Cartas de Novembro (16)

 
“Nossas emoções e o falso juízo que fazemos das pessoas nos colocam em situações de grave sofrimento”

 

A indulgência é uma grande virtude. Como é importante saber se colocar no lugar dos outros. Todos sabem o que desejam ouvir e a maneira como gostam de ser tratados. Delicadeza, respeito, educação e simpatia são bons para todo mundo, mas por que será que as pessoas preferem a rispidez, a palavra ferina, brutalidade e deselegância?

Se você sabe que suas palavras podem desestruturar alguém, não diga nada. Tem gente que está tão desesperada, por um fio, cheio de indignação e sofrimento moral que não aguenta uma carranca ou uma frase mal interpretada.

Se colocar no lugar do outro é questão de treino, implica em saber ouvir e se despir do egoísmo porque é nestas horas que colocamos o outro em primeiro lugar nos esquecendo de nossas necessidades e infortúnios.

Ajuda muito aquele que sabe ouvir e se colocar no lugar do outro. Pode fornecer esperança, apoio, paz e encorajamento.

Mas, se você estiver passando por um dia ruim, cheio de ira ou tristeza, tenha a sensatez de preferir ficar quieto e não distribuir maldades verbalizadas, nós não podemos definir o quanto podem prejudicar quem já está fragilizado.

Sempre fui um homem sensato e muito contido. Não imaginei que pudesse ficar tão deprimido com a partida dela. Minha esposa viajou a trabalho, eu a incentivei, pois sabia que isso seria bom para a carreira dela, mas não podia imaginar que sentiria tanto a sua falta. Os meses se passaram e o afastamento me deixou cada vez pior. Quando nos falávamos, ela parecia estar diferente, tão feliz e animada que isso me deixava indignado, mas procurei esconder dela porque sabia que era egoísmo da minha parte.

Mas, quando eu comentei com um amigo, ele riu e me chamou de otário, disse que minha esposa estava feliz porque estava sozinha, devia estar se divertindo muito sem mim e já devia ter arrumado alguém. Ele falou claramente que eu estava sendo traído. Meu amigo ria de mim e nem deve ter percebido meus olhos cheios de fúria.

Eu não analisei as palavras dele porque estava muito fragilizado emocionalmente. Eu ouvi aquilo como verdade e fiquei ainda pior. Quando falei com ela, tudo era motivo para me sentir enganado. Eu a odiei e ela estava trabalhando de forma séria e organizada. Eu rompi nosso casamento sem saber se era verdade ou intriga sórdida.

Nossas emoções e o falso juízo que fazemos das pessoas nos colocam em situações de grave sofrimento. Eu nunca superei o rompimento. Podíamos ter sido felizes, mas eu me deixei contaminar pela maldade. Eu não soube controlar meus sentimentos e pensamentos e me deixei abater. Arruinei minhas emoções e fiquei doente, emocionalmente doente, nunca superei a ausência dela e o envenenamento da alma.

Amar é se entregar. Nós precisamos nos envolver e permitir que a pessoa seja livre para nos amar também. Se ela não for aquela pessoa que idealizamos é normal, mas não ficar poluindo os pensamentos com maldades que são criadas pelos padrões mentais.

Muitos de nós, estão tão envolvidos com o mal que não conseguem enxergar nada de bom. Mas, ainda existem pessoas boas. Ainda existe amor sincero, leal e recíproco, mas nós precisamos estar abertos para o amor.

 

Luciano

04/11/23“Eu te digo, tem coisas que você só vai ter certeza quando chegar o seu dia”

 

Eu não sabia no que devia acreditar. Eu temi. Todos diziam que o fim estava próximo e eu temi. O que haveria depois da morte?

Eu nunca precisei me preocupar com isso. Não, enquanto estava jovem, com saúde e vitalidade. Eu não precisei me preocupar com religião ou, se alguma delas, estaria de posse da verdade. Pouco me importava a situação do mundo espiritual, enquanto eu podia gozar do plano físico.

Mas, o tempo passou e, de repente, eu me deparei com a enfermidade. A necessidade de cuidados médicos e por conta de terceiros, me trouxe a necessidade de pensar no que haveria além do corpo, além daquela vida de carne. Será que tudo se findaria com aquele corpo doente?

Eu aproveitei bastante. Verdade, conquistei títulos, tive dinheiro e mulheres, mulheres lindas. Eu não quis ter família ou filhos, eu gostava de viver para mim. Curtir no último das minhas forças. Esbanjar e ser invejado, eu gostei. Mas, tudo mudou com aquela doença. Eu compreendi o motivo, eu precisava refletir sem o luxo, sem os prazeres. Precisava ficar preso numa cama e perceber que o dinheiro não compra uma série de coisas. Precisei sentir falta destas coisas que o dinheiro não pode comprar e ter inveja das pessoas simples que tinham afetos, que tinham atenção de pessoas amorosas.

Eu vi que a doença e a morte nos transformam em seres iguais, perfeita Lei de Igualdade. Não importa a cor, raça, posição social, sexo, nada, todos nós somos iguais. Eu temi. O que aconteceria de mim? Se eu já estava sofrendo tanto, o que seria depois da morte?

Eu não quis acreditar no nada. Eu não queria desaparecer por completo e ser extinto, mas eu também achei bem estranho que poderia ficar adormecido, aguardando por um juízo final. Aguardando por quanto tempo, como assim? Não entrava na minha cabeça. Eu tive tempo para tudo isso, eu pesquisei, eu li.

Eu precisava ter esperança e compreendi que não fui uma pessoa boa porque não havia feito o bem. Não ter feito o mal, não me eximia da culpa de ter sido um ausente diante de tantas necessidades sociais, ainda mais porque eu tive recursos para fazer a diferença. Quando eu entendi o quanto fui irresponsável diante das minhas posses, desejei ficar adormecido porque eu sabia que meus atos iriam me conduzir para consequências indesejáveis. Eu revi tudo o que fiz e percebi onde estavam meus erros, onde eu podia ter acertado, então, procurei fazer benefícios, mesmo estando no leito, mesmo enfermo, eu me dediquei para ser bom e eu me senti muito melhor.

Eu acreditei que, apenas o corpo morre, mas eu sou ser eterno e preciso ser responsável pelos meus atos. A doença longa e difícil serviu para me conscientizar. Me fez ver a vida e a morte de um aspecto diferente e me transformou numa nova pessoa. Começou pelo medo da morte, mas depois eu precisava descobrir a verdade.

