“Nossas emoções e o falso juízo que fazemos das
pessoas nos colocam em situações de grave sofrimento”
A indulgência é uma grande virtude. Como é importante saber se colocar
no lugar dos outros. Todos sabem o que desejam ouvir e a maneira como gostam de
ser tratados. Delicadeza, respeito, educação e simpatia são bons para todo
mundo, mas por que será que as pessoas preferem a rispidez, a palavra ferina,
brutalidade e deselegância?
Se você sabe que suas palavras podem desestruturar alguém, não diga
nada. Tem gente que está tão desesperada, por um fio, cheio de indignação e
sofrimento moral que não aguenta uma carranca ou uma frase mal interpretada.
Se colocar no lugar do outro é questão de treino, implica em saber ouvir
e se despir do egoísmo porque é nestas horas que colocamos o outro em primeiro
lugar nos esquecendo de nossas necessidades e infortúnios.
Ajuda muito aquele que sabe ouvir e se colocar no lugar do outro. Pode
fornecer esperança, apoio, paz e encorajamento.
Mas, se você estiver passando por um dia ruim, cheio de ira ou tristeza,
tenha a sensatez de preferir ficar quieto e não distribuir maldades
verbalizadas, nós não podemos definir o quanto podem prejudicar quem já está
fragilizado.
Sempre fui um homem sensato e muito contido. Não imaginei que pudesse
ficar tão deprimido com a partida dela. Minha esposa viajou a trabalho, eu a
incentivei, pois sabia que isso seria bom para a carreira dela, mas não podia
imaginar que sentiria tanto a sua falta. Os meses se passaram e o afastamento
me deixou cada vez pior. Quando nos falávamos, ela parecia estar diferente, tão
feliz e animada que isso me deixava indignado, mas procurei esconder dela
porque sabia que era egoísmo da minha parte.
Mas, quando eu comentei com um amigo, ele riu e me chamou de otário,
disse que minha esposa estava feliz porque estava sozinha, devia estar se
divertindo muito sem mim e já devia ter arrumado alguém. Ele falou claramente
que eu estava sendo traído. Meu amigo ria de mim e nem deve ter percebido meus
olhos cheios de fúria.
Eu não analisei as palavras dele porque estava muito fragilizado
emocionalmente. Eu ouvi aquilo como verdade e fiquei ainda pior. Quando falei
com ela, tudo era motivo para me sentir enganado. Eu a odiei e ela estava
trabalhando de forma séria e organizada. Eu rompi nosso casamento sem saber se
era verdade ou intriga sórdida.
Nossas emoções e o falso juízo que fazemos das pessoas nos colocam em
situações de grave sofrimento. Eu nunca superei o rompimento. Podíamos ter sido
felizes, mas eu me deixei contaminar pela maldade. Eu não soube controlar meus
sentimentos e pensamentos e me deixei abater. Arruinei minhas emoções e fiquei
doente, emocionalmente doente, nunca superei a ausência dela e o envenenamento
da alma.
Amar é se entregar. Nós precisamos nos envolver e permitir que a pessoa
seja livre para nos amar também. Se ela não for aquela pessoa que idealizamos é
normal, mas não ficar poluindo os pensamentos com maldades que são criadas
pelos padrões mentais.
Muitos de nós, estão tão envolvidos com o mal que não conseguem enxergar
nada de bom. Mas, ainda existem pessoas boas. Ainda existe amor sincero, leal e
recíproco, mas nós precisamos estar abertos para o amor.
Luciano
04/11/23“Eu te digo, tem coisas que você só vai ter certeza
quando chegar o seu dia”
Eu não sabia no que devia acreditar. Eu temi. Todos diziam que o fim
estava próximo e eu temi. O que haveria depois da morte?
Eu nunca precisei me preocupar com isso. Não, enquanto estava jovem, com
saúde e vitalidade. Eu não precisei me preocupar com religião ou, se alguma
delas, estaria de posse da verdade. Pouco me importava a situação do mundo
espiritual, enquanto eu podia gozar do plano físico.
Mas, o tempo passou e, de repente, eu me deparei com a enfermidade. A
necessidade de cuidados médicos e por conta de terceiros, me trouxe a
necessidade de pensar no que haveria além do corpo, além daquela vida de carne.
Será que tudo se findaria com aquele corpo doente?
Eu aproveitei bastante. Verdade, conquistei títulos, tive dinheiro e
mulheres, mulheres lindas. Eu não quis ter família ou filhos, eu gostava de
viver para mim. Curtir no último das minhas forças. Esbanjar e ser invejado, eu
gostei. Mas, tudo mudou com aquela doença. Eu compreendi o motivo, eu precisava
refletir sem o luxo, sem os prazeres. Precisava ficar preso numa cama e
perceber que o dinheiro não compra uma série de coisas. Precisei sentir falta
destas coisas que o dinheiro não pode comprar e ter inveja das pessoas simples
que tinham afetos, que tinham atenção de pessoas amorosas.
Eu vi que a doença e a morte nos transformam em seres iguais, perfeita
Lei de Igualdade. Não importa a cor, raça, posição social, sexo, nada, todos
nós somos iguais. Eu temi. O que aconteceria de mim? Se eu já estava sofrendo
tanto, o que seria depois da morte?
Eu não quis acreditar no nada. Eu não queria desaparecer por completo e
ser extinto, mas eu também achei bem estranho que poderia ficar adormecido,
aguardando por um juízo final. Aguardando por quanto tempo, como assim? Não
entrava na minha cabeça. Eu tive tempo para tudo isso, eu pesquisei, eu li.
Eu precisava ter esperança e compreendi que não fui uma pessoa boa
porque não havia feito o bem. Não ter feito o mal, não me eximia da culpa de
ter sido um ausente diante de tantas necessidades sociais, ainda mais porque eu
tive recursos para fazer a diferença. Quando eu entendi o quanto fui
irresponsável diante das minhas posses, desejei ficar adormecido porque eu
sabia que meus atos iriam me conduzir para consequências indesejáveis. Eu revi
tudo o que fiz e percebi onde estavam meus erros, onde eu podia ter acertado,
então, procurei fazer benefícios, mesmo estando no leito, mesmo enfermo, eu me
dediquei para ser bom e eu me senti muito melhor.
Eu acreditei que, apenas o corpo morre, mas eu sou ser eterno e preciso
ser responsável pelos meus atos. A doença longa e difícil serviu para me
conscientizar. Me fez ver a vida e a morte de um aspecto diferente e me
transformou numa nova pessoa. Começou pelo medo da morte, mas depois eu
precisava descobrir a verdade.
