“Pensar que eu não pude ter uma sobrevida satisfatória porque coloquei meu trabalho na frente da minha saúde”
Eu tinha fortes dores na cabeça. Já estava acostumada a dizer que tinha
enxaqueca. Cheguei a pegar atestados médicos para me ausentar do trabalho
porque era impossível raciocinar adequadamente quando estava com crises de dor.
Não achei necessário procurar médicos e fazer exames específicos porque
uma dor de cabeça não deveria ser um problema para eu me preocupar, mas eu
estava enganada e paguei caro por minha imprudência com o corpo físico.
Notei que estava tendo dificuldades para falar, mas eu estava muito
atarefada e pensei que fosse estresse.
Na verdade, se eu tivesse investigado logo que as dores começaram a se
tornar tão fortes, talvez tivesse tido tempo para tratar.
O câncer cresceu tanto que não havia possibilidades de um tratamento
eficaz, logo minhas funções foram ficando comprometidas e eu me senti arrasada.
Sensação de angústia e arrependimento porque poderia ter cuidado melhor de mim
mesma.
É muito pior do que sentir qualquer dor, pensar que eu não pude ter uma
sobrevida satisfatória porque coloquei meu trabalho na frente da minha saúde.
Eu era, apenas mais uma funcionária. Mas, meu corpo sadio era a
oportunidade de permanecer encarnada por mais algum tempo.
Nós sempre ouvimos as tragédias, em toda parte tem tragédia, mas apesar
de termos medo das tragédias, nunca imaginamos que elas acontecerão conosco.
Eu não pude imaginar que receberia um diagnóstico fatal. Isso acabou
comigo. Definhei rapidinho e quando menos esperei, já estava deste lado.
Não posso reclamar, fui bem assistida, não sofri. Mas, a ruina foi
deixar pessoas amadas para trás e saber que eu fui muito imprudente. Terei de
resgatar. Mais uma existência está sendo preparada para mim. O cérebro foi
lesionado, então precisarei retornar como uma criança que tem problemas
cerebrais.
Mesmo assim, eu sou agradecida. Sei que tudo o que fazem é almejando o
nosso progresso.
Que tenhamos mais responsabilidade com a nossa saúde.
Raquel
06/07/24
***
“Criança precisa de respeito! Amor, delicadeza e educação”
Deve ser bom ser criança e poder vivenciar momentos infantis sem preocupação porque recebe todos os cuidados dos genitores.
Todas as vezes que eu observei as crianças sendo conduzidas pelos pais,
eu desejei ter pais como aqueles. Pensava o que aquela criança tinha em casa.
Casa limpinha e cheirosa, carinho, comida quente, brinquedo, diálogo, abraço,
escola, passeio, lanche.
Eu pensava muito nos carinhos e na comida. Acho que foi porque eu estava
sempre morrendo de fome e me sentia completamente sozinho.
Minha mãe tinha mais quatorze filhos. Acho que ela não sabia quem eram
os pais. Vivia drogada e nós precisávamos levar a comida pra casa.
Cada um à sua maneira, nós estávamos sempre nos virando. Eu nunca
roubei, mas tive irmãos que viraram marginais porque era a maneira mais fácil
de conseguir dinheiro. Teve quem virou traficante na juventude.
A gente costumava ir para o farol, recebia algumas moedas e corria pra
comprar pão. Era o mais rápido pra matar a fome. Às vezes, até dava pra comprar
um pra cada.
A gente não tinha condição de ir pra escola. Não tinha nada, roupa,
calçado, endereço fixo, nada. Ninguém pra batalhar por nós, direito nenhum
porque aquela mãe não sabia cuidar nem dela.
Era melhor ficar na rua porque quando a gente chegava em casa, das duas
uma, ou ela estaria muito louca e doida pra esmurrar a gente ou estaria jogada
no chão, em delírio.