Ainda assim, eu te digo, tem coisas que você só vai ter certeza quando chegar o seu dia. É importante pensar nisso, enquanto se está lúcido. Até porque, não importa o dia, mas a certeza de que este dia, fatalmente, irremediavelmente chegará para todos. Mas, a morte não precisa ser um martírio ou crueldade. A morte devia ser algo natural, tranquilo, mudança de plano que conduz para a verdadeira vida. Vida sem ilusões ou choque de ideias, onde todos têm os mesmos objetivos e aceita os planos de Deus.

Viver uma vida séria, justa e correta para ter uma morte tranquila e cheia de paz. Isso é o normal.

 

Benito

04/11/23

 


“Os cristãos devem se mover de forma diferente. Devem se mover pela paz, fraternidade e solidariedade”

 

Eu detestava aquela gente. “Hipócritas!” — eu gritava para toda gente que não aceitava nossos princípios, nosso Evangelho.

Como podiam mistificar tanto, ficar naquela cantoria ridícula. Na porta da minha casa, vestidos, enfeitados. Eu detestava e falava para o pastor que devíamos buscar auxílio na prefeitura porque alguém tinha que tomar uma posição, alguém tinha que barrar aqueles trabalhos.

O pastor era um homem sensato, cheio de paz, seguia o Evangelho com muita honra e me falou sobre respeito, sobre Jesus não ter placa de igreja e falou também de intolerância religiosa. Eu achei que estava louco, tentando defender aquela gente, nem quis ouvir.

Eu falava para todos os irmãos que a gente tinha que fazer alguma coisa, mas o pastor proibiu. Falou que a paz começa em casa, no bairro e muito mais, dentro de cada consciência. A gente pode arrumar encrenca e briga em toda parte se não estiver com a Paz do Senhor. Ele pediu para eu analisar as palavras que saiam da minha boca. Mas, eu estava tomada de discriminação. Nem por um minuto reparei que se tratavam de irmãos em Cristo.

Deus sempre age para nos beneficiar. Eu estava sozinha em casa, chovia tanto e minha filha caçula ardia em febre. Eu precisava de um carro para leva-la ao hospital, ouvi aquela barulheira e gritei tão alto que todos ouviram. Quando eles se aproximaram do meu portão, disseram: “A senhora precisa de ajuda?”

Eu estava desesperada e disse que Deus estava querendo tirar minha menina. Foi quando uma senhora abriu meu portão e falou que ia nos levar ao hospital porque Deus estava do nosso lado. Eu aceitei pela menina e me arrependi quando vi a forma como aquela senhora tratava minha filha doente. Eu chorei naquele carro, pois pude ver o quanto eu era ruim, cheia de preconceito religioso. Eu distorci tudo e maltratei meus vizinhos porque eram de uma crença diferente. Mas, Deus nos têm todos como Seus filhos e eu sou uma criaturinha tão mísera, me achando melhor que os outros filhos do Senhor, com que direito?  

Eu pedi perdão a Deus e pedi perdão a ela. Minha filha ficou curada e eu me confessei para o pastor. Agradeci das muitas vezes que ele tentou me clarear a consciência fazendo lembrar de Jesus. De todas as injúrias que ele enfrentou porque não souberam compreender sua doutrina. Em todos os tempos da Humanidade, sempre houve pessoas tentando combater outras pessoas porque as ideias se chocaram.

Quando alguém pensa diferente de nós, achamos que devemos combate-los. Isso acontece até em nome de Deus, mas eu não podia fazer isso se me considero cristã. Os cristãos devem se mover de forma diferente. Devem se mover pela paz, fraternidade e solidariedade. Não importam as diferenças. Crença, raça, posição social, não importa. Para sermos agraciados pela luz de Jesus devemos seguir seus passos. Ele não discriminou ninguém: republicanos, samaritanos, prostitutas, leprosos, fariseus, romanos. Para ele, todos eram seus irmãos diante de Deus.

 

Maria do Carmo

04/11/23

 

“No fundo todos desejam as mesmas coisas, paz, amor e saúde”

 

Achei que seria aceita se fosse uma pessoa fácil de conviver, se fizesse o que as pessoas queriam, se fosse tolerante e amistosa. Fiz isso em todos os grupos sociais: familiares, do trabalho, na igreja ou nos lazeres.

Eu sempre fui uma pessoa fácil de conviver. Nunca me indispus com ninguém, mas no fundo, as pessoas me indignavam. Suas conversas fúteis, seu tom de deboche, sua vida frívola, suas grosserias e tolices... Tudo me indignava e eu preferia ficar quieta do que ser sincera com todos eles.

Eu guardava para mim, ao invés, de jogar palavras ofensivas para os meus pais, irmãos, esposo e filhos. Será que eles não percebiam o quanto eram indelicados e rudes?

Mas, eu comecei a perceber uma irritação na garganta, parecia que eu estava com algo entalado. Isso se transformou num pólipo e, logo em seguida, num câncer. Foi quando eu não consegui ficar calada, mas não queria que eles se magoassem com minhas palavras e eu procurei falar de forma branda.

Nas primeiras palavras, eles se espantaram e disseram que não sabiam que eu me incomodava. Falei com todos porque eu percebi que não aguentava mais engolir aquela forma leviana que conduziam suas vidas. Eu fui melhorando os sintomas e o tratamento foi surtindo efeito, à medida que eu falava.

Meus familiares também foram mudando. Incrível! Nós fazemos diferença na vida das pessoas. Eu pensava que ninguém ouve o que dizemos e que ninguém muda sua vida ou seus hábitos em decorrência do que dizemos, mas eu falava com delicadeza, tentando ajudar e eles sentiam que não era por mal, então, foram se modificando e eu me sentia muito feliz.

Eu me curei do câncer. Inexplicavelmente, fiquei muito melhor. Acho que eu precisava falar e me fazer ouvir, mas com amor, com delicadeza. Eu precisava expor minha maneira de enxergar o mundo e fazê-los compreender que ninguém deseja ser maltratado, no fundo todos desejam as mesmas coisas, paz, amor e saúde.

 

Lívia


04/11/23


----Paula Alves-----


“Deus sempre sabe cuidar de nós, principalmente, quando nos tornamos filhos bons e previdentes”

 

O objetivo era ter uma casa, mas tudo foi difícil.

