Cartas de Janeiro (16)

 


“TER SENSIBILIDADE É ACEITAR QUE NÓS PODEMOS SER A LUZ QUE IRRADIA E LIBERTA, MESMO QUE AS PESSOAS NÃO DESEJEM OU NÃO TOLEREM”

 

Cabeça de médium... Só quem é médium para entender.

Foram tantas lamentações até que eu pudesse compreender que dependia de mim, a responsabilidade de me sentir bem.

Eu precisava me tornar uma pessoa moralmente equilibrada, disciplinada e que fazia o bem a todos. Precisei me lapidar. Me observando conscienciosamente e reconhecendo quais os meus defeitos e qualidades. Foram anos trabalhando a higienização moral para que pudesse me sentir bem comigo mesma. Caminhar de cabeça erguida porque me despojei de algumas mazelas.

Eu estava me limpando diante do Senhor. Assim, consegui fazer sobressair algumas qualidades e atrai bondosos Espíritos que me inspiraram no caminho do trabalho edificante e das boas obras diante de meus irmãos necessitados.

 

Mas, antes disso, era a ruína. Eu sofri demais. Achava que aquelas sensações eram doenças mentais e físicas. Sentia todo tipo de coisa e pensamentos que eram aterrorizantes, pesadelos ou insônia, dias em que me sentia perseguida, atormentada. Eu não confiava em ninguém. Achava que minha vida não podia melhorar e eu realmente vivia num marasmo.

Demorou muito para reconhecer que dependia dos meus esforços. Eu procurei ajuda em toda parte. Fui a médicos sérios que me pediram muitos exames e nada diagnosticaram. Fui a igrejas, santuários, templos e mesquitas, mas ninguém me fornecia a paz que eu almejava.

Até que eu ouvi alguém falar de Allan Kardec e de como ele falava do Evangelho de Jesus. Fiquei tão curiosa, procurei o livro: O Evangelho segundo o Espiritismo. Reli várias vezes e procurei um centro espírita para compreender melhor.

Daí para frente eu já aceitava a vida após a morte, a reencarnação e a comunicabilidade com o mundo espiritual. Eu já pude me aceitar como médium.

O mais difícil é você compreender que ninguém vai te salvar de seus perseguidores, até porque nenhum deles pode te agredir, a não ser que você mesma permita. A questão, na verdade, é interna. Nós permitimos que nos aflijam por causa de nossas leviandades, de nossa falta de fé e de amor. Eu precisei me elevar com a reforma íntima. Precisei me aproximar do Pai de coração aberto e também precisei me doar como pessoa.

Não importava se eu iria trabalhar com a mediunidade, mas que eu produzisse até cem por um, neste mundo. Eu precisava renunciar toda ofensa, toda vida de amargura e fel. Eu precisei me reconciliar com todos e comigo, perdoando e ofertando esperança pelos lugares onde eu estava inserida.

Aos poucos, me convenci de meus potenciais e condições de melhoria internos. Eu desejei ser uma pessoa melhor e parece que isso me curou diante de Jesus e diante de Deus. Eu pude sentir a Sua presença na minha vida, isso me confortou e trouxe bem estar.

 

Ser médium é ouvir vozes internas que conduzem um caminhar suave para Deus. É ter absoluta certeza de que o Pai nos observa e cuida de cada um de nós indefinidamente. É crer que a cada um será dado segundo a suas obras e que não existem injustiças ou erros na Sua Lei perfeita e imutável.

Eu aceitei o dom que Deus me concedeu e fiz o possível para ajudar as pessoas que foram encaminhadas a mim com meus melhores sentimentos. Ter sensibilidade é aceitar que nós podemos ser a luz que irradia e liberta, mesmo que as pessoas não desejem ou não tolerem, mas é se permitir ser guiado e realizar o que é dos planos do Senhor.

 

JOSIANE

28/01/23

 

---Paula Alves—

 

“ELA QUERIA ESTAR AO MEU LADO E EU A REJEITEI”

 

Eu não tolerava estar com ela e considerei que era uma tortura fazer parte da mesma família que aquela mulher.

As nossas lembranças se apagam e esquecemos de tudo que nos envolveu com as pessoas. Nunca imaginei o quanto fosse importante ser mais tolerante e simpática com todos porque as pessoas podiam ter cruzado o meu caminho e podiam ter sido especiais em algum momento.

Eu não sabia que mudamos de posição e estamos sempre ligados com um grupo de afins. São sempre as mesmas pessoas, salvo raras exceções de seres que se aproximam com finalidade enobrecedora.

Eu a rejeitei de graça. Simplesmente não gostava dela. Mas, acho que fui preconceituosa. Minha prima tinha uma aparência que me fazia rejeitá-la. Feia e sem graça. Ela afastava todos os jovens que olhavam para mim. Era gorda e desenxabida. Então, eu não queria estar com ela. Minha mãe insistia que eu tinha que leva-la para as festas da igreja, mas eu fazia de tudo para despistá-la.

 

Naquele dia, eu sei que fui culpada. Se eu tivesse ficado com ela, os rapazes não a teriam perseguido. A menina teve sorte do irmão aparecer para defende-la, mas eu me senti muito mal porque o pior poderia ter acontecido.

Fiz questão de não me aproximar mais dela. Os anos passaram e eu me casei, fui embora daquele lugar e nunca mais a vi.

Estando aqui, recuperei parte das minhas lembranças do passado, de outras vidas e desejei saber de uma pessoa muito especial. Fomos irmãs na existência anterior. Ela foi a pessoa que sempre esteve ao meu lado, cuidou de mim em momentos decisivos e sempre apoiou meus esforços. Eu precisava saber o que teria acontecido com ela. Muito me surpreendi quando disseram que ela esteve ao meu lado e eu não a reconheci simplesmente porque me envergonhei de sua aparência. Ela foi aquela prima que eu rejeitei.

Eu me senti tão mal, envergonhada e arrependida. Compreendo porque devemos nos esquecer. Se eu soubesse que era ela, de certo, a teria tratado com amor e gratidão, mas não teria mérito. Assim, por causa dos meus preconceitos, pude perceber o quanto preciso me modificar. Eu a afastei!

 

Isso pode acontecer de diversas formas. Existem muitas pessoas que nos parecem más ou indiferentes. À primeira vista podem nos causar certo desconforto e não queremos fazer amizade, mas se deixarmos nossa mania de julgar de lado, podemos travar uma conversação sincera e perceber o quanto temos coisas em comum.

Isso acontece com frequência. As pessoas podiam se envolver mais, ter um grupo de amigos leais e afetos sinceros, porém as competitividades, rixas, falsidades, ostentação e orgulho, impedem que as pessoas aumentem seus núcleos fraternais.

Se deixarmos nossas armas e escudos de lado poderemos formar mais amigos. Além disso, quando adentramos o mundo espiritual e analisamos a vida que vivemos percebemos quem foram aqueles que estiveram ligados a nós. Tudo é revelado, por isso, podemos compreender sobre os reais motivos e intenções que moveram esta ou aquela iniciativa, notamos que todos nós sempre interagimos. Nós continuamos, prosseguimos a história que tivemos juntos numa nova roupagem, num novo capítulo da jornada evolutiva.

 

Foi bom reconhecer o quanto fui mesquinha. Infelizmente, não pude passar dias alegres ao seu lado. Ela me amou, mesmo que eu não tivesse sido uma boa pessoa com ela. Isso me faz sentir ainda pior. Eu me lembro de seu olhar de admiração e do seu sorriso amistoso. Ela queria estar ao meu lado e eu a rejeitei. Que pena!