Eu ficava com muita raiva e me perguntei várias vezes porque a gente
tinha que passar por tudo aquilo, com aquela mulher que não era nada pra ela
mesma, nem para nós. Tinha criança pequena naquele meio e a gente cuidava do
jeito que podia cuidar.
Tinha algumas vizinhas que eram boas e se preocupavam com a gente. Às
vezes, ficavam com dó e levavam uma panela cheinha de sopa. Era tão bom!
Eu me lembro daquela infância e me revoltei muito com a nossa situação,
porém, aquilo fez com que nos uníssemos, fez com que desejássemos ter um
cantinho só nosso, com família de bem, roupa limpa e comida quente.
Eu tentei crescer e amparar meus irmãos, mas eles foram se perdendo.
Arrumando encrenca, seguindo os erros da nossa mãe drogada, morrendo como um
bando de largado, sem nome.
Criança precisa de respeito! Amor, delicadeza e educação. Criança
precisa de pai e mãe, escola e Deus.
Precisa de Jesus no coração!
Eu aprendi muita coisa naquela vida e já decidi meu plano futuro. Eu
quero uma grande família. Quero ter condições de receber toda esta gente, até
minha mãe. Receber como filhos e netos. Quero mostrar pra eles que a gente pode
ser gente honesta e trabalhadora. Quero que saibam que o amor cobre a multidão
de pecados. Eu vou conseguir.
Giovani
06/07/24
***
“Quando comprometemos o corpo físico em uma existência pode ficar a necessidade de resgatar em outra”
Misericórdia! Quando eu descobri aquele câncer quase cai para trás.
Câncer de garganta! Eu sempre cuidei bem da minha saúde. Era uma dona de
casa, evangélica, sem vícios que amava viver e desejava estar saudável para continuar
cuidando da minha amada família.
As pessoas, quando souberam, até se perguntaram o motivo daquele câncer.
É que as pessoas sempre relacionam câncer de garganta aos fumantes, mas eu
nunca fumei, nesta vida.
Em outra existência, eu fumei demais, agredi meu corpo perispiritual,
porém, vítima de um acidente de trânsito, eu desencarnei e continuei carregando
no corpo fluídico os efeitos deletérios do uso desenfreado do cigarro.
O fato é que eu tinha destruído o meu aparelho fonador e o câncer estava
ali atrapalhando minha paz e minha rotina familiar.
Eu tive muita sorte e, por que não dizer benção?
Eu fui abençoada com uma equipe de médicos incrível que me avaliaram e
fizeram um tratamento muito preciso que permitiu cuidar integralmente do meu
corpo físico. Eu me curei.
A felicidade tomou conta de mim, fiquei grata à Deus e a equipe médica
que permitiu estender meu tempo na Terra.
Depois disso e, com os exames preventivos, vivi muito. Descobri várias
coisas, fiz aquisições importantes do ponto de vista intelectual e moral. Foi
uma existência cheia de aprendizado. Compreendi o quanto é importante ter uma
vida saudável para esta existência e outras.
As vidas são interligadas, quando comprometemos o corpo físico em uma
existência pode ficar a necessidade de resgatar em outra.
Eu fui muito privilegiada. Agradeço por tudo.
Jasmim
06/07/24
***
“Façamos o possível para que todas as crianças sejam bem cuidadas, para que neste mundo, existam mais adultos com mentes estruturadas”
Ele estava sempre alcoolizado, mas era meu pai e eu sentia muito carinho
por ele.
Aquele homem tinha uma vida difícil e ele gostava de mim, nunca me bateu
ou ofendeu, ele sabia ser carinhoso, mas era irresponsável com ele e comigo.
Tentava se manter num emprego, mas sempre perdia a hora, aparecia bêbado
e era mandado embora.
Eu tentava cuidar dele, cobrir para não passar frio, tentava até fazer
comida para ver se ele ingeria alguma coisa, além do álcool, mas ele só queria
beber.
Por causa disso, minha vida de criança nunca existiu. Eu tinha
preocupações diversas. Não tinha tempo para brincar, eu estava sempre
procurando o meu pai, pensando que ele podia arrumar encrenca na rua e se
ferir. Então, não tive tempo para ser criança.