Eu sempre fui trabalhador, não descansei, enquanto não achei um terreno e paguei o que consegui juntar para ter um local para construir nossa casa. Fiquei muito feliz e arregacei as mangas, eu sabia levantar paredes.

Rapidamente construí um local agradável para levar minha família. Minha esposa ficou super feliz. Nós vivemos no local por alguns anos quando, de repente, chegaram uns homens metidos a classudos. Vieram dizendo que a terra não me pertencia, que os documentos eram falsos e eu tinha que retirar minha família dali.

Eles queriam nos desalojar. Me tirar do que era meu. Mas, eu me indignei! Eu não podia permitir aquela afronta dentro da minha terra. Expulsei todos eles, mas fiquei avexado. Seria verdade? Será que eu teria sido um trouxa nas mãos de algum espertalhão?

Fiquei observando os documentos e não tinha como ter a certeza de nada. Eu não entendia de leis e nem podia saber se o terreno foi vendido corretamente. Fui na prefeitura e averiguei. Demorou muito tempo para alguém me dar a informação. Tudo com falta de respeito diante do trabalhador, uma desonra.

Quando finalmente quiseram me atender, riram de mim. Me chamaram de ingênuo. Eu me senti muito constrangido. Inversão de valores! O trabalhador taxado de otário, enquanto o estelionatário é o espertalhão. Ele se deu bem às minhas custas. Acabou tirando onda em cima do suor do meu rosto. Eu fiquei muito entristecido do que ocorreu e ainda tinha que resolver o que ia fazer da vida.

Eu não queria ser desonesto, nem queria pedir favores. Eu queria viver do meu trabalho, da minha dignidade. Era um orgulho para mim, dizer que eu vivia do meu árduo trabalho sem depender de ninguém.

Mas, eles não voltaram. Eu estava me preparando para ir embora. Fui guardando dinheiro para não sair dali para rua e pedindo a Deus para proteger minha família. Eu trabalhei e juntei para que, quando retornassem, eu pudesse sair dali e ir para outro local apropriado para uma família de gente trabalhadora morar.

Mas, o tempo passou e eles não retornaram para tratar da desapropriação. O tempo correu acelerado e eles nunca mais voltaram. Eu sempre me perguntei o que aconteceu com aquela gente. Será que eles se compadeceram da minha situação? Afinal, quem tem muito, não deve se importar com o pouco que cai nas mãos de pessoas que se regozijam com suas migalhas.                             

Mas, eu não fiquei em paz e quando foi possível, comprei outro local para sairmos dali. Eu voltei na prefeitura e tentei entrar em contato com o proprietário daquele local, mas nunca tive o reencontro. A verdade é que fiquei muito apegado a esta situação.

Sempre achei que as pessoas não precisavam sustentar uma pose, mas ter ânimo para o trabalho que conduzisse a segurança de uma casa, no mínimo confortável. Primeiro vem a casa. Mas, por que será que eu me preocupei tanto com isso?

Chegando aqui, pude compreender que na existência precedente, eu me deixei levar pelas facilidades da vida e não tive coragem para o trabalho. Enquanto meus pais eram vivos, eu vivi na casa deles, mas depois que desencarnaram, meus irmãos venderam a propriedade e deram uma pequena soma em dinheiro que eu gastei rapidamente. Quando dei por mim, já estava na rua.

Vivi como um parasita social. Alguém que ninguém reconhece, que não tem família ou laços afetivos. Um largado, morador de rua, imundo e encardido. Eu me esgueirava pelos cantos e me lembrava das vezes em que pude dormir numa cama limpa e quente. Eu sonhava com banho de chuveiro e comida fresca. Usar o sanitário em paz.

Coisas tão simples para uns, tão indispensáveis. Mas, luxuosas para outros.

Então, quando reencarnei, desejei conquistar um lar. Um local onde eu pudesse viver em paz. Ter o mínimo de privacidade e conforto para descansar o corpo e sossegar a alma. Eu trabalhei duro e aprendi a lição. Valorizei o teto que foi adquirido honestamente.

Foi uma grande superação e sei que Deus cuidou de cada detalhe. Até quando fui enganado, sabendo do meu esforço, Ele permitiu que as pessoas se esquecessem de nós ou deixassem de lado aquele pequeno pedaço de chão para que pudéssemos seguir em paz. Deus sempre sabe cuidar de nós, principalmente, quando nos tornamos filhos bons e previdentes.

 

Tenório

11/11/23


--PSICOGRAFADO POR PAULA ALVES--


“A vida não é só para adquirir bens materiais. É muito mais que isso”

 

Era um trabalho muito exaustivo. No calor, parecia não ter fim, eu não via a hora de acabar e ir para casa. Minha esposa foi maravilhosa! Ela me esperava com a comida pronta, sabendo que eu chegava cansado e com fome.

Era uma empreitada atrás da outra. Naquela época, tinha muito trabalho nas construções, mas era um serviço pesado.

O que eu ganhava, deu para comprar uma casa boa para minha família. Mas, era com poupança. Tudo contadinho. Eu dava todo o dinheiro nas mãos dela e seguia em frente, um dia de cada vez para não enlouquecer. O corpo doía, sentia vontade de desistir, mas não podia, eu era o provedor da casa. As mulheres não trabalhavam para ajudar os maridos, era tudo por nossa conta.

Então, eu não podia desistir. Fui levando. Naquele dia, eu estava extremamente cansado. Senti uma dor no coração quando deixei a Luíza na cozinha. Eu vi da janela que ela estava chorando. Será que ela sentiu?

A dor da separação é terrível. A gente tenta esquecer, mas só o tempo ameniza, mais nada.

Eu subi no andaime e começou a chover de vento forte. Balançava tudo e não deu tempo de descer. Então, eu lembrei de tanta coisa. Coisa de menino, no tempo dos meus pais. Lembrei das coisas boas que eu fiz e também das mancadas, das bobagens que cometi. Pequenos deslizes com amigos e familiares, deixando de encorajar ou ajudar a sair de um problema. Eu sempre dizia que cada um deve cuidar da sua vida, até porque, eu que me virava, ninguém nunca me ajudou. Mas, foi errado porque a gente tem sempre que ajudar cada um que precisa do nosso auxílio.

