado dê uma reviravolta e se transforme no galã, sabe?
Eu nunca conseguiria atingir o patamar
de galã e nem queria gastar minhas energias nisso. Eu queria que alguém me
ouvisse e compreendesse minha essência e meus porquês.
Foi isso que me deprimiu. Ter a certeza
de que eu jamais seria amado pelo que era no íntimo.
Por mais que você se esforce para não
se perturbar com as opiniões alheias, a verdade é que todos nós queremos fazer
parte dos grupos, nós queremos atenção.
Quando eu me entreguei para a realidade
da minha vida e parei de tentar, a doença tomou conta de mim. Eu desisti, não
quis mais argumentar com eles, enfrentar os olhares de repressão e daqueles que
me ignoravam porque eu não seguia os seus conselhos.
Eu me abati tanto que os pulmões não
aguentaram.
Em outros tempos, eu já havia sofrido
muito com a minha família, nós não superamos nada. Não superamos porque os
olhares dos vizinhos foram mais poderosos que o amor que nos unia. Não
resistimos ao orgulho ferido, amargurado, ao ódio de antigos tempos que só quer
vingança e perturbação.
Eu quero muito encontrar por aí aqueles
que são meus afetos sinceros. Eu preciso encontrar alguém que me compreenda e
não que, apenas diga, que eu estou magoado e ofendido, preciso perdoar.
Por que tudo é mais simples quando se
trata da vida alheia?
Por que é tão fácil palpitar a vida dos
outros e dizer como poderia ter feito isso ou aquilo? Existem tantos hipócritas
no mundo!
Eu só queria que alguém pudesse sentir
a minha dor e ouvisse sem julgar. Queria muito que alguém pudesse ser caridoso
com meus pesares e me ofertasse algo de bom para neutralizar esta depressão que
sinto. Ainda é pesado demais.
“Um pouco de luz nesta vida, em você!”
FABIANO
28/11/2021
------Paula Alves---
“DEVEMOS PERMITIR QUE AS PESSOAS TENHAM VIDA PRÓPRIA”
Eu fiquei sozinha depois que meu marido
morreu e queria ter morrido de tanta tristeza para não ter que enfrentar a vida
sem ele.
Eu me acomodei num relacionamento muito
conveniente onde meu esposo era meu alicerce, meu tudo.
Ele resolvia todas as questões:
financeiras, sociais, políticas, culturais, familiares, enfim, o Eduardo
resolvia toda a minha vida.
Ele decidia, escolhia e encaminhava
tudo para nós dois, eu não precisava me esforçar para nada.
Eu vivi com ele por quinze anos, dona
do lar, esposa, mas não pude ser mãe, infelizmente. Mas, para o meu infortúnio,
ele teve uma doença repentina e desencarnou precocemente, ao meu ver.
Quando me deparei com aquela solidão e
vi o quanto eu era incapaz de gerenciar minha vida, meu mundo ruiu. Eu não
sabia, nem mesmo, quais eram minhas preferências, pois deixava tudo aos
cuidados dele.
Notei que não tinha amigos porque
estávamos sempre juntos, como se bastássemos.
Eu fui obrigada a retomar minha vida,
não por ação e vontade própria, mas por necessidade.
Aos poucos, fui obrigada a voltar a
viver e rever meus conceitos, minhas lógicas de vida. O fato é que ninguém vive
grudado em ninguém, somos independentes, solitários o tempo todo, do início ao
fim, no nascimento e na morte, durante toda a trajetória é um caminho
individual, só seu.
Eu entendi que temos anjos ao nosso
lado, zelando por nós, mas as nossas escolhas são respeitadas e os caminhos
dependem das obras, do esforço e da inteira vontade de progredir ou estagnar.
Foi na marra que aprendi a me virar na
vida. Foi porque não tinha outro jeito e entendo que isso deve acontecer com
muita gente.
Devemos permitir que as pessoas tenham
vida própria. A mãe deve ensinar ao filho tudo o que for possível para que ele
desenvolva sua independência financeira e afetiva. Os cônjuges também devem
respeitar a individualidade daqueles que amam.
Isso tudo porque Deus permite sempre o
reencontro e deseja que tenhamos uma vida social para que possamos aprender uns
com os outros, mas não é para nos acomodarmos em ninguém. Não é para parar de
pensar e se jogar no colo de ninguém.
Que cada um possa estar certo do seu
caminho de progresso, apesar da vivência em família.
Foi bom me redescobrir, me ver como uma
mulher independente e auto suficiente. Eu sou muito grata ao Patrício por tudo
o que vivemos, mas Deus sabe que eu precisava me esforçar para evoluir e
aprender a cuidar de mim foi muito importante.
28/11/2021
----Paula Alves---
“EU PRECISEI DO DISTANCIAMENTO DOS MEUS AFETOS AMADOS PARA ENCONTRAR O
MEU CAMINHO”
Eu não queria viver isolada, eu amava
estar com eles, festejar, passear e conhecer o mundo ao lado dos meus irmãos e
primos.
Mas, meu pai sabia das minhas
necessidades e me enviou para o exterior para estudar. Dizia ele que eu era
muito irresponsável e não me tornaria uma pessoa empreendedora se continuasse
com aquela vida de quem não quer nada com nada.
Eu disse que poderia estudar na nossa
cidade e faria o possível para ele ter orgulho de mim, mas meu pai me conhecia
muito bem, ele sabia que eu não tinha interesse de diploma, eu gostava de viver
tranquila, com a família que me amou o tempo todo.
Parecia que ele pressentia que eu
estaria estagnada se continuasse ali.
Existem muitos afetos que se reencontram e, é tão grande o prazer que sentem juntos, que nada mais importa. Era como se estivéssemos jogando fora a oportunidade de elevação.
Eu não me interessava em estudo, trabalho,
redenção e estava deixando meus planos de lado para viver com eles, sorrindo e
cantando, bebendo e festejando.
Contra a minha vontade, meu pai me
colocou naquele avião e me despachou para o exterior.
Cada dia que eu passava naquele lugar
foi como um exílio, um castigo e tudo que eu ambicionava era retornar para
estar juntamente com os meus. O tempo passou vagaroso e, mesmo que eu não me
interessasse, o estudo tomou conta de mim, o trabalho e a satisfação fizeram
parte da minha vida.
Foi como se, dentro de mim, a realidade
fosse descortinada e eu descobrisse as minhas reais necessidades, necessidades
evolutivas.
Neste período, conheci Robert e vi em
seu olhar o quanto tínhamos uma ligação importante, imperiosa, eu me casei,
constitui família muito longe da minha casa, da terra natal. Foi com grande
pesar que tive a certeza de que meu caminho estava traçado para sempre.
Eu retornei nas férias, fiquei com meus
amados familiares poucos momentos, inesquecíveis, que me encheram de alegria,
mas meu mundo era longe dali, num lugar onde pude trabalhar, me desenvolver e
realizar tarefas que me edificaram.
Meu pai estava certo, eu precisava da
solidão para colocar a cabeça em ordem. Eu precisei do distanciamento dos meus
afetos amados para encontrar o meu caminho. Nós precisamos estar cientes das
nossas obrigações. Ninguém nasce só para festejar e curtir a vida. Para se
desenvolver de verdade o caminho é árduo.
CONCEIÇÃO
28/11/2021
---Paula Alves---
“HOJE SOU AGRADECIDA AS INSPIRAÇÕES QUE RECEBI PARA SER CARETA E ANDAR
NA LINHA”
Como eu poderia estar com eles, se eu
via o quanto cometiam erros?
Eu tinha medo de me comprometer diante
dos meus familiares e da sociedade da qual fazíamos parte.
Tão logo notei suas más intenções,
tentei me afastar. É muito difícil tomar um lado e se manter distante quando o
grupo sabe que você conhece todos os imprudentes.
Eu sabia de muita coisa que aqueles
jovens faziam, por isso, me afastei. Minha mãe não entendeu quando me viu no
quarto, sozinha, sem amigos, sem festas. Ela perguntou se alguma coisa estava
errada, disse que eu precisava ter amigos, mas ela não percebeu como cheguei
modificada, tantas vezes, pelo uso de drogas, pela bebida?
