Cartas de Novembro (20)

 


“POR QUE TUDO É MAIS SIMPLES QUANDO SE TRATA DA VIDA ALHEIA?”

 

Eu só queria ficar sozinho. Quieto no meu canto.

Minha mãe insistia que eu devia socializar com os familiares e ser mais amistoso, cordial, mas eu não queria papo, eu precisava ouvir o silêncio, eu queria paz.

Por que é tão difícil para as pessoas entenderem que é bom ficar sozinho?

Tentei, por diversas vezes, estar entre eles, dialogar e fazer parte do grupo. Eu tentei compreender por que faziam certas coisas, mas era tudo muito distante de mim. Acho que não tínhamos nada em comum e ficou complicado me sentir aceito, então, a tristeza tomou conta de mim.

Era uma melancolia que me deixava apático, sem razão para viver. Eu não queria ser só, mas as pessoas ao meu redor não me estimulavam a estar com elas, eu me sentia distante e incompreendido.

 

Deve ser muito prazeroso quando as pessoas se completam, quando as palavras não são necessárias porque existe uma interação psicológica e emocional, uma empatia tão grande que as pessoas sentem a aproximação dos seus afetos, mesmo estando a quilômetros de distância. É a confiança que se tem por quem se ama. Isso eu nunca tive, mas desejei.

Eu preferia ficar no quarto com meus livros, minhas músicas e minha solidão. As pessoas me cansavam porque era desgastante dar motivos para o meu modo de ser.

Acho que eu conseguia viver com eles do jeito que eram, mas eles se envergonhavam de mim e me cobravam uma mudança comportamental, no vestuário, no linguajar, enfim, eles queriam outra pessoa, não eu.

 

O grande problema nos relacionamentos é a falta de aceitação. É como nos filmes, quando você torce para que o protagonista desajeitado dê uma reviravolta e se transforme no galã, sabe?

Eu nunca conseguiria atingir o patamar de galã e nem queria gastar minhas energias nisso. Eu queria que alguém me ouvisse e compreendesse minha essência e meus porquês.

Foi isso que me deprimiu. Ter a certeza de que eu jamais seria amado pelo que era no íntimo.

Por mais que você se esforce para não se perturbar com as opiniões alheias, a verdade é que todos nós queremos fazer parte dos grupos, nós queremos atenção.

Quando eu me entreguei para a realidade da minha vida e parei de tentar, a doença tomou conta de mim. Eu desisti, não quis mais argumentar com eles, enfrentar os olhares de repressão e daqueles que me ignoravam porque eu não seguia os seus conselhos.

Eu me abati tanto que os pulmões não aguentaram.

Em outros tempos, eu já havia sofrido muito com a minha família, nós não superamos nada. Não superamos porque os olhares dos vizinhos foram mais poderosos que o amor que nos unia. Não resistimos ao orgulho ferido, amargurado, ao ódio de antigos tempos que só quer vingança e perturbação.

Eu quero muito encontrar por aí aqueles que são meus afetos sinceros. Eu preciso encontrar alguém que me compreenda e não que, apenas diga, que eu estou magoado e ofendido, preciso perdoar.

 

Por que tudo é mais simples quando se trata da vida alheia?

Por que é tão fácil palpitar a vida dos outros e dizer como poderia ter feito isso ou aquilo? Existem tantos hipócritas no mundo!

Eu só queria que alguém pudesse sentir a minha dor e ouvisse sem julgar. Queria muito que alguém pudesse ser caridoso com meus pesares e me ofertasse algo de bom para neutralizar esta depressão que sinto. Ainda é pesado demais.

“Um pouco de luz nesta vida, em você!”

 

FABIANO

28/11/2021

 ------Paula Alves---

 

“DEVEMOS PERMITIR QUE AS PESSOAS TENHAM VIDA PRÓPRIA”

 

Eu fiquei sozinha depois que meu marido morreu e queria ter morrido de tanta tristeza para não ter que enfrentar a vida sem ele.

Eu me acomodei num relacionamento muito conveniente onde meu esposo era meu alicerce, meu tudo.

Ele resolvia todas as questões: financeiras, sociais, políticas, culturais, familiares, enfim, o Eduardo resolvia toda a minha vida.

Ele decidia, escolhia e encaminhava tudo para nós dois, eu não precisava me esforçar para nada.

Eu vivi com ele por quinze anos, dona do lar, esposa, mas não pude ser mãe, infelizmente. Mas, para o meu infortúnio, ele teve uma doença repentina e desencarnou precocemente, ao meu ver.

 

Quando me deparei com aquela solidão e vi o quanto eu era incapaz de gerenciar minha vida, meu mundo ruiu. Eu não sabia, nem mesmo, quais eram minhas preferências, pois deixava tudo aos cuidados dele.

Notei que não tinha amigos porque estávamos sempre juntos, como se bastássemos.

Eu fui obrigada a retomar minha vida, não por ação e vontade própria, mas por necessidade.

Aos poucos, fui obrigada a voltar a viver e rever meus conceitos, minhas lógicas de vida. O fato é que ninguém vive grudado em ninguém, somos independentes, solitários o tempo todo, do início ao fim, no nascimento e na morte, durante toda a trajetória é um caminho individual, só seu.

 

Eu entendi que temos anjos ao nosso lado, zelando por nós, mas as nossas escolhas são respeitadas e os caminhos dependem das obras, do esforço e da inteira vontade de progredir ou estagnar.

Foi na marra que aprendi a me virar na vida. Foi porque não tinha outro jeito e entendo que isso deve acontecer com muita gente.

Devemos permitir que as pessoas tenham vida própria. A mãe deve ensinar ao filho tudo o que for possível para que ele desenvolva sua independência financeira e afetiva. Os cônjuges também devem respeitar a individualidade daqueles que amam.

Isso tudo porque Deus permite sempre o reencontro e deseja que tenhamos uma vida social para que possamos aprender uns com os outros, mas não é para nos acomodarmos em ninguém. Não é para parar de pensar e se jogar no colo de ninguém.

Que cada um possa estar certo do seu caminho de progresso, apesar da vivência em família.  

Foi bom me redescobrir, me ver como uma mulher independente e auto suficiente. Eu sou muito grata ao Patrício por tudo o que vivemos, mas Deus sabe que eu precisava me esforçar para evoluir e aprender a cuidar de mim foi muito importante.

 SUELI

28/11/2021

 

 ----Paula Alves---

 

“EU PRECISEI DO DISTANCIAMENTO DOS MEUS AFETOS AMADOS PARA ENCONTRAR O MEU CAMINHO”

 

Eu não queria viver isolada, eu amava estar com eles, festejar, passear e conhecer o mundo ao lado dos meus irmãos e primos.

Mas, meu pai sabia das minhas necessidades e me enviou para o exterior para estudar. Dizia ele que eu era muito irresponsável e não me tornaria uma pessoa empreendedora se continuasse com aquela vida de quem não quer nada com nada.

Eu disse que poderia estudar na nossa cidade e faria o possível para ele ter orgulho de mim, mas meu pai me conhecia muito bem, ele sabia que eu não tinha interesse de diploma, eu gostava de viver tranquila, com a família que me amou o tempo todo.

Parecia que ele pressentia que eu estaria estagnada se continuasse ali.

Existem muitos afetos que se reencontram e, é tão grande o prazer que sentem juntos, que nada mais importa. Era como se estivéssemos jogando fora a oportunidade de elevação.

Eu não me interessava em estudo, trabalho, redenção e estava deixando meus planos de lado para viver com eles, sorrindo e cantando, bebendo e festejando.

Contra a minha vontade, meu pai me colocou naquele avião e me despachou para o exterior.

Cada dia que eu passava naquele lugar foi como um exílio, um castigo e tudo que eu ambicionava era retornar para estar juntamente com os meus. O tempo passou vagaroso e, mesmo que eu não me interessasse, o estudo tomou conta de mim, o trabalho e a satisfação fizeram parte da minha vida.

Foi como se, dentro de mim, a realidade fosse descortinada e eu descobrisse as minhas reais necessidades, necessidades evolutivas.