Eu lembrei de tudo o que minha própria consciência julgava ser culpa, ser erro. O andaime virou e eu cai. Quase não sofri, foi tão rápido!

É coisa de segundos e você já mudou de plano. Não dá pra voltar atrás. Leva um tempo para compreender, não é de uma hora para outra.        

Eu me arrependi de ser duro comigo, de não ter passado mais tempo com minha família. De não ter tido momentos agradáveis e felizes. Não tive o mínimo de envolvimento com meus filhos porque estava sempre trabalhando.

Nós priorizamos e podemos até culpar a sociedade, o sistema ou nossas necessidades, mas você prioriza e faz escolhas. A vida não é só para adquirir bens materiais. É muito mais que isso. Eu tinha que ter dividido melhor o meu tempo. Nas vinte e quatro horas do dia, dá tempo de fazer tudo. Trabalho, descanso, lazer, obrigações familiares, religiosas, tudo.

Mas, eu só trabalhei. Não estive presente com meus familiares, não cuidei da parte espiritual, nem me diverti com os filhos, nada que pudessem se lembrar do pai como um tutor amigo e dedicado.

Eu fui denominado como aquele que foi um homem trabalhador e até morreu no trabalho. Nada mais. Eu poderia ter sido um bom esposo e pai. Um filho amoroso, um voluntário das obras assistenciais, mas nunca pensei em me dedicar a estes assuntos.

Eu me arrependi por não ter desenvolvido questões importantes da minha vida.

 

Leandro

11/11/23

 

--PSICOGRAFADO POR PAULA ALVES--


“Ter tudo e não fazer nada pelo próximo sofredor, é falha gravíssima”

 

Vida de futilidades! Vida de quem não precisa se esforçar para comer ou viver em paz. Eu nasci numa família muito rica e, por isso, me desviei do propósito central que era me dedicar aos desfavorecidos.

Fico impressionada quando sei de alguém que precisava trabalhar para comer, conseguiu ajudar no plano material. Como conseguiu pensar em outros semelhantes quando faltava tantas coisas em seu lar?        

No meu caso, eu tinha de tudo. Nunca precisei me preocupar com valores ou trabalho, mas em compensação, nunca me motivei em prestar atenção nos semelhantes. Eu poderia ter feito muita coisa. Os carentes estavam bem perto de mim, em toda parte. Inúmeros trabalhavam em nossa mansão. Pessoas muito simples que nos serviam e tinham aspecto de pobreza. Eu nunca me preocupei com eles, nunca.

Gastei o dinheiro em viagens, joias, cirurgias plásticas, carros, apartamentos de luxo, obras de arte. Desencarnei e padeci ouvindo lamúrias e insultos. Senti muita fome e fiquei num estado deprimente, necessitada de tudo, mas principalmente de atenção. Foi o que me fez sentir pior. A solidão, o abandono, a negligência do submundo.

Lembrei de muita coisa, tive tempo para refletir da vida arrogante e preconceituosa. A vida de luxúria e avareza. Que horror! Eu padeci dos meus próprios deslizes. Eu vivenciei o que muitos miseráveis sofreram. Aprendi da pior maneira.

Conseguir perceber as necessidades alheias quando se tem tudo, é uma prova delicada. Ser tocado pela indulgência e empatia, é fundamental para o aprimoramento. Ter tudo e não fazer nada pelo próximo sofredor, é falha gravíssima. Eu entendi.

Todos podem ajudar. Eu me lembro das empregadas que se organizavam para doar alimentos durante todo ano. As sobras da nossa mesa, serviam para alimentar os necessitados. Elas preparavam presentes para as crianças no Natal.

Eu ouvi quando disseram que não resolvia os problemas do mundo porque era pouca coisa diante da necessidade social, mas aquilo enchia as pessoas de esperança e ânimo para prosseguirem.

Eu podia ter feito muita coisa.

Suelen

11/11/23

 --PSICOGRAFADO POR PAULA ALVES--









“As pessoas deviam cuidar melhor das suas vidas. Nunca usarem o dom da palavra para condenarem alguém”

 

 Eu não queria ser a certinha, eles tinham que respeitar minhas escolhas e decisões. Meus pais achavam que todos os filhos tinham que ser iguais, fazendo tudo como desejavam, mas eu nunca fui de pedir licença, sempre cheguei com a coisa pronta e isso gerava discussões em minha família.

Quando disse que não gostava de homem, foi uma crise no ambiente doméstico. Minha mãe espumava, disse que não aceitava filha deste jeito e não queria que eu me expressasse deste modo porque nos colocava numa posição ruim socialmente.

Mas, eu nunca me preocupei com a repercussão na boca dos outros, nem queria saber o que diriam de mim, mas eu não era uma pessoa sozinha, eu tinha família.

Não parei para pensar que a maneira como nos portamos na sociedade, influencia na maneira como as pessoas vão nos tratar e isso se estende aos nossos familiares. A mãe estava muito triste, cabisbaixa, mas não dizia o motivo, ela não queria papo comigo e eu preferi do que ter batalha em casa.

Estava no supermercado quando ouvi falarem da minha mãe. Duas senhoras da igreja que congregavam com ela há muitos anos. Falavam que minha mãe não era de confiança porque se fosse boa esposa e mãe, a filha não teria se tornado homossexual. Eu fiquei louca de raiva. Como podiam destratar minha mãe, por causa, das minhas escolhas?

Falei uns desaforos pra elas e pude compreender a tristeza da minha mãe. Ela estava preocupada com a língua social. Muitos não têm tempo para cuidar da sua casa ou da saúde de seus entes queridos, não têm tempo para o estudo ou se dedicar mais arduamente ao trabalho, não realizam obrar sociais ou prestam amparo aos carentes, mas sabem de tudo o que acontece nas casas próximas ou na vida de seus parentes.

Eu não me arrependi de ser sincera com meus genitores. Acho mesmo que minha mãe não devia ter comentado o que se passou em nossa casa, assim, elas nunca saberiam porque eu não tinha envolvimentos. Só não queria saber de homens. Mas, a mãe falou e foi excluída por preconceito. “A mãe da desviada”.

Conversei com minha mãe, eu precisava ser honesta com ela. A mãe nunca me entendeu, não conseguia compreender por que eu não queria casar ou ter filhos. Eu tinha pavor de ser tocada. Ela não apoiou, até tentou me colocar num relacionamento contra minha vontade. Eu senti muita pena dela, pelo comportamento das mulheres da igreja, mas não podia suportar o contato com homens, nem pelo amor que eu tinha por minha mãe.