Ele olhava para mim e dizia que eu era mais esperto que ele, mais
responsável que ele, mais adulto do que ele, mas eu só tinha oito anos quando
saí da escola para cuidar do meu pai.
Quando dei por mim, já tinha arrumado um trabalho para ganhar um
dinheiro qualquer e comprar comida para gente. Manter as contas em ordem.
Eu sabia que precisava estudar, então, fiz planos de conseguir alguma
coisa melhor quando crescesse mais e foi o que fiz. Trabalhei muito e estudei
na sala de adultos para não ser analfabeto.
Eu consegui um emprego na construção, me especializei em acabamentos
internos e ganhei um bom dinheiro, sabia trabalhar e trabalhei bastante.
Eu sou a prova viva de que todos podem conseguir se superar, a partir de
esforço e boa vontade.
Cuidei de mim, cuidei do meu pai e formei família.
Foi muito difícil, mas eu consegui. Aprendi bastante com aquela jornada
complicada.
Acredito que precisei crescer rápido e assumir a responsabilidade dos
meus atos, eu não pude ser criança. Logo, tinha cabeça de gente velha.
Preocupado com tudo, não sorria, só fazia planos, só trabalhava.
Eu não soube o que era viajar ou me divertir, nunca soube. Para mim, a
vida era séria demais.
Acho que é isso o que acontece com aqueles que não tiveram pais
responsáveis e não puderam viver sua vida infantil. Crescer rápido demais e não
sabem se divertir.
Mas, compreendo que tudo foi necessário para o meu amadurecimento e
elevação.
Em outras existências, eu tive pais excelentes e fui um filho bastante
ingrato. Cheguei a judiar moralmente dos meus pais. Tive tudo, carinho e
dedicação, conforto material e, mesmo assim, os tratei com rejeição, por isso,
precisei vivenciar esta vida de dificuldades.
Mesmo assim, tive um amor fraternal elevado por meu genitor que tinha
problema alcóolico.
Tudo o que nós não conseguimos vivenciar na infância faz falta para o
adulto. Para que o ser seja integral precisa viver os sonhos infantis e ter nas
brincadeiras todas as oportunidades que permitem socializar e colorir o mundo.
A imaginação é um campo importante para a mente e inicia a sua projeção
na infância. Façamos o possível para que todas as crianças sejam bem cuidadas,
para que neste mundo, existam mais adultos com mentes estruturadas.
Rafael
06/07/24
***
“É engraçado perceber o quanto somos ingratos e imaturos”
No meio da minha revolta, eu só podia ver sofrimento e dor. Não era
possível enxergar tantos aprendizados para o grupo.
Estávamos unidos de outros tempos. Tínhamos necessidades evolutivas.
Questões para resolver e soltar os elos de discórdia e animosidade que nos
uniam e isso só podia acontecer quando nutríssemos sentimentos elevados.
Alguém tinha que sofrer para despertar a condescendência em todo o
grupo. Então, eu não podia imaginar que a minha doença poderia ser tão benéfica
para todos nós.
Mas, após todo aquele sentimento de dor e frustração, após ter a certeza
de que a metástase havia tomado conta de mim, tratei de aproveitar ao máximo,
os dias que me restaram e tentei observá-los melhor.
Eu quis estar presente em suas vidas, parar de me queixar para
compreendê-los. Viver cada dia com toda a sua intensidade. Meus dias eram muito
preciosos.
Foi aí que pude perceber o quanto estávamos modificados pela dor. Nos
olhares havia algo diferente, compaixão, solidariedade, paciência e alegria por
estarmos juntos, gratidão.
Eu amei estar com eles, os meus familiares. Meus filhos e meu marido,
nossos netos. Pessoas incríveis que sempre repreendi, que sempre acusei, eram
maravilhosos.