Às vezes, eu acho que alguns pais
fingem não ver, assim o filho sai de casa, o pai fica com a casa vazia daquele
jovem que incomoda e que Deus o proteja porque o pai fez o que pode. Sei lá,
acho que é omissão e covardia porque jovem não entende muita coisa da vida e
precisa de direcionamento, eu precisava.
Minha mãe me pedia para sair de casa e
eu estava com medo do que poderia acontecer, então, preferi ficar sozinha.
Foi assim que, numa noite quente de verão,
eles foram mais imprudentes que o habitual e acabaram desencadeando um acidente
na rodovia, muitos deles não suportaram o acidente e desencarnaram.
Cada um só desencarna no dia certinho,
não existe como mudar esta condição, mas eu precisava ter a certeza de que o
correto é andar na linha, nem que para isso, a solidão tenha que tomar conta da
nossa vida.
Eu vivi muitos anos, fui esposa, mãe,
avó, bisavó e nunca me esqueci daquela fase tão difícil em que fui solitária
por medo de me viciar e morrer antes da hora.
Eu não antecipei nada, vivi muito,
aprendi muita coisa e hoje sou agradecida as inspirações que recebi para ser
careta e andar na linha.
SORAIA
28/11/2021
---Paula Alves---
“NOSSOS FILHOS FORAM ENSINADOS A VALORIZAR O SER HUMANO, OS SENTIMENTOS,
OUVIR AS PESSOAS E SEREM MUITO GENTIS”
Foram muitas as vidas com a pele escura. Momento precioso de vivenciar tantos ensinamentos.
A mais longínqua lembrança foi no
quilombo. Vivência cheia de sofrimento e dor. Mulher negra, serviçal, precisava
servir homem branco em todos os sentidos. Foi muito difícil ter filho de senhor
de engenho. Me privar de viver o amor com o Antônio, ter família porque tinha
que servir o senhor na cama.
Meus filhos não tinham direito nenhum,
eram rejeitados e ofendidos pela sinhá, pelos filhos brancos do casal. Filhos
da escrava eram escravos.
Tem gente que vai gostar de dizer que
tudo isso servia para prova de humildade e disciplina, mas ninguém ia desejar
viver na minha condição, ninguém.
A prova serve para os dois lados. Não
serve para abrandar a condição do senhor de escravos que estuprou, agrediu,
puniu e sentenciou seus subalternos. Violência de todos os tipos.
Mas, a Lei de Deus é muito perfeita.
Agressor de escravos, volta com a pele negra. Ficamos unidos para sempre, o
senhor e eu.
Voltamos novamente unidos, mas desta
vez, eu era a irmã dele, ambos negros, libertos, pobres e sofredores.
Nesta vida, meu irmão odiava a sua
condição, maldizia nossos genitores e posição social, racista na pele
enegrecida, tinha pavor até de se olhar no espelho. Escolheu mulher branca,
sofreu com a discriminação, não pode se casar com ela. Não é qualquer amor que
aguenta.
Fomos e voltamos diversas vezes, até
que a consciência despertasse para a igualdade. Não importa a cor da pele, mas
nossos gestos sociais, nosso equilíbrio emocional e desenvolvimento moral.
Ele tratava os brancos com todo o
respeito e não considerava os irmãos de raça. Foi aí que eu compreendi que
também estava errada porque eu desacreditava os brancos. Nunca me dei conta do
quanto hostilizava os brancos.
Eu tinha uma honra e uma dignidade de
mulher negra que eram bonitos de se ver, mas eu sentia horror aos brancos. Das
mulheres brancas com sua delicadeza, sua forma de vestimenta, suas músicas de
branco, tudo.
Era tudo muito distinto como se o mundo
fosse todo preto e branco, mas precisei observar meu irmão para compreender que
eu também era racista.
A sabedoria de Deus imperou novamente
porque viemos como branca e negro, agora com uma relação de afeto que me
deixava intrigada. Eu me sentia atraída por ele, sua forma de se expressar e
falar, sua intelectualidade, mas algo me irritava. Não foi possível escapar porque
ainda estávamos unidos, planos traçados para sermos casal, foi o que ocorreu,
nos casamos.
Eu, branca, tive que aprender a
respeitar minha cultura e jeito de ser. Ele, a mesma coisa. É complicado quando
a rejeição nasce dentro de você. É bem mais fácil e compreensível quando a
gente rejeita o outro, não suporta olhar ou entrar em contato com o outro, mas
quando a rejeição é com você, é bem estranho.
Eu não me aceitava. Não me via daquela
maneira. Negra em corpo branco, mente de crioula. Estranho demais, mas foi
perfeito.
Nós podemos voltar de qualquer forma e
isso é muito bom para aprendermos a amar o outro por sua essência.
É como se você tivesse que fechar os
olhos para reconhecer a pessoa pelo que ela é. Eu entendi. Aprendi a me amar
naquela vida. Aprendi a nutrir um afeto grandioso por meu companheiro e tudo
cresceu mais e mais com nossos filhos. Todos mestiços, lindos! Eu amei cada um
dos meus filhos. Eles eram únicos e exuberantes. Cabelos lisos e encaracolados,
pele mais clara e mais escura, dentes perfeitos, unhas fraquinhas ou não. Cada
um com uma particularidade e encanto.
Tinha de tudo no nosso lar, samba e
música clássica. Todos os tipos culturais e todas as possibilidades. Nossos
filhos foram ensinados a valorizar o ser humano, os sentimentos, ouvir as
pessoas e serem muito gentis.
Eu aprendi muito e sou extremamente
agradecida. Amei, vivi e tenho orgulho de ser quem eu sou, independente da cor
da minha pele: branca, negra, mulata... Isso não importa, o importante é o que
trago na alma.
CAROLA
20/11/2021
-------Paula Alves-----
“O RACISMO DESTRÓI FAMÍLIAS, FERE A DIGNIDADE E O MENOSPREZO ENVERGA O
SER HUMANO”
Eu renasci com um vergão nas costas.
Minha mãe dizia que era marca de nascença. De vez em quando, ardia, doía como
se tivesse recebido uma chicotada naquele instante.
Eu tinha sonhos quando criança e morria
de medo do meu pai. Às vezes, eu sentia que ele estava querendo me matar,
então, eu fazia de tudo para não contrariá-lo. Fui bom filho, nunca desobedeci,
medroso e acanhado.
Eu soube, pelos olhares dele que
poderíamos ter uma briga terrível porque ele sempre me rejeitou. Aquele olhar
nunca poderia se modificar, mas os planos de Deus levam sempre ao perdão e
resgate.
Fiz o que devia fazer para satisfazer o
orgulho dos meus pais, mas o tempo passou e ele envelheceu precisando dos meus
cuidados, mamãe não tinha forças para banhá-lo.
Ele desenvolveu uma doença mental que
fazia com que ele perdesse a noção da realidade. Mas, hoje eu sei que aquela
doença era, de fato, reminiscência do passado.
Quantas não foram as vezes que ele
olhou para mim e disse:
- Ah! Negro, seu imundo, ande logo com
este serviço! Quantos açoites ainda deve receber para que saiba qual é o seu
lugar?
Eu não compreendia, achava que ele
estava delirando porque todos nós éramos muito brancos, mas tudo tem explicação
deste lado.
Fui sim, seu escravo. Apanhei muito,
chicotadas que me feriram tanto o perispírito que me trouxeram uma marca nas
costas, a tal marca de nascença.
Meu pai nunca me olhou com amor, nunca
me compreendeu, não foi cordial comigo, jamais.
Eu nem sei se conseguirei entender, mas
sinto falta de afeto e amparo. O racismo destrói famílias, fere a dignidade e o
menosprezo enverga o ser humano. Existem muitos que conseguem superar, não é o
meu caso. Preciso de terapia e nova oportunidade com o esquecimento para tentar
novamente.