Neste período, conheci Robert e vi em seu olhar o quanto tínhamos uma ligação importante, imperiosa, eu me casei, constitui família muito longe da minha casa, da terra natal. Foi com grande pesar que tive a certeza de que meu caminho estava traçado para sempre.

 

Eu retornei nas férias, fiquei com meus amados familiares poucos momentos, inesquecíveis, que me encheram de alegria, mas meu mundo era longe dali, num lugar onde pude trabalhar, me desenvolver e realizar tarefas que me edificaram.

Meu pai estava certo, eu precisava da solidão para colocar a cabeça em ordem. Eu precisei do distanciamento dos meus afetos amados para encontrar o meu caminho. Nós precisamos estar cientes das nossas obrigações. Ninguém nasce só para festejar e curtir a vida. Para se desenvolver de verdade o caminho é árduo.

CONCEIÇÃO  

28/11/2021

 

---Paula Alves---

 

“HOJE SOU AGRADECIDA AS INSPIRAÇÕES QUE RECEBI PARA SER CARETA E ANDAR NA LINHA”

 

Como eu poderia estar com eles, se eu via o quanto cometiam erros?

Eu tinha medo de me comprometer diante dos meus familiares e da sociedade da qual fazíamos parte.

Tão logo notei suas más intenções, tentei me afastar. É muito difícil tomar um lado e se manter distante quando o grupo sabe que você conhece todos os imprudentes.

Eu sabia de muita coisa que aqueles jovens faziam, por isso, me afastei. Minha mãe não entendeu quando me viu no quarto, sozinha, sem amigos, sem festas. Ela perguntou se alguma coisa estava errada, disse que eu precisava ter amigos, mas ela não percebeu como cheguei modificada, tantas vezes, pelo uso de drogas, pela bebida?

Às vezes, eu acho que alguns pais fingem não ver, assim o filho sai de casa, o pai fica com a casa vazia daquele jovem que incomoda e que Deus o proteja porque o pai fez o que pode. Sei lá, acho que é omissão e covardia porque jovem não entende muita coisa da vida e precisa de direcionamento, eu precisava.

 

Minha mãe me pedia para sair de casa e eu estava com medo do que poderia acontecer, então, preferi ficar sozinha.

Foi assim que, numa noite quente de verão, eles foram mais imprudentes que o habitual e acabaram desencadeando um acidente na rodovia, muitos deles não suportaram o acidente e desencarnaram.

Cada um só desencarna no dia certinho, não existe como mudar esta condição, mas eu precisava ter a certeza de que o correto é andar na linha, nem que para isso, a solidão tenha que tomar conta da nossa vida.

Eu vivi muitos anos, fui esposa, mãe, avó, bisavó e nunca me esqueci daquela fase tão difícil em que fui solitária por medo de me viciar e morrer antes da hora.

Eu não antecipei nada, vivi muito, aprendi muita coisa e hoje sou agradecida as inspirações que recebi para ser careta e andar na linha.

 SORAIA  

28/11/2021


---Paula Alves---




“NOSSOS FILHOS FORAM ENSINADOS A VALORIZAR O SER HUMANO, OS SENTIMENTOS, OUVIR AS PESSOAS E SEREM MUITO GENTIS”

 

Foram muitas as vidas com a pele escura. Momento precioso de vivenciar tantos ensinamentos.

A mais longínqua lembrança foi no quilombo. Vivência cheia de sofrimento e dor. Mulher negra, serviçal, precisava servir homem branco em todos os sentidos. Foi muito difícil ter filho de senhor de engenho. Me privar de viver o amor com o Antônio, ter família porque tinha que servir o senhor na cama.

Meus filhos não tinham direito nenhum, eram rejeitados e ofendidos pela sinhá, pelos filhos brancos do casal. Filhos da escrava eram escravos.

Tem gente que vai gostar de dizer que tudo isso servia para prova de humildade e disciplina, mas ninguém ia desejar viver na minha condição, ninguém.

 

A prova serve para os dois lados. Não serve para abrandar a condição do senhor de escravos que estuprou, agrediu, puniu e sentenciou seus subalternos. Violência de todos os tipos.

Mas, a Lei de Deus é muito perfeita. Agressor de escravos, volta com a pele negra. Ficamos unidos para sempre, o senhor e eu.

Voltamos novamente unidos, mas desta vez, eu era a irmã dele, ambos negros, libertos, pobres e sofredores.

Nesta vida, meu irmão odiava a sua condição, maldizia nossos genitores e posição social, racista na pele enegrecida, tinha pavor até de se olhar no espelho. Escolheu mulher branca, sofreu com a discriminação, não pode se casar com ela. Não é qualquer amor que aguenta.

Fomos e voltamos diversas vezes, até que a consciência despertasse para a igualdade. Não importa a cor da pele, mas nossos gestos sociais, nosso equilíbrio emocional e desenvolvimento moral.

Ele tratava os brancos com todo o respeito e não considerava os irmãos de raça. Foi aí que eu compreendi que também estava errada porque eu desacreditava os brancos. Nunca me dei conta do quanto hostilizava os brancos.

Eu tinha uma honra e uma dignidade de mulher negra que eram bonitos de se ver, mas eu sentia horror aos brancos. Das mulheres brancas com sua delicadeza, sua forma de vestimenta, suas músicas de branco, tudo.

Era tudo muito distinto como se o mundo fosse todo preto e branco, mas precisei observar meu irmão para compreender que eu também era racista.

A sabedoria de Deus imperou novamente porque viemos como branca e negro, agora com uma relação de afeto que me deixava intrigada. Eu me sentia atraída por ele, sua forma de se expressar e falar, sua intelectualidade, mas algo me irritava. Não foi possível escapar porque ainda estávamos unidos, planos traçados para sermos casal, foi o que ocorreu, nos casamos.

 

Eu, branca, tive que aprender a respeitar minha cultura e jeito de ser. Ele, a mesma coisa. É complicado quando a rejeição nasce dentro de você. É bem mais fácil e compreensível quando a gente rejeita o outro, não suporta olhar ou entrar em contato com o outro, mas quando a rejeição é com você, é bem estranho.

Eu não me aceitava. Não me via daquela maneira. Negra em corpo branco, mente de crioula. Estranho demais, mas foi perfeito.

Nós podemos voltar de qualquer forma e isso é muito bom para aprendermos a amar o outro por sua essência.

É como se você tivesse que fechar os olhos para reconhecer a pessoa pelo que ela é. Eu entendi. Aprendi a me amar naquela vida. Aprendi a nutrir um afeto grandioso por meu companheiro e tudo cresceu mais e mais com nossos filhos. Todos mestiços, lindos! Eu amei cada um dos meus filhos. Eles eram únicos e exuberantes. Cabelos lisos e encaracolados, pele mais clara e mais escura, dentes perfeitos, unhas fraquinhas ou não. Cada um com uma particularidade e encanto.

Tinha de tudo no nosso lar, samba e música clássica. Todos os tipos culturais e todas as possibilidades. Nossos filhos foram ensinados a valorizar o ser humano, os sentimentos, ouvir as pessoas e serem muito gentis.

Eu aprendi muito e sou extremamente agradecida. Amei, vivi e tenho orgulho de ser quem eu sou, independente da cor da minha pele: branca, negra, mulata... Isso não importa, o importante é o que trago na alma.

 

CAROLA

20/11/2021

 

-------Paula Alves-----

 

“O RACISMO DESTRÓI FAMÍLIAS, FERE A DIGNIDADE E O MENOSPREZO ENVERGA O SER HUMANO”

 

Eu renasci com um vergão nas costas. Minha mãe dizia que era marca de nascença. De vez em quando, ardia, doía como se tivesse recebido uma chicotada naquele instante.

Eu tinha sonhos quando criança e morria de medo do meu pai. Às vezes, eu sentia que ele estava querendo me matar, então, eu fazia de tudo para não contrariá-lo. Fui bom filho, nunca desobedeci, medroso e acanhado.

Eu soube, pelos olhares dele que poderíamos ter uma briga terrível porque ele sempre me rejeitou. Aquele olhar nunca poderia se modificar, mas os planos de Deus levam sempre ao perdão e resgate.