Não me faltou nada! No meio daquele caos, pude perceber que recebi muito
mais do que mereci. Deus foi um Pai amantíssimo comigo.
É engraçado perceber o quanto somos ingratos e imaturos. Tal qual
crianças mimadas, sempre queremos o que não podemos ter e eu queria me curar,
mas para quê?
Os dias são incontáveis. Ninguém sabe ao certo quando será o último dia
de encarnado e todos nós, devíamos valorizar cada situação, cada momento e
extrairmos as coisas boas, as lições preciosas que obtemos, mas para isso, é
necessário a conscientização do bom aproveitamento da vida.
Eu notei tudo isso no meio do caos. Fiquei muito satisfeita em perceber
que todos se modificaram para melhor, que todos se apoiaram para cuidarem de
mim. Eu fui muito bem cuidada, valorizada e grata por tudo o que recebi deles.
Não deixei nada pendente. Acho que a vantagem de saber que seu prazo é
curto, é justamente, fazer do seu tempo algo bem aproveitável. Não deixar
palavras malditas, negar abraços, sorrisos ou afagos. Eu me permiti ser
ridiculamente carinhosa com todos eles. Fui piegas porque disse “te amo” todos
os dias e eu me resolvi comigo e com todos.
Foi bom, muito bom. Posso dizer que repensei minha vida várias vezes,
analisei minha conduta e, por isso, me depurei. A dor é santo remédio e a
doença incurável afaga a alma, tornando-a mais viçosa e bela.
Deus sabe o que faz.
Ester
14/07/24
***
“Nada acontece ao acaso. Tudo ocorre diante de uma
força maior, assim, você se torna um pouco mais humano e humilde”
Significou muito aquele amparo. Ter com quem contar, vale muito.
Normalmente, nas horas mais difíceis da vida, nos sentimos desamparados,
sozinhos e não podemos contar com ninguém. Afinal, as pessoas gostam de gente
feliz, bem-sucedida e próspera.
Ninguém quer estar perto de gente doente, pobre e carrancuda.
Mas, nestas horas podemos avaliar quem realmente gosta da gente.
Eu descobri o câncer de garganta aos 45 anos. Claro que eu era fumante.
Fumei muito e meu corpo não aguentou tanto estrago, eu entendi perfeitamente.
Achei que ia passar os últimos momentos da minha vida ouvindo
repetidamente que “me matei aos poucos e merecia aquele sofrimento”.
Eu realmente achei que meus familiares e amigos diriam que eu era
culpada do que estava vivenciando, mas não foi nada disso que aconteceu.
Primeiro que meus amigos sumiram. Quem ficou foram meus familiares, os
mais próximos.
Os outros tinham muitas justificativas para não me visitarem, inclusive,
diziam que sofreriam muito se me vissem tão mal, enfim, sofreriam mais do que
eu que era a doente, pode?
Não é nada disso. Entendo que não faz sentido perder seu tempo precioso
com quem não diz tanto, não se importavam tanto assim para sofrer ao meu lado.
Quando você ama, você sofre, mas sustenta a dor e o sofrimento para
apoiar o outro. Você engole o choro para fortalecer o doente. É assim que você
sofre, ao lado do doente, amparando.
Eu fui amparada, acolhida, cuidada, consolada e amada, muito amada por
meus familiares.
Foi importante ser nutrida por eles.
Acredito que um dos maiores benefícios da doença é permitir esta
aproximação. Eu refleti de maneira diferente e valorizei coisas, momentos e
pessoas de forma diferente.
Eu mudei bastante em decorrência daquela doença. Cada vez que eu tentei
me curar, fiz o tratamento e conheci pessoas guerreiras que desejam viver mais
alguns anos, mesmo que fossem debilitadas ou com restrições físicas. As pessoas
querem viver e fazer os tratamentos mais esquisitos para sobreviverem.
Cada dia é uma luta, é como se não desse tempo. O tempo voa e escorre
pelas mãos. É quando você se certifica que não controla nada na vida. Tudo
acontece independente da sua vontade e tem tanta gente arrogante que garante
que faz e acontece, mas não percebeu que as coisas acontecem com permissão de
uma força maior.