Desta vez, ele será o filho. Eu vou
amá-lo, se Deus quiser. Novamente como negros, ele também. Preciso ensinar a
ele, a demonstrar respeito pelos semelhantes, independente da cor ou classe
social. Retornaremos jubilosos com a graça do Senhor.
FRANÇOSO
20/11/2021
-----Paula Alves----
“REVER SEUS CONCEITOS, ELIMINAR A HIPOCRISIA PARA NÃO CHEGAR À LOUCURA
DO RACISMO QUE AGRIDE, CONSTRANGE, FERE E MAGOA OS SEMELHANTES”
O racismo destrói famílias, fere a dignidade e o menosprezo enverga o ser humano.
Eu não podia recebê-la em nossa
família. Permitir que me filho se casasse com ela, seria inaceitável. Como é
que eu podia dizer às minhas amigas que ela era minha nora?
Mas, o Rodrigo estava apaixonado... Eu
pensei que aquilo devia ser obra de bruxaria porque meu filho sempre teve bom
gosto com as mulheres, mas gostar de uma mulher semianalfabeta, grosseira e
que, nem mesmo, tinha uma profissão, era inaceitável!
Meu filho único! Sim, porque a Romilda
não contava, não é?! Mulher não contava. Ele era minha esperança de progresso,
de sossego na velhice, se meu marido faltasse, mas aquela mulher me deu
arrepios.
Meu filho estava encantado, disse que
nunca havia conhecido uma mulher tão guerreira, esforçada, trabalhadora. Ela
tinha tantos adjetivos para o Rodrigo, esqueceu de mencionar que em sua família
todos eram escurinhos...
Eu me enfureci e fui obrigado a dizer
francamente que não aceitava que ele se casasse com uma escura, o que seria de
meus netos?
Ele riu de mim, disse que não podia
admitir que eu fosse racista. Acho que não é bem esta a palavra, não me
importava muito com isso, mas ela era sem educação, falava alto, dançava,
envolvia meus convidados, pra quê?
Se ela soubesse se comportar e fosse
mais silenciosa, até podia tentar...
Eu confesso que fiz várias armações,
tentei separá-los. Eu nunca tive más intenções. Eu achei que conseguiria
escolher uma mulher melhor para ele e uma nora melhor para mim, mas o que eu
consegui foi o distanciamento com meu filho quando eles se casaram.
Ele sempre foi bom, mas ela separou meu
filho de mim.
Passei anos sem aceitar que ela
entrasse na minha casa e nunca quis contato com os filhos deles, todos sem
educação como a mãe.
Mas, a verdade é que o tempo é
implacável! Eu escutei do meu esposo, diversas vezes, que eu era muito dura com
eles, eu era racista! Palavra horrível de escutar.
Meu esposo tentou me fazer enxergar o
quanto eu era mesquinha, egoísta e racista. Depois de anos, meu marido morreu,
minha filha nunca aguentou viver comigo, foi morar fora do Brasil e quando eu
adoeci, adivinha quem cuidou de mim? A negra!
Meu Deus! Como ela foi boa e delicada.
Cantava para mim, fazia caldos, lavava meus pés e pedia para os meus netos
lerem para eu dormir mais confortável. Ela lia o Evangelho e sorria como se
dissesse que me perdoava pela péssima sogra que eu era. Que vergonha!
Depois de um tempo, eu já estava
profundamente arrependida, nem mesmo, conseguia olhar nos olhos dela. Eu vi
tudo! Mulher guerreira, trabalhadora, dedicada, leal, companheira, amorosa,
altruísta e cristã. Esta era a minha nora negra e linda!
O racismo é como um fel que destrói os
melhores sentimentos, faz com que você não enxergue nada ao seu redor, nada com
clareza. É chaga moral que leva o ser humano a se expressar de forma horrenda.
Eu era como um monstro para ela porque eu não permitia que ela se apresentasse
para mim, eu não queria conhecê-la porque estava definindo a pessoa dela pela
cor, mas qual é a diferença?
Depois que me deixei envolver pelos
sentimentos de amor e gratidão, eu perdi a definição de tudo o que pensava
dela. E me envergonhei muito. Daí o câncer tomou conta de mim, rápido demais
porque eu não podia perdoar o meu comportamento tão leviano.
Minha nora querida foi melhor que uma
filha, foi amiga, mãe, irmã. Esteve ao meu lado o tempo todo e me fez rir, me
fez entender o Evangelho, me fez ter gratidão por tudo e, por isso, pude vir
para cá, graças a Deus, senão, nem sei como teria sido, aquela racista cruzando
as portas da eternidade.
Eu melhorei por causa dela e tenho
muito afeto, será um prazer nos reencontrarmos em breve.
Cada um de nós, deve se empenhar em
limpar as chagas que carrega no peito. Rever seus conceitos, eliminar a
hipocrisia para não chegar à loucura do racismo que agride, constrange, fere e
magoa os semelhantes.
A igualdade deve imperar do fundo do
coração.
JADE
20/11/2021
------Paula Alves-----
“EDUQUEI NOSSOS FILHOS PARA RESPEITAREM AS DIFERENÇAS E AMAREM AS
DIFERENÇAS, BUSCANDO A IGUALDADE NOS RELACIONAMENTOS E AMBIENTES SOCIAIS”
Eu olhei para aquele homem e foi como
se reencontrasse o amor da minha vida. Eu nem tinha conhecimento da
imortalidade da alma. Naquela época, eu não estava pensando nestas coisas, mas
eu o vi distante e sabia que era ele, na faculdade.
Cotas para negros! Eles estavam tão
envolvidos neste assunto. Falavam da igualdade dos direitos sociais, da
liberdade de expressão, da necessidade de chegar aos cargos públicos mais altos
para liderança social.
Ele pegou o microfone e falou que eles tinham as mesmas condições intelectuais, não precisavam de cotas porque não tinha diferença nenhuma entre eles e os brancos.
Eu entendi! Aí estava a igualdade, mas
o amigo dele tomou o microfone e disse que precisavam aceitar a oportunidade
porque, em outros tempos, eles não podiam entrar nos mesmos lugares, aquilo já
era um progresso. Eu me pus a pensar, não tinha ideia do quanto precisaram
lutar para conquistarem uma série de coisas que os brancos tinham naturalmente.
Mal me dei conta dos pensamentos
desestruturados quando a polícia chegou. Foi um escândalo! Pancadaria,
protesto, gritaria e eu corri, mas os nossos caminhos tinham que se cruzar e eu
me encurralei com ele, nós rimos e corremos juntos.
A partir daí, nasceu nossa amizade e
minha vontade de falar, de argumentar, de equilibrar as massas. Eu queria tanto
que as pessoas se vissem como iguais, sem diferença nenhuma. Eu queria que eles
parassem de nos olharem com perplexidade só porque eu era branca. Eu queria ter
o direito de ficar com ele sem questionamentos ou risinhos inconvenientes.
Eu amava aquele homem e mudei por ele,
eu gritei por ele, eu o defendi e deixei muitas pessoas por causa dele. Todos
aqueles que nos rejeitaram e me pediram para escolher porque eles se mostraram
doentes da alma e ele era o meu amor.
Compreensivo, nunca falou mal daqueles
que tentaram apedrejá-lo.
Eu vi muita coisa, mesmo quando, com o
passar dos anos, as pessoas se diziam moralizadas, mesmo quando afirmaram que
existia a igualdade dos direitos sociais, existem muitos hipócritas.
Existem aqueles que se enganam, acham
que a filha de pele clara não tem pai negro, falam com racismo e dizem que amam
os pretos, porque falam da cor?
Quando existe racismo, existe
exacerbação da raça, da discriminação, do taxativo, do peculiar. Eu não aceito!
Não aceito diferença de salário, de
cargo, de tratamento, falando com o mestiço na gíria. Eu não aceito a mudança
de conduta, de caracterização ou quem esconde as suas origens por
constrangimento, alisa cabelo para não parecer afro. Tudo demonstra a sua vergonha!
Sua necessidade de apagar as origens. No Brasil? Com tanta miscigenação racial?
Dá para denominar alguém aqui de raça
ariana?
É muita desonra, é muita vergonha
moral.