 

Fiz o que devia fazer para satisfazer o orgulho dos meus pais, mas o tempo passou e ele envelheceu precisando dos meus cuidados, mamãe não tinha forças para banhá-lo.

Ele desenvolveu uma doença mental que fazia com que ele perdesse a noção da realidade. Mas, hoje eu sei que aquela doença era, de fato, reminiscência do passado.

Quantas não foram as vezes que ele olhou para mim e disse:

- Ah! Negro, seu imundo, ande logo com este serviço! Quantos açoites ainda deve receber para que saiba qual é o seu lugar?

Eu não compreendia, achava que ele estava delirando porque todos nós éramos muito brancos, mas tudo tem explicação deste lado.

Fui sim, seu escravo. Apanhei muito, chicotadas que me feriram tanto o perispírito que me trouxeram uma marca nas costas, a tal marca de nascença.

Meu pai nunca me olhou com amor, nunca me compreendeu, não foi cordial comigo, jamais.

Eu nem sei se conseguirei entender, mas sinto falta de afeto e amparo. O racismo destrói famílias, fere a dignidade e o menosprezo enverga o ser humano. Existem muitos que conseguem superar, não é o meu caso. Preciso de terapia e nova oportunidade com o esquecimento para tentar novamente.

Desta vez, ele será o filho. Eu vou amá-lo, se Deus quiser. Novamente como negros, ele também. Preciso ensinar a ele, a demonstrar respeito pelos semelhantes, independente da cor ou classe social. Retornaremos jubilosos com a graça do Senhor.

 

FRANÇOSO

20/11/2021 

 

-----Paula Alves----

 

“REVER SEUS CONCEITOS, ELIMINAR A HIPOCRISIA PARA NÃO CHEGAR À LOUCURA DO RACISMO QUE AGRIDE, CONSTRANGE, FERE E MAGOA OS SEMELHANTES”

 

O racismo destrói famílias, fere a dignidade e o menosprezo enverga o ser humano.

 

Eu não podia recebê-la em nossa família. Permitir que me filho se casasse com ela, seria inaceitável. Como é que eu podia dizer às minhas amigas que ela era minha nora?

Mas, o Rodrigo estava apaixonado... Eu pensei que aquilo devia ser obra de bruxaria porque meu filho sempre teve bom gosto com as mulheres, mas gostar de uma mulher semianalfabeta, grosseira e que, nem mesmo, tinha uma profissão, era inaceitável!

Meu filho único! Sim, porque a Romilda não contava, não é?! Mulher não contava. Ele era minha esperança de progresso, de sossego na velhice, se meu marido faltasse, mas aquela mulher me deu arrepios.

 

Meu filho estava encantado, disse que nunca havia conhecido uma mulher tão guerreira, esforçada, trabalhadora. Ela tinha tantos adjetivos para o Rodrigo, esqueceu de mencionar que em sua família todos eram escurinhos...

Eu me enfureci e fui obrigado a dizer francamente que não aceitava que ele se casasse com uma escura, o que seria de meus netos?           

Ele riu de mim, disse que não podia admitir que eu fosse racista. Acho que não é bem esta a palavra, não me importava muito com isso, mas ela era sem educação, falava alto, dançava, envolvia meus convidados, pra quê?

Se ela soubesse se comportar e fosse mais silenciosa, até podia tentar...

 

Eu confesso que fiz várias armações, tentei separá-los. Eu nunca tive más intenções. Eu achei que conseguiria escolher uma mulher melhor para ele e uma nora melhor para mim, mas o que eu consegui foi o distanciamento com meu filho quando eles se casaram.

Ele sempre foi bom, mas ela separou meu filho de mim.

Passei anos sem aceitar que ela entrasse na minha casa e nunca quis contato com os filhos deles, todos sem educação como a mãe.

Mas, a verdade é que o tempo é implacável! Eu escutei do meu esposo, diversas vezes, que eu era muito dura com eles, eu era racista! Palavra horrível de escutar.

 

Meu esposo tentou me fazer enxergar o quanto eu era mesquinha, egoísta e racista. Depois de anos, meu marido morreu, minha filha nunca aguentou viver comigo, foi morar fora do Brasil e quando eu adoeci, adivinha quem cuidou de mim? A negra!

Meu Deus! Como ela foi boa e delicada. Cantava para mim, fazia caldos, lavava meus pés e pedia para os meus netos lerem para eu dormir mais confortável. Ela lia o Evangelho e sorria como se dissesse que me perdoava pela péssima sogra que eu era. Que vergonha!

Depois de um tempo, eu já estava profundamente arrependida, nem mesmo, conseguia olhar nos olhos dela. Eu vi tudo! Mulher guerreira, trabalhadora, dedicada, leal, companheira, amorosa, altruísta e cristã. Esta era a minha nora negra e linda!

O racismo é como um fel que destrói os melhores sentimentos, faz com que você não enxergue nada ao seu redor, nada com clareza. É chaga moral que leva o ser humano a se expressar de forma horrenda. Eu era como um monstro para ela porque eu não permitia que ela se apresentasse para mim, eu não queria conhecê-la porque estava definindo a pessoa dela pela cor, mas qual é a diferença?

Depois que me deixei envolver pelos sentimentos de amor e gratidão, eu perdi a definição de tudo o que pensava dela. E me envergonhei muito. Daí o câncer tomou conta de mim, rápido demais porque eu não podia perdoar o meu comportamento tão leviano.

Minha nora querida foi melhor que uma filha, foi amiga, mãe, irmã. Esteve ao meu lado o tempo todo e me fez rir, me fez entender o Evangelho, me fez ter gratidão por tudo e, por isso, pude vir para cá, graças a Deus, senão, nem sei como teria sido, aquela racista cruzando as portas da eternidade.

Eu melhorei por causa dela e tenho muito afeto, será um prazer nos reencontrarmos em breve.

Cada um de nós, deve se empenhar em limpar as chagas que carrega no peito. Rever seus conceitos, eliminar a hipocrisia para não chegar à loucura do racismo que agride, constrange, fere e magoa os semelhantes.

A igualdade deve imperar do fundo do coração.

 

JADE

20/11/2021

 

  ------Paula Alves-----

 

“EDUQUEI NOSSOS FILHOS PARA RESPEITAREM AS DIFERENÇAS E AMAREM AS DIFERENÇAS, BUSCANDO A IGUALDADE NOS RELACIONAMENTOS E AMBIENTES SOCIAIS”

 

Eu olhei para aquele homem e foi como se reencontrasse o amor da minha vida. Eu nem tinha conhecimento da imortalidade da alma. Naquela época, eu não estava pensando nestas coisas, mas eu o vi distante e sabia que era ele, na faculdade.

Cotas para negros! Eles estavam tão envolvidos neste assunto. Falavam da igualdade dos direitos sociais, da liberdade de expressão, da necessidade de chegar aos cargos públicos mais altos para liderança social.

 Ele pegou o microfone e falou que eles tinham as mesmas condições intelectuais, não precisavam de cotas porque não tinha diferença nenhuma entre eles e os brancos.

Eu entendi! Aí estava a igualdade, mas o amigo dele tomou o microfone e disse que precisavam aceitar a oportunidade porque, em outros tempos, eles não podiam entrar nos mesmos lugares, aquilo já era um progresso. Eu me pus a pensar, não tinha ideia do quanto precisaram lutar para conquistarem uma série de coisas que os brancos tinham naturalmente.

Mal me dei conta dos pensamentos desestruturados quando a polícia chegou. Foi um escândalo! Pancadaria, protesto, gritaria e eu corri, mas os nossos caminhos tinham que se cruzar e eu me encurralei com ele, nós rimos e corremos juntos.

A partir daí, nasceu nossa amizade e minha vontade de falar, de argumentar, de equilibrar as massas. Eu queria tanto que as pessoas se vissem como iguais, sem diferença nenhuma. Eu queria que eles parassem de nos olharem com perplexidade só porque eu era branca. Eu queria ter o direito de ficar com ele sem questionamentos ou risinhos inconvenientes.

Eu amava aquele homem e mudei por ele, eu gritei por ele, eu o defendi e deixei muitas pessoas por causa dele. Todos aqueles que nos rejeitaram e me pediram para escolher porque eles se mostraram doentes da alma e ele era o meu amor.