As pessoas deviam cuidar melhor das suas vidas. Nunca usarem o dom da palavra para condenarem alguém.

Quando cheguei aqui, consegui compreender por que eu tinha pavor dos homens me tocarem. Na encarnação pregressa, eu fui molestada por meu padrinho. Eu tinha treze anos e ninguém acreditou em mim, justamente porque ele tinha uma postura irrepreensível na igreja. Eu morria de medo de encontrar com ele, mas fui obrigada a tolerar sua presença, usava várias artimanhas para me esquivar e não me tornar sua vítima novamente. Reencarnei, esqueci das lembranças de dor, mas no fundo da alma, achei que todos os homens pudessem me fazer sofrer e não quis me aproximar deles. Não era desejo por mulheres, foi horror pelos homens.

Estou em tratamento, muito melhor do que quando aqui cheguei. Já encontro pontos positivos em muitos seres do sexo masculino que cruzaram minhas jornadas, sei que não posso generalizar. Existem homens bons e maus em toda parte. Eu vou retornar como mulher novamente e pretendo formar família. Eu preciso desbloquear este acontecimento infeliz da minha mente.

 

Júlia   

11/11/23

--PSICOGRAFADO POR PAULA ALVES--







“As pessoas têm que vigiar seus pensamentos e sentimentos. Estarem dispostas a se responsabilizarem por tudo o que estão fazendo os outros sentirem”

 

   Se soubéssemos o potencial que existe em nós...

Dentro de todo ser há o infinito de possibilidades e descobertas. Todos podem se superar e fazer o bem indefinidamente.

A mente inexplorada revela faculdades que o homem encarnado não pode sequer imaginar. Eu me deslumbrei quando cheguei aqui e compreendi o que podemos fazer com o padrão mental.

Isso me levou a crer que temos um forte poder de atração, mas não sabemos utilizá-lo ou fazemos isso para provocar o mal consciente ou inconscientemente.

Enquanto estive encarnada, fui tão insegura, eu mesma me menosprezava. Nunca confiei em mim ou acreditei que era capaz de transpor barreiras intelectuais ou materiais. Eu aceitei os fracassos que todos colocaram nas minhas costas. Ouvi, por tantas vezes, o quanto eu era burra e enfadonha que acreditei naquelas palavras de repressão.

Eu estava fadada ao fracasso em decorrência do que as pessoas plantaram no meu subconsciente, por isso, é tão importante o conhecimento de si mesmo.

Quando você se reconhece, sabendo das suas limitações e também dos seus pontos positivos, fica muito fácil não aceitar os fardos que as pessoas tentam te entregar. Estes fardos podem te limitar durante toda a existência, isso é impedimento que castra e tolhe os movimentos, traz sofrimento e dor.

Eu permiti que as pessoas fizessem isso de mim. Ninguém no mundo pode te ferir, isso só acontece quando nós permitimos, então, somos nós mesmos que nos agredimos.

Eu me anulei!

Sentia quando eles estavam me destratando a distância. Naquela época, eu não sabia que era isso, mas eu me sentia profundamente indisposta, melancólica, entorpecida. Isso acontecia com muita frequência.

Quando cheguei aqui, precisei entender o que se passou comigo e os motivos que me fizeram fracassar porque eu não concretizei os planos por medo de me envolver com as pessoas. Quando observei todos os acontecimentos, soube que naqueles instantes de indisposição, meus familiares estavam me criticando, falavam tão mal sobre o meu comportamento que, sem querer, emanavam irradiações deletérias que me faziam mal.

Eles não desejavam me fazer sofrer, mas faziam. É isso o que acontece todas as vezes que pensamos em alguém com muita intensidade. Nossas vibrações são encaminhadas até a pessoa através dos nossos pensamentos.

Quando pensamos e falamos de alguém com gratidão, carinho, amor ou amizade, enviamos fluidos bons que fazem com que a pessoa sinta bem-estar.

Quando falamos de alguém com maledicência, inveja, raiva ou sentimento de vingança, enviamos fluidos deletérios que podem afetar esta pessoa fazendo com que ela sinta mal-estar, tontura, enjoo, sentindo-se doente ou indisposta.

Claro que depende das próprias irradiações daquele que está recebendo os fluidos porque se a pessoa em questão for muito bem resolvida e estiver ligada as orações e aos trabalhos do bem, pode ser que não sofra tanto com isso, mas no meu caso, sofri deveras.

Isso me leva a crer que as pessoas têm que vigiar seus pensamentos e sentimentos. Estarem dispostas a se responsabilizarem por tudo o que estão fazendo os outros sentirem.

Entendi o quanto sou responsável por meu equilíbrio psíquico. Eu tenho que saber me defender das invasões mentais, mas naquela época eu não sabia de nada disso e, por isso, estive sempre muito mal.

Hoje entendo que devemos nos blindar com leituras edificantes, trabalho árduo, meditação, exercícios regulares, boa alimentação, prece, lazer que eleva, estar no convívio com aqueles que nos fazem bem e têm, por nós, sentimentos genuínos de amizade.

Eu nem sabia que era tão difícil viver em sociedade.

 

Laurinha

19/11/23

 


 “Nós precisamos saber compreender que todos têm falhas e se equivocam”

 

Eu sei que ela fazia contrariada e eu detestava isso. Preferia que ela me dissesse que não iria executar um pedido meu, mas ela não falava “não”. Sempre compreensiva e cordial, ela gostava de ser a perfeita.

Eu adorava minha irmã, mas preferia que fosse mais sincera. Sabendo disso, fiz de tudo para não incomodar com os preparativos do meu casamento. Ela estava sempre muito ocupada e resmungava pelos cantos dizendo que todos nós estávamos sempre solicitando sua presença.

Achei aquilo tão desagradável. As pessoas podiam dizer tudo com delicadeza. Acho que depende da forma como se expressa. O importante é o sentimento que está envolvendo aquele assunto, não as palavras em si.

Existe esta linguagem silenciosa que todos compreendem, até as plantas, animais e bebês. Depende do timbre da voz e do sentimento que vibra com as palavras. Outros, percebem que as palavras podem estar ausentes, bastam os olhares.