Primeiro, a pessoa tem que se
reconhecer e se aceitar, depois olha para os demais. Muitas vezes, o
comportamento leviano da sociedade sai de dentro de casa porque a família nunca
ensinou como as pessoas devem respeitar seus semelhantes.
Outra coisa é o orgulho de ser quem é,
a valorização da raça, da oportunidade que recebeu de viver daquela maneira e
de assimilar todos os conhecimentos e virtudes que envolvem aquela etnia, se
envolver com a sua raça.
Eu tive uma vida excepcional. Casei e
tive filhos adoráveis. Eduquei nossos filhos para respeitarem as diferenças e
amarem as diferenças, buscando a igualdade nos relacionamentos e ambientes
sociais. Eles passaram por muitas situações desagradáveis, mas nós crescemos
muito e pudemos desenvolver trabalhos sociais de grande alcance humanitário.
Isso foi o melhor de tudo, nos desenvolvermos e auxiliarmos nossos semelhantes,
graças a Deus.
VANESSA
20/11/2021
--------Paula Alves--------
“NÓS ESTAMOS NO MUNDO, MAS NÃO SOMOS DO MUNDO”
Eles nunca compreenderam que a mediunidade é como um sacerdócio.
Muito difícil conviver com as pessoas e
não se deixar envolver por seus vícios e atitudes. Eu sempre amei meus
familiares, mas estar com eles me colocava à prova de tantas questões morais...
Sempre foram amorosos, pessoas
sorridentes que festejam por tudo, formavam amigos por onde andavam e eu
adorava estar com eles, mas sentia a influência dos Espíritos e precisava ter a
certeza do que ocorria comigo.
Quando consegui ser bem orientado e
realizei os cursos de aprimoramento mediúnico, me senti capaz de trabalhar a
serviço dos Bons Espíritos para auxiliar aqueles que precisavam de tratamento e
orientação sobre o mundo espiritual e, também, para fornecer orientação e
suporte para os encarnados que precisavam descobrir o mundo invisível para o
seu próprio bem.
Eu amava a possibilidade de servir como
instrumento do plano espiritual. Eu amei cada momento em que servi de
intérprete e pude doar meus fluidos para que alguém pudesse se restabelecer.
Mas, minha família tinha certo receio,
temor, justamente porque não compreendiam nada sobre a espiritualidade. Das
poucas vezes, em que fui convidado para as confraternizações familiares, me vi
envolvido em conflitos que desestabilizavam minhas energias de médium, por
isso, precisei escolher.
Isso acontece sim. Como em todo trabalho
de assistência espiritual. Nós estamos no mundo, mas não somos do mundo.
Isso poderia explicar facilmente porque
eu não podia beber ou comer como todos os outros ou porque nas relações sociais
a conversação deveria ser tão elevada, longe de mexericos ou difamações,
injúrias ou maledicência. Isso tudo deveria ser preocupação dos cristãos, sejam
eles de quaisquer religiões fossem, mas para os médiuns, é assunto
importantíssimo.
Médium que não serve por amor, de forma
gratuita e desinteressada. Médium que não usa do sacrifício e abnegação para
poder servir. Médium que não se analisa diariamente para eliminar os vícios
morais e físicos. Médium que não se compromete com o Evangelho... Estes médiuns
se aniquilam porque viram presas fáceis dos maus Espíritos.
Mediunidade é sacerdócio sim.
Mediunidade é serviço de fé junto aos Bons Espíritos que desejam a propagação
do Evangelho.
Mas, para que o trabalho seja semeado
nos canteiros do bem, é necessário, muitas vezes, sacrificar todos os prazeres
do convívio social para estar em paz com a consciência e realmente envolvido
com o trabalho edificante que pode beneficiar a si mesmo e a sociedade de
encarnados e desencarnados.
CLAUDINEI
15/11/2021
------Paula Alves---
“SE VOCÊ COMPREENDE A NECESSIDADE DO EXAME PREVENTIVO E TEM ACESSO, SE
CUIDA AÍ”
Era um local tão distante de hospital e
exame. Lá, a gente não tinha condições de visitar doutor. A gente se dava conta
de que o melhor era fazer chá de erva para tratar doença.
Normalmente, a gente dava conta de se
curar com benzedeira e chazinho, mas muitos morriam mesmo sem saber a causa.
Até hoje isso acontece em muitos lugares
do Brasil.
Você acha mesmo que todo lugar tem
diagnóstico como em São Paulo?
Vixi, Maria! Até preferi que aconteceu
comigo porque é de partir o coração ver alguém que você ama sofrendo sem saber
o porquê. Dá até desespero saber que tem alguma coisa errada no corpo daquele
que você ama e não ter pra quem pedir ajuda porque não tem médico.
Eu fiquei foi muito feliz porque o
problema aconteceu comigo.
Mas, foi difícil de aguentar a dor e a
vontade de urinar.
Nossa! Eu sempre fui cara forte, ligado
a pegar no batente, nunca tive medo da luta, mas me senti desfalecer, eu tinha
as pernas bambas.
Minha filha e minha esposa ficaram em
agonia. Dale chá (risos). Tomei chá que não acabava mais e nada de melhorar,
daí comecei a inchar. Não demorou muito, eu percebi que o fim estava próximo.
Então, eu entendi que a primeira prova
pra gente é nascer numa região onde não temos a mínima assistência. Não tinha
emprego decente, médico, saneamento básico, básico sabe? Não tinha nada naquele
lugar e a gente ainda tentava ser feliz.
Por isso, que a gente fala que
felicidade é algo muito peculiar, individual, pessoal. Só você mesmo para
considerar o que te deixa feliz porque para muitos um prato de comida é a
felicidade, para outros o remédio que tira a dor é a felicidade, para tantos o
carro de luxo é que é a felicidade, então, meu amigo só você para saber o que
te faz feliz.
Para mim, felicidade era chegar em casa
cansado, quase sem poder caminhar e ver que na minha casa tinha criança
brincando e a minha esposa preparando a bóia, cantando. Isso me deixava feliz
por saber que independente do meu sacrifício, eles estavam bem, felizes e
satisfeitos.
Fazer das tripas coração para levar
comida para casa e saber que eles tinham o necessário para viver.
Então, eu fui um cara feliz, mas me
senti muito mal sabendo que existem tantos como eu que não podem ter acesso ao
tratamento de saúde que poderia prolongar nossa vida. Ah! Mas, beleza. Não
existem acasos.
A doença chega no momento certinho para
a gente ter motivo de retornar.
Eu padeci de um câncer de próstata, mas
morri sem saber de que mal eu sofria porque naquela cidade ninguém nem sabia
que tinha que fazer exame preventivo. A verdade é essa.
Se você compreende a necessidade do
exame preventivo e tem acesso, se cuida aí.
JOÃO BARRIGUDO
15/11/2021
------Paula Alves-----
“A MEDIUNIDADE É COMO UM” SACERDÓCIO!
Sentenciado a morrer de amor. Eu olhava
para aquela mulher e meu coração batia mais forte. Eu suspirava por ela e tinha
ímpetos de fugir com ela, mas eu não podia fazer isso.
O que será que acontece com a gente
quando compreendemos o que é certo e o que é errado?
A consciência não permite que a pessoa
saia do caminho, saia do eixo.
Eu fui médium e estava sempre sendo
testado, eu tinha conhecimento disso. Parecia que os Espíritos me espreitavam
para que, no menor vacilo, eu pudesse perder o amparo que recebia da
espiritualidade.
A mulher que eu amava,
desesperadamente, era casada. Meu Deus! Que castigo!
Eu precisava conviver com ela,
admirá-la, sabendo que ela jamais poderia ser minha porque já estava casada e
amava seu esposo, tinham filhos e mantinham uma vida regrada e feliz perante a
sociedade.
Eu não conseguia me ligar a ninguém
porque o afeto que eu tinha por ela era grande demais.
Então, compreendi que eu precisava
trabalhar mais. Quando você tem tempo para tolices é porque está sobrando
tempo, faltando tarefas úteis para você e para os demais.