 

LENINHA

28/01/23

 

-- Paula Alves—

 

“A INDULGÊNCIA É FUNDAMENTAL PARA VIVERMOS NESTA SOCIEDADE”

 

Filho não vem com manual. Eu fiz o que meu coração ordenou. Amei demais!

Fiz das tripas coração para entregar uma educação excelente. Estudos, cursos, escolas das melhores. Eu trabalhava como uma condenada. Não quis que ele trabalhasse muito jovem porque acreditei que poderia atrapalhar seus estudos.

Ele era tão convincente! Diante de mim, um filho amoroso, competente, estudioso e disciplinado, mas quando eu ia trabalhar, ele aprontava todas. Levava jovens para dentro da nossa casa, abusava delas, usava drogas.

Meus vizinhos comentavam e eu cheguei a brigar com eles defendendo o moleque. Que vergonha! Acho que tudo partiu dali, mas eu fui um caso perdido. Acho que preciso considerar que um filho leviano pode ter uma mãe leviana ao seu lado. Porque se eu tivesse escutado o que diziam sobre ele e tivesse uma conduta mais rígida, ele poderia ter se emendado.

Hoje, recordo momentos cada vez mais distantes, em que ele era uma criancinha e já me manipulava. Os filhos sabem como manipular seus pais. Eles são muito espertos e eu sempre caí. Meu esposo até tentou, mas eu brigava com ele para defender o menino. Nunca permiti que ele fosse um pai presente, pai que educa e coloca freios. Então, apesar de todos os conselhos dos familiares, eu o defendi.

Cheguei a me separar do meu marido e, com a ausência do pai, ele desandou.

Fez filho, mentiu para mim, dizia que não era dele e eu nem quis conhecer meu neto. Carrego esta culpa comigo, criança que passou privação por causa do pai que não valia nada, meu filho. Eu fui a mãe que apoiou a coisa errada. Nem por um minuto me coloquei no lugar da mãe da criança.

A indulgência é fundamental para vivermos nesta sociedade.

Eu não pensava em ninguém, apenas nele. Sabe quando doeu? Quando ele conseguiu me fazer assinar uns papéis que passaram nossa casa para o seu nome. Ele me expulsou de nossa própria casa e tive que pedir asilo para meu ex.

Eu me senti terrivelmente magoada, usada por meu próprio filho. Eu sei que mereci tudo o que passei. É da Lei que vamos colher tudo o que plantarmos. Não existe uma só infração à Lei que fique sem resgate. Eu senti na pele.

Recebi um filho com a missão de torna-lo muito melhor e devolvê-lo à Deus, no entanto, eu passei a mão na cabeça e fui conivente com todas as ações imprudentes, levianas, insanas e doentias. Eu fui co-autora. Eu posso ser considerada como cumplice de tudo o que ele fez. Sei, hoje sei que foram muitas coisas ruins contra várias pessoas e me sinto profundamente arrependida por não ter cumprido bem o meu papel de mãe.

Aprendi que amar não basta. É preciso educar desde a mais tenra idade. Começa de pequenininho. Pequenas lições de disciplina. Usar todos os momentos para corrigir moralmente, ensinando com os próprios exemplos, dando noção de como se posicionar no mundo. Tudo o que falamos e fazemos fica visível e eles reconhecem como o certo, então precisa demonstrar o que é correto, justo e bom. Ser uma boa pessoa em todos os momentos para que o filho se instrua com os pais.

Por isso, sei que preciso ser uma pessoa melhor. Eu não posso ser permissiva ou tolerante com as questões do mundo. Eu tenho que ter opinião moral. Eu tenho que definir a minha consciência para defender posições no mundo, sem inverter valores, só assim poderei ser mãe novamente.

Não posso simplesmente gerar e lançar no mundo, não é só isso. Senão, vou retornar com esta sensação de inutilidade e frustração, impotência e anulação, tudo de novo. Eu não quero!

Vou estudar e analisar questões sociais, políticas e familiares. Eu preciso estar preparada para recebe-lo novamente como filho e cumprir com o compromisso que tratamos. Eu posso conseguir se me esforçar. Amando com raciocínio!

 

APARECIDA

28/01/23

 

---Paula Alves—

 

“O BOM SERVO QUE CAMINHE DE CABEÇA ERGUIDA SEM SE DEIXAR LUDIBRIAR PELAS PALAVRAS DOCES DOS ESCARNECEDORES QUE SÓ QUEREM AS RIQUEZAS DO MUNDO”

 

É mais fácil não se envolver em situações delicadas, ser sempre diplomático. Como aquele que têm amigos em toda parte porque não escolhe um lado. Mas, nós precisamos fazer escolhas.

Muitas vezes, em prol do progresso, Deus coloca alguém diante de uma questão que precisa ser analisada. Esta decisão pode favorecer uns e fornecer muito trabalho para outros. Pode, inclusive, fazer com que surjam mudanças que, nem sempre, são desejadas pela maioria. Disso, podem surgir embates, rivalidades e queixas gerais.

Aquele que propôs determinada discussão não será visto como uma pessoa agradável, por isso, muitos preferem “ficar em cima do muro”, não se envolver e preferem ser os “políticos”, sempre bem vistos, delicados, agradáveis, “bonzinhos”.

 

No mundo das reformas não existem os “bonzinhos” e sim aqueles que trabalham arduamente pelo bem geral, pelo bem da coletividade e dão sua “cara para bater” para que muitos tenham comida na mesa, roupas para cobrirem os corpos e conhecimento da Palavra de Deus.

“Se for preciso, gritem dos telhados” – disse Jesus. Fazer o que precisa ser feito, sem vergonha ou medo. Tendo a certeza de que será feito como é da vontade de Deus pelo bem de todos. Mesmo que, para isso, renuncie aos amigos e familiares. A vida do servo não é confortável, mas é promissora porque o Senhor há de recompensa-lo.

 

Mesmo que as pessoas não definam suas posições na senda do Senhor. Ele retornará e poderá encontrar alguns dormindo. As máscaras não ficam bem posicionadas o tempo todo. Em determinado momento, as pessoas assumem suas posições. Deus reconhece cada um de nós, sabe o que trazemos em nosso íntimo.

O bom servo que caminhe de cabeça erguida sem se deixar ludibriar pelas palavras doces dos escarnecedores que só querem as riquezas do mundo. Não se iludam com as músicas e o vinho. O trabalho na seara é propagar a Palavra do Senhor. Tudo o mais é trivialidade.

 

BONERGES     

28/01/23


--Paula Alves--


“FAZER DAR CERTO DEPENDE DE NÓS”

 

Parecia um dia como todos os outros e eu, simplesmente aguardei. Era como se eu fosse uma expectadora de todos eles, aguardando, reagindo diante de suas decisões.

Eu me coloquei naquela condição de ser que vivia por eles, me adequei às suas necessidades e achava que só podia fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para que fossem felizes. Nada mais importava. Eu nem percebi que não tinha ambições, desejos ou motivações que não fossem as vidas dos meus familiares.

Acredito que, a longa data, perdemos nossa própria identidade para nos tornarmos mães e esposas. Eu era a mãe da Flavinha e do Gustavo, a esposa do Gerson. Acho que as pessoas nem sabiam o meu nome. Será que eu me anulei?

Foi automático! Ninguém considera que, em determinado momento da vida, vai comer, apenas aquilo que os filhos preferem. Vai passear por onde o marido acha ideal. Enfim, a gente se deixa levar e quando percebe, nem sabe mais do que gosta.