Compreensivo, nunca falou mal daqueles que tentaram apedrejá-lo.

Eu vi muita coisa, mesmo quando, com o passar dos anos, as pessoas se diziam moralizadas, mesmo quando afirmaram que existia a igualdade dos direitos sociais, existem muitos hipócritas.

 

Existem aqueles que se enganam, acham que a filha de pele clara não tem pai negro, falam com racismo e dizem que amam os pretos, porque falam da cor?

Quando existe racismo, existe exacerbação da raça, da discriminação, do taxativo, do peculiar. Eu não aceito!

Não aceito diferença de salário, de cargo, de tratamento, falando com o mestiço na gíria. Eu não aceito a mudança de conduta, de caracterização ou quem esconde as suas origens por constrangimento, alisa cabelo para não parecer afro. Tudo demonstra a sua vergonha! Sua necessidade de apagar as origens. No Brasil? Com tanta miscigenação racial?

Dá para denominar alguém aqui de raça ariana?

É muita desonra, é muita vergonha moral.

Primeiro, a pessoa tem que se reconhecer e se aceitar, depois olha para os demais. Muitas vezes, o comportamento leviano da sociedade sai de dentro de casa porque a família nunca ensinou como as pessoas devem respeitar seus semelhantes.

Outra coisa é o orgulho de ser quem é, a valorização da raça, da oportunidade que recebeu de viver daquela maneira e de assimilar todos os conhecimentos e virtudes que envolvem aquela etnia, se envolver com a sua raça.

 

Eu tive uma vida excepcional. Casei e tive filhos adoráveis. Eduquei nossos filhos para respeitarem as diferenças e amarem as diferenças, buscando a igualdade nos relacionamentos e ambientes sociais. Eles passaram por muitas situações desagradáveis, mas nós crescemos muito e pudemos desenvolver trabalhos sociais de grande alcance humanitário. Isso foi o melhor de tudo, nos desenvolvermos e auxiliarmos nossos semelhantes, graças a Deus.

 VANESSA  

20/11/2021


--------Paula Alves--------

“NÓS ESTAMOS NO MUNDO, MAS NÃO SOMOS DO MUNDO”

 

 Eles nunca compreenderam que a mediunidade é como um sacerdócio.

Muito difícil conviver com as pessoas e não se deixar envolver por seus vícios e atitudes. Eu sempre amei meus familiares, mas estar com eles me colocava à prova de tantas questões morais...

Sempre foram amorosos, pessoas sorridentes que festejam por tudo, formavam amigos por onde andavam e eu adorava estar com eles, mas sentia a influência dos Espíritos e precisava ter a certeza do que ocorria comigo.

Quando consegui ser bem orientado e realizei os cursos de aprimoramento mediúnico, me senti capaz de trabalhar a serviço dos Bons Espíritos para auxiliar aqueles que precisavam de tratamento e orientação sobre o mundo espiritual e, também, para fornecer orientação e suporte para os encarnados que precisavam descobrir o mundo invisível para o seu próprio bem.

 

Eu amava a possibilidade de servir como instrumento do plano espiritual. Eu amei cada momento em que servi de intérprete e pude doar meus fluidos para que alguém pudesse se restabelecer.

Mas, minha família tinha certo receio, temor, justamente porque não compreendiam nada sobre a espiritualidade. Das poucas vezes, em que fui convidado para as confraternizações familiares, me vi envolvido em conflitos que desestabilizavam minhas energias de médium, por isso, precisei escolher.

Isso acontece sim. Como em todo trabalho de assistência espiritual. Nós estamos no mundo, mas não somos do mundo.

Isso poderia explicar facilmente porque eu não podia beber ou comer como todos os outros ou porque nas relações sociais a conversação deveria ser tão elevada, longe de mexericos ou difamações, injúrias ou maledicência. Isso tudo deveria ser preocupação dos cristãos, sejam eles de quaisquer religiões fossem, mas para os médiuns, é assunto importantíssimo.

 

Médium que não serve por amor, de forma gratuita e desinteressada. Médium que não usa do sacrifício e abnegação para poder servir. Médium que não se analisa diariamente para eliminar os vícios morais e físicos. Médium que não se compromete com o Evangelho... Estes médiuns se aniquilam porque viram presas fáceis dos maus Espíritos.

Mediunidade é sacerdócio sim. Mediunidade é serviço de fé junto aos Bons Espíritos que desejam a propagação do Evangelho.

Mas, para que o trabalho seja semeado nos canteiros do bem, é necessário, muitas vezes, sacrificar todos os prazeres do convívio social para estar em paz com a consciência e realmente envolvido com o trabalho edificante que pode beneficiar a si mesmo e a sociedade de encarnados e desencarnados.

 

CLAUDINEI

15/11/2021

 

------Paula Alves---

 

“SE VOCÊ COMPREENDE A NECESSIDADE DO EXAME PREVENTIVO E TEM ACESSO, SE CUIDA AÍ”

 

Era um local tão distante de hospital e exame. Lá, a gente não tinha condições de visitar doutor. A gente se dava conta de que o melhor era fazer chá de erva para tratar doença.

Normalmente, a gente dava conta de se curar com benzedeira e chazinho, mas muitos morriam mesmo sem saber a causa.

Até hoje isso acontece em muitos lugares do Brasil.

Você acha mesmo que todo lugar tem diagnóstico como em São Paulo?

Vixi, Maria! Até preferi que aconteceu comigo porque é de partir o coração ver alguém que você ama sofrendo sem saber o porquê. Dá até desespero saber que tem alguma coisa errada no corpo daquele que você ama e não ter pra quem pedir ajuda porque não tem médico.

 

Eu fiquei foi muito feliz porque o problema aconteceu comigo.

Mas, foi difícil de aguentar a dor e a vontade de urinar.

Nossa! Eu sempre fui cara forte, ligado a pegar no batente, nunca tive medo da luta, mas me senti desfalecer, eu tinha as pernas bambas.

Minha filha e minha esposa ficaram em agonia. Dale chá (risos). Tomei chá que não acabava mais e nada de melhorar, daí comecei a inchar. Não demorou muito, eu percebi que o fim estava próximo.

Então, eu entendi que a primeira prova pra gente é nascer numa região onde não temos a mínima assistência. Não tinha emprego decente, médico, saneamento básico, básico sabe? Não tinha nada naquele lugar e a gente ainda tentava ser feliz.

 

Por isso, que a gente fala que felicidade é algo muito peculiar, individual, pessoal. Só você mesmo para considerar o que te deixa feliz porque para muitos um prato de comida é a felicidade, para outros o remédio que tira a dor é a felicidade, para tantos o carro de luxo é que é a felicidade, então, meu amigo só você para saber o que te faz feliz.

Para mim, felicidade era chegar em casa cansado, quase sem poder caminhar e ver que na minha casa tinha criança brincando e a minha esposa preparando a bóia, cantando. Isso me deixava feliz por saber que independente do meu sacrifício, eles estavam bem, felizes e satisfeitos.

Fazer das tripas coração para levar comida para casa e saber que eles tinham o necessário para viver.

 

Então, eu fui um cara feliz, mas me senti muito mal sabendo que existem tantos como eu que não podem ter acesso ao tratamento de saúde que poderia prolongar nossa vida. Ah! Mas, beleza. Não existem acasos.

A doença chega no momento certinho para a gente ter motivo de retornar.

Eu padeci de um câncer de próstata, mas morri sem saber de que mal eu sofria porque naquela cidade ninguém nem sabia que tinha que fazer exame preventivo. A verdade é essa.

Se você compreende a necessidade do exame preventivo e tem acesso, se cuida aí.

 

JOÃO BARRIGUDO

15/11/2021

 ------Paula Alves-----

 

“A MEDIUNIDADE É COMO UM” SACERDÓCIO!

 

Sentenciado a morrer de amor. Eu olhava para aquela mulher e meu coração batia mais forte. Eu suspirava por ela e tinha ímpetos de fugir com ela, mas eu não podia fazer isso.

O que será que acontece com a gente quando compreendemos o que é certo e o que é errado?

A consciência não permite que a pessoa saia do caminho, saia do eixo.