Eu precisava tirar aquela mulher da
minha cabeça e eu tinha tantos questionamentos, tantas indagações do motivo que
me ligava a ela e me deixava tão infeliz.
Me comprometi com a elevação necessária,
com a aquisição de conhecimentos que me revelassem o motivo de tudo aquilo e
descobri coisas intrigantes.
Eu tive conhecimento de um mundo novo e
fascinante que me envolvia com a mediunidade. Compreendi o quanto o médium
precisa de preparação e estudo. Todo médium passa por um tempo de preparação
que é cheio de testes que o habilitam ao desenvolvimento e ao trabalho sério,
quando ele recebe o auxílio de um Espírito bom e mais elevado para lhe
encaminhar ao trabalho edificante.
Foi incrível perceber que, à medida que eu me esclarecia, todas as coisas se tornavam mais claras para mim, além disso, meus temores e inseguranças, minhas angústias e inquietações, reduziam progressivamente, até que eu notei o quanto aquela mulher era como todas as outras.
Eu, de fato, a respeitava como uma
esposa e mãe séria e amorosa, mas não passava disso. Nunca foi amor, nunca.
O tempo passou, eu iniciei um trabalho
junto com uma equipe comprometida com o bem estar social e nos ajustamos
perfeitamente. Desenvolvemos importante tarefa junto aos necessitados do plano
físico e espiritual, eu encontrei meu caminho e a minha alegria de viver.
Anos depois, mais controlado e
equilibrado, vi nos olhos de Amanda a luz da lua e do sol. Eu consegui amar com
sinceridade, abnegação e altruísmo. Nós nos casamos e vivemos felizes com
nossos filhos. Sempre servindo a Deus e ao Evangelho.
A mediunidade é como um sacerdócio!
JOSUÉ
15/11/2021
------Paula Alves-----
“AS PESSOAS DEVIAM REPENSAR SOBRE A FORMA COMO OBSERVAM A VIDA E COMO
UTILIZAM O DOM DA PALAVRA”
Câncer é câncer! Não existe câncer bom
ou fácil de lidar porque toda notícia é um baque.
Ninguém espera por um diagnóstico
destes. Eu não esperava. Fiz os exames e me decepcionei quando o médico falou
que eu estava enfermo.
Pensei sobre tudo o que vivi e a forma
como vivi. Eu repensei os dias de alegria e os dias de tristeza ao lado dos
meus familiares. Notei o quanto eu sempre fui negativo e amargo.
As pessoas deviam repensar sobre a
forma como observam a vida e como utilizam o dom da palavra.
Eu sempre tive a escolha de influenciar
ou desanimar alguém, como a grande maioria das pessoas, mas eu não me
incomodava com a forma como elas receberiam minhas franquezas. Então, eu fui
daqueles que não tem dó nem piedade. Eu não tinha papas na língua, como dizem.
Feria sem me lamentar.
Mas, a doença fez com que eu repensasse
meu comportamento. Talvez, porque senti a maneira como o médico me deu a
notícia, fria maneira de ser. Me doeu.
O ruim do ser humano é só entender uma
coisa quando dói na sua pele. Não devia ser assim...
Fiquei atento sobre a maneira como meus
familiares falavam comigo, sempre com um pé atrás, esperando um coice. Eu não
achei aquilo interessante. Quis mudar, mas era estranho ser delicado.
Eu tive algum tempo para tentar porque
precisei passar um tempo em casa, recebendo os cuidados deles, com a
necessidade da quimioterapia. Que horror!
Acho que minha autoanálise foi eficaz
porque, depois de algum tempo, eu já conseguia sorrir, mesmo com dores, sem
cabelos, com enjoo, eu sorria e fazia gracinhas.
Então, vou ser obrigado a dizer que foi
a melhor fase da minha vida porque eu não precisava ser durão, eu gostei de ser
eu mesmo.
Será que foi a cultura que me deixou
assim? Machismo? Tinha que ser grosso, durão, rabugento?
Depois de meses, eu estava bem
diferente e não aceitava quando o médico falava de qualquer forma comigo. É
estranho perceber que, quando você se propõe ser uma pessoa mais delicada e
respeitosa com todos, não aceita insultos ou grosserias.
“As pessoas podem ser mais cordiais
doutor!” – eu dizia sorrindo.
Meu médico conversava comigo cheio de
dedos, literalmente (risos).
Foi a melhor fase de todas. A doença
serve para curar as feridas morais de todo ser humano. Se você usar este tempo
para se reformar e, ao mesmo tempo, que trata o corpo, tratar seu Espírito,
você tem muitas chances de superar a doença e se tornar uma pessoa maravilhosa.
Foi isso o que me aconteceu. O bendito
médico se tornou um grande amigo e não sabia explicar como foi que eu consegui
vencer o câncer de próstata.
Eu vi meu corpo se fortalecer, meus
cabelos cresceram tanto que fiz até rabo de cavalo (risos), viajei com minha
amada esposa e tratei de ser cordial e amável com aquela mulher que aturou meus
resmungos por tantos anos.
Por que será que nós nunca pensamos no
quanto somos desagradáveis para as outras pessoas? Achamos mesmo que todos têm
a obrigação de nos suportar?
Eu mudei, me curei e vivi por mais
vinte e cinco anos, amando e sendo amado. Graças a Deus.
VLADIMIR
15/11/2021
“NÓS PRECISAMOS TER DIGNIDADE PARA ENVELHECER”
Eu não podia permitir que me
examinassem daquela maneira, como um animal. Totalmente dispensável aquele
exame. Na condição em que eu estava, longe de apresentar qualquer tipo de doença.
Eu estava viril, na melhor idade da
vida, aproveitando com a minha esposa para viajarmos e desfrutarmos os bens que
conquistamos, após tanto trabalho.
Nossos filhos já estavam crescidos e
independentes, cada um na sua casa, com suas famílias e eu não tinha motivos
para me preocupar com nada, mas minha filha tinha que me dar dor de cabeça...
Estela era muito enérgica e
controladora. Eu amava minha filha, mas ela se envolvia muito em nossa casa. Eu
sei que era porque ela não tinha filhos. Ela não conseguia engravidar, e isso,
permitia que Estela tivesse tempo livre para se meter em nossa casa.
Daí ela me apareceu com uma questão
absurda que eu tinha que fazer exame de próstata. Pra quê? Falou que eu estava
na idade de fazer exames preventivos, coisa e tal, eu ri. Imagina, fazer
investigação de doença, fala sério...
Estávamos com viagem marcada e a minha
filha marca exame de próstata. Quem falou para ela que eu queria fazer exame de
próstata? Ela só podia estar querendo descontar a raiva dela em cima de mim.
Eu já havia notado o quanto os filhos
gostam de inverter os papéis. Em determinada fase da vida, eles se sentem
superiores aos pais. Eles analisam a vida e acham que devem cuidar dos pais
como se estes fossem inúteis, uns velhos enfermos e esquecidos de tudo. Mas,
comigo não.
Eu coloquei a Estela no lugar dela.
Falei o que estava preso na minha garganta e disse que ela podia cuidar da vida
do esposo dela. Eu não precisava viver em médicos como muitos dos meus amigos
que permitiram que os filhos se envolvessem nas vidas deles.
Eu não queria criar doenças. O simples
fato de pensar muito em uma coisa, permite que ela exista. Disse tudo para ela.
Estela saiu arrasada. Minha esposa me repreendeu, disse que esta filha sempre
foi carinhosa e se preocupava com nossa saúde. Ela queria cuidar de nós, mas eu
não aceitei que estava envelhecendo.
Acho até que, eu morria de medo de
fazer um exame e descobrir uma doença. Eu cheguei a mencionar isso com minha
mulher. Eu preferia cair duro, a ter que passar por tratamentos e me sentir nas
últimas forças. Eu não queria passar meus dias em tratamento.
Foi como uma intuição, eu desejava
viajar e ver o mundo, antes que minha vida se tornasse amarga demais.
Eu não realizei os exames que Estela
pediu. Minha filha parecia estar pressentindo. Tem gente que recebe aviso até
em sonhos. Ela estava aflita, mas eu não permiti que ela se aproximasse de mim.