Ainda assim, eu te digo, tem coisas que você só vai ter certeza quando
chegar o seu dia. É importante pensar nisso, enquanto se está lúcido. Até
porque, não importa o dia, mas a certeza de que este dia, fatalmente,
irremediavelmente chegará para todos. Mas, a morte não precisa ser um martírio
ou crueldade. A morte devia ser algo natural, tranquilo, mudança de plano que
conduz para a verdadeira vida. Vida sem ilusões ou choque de ideias, onde todos
têm os mesmos objetivos e aceita os planos de Deus.
Viver uma vida séria, justa e correta para ter uma morte tranquila e
cheia de paz. Isso é o normal.
Benito
04/11/23
“Os cristãos devem se mover de forma diferente.
Devem se mover pela paz, fraternidade e solidariedade”
Eu detestava aquela gente. “Hipócritas!” — eu gritava para toda gente
que não aceitava nossos princípios, nosso Evangelho.
Como podiam mistificar tanto, ficar naquela cantoria ridícula. Na porta
da minha casa, vestidos, enfeitados. Eu detestava e falava para o pastor que
devíamos buscar auxílio na prefeitura porque alguém tinha que tomar uma
posição, alguém tinha que barrar aqueles trabalhos.
O pastor era um homem sensato, cheio de paz, seguia o Evangelho com
muita honra e me falou sobre respeito, sobre Jesus não ter placa de igreja e
falou também de intolerância religiosa. Eu achei que estava louco, tentando
defender aquela gente, nem quis ouvir.
Eu falava para todos os irmãos que a gente tinha que fazer alguma coisa,
mas o pastor proibiu. Falou que a paz começa em casa, no bairro e muito mais,
dentro de cada consciência. A gente pode arrumar encrenca e briga em toda parte
se não estiver com a Paz do Senhor. Ele pediu para eu analisar as palavras que
saiam da minha boca. Mas, eu estava tomada de discriminação. Nem por um minuto
reparei que se tratavam de irmãos em Cristo.
Deus sempre age para nos beneficiar. Eu estava sozinha em casa, chovia
tanto e minha filha caçula ardia em febre. Eu precisava de um carro para
leva-la ao hospital, ouvi aquela barulheira e gritei tão alto que todos
ouviram. Quando eles se aproximaram do meu portão, disseram: “A senhora precisa
de ajuda?”
Eu estava desesperada e disse que Deus estava querendo tirar minha
menina. Foi quando uma senhora abriu meu portão e falou que ia nos levar ao
hospital porque Deus estava do nosso lado. Eu aceitei pela menina e me
arrependi quando vi a forma como aquela senhora tratava minha filha doente. Eu
chorei naquele carro, pois pude ver o quanto eu era ruim, cheia de preconceito
religioso. Eu distorci tudo e maltratei meus vizinhos porque eram de uma crença
diferente. Mas, Deus nos têm todos como Seus filhos e eu sou uma criaturinha
tão mísera, me achando melhor que os outros filhos do Senhor, com que direito?
Eu pedi perdão a Deus e pedi perdão a ela. Minha filha ficou curada e eu
me confessei para o pastor. Agradeci das muitas vezes que ele tentou me clarear
a consciência fazendo lembrar de Jesus. De todas as injúrias que ele enfrentou
porque não souberam compreender sua doutrina. Em todos os tempos da Humanidade,
sempre houve pessoas tentando combater outras pessoas porque as ideias se
chocaram.
Quando alguém pensa diferente de nós, achamos que devemos combate-los.
Isso acontece até em nome de Deus, mas eu não podia fazer isso se me considero
cristã. Os cristãos devem se mover de forma diferente. Devem se mover pela paz,
fraternidade e solidariedade. Não importam as diferenças. Crença, raça, posição
social, não importa. Para sermos agraciados pela luz de Jesus devemos seguir
seus passos. Ele não discriminou ninguém: republicanos, samaritanos,
prostitutas, leprosos, fariseus, romanos. Para ele, todos eram seus irmãos
diante de Deus.
Maria do Carmo
04/11/23
“No fundo todos desejam as mesmas coisas, paz, amor e saúde”
Achei que seria aceita se fosse uma pessoa fácil de conviver, se fizesse
o que as pessoas queriam, se fosse tolerante e amistosa. Fiz isso em todos os
grupos sociais: familiares, do trabalho, na igreja ou nos lazeres.
Eu sempre fui uma pessoa fácil de conviver. Nunca me indispus com
ninguém, mas no fundo, as pessoas me indignavam. Suas conversas fúteis, seu tom
de deboche, sua vida frívola, suas grosserias e tolices... Tudo me indignava e
eu preferia ficar quieta do que ser sincera com todos eles.
Eu guardava para mim, ao invés, de jogar palavras ofensivas para os meus
pais, irmãos, esposo e filhos. Será que eles não percebiam o quanto eram
indelicados e rudes?
Mas, eu comecei a perceber uma irritação na garganta, parecia que eu
estava com algo entalado. Isso se transformou num pólipo e, logo em seguida,
num câncer. Foi quando eu não consegui ficar calada, mas não queria que eles se
magoassem com minhas palavras e eu procurei falar de forma branda.
Nas primeiras palavras, eles se espantaram e disseram que não sabiam que
eu me incomodava. Falei com todos porque eu percebi que não aguentava mais
engolir aquela forma leviana que conduziam suas vidas. Eu fui melhorando os
sintomas e o tratamento foi surtindo efeito, à medida que eu falava.
Meus familiares também foram mudando. Incrível! Nós fazemos diferença na
vida das pessoas. Eu pensava que ninguém ouve o que dizemos e que ninguém muda
sua vida ou seus hábitos em decorrência do que dizemos, mas eu falava com
delicadeza, tentando ajudar e eles sentiam que não era por mal, então, foram se
modificando e eu me sentia muito feliz.
Eu me curei do câncer. Inexplicavelmente, fiquei muito melhor. Acho que
eu precisava falar e me fazer ouvir, mas com amor, com delicadeza. Eu precisava
expor minha maneira de enxergar o mundo e fazê-los compreender que ninguém
deseja ser maltratado, no fundo todos desejam as mesmas coisas, paz, amor e
saúde.
Lívia
04/11/23
----Paula Alves-----
“Deus sempre sabe cuidar de nós, principalmente,
quando nos tornamos filhos bons e
previdentes”
O objetivo era ter uma casa, mas tudo foi difícil.