É isso! Nada acontece ao acaso. Tudo ocorre diante de uma força maior,
assim, você se torna um pouco mais humano e humilde.
Vivendo cada dia de uma vez, sem ansiedade, até porque o melhor momento
tem que ser o agora.
Acho que a gente tinha que ser ensinado a viver assim, desde pequeno.
Viver o agora com prudência, respeito e perseverança, extraindo deste momento o
que houver de melhor e mais produtivo.
Eu chorei tanto, chorei à toa. Me precipitei porque não sabia que a
morte não existe. Eu teria ficado mais calma se tivesse esta fé na imortalidade
da alma.
Só mudei de plano e estou muito feliz com tudo o que aprendi, também com
tudo o que recebi das pessoas que amo. Gratidão.
Gabriela
14/07/24
***
“Alguns de nós têm esta sorte muito grande de
aprender com pessoas incríveis”
Fiquei comovido quando olhei para o corpo dela, profundamente
emagrecido. Ela que sempre fora uma mulher bela e cheia de vitalidade, com um
corpo escultural, perdia toda a vivacidade.
Eu notei em seu semblante o constrangimento, como se o que nos unisse
fosse apenas as formas físicas. Eu tinha um amor extremo por ela. Nunca poderia
imaginar que, nos últimos anos, me sentiria ainda mais envolvido por aquele
sentimento sincero e fraternal.
Já não era o amor da adolescência, cheio de ímpeto e desejo, nem o amor
da maturidade com sonhos e idealizações, mas um amor de companheirismo e
lealdade, cumplicidade e harmonia.
Eu ainda a desejava como minha mulher, mas o que mais sentia perder era
a sua companhia, sua amizade de todos os momentos, onde riamos à toa nos
lembrando dos netos e fazendo gracejos sobre tudo o que vivenciamos.
Tivemos uma vida em comum, toda a sorte de termos nos encontrado no meio
de muitas pessoas inertes aos verdadeiros sentimentos das almas. Eu me dei ao
luxo de viver um grande amor.
Minha companheira, minha amiga estava se esvaindo, o corpo mostrando que
a energia se acabaria a qualquer momento e eu tinha dificuldades para aceitar a
separação. Como poderia viver sem a presença dela
Prestei tanta atenção em sua respiração e em seus movimentos que
consegui perceber que ela estava se desprendendo daquele corpo que morria. Sim,
é nítido! Muitos não querem notar, fazem-se de cegos. Se, apenas prestarmos a
atenção, conseguiremos notar o quanto a chama vai se apagando pouco a pouco.
Sumindo até se apagar completamente...
Foi assim, até que um dia, eu senti que ela estava partindo e eu a amava
tanto que não quis ser um empecilho para uma nova oportunidade de vida.
Eu não entendia nada de espiritualidade, mas inconscientemente, tinha a
certeza de que aquele não era o fim, mas uma pausa, ali comigo, para recomeçar
num outro local que eu tinha desconhecimento.
Sofri muito, observei o corpo paralisado e não o reconheci. Sabia que
ela não estava ali, era só a matéria. Minha amada companheira, viveu e
sobreviveu com muita dignidade de caráter. Resignada, cuidando de cada sofredor
ao seu lado, experiente, agradável, delicada com o próximo, apesar de tanta
dor.
Eu jamais vou esquecer de tudo o que aprendi com ela. Alguns de nós têm
esta sorte muito grande de aprender com pessoas incríveis. Aprendemos a sermos
melhores.
A força que eu imaginei não ter dentro de mim para suportar tanta dor,
veio sem grandes esforços, simplesmente apareceu. Deus cuida de tudo.