Foi aí que comecei a me sentir mal.
Chegou num ponto que eu precisei buscar socorro médico e descobri o câncer de
próstata. Que notícia ruim...
Foi atestado de óbito. Eu tinha, mais
ou menos, uns três meses. O pior de tudo é você saber que só tem três meses e
se sentir tão mal que pede para acabar antes. Pior do que isso é não saber o
que acontece depois.
Eu pensava na morte o tempo todo e não
tinha ideia do que iria me acontecer. Então, eu virei um velho rabugento. Eu
maltratava todo mundo, sem paciência, com medo de morrer.
Eu me arrependi de tudo. Acho que a
gente tem que ter dignidade para envelhecer.
Poder fazer exames preventivos e tratar
a doença quando está no princípio é uma dádiva. Como se Deus concedesse mais um
período para viver com bem estar e restabelecer tudo o que estava pendente.
Eu podia ter pedido perdão para Estela.
Ela me amava demais. Eu fui cruel, ingrato e imaturo.
Nós precisamos cuidar do corpo que é a
morada do Espírito.
ÁLVARO
07/11/2021
------Paula Alves---
“NÓS PRECISAMOS TER DIGNIDADE PARA ENVELHECER.”
Aquelas rugas me castigavam a alma. Eu
me olhava no espelho e me lembrava do quanto fui bonita e cobiçada. Aquelas
rugas não deviam estar ali.
Eu comprava potes de cremes, não
economizava na esperança que minha pele pudesse voltar a ser como antes, mas
nada resolvia.
Inevitavelmente a musculatura
despencava, a ação da gravidade cruel com quem passa dos cinquenta anos.
Eu fazia dieta, me alimentava pouco,
usava roupas que pudessem esconder os quilinhos que insistiam em aparecer.
Cheguei a passar fome! Maldita celulite que parava aqui e ali.
Enfim, a menopausa chegava implacável e
junto com ela, todas as sensações desagradáveis que me davam a certeza de que a
minha fase de vitalidade estava chegando ao fim.
Eu não via nada de bom em envelhecer.
Não queria que meu esposo notasse o quanto eu estava ficando diferente e
mudando para muito pior.
Eu tinha uma amiga com a mesma idade
que ria de mim, ria das minhas sinceridades e das minhas preocupações.
Mas, meu esposo era um homem muito
exigente, ele queria que eu estivesse sempre bem arrumada e eu, fingia, mas
sempre notava o quanto ele cobiçava as outras mulheres. Eu não queria ser
abandonada e trocada por outra com a metade da minha idade.
Minha amiga dizia que todas as fases da vida são valiosas porque com elas, aprendemos muitas coisas. Ela dizia que, à medida que envelhecemos, o corpo traz alterações fisiológicas, hormonais e físicas que mexem com nossa mente e acrescenta grandes aprendizados. “Nós precisamos ter dignidade para envelhecer.”
Respeitarmos cada ruga, cada alteração
física em decorrência da idade é fundamental. Cada ano que passa é composto por
muitos ensinamentos que foram conquistados e a permissão divina para que pudéssemos
permanecer aqui em contato com as pessoas que são ideias para nós, para nos
conciliarmos com elas, realizarmos troca de aprendizado e aprendermos a amar. É
isso o que importa. O corpo deve ser cuidado com carinho e gratidão, pois nos
permite trafegar neste mundo, nos envolvendo com os seres que aqui se
encontram, mas deve ser tratado com coerência. Cuidar da saúde e da higiene,
não cometer abusos, não estragar o corpo, ou seja, não ser imprudente para
desencadear doenças ou maus tratos, antecipando a morte do corpo.
Minha amiga falava tão bonito. Ela
disse que isso bastava. Amar as mudanças do corpo que avançam com a idade era a
forma de agradecer tudo o que ele forneceu para caminhar neste mundo.
Minha amiga era tão diferente de mim.
Se vestia com conforto, quase sem maquiagem, mas com filtro solar. Ela comia
coisas naturais e fazia exercícios regularmente. Adorava estar em contato com a
natureza e amava a música. Eu olhei para ela, cabelos grisalhos e muitos
defeitos, rugas, barriguinha, mas ela era linda.
Acho que a beleza dela vinha da alma.
Beleza de bem estar e mente tranquila. É beleza de verdade. Eu soube que ela
trabalhava com as crianças, fazia festas de Natal na igreja. Ela nem tinha
marido e era tão feliz.
Eu repensei tudo, pensei diferente
depois daquela conversa com minha amiga zen. Eu quis abandonar aquela vaidade
toda que estava me aprisionando. Olhei para o espelho e me achei bonita, linda.
Decidi melhorar minha mente e ter dignidade para envelhecer.
Você acredita que meu esposo notou a
mudança e disse que eu estava mais linda do que nunca?
NORMA
07/11/2021
-------Paula Alves-----
“NÓS PRECISAMOS TER DIGNIDADE PARA ENVELHECER.”
Eu não aceitava aquele corpo cheio de
marcas. Eu era tão bonita e depois da gravidez virei uma mulher gorda e feia.
Eu precisava tomar alguma atitude.
Meu esposo estava sempre dizendo que as
pessoas comentavam que eu estava relaxada, mal cuidada e que, nos dias de hoje,
isso era um absurdo.
Existiam muitos tratamentos estéticos
que podiam me fazer voltar nas medidas de antes.
Eu não queria passar por outra
cirurgia. Depois da cesárea, eu me sentia temerosa e disse que faria uma dieta
com exercícios físicos. Eu tentei, mas eu tinha uma criança pequena para
cuidar, muitas tarefas no lar e não tinha tanta disposição e disciplina para
chegar nas metas que desejávamos.
Eu chorava porque meu esposo dizia
coisas horríveis. Ele chegou a dizer que tinha vergonha de mim e que não queria
que eu o acompanhasse na festa de confraternização da empresa. Ele não me levou
e eu fiquei chorando. Em minha mente passaram momentos em que fui traída e menosprezada,
nada disso aconteceu, mas eu imaginava, piorando minha situação.
O fato é que, depois de ser humilhada
no lar, tomei a decisão de recorrer a cirurgia plástica para deixar meu corpo
perfeito.
Demorou para que eu pudesse me dar
conta de que a cirurgia foi mal sucedida. Eu fiquei naquela sala por horas (na
minha mente), chamando pela equipe médica que havia me deixava com a barriga
sem sutura. Foi terrível, eu via sangue, não conseguia me mexer e ninguém vinha
para me socorrer, até que, uma enfermeira apareceu e segurou minha mão.
Eu perguntava sobre a equipe que estava
me operando e ela dizia que não havia mais necessidade da cirurgia. Ela pedia
que eu recordasse o que ocorreu naquele dia para que pudesse me erguer da maca
e ir para um local apropriado ao meu refazimento, mas eu não queria enxergar.
Foi muito difícil para mim, aceitar o
momento do desencarne. Sim, eu interrompi minha vida com uma cirurgia estética
completamente desnecessária porque eu fui vaidosa e porque meu marido me
humilhava no lar.
Nós temos que ter dignidade para
envelhecer e aceitar que o corpo se modifica com as fases da vida. A
maternidade modificou o meu corpo, mas o meu filho foi a benção que veio do céu
e eu abri mão dele porque queria atingir a perfeição das formas físicas.
Eu recebi socorro, recebi o tratamento
para restituição do corpo espiritual que também foi danificado com a cirurgia e
hoje estou bem. Profundamente arrependida do ato praticado.
LUCÍOLA
07/11/2021
------Paula Alves------
“CADA UM PODE DEIXAR EVIDENTE A BELEZA QUE TRAZ EM SEU INTERIOR, POR ISSO, É TÃO IMPORTANTE A ALEGRIA DE VIVER, A PAZ DE ESPÍRITO, A CONSCIÊNCIA TRANQUILA”
Eu competi com a minha filha, sempre!
Analisando nossas histórias de vida, eu
consegui entender porque vivi em pé de guerra com ela, mas isso não justifica
porque eu prometi que tudo seria diferente e falhei. Que vergonha!