Eu sempre fui trabalhador, não descansei, enquanto não achei um terreno
e paguei o que consegui juntar para ter um local para construir nossa casa.
Fiquei muito feliz e arregacei as mangas, eu sabia levantar paredes.
Rapidamente construí um local agradável para levar minha família. Minha
esposa ficou super feliz. Nós vivemos no local por alguns anos quando, de
repente, chegaram uns homens metidos a classudos. Vieram dizendo que a terra
não me pertencia, que os documentos eram falsos e eu tinha que retirar minha
família dali.
Eles queriam nos desalojar. Me tirar do que era meu. Mas, eu me
indignei! Eu não podia permitir aquela afronta dentro da minha terra. Expulsei
todos eles, mas fiquei avexado. Seria verdade? Será que eu teria sido um trouxa
nas mãos de algum espertalhão?
Fiquei observando os documentos e não tinha como ter a certeza de nada.
Eu não entendia de leis e nem podia saber se o terreno foi vendido
corretamente. Fui na prefeitura e averiguei. Demorou muito tempo para alguém me
dar a informação. Tudo com falta de respeito diante do trabalhador, uma
desonra.
Quando finalmente quiseram me atender, riram de mim. Me chamaram de
ingênuo. Eu me senti muito constrangido. Inversão de valores! O trabalhador
taxado de otário, enquanto o estelionatário é o espertalhão. Ele se deu bem às
minhas custas. Acabou tirando onda em cima do suor do meu rosto. Eu fiquei
muito entristecido do que ocorreu e ainda tinha que resolver o que ia fazer da
vida.
Eu não queria ser desonesto, nem queria pedir favores. Eu queria viver
do meu trabalho, da minha dignidade. Era um orgulho para mim, dizer que eu
vivia do meu árduo trabalho sem depender de ninguém.
Mas, eles não voltaram. Eu estava me preparando para ir embora. Fui
guardando dinheiro para não sair dali para rua e pedindo a Deus para proteger
minha família. Eu trabalhei e juntei para que, quando retornassem, eu pudesse
sair dali e ir para outro local apropriado para uma família de gente
trabalhadora morar.
Mas, o tempo passou e eles não retornaram para tratar da desapropriação.
O tempo correu acelerado e eles nunca mais voltaram. Eu sempre me perguntei o
que aconteceu com aquela gente. Será que eles se compadeceram da minha
situação? Afinal, quem tem muito, não deve se importar com o pouco que cai nas
mãos de pessoas que se regozijam com suas migalhas.
Mas, eu não fiquei em paz e quando foi possível, comprei outro local
para sairmos dali. Eu voltei na prefeitura e tentei entrar em contato com o
proprietário daquele local, mas nunca tive o reencontro. A verdade é que fiquei
muito apegado a esta situação.
Sempre achei que as pessoas não precisavam sustentar uma pose, mas ter
ânimo para o trabalho que conduzisse a segurança de uma casa, no mínimo
confortável. Primeiro vem a casa. Mas, por que será que eu me preocupei tanto
com isso?
Chegando aqui, pude compreender que na existência precedente, eu me
deixei levar pelas facilidades da vida e não tive coragem para o trabalho.
Enquanto meus pais eram vivos, eu vivi na casa deles, mas depois que
desencarnaram, meus irmãos venderam a propriedade e deram uma pequena soma em
dinheiro que eu gastei rapidamente. Quando dei por mim, já estava na rua.
Vivi como um parasita social. Alguém que ninguém reconhece, que não tem
família ou laços afetivos. Um largado, morador de rua, imundo e encardido. Eu
me esgueirava pelos cantos e me lembrava das vezes em que pude dormir numa cama
limpa e quente. Eu sonhava com banho de chuveiro e comida fresca. Usar o sanitário
em paz.
Coisas tão simples para uns, tão indispensáveis. Mas, luxuosas para
outros.
Então, quando reencarnei, desejei conquistar um lar. Um local onde eu
pudesse viver em paz. Ter o mínimo de privacidade e conforto para descansar o
corpo e sossegar a alma. Eu trabalhei duro e aprendi a lição. Valorizei o teto
que foi adquirido honestamente.
Foi uma grande superação e sei que Deus cuidou de cada detalhe. Até
quando fui enganado, sabendo do meu esforço, Ele permitiu que as pessoas se
esquecessem de nós ou deixassem de lado aquele pequeno pedaço de chão para que
pudéssemos seguir em paz. Deus sempre sabe cuidar de nós, principalmente,
quando nos tornamos filhos bons e previdentes.
Tenório
11/11/23
“A vida não é só para adquirir bens materiais. É muito mais que isso”
Era um trabalho muito exaustivo. No calor, parecia não ter fim, eu não
via a hora de acabar e ir para casa. Minha esposa foi maravilhosa! Ela me
esperava com a comida pronta, sabendo que eu chegava cansado e com fome.
Era uma empreitada atrás da outra. Naquela época, tinha muito trabalho
nas construções, mas era um serviço pesado.
O que eu ganhava, deu para comprar uma casa boa para minha família. Mas,
era com poupança. Tudo contadinho. Eu dava todo o dinheiro nas mãos dela e
seguia em frente, um dia de cada vez para não enlouquecer. O corpo doía, sentia
vontade de desistir, mas não podia, eu era o provedor da casa. As mulheres não
trabalhavam para ajudar os maridos, era tudo por nossa conta.
Então, eu não podia desistir. Fui levando. Naquele dia, eu estava
extremamente cansado. Senti uma dor no coração quando deixei a Luíza na
cozinha. Eu vi da janela que ela estava chorando. Será que ela sentiu?
A dor da separação é terrível. A gente tenta esquecer, mas só o tempo
ameniza, mais nada.
Eu subi no andaime e começou a chover de vento forte. Balançava tudo e
não deu tempo de descer. Então, eu lembrei de tanta coisa. Coisa de menino, no
tempo dos meus pais. Lembrei das coisas boas que eu fiz e também das mancadas,
das bobagens que cometi. Pequenos deslizes com amigos e familiares, deixando de
encorajar ou ajudar a sair de um problema. Eu sempre dizia que cada um deve
cuidar da sua vida, até porque, eu que me virava, ninguém nunca me ajudou. Mas,
foi errado porque a gente tem sempre que ajudar cada um que precisa do nosso
auxílio.