Eu estava ali, mais uma vez, observando a janela, esperando que regressassem para casa. Estava escuro e eu me preocupava sempre que passava dez minutos. Eles ficavam irritados, diziam que eu queria controla-los, mas eu realmente me preocupava. Tinha tantas maldades no mundo...

 

Eu estava olhando pela janela e me perguntei por que demoravam tanto. Eles estavam atrasados e eu me angustiei. Tinha tempos que eu pedia para que tomassem cuidado com o trânsito caótico da cidade, eu tinha intuições tão negativas e precisava me controlar, mas naquele dia, foi impossível.

Eu esperei até que o primeiro chegou reclamando do cansaço, depois foi minha filha que entrou reclamando de fome, mas o pai não chegava.

Eu falei que devia ter acontecido alguma coisa, mas meus filhos estavam interessados em aliviar suas necessidades orgânicas e me pediram para acalmar. Eu orei e pedi que Deus tivesse misericórdia de nós, pois eu sabia que minha vida estava prestes a mudar.

Levou quatro horas para entrarem em contato com a família para informar que ele tinha tido um enfarte fatal. Eu senti minhas pernas faltarem e os meus filhos, ficaram sem palavras. Eu precisava tomar as rédeas do meu lar e ajudar meus filhos no momento da perda do pai, mas como?

 

Você tira forças da alma, de Deus e da crença de que Ele restabelece quem n’Ele acredita. Eu fiquei firme. Decidi tudo, organizei tudo e consolei nossos familiares de forma sensata e equilibrada. Eu agradeci por tudo o que meu esposo representou pra mim e tomei a decisão de tocar minha vida.

Tocar a vida, implica em recomeçar, mas quando recomeçamos sem alguém é doloroso e causa medo. Eu não tinha mais uma alguém para me apoiar, eu seria o apoio dos meus filhos e precisava ter decisões acertadas. Retornar para o mercado de trabalho foi o que mais me amedrontou, mas deu certo.

Percebi porque, tantas vezes, as pessoas me questionavam sobre o trabalho e eu simplesmente argumentava que não era necessário sair de casa já que os três trabalhavam e eu cuidava de tudo o que precisavam no lar, mas no fundo, era muito mais fácil ficar em casa. Porém, eu sai e percebi que o mundo podia ser colorido, dependia da maneira que eu o observava.

Fazer dar certo depende de nós. Da necessidade, da vontade e da perseverança. Eu me esforcei para alcançar aqueles que estavam inseridos e pedi que me ajudassem, conquistei amigos e me senti viva, capaz, útil. Mesmo nos momentos de dor e dificuldades, podemos tirar preciosos aprendizados. Deus sabe de todas as coisas.

 

VICENTINA

22/01/23

 

-----Paula Alves----

 

“NÓS TÍNHAMOS MEDO DE TENTAR”

 

 

Ele tinha o hábito de humilhar os filhos. Não sei que estranha necessidade aquele homem tinha de deixar claro que as coisas boas não eram para nós.

Os próprios filhos sendo taxados de tudo o que era pior. Pessoa boa não podia ser nossa amiga, bons empregos não podiam ser nossos. Não tínhamos capacidades e nem potencial de ascensão. Era muito doloroso ver como tratava os menores que se aproximavam desejando algum tipo de afeto, coitados!

Mal sabiam que aquele homem nunca gostou de nós.

É tão estranho porque o filho deseja ser aceito pelo pai e isso atrapalha durante toda a existência. Parece que bloqueia tudo de bom que poderia acontecer. Tanto que ele falou, acabou profetizando em nossas vidas. Ele afirmou com tanta vontade que acreditamos.

Acho que isso explica tudo. Explica os erros que cometemos e a forma como nos posicionamos no mundo. Humilhados, cabisbaixos, sem coragem de atuar ou de iniciar projetos, de alcançarmos coisas novas e promissoras. Nós tínhamos medo de tentar.

Sempre fomos honestos e trabalhadores, mas apenas servimos para o trabalho pesado, forçoso, sendo empregados, servos porque não podíamos alcançar posição de destaque porque nosso pai considerou que esta vida não era para nós.

 

Estávamos fadados a uma vida de miséria porque nosso pai dizia que nós não tínhamos inteligência e nem qualquer tipo de aptidão para coisa alguma. Seis pessoas que teriam frustrações para sempre porque o pai impregnou uma verdade que só pertencia a ele. Mas, tanto falou que consolidou uma verdade absoluta em nossas vidas.

Minha esposa ficava indignada. Disse que eu tinha que acreditar em mim e parar de ver minha própria ruina moral. Eu tinha que acreditar que era possível ter uma vida melhor porque eu já me esforçava muito para isso. Ela acreditou em mim e aquela mulher disse isso tantas vezes com todo o seu amor que eu acreditei.

 

Acho que as palavras têm poder mesmo. Quando dizemos alguma coisa, emitimos uma vibração. Esta vibração ou energia alcança outra pessoa ou ser, planta ou animal, este ser vivo sente o que você está emanando. É, por isso, que devemos ter cuidado com as palavras que dizemos. Nós podemos impulsionar ou desmotivar alguém. Podemos ajudar ou atrapalhar. Fazer vitalizar ou adoecer. Depende de nossa intenção. Assim, sentimentos, palavras e ações estão interligados. Tudo nasce da intenção, do desejo sincero e ardente.

Minha esposa dizia palavras de incentivo e ainda orava na minha cabeça. Fez isso muitas vezes, enquanto eu dormia, sem que eu soubesse. Ela fez com tanta vontade que eu fui me erguendo. Foi como se neutralizasse, aos poucos, tudo o que meu pai fez na infância e juventude. De repente, eu me senti fortalecido, a partir das palavras dela.

Deve ser, por isso, que dizem que: “por trás de um grande homem, sempre existe uma grande mulher”. Na verdade, ela estava ao meu lado, o tempo todo e sabia quem eu era. Consegui mudar de vida, conquistei meu próprio negócio, prosperamos muito e pudemos ajudar os outros familiares que também tiveram uma vida confortável, trabalhando todos juntos.

 

Mas, meu pai... Eu soube quando cheguei aqui que meu pai foi um desafeto nosso do passado. Pessoa que não conseguiu perdoar atos levianos que cometemos. Quando traçamos nosso retorno, ele disse que havia deixado tudo para trás para que pudéssemos fortalecer os laços de amizade e união, mas na carne e com o esquecimento do que tratamos, ele nos repudiava, era insuportável a nossa aproximação.

Eu compreendo perfeitamente. Ele não pode nos amar. Mas, todos nós temos a imortalidade. O tempo é infinito e contamos com as várias oportunidades de regresso para estabelecer vínculos que, ora ou outra, serão de conciliação e fraternidade.

 

NICOLAS

22/01/23

 

-----Paula Alves----

 

“NÓS SOMOS RESPONSÁVEIS POR TUDO O QUE FAZEMOS AS PESSOAS SENTIREM”

 

Felizmente minha mãe não permitiu que eu tomasse as decisões baseadas nos meus impulsos íntimos.

Naquela época, fiquei muito indignada com ela. Chamei de preconceituosa e falei que eu tinha que ter meu direito respeitado. Eu entendia que, como mãe, ela não ia ficar feliz com minhas decisões, mas eu não via minha vida sem a Lúcia.

Eu sentia muita afinidade com ela e uma inclinação em ficar ao seu lado para sempre. Quando falei para minha mãe, numa decisão de coragem, me posicionando no mundo, ouvi que não era assim que tinha de ser, mas por que não?