Ela era ríspida no sentimento, enquanto pronunciava palavras educadas demais. Eu não quis a ajuda dela, mas não sabia que ela ficaria tão ofendida.

As pessoas têm o péssimo hábito de se fazerem de vítimas. Ela nunca colocou em questão o fato de dizer o tempo todo que estava cansada e sem tempo, mas quis dizer que eu não a incluí nos meus momentos importantes. Ela tinha aquela cara de coitadinha que comovia qualquer um, até eu. Quase me esqueci de tudo e me culpei pelo sofrimento dela.

Eu não podia permitir que ela me manipulasse numa fase tão especial da minha vida.

Nós precisamos saber compreender que todos têm falhas e se equivocam. Mas, não precisamos nos sujeitar a tudo o que as pessoas solicitam, apenas para agradá-las.

Eu me desculpei pelos sentimentos dela, deixei claro os meus reais motivos e continuei minha vida.

Eu me senti livre naquele dia. É bom ser delicado, mas deixar claro o que pensamos, assumir posições, mesmo que isso, não agrade a pessoa que amamos.

 

Silvia

19/11/23

 






“Muito pior é não fazer nada por medo do que as pessoas possam dizer a seu respeito”

  

Eu sei que fui muito orgulhosa e tinha medo do que as pessoas podiam falar de mim. Nunca ousei tentar sair da zona de conforto porque a opinião deles podia me irritar, então era preferível que ninguém soubesse quem eu realmente era.

O medo do fracasso é paralisante.

Na existência anterior, fui uma artista plástica que fez sucesso. Eu tive trabalhos muito divulgados, com isso, uma vida de ascensão social e material. Mas, por causa de uma notícia sobre minha vida pessoal, tudo foi por água a baixo.

Eu me envolvi com um homem casado e a esposa fez questão de ir até os jornais, acabando com minha reputação, perdi clientes e tive uma vida de ruina.

Mas, quando tive uma nova oportunidade, apesar de sentir a arte correndo nas minhas veias, preferi, inconscientemente, apagar todo talento por medo das críticas. Eu temia o quanto as pessoas podiam ser cruéis, diziam que se tratava de mania de perseguição. Eu não podia permitir que as pessoas tivessem um julgamento negativo do meu trabalho e, por isso, eu nunca pintei.

Quando cheguei aqui e soube de tudo, chorei, me arrependi. Eu me achei covarde, insegura e tola.

Por que deixar de fazer aquilo que ama por medo de críticas?

A vida é tudo isso. É fazer o seu melhor, ousar, dar a cara para bater, saber se bancar no meio de tantos que podem desejar te colocar para baixo ou jogar um balde de água fria depois do trabalho árduo, mas isso é normal. Muito pior é não fazer nada por medo do que as pessoas possam dizer a seu respeito.

Nós não agradaremos a todos, mas existem muitos que se afinizam com nossos interesses e objetivos, muitos como nós, então, façamos com que estes encontrem nossos trabalhos, gostem e apoiem.

Eu entendi que ter coragem moral é difícil na sociedade que é tão competitiva e para você ser respeitado não basta ter talento, também tem que ter posses e família que abrem portas, mas cada um que saiba se reinventar, erga a cabeça e divulgue o que tem de melhor com sinceridade e otimismo. É difícil, mas não é impossível, acreditar em si mesmo é o início que todos devem ter.

 

Tamara

19/11/23

 

“Perceber o quanto cada um de nós têm coisas boas para acrescentar na vida uns dos outros”

 

Eu julguei porque vi o jeito como ela andava por aí e não queria que ela se envolvesse com meu irmão. Imagina uma mulher daquelas na nossa família...

Mas, meu irmão disse que eu estava sendo preconceituosa só porque ela não era da igreja. Eu não tinha entendido, mas no fundo, era intolerância religiosa mesmo.

No fundo, eu não aceitava que alguém que estivesse ligada a vícios e com comportamento leviano, fizesse parte da nossa família. Mas, não adiantou falar nada porque ele estava apaixonado por ela e se casou.

Era insuportável recebe-la nas comemorações familiares. Será que ela não percebia a maneira como nos comportávamos? Não podia fazer um esforço para se integrar ao grupo familiar?

Saias curtas, muita maquiagem, escandalosa, aparecida. Eu não podia suportar. Mas, o tempo passou e meus pais adoeceram. Meu marido e meu irmão trabalhavam duro e não podiam me ajudar. Quem me ajudou foi ela.

Nunca vi uma mulher tão ativa para o trabalho, tão animada para cuidar de tudo e esperta para resolver qualquer coisa. Eu me impressionava com as necessidades dos meus pais e ela tirava de letra, aprendi tanta coisa.

No meio daquela fase difícil nos tornamos amigas leais, eu recorria a ela para tudo e me tornei sua confidente. Eu desabafava com ela, foi como ter uma irmã.

Durante este período, pedi perdão pelas tolices que falei e pensei durante tantos anos. Eu me arrependi e desejei ter sido diferente. Eu fiquei feliz por Deus ter colocado aquela pessoa maravilhosa nas nossas vidas para me ensinar o quanto nós temos que tratar as pessoas pelo que realmente são, deixando de lado suas crenças, partidos, classe social, cor ou nacionalidade.

Perceber o quanto cada um de nós têm coisas boas para acrescentar na vida uns dos outros.

 

Lara  

19/11/23     


--PSICOGRAFADO POR PAULA ALVES--







“A consciência negra é a consciência que todos devem ter da nossa igualdade, apesar das nossas diferenças marcantes e acentuadas”

 

Consciência negra?! Eu desejei ter vivido num meio onde as pessoas respeitavam seus princípios e sua integridade moral. Eu almejei estar rodeado por semelhantes que se auxiliavam e faziam de tudo para que a paz imperasse no mundo.

Mas, a verdade é que todos se atreviam a me destratar quando batiam os olhos em mim. Julgavam que eu não tinha estudo ou era um delinquente. Não ousavam trocar algumas palavras para saber o que eu pensava ou pretendia. Foi uma escola rica de aprendizados aquela existência. Eu aprendi muita coisa e compreendi o pensamento das pessoas sobre racismo, vivendo como negro.

Não é “preto” como o cão ou o gato, é negro, da raça. Eu compreendi coisas interessantes sobre a minha raça, meu povo e também vivi rodeado de pessoas que eram facilmente declaradas racistas ou não. Como se houvesse, apenas dois tipos de pessoas.