Eu lembrei de tudo o que minha própria consciência julgava ser culpa,
ser erro. O andaime virou e eu cai. Quase não sofri, foi tão rápido!
É coisa de segundos e você já mudou de plano. Não dá pra voltar atrás.
Leva um tempo para compreender, não é de uma hora para outra.
Eu me arrependi de ser duro comigo, de não ter passado mais tempo com
minha família. De não ter tido momentos agradáveis e felizes. Não tive o mínimo
de envolvimento com meus filhos porque estava sempre trabalhando.
Nós priorizamos e podemos até culpar a sociedade, o sistema ou nossas
necessidades, mas você prioriza e faz escolhas. A vida não é só para adquirir
bens materiais. É muito mais que isso. Eu tinha que ter dividido melhor o meu
tempo. Nas vinte e quatro horas do dia, dá tempo de fazer tudo. Trabalho,
descanso, lazer, obrigações familiares, religiosas, tudo.
Mas, eu só trabalhei. Não estive presente com meus familiares, não
cuidei da parte espiritual, nem me diverti com os filhos, nada que pudessem se
lembrar do pai como um tutor amigo e dedicado.
Eu fui denominado como aquele que foi um homem trabalhador e até morreu
no trabalho. Nada mais. Eu poderia ter sido um bom esposo e pai. Um filho
amoroso, um voluntário das obras assistenciais, mas nunca pensei em me dedicar
a estes assuntos.
Eu me arrependi por não ter desenvolvido questões importantes da minha
vida.
Leandro
11/11/23

“Ter tudo e não fazer nada pelo próximo sofredor, é
falha gravíssima”
Vida de futilidades! Vida de quem não precisa se esforçar para comer ou
viver em paz. Eu nasci numa família muito rica e, por isso, me desviei do
propósito central que era me dedicar aos desfavorecidos.
Fico impressionada quando sei de alguém que precisava trabalhar para
comer, conseguiu ajudar no plano material. Como conseguiu pensar em outros
semelhantes quando faltava tantas coisas em seu lar?
No meu caso, eu tinha de tudo. Nunca precisei me preocupar com valores
ou trabalho, mas em compensação, nunca me motivei em prestar atenção nos
semelhantes. Eu poderia ter feito muita coisa. Os carentes estavam bem perto de
mim, em toda parte. Inúmeros trabalhavam em nossa mansão. Pessoas muito simples
que nos serviam e tinham aspecto de pobreza. Eu nunca me preocupei com eles,
nunca.
Gastei o dinheiro em viagens, joias, cirurgias plásticas, carros,
apartamentos de luxo, obras de arte. Desencarnei e padeci ouvindo lamúrias e
insultos. Senti muita fome e fiquei num estado deprimente, necessitada de tudo,
mas principalmente de atenção. Foi o que me fez sentir pior. A solidão, o
abandono, a negligência do submundo.
Lembrei de muita coisa, tive tempo para refletir da vida arrogante e
preconceituosa. A vida de luxúria e avareza. Que horror! Eu padeci dos meus
próprios deslizes. Eu vivenciei o que muitos miseráveis sofreram. Aprendi da
pior maneira.
Conseguir perceber as necessidades alheias quando se tem tudo, é uma
prova delicada. Ser tocado pela indulgência e empatia, é fundamental para o
aprimoramento. Ter tudo e não fazer nada pelo próximo sofredor, é falha
gravíssima. Eu entendi.
Todos podem ajudar. Eu me lembro das empregadas que se organizavam para
doar alimentos durante todo ano. As sobras da nossa mesa, serviam para
alimentar os necessitados. Elas preparavam presentes para as crianças no Natal.
Eu ouvi quando disseram que não resolvia os problemas do mundo porque
era pouca coisa diante da necessidade social, mas aquilo enchia as pessoas de
esperança e ânimo para prosseguirem.
Eu podia ter feito muita coisa.
Suelen
11/11/23
“As pessoas deviam cuidar melhor das suas vidas.
Nunca usarem o dom da palavra para condenarem alguém”
Eu não queria ser a certinha, eles tinham que respeitar minhas escolhas e decisões. Meus pais achavam que todos os filhos tinham que ser iguais, fazendo tudo como desejavam, mas eu nunca fui de pedir licença, sempre cheguei com a coisa pronta e isso gerava discussões em minha família.
Quando disse que não gostava de homem, foi uma crise no ambiente
doméstico. Minha mãe espumava, disse que não aceitava filha deste jeito e não
queria que eu me expressasse deste modo porque nos colocava numa posição ruim
socialmente.
Mas, eu nunca me preocupei com a repercussão na boca dos outros, nem
queria saber o que diriam de mim, mas eu não era uma pessoa sozinha, eu tinha
família.
Não parei para pensar que a maneira como nos portamos na sociedade,
influencia na maneira como as pessoas vão nos tratar e isso se estende aos
nossos familiares. A mãe estava muito triste, cabisbaixa, mas não dizia o
motivo, ela não queria papo comigo e eu preferi do que ter batalha em casa.
Estava no supermercado quando ouvi falarem da minha mãe. Duas senhoras
da igreja que congregavam com ela há muitos anos. Falavam que minha mãe não era
de confiança porque se fosse boa esposa e mãe, a filha não teria se tornado
homossexual. Eu fiquei louca de raiva. Como podiam destratar minha mãe, por
causa, das minhas escolhas?
Falei uns desaforos pra elas e pude compreender a tristeza da minha mãe.
Ela estava preocupada com a língua social. Muitos não têm tempo para cuidar da
sua casa ou da saúde de seus entes queridos, não têm tempo para o estudo ou se
dedicar mais arduamente ao trabalho, não realizam obrar sociais ou prestam
amparo aos carentes, mas sabem de tudo o que acontece nas casas próximas ou na
vida de seus parentes.
Eu não me arrependi de ser sincera com meus genitores. Acho mesmo que
minha mãe não devia ter comentado o que se passou em nossa casa, assim, elas
nunca saberiam porque eu não tinha envolvimentos. Só não queria saber de
homens. Mas, a mãe falou e foi excluída por preconceito. “A mãe da desviada”.
Conversei com minha mãe, eu precisava ser honesta com ela. A mãe nunca
me entendeu, não conseguia compreender por que eu não queria casar ou ter
filhos. Eu tinha pavor de ser tocada. Ela não apoiou, até tentou me colocar num
relacionamento contra minha vontade. Eu senti muita pena dela, pelo
comportamento das mulheres da igreja, mas não podia suportar o contato com
homens, nem pelo amor que eu tinha por minha mãe.