 

Minha mãe falou que eu era muito jovem para fazer escolhas deste tipo, que nem sempre conseguimos compreender nossos sentimentos, ainda mais na minha idade. Ela pediu que eu esperasse mais um pouco e guardasse meus sentimentos, ao invés, de me declarar para Lúcia.

Eu não sei por que aceitei e cumpri o que mamãe me pediu, acho que eu a respeitei. Permaneci ao lado da Lúcia como amiga leal e não me declarei para ela. Alguns meses se passaram, fizemos uma viagem à casa de familiares e conheci o Artur, meu primo distante.

Parecia que eu o estava reencontrando. Foi incrível! Tive a estranha sensação de que mantinha uma conexão com ele. Eu pensei em “almas gêmeas”. Ele completava minhas frases e gostava das mesmas coisas. Eu não queria ir embora, mas ele disse que eu não precisava sofrer pela separação porque iria correr o mundo para me encontrar.

Eu acho que minha mãe sentia o que devia me dizer, sendo inspirada sabe?

 

O fato é que Artur realmente foi até mim. Ele arrumou emprego na minha cidade, nós iniciamos um relacionamento lindo, de muito respeito e tolerância. Eu me casei com ele quatro anos depois, tivemos três filhos e sempre fomos muito amigos. Ele foi meu grande amor e companheiro leal.

Foi bom não ter dito nada à Lúcia. Nós somos responsáveis por tudo o que fazemos as pessoas sentirem a nosso respeito e devemos ter delicadeza para lidarmos com os sentimentos dos demais. A preocupação com o bem estar alheio deve ser criteriosa.

Continuei amiga da Lúcia, acompanhei os grandes dramas que mexeram na vida dela como a perda precoce do pai e um câncer de estômago muito agressivo. Estive presente e aprendi muito com ela. Lúcia nunca se casou e disse que fazer parte da minha família era um bálsamo para os momentos difíceis, ela foi a madrinha do meu segundo filho.

Eu aprendi com minha mãe que dizia que, muitas vezes, confundimos os nossos sentimentos porque podemos amar muitas pessoas de modos diferentes. Amamos tanto que não queremos nos distanciar delas, como se pudéssemos ficar com elas para sempre, mas existem muitos tipos de relacionamentos duradouros e promissores dos quais existe esta reciprocidade onde os pensamentos se entrelaçam e não são necessárias palavras, também onde a união e a bondade podem aliviar a dor e fazer perseverar.

Eu entendi que a amizade da Lúcia vinha de outros tempos e eu não queria perde-la, pois no fundo, de forma inconsciente, sabia que ela vivenciaria a doença grave e dependeria das suas escolhas buscar tratamento ou não. Mas, não era desejo carnal, sexual, era amor de irmã, de amiga leal.

Devemos nos reconhecer como seres individuais. Saber quem somos para que nada possa alterar a imagem que temos de nós mesmos e não estejamos sujeitos a inclinações desajustadas por modismos, achismos ou vulgaridades. Cada um traz suas necessidades evolutivas e deve se esforçar para sentir o seu caminhar no mundo para que possa cumprir com o seu propósito enobrecedor e voltar jubiloso.

CLÉIA

22/01/23

 

------Paula Alves-----

 

“ACOSTUMEI COM A COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DO PENSAMENTO”

 

Mudismo! Eu nasci assim. Tentava falar, mas não conseguia emitir uma palavra. Minha mãe demorou para perceber, também com tanto filho, no interior, tudo era precário.

As pessoas se espantaram quando eu tinha uns cinco anos e não falava nada. Meus irmãos tão tagarelas, nem deixavam a mãe notar que eu estava por ali. Mas, eu tentava.

Só que o tempo passou e eu cansei de tentar. Então, passei a fazer sinais. Não era como hoje que todo mundo tem informação e pode aprender a linguagem dos sinais não. Eram os meus sinais, mas todo mundo entendia. Qualquer coisa, eu apontava e também ninguém tinha leitura, daí tinha que desenhar e eu era bom no desenho.

Ninguém ganhava de mim. Eu bem que queria ter desenvolvido alguma coisa com a arte, mas não deu não. Eu também fui bom na enxada, para cavar covas eu era muito bom.

Então, a mãe falou com o gerente do cemitério e eu fui trabalhar cavando covas. No dia que teve acidente com o ônibus que tombou, eu tive que cavar muitas covas e fazer o serviço rápido, foi muito triste.

Eu queria falar rápido para mãe e explicar o que aconteceu, mas não consegui.

Trabalhar no cemitério foi bom, lugar mais tranquilo não tem. As pessoas têm medo de cemitério, mas não precisa porque é um lugar para alojar os corpos que ficam. Precisa ter respeito pelos copos que foram usados. Eu acho que todo mundo cumpre um papel na Terra, mas tem muitos que não param para pensar no seu papel e vivem por viver, mesmo assim, são pessoas que tiveram alegrias e tristezas, mães e pais de família que se esforçaram e merecem ter uma dignidade na hora da morte.

Quisera que todo mundo que passa pelo cemitério fizesse uma oração e pensasse mais em Deus. Eu até sentia uma necessidade grande de rezar e estava sempre pensando no Pai Nosso porque achava que aquelas almas estavam precisando de consolo.

 

Eu aprendi muita coisa boa trabalhando como coveiro. Aprendi a respeitar a vida e a morte. Também aprendi a respeitar a dor daqueles que estão de luto pela perda de um ente querido. Ninguém sabe o quanto a pessoa sofre, como dói no coração perder quem se ama. E tem gente que fala: “não fica triste não, descansou”. Como assim? Só sabe quem está sentindo.

Eu aprendi, senti e analisei muitas coisas, sem poder falar. Era difícil desenhar o sentimento, então, teve muita coisa que eu guardei só pra mim.

Quando chegou meu dia de enterro, foi muito estranho porque imediatamente eu sai do corpo e vi muita gente me sorrindo. Eu pensei e todo mundo ouviu meu pensamento. Nossa! Nem precisava falar, era só pensar. Então, um senhor falou que eu tinha esquecido como falava porque me acostumei com a comunicação através do pensamento.

É assim que muitos problemas físicos podiam ser melhor compreendidos e tratados se as pessoas conseguissem enxergar nas crianças seres imortais que vieram de outras existências, que vieram da espiritualidade. Se cada transtorno fosse encarado desta maneira, os profissionais teriam mais sucesso em seus tratamentos.

Pra mim, foi tranquilo, eu precisava passar por tudo o que passei. A vida foi muito boa e cheia de aprendizado. Eu gostei de tudo.

 

IVAN

22/01/23


------Paula Alves------



“AQUELE QUE TEM UM SER AMADO PERTO DE SI, CUIDE DELE COM O MÁXIMO DE CAUTELA”

 

Fiquei desesperada! Procurei por toda parte e não o encontrei.

Meu filho sempre foi muito esperto. Naquele dia, combinamos que, enquanto eu iria até a casa de minha mãe, ele poderia brincar na rua com alguns amigos. Ele tinha quinze anos.

Eu não me demorei, mas estava tranquila, pensando que ele estava se divertindo. Eu tinha algumas tarefas domésticas para realizar na casa de minha mãe. O menino precisava se distrair.

Mas, quando eu terminei, tratei logo de procura-lo para que pudéssemos passear, só nós dois. Procurei por toda parte, perguntei aos amigos que disseram não ter visto meu filho. Não compreendi, mas meu coração se agitou, achei que não fosse conseguir respirar. Eu corri, gritei por ele, mas não obtive resposta em parte alguma. Fui até minha mãe, pedi socorro para os vizinhos. Todos saíram a sua procura. Avisei meu esposo que saiu do trabalho aflito, mas nós não o encontramos, então procuramos a polícia.