Celso
27/07/24
***
“As pessoas partem e deixam saudade, mas a certeza
de que Deus permitiu o envolvimento para aprendermos juntos e desenvolvermos o
amor, mas o trajeto de cada um é individual”
Até o último dia, clamei para a libertação daquela enfermidade. Eu
roguei a Deus para que Ele curasse minha mãe. Eu tinha esperanças de que se
curaria e fiz muitos planos.
Eu era imatura, não sabia resolver nada sem ela. Tinha naquela mulher a
imagem de alguém que poderia transpor montanhas para me beneficiar. Nunca
precisei me preocupar com nada, mamãe resolvia tudo. Mesmo após meu matrimônio,
era minha mãe que providenciava pequenos detalhes de nosso lar. Com os meus
filhos, ela comprava roupinhas e escolhia escolas, enfim, ela participava de
tudo, acho até que era ela quem dava a última palavra dentro da minha casa. Mas,
eu estava tão acostumada que não chateava, pelo contrário, eu gostava muito de
tê-la ao meu lado, cuidando de tudo.
Meu esposo fazia gracejos e também não se importava porque ela era muito
decidida e respeitosa, fazia de tudo para nos agradar.
Imagina o que foi para mim saber que ela estava doente...
Eu fiquei chocada, indignada e revoltada. Eu não sabia cuidar de nada e
precisava me fazer de forte para cuidar de todos. Eu achei que não teria
forças, mas minha mãe precisava de mim, então, eu pensei o que ela faria se
estivesse no meu lugar. Tentei me espelhar na postura dela e comecei a atuar
como a minha mãe para cuidar de todos.
Acredito que me saí bem. Foram dias amargos de muito sofrimento. Ela
estava mal e nós sabíamos que os tratamentos da época não eram suficientes para
aquelas células cancerígenas. Eu me desesperei completamente, mas diante dela,
procurava ser forte.
Sabendo que aquele seria o desfecho da nossa história, ela falou comigo
em tom grave, informando o quanto eu havia me esforçado e consegui amadurecer
para beneficiar os familiares. Eu sabia que ela estava tentando me preparar
para o momento final, mas eu não queria ouvir. Eu não queria perde-la.
Quando ela se foi, eu desabei. Achei que aquela dor pudesse me matar, eu
não estava preparada para viver sem ela. Mas, ouvi de minha mãe, momentos antes
de partir, que eu não devia entregar minha vida nas mãos de ninguém. Eu me
acomodava e achava que as pessoas iam suprir todas as minhas necessidades
morais e afetivas. Ela disse que, por isso, eu sofreria. Quando compreendesse o
quanto o caminho de todos é individual, eu sofreria menos a separação, eu a
deixaria livre para partir.
Ouvi de minha mãe que nós não podemos ser egoístas a ponto de forçar uma
pessoa a ficar mesmo estando tão doente, tão cansada.
Eu me lembrei de quando ela disse o quanto evolui, eu amadureci para
cuidar de todos. Eu me senti independente e não doeu tanto. As pessoas partem e
deixam saudade, mas a certeza de que Deus permitiu o envolvimento para
aprendermos juntos e desenvolvermos o amor, mas o trajeto de cada um é
individual. Devemos respeitar o trajeto de cada um.
Larissa
27/07/24
***
“A vida de encarnado é pura ilusão,
no fundo as pessoas valorizam tudo o que é material e esquecem que o mais importante
é o que vai na alma”
Eu estava ansiosa. Esperei por tanto tempo e estava entusiasmada com a
ideia de vê-lo novamente.
Sabia que seria um choque, eu acompanhei momentos da sua vida nos
últimos anos.
Eu tinha muito a falar, eu fiz planos e havia obtido uma autorização,
estava tão feliz. Mas, sabia que precisava ter paciência e aguardar o melhor
momento para conversarmos.
O orientador me falou muitas vezes que é sofrido para todos que
retornam, mas eu nem me lembrava.
É um pouco confuso porque eu sabia que as pessoas sentiram minha
partida. Eles sentiram saudades e até se sentiram culpados. Sei lá, todo mundo
sempre quer culpar alguém, a equipe médica, os cuidados que recebi em casa, culparam
até a Deus, dizendo que era uma covardia tirar a vida de uma moça tão jovem,
mas que blasfêmia!