As pessoas deviam cuidar melhor das suas vidas. Nunca usarem o dom da
palavra para condenarem alguém.
Quando cheguei aqui, consegui compreender por que eu tinha pavor dos
homens me tocarem. Na encarnação pregressa, eu fui molestada por meu padrinho.
Eu tinha treze anos e ninguém acreditou em mim, justamente porque ele tinha uma
postura irrepreensível na igreja. Eu morria de medo de encontrar com ele, mas
fui obrigada a tolerar sua presença, usava várias artimanhas para me esquivar e
não me tornar sua vítima novamente. Reencarnei, esqueci das lembranças de dor,
mas no fundo da alma, achei que todos os homens pudessem me fazer sofrer e não
quis me aproximar deles. Não era desejo por mulheres, foi horror pelos homens.
Estou em tratamento, muito melhor do que quando aqui cheguei. Já
encontro pontos positivos em muitos seres do sexo masculino que cruzaram minhas
jornadas, sei que não posso generalizar. Existem homens bons e maus em toda
parte. Eu vou retornar como mulher novamente e pretendo formar família. Eu
preciso desbloquear este acontecimento infeliz da minha mente.
Júlia
11/11/23
--PSICOGRAFADO POR PAULA ALVES--
“As pessoas têm que vigiar seus pensamentos e
sentimentos. Estarem dispostas a se responsabilizarem por tudo o que estão
fazendo os outros sentirem”
Se soubéssemos o potencial que existe em
nós...
Dentro de todo ser há o infinito de possibilidades e descobertas. Todos
podem se superar e fazer o bem indefinidamente.
A mente inexplorada revela faculdades que o homem encarnado não pode
sequer imaginar. Eu me deslumbrei quando cheguei aqui e compreendi o que
podemos fazer com o padrão mental.
Isso me levou a crer que temos um forte poder de atração, mas não
sabemos utilizá-lo ou fazemos isso para provocar o mal consciente ou
inconscientemente.
Enquanto estive encarnada, fui tão insegura, eu mesma me menosprezava.
Nunca confiei em mim ou acreditei que era capaz de transpor barreiras
intelectuais ou materiais. Eu aceitei os fracassos que todos colocaram nas
minhas costas. Ouvi, por tantas vezes, o quanto eu era burra e enfadonha que
acreditei naquelas palavras de repressão.
Eu estava fadada ao fracasso em decorrência do que as pessoas plantaram
no meu subconsciente, por isso, é tão importante o conhecimento de si mesmo.
Quando você se reconhece, sabendo das suas limitações e também dos seus
pontos positivos, fica muito fácil não aceitar os fardos que as pessoas tentam
te entregar. Estes fardos podem te limitar durante toda a existência, isso é
impedimento que castra e tolhe os movimentos, traz sofrimento e dor.
Eu permiti que as pessoas fizessem isso de mim. Ninguém no mundo pode te
ferir, isso só acontece quando nós permitimos, então, somos nós mesmos que nos
agredimos.
Eu me anulei!
Sentia quando eles estavam me destratando a distância. Naquela época, eu
não sabia que era isso, mas eu me sentia profundamente indisposta, melancólica,
entorpecida. Isso acontecia com muita frequência.
Quando cheguei aqui, precisei entender o que se passou comigo e os
motivos que me fizeram fracassar porque eu não concretizei os planos por medo
de me envolver com as pessoas. Quando observei todos os acontecimentos, soube
que naqueles instantes de indisposição, meus familiares estavam me criticando,
falavam tão mal sobre o meu comportamento que, sem querer, emanavam irradiações
deletérias que me faziam mal.
Eles não desejavam me fazer sofrer, mas faziam. É isso o que acontece
todas as vezes que pensamos em alguém com muita intensidade. Nossas vibrações
são encaminhadas até a pessoa através dos nossos pensamentos.
Quando pensamos e falamos de alguém com gratidão, carinho, amor ou
amizade, enviamos fluidos bons que fazem com que a pessoa sinta bem-estar.
Quando falamos de alguém com maledicência, inveja, raiva ou sentimento
de vingança, enviamos fluidos deletérios que podem afetar esta pessoa fazendo
com que ela sinta mal-estar, tontura, enjoo, sentindo-se doente ou indisposta.
Claro que depende das próprias irradiações daquele que está recebendo os
fluidos porque se a pessoa em questão for muito bem resolvida e estiver ligada
as orações e aos trabalhos do bem, pode ser que não sofra tanto com isso, mas
no meu caso, sofri deveras.
Isso me leva a crer que as pessoas têm que vigiar seus pensamentos e
sentimentos. Estarem dispostas a se responsabilizarem por tudo o que estão
fazendo os outros sentirem.
Entendi o quanto sou responsável por meu equilíbrio psíquico. Eu tenho
que saber me defender das invasões mentais, mas naquela época eu não sabia de
nada disso e, por isso, estive sempre muito mal.
Hoje entendo que devemos nos blindar com leituras edificantes, trabalho
árduo, meditação, exercícios regulares, boa alimentação, prece, lazer que
eleva, estar no convívio com aqueles que nos fazem bem e têm, por nós, sentimentos
genuínos de amizade.
Eu nem sabia que era tão difícil viver em sociedade.
Laurinha
19/11/23
“Nós precisamos saber compreender que todos têm falhas e se equivocam”
Eu sei que ela fazia contrariada e eu detestava isso. Preferia que ela
me dissesse que não iria executar um pedido meu, mas ela não falava “não”.
Sempre compreensiva e cordial, ela gostava de ser a perfeita.
Eu adorava minha irmã, mas preferia que fosse mais sincera. Sabendo disso,
fiz de tudo para não incomodar com os preparativos do meu casamento. Ela estava
sempre muito ocupada e resmungava pelos cantos dizendo que todos nós estávamos
sempre solicitando sua presença.
Achei aquilo tão desagradável. As pessoas podiam dizer tudo com
delicadeza. Acho que depende da forma como se expressa. O importante é o
sentimento que está envolvendo aquele assunto, não as palavras em si.
Existe esta linguagem silenciosa que todos compreendem, até as plantas,
animais e bebês. Depende do timbre da voz e do sentimento que vibra com as
palavras. Outros, percebem que as palavras podem estar ausentes, bastam os
olhares.
Ela era ríspida no sentimento, enquanto pronunciava palavras educadas
demais. Eu não quis a ajuda dela, mas não sabia que ela ficaria tão ofendida.