Tudo foi mais difícil naquela vida, o estudo, a conquista do diploma, do emprego, da estabilidade financeira, tudo muito mais longo e árduo, como se eu tivesse que provar que merecia, que tinha capacitação, nenhuma facilitação. Excelente aprendizado que me proporcionou mais perseverança e trabalho árduo. Eu precisei me reconhecer como homem, independente da cor da pele, saber o que eu trazia na consciência.

Consciência negra, certa de que todos merecem ser respeitados como indivíduos capazes. Todos merecem oportunidades e conhecimentos. Todos porque, mesmo entre aqueles que são discriminados, existe a discriminação para outros determinados grupos. Os negros também têm preconceitos para com os brancos.

A consciência negra é a consciência que todos devem ter da nossa igualdade, apesar das nossas diferenças marcantes e acentuadas. Todos nós, dotados dos mesmos potenciais inovadores e evolutivos, todos com a mesma capacidade para progredir, todos com as mesmas necessidades orgânicas e afetivas. Isso já seria suficiente para nos respeitarmos, no entanto, o desejo de poder e liderança, orgulho e ambição, colocam os homens para disputarem terras, posições sociais e hierárquicas.

Eu sobrevivi como negro neste país onde a cor da pele importa muito e declara quem você é e as possibilidades ascensionais que terá. Eu sofri e me indignei com muitas coisas, mas não perdi a esperança de ser feliz. Quando mais jovem, cheguei a questionar a Deus sobre os motivos pelos quais eu tive que nascer como negro, mas compreendi, com o passar do tempo que tudo ocorre da forma certa para todos os Seus filhos. Eu me arrependi de fazer tal questionamento porque a família que me concedeu a oportunidade de reencarnar sempre honrou sua raça e me ensinou muito sobre honra e valor ético.

Eu considerei que a consciência negra tem tudo a ver com a consideração pelos valores familiares e ancestrais. Cada um de nós deve ter gratidão por todos aqueles que viveram antes de nós, membros do conjunto familiar que lutaram e desempenharam boa conduta social permitindo que outros viessem depois deles, consagrando o que é para benefício de todos.

Então, consciência negra é muito mais do que um dia em que devemos nos lembrar dos escravos sofridos do Brasil. Muito mais do que nos condoermos por tantos negros que ainda padecem vítimas da hostilidade e agressividade racista, criminosos e ultrajantes que se esquecem de que as raças puras foram extintas há tempos.

É uma data propícia para refletirmos na forma de nos posicionarmos no mundo, todos nós, negros e brancos, homens e mulheres, homossexuais ou heteros, de todas as religiões, partidos políticos, ”normais” ou com algum déficit intelectual. Todos nós passamos por constrangimentos ou somos discriminados. O que não é bom para um, também não será para o outro. Agirmos com indulgência e tolerância, aceitarmos as nossas diferenças e nos apoiarmos para fundarmos um mundo harmonioso onde a paz pode prevalecer.

 

Miquéias

25/11/23








“Todos nós sofreremos com a discriminação, enquanto não aprendermos a olhar o outro com igualdade”

 

Eu queria impedir que ele falasse comigo de forma agressiva, mas eu não podia. Ele ria e me ridicularizava, falava dos meus pais, chamava “aqueles macacos”. Eu sentia o sangue queimar nas minhas veias de tanta vontade de bater, mas me controlava.

Eu sabia que ele podia ser tratado como coitado e eu podia ser expulso. A inversão de valores sempre imperou. Enquanto ele estava me insultando ninguém dizia nada, os professores sempre ouviram e nunca me defenderam, mas se eu fosse para cima, tenho certeza de que me mandariam para a direção e eu podia ser expulso. Eu ainda ia levar uma dura dos meus pais. Eles sempre falavam em casa dos desaforos que ouviam nos serviços, eles sofriam muito.

Meu pai nunca conseguiu um emprego que fosse adequado ao seu conhecimento, sempre inferior, a mãe também era maltratada na casa dos ricos. Diziam que “os pretos só serviam para limpar a sujeira deles”. Era horrível pensar que nós nunca conseguiríamos certas coisas, como se a felicidade não fosse feita para os negros. Mas por quê?

Pensei que éramos culpados, de alguma forma, porque éramos coniventes com a forma com a qual nos tratavam, nós aceitávamos tudo aquilo, aquela falta de respeito e pensei que eu devia me posicionar.

Então, eu comecei a pensar com estratégia, numa maneira de abalar a convicção deles. O menino da escola tinha orelhas de abano, eu não queria entrar no erro dele, mas era a única maneira, então comecei a explicar que ficaria muito desagradável se todos pudessem perceber como as orelhas grandes são feias e escandalosas. Ele arregalou os olhos e eu falei que todos nós temos nossas diferenças e temos que respeitar uns aos outros para vivermos em paz. Ele nunca mais falou de mim.

Em casa, passei a dialogar com meus pais, eles precisavam saber o quanto o trabalho deles era precioso e precisava ser respeitado, primeiramente por eles que deviam reconhecer a própria capacidade e atuação. Eu os elogiava e perguntava como tinha sido no trabalho, meus pais desabafavam e, aos poucos, foram reduzindo as vezes em que mostravam certa inveja e rancor por seus patrões. Meus pais precisavam valorizar as próprias vidas e ambientes em que nasceram.

Cada um de nós, recebe oportunidades para se desenvolver, Deus faz tudo certo. Não devemos olhar para a vida do próximo, mas aceitarmos nossas vidas com gratidão, sabendo que podemos avançar cada vez mais porque Deus nos fornece condições para isso. Nunca julgar que as posições sociais ou raciais nos aprisionam e impossibilitam o crescimento pessoal, financeiro, social ou amoroso. Cada um faz suas escolhas e colhe o que planta.

O racismo ou a discriminação social não pode impedir seu crescimento, só quem faz isso, é você mesmo, diante das correntes mentais em que você se aprisiona. Eu só encontrei esta explicação por causa daquele menino que me fez pensar. Eu não podia agredi-lo, eu precisei me igualar a ele e compreender porque ele me achincalhava. Ele era inseguro por causa da sua aparência, ele também já tinha sofrido discriminação, bullying.

