Cartas de Dezembro (13)


“Sem espiritualidade somos vazios”

Eu estava cheia de ilusões. Passei a maior parte da vida atordoada, sem compreensão da verdade definitiva, do que era realmente importante e deixei conduzir pelos fascínios da matéria.

Imensamente preocupada em querer agradar, quando na verdade, eu era tão vaidosa que não suportava que me apontassem as falhas. Foi tão desgastante!

Todos os anos, eu me arrastava para locais abarrotados e me inclinava a exaustivas compras para agradar uns e outros, para ostentar, deixar bem claro que eu podia sustentar aquela vida incomoda e sem propósitos. Comprava roupas e sapatos para meus familiares posarem nas fotos e sorria como se estivesse totalmente preenchida com os melhores sentimentos.

Comprei tantos presentes, perdia horas imaginando o que os familiares e amigos iam gostar, mas em cada entrega, eu via nos olhos deles que, aquele presente, não significava nada. Por mais que me agradecessem, aquele embrulho ficava de lado, esquecido.

Eu me preocupava com cada detalhe da festa majestosa. Pratos ricamente decorados, uma mesa tão farta. A casa enfeitada e luminosa, mas todos pareciam tão alheios e distantes com suas conversas cheias de frivolidades e hipocrisias.

Eu não aguentava mais. Todos os anos eram cansativos e superficiais. Eu queria tanto que fosse como no tempo dos meus avós... O Natal encantador dos avós que contam histórias e dão abraços apertados. A casa da fazenda me trazia tantas lembranças. Era tudo simples, a avó preparava com muito prazer e tinha carinho, tanto carinho que sentíamos em cada palavra, em cada olhar que aquele Natal representava o contato amoroso dos seres humanos diante de Jesus.

Eu sabia que o Natal devia ser o encontro com Jesus nascendo dentro de nós, mas eu já havia me distanciado tanto dele. Eu não me lembrava mais das histórias da avó sobre Jesus. Eu não havia apresentado Jesus para os meus filhos e aquelas festas, em nada, tinham o grande efeito que Jesus devia produzir nas pessoas. Estavam muito distantes do verdadeiro Natal.

Depois daquela festa, eu me sentia cada vez mais vazia. Eu me sentia uma pessoa fria que vive por viver, sem finalidade ou objetivo de vida. Chorei porque me vi sozinha. No meio daquela pequena multidão de pessoas bem arrumadas com taças na mão. Eu chorei porque compreendi que nada temos a esperar de um ambiente frio onde ninguém tem algo bom a oferecer.

Sem espiritualidade somos vazios, secos, como a figueira estéril. Eu não daria frutos e me senti mal com isso, extremamente cansada e ofendida comigo mesma.

Quando um ano passou e eu refleti diante da minha frivolidade, não quis passar por mais uma festa inútil. Eu preferi ficar em casa. Lembrei dos meus avós e estranhamente declarei aos familiares que faríamos diferente. Eu abri o Evangelho de minha avó e li para que todos prestassem atenção. A casa não estava decorada, eu nem havia comprado presentes, eles ficaram perplexos, mas ouviram atentos. Eu li sobre o nascimento de Jesus e compreendemos o quanto precisamos ser simples. Estarmos ligados a Jesus com o coração aberto, permitir fazer uma união sincera com ele e compreendermos a necessidade do seu nascimento na Terra e dentro de nós.

Conversamos muito, estabelecemos alguns limites e necessidades para nos sentirmos pessoas mais integras e completas, sem ilusões ou relacionamentos fúteis que se baseiam nos benefícios materiais. Eu precisava sentir a espiritualidade nos envolvendo e necessitei que nos fizéssemos mais simples e humildes.

Pensei que, apenas eu, me sentia assim, mas meus filhos concordaram e meu esposo chorou. Depois disso, passamos a frequentar a igreja. Nossos dias de Natal nunca mais foram os mesmos porque se estabeleceu em nós o contato íntimo com Jesus e nos esforçamos para viver com a retidão que ele orientou. Assim, o Natal se tornou uma data importante para a união familiar com Jesus, reforçando nosso contato com ele, favorecendo para que estivéssemos ligados aos propósitos de caridade e amor fraternal. Fez toda diferença mudar o clima do Natal.

 

Laura

17/12/23

 

“Na dor, nos tornamos mais maduros e francos”

“Que a luz de Jesus se faça presente no seu lar”

 

 Eu não convidei porque não estava pronta para perdoar. Naquele momento, achei um absurdo a forma como ele se fez presente em minha casa. Aparecer sem ser convidado?

Mas, meus pais intermediaram, disseram que eu devia perdoar meu único irmão no Natal. Eu fiz vistas grossas e fingi para não ser mal interpretada diante dos meus amigos. Mas, no fundo, eu não nutria um sentimento fraterno por ele. Meu irmão, parecia estar aliviado quando eu disse que estava perdoado. Ele sempre foi muito diferente de mim, mais emotivo.

Eles se entreolharam e ficaram comovidos, sorriam e dançaram como se a vida dependesse disso, daquele perdão. Achei um tanto forçado e desnecessário, mas deixei passar.

Os meses se seguiram e meu irmão apresentou graves problemas de saúde, foi internado e meus pais estavam desesperados. Quando questionei por que daqueles sintomas agressivos, eles disseram que ele já sabia que o câncer estava em estágio terminal. Falaram que o meu perdão fez com que ele sorrisse aliviado porque não queria morrer brigado comigo.

Eu não estava esperando tanta franqueza, fiquei abalada e me arrependi, afinal, o que ocorreu conosco não era tão sério para que eu negasse o perdão e ele se sentisse tão infeliz. Por que eu fui tão dura com ele? Por que não me deixei tocar pelo espírito do Natal para fortalecer os laços de amor com meus familiares?

A vida é um sopro! Dois meses depois, meu irmão desencarnou e eu pude ter uma conversa franca com ele antes dos momentos finais. Eu senti o pesar irremediável porque ele nunca foi má pessoa e nós podíamos ter vivido dias alegres se eu tivesse tido mais amor no coração. Por que se perde tanto tempo com bobagens, com poses e necessidades de dizer quem está com a razão?

Ele desencarnou e