As pessoas têm o péssimo hábito de se fazerem de vítimas. Ela nunca
colocou em questão o fato de dizer o tempo todo que estava cansada e sem tempo,
mas quis dizer que eu não a incluí nos meus momentos importantes. Ela tinha
aquela cara de coitadinha que comovia qualquer um, até eu. Quase me esqueci de
tudo e me culpei pelo sofrimento dela.
Eu não podia permitir que ela me manipulasse numa fase tão especial da
minha vida.
Nós precisamos saber compreender que todos têm falhas e se equivocam.
Mas, não precisamos nos sujeitar a tudo o que as pessoas solicitam, apenas para
agradá-las.
Eu me desculpei pelos sentimentos dela, deixei claro os meus reais
motivos e continuei minha vida.
Eu me senti livre naquele dia. É bom ser delicado, mas deixar claro o
que pensamos, assumir posições, mesmo que isso, não agrade a pessoa que amamos.
Silvia
19/11/23
“Muito pior é não fazer nada por medo do que as
pessoas possam dizer a seu respeito”
Eu sei que fui muito orgulhosa e tinha medo do que as pessoas podiam
falar de mim. Nunca ousei tentar sair da zona de conforto porque a opinião deles
podia me irritar, então era preferível que ninguém soubesse quem eu realmente
era.
O medo do fracasso é paralisante.
Na existência anterior, fui uma artista plástica que fez sucesso. Eu tive
trabalhos muito divulgados, com isso, uma vida de ascensão social e material.
Mas, por causa de uma notícia sobre minha vida pessoal, tudo foi por água a
baixo.
Eu me envolvi com um homem casado e a esposa fez questão de ir até os
jornais, acabando com minha reputação, perdi clientes e tive uma vida de ruina.
Mas, quando tive uma nova oportunidade, apesar de sentir a arte correndo
nas minhas veias, preferi, inconscientemente, apagar todo talento por medo das
críticas. Eu temia o quanto as pessoas podiam ser cruéis, diziam que se tratava
de mania de perseguição. Eu não podia permitir que as pessoas tivessem um
julgamento negativo do meu trabalho e, por isso, eu nunca pintei.
Quando cheguei aqui e soube de tudo, chorei, me arrependi. Eu me achei
covarde, insegura e tola.
Por que deixar de fazer aquilo que ama por medo de críticas?
A vida é tudo isso. É fazer o seu melhor, ousar, dar a cara para bater,
saber se bancar no meio de tantos que podem desejar te colocar para baixo ou
jogar um balde de água fria depois do trabalho árduo, mas isso é normal. Muito
pior é não fazer nada por medo do que as pessoas possam dizer a seu respeito.
Nós não agradaremos a todos, mas existem muitos que se afinizam com
nossos interesses e objetivos, muitos como nós, então, façamos com que estes
encontrem nossos trabalhos, gostem e apoiem.
Eu entendi que ter coragem moral é difícil na sociedade que é tão
competitiva e para você ser respeitado não basta ter talento, também tem que
ter posses e família que abrem portas, mas cada um que saiba se reinventar,
erga a cabeça e divulgue o que tem de melhor com sinceridade e otimismo. É difícil,
mas não é impossível, acreditar em si mesmo é o início que todos devem ter.
Tamara
19/11/23
“Perceber o quanto cada um de nós têm coisas boas para acrescentar na vida uns dos outros”
Eu julguei porque vi o jeito como ela andava por aí e não queria que ela
se envolvesse com meu irmão. Imagina uma mulher daquelas na nossa família...
Mas, meu irmão disse que eu estava sendo preconceituosa só porque ela
não era da igreja. Eu não tinha entendido, mas no fundo, era intolerância
religiosa mesmo.
No fundo, eu não aceitava que alguém que estivesse ligada a vícios e com
comportamento leviano, fizesse parte da nossa família. Mas, não adiantou falar
nada porque ele estava apaixonado por ela e se casou.
Era insuportável recebe-la nas comemorações familiares. Será que ela não
percebia a maneira como nos comportávamos? Não podia fazer um esforço para se
integrar ao grupo familiar?
Saias curtas, muita maquiagem, escandalosa, aparecida. Eu não podia
suportar. Mas, o tempo passou e meus pais adoeceram. Meu marido e meu irmão trabalhavam
duro e não podiam me ajudar. Quem me ajudou foi ela.
Nunca vi uma mulher tão ativa para o trabalho, tão animada para cuidar
de tudo e esperta para resolver qualquer coisa. Eu me impressionava com as
necessidades dos meus pais e ela tirava de letra, aprendi tanta coisa.
No meio daquela fase difícil nos tornamos amigas leais, eu recorria a
ela para tudo e me tornei sua confidente. Eu desabafava com ela, foi como ter
uma irmã.
Durante este período, pedi perdão pelas tolices que falei e pensei
durante tantos anos. Eu me arrependi e desejei ter sido diferente. Eu fiquei
feliz por Deus ter colocado aquela pessoa maravilhosa nas nossas vidas para me
ensinar o quanto nós temos que tratar as pessoas pelo que realmente são,
deixando de lado suas crenças, partidos, classe social, cor ou nacionalidade.
Perceber o quanto cada um de nós têm coisas boas para acrescentar na
vida uns dos outros.
Lara
19/11/23
--PSICOGRAFADO POR PAULA ALVES--
“A consciência negra é a consciência que todos
devem ter da nossa igualdade, apesar das nossas diferenças marcantes e
acentuadas”
Consciência negra?! Eu desejei ter vivido num meio onde as pessoas
respeitavam seus princípios e sua integridade moral. Eu almejei estar rodeado
por semelhantes que se auxiliavam e faziam de tudo para que a paz imperasse no
mundo.
Mas, a verdade é que todos se atreviam a me destratar quando batiam os
olhos em mim. Julgavam que eu não tinha estudo ou era um delinquente. Não
ousavam trocar algumas palavras para saber o que eu pensava ou pretendia. Foi
uma escola rica de aprendizados aquela existência. Eu aprendi muita coisa e
compreendi o pensamento das pessoas sobre racismo, vivendo como negro.
Não é “preto” como o cão ou o gato, é negro, da raça. Eu compreendi
coisas interessantes sobre a minha raça, meu povo e também vivi rodeado de
pessoas que eram facilmente declaradas racistas ou não. Como se houvesse, apenas
dois tipos de pessoas.