A Glória foi minha primogênita e eu a
culpei pelos estragos do meu corpo após a gravidez. Depois dela, ainda tive
mais dois filhos que foram a luz dos meus dias.
Eu sempre fui vaidosa, enérgica e
impetuosa. O que desejava, queria na hora e meu esposo sempre fez todas as
minhas vontades.
Enquanto Glória era criança, ela não me
irritava tanto, mas conforme foi crescendo, eu via nela uma beleza que
incomodava. Eu nunca disse isso para ninguém. Imagina, a mãe com inveja da
filha...
Mas, a verdade é que aquilo parecia uma
punição porque enquanto eu envelhecia e me tornava velha, ela envelhecia e se
tornava cada vez mais vistosa, mais exuberante e isso me revoltava.
Então, eu fazia de tudo para esconder a
beleza dela, principalmente quando saíamos todos juntos. Mas, não houve como
esconder a menina.
Mesmo com aqueles óculos horrorosos e
as roupas fora de moda, ainda assim, as pessoas percebiam a beleza da Glória.
Sabe aquela jovem que veste um trapo e fica bonita? Assim, era a Glória. Ela
era bonita quando acordava e estava toda descabelada.
Daí as pessoas exaltavam a beleza dela
comentando e fazendo gracejos, eu sabia que deveria me sentir envaidecida por
ser a mãe dela e tudo mais, só que eu ficava irada e com inveja da menina.
Nossa! Eu comecei a me culpar de forma
inconsciente. Eu me perguntava por que sentia tudo aquilo por ela. Por que eu
invejava minha própria filha? Eu só entendi quando cheguei aqui.
Em outra existência, eu fui a madrasta
da Glória e ficava de canto, todas as vezes que meu esposo a socorria porque
ela estava sempre doente e necessitava de muito apoio e cuidados.
Eu me arrependi por ter casado com ele,
eu não desejava competir com ela, ter que implorar o tempo do meu marido, eu
fui a megera que criticava a moça doente. Eu fiquei tão irritada que, num dia,
em que ela estava em crise, recebi um telefonema dela solicitando a presença do
pai, eu disse que ele não podia atender ao telefone e falei que daria o recado.
Ela implorou para ver o pai, mas eu, de propósito, não falei nada para meu
esposo e ela faleceu naquele dia.
Eu fiquei com muito remorso, ela podia
ter se despedido do pai e eu não teria carregado aquele peso até o fim dos meus
dias.
Quando nos encontramos no mundo
espiritual, eu disse que faria tudo o que pudesse para ela. Me informaram que
ela podia ser minha filha e o pai seria o mesmo, o meu marido de antes para que
pudessem viver o que ficou pendente. Eu prometi que daria toda assistência a
ela e que nos entenderíamos fazendo nascer o amor, mas eu sucumbi pela vaidade
e competitividade.
Eu a tratei como enteada, mesmo sabendo
que ela era filha do meu ventre.
Glória foi uma boa filha, ela nunca se
incomodou de esconder a beleza e nem queria chamar a atenção. Ela jamais
discutiu comigo ou me negou atenção.
Eu envelhecia depressa e quando
percebi, já era avó, toda enrugada, feia como era por dentro, no meu íntimo,
cheia de chagas morais.
Glória comprava acessórios, brincos e
perfumes para me agradar.
Ela trazia as blusas com rendas e
falava o quanto eu era bonita.
É preciso ter dignidade para envelhecer
e compreender que a filha ou a neta têm traços harmoniosos, jovens e exuberantes,
cheios de vitalidade, mas nem por isso, você é feia, gorda e desengonçada.
Cada um pode deixar evidente a beleza
que traz em seu interior, por isso, é tão importante a alegria de viver, a paz
de Espírito, a consciência tranquila.
Um dia, é isso que ficará evidente em
você. Quando as rugas começarem a surgir, os cabelos ficarem cada vez mais
brancos, você vai deixar evidente estes traços de sabedoria, bondade e alegria
de viver que contagiam a todos.
Você estará cada vez mais bela porque
se sente bem com o seu interior.
LURDES
07/11/2021
Eu compreendo que tudo partiu da forma como eu tratei todos os meus filhos. Poderia ter sido diferente se tivessem recebido o aprendizado adequado, mas eu dei valor para a matéria e não posso reclamar neste momento.
Eu desencarnei e me senti atordoado. Parecia que as coisas continuavam
exatamente iguais, se não fosse a impossibilidade de ser ouvido ou visto por
eles.
Eu participei do funeral, vi a todos, escutei até o que pensavam sobre
mim, eu me ofendi.
Queria ter sido mais considerado e respeitado. Eu desejei que eles
sentissem a minha falta ou comentassem sobre meus feitos, sobre os meus valores
morais, mas eles riram, eles me ofenderam. Era a ofensa da minha memória, da
minha consciência, de tudo o que eu havia vivido.
Eles só puderam comentar sobre meus erros e minhas leviandades: “Lembra
aquela vez que ele levou uma surra?”
Enfim, eu me senti tão envergonhado...
Tinha pessoas que choravam, mas passados dois dias, tudo voltou ao
normal. Eu estive em meu antigo lar, eu vi o quanto estavam preocupados com a
partilha dos bens. Ficaram tão revoltados com minhas dívidas, com a venda da
casa, com a oficina cheia de prejuízos, impostos atrasados e começaram a me
maldizer.
Será que no final só se importam com isso?
Não poderia ter restado algo de importante entre nós? Eles me
desonraram, mas eu fui o responsável por isso.
Aguardei muito tempo até que eles pudessem sentir minha falta, falta de
mim por quem eu era, cheio de vícios e defeitos, mas como o pai e o avô deles.
Eu precisava saber que tinha um lugar de importância naquela família.
Eu perambulei e esperei até aquele dia. Fui até o local onde me
enterraram e aguardei. Eu vi a lápide, eu vi a inscrição: “Pai Amado.” Será?
Eu esperei e não encontrei com nenhum deles. Meu desejo de vê-los foi
tão forte que imediatamente fui arremessado para um local onde meus filhos
estavam festejando. Festejando?
AH! ERA FERIADO!
Eles comiam e bebiam com muito entusiasmo. Eu fiquei revoltado. Nem por
um momento se lembraram de mim, da nossa convivência. Por que me esqueceram tão
rápido?
Naquele momento, eu me ajoelhei e chorei. Foi como se eu não tivesse a
quem recorrer. Eu não estava vivo para eles. Eu também não estava morto. Eles
me esqueceram, então, eu havia desaparecido. E desaparecer é muito pior do que
morrer.
Eu não acho que as pessoas tenham que idolatrar os mortos, de jeito
nenhum, mas devem respeitá-los, se lembrar deles. Se entregar num momento de
respeito com uma prece para ser endereçada ao seu familiar é como gratidão
pelos momentos em que estiveram juntos, porque afinal, todos ofertam momentos
de carinho e doam coisas boas.
Eu chorei e pedi ajuda porque eu não podia continuar perambulando,
sofrendo naquela condição.
Fui resgatado e estou sendo assistido. Ainda necessito de muito
entendimento e de muita elevação.
Eu aconselho que, nesta data de finados, as pessoas tenham respeito por
todos os desencarnados, seja por seus familiares, amigos ou por todos os
desconhecidos que adentraram o mundo espiritual.
Numa grande corrente de oração para que os Espíritos possam receber
fortalecimento de energias salutares. Isso também é caridade e solidariedade.
MANUEL
01/11/2021
-------Paula Alves----
“PARA QUE A MORTE CHEGUE TRANQUILA E PACÍFICA, NADA MELHOR DO QUE TER
VIVIDO COM EMPENHO E RETIDÃO”
Foi um momento muito difícil. Resgate mundial. Desencarne em massa,
coletivo. Tantos que vieram desenganados, frustrados ou perturbados, sem
conhecimento.
O trabalho foi árduo, mas Deus tem planos para cada um de nós.