 

Fiquei indignada pela forma como reagiram. Insinuando que o menino usava drogas, que havia fugido de casa. Eles não o conheciam... Chegaram a suspeitar de nós e informaram que precisávamos aguardar um tempo para prestar queixa.

Eu estava desesperada! Não sei como definir o que eu sentia especificamente, mas era uma terrível sensação de perda e de culpa. Como se eu tivesse cumprido mal o meu dever como mãe porque ele deveria estar ao meu lado e, se estivesse, estaria bem, são e salvo. Eu temi por tantas coisas, por tudo o que ouvimos dizer, por tantas atrocidades e violências contra jovens, pelos desaparecimentos. Será que eu merecia passar por isso?

Eu merecia? Nós, nunca pensamos que a ruina pode se abater em nossa casa. Todas as pessoas desejam ser felizes e só pensam em aproveitar a sua vida, almejam a satisfação dos seus desejos e passam a vida meio que entorpecidos. Vivem por viver.

Nós não pensamos que o mal recairá sobre nós, mas por que não?

Se somos tão levianos e estamos quitando débitos do passado, por que não comigo?

No fundo, eu senti que precisava passar por tudo aquilo. Uma estranha sensação de que eu nunca mais o veria. Uma tremenda aniquilação do meu ser, uma dor de morte no meu peito que ardia. Olhei para o meu esposo e disse que era o fim, nós nunca mais o veríamos.

Meu esposo disse que eu não podia perder as esperanças, ele tinha uma dose de razão, mas eu sentia como mãe. Isso acabou comigo porque eu soube que as mães têm que pensar adiantado. As mães têm que prever os acontecimentos para protege-los, mas a verdade é que nós tínhamos que sofrer aquele momento. Aquele terrível momento.

Eu não fui como as mães que procuram seus filhos desaparecidos porque eu sabia que ele nunca mais seria encontrado. Eu sentia, por isso, eu quis morrer de angústia, de culpa. Culpa que, na verdade, me remetia ao passado de outras existências. Numa época longínqua em que eu era traficante de órgãos e me aproveitava de crianças e jovens para enriquecer.

Lei de ação e reação que age como Lei de Talião para nos certificar de que o sofrimento do outro é terrível e lancinante. Eu tinha que passar pela prova de perder um filho, enquanto meu menino, companheiro de outros tempos, também tinha que ressarcir dívidas dos erros que cometemos.

Foi uma vida de dor. Eu nunca, jamais me esqueci dele. Tudo lembrava aquele belo jovem que me abraça com imenso afeto. Sei que cada canto da casa tinha lembranças, cada pertence dele tinha um aroma agradável, uma proximidade comigo. Eu não podia esquecer do que vivemos, mas sentia a culpa me destruir. Foi uma vida que findou com o descuido do corpo, da alimentação e da saúde.

Mas, pude receber o socorro e consegui compreender tantas coisas chegando aqui. Sou agradecida.

Nós pedimos pela prova mútua. Parceiros que podiam quitar os débitos em união. Eu não pensei que fosse amar um filho nesta proporção. Pensei que a prova fosse mais fácil de cumprir e acabei antecipando meu retorno para a pátria espiritual. Eu falhei! Ainda tinha muitos planos para cumprir. Eu não consegui me reerguer depois de perder um filho tão amado. As mães amam demais!

 

O fato é que nós realmente não imaginamos as coisas que este mundo nos apresenta. Ouvimos dizer, vemos na tv e nas mídias sociais, mas não imaginamos o que nos ronda, o que está tão perto de nós.

Aquele que tem um ser amado perto de si, cuide dele com o máximo de cautela. Claro, tudo o que está nos planos deve se concretizar, mas nós podemos evitar muitos males se ficarmos atentos. “Orai e vigiai para não cair em tentação”.

 

CELESTE

14/01/23

 

---Paula Alves---

 

“NESTE MUNDO DE AMBIÇÕES NÃO É FÁCIL ENCONTRAR PESSOAS QUE NOS AMAM, APESAR DE NOSSAS PETULÂNCIAS E DEFEITOS SÓRDIDOS”

 

Eu estava vivendo momentos dramáticos no meu casamento e pensava em me separar, mas a condição de um casal, nem sempre, diz respeito ao amor. Existem conveniências recíprocas que fazem com que as pessoas permaneçam juntas, mesmo considerando o fim do sentimento nobre que os uniu.

Nós tínhamos responsabilidades financeiras e familiares. Não era conveniente uma separação. O divórcio não é apenas a falência do matrimônio, mas também das finanças, em alguns casos. Não compensava!

Eu imaginei que podia viver de aparências para sempre, afinal eu estava confortável em nosso lar e recebia dele um tratamento muito amigável, sem grandes exigências. Eu tinha minha liberdade para sair com as amigas, tinha meu emprego e nossos filhos eram jovens que não me davam trabalho. Vivíamos em paz. Tudo corria bem, se não fosse pelos olhos de Armando.

 

Eu precisava ter me controlado mais. Assim que o vi senti que teria problemas. O mal da maioria das pessoas é não saber racionalizar seus sentimentos. As pessoas são diferentes dos animais exatamente porque raciocinam, fazem planos e conjecturas. Devem ter auto controle e lógica. Todos nós podemos usar a razão para dominar nossos sentimentos, assim alcançaremos a evolução e o progresso.

Quando nos envolvemos numa disputa ou briga, devemos raciocinar, colocar os pensamentos em ordem e usar as melhores estratégias para vivermos em paz. Assim, um dia, estaremos num mundo de regeneração onde as pessoas pensam para sentir, controlam seus impulsos, inclusive sexuais que estão mais relacionados com os seres primitivos. As pessoas devem pensar para sentir corretamente. Isso é possível, mas não para mim, naquela fase da vida.

Eu não pensei em nada, só senti. Muitas loucuras acontecem quando nos entregamos às sensações, aos desejos, aos ímpetos. Não pode ser nada de bom porque é desgovernado, desenfreado, cheio de tolices.

 

Eu me entreguei à paixão. Meu esposo ficou sabendo porque eu mesma contei. Disse que tinha decidido viver com Armando, queria a separação e a venda de nossos bens. Mas, nós tínhamos mais dívidas do que bens. Meu esposo tentou me fazer compreender. Disse que não queria me ver infeliz, mas seria um choque para os nossos filhos. Nem por um minuto, suspeitei que Armando estava interessado em lucros materiais. Eu acreditava num príncipe e no direito de amar como adolescente.

Fiz meu esposo vender nossa casa, o único bem que tínhamos. Todos foram morar de aluguel. Nós nos separamos e eu fui desprezada por meus filhos que preferiram ficar com o pai. Armando retirou todo o meu dinheiro e sumiu sem deixar vestígios e eu fiquei sozinha, inconformada.

Neste mundo de ambições não é fácil encontrar pessoas que nos amam, apesar de nossas petulâncias e defeitos sórdidos. Considerar a pessoa que você é, perfeitamente desnuda diante de você mesmo, com suas características abomináveis para que possa se modificar em algo mais aceitável por si mesmo.

Eu me arrependi. Sensualidade que deveria ser controlada. Por que será que as mulheres não podem sossegar o faixo e controlar sua sensualidade, almejando despertar no mundo outras características que as elevam? São muitos adjetivos que são fortemente apreciáveis, mas nós preferimos ser vistas por nossa beleza e seduzir. Eu fracassei em meus objetivos nesta vida porque me deixei levar pelas sensações, seduções e desejos da carne. Da próxima, quero tudo diferente.