Muitas vezes, as pessoas falham de forma irreversível conosco, erros graves e dolorosos, mas normalmente os problemas são pessoais, eles nem estão nos enxergando realmente, seria com qualquer um. É melhor compreendermos as limitações destes irmãos que agem com maldade e observarmos suas ações como o veneno daquele que está doente e não tem nada de bom para dar. Compreender o mal que existe no coração do maldoso e seguir rumo ao aprendizado real sem comprometer a trajetória de luz.

Todos nós sofreremos com a discriminação, enquanto não aprendermos a olhar o outro com igualdade.

 

Valdeci

25/11/23

 






“Sempre vão julgar e achar um motivo para ofender se ainda não aprenderam a amar”

 

Ela falava que tinha nojo de mim. Desde pequena, não queria nem encostar e a mãe dela era tão simpática e atenciosa. Me recebia e fazia questão de dar doces e presentes. Acho até que a menina sentia ciúmes. Mas, aquele bondoso olhar parecia não perceber o quanto a filha tinha maldade no coração.

Minha mãe era empregada naquela casa de gente rica. Eu gostava de ir com ela porque eu comia bem e corria feliz pelo gramado, brincava e dormia em paz, porém aquela menina parecia perceber que eu estava me preparando para estar ali o tempo todo.

Quando minha mãe morreu, a bondosa senhora se apressou para me adotar, ela dizia que minha vida ao seu lado seria tranquila. Eu sofri a perda de mamãe, ela foi como um anjo me consolando e dando carinho. Aquela senhora jamais me olhou com discriminação, nunca me repeliu e também não permitia que eu fosse tratada com diferença em sua casa, para todos, eu era sua filha e devia ser respeitada como tal.

Mas, sua filha biológica me odiava, sempre odiou e não media esforços para me deixar mal com a senhora, sempre infernizando minha vida e forçando situações desagradáveis. A senhora percebeu e ela foi franca dizendo que a mãe não podia ter me adotado, uma negrinha esfarrapada e sem educação como irmã adotiva. Naquele dia, ela apanhou e a senhora disse que nunca mais queria ouvir um absurdo daqueles.

Nós não nos falávamos e minha mãe adotiva foi um amor de pessoa, sempre delicada. Crescemos e a filha foi embora, deixando que eu ficasse em paz com minha senhora. Ela vinha raramente e brigava por minha causa. Entre nós nasceu uma amizade leal, bonita de se ver. Eu não me casei e quis ficar com ela, cuidando para que tivesse amparo na velhice. Cuidei de tudo para que tivesse todo conforto e bem-estar, principalmente quando ela demonstrou necessitar de maiores cuidados.

Quando ela desencarnou, a filha fez questão de me enxotar, eu tinha economias que minha senhora organizou, ela sabia que a filha faria de tudo para me deixar na miséria, por isso, não fiquei desvalida, recebi uma casa e um carro, mesmo ela fazendo de tudo para me retirar a posse.

Quando eu cheguei neste plano tive a oportunidade abençoada de estar com ela e pudemos conversar sobre tudo o que ocorreu. Ela já esteve ligada a mim pelos laços da maternidade, estivemos envolvidas no amor sincero por muitas existências, foi como ter me reconhecido. Mas, aquela filha, ao contrário, esteve comigo, ligada a disputas e tragédias, mortes e roubos, sempre nos envolvemos em momentos terríveis, precisávamos nos perdoar, mas não foi nesta vez.

O problema dela não era racismo. Eu poderia ter tido a pele alvinha, ainda assim, ela me odiaria. Os Espíritos não precisam de estado civil, religioso, político ou racial para se amarem ou se odiarem, isso é só justificativa descabida para quem não compreende a pluralidade das existências. A repulsa vem de outras épocas, sempre vão julgar e achar um motivo para ofender se ainda não aprenderam a amar.

Pedi para recebe-la como filha.

 

Isabel

25/11/23

 







“Eu fui racista e precisei conviver com um negro íntegro, consciencioso, amoroso e solidário para compreender que o mal habitava em mim”

 

Eu não queria que ele se casasse com minha filha. Por que ela não podia ter se envolvido com alguém da nossa classe social? Eu não era racista. Nunca pensei que fosse.

Mas, tudo muda de figura quando a coisa acontece dos muros para dentro. A minha filha era meu xodó, eu não podia admitir que ela construísse a vida promissora com alguém que iria conduzi-la para a ruina e eu sabia que aquele homem não tinha como progredir, até mesmo, por todos os empecilhos sociais. O racismo não nascia em mim, mas no mundo e eu não queria que ela sofresse com ele. Eu preferia que ela tivesse uma vida tranquila com outra pessoa, mas ela não conseguia entender e disse que estava disposta a enfrentar a sociedade ao seu lado.

Aquilo me irritou muito, cheguei a conversar com ele, propor que fosse embora para que ela não sofresse discriminação junto com ele. Você não faz ideia do quanto uma mulher branca podia sofrer num relacionamento inter-racial.

Eles não me ouviram e eu sai de racista. Mas, meu genro demonstrou ser um homem muito centrado e cheio de honra, trabalhador, bom chefe de família, amou minha filha até o último dia, foi um pai excelente, enfim, cheguei a me desculpar com ele quando vi a vida que ele proporcionou para ela e meus netinhos graciosos.

Eu teria me arrependido se soubesse o que ela estaria perdendo sem ele. Acho que nenhum outro homem teria cuidado melhor da minha filha, com tanto amor e delicadeza. Um verdadeiro homem de família.

Para mim, um filho. Respeitoso e amigável, cuidou de mim e da minha esposa quando ficamos doentes, amparou a todos. Eu aprendi muito com aquele homem. Quando regressei para a pátria espiritual, tive uma surpresa. A nossa afinidade era antiga, ele foi meu filho em muitas existências. O plano era, justamente, se ligar a nossa família como meu genro por conta da nossa união fraterna. Eu podia ter arruinado o planejamento e todas as facilitações de jornada em decorrência da nossa afinidade por conta de uma tolice de racismo.

Eu fui racista e precisei conviver com um negro íntegro, consciencioso, amoroso e solidário para compreender que o mal habitava em mim. Quando os meus olhos viram as coisas boas que ele tinha para oferecer, minha cura se iniciou, cura moral mais que necessária para avançar na evolução e permitir que minha família fosse feliz. Graças a Deus que eu deixei o sentimento falar mais alto.

 

Adoniran 

25/11/23





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