Neste momento, muitos sentem-se abalados. Isso é fruto da
hipersensibilidade, sensação de luto que envolve o mundo. São choros,
sofrimentos e angústias de quem perdeu seu ente querido ou de quem perdeu seu
corpo físico e teve que mudar de plano.
O mundo todo deveria se predispor a prece, ao consolo e ao refazimento.
Deveríamos nos entregar a atitude sincera de resguardo psíquico onde nos
envolvemos com o Criador buscando equilibrar nossas energias. Foi um momento
delicado da evolução planetária.
Oração por nós, oração por todos aqueles a quem amamos, oração pelos desencarnados
que merecem nosso respeito e consideração.
Sejamos gratos a todos aqueles que padeceram e modificaram a sua
situação material para ajustarem-se à Lei.
Consciência de resignação, fé e certeza de que todos nós passaremos para
o mundo espiritual no momento adequado, então, não devemos temer a morte, mas
tratá-la como algo natural que nos permite obter o esclarecimento necessário
para prosseguirmos no rumo da evolução.
Se tivermos em mente que a forma como vivemos determinará a forma como
iremos desencarnar e também para o local onde seremos enviados após a nossa
morte, poderemos ser mais responsáveis e amorosos, enquanto encarnados.
O medo da morte é importante para vivermos com proteção e respeito à
vida. O medo da morte deveria servir para evitar uma série de abusos.
Não podemos nos enganar acreditando que a vida serve para nos
divertirmos e, com isso, perdermos a oportunidade de redenção, muito pelo
contrário, vida é trabalho e aprendizado. Vida é atuação útil e ressarcimento.
Para que a morte chegue tranquila e pacífica, nada melhor do que ter
vivido com empenho e retidão.
Assim, quando a morte chegar, você aceitará todas as suas condições com
a certeza de que, o que te espera, é uma pausa para restituir suas forças e viver
a verdadeira vida.
AMADEU
01/11/2021
-------Paula Alves----
“É ISSO, SAIBAM VIVER PARA QUE POSSAM TRANSPOR A MORTE COM SERENIDADE E
DIGNIDADE”
Eu fiquei tão desesperada quando meu pai morreu. Eu queria me sentir em
paz, mas eu estava angustiada.
Eu soube da Doutrina Espírita e da versão deles sobre a morte, ou
melhor, sobre a vida após a morte. Eu também queria notícias. Eu precisava
saber se ele estava bem, em paz.
Demorou tanto para que eu pudesse perceber que eu tinha remorso. Eu
tinha um conflito interno, psicológico em relação aos meus pais.
Tive todas as oportunidades de ser uma filha presente, boa, submissa e
amorosa, mas eu dizia sempre que tinha que cuidar da minha vida, eu tinha
tantos afazeres, eu não tinha tempo para eles, mas o tempo não espera por nós.
Se você quer conviver com alguém, a hora é agora. Se você quer conversar
ou dizer que ama, se você quiser doar afeto é hoje.
A vida não espera por você e o dia dos meus pais chegou. Primeiro minha
mãe, e quando isso aconteceu, meu pai ficou arrasado, ficou só. Ele sempre me
pedia para ir visitá-lo, levar as crianças, almoçar com ele, mas eu tinha
sempre algo mais importante e faltei, falhei, eu o evitei.
Em parte, eu justifiquei dizendo que a casa não era a mesma sem a mamãe,
mas eu também não estava muito presente com a mamãe por perto.
O fato é que eu senti a ausência deles depois da morte e me senti
sozinha, me senti culpada.
Eu não percebi que os atrapalhava. As minhas lamentações atrapalhavam os
cuidados que eles recebiam na colônia espiritual. O meu choro e os meus
pensamentos enlutados perturbavam a recuperação deles que sentiam minha indignação.
Eu levei anos para perceber isso. Em vida, nunca tive notícias deles e,
por algum tempo, considerei a ideia de que somos pó e nada mais. Eu cansei de
chorar e acreditei que, meus pais e todos nós, morremos e acabamos para sempre.
Vivi minha vida e um belo dia, morri.
A grande verdade da vida: todos nascemos, todos morreremos.
Sabia Justiça Divina, todos nós morreremos. Resta saber quando, como e
para onde iremos.
Raras são as pessoas que se preparam para morrer. Raríssimos se
preocupam em preparar sua mente para o desencarne.
Preparar a mente é se elevar moralmente, aumentar suas virtudes, estar
ligado ao bem para ficar próximo dos Bons Espíritos.
Isso encaminha para o bom lugar onde você se restabelecerá para retomar
a jornada evolutiva.
Eu não sabia e morri. Levou um tempão, sofrendo para depurar e me
libertar da péssima filha que fui, mas quando pude receber socorro, quem estava
lá?
Meus pais! Ah! Bendita oportunidade de rever os anjos que estiveram
comigo. Quão bondoso é o Senhor que nos permite viver para sempre e rever
aqueles a quem amamos.
É isso, saibam viver para que possam transpor a morte com serenidade e
dignidade.
ISABELA
01/11/2021
-------Paula Alves----
“PERFEITO É O SENHOR QUE NOS CONCEDE O REENCONTRO”
Eu amei aquela mulher com todas as forças do meu coração. Fui separado
dela de forma tão brusca e violenta, acidente de avião, resgate coletivo.
Minha amada! Pensei que fosse morrer de tanta tristeza, mas o amor aos
filhos fez com que ela resistisse e enfrentasse as duras privações que vieram.
Mulher de fibra e moral irrepreensível, meu grande amor.
Eu fiquei no lar, por um tempo não tive condições de me separar deles.
Logo, fui informado por nobre senhor de que deveria partir para um local
apropriado para o meu refazimento, aquele já não era o local adequado para mim.
Mas, eu quis debater com ele, informar que eu não podia deixá-la sozinha
com nossos filhos. Ele me esclareceu muitas coisas, me informou sobre o
desencarne e eu revi as cenas finais, demorou até que eu pudesse reconhecer
nele o meu avô amoroso.
Ele falou ainda, que minha esposa e filhos sentiam minha presença e isso
causava mais sofrimento e sensações angustiantes, ele me pediu para acompanhá-lo.
Naquela conversa eu entendi porque é tão importante orar pelo
desencarnado e pedir que Deus, Jesus ou os Bons Espíritos possam encaminhar o
ente querido que desencarnou. As pessoas não devem evocar aqueles que morreram
por mais que amem, isso atrapalha os dois lados, todos sentem dor, sentem-se
mal. Ninguém está desamparado.
Eu percebi que tinha alguém cuidando de mim e também tinha seres iluminados
cuidando dos meus familiares, por isso, eu parti com o avô.
Segui as instruções, me preparei e pude ver como estavam, de tempos em
tempos.
Quanta saudade! Nós recebemos notícias, nós sabemos deles e torcemos,
sentimos quando fracassam e desejamos que se saiam bem.
Foi como estar viajando num mundo distante onde apenas eu recebia
notícias, ela estava arrasada, mas seguia em frente, resignada e cheia de
coragem.
Elvira nunca se casou, viveu para a família e cuidou bem dos nossos
filhos.
O tempo passou e eu continuei no mundo espiritual com minha vida, recebi
liberação para trabalhar e estudar, assim poderia aguardar por eles.
O tempo passa rápido para aqueles que se tornam úteis e quando eu menos
esperei, lá estava ela, no leito de morte.
Me avisaram de que seria naquela noite e eu fiquei aflito, ansioso. Eu
poderia estar presente. Foi como saber que minha amada viria ter comigo naquele
mundo em que eu estava.
Mas, eu me preocupava com meus filhos e netos, com ela, com o seu
desprendimento.
Eu orei para ser tranquilo e rápido, para ela aceitar.
Elvira estava velha, consciente e evoluída, aprendeu muita coisa. Ela
foi perfeita! Se libertou como um passarinho e me viu, um pouco confusa.
Eu a acolhi em meus braços e a conduzi para a colônia.
O calor daquele abraço foi o oásis para mim. Perfeito é o Senhor que nos
concede o reencontro.
Eu sou muito feliz com o amor da minha vida. Bendita é a morte que nos
liberta da matéria.
LEON
01/11/2021
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