 

SIMONE

14/01/23

 

-----Paula Alves----

 

“QUEM TEM PAZ, TRABALHO HONESTO E UMA FAMÍLIA AMOROSA PODE DORMIR TRANQUILO”

 

Naquela época só podia ser respeitado quem era o maioral. Eu estava cansado de pensar que podia morrer na madrugada, vítima de bala perdida.

Vi minha mãe fazer programa para pagar o aluguel do barraco e quis matar aquele crápula. Jurei que nunca mais um homem ia tocar nela. Então, comecei a vender os bagulhos. Eu era novo, tinha uns treze anos. Mas, era um moleque tão esperto que eles tiveram respeito.

Precisei fazer muito serviço sujo, coisa feia mesmo. Virei o maioral porque eles tinham medo de mim, medo de morrer. É a selva do mais forte como no reino animal. Homem que é bem pior do que bicho.

Mas, depois que vira um maioral pode sair do morro e morar numas casas mansões. Lugares que todo mundo devia conhecer. A vida do luxo é muito apreciável, mas tem coisa que a gente até duvida. Dinheiro que gasta só de respirar.

Minha mãe virou rainha. Ninguém tinha o direito de olhar para ela e respeitavam porque sabiam que podiam partir como o dono do barraco que eu despedi para o outro mundo.

Mas, a vida não é só isso não. Tem muita coisa que o povo de bem nem sonha. Quem pensa que o rico dorme como anjo, tá muito enganado. Quem faz o mal não tem paz, nem sossego. Dorme inquieto e sabe que não vai para lugar bom quando partir. Também sabe que pode partir a qualquer momento porque só apronta.

 

Eu quase não dormia. Estava sempre desesperado e tinha mania de perseguição. Achava que todo mundo estava tentando me roubar, me passar a perna. Nunca tive amigo ou uma mulher que pude amar de verdade. Tudo por conveniência, tudo o que o dinheiro sujo podia comprar.

A gente vive na vida errada e sabe que o dinheiro compra a riqueza da terra, mas nunca vai trazer a riqueza da alma. Eu queria ter tido outras oportunidades e me perguntei se o problema não foram minhas escolhas. Naquela noite, eu estava tão cansado daquela vidinha medíocre e pensei, depois de olhar minha mãe ofegante, se não podia ter sido diferente.

Ela estava com Covid. Por mais que eu pudesse pagar, ela não tinha leito no hospital. Eu não queria que ela fosse tratada como indigente e preferi ficar com ela em casa. Eu sofri muito por perceber que o dinheiro ilegal não podia comprar a saúde da minha mãe.

Refleti que tem muitas coisas que nós podemos decidir na vida, nós podemos escolher. Se eu tivesse, lá atrás, escolhido diferente, nós estaríamos de outra forma. Eu podia ter estudado e me tornado professor. Eu podia ter alugado uma casinha em outro lugar no interior. Eu teria me casado e teria filhos com uma mulher decente. Eu teria paz e tranquilidade com uma vida simples e feliz.

Eu teria felicidade com uma vida simples!

Mas, eu estava cercado de luxo com minha mãe doente, sabendo que um deles poderia entrar e me dar um teco na cabeça. A gente espera a morte todo dia. Vive atormentado.                                                                           Ela se foi em sofrimento terrível e eu abandonei tudo para vagar por aí. Um pouco atormentado com meus crimes, um pouco ensandecido pela droga que eu usei. Um carro me atropelou e eu vim para cá depois de muito vagar no plano espiritual, fugi de tanta gente, de mim mesmo, das minhas inquietações e inseguranças, até receber esta ajuda.

A paz é o bem mais precioso! Viver em paz em qualquer parte. Quem tem paz, trabalho honesto e uma família amorosa pode dormir tranquilo.

 

LUIZ

14/01/23

 

---Paula Alves---

A GENTE PERDE TANTA COISA POR SER ARROGANTE”

Liberdade!

Eu só queria sair dali. Cometi pequenos furtos, nunca imaginei que isso iria me mandar para a cadeia. Eu roubei da loja em que eu trabalhava.

A dona tinha muito dinheiro e eu fazia tudo direitinho, nunca imaginei que ela me pegaria. Burro aquele que acha que é esperto. Uma tonta querendo passar a perna na moça rica. Se eles são ricos deve ser por um motivo. Eu roubei bastante e podia ter parado, mas eu acho que gostei de ser ladra.

Eu vou dizer que tinha certa compulsão. Me dava desespero para roubar. Eu mal esperava que ela se distanciasse, por isso, que ela me pegou, eu dei brecha.

Me pegou roubando e me denunciou. A mulher tinha conchavo na delegacia. Falou que eu a humilhei moralmente porque eu a desonrei diante dos outros funcionários e que ela estava atordoada psicologicamente, como assim? Eu nem sabia que ela podia forçar a barra daquele jeito, parecia tão tola e gentil.

O delegado não facilitou para mim, ainda mais quando percebeu que eu não tinha parentes ricos ou bem posicionados na sociedade. Foi fácil me acusar e condenar.

Na cadeia eu sofri demais. O pobre não imagina que sua vida ainda pode piorar, mas piora bastante. Eu não imaginei que era rica para minha posição. Não dá para imaginar. Eu nasci como pobre, mas meus pais trabalharam muito para comprar a nossa casa, para nunca deixar faltar as refeições necessárias ao conforto, para termos camas quentes e estudo. Eu não estudei mais por pura preguiça. Meu pai me exigiu nível superior e eu recusei. Achei que podia ter uma vida melhor se arrumasse marido rico e, para isso, precisava de boa aparência e roupas caras, por isso, comecei a roubar.

 

Homens são todos iguais. As pessoas todas são dotadas de sensibilidade e sentem as nossas emanações fluídicas, sentem o que nós desejamos com elas, as nossas intenções são sentidas. Eu queria usar aqueles homens para que me dessem uma vida boa, por isso, só atrai quem quisesse me usar também, jamais teria um casamento honrado.

Na cadeia percebi, em meio aquelas mulheres, o quanto eu tive privilégios e não os aproveitei. Muitas delas, não tiveram pais maravilhosos como eu tive, nem casa ou comida quentinha. Elas não foram amadas e educadas como eu.

Os filhos devem raciocinar diante da situação familiar. Devem ser estimulados para observar a situação socioeconômica da sua família, do bairro, do país e do mundo. Devem raciocinar diante de seus objetivos.

A família deve manter conversação séria e bem direcionada para que os jovens percebam os objetivos familiares. Objetivos materiais e morais, pelo menos. Devem saber que a família almeja junto, mas que os integrantes desta família são indivíduos e têm sonhos e necessidades, por isso, devem ter seus objetivos pessoais e diante da coletividade.

Eu sempre fui ambiciosa e egoísta. Só pensei em mim, nunca parei para observar meus pais e os diversos sacrifícios que fizeram por mim.

A mãe ia me visitar toda a semana, mesmo passando por constrangimento para entrar na prisão. Levava comida boa para mim e para as colegas de cela. Quando eu levei aquela facada na briga, só pensei na mãe. Como será que dariam a notícia para ela?

Ela deve ter sofrido muito. Eu só aprendi a conversar com a minha mãe quando ela ia me visitar na prisão. Eu estava carente de conversa, querendo saber do mundo lá fora e ouvia atentamente tudo o que ela dizia. Eu podia ter tido boas conversas, enquanto estávamos jantando ou assistindo a novela, ela sempre quis conversar comigo e eu achava perda de tempo.