Eu fui médium e estava sempre sendo testado, eu tinha conhecimento disso. Parecia que os Espíritos me espreitavam para que, no menor vacilo, eu pudesse perder o amparo que recebia da espiritualidade.

A mulher que eu amava, desesperadamente, era casada. Meu Deus! Que castigo!

Eu precisava conviver com ela, admirá-la, sabendo que ela jamais poderia ser minha porque já estava casada e amava seu esposo, tinham filhos e mantinham uma vida regrada e feliz perante a sociedade.

 

Eu não conseguia me ligar a ninguém porque o afeto que eu tinha por ela era grande demais.

Então, compreendi que eu precisava trabalhar mais. Quando você tem tempo para tolices é porque está sobrando tempo, faltando tarefas úteis para você e para os demais.

Eu precisava tirar aquela mulher da minha cabeça e eu tinha tantos questionamentos, tantas indagações do motivo que me ligava a ela e me deixava tão infeliz.

Me comprometi com a elevação necessária, com a aquisição de conhecimentos que me revelassem o motivo de tudo aquilo e descobri coisas intrigantes.

Eu tive conhecimento de um mundo novo e fascinante que me envolvia com a mediunidade. Compreendi o quanto o médium precisa de preparação e estudo. Todo médium passa por um tempo de preparação que é cheio de testes que o habilitam ao desenvolvimento e ao trabalho sério, quando ele recebe o auxílio de um Espírito bom e mais elevado para lhe encaminhar ao trabalho edificante.

Foi incrível perceber que, à medida que eu me esclarecia, todas as coisas se tornavam mais claras para mim, além disso, meus temores e inseguranças, minhas angústias e inquietações, reduziam progressivamente, até que eu notei o quanto aquela mulher era como todas as outras.

Eu, de fato, a respeitava como uma esposa e mãe séria e amorosa, mas não passava disso. Nunca foi amor, nunca.

 

O tempo passou, eu iniciei um trabalho junto com uma equipe comprometida com o bem estar social e nos ajustamos perfeitamente. Desenvolvemos importante tarefa junto aos necessitados do plano físico e espiritual, eu encontrei meu caminho e a minha alegria de viver.

Anos depois, mais controlado e equilibrado, vi nos olhos de Amanda a luz da lua e do sol. Eu consegui amar com sinceridade, abnegação e altruísmo. Nós nos casamos e vivemos felizes com nossos filhos. Sempre servindo a Deus e ao Evangelho.

A mediunidade é como um sacerdócio!

 

JOSUÉ

15/11/2021

 

------Paula Alves-----

 

“AS PESSOAS DEVIAM REPENSAR SOBRE A FORMA COMO OBSERVAM A VIDA E COMO UTILIZAM O DOM DA PALAVRA”

  

Câncer é câncer! Não existe câncer bom ou fácil de lidar porque toda notícia é um baque.

Ninguém espera por um diagnóstico destes. Eu não esperava. Fiz os exames e me decepcionei quando o médico falou que eu estava enfermo.

Pensei sobre tudo o que vivi e a forma como vivi. Eu repensei os dias de alegria e os dias de tristeza ao lado dos meus familiares. Notei o quanto eu sempre fui negativo e amargo.

As pessoas deviam repensar sobre a forma como observam a vida e como utilizam o dom da palavra.

 

Eu sempre tive a escolha de influenciar ou desanimar alguém, como a grande maioria das pessoas, mas eu não me incomodava com a forma como elas receberiam minhas franquezas. Então, eu fui daqueles que não tem dó nem piedade. Eu não tinha papas na língua, como dizem. Feria sem me lamentar.

Mas, a doença fez com que eu repensasse meu comportamento. Talvez, porque senti a maneira como o médico me deu a notícia, fria maneira de ser. Me doeu.

O ruim do ser humano é só entender uma coisa quando dói na sua pele. Não devia ser assim...

Fiquei atento sobre a maneira como meus familiares falavam comigo, sempre com um pé atrás, esperando um coice. Eu não achei aquilo interessante. Quis mudar, mas era estranho ser delicado.

Eu tive algum tempo para tentar porque precisei passar um tempo em casa, recebendo os cuidados deles, com a necessidade da quimioterapia. Que horror!

Acho que minha autoanálise foi eficaz porque, depois de algum tempo, eu já conseguia sorrir, mesmo com dores, sem cabelos, com enjoo, eu sorria e fazia gracinhas.

Então, vou ser obrigado a dizer que foi a melhor fase da minha vida porque eu não precisava ser durão, eu gostei de ser eu mesmo.

Será que foi a cultura que me deixou assim? Machismo? Tinha que ser grosso, durão, rabugento?

Depois de meses, eu estava bem diferente e não aceitava quando o médico falava de qualquer forma comigo. É estranho perceber que, quando você se propõe ser uma pessoa mais delicada e respeitosa com todos, não aceita insultos ou grosserias.

“As pessoas podem ser mais cordiais doutor!” – eu dizia sorrindo.

Meu médico conversava comigo cheio de dedos, literalmente (risos).

 

Foi a melhor fase de todas. A doença serve para curar as feridas morais de todo ser humano. Se você usar este tempo para se reformar e, ao mesmo tempo, que trata o corpo, tratar seu Espírito, você tem muitas chances de superar a doença e se tornar uma pessoa maravilhosa.

Foi isso o que me aconteceu. O bendito médico se tornou um grande amigo e não sabia explicar como foi que eu consegui vencer o câncer de próstata.

Eu vi meu corpo se fortalecer, meus cabelos cresceram tanto que fiz até rabo de cavalo (risos), viajei com minha amada esposa e tratei de ser cordial e amável com aquela mulher que aturou meus resmungos por tantos anos.

Por que será que nós nunca pensamos no quanto somos desagradáveis para as outras pessoas? Achamos mesmo que todos têm a obrigação de nos suportar?

Eu mudei, me curei e vivi por mais vinte e cinco anos, amando e sendo amado. Graças a Deus.

 

VLADIMIR 

15/11/2021         


“NÓS PRECISAMOS TER DIGNIDADE PARA ENVELHECER”

 

Eu não podia permitir que me examinassem daquela maneira, como um animal. Totalmente dispensável aquele exame. Na condição em que eu estava, longe de apresentar qualquer tipo de doença.

Eu estava viril, na melhor idade da vida, aproveitando com a minha esposa para viajarmos e desfrutarmos os bens que conquistamos, após tanto trabalho.

Nossos filhos já estavam crescidos e independentes, cada um na sua casa, com suas famílias e eu não tinha motivos para me preocupar com nada, mas minha filha tinha que me dar dor de cabeça...

Estela era muito enérgica e controladora. Eu amava minha filha, mas ela se envolvia muito em nossa casa. Eu sei que era porque ela não tinha filhos. Ela não conseguia engravidar, e isso, permitia que Estela tivesse tempo livre para se meter em nossa casa.

 

Daí ela me apareceu com uma questão absurda que eu tinha que fazer exame de próstata. Pra quê? Falou que eu estava na idade de fazer exames preventivos, coisa e tal, eu ri. Imagina, fazer investigação de doença, fala sério...

Estávamos com viagem marcada e a minha filha marca exame de próstata. Quem falou para ela que eu queria fazer exame de próstata? Ela só podia estar querendo descontar a raiva dela em cima de mim.

Eu já havia notado o quanto os filhos gostam de inverter os papéis. Em determinada fase da vida, eles se sentem superiores aos pais. Eles analisam a vida e acham que devem cuidar dos pais como se estes fossem inúteis, uns velhos enfermos e esquecidos de tudo. Mas, comigo não.

Eu coloquei a Estela no lugar dela. Falei o que estava preso na minha garganta e disse que ela podia cuidar da vida do esposo dela. Eu não precisava viver em médicos como muitos dos meus amigos que permitiram que os filhos se envolvessem nas vidas deles.

Eu não queria criar doenças. O simples fato de pensar muito em uma coisa, permite que ela exista. Disse tudo para ela. Estela saiu arrasada. Minha esposa me repreendeu, disse que esta filha sempre foi carinhosa e se preocupava com nossa saúde. Ela queria cuidar de nós, mas eu não aceitei que estava envelhecendo.