Tudo foi mais difícil naquela vida, o estudo, a conquista do diploma, do
emprego, da estabilidade financeira, tudo muito mais longo e árduo, como se eu
tivesse que provar que merecia, que tinha capacitação, nenhuma facilitação.
Excelente aprendizado que me proporcionou mais perseverança e trabalho árduo.
Eu precisei me reconhecer como homem, independente da cor da pele, saber o que
eu trazia na consciência.
Consciência negra, certa de que todos merecem ser respeitados como indivíduos
capazes. Todos merecem oportunidades e conhecimentos. Todos porque, mesmo entre
aqueles que são discriminados, existe a discriminação para outros determinados
grupos. Os negros também têm preconceitos para com os brancos.
A consciência negra é a consciência que todos devem ter da nossa
igualdade, apesar das nossas diferenças marcantes e acentuadas. Todos nós,
dotados dos mesmos potenciais inovadores e evolutivos, todos com a mesma
capacidade para progredir, todos com as mesmas necessidades orgânicas e
afetivas. Isso já seria suficiente para nos respeitarmos, no entanto, o desejo
de poder e liderança, orgulho e ambição, colocam os homens para disputarem
terras, posições sociais e hierárquicas.
Eu sobrevivi como negro neste país onde a cor da pele importa muito e
declara quem você é e as possibilidades ascensionais que terá. Eu sofri e me
indignei com muitas coisas, mas não perdi a esperança de ser feliz. Quando mais
jovem, cheguei a questionar a Deus sobre os motivos pelos quais eu tive que
nascer como negro, mas compreendi, com o passar do tempo que tudo ocorre da
forma certa para todos os Seus filhos. Eu me arrependi de fazer tal
questionamento porque a família que me concedeu a oportunidade de reencarnar
sempre honrou sua raça e me ensinou muito sobre honra e valor ético.
Eu considerei que a consciência negra tem tudo a ver com a consideração
pelos valores familiares e ancestrais. Cada um de nós deve ter gratidão por
todos aqueles que viveram antes de nós, membros do conjunto familiar que
lutaram e desempenharam boa conduta social permitindo que outros viessem depois
deles, consagrando o que é para benefício de todos.
Então, consciência negra é muito mais do que um dia em que devemos nos
lembrar dos escravos sofridos do Brasil. Muito mais do que nos condoermos por
tantos negros que ainda padecem vítimas da hostilidade e agressividade racista,
criminosos e ultrajantes que se esquecem de que as raças puras foram extintas
há tempos.
É uma data propícia para refletirmos na forma de nos posicionarmos no mundo,
todos nós, negros e brancos, homens e mulheres, homossexuais ou heteros, de
todas as religiões, partidos políticos, ”normais” ou com algum déficit
intelectual. Todos nós passamos por constrangimentos ou somos discriminados. O
que não é bom para um, também não será para o outro. Agirmos com indulgência e
tolerância, aceitarmos as nossas diferenças e nos apoiarmos para fundarmos um
mundo harmonioso onde a paz pode prevalecer.
Miquéias
25/11/23
“Todos nós sofreremos com a discriminação, enquanto não aprendermos a olhar o outro com igualdade”
Eu queria impedir que ele falasse comigo de forma agressiva, mas eu não
podia. Ele ria e me ridicularizava, falava dos meus pais, chamava “aqueles
macacos”. Eu sentia o sangue queimar nas minhas veias de tanta vontade de
bater, mas me controlava.
Eu sabia que ele podia ser tratado como coitado e eu podia ser expulso.
A inversão de valores sempre imperou. Enquanto ele estava me insultando ninguém
dizia nada, os professores sempre ouviram e nunca me defenderam, mas se eu
fosse para cima, tenho certeza de que me mandariam para a direção e eu podia
ser expulso. Eu ainda ia levar uma dura dos meus pais. Eles sempre falavam em
casa dos desaforos que ouviam nos serviços, eles sofriam muito.
Meu pai nunca conseguiu um emprego que fosse adequado ao seu
conhecimento, sempre inferior, a mãe também era maltratada na casa dos ricos.
Diziam que “os pretos só serviam para limpar a sujeira deles”. Era horrível
pensar que nós nunca conseguiríamos certas coisas, como se a felicidade não
fosse feita para os negros. Mas por quê?
Pensei que éramos culpados, de alguma forma, porque éramos coniventes
com a forma com a qual nos tratavam, nós aceitávamos tudo aquilo, aquela falta
de respeito e pensei que eu devia me posicionar.
Então, eu comecei a pensar com estratégia, numa maneira de abalar a
convicção deles. O menino da escola tinha orelhas de abano, eu não queria
entrar no erro dele, mas era a única maneira, então comecei a explicar que
ficaria muito desagradável se todos pudessem perceber como as orelhas grandes
são feias e escandalosas. Ele arregalou os olhos e eu falei que todos nós temos
nossas diferenças e temos que respeitar uns aos outros para vivermos em paz.
Ele nunca mais falou de mim.
Em casa, passei a dialogar com meus pais, eles precisavam saber o quanto
o trabalho deles era precioso e precisava ser respeitado, primeiramente por
eles que deviam reconhecer a própria capacidade e atuação. Eu os elogiava e
perguntava como tinha sido no trabalho, meus pais desabafavam e, aos poucos,
foram reduzindo as vezes em que mostravam certa inveja e rancor por seus
patrões. Meus pais precisavam valorizar as próprias vidas e ambientes em que
nasceram.
Cada um de nós, recebe oportunidades para se desenvolver, Deus faz tudo
certo. Não devemos olhar para a vida do próximo, mas aceitarmos nossas vidas
com gratidão, sabendo que podemos avançar cada vez mais porque Deus nos fornece
condições para isso. Nunca julgar que as posições sociais ou raciais nos
aprisionam e impossibilitam o crescimento pessoal, financeiro, social ou
amoroso. Cada um faz suas escolhas e colhe o que planta.
O racismo ou a discriminação social não pode impedir seu crescimento, só
quem faz isso, é você mesmo, diante das correntes mentais em que você se
aprisiona. Eu só encontrei esta explicação por causa daquele menino que me fez
pensar. Eu não podia agredi-lo, eu precisei me igualar a ele e compreender
porque ele me achincalhava. Ele era inseguro por causa da sua aparência, ele
também já tinha sofrido discriminação, bullying.