 A gente perde tanta coisa por ser arrogante. Perde tempo e boas oportunidades. Podia ter sido tudo diferente.

 

MELISSA 

14/01/23

----Paula Alves---



“A EDUCAÇÃO É A MELHOR FERRAMENTA PARA LIBERTARMOS A SOCIEDADE DAS CHAGAS MORAIS, SEM ISSO, NOSSAS JOVENS CONTINUARÃO SENDO AGREDIDAS E MORTAS”

 

 Ela me irritou! Como ela podia ter o poder nas mãos e não fazer nada com ele?

Eu me indignei que uma mulher tão importante que tem o dom da música e o microfone para se dirigir a tantas pessoas não utilizasse este meio de comunicação e sua popularidade para orientar um povo que a idolatra.

Mas, a partir daí, comecei a me questionar sobre todas as pessoas que têm a fama como prova. Eu me preocupei com as mulheres de todas as idades que amavam aquela cantora. Ela usava a imagem pra atrair multidões e sensualizava, poucas roupas, vulgarizando uma classe sofrida que estava sendo maltratada de outros tempos.

Indigno, imoral! Claro que ofende! Mulher que luta, trabalha, apanha e fica de pé. Mulher que é morta por amor, amor? Que amor é este? Elas precisavam de muito mais do que uma letra bem composta. Elas precisavam se erguer, ter respeito pela pele, pelos cabelos e pela sexualidade.

Se erguer pela mente e sensibilidade. Ter acesso à educação e bons lugares no mercado de trabalho. Elas precisavam saber que podem ser amadas por seus valores, ideologias e missões.

Eu vi aquela mulher que tinha o luxo na voz e que não sabia se comportar diante da multidão porque menosprezava o sexo feminino chamando a atenção para suas partes pudendas. Isso não é necessário!

Desde que o mundo é mundo, os homens se apossam de muitas coisas e a mulher é vista como propriedade de homem. Mulher que já foi homem em outra vida e que recebe o corpo feminino para aprender a se elevar como fêmea. São muitos os aspectos numa mesma discussão, mas existe espaço para o debate. O que não pode é se curvar, se depreciar, humilhar e se deixar arrastar com razão atormentada e o coração em lástimas.

 

As mulheres se recuperarão. Quando uma apoiar a outra. Quando uma mulher souber ouvir a irmã e desejar que ela se recomponha e ande com a cabeça erguida.

Elas não precisam dançar para mostrar o corpo. Elas podem sonhar com um futuro promissor. Mulher digna, com carreira ou bebê no colo. Mulher que é lembrada como irmã ou mãe, professora ou tia, todas respeitadas.

Nunca mais mulher propriedade, insultada ou morta. Mulher amada e lisonjeada.

Eu pensei em tudo isso. Pensei que, se todas as mulheres, aproveitassem sua voz e seu espaço por este compromisso de elevação do gênero, eles parariam. Eles se envergonhariam e nos tratariam com mais respeito. Mas, elas não viam porque não acontecia com elas e, se acontecia, tratavam com normalidade.

Então, eu cheguei numa conclusão: isso tudo é só para quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir. Aqueles que acordaram, que se mexam! Eu não tinha o microfone, mas podia falar para uns e outros. Eu não podia silenciar porque era o mesmo que estar conivente com este extermínio. Eu falei com algumas amigas, falei em casa. Ensinei meus filhos a cuidarem bem das esposas e pedi para minhas netas se comportarem, se tratarem com muito amor, escolherem bem suas amizades e seus companheiros:

—Vocês são preciosas! — eu disse para todas elas.

Nunca permiti que um filho encostasse um dedo numa mulher. Minhas noras sempre foram respeitadas: “rainha do lar”. Elas tinham o mesmo peso que os maridos nos lares e foram respeitadas pelos filhos. Os esposos conversavam e ouviam as opiniões daquelas que desejam o bem das famílias, muita dignidade para a mulher ouvida e representada no seio familiar.

As meninas gostavam de passear, mas eu estava sempre lembrando do papel da jovem negra, da discrição e da necessidade dos cuidados básicos com o corpo e sexo. A jovem precisa se resguardar, ter seriedade para se portar em meios públicos e privados, ter postura de mulher séria e valorosa. A postura que temos implica na forma como as pessoas nos observam e nos tratam.

Qual é o olhar que desejamos receber das outras pessoas?

A educação é a melhor ferramenta para libertarmos a sociedade das chagas morais, sem isso, nossas jovens continuarão sendo agredidas e mortas.

Infelizmente, as mulheres bem posicionadas na sociedade, não querem ou não podem falar abertamente, mas nós podemos. Eu não quero perder mais uma irmã. Pelos direitos das mulheres, basta ao feminicídio!

 

VERA

08/01/23

 

--Paula Alves—

 

“NUNCA IMAGINEI QUE EU PODERIA TER FEITO UMA ANÁLISE REAL DA MINHA VIDA”

 

Pra mim, era só mais um ano. Comemorei, bebi muito e me diverti, mas sabia que no outro dia, tudo estaria da mesma forma e eu já estava saturado daquela vida que não me conduzia para lugar algum.

Passou tão rápido e quando dei por mim, mais um ano. Sem que nada tivesse mudado. Eu estava da mesma maneira, no mesmo emprego. Não tinha encontrado ninguém, não tinha iniciado nenhum curso ou projeto novo. Comemorei com os amigos, bebi e curti para no outro dia, voltar para aquela vida que não tinha nada de diferente.

Foi assim que um dia me deparei com alguém me questionando: “Mas, por que você chora e não deseja seguir em frente?”

Eu estava ferido, mas precisava voltar para a minha vida de antes, afinal aquilo era tudo o que eu conhecia. Aquele senhor de aspecto confiável disse que eu tive muitas chances de demonstrar gratidão pela vida, por tudo o que eu tinha de oportunidade de elevação, mas eu preferi me acomodar, crendo que teria a vida toda pela frente. Tudo tem um fim! Ele foi bem claro, era o fim para mim, aquela vida não era mais para mim porque eu havia desencarnado. Mas, eu não sabia viver de outra forma e tinha sonhos, tinha objetivos que não pude concluir.

Eu fiquei pensativo e tive que concordar. Tive 43 anos para colocar em prática meus projetos. Eu podia ter me dedicado a coisas novas, eu podia ter seguido qualquer caminho, mas entrou ano, saiu ano e eu, me mantive na inércia, acomodado. Aproveitando da vida, aproveitando as pessoas, sem corresponder a nada. Foi um tremendo desperdício!

Eu concordei com ele e me arrependi. Nunca imaginei que eu poderia ter feito uma análise real da minha vida e aproveitar aquele reiniciar para me colocar diante de uma vida nova. Eu podia ter aproveitado para desenvolver minha força de vontade, meu ânimo, mas por que não fiz nada disso?

 

Por que as pessoas são tão acomodadas e preguiçosas? Naquela situação, ferido, chorando e reclamando de tudo o que eu nunca mais poderia fazer. Perdi minha chance de ser útil e sentir o crescimento pessoal. Não aquele ligado aos bens perecíveis, mas às grandes vantagens da vida que fornecem elevação e enobrecimento, coisas que ninguém tira de você. Eu não tinha nada naquela bagagem espiritual, apenas frustração de quem chegou ao mundo e não fez nada.

 

No ano novo vale lembrar que nós não sabemos quanto tempo resta, portanto, devemos aproveitar cada dia, cada instante para produzirmos. Analisar os desejos íntimos e as necessidades evolutivas, fazer render este ano ao máximo. Aprendendo muitas coisas, interagindo com as pessoas para reconciliar, aproximar, amar. Doar conhecimento, energia, consolo, trabalho. Ser melhor nas diversas situações da vida e contabilizar no final do ano a pessoa que ficou para trás e a nova pessoa que você conseguiu transformar.