Deus não tem nada com isso não. São nossos planos, eu desejava cumprir
meus objetivos e retornar logo. Eu tinha muito a fazer e não queria ficar
perdendo tempo com aquela vida sem sentido. A vida de encarnado é pura ilusão,
no fundo as pessoas valorizam tudo o que é material e esquecem que o mais
importante é o que vai na alma.
Eu não queria me comprometer mais ainda, então preferi retornar assim
que tivesse me reconciliado com aqueles familiares. Enfim, deu tudo certo, eles
nutriam apreço por mim, estava na hora de regressar.
Aquela doença incurável foi minha passagem de volta para cá, onde eu
podia continuar a viver como eu amo. Fazendo muito aprendizado, estudando,
fazendo viagens e trabalhando com tanto prazer. Mas, quem me viu sofrer, fazer
o tratamento sem sucesso e a cirurgia para não sair da mesa, ficou muito
indignado. Queria processar o médico e o hospital. Mal sabiam eles que eu
escolhi e fiquei feliz por ser atendida.
Depois de algum tempo, todos voltaram para suas vidas normais, apesar da
saudade. Houve um momento em que quase não se lembravam mais de mim. Não fiquei
chateada não porque sei que pessoas compromissadas devem disciplinar seus pensamentos,
eu também vivia assim.
Mas, quando soube que meu primo estava retornando para esta colônia,
fiquei muito eufórica. Eu sempre gostei dele, mas não poderia imaginar que
estávamos tão próximos deste lado.
Enquanto nossos familiares passavam novamente por sofrimentos terríveis
presenciando o câncer levar mais um jovem embora, eu estava feliz aguardando o
seu regresso.
É sempre assim, uns choram, outros dão gargalhadas.
Preparei uma bela recepção de boas-vindas. Eu estava muito animada para
pôr em pratica nosso novo planejamento, eu formaria uma família com ele. Seria
fascinante! Por ele, eu estaria disposta a viver muitos anos na carne, naquele
mundo cheio de ilusões e fascínios. Por amor!
Karina
27/07/24
***
“Calma!
Olha para o céu e saiba que ninguém está sozinho”
Todos sofredores! Mas, a forma de enxergar a vida permite que o
aprendizado seja inovador.
Tudo depende dos olhos de quem vê. A maneira como compreendemos as
injustiças da vida e a forma de passar pelas provações podem beneficiar muito o
sofredor.
Eu vi sofredores por toda parte e chorei em muitas fases de minha vida
imortal. Crianças e jovens, idosos e protetores, todos sofrendo, cada um à sua
maneira.
Dotados de serenidade e fé, compadecidos, entristecidos, enfurecidos.
Cada um com uma linguagem e adoração. Fazendo rituais, promessas, acendendo
velas, rezando terços, ajoelhados. Todos clamam pela salvação, pela solução.
Desejam amparo e paz.
As pessoas querem dinheiro, amor, saúde, conforto, esperança. E sofrem
quando não têm o que almejam.
Eu vi sofredores por toda parte.
Ouvi seus lamentos e muitas vezes não consegui compreendê-los. Parecia
tão fácil resolver a tribulação. Mesmo na morte encontramos a vida, a solução.
Nada está perdido! Mas, alguns sofriam em demasia e choravam,
reclamavam, se debatiam tanto que não percebiam quando o auxílio chegava. É assim
que o sofrimento parece não ter fim.
O desespero toma conta e a pessoa não percebe que o benefício chegou.
Calma! Tem calma que o sofrimento vai passar.
É sempre só uma fase da vida para nos testar. Testar sua fé, resignação
e boa vontade, humildade, altruísmo e humanidade.
Calma! Olha para o céu e saiba que ninguém está sozinho. No meio do caminho sempre tem uma luz!
Lima Consuelo
27/07/24
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