Acho até que, eu morria de medo de fazer um exame e descobrir uma doença. Eu cheguei a mencionar isso com minha mulher. Eu preferia cair duro, a ter que passar por tratamentos e me sentir nas últimas forças. Eu não queria passar meus dias em tratamento.

Foi como uma intuição, eu desejava viajar e ver o mundo, antes que minha vida se tornasse amarga demais.

Eu não realizei os exames que Estela pediu. Minha filha parecia estar pressentindo. Tem gente que recebe aviso até em sonhos. Ela estava aflita, mas eu não permiti que ela se aproximasse de mim.

Foi aí que comecei a me sentir mal. Chegou num ponto que eu precisei buscar socorro médico e descobri o câncer de próstata. Que notícia ruim...

 

Foi atestado de óbito. Eu tinha, mais ou menos, uns três meses. O pior de tudo é você saber que só tem três meses e se sentir tão mal que pede para acabar antes. Pior do que isso é não saber o que acontece depois.

Eu pensava na morte o tempo todo e não tinha ideia do que iria me acontecer. Então, eu virei um velho rabugento. Eu maltratava todo mundo, sem paciência, com medo de morrer.

Eu me arrependi de tudo. Acho que a gente tem que ter dignidade para envelhecer.

Poder fazer exames preventivos e tratar a doença quando está no princípio é uma dádiva. Como se Deus concedesse mais um período para viver com bem estar e restabelecer tudo o que estava pendente.

Eu podia ter pedido perdão para Estela. Ela me amava demais. Eu fui cruel, ingrato e imaturo.

Nós precisamos cuidar do corpo que é a morada do Espírito.

ÁLVARO

07/11/2021

  ------Paula Alves---

 

“NÓS PRECISAMOS TER DIGNIDADE PARA ENVELHECER.”

 

Aquelas rugas me castigavam a alma. Eu me olhava no espelho e me lembrava do quanto fui bonita e cobiçada. Aquelas rugas não deviam estar ali.

Eu comprava potes de cremes, não economizava na esperança que minha pele pudesse voltar a ser como antes, mas nada resolvia.

Inevitavelmente a musculatura despencava, a ação da gravidade cruel com quem passa dos cinquenta anos.

Eu fazia dieta, me alimentava pouco, usava roupas que pudessem esconder os quilinhos que insistiam em aparecer. Cheguei a passar fome! Maldita celulite que parava aqui e ali.

Enfim, a menopausa chegava implacável e junto com ela, todas as sensações desagradáveis que me davam a certeza de que a minha fase de vitalidade estava chegando ao fim.

Eu não via nada de bom em envelhecer. Não queria que meu esposo notasse o quanto eu estava ficando diferente e mudando para muito pior.

Eu tinha uma amiga com a mesma idade que ria de mim, ria das minhas sinceridades e das minhas preocupações.

Mas, meu esposo era um homem muito exigente, ele queria que eu estivesse sempre bem arrumada e eu, fingia, mas sempre notava o quanto ele cobiçava as outras mulheres. Eu não queria ser abandonada e trocada por outra com a metade da minha idade.

 Minha amiga dizia que todas as fases da vida são valiosas porque com elas, aprendemos muitas coisas. Ela dizia que, à medida que envelhecemos, o corpo traz alterações fisiológicas, hormonais e físicas que mexem com nossa mente e acrescenta grandes aprendizados. “Nós precisamos ter dignidade para envelhecer.”

Respeitarmos cada ruga, cada alteração física em decorrência da idade é fundamental. Cada ano que passa é composto por muitos ensinamentos que foram conquistados e a permissão divina para que pudéssemos permanecer aqui em contato com as pessoas que são ideias para nós, para nos conciliarmos com elas, realizarmos troca de aprendizado e aprendermos a amar. É isso o que importa. O corpo deve ser cuidado com carinho e gratidão, pois nos permite trafegar neste mundo, nos envolvendo com os seres que aqui se encontram, mas deve ser tratado com coerência. Cuidar da saúde e da higiene, não cometer abusos, não estragar o corpo, ou seja, não ser imprudente para desencadear doenças ou maus tratos, antecipando a morte do corpo.

 

Minha amiga falava tão bonito. Ela disse que isso bastava. Amar as mudanças do corpo que avançam com a idade era a forma de agradecer tudo o que ele forneceu para caminhar neste mundo.

Minha amiga era tão diferente de mim. Se vestia com conforto, quase sem maquiagem, mas com filtro solar. Ela comia coisas naturais e fazia exercícios regularmente. Adorava estar em contato com a natureza e amava a música. Eu olhei para ela, cabelos grisalhos e muitos defeitos, rugas, barriguinha, mas ela era linda.

Acho que a beleza dela vinha da alma. Beleza de bem estar e mente tranquila. É beleza de verdade. Eu soube que ela trabalhava com as crianças, fazia festas de Natal na igreja. Ela nem tinha marido e era tão feliz.

Eu repensei tudo, pensei diferente depois daquela conversa com minha amiga zen. Eu quis abandonar aquela vaidade toda que estava me aprisionando. Olhei para o espelho e me achei bonita, linda. Decidi melhorar minha mente e ter dignidade para envelhecer.

Você acredita que meu esposo notou a mudança e disse que eu estava mais linda do que nunca?

 

NORMA

07/11/2021

 

-------Paula Alves-----

 

“NÓS PRECISAMOS TER DIGNIDADE PARA ENVELHECER.”

 

Eu não aceitava aquele corpo cheio de marcas. Eu era tão bonita e depois da gravidez virei uma mulher gorda e feia. Eu precisava tomar alguma atitude.

Meu esposo estava sempre dizendo que as pessoas comentavam que eu estava relaxada, mal cuidada e que, nos dias de hoje, isso era um absurdo.

Existiam muitos tratamentos estéticos que podiam me fazer voltar nas medidas de antes.

Eu não queria passar por outra cirurgia. Depois da cesárea, eu me sentia temerosa e disse que faria uma dieta com exercícios físicos. Eu tentei, mas eu tinha uma criança pequena para cuidar, muitas tarefas no lar e não tinha tanta disposição e disciplina para chegar nas metas que desejávamos.

 

Eu chorava porque meu esposo dizia coisas horríveis. Ele chegou a dizer que tinha vergonha de mim e que não queria que eu o acompanhasse na festa de confraternização da empresa. Ele não me levou e eu fiquei chorando. Em minha mente passaram momentos em que fui traída e menosprezada, nada disso aconteceu, mas eu imaginava, piorando minha situação.

O fato é que, depois de ser humilhada no lar, tomei a decisão de recorrer a cirurgia plástica para deixar meu corpo perfeito.

Demorou para que eu pudesse me dar conta de que a cirurgia foi mal sucedida. Eu fiquei naquela sala por horas (na minha mente), chamando pela equipe médica que havia me deixava com a barriga sem sutura. Foi terrível, eu via sangue, não conseguia me mexer e ninguém vinha para me socorrer, até que, uma enfermeira apareceu e segurou minha mão.

Eu perguntava sobre a equipe que estava me operando e ela dizia que não havia mais necessidade da cirurgia. Ela pedia que eu recordasse o que ocorreu naquele dia para que pudesse me erguer da maca e ir para um local apropriado ao meu refazimento, mas eu não queria enxergar.

 

Foi muito difícil para mim, aceitar o momento do desencarne. Sim, eu interrompi minha vida com uma cirurgia estética completamente desnecessária porque eu fui vaidosa e porque meu marido me humilhava no lar.

Nós temos que ter dignidade para envelhecer e aceitar que o corpo se modifica com as fases da vida. A maternidade modificou o meu corpo, mas o meu filho foi a benção que veio do céu e eu abri mão dele porque queria atingir a perfeição das formas físicas.

Eu recebi socorro, recebi o tratamento para restituição do corpo espiritual que também foi danificado com a cirurgia e hoje estou bem. Profundamente arrependida do ato praticado.