Muitas vezes, as pessoas falham de forma irreversível conosco, erros
graves e dolorosos, mas normalmente os problemas são pessoais, eles nem estão
nos enxergando realmente, seria com qualquer um. É melhor compreendermos as
limitações destes irmãos que agem com maldade e observarmos suas ações como o
veneno daquele que está doente e não tem nada de bom para dar. Compreender o
mal que existe no coração do maldoso e seguir rumo ao aprendizado real sem
comprometer a trajetória de luz.
Todos nós sofreremos com a discriminação, enquanto não aprendermos a
olhar o outro com igualdade.
Valdeci
25/11/23
“Sempre vão julgar e achar um motivo para ofender
se ainda não aprenderam a amar”
Ela falava que tinha nojo de mim. Desde pequena, não queria nem encostar
e a mãe dela era tão simpática e atenciosa. Me recebia e fazia questão de dar
doces e presentes. Acho até que a menina sentia ciúmes. Mas, aquele bondoso
olhar parecia não perceber o quanto a filha tinha maldade no coração.
Minha mãe era empregada naquela casa de gente rica. Eu gostava de ir com
ela porque eu comia bem e corria feliz pelo gramado, brincava e dormia em paz,
porém aquela menina parecia perceber que eu estava me preparando para estar ali
o tempo todo.
Quando minha mãe morreu, a bondosa senhora se apressou para me adotar,
ela dizia que minha vida ao seu lado seria tranquila. Eu sofri a perda de
mamãe, ela foi como um anjo me consolando e dando carinho. Aquela senhora
jamais me olhou com discriminação, nunca me repeliu e também não permitia que
eu fosse tratada com diferença em sua casa, para todos, eu era sua filha e
devia ser respeitada como tal.
Mas, sua filha biológica me odiava, sempre odiou e não media esforços
para me deixar mal com a senhora, sempre infernizando minha vida e forçando
situações desagradáveis. A senhora percebeu e ela foi franca dizendo que a mãe
não podia ter me adotado, uma negrinha esfarrapada e sem educação como irmã
adotiva. Naquele dia, ela apanhou e a senhora disse que nunca mais queria ouvir
um absurdo daqueles.
Nós não nos falávamos e minha mãe adotiva foi um amor de pessoa, sempre
delicada. Crescemos e a filha foi embora, deixando que eu ficasse em paz com
minha senhora. Ela vinha raramente e brigava por minha causa. Entre nós nasceu
uma amizade leal, bonita de se ver. Eu não me casei e quis ficar com ela,
cuidando para que tivesse amparo na velhice. Cuidei de tudo para que tivesse
todo conforto e bem-estar, principalmente quando ela demonstrou necessitar de
maiores cuidados.
Quando ela desencarnou, a filha fez questão de me enxotar, eu tinha
economias que minha senhora organizou, ela sabia que a filha faria de tudo para
me deixar na miséria, por isso, não fiquei desvalida, recebi uma casa e um
carro, mesmo ela fazendo de tudo para me retirar a posse.
Quando eu cheguei neste plano tive a oportunidade abençoada de estar com
ela e pudemos conversar sobre tudo o que ocorreu. Ela já esteve ligada a mim
pelos laços da maternidade, estivemos envolvidas no amor sincero por muitas
existências, foi como ter me reconhecido. Mas, aquela filha, ao contrário, esteve
comigo, ligada a disputas e tragédias, mortes e roubos, sempre nos envolvemos
em momentos terríveis, precisávamos nos perdoar, mas não foi nesta vez.
O problema dela não era racismo. Eu poderia ter tido a pele alvinha,
ainda assim, ela me odiaria. Os Espíritos não precisam de estado civil,
religioso, político ou racial para se amarem ou se odiarem, isso é só
justificativa descabida para quem não compreende a pluralidade das existências.
A repulsa vem de outras épocas, sempre vão julgar e achar um motivo para
ofender se ainda não aprenderam a amar.
Pedi para recebe-la como filha.
Isabel
25/11/23
“Eu fui racista e precisei conviver com um negro
íntegro, consciencioso, amoroso e solidário para compreender que o mal habitava
em mim”
Eu não queria que ele se casasse com minha filha. Por que ela não podia
ter se envolvido com alguém da nossa classe social? Eu não era racista. Nunca
pensei que fosse.
Mas, tudo muda de figura quando a coisa acontece dos muros para dentro.
A minha filha era meu xodó, eu não podia admitir que ela construísse a vida
promissora com alguém que iria conduzi-la para a ruina e eu sabia que aquele
homem não tinha como progredir, até mesmo, por todos os empecilhos sociais. O
racismo não nascia em mim, mas no mundo e eu não queria que ela sofresse com
ele. Eu preferia que ela tivesse uma vida tranquila com outra pessoa, mas ela
não conseguia entender e disse que estava disposta a enfrentar a sociedade ao
seu lado.
Aquilo me irritou muito, cheguei a conversar com ele, propor que fosse
embora para que ela não sofresse discriminação junto com ele. Você não faz
ideia do quanto uma mulher branca podia sofrer num relacionamento inter-racial.
Eles não me ouviram e eu sai de racista. Mas, meu genro demonstrou ser
um homem muito centrado e cheio de honra, trabalhador, bom chefe de família,
amou minha filha até o último dia, foi um pai excelente, enfim, cheguei a me
desculpar com ele quando vi a vida que ele proporcionou para ela e meus
netinhos graciosos.
Eu teria me arrependido se soubesse o que ela estaria perdendo sem ele.
Acho que nenhum outro homem teria cuidado melhor da minha filha, com tanto amor
e delicadeza. Um verdadeiro homem de família.
Para mim, um filho. Respeitoso e amigável, cuidou de mim e da minha
esposa quando ficamos doentes, amparou a todos. Eu aprendi muito com aquele
homem. Quando regressei para a pátria espiritual, tive uma surpresa. A nossa
afinidade era antiga, ele foi meu filho em muitas existências. O plano era,
justamente, se ligar a nossa família como meu genro por conta da nossa união
fraterna. Eu podia ter arruinado o planejamento e todas as facilitações de
jornada em decorrência da nossa afinidade por conta de uma tolice de racismo.
Eu fui racista e precisei conviver com um negro íntegro, consciencioso,
amoroso e solidário para compreender que o mal habitava em mim. Quando os meus
olhos viram as coisas boas que ele tinha para oferecer, minha cura se iniciou,
cura moral mais que necessária para avançar na evolução e permitir que minha
família fosse feliz. Graças a Deus que eu deixei o sentimento falar mais alto.
Adoniran
25/11/23
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