 

EUSÉBIO

08/01/23

  

--Paula Alves—

 

“NÓS SOMOS IMORTALIZADAS NA CONDUTA DOS NOSSOS FILHOS E DEVEMOS TER CONSCIÊNCIA DE QUE SOMOS AS EDUCADORAS DESTA SOCIEDADE”

 

Ela tinha muitos sonhos, mas a coitada nunca conseguia finalizar nada. Sabe quando começa e não termina um curso, uma faculdade, sai do emprego, termina relacionamentos?

Eu não sei o que tinha na cabeça da menina, mas ela não conseguia finalizar. Na hora, era uma euforia... Ela vinha cheia de planos, se encantava com tudo, dizia que faria isso e aquilo, daria tudo certo, mas passados alguns meses, ela esmorecia, parecia lâmpada apagada, morria a motivação e o empenho, ela desistia.

 

Eu queria que ela soubesse que podia fazer qualquer coisa, incentivava e comecei a pensar que a errada era eu. Sei lá, as mães sempre se culpam pelos fracassos de seus filhos. Então, pensei que eu permitia os fracassos dela. Qualquer coisa, corre para a mamãe que te acolhe. Ela podia fracassar sempre que quisesse.

Pensei no filho da minha vizinha. Ela tinha mais quatro filhos. Quando pensou na carreira, não podia errar porque não tinha condições de ficar pagando cursos que não deram certo. Tinha uma única escolha. Se não amasse a profissão, paciência, tinha que viver daquilo e dar graças a Deus, mas a Olivia era filha única e podia se frustrar o quanto quisesse.

Tive uma conversa com ela, expus meus pensamentos e ela concordou: “É mesmo mãe, pode ser”.

A culpa é sempre da mãe. Mas, quando dá certo, foi o destino, Deus, a misericórdia, o esforço, nunca é a mãe. Ah! Como mãe sofre...

Eu falei para ela que seria a última vez e se não conseguisse terminar os estudos, teria de arrumar um emprego do que fosse. Falei sério, repreendi e disse que as pessoas que se empenham realmente dão certo em qualquer carreira. Ela me ouviu, chorou, falou da falta de vontade e eu disse que ela tinha que parar de observar-se e olhar a vida ao seu redor.

As pessoas realmente felizes existem. Elas andam por aí com as mesmas dificuldades das outras, mas têm gratidão por tudo o que encontram em seus caminhos. Elas recebem e distribuem, enquanto a maioria só se preocupa em receber de Deus e da vida, dos pais e do chefe, do marido e da sociedade.

Ter responsabilidade! Nas palavras, nos atos e nos pensamentos. Responsabilidade individual, familiar e social. Não ficar culpando as outras pessoas por seus fracassos e fazer dar certo todo dia, com ânimo e perseverança. Se responsabilizar por tudo o que possa acontecer.

A Olivia ouvia e saiu diferente de casa. Eu nunca mais precisei ter esta conversa com ela. Minha filha se modificou. Isso para mim foi incrível porque eu também não pensei que uma palavra proferida pela mãe pudesse mudar a vida do filho, mas pode.

As mães são como santas nos lares. Elas profetizam na vida dos filhos, as orações delas abençoam e curam. São como professoras, instruem, educam, orientam e possibilitam que toda a sociedade se beneficie quando o seu filho tem responsabilidade social. Um filho bem educado que é direcionado para o rumo certo na sociedade é como uma semente do bem que germina e recruta outros seres para o trabalho do amor.

Eu não tinha ideia do meu compromisso dentro de casa e fora, na sociedade. Tudo o que eu passei para a Olivia rendeu frutos. Ela se formou e tratou outros jovens com o mesmo respeito e direcionamento, incentivando e conduzindo. Depois, ela se casou e cuidou de seus três filhos da mesma forma. Parecia que eu estava me vendo quando ela falava com aquela força. Nós somos imortalizadas na conduta dos nossos filhos e devemos ter consciência de que somos as educadoras desta sociedade.

Tudo o que acontece de bom ou ruim é de participação integral das famílias deste país. A educação começa em casa e a maneira como as pessoas socializam também começa nos lares. Portanto, se você não é adepta à violência, discriminação, bulling, ameaças, menosprezo ou qualquer tipo de abuso moral e físico, ensine diferente no seu lar. As crianças compreendem desde pequeninas, observe seus filhos e ensine a amar.

 

SUZANA

08/01/23

 

--Paula Alves—

 

“QUANDO OS PAIS QUEREM, ELES NOS TRANSFORMAM EM PESSOAS MUITO MELHORES”

 

Eu queria conhecer o mundo. Trabalhava tanto naquele local horrível. Eu queria me sentir livre e me divertir. Não importava o valor, eu economizava para ter o prazer de me emocionar com aquelas paisagens.

Mas, comecei a ficar endividada. O meu orçamento não comportava aquelas viagens internacionais, mas eu queria mais e mais. Em cada local, uma emoção diferente e tinha tanto para descobrir. A gastronomia impecável, as roupas locais, o artesanato, tudo me interessava e custava dinheiro... Eu me endividei.

Fui conversar com meus pais e pedir um valor para quitar minhas dividas. Mas, meu pai me recriminou dizendo que em toda a sua vida, ele nunca pode viajar porque tinha um compromisso com a família. Ele precisava alimentar os filhos, cuidar da saúde e dos estudos. Ele também tinha vontade de curtir a vida e se sentir livre, mas tinha que cumprir o dever com todos que estavam sob o seu teto. O tempo passou e quando os filhos cresceram e se tornaram independentes, ele podia curtir a vida, mas já estavam velhos, necessitando de cuidados com a saúde, precisando de atenção. Os filhos nunca foram perguntar se eles precisavam de algo porque tinham suas vidas e seus diversos objetivos, mas eu queria dinheiro para quitar dívidas de viagens.

 

Eu fiquei muito envergonhada. Nunca imaginei que estava sendo tão egoísta. Eu tentei sair dali um pouco melhor e disse que eles podiam ter avisado que precisavam de nós, falei que não tínhamos como saber que estavam doentes, mas a verdade é que, se eu fosse uma filha presente e preocupada com meus pais, eu saberia da vida deles sim.

Negligenciei meus pais que sempre fizeram tudo por nós, para viver uma vida emocionante pelo mundo e ainda reclamava. Precisei sentir vergonha e me sentir uma filha inútil para mudar de vida.

Eu me lembro de tudo o que aconteceu e agradeço a Deus por ter tido aquela conversa com meu pai porque deu tempo de cuidar bem deles e de viver muitos casos interessantes com eles. Os pais estão sempre educando seus filhos, independente da idade do filho. Quando os pais querem, eles nos transformam em pessoas muito melhores.

Eu gostei tanto de estar e família, de estar em casa que comecei a pensar na possibilidade de me unir a alguém e ter família. Nós temos que estar abertos ao amor. Estar receptivo ao amor, se permitindo ser amado por alguém. Eu não tinha ninguém, mas desejei ter família, daí o César chegou em minha vida como um presente. Eu formei uma família linda com ele.

Por nossa família, eu limitei ainda mais minhas viagens, mas pude construir um mundo incrível, cheio de possibilidades de elevação, dentro da minha casa. Você tem que rever seus valores e ter consciência do que realmente importa.

 

SOFIA 

08/01/23

 


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