 

LUCÍOLA

07/11/2021

 

 ------Paula Alves------

 

“CADA UM PODE DEIXAR EVIDENTE A BELEZA QUE TRAZ EM SEU INTERIOR, POR ISSO, É TÃO IMPORTANTE A ALEGRIA DE VIVER, A PAZ DE ESPÍRITO, A CONSCIÊNCIA TRANQUILA”

 

Eu competi com a minha filha, sempre!

Analisando nossas histórias de vida, eu consegui entender porque vivi em pé de guerra com ela, mas isso não justifica porque eu prometi que tudo seria diferente e falhei. Que vergonha!

A Glória foi minha primogênita e eu a culpei pelos estragos do meu corpo após a gravidez. Depois dela, ainda tive mais dois filhos que foram a luz dos meus dias.

Eu sempre fui vaidosa, enérgica e impetuosa. O que desejava, queria na hora e meu esposo sempre fez todas as minhas vontades.

Enquanto Glória era criança, ela não me irritava tanto, mas conforme foi crescendo, eu via nela uma beleza que incomodava. Eu nunca disse isso para ninguém. Imagina, a mãe com inveja da filha...

Mas, a verdade é que aquilo parecia uma punição porque enquanto eu envelhecia e me tornava velha, ela envelhecia e se tornava cada vez mais vistosa, mais exuberante e isso me revoltava.

Então, eu fazia de tudo para esconder a beleza dela, principalmente quando saíamos todos juntos. Mas, não houve como esconder a menina.

Mesmo com aqueles óculos horrorosos e as roupas fora de moda, ainda assim, as pessoas percebiam a beleza da Glória. Sabe aquela jovem que veste um trapo e fica bonita? Assim, era a Glória. Ela era bonita quando acordava e estava toda descabelada.

Daí as pessoas exaltavam a beleza dela comentando e fazendo gracejos, eu sabia que deveria me sentir envaidecida por ser a mãe dela e tudo mais, só que eu ficava irada e com inveja da menina.

Nossa! Eu comecei a me culpar de forma inconsciente. Eu me perguntava por que sentia tudo aquilo por ela. Por que eu invejava minha própria filha? Eu só entendi quando cheguei aqui.

Em outra existência, eu fui a madrasta da Glória e ficava de canto, todas as vezes que meu esposo a socorria porque ela estava sempre doente e necessitava de muito apoio e cuidados.

 

Eu me arrependi por ter casado com ele, eu não desejava competir com ela, ter que implorar o tempo do meu marido, eu fui a megera que criticava a moça doente. Eu fiquei tão irritada que, num dia, em que ela estava em crise, recebi um telefonema dela solicitando a presença do pai, eu disse que ele não podia atender ao telefone e falei que daria o recado. Ela implorou para ver o pai, mas eu, de propósito, não falei nada para meu esposo e ela faleceu naquele dia.

Eu fiquei com muito remorso, ela podia ter se despedido do pai e eu não teria carregado aquele peso até o fim dos meus dias.

Quando nos encontramos no mundo espiritual, eu disse que faria tudo o que pudesse para ela. Me informaram que ela podia ser minha filha e o pai seria o mesmo, o meu marido de antes para que pudessem viver o que ficou pendente. Eu prometi que daria toda assistência a ela e que nos entenderíamos fazendo nascer o amor, mas eu sucumbi pela vaidade e competitividade.

Eu a tratei como enteada, mesmo sabendo que ela era filha do meu ventre.

 

Glória foi uma boa filha, ela nunca se incomodou de esconder a beleza e nem queria chamar a atenção. Ela jamais discutiu comigo ou me negou atenção.

Eu envelhecia depressa e quando percebi, já era avó, toda enrugada, feia como era por dentro, no meu íntimo, cheia de chagas morais.

Glória comprava acessórios, brincos e perfumes para me agradar.

Ela trazia as blusas com rendas e falava o quanto eu era bonita.

É preciso ter dignidade para envelhecer e compreender que a filha ou a neta têm traços harmoniosos, jovens e exuberantes, cheios de vitalidade, mas nem por isso, você é feia, gorda e desengonçada.

Cada um pode deixar evidente a beleza que traz em seu interior, por isso, é tão importante a alegria de viver, a paz de Espírito, a consciência tranquila.

Um dia, é isso que ficará evidente em você. Quando as rugas começarem a surgir, os cabelos ficarem cada vez mais brancos, você vai deixar evidente estes traços de sabedoria, bondade e alegria de viver que contagiam a todos.

Você estará cada vez mais bela porque se sente bem com o seu interior.

 

LURDES   

07/11/2021

 


“NESTA DATA DE FINADOS”

 Eu compreendo que tudo partiu da forma como eu tratei todos os meus filhos. Poderia ter sido diferente se tivessem recebido o aprendizado adequado, mas eu dei valor para a matéria e não posso reclamar neste momento.

Eu desencarnei e me senti atordoado. Parecia que as coisas continuavam exatamente iguais, se não fosse a impossibilidade de ser ouvido ou visto por eles.

Eu participei do funeral, vi a todos, escutei até o que pensavam sobre mim, eu me ofendi.

Queria ter sido mais considerado e respeitado. Eu desejei que eles sentissem a minha falta ou comentassem sobre meus feitos, sobre os meus valores morais, mas eles riram, eles me ofenderam. Era a ofensa da minha memória, da minha consciência, de tudo o que eu havia vivido.

Eles só puderam comentar sobre meus erros e minhas leviandades: “Lembra aquela vez que ele levou uma surra?”

 

Enfim, eu me senti tão envergonhado...

Tinha pessoas que choravam, mas passados dois dias, tudo voltou ao normal. Eu estive em meu antigo lar, eu vi o quanto estavam preocupados com a partilha dos bens. Ficaram tão revoltados com minhas dívidas, com a venda da casa, com a oficina cheia de prejuízos, impostos atrasados e começaram a me maldizer.

Será que no final só se importam com isso?

Não poderia ter restado algo de importante entre nós? Eles me desonraram, mas eu fui o responsável por isso.

Aguardei muito tempo até que eles pudessem sentir minha falta, falta de mim por quem eu era, cheio de vícios e defeitos, mas como o pai e o avô deles.

Eu precisava saber que tinha um lugar de importância naquela família.

Eu perambulei e esperei até aquele dia. Fui até o local onde me enterraram e aguardei. Eu vi a lápide, eu vi a inscrição: “Pai Amado.” Será?

Eu esperei e não encontrei com nenhum deles. Meu desejo de vê-los foi tão forte que imediatamente fui arremessado para um local onde meus filhos estavam festejando. Festejando?

AH! ERA FERIADO!

 

Eles comiam e bebiam com muito entusiasmo. Eu fiquei revoltado. Nem por um momento se lembraram de mim, da nossa convivência. Por que me esqueceram tão rápido?

Naquele momento, eu me ajoelhei e chorei. Foi como se eu não tivesse a quem recorrer. Eu não estava vivo para eles. Eu também não estava morto. Eles me esqueceram, então, eu havia desaparecido. E desaparecer é muito pior do que morrer.

Eu não acho que as pessoas tenham que idolatrar os mortos, de jeito nenhum, mas devem respeitá-los, se lembrar deles. Se entregar num momento de respeito com uma prece para ser endereçada ao seu familiar é como gratidão pelos momentos em que estiveram juntos, porque afinal, todos ofertam momentos de carinho e doam coisas boas.

Eu chorei e pedi ajuda porque eu não podia continuar perambulando, sofrendo naquela condição.

Fui resgatado e estou sendo assistido. Ainda necessito de muito entendimento e de muita elevação.

Eu aconselho que, nesta data de finados, as pessoas tenham respeito por todos os desencarnados, seja por seus familiares, amigos ou por todos os desconhecidos que adentraram o mundo espiritual.

Numa grande corrente de oração para que os Espíritos possam receber fortalecimento de energias salutares. Isso também é caridade e solidariedade.

 

MANUEL

01/11/2021

 

-------Paula Alves----

 

“PARA QUE A MORTE CHEGUE TRANQUILA E PACÍFICA, NADA MELHOR DO QUE TER VIVIDO COM EMPENHO E RETIDÃO”

 

 

Foi um momento muito difícil. Resgate mundial. Desencarne em massa, coletivo. Tantos que vieram desenganados, frustrados ou perturbados, sem conhecimento.

O trabalho foi árduo, mas Deus tem planos para cada um de nós.

Neste momento, muitos sentem-se abalados. Isso é fruto da hipersensibilidade, sensação de luto que envolve o mundo. São choros, sofrimentos e angústias de quem perdeu seu ente querido ou de quem perdeu seu corpo físico e teve que mudar de plano.

O mundo todo deveria se predispor a prece, ao consolo e ao refazimento. Deveríamos nos entregar a atitude sincera de resguardo psíquico onde nos envolvemos com o Criador buscando equilibrar nossas energias. Foi um momento delicado da evolução planetária.

Oração por nós, oração por todos aqueles a quem amamos, oração pelos desencarnados que merecem nosso respeito e consideração.

 

Sejamos gratos a todos aqueles que padeceram e modificaram a sua situação material para ajustarem-se à Lei.

Consciência de resignação, fé e certeza de que todos nós passaremos para o mundo espiritual no momento adequado, então, não devemos temer a morte, mas tratá-la como algo natural que nos permite obter o esclarecimento necessário para prosseguirmos no rumo da evolução.

Se tivermos em mente que a forma como vivemos determinará a forma como iremos desencarnar e também para o local onde seremos enviados após a nossa morte, poderemos ser mais responsáveis e amorosos, enquanto encarnados.

O medo da morte é importante para vivermos com proteção e respeito à vida. O medo da morte deveria servir para evitar uma série de abusos.

 

Não podemos nos enganar acreditando que a vida serve para nos divertirmos e, com isso, perdermos a oportunidade de redenção, muito pelo contrário, vida é trabalho e aprendizado. Vida é atuação útil e ressarcimento.

Para que a morte chegue tranquila e pacífica, nada melhor do que ter vivido com empenho e retidão.

Assim, quando a morte chegar, você aceitará todas as suas condições com a certeza de que, o que te espera, é uma pausa para restituir suas forças e viver a verdadeira vida.

 

AMADEU 

01/11/2021

 

-------Paula Alves----

 

“É ISSO, SAIBAM VIVER PARA QUE POSSAM TRANSPOR A MORTE COM SERENIDADE E DIGNIDADE”

 

Eu fiquei tão desesperada quando meu pai morreu. Eu queria me sentir em paz, mas eu estava angustiada.

Eu soube da Doutrina Espírita e da versão deles sobre a morte, ou melhor, sobre a vida após a morte. Eu também queria notícias. Eu precisava saber se ele estava bem, em paz.

Demorou tanto para que eu pudesse perceber que eu tinha remorso. Eu tinha um conflito interno, psicológico em relação aos meus pais.

Tive todas as oportunidades de ser uma filha presente, boa, submissa e amorosa, mas eu dizia sempre que tinha que cuidar da minha vida, eu tinha tantos afazeres, eu não tinha tempo para eles, mas o tempo não espera por nós.

 

Se você quer conviver com alguém, a hora é agora. Se você quer conversar ou dizer que ama, se você quiser doar afeto é hoje.

A vida não espera por você e o dia dos meus pais chegou. Primeiro minha mãe, e quando isso aconteceu, meu pai ficou arrasado, ficou só. Ele sempre me pedia para ir visitá-lo, levar as crianças, almoçar com ele, mas eu tinha sempre algo mais importante e faltei, falhei, eu o evitei.

Em parte, eu justifiquei dizendo que a casa não era a mesma sem a mamãe, mas eu também não estava muito presente com a mamãe por perto.

O fato é que eu senti a ausência deles depois da morte e me senti sozinha, me senti culpada.

Eu não percebi que os atrapalhava. As minhas lamentações atrapalhavam os cuidados que eles recebiam na colônia espiritual. O meu choro e os meus pensamentos enlutados perturbavam a recuperação deles que sentiam minha indignação.

Eu levei anos para perceber isso. Em vida, nunca tive notícias deles e, por algum tempo, considerei a ideia de que somos pó e nada mais. Eu cansei de chorar e acreditei que, meus pais e todos nós, morremos e acabamos para sempre. Vivi minha vida e um belo dia, morri.

A grande verdade da vida: todos nascemos, todos morreremos.

 

Sabia Justiça Divina, todos nós morreremos. Resta saber quando, como e para onde iremos.

Raras são as pessoas que se preparam para morrer. Raríssimos se preocupam em preparar sua mente para o desencarne.

Preparar a mente é se elevar moralmente, aumentar suas virtudes, estar ligado ao bem para ficar próximo dos Bons Espíritos.

Isso encaminha para o bom lugar onde você se restabelecerá para retomar a jornada evolutiva.

Eu não sabia e morri. Levou um tempão, sofrendo para depurar e me libertar da péssima filha que fui, mas quando pude receber socorro, quem estava lá?

Meus pais! Ah! Bendita oportunidade de rever os anjos que estiveram comigo. Quão bondoso é o Senhor que nos permite viver para sempre e rever aqueles a quem amamos.

É isso, saibam viver para que possam transpor a morte com serenidade e dignidade.

 

ISABELA

01/11/2021

  

-------Paula Alves----

 

“PERFEITO É O SENHOR QUE NOS CONCEDE O REENCONTRO”

 

Eu amei aquela mulher com todas as forças do meu coração. Fui separado dela de forma tão brusca e violenta, acidente de avião, resgate coletivo.

Minha amada! Pensei que fosse morrer de tanta tristeza, mas o amor aos filhos fez com que ela resistisse e enfrentasse as duras privações que vieram.

Mulher de fibra e moral irrepreensível, meu grande amor.

Eu fiquei no lar, por um tempo não tive condições de me separar deles. Logo, fui informado por nobre senhor de que deveria partir para um local apropriado para o meu refazimento, aquele já não era o local adequado para mim.

Mas, eu quis debater com ele, informar que eu não podia deixá-la sozinha com nossos filhos. Ele me esclareceu muitas coisas, me informou sobre o desencarne e eu revi as cenas finais, demorou até que eu pudesse reconhecer nele o meu avô amoroso.

 

Ele falou ainda, que minha esposa e filhos sentiam minha presença e isso causava mais sofrimento e sensações angustiantes, ele me pediu para acompanhá-lo.

Naquela conversa eu entendi porque é tão importante orar pelo desencarnado e pedir que Deus, Jesus ou os Bons Espíritos possam encaminhar o ente querido que desencarnou. As pessoas não devem evocar aqueles que morreram por mais que amem, isso atrapalha os dois lados, todos sentem dor, sentem-se mal. Ninguém está desamparado.

 

Eu percebi que tinha alguém cuidando de mim e também tinha seres iluminados cuidando dos meus familiares, por isso, eu parti com o avô.

Segui as instruções, me preparei e pude ver como estavam, de tempos em tempos.

Quanta saudade! Nós recebemos notícias, nós sabemos deles e torcemos, sentimos quando fracassam e desejamos que se saiam bem.

Foi como estar viajando num mundo distante onde apenas eu recebia notícias, ela estava arrasada, mas seguia em frente, resignada e cheia de coragem.

 

Elvira nunca se casou, viveu para a família e cuidou bem dos nossos filhos.

O tempo passou e eu continuei no mundo espiritual com minha vida, recebi liberação para trabalhar e estudar, assim poderia aguardar por eles.

O tempo passa rápido para aqueles que se tornam úteis e quando eu menos esperei, lá estava ela, no leito de morte.

Me avisaram de que seria naquela noite e eu fiquei aflito, ansioso. Eu poderia estar presente. Foi como saber que minha amada viria ter comigo naquele mundo em que eu estava.

Mas, eu me preocupava com meus filhos e netos, com ela, com o seu desprendimento.

Eu orei para ser tranquilo e rápido, para ela aceitar.

Elvira estava velha, consciente e evoluída, aprendeu muita coisa. Ela foi perfeita! Se libertou como um passarinho e me viu, um pouco confusa.

Eu a acolhi em meus braços e a conduzi para a colônia.

O calor daquele abraço foi o oásis para mim. Perfeito é o Senhor que nos concede o reencontro.

Eu sou muito feliz com o amor da minha vida. Bendita é a morte que nos liberta da matéria.

 

LEON

01/11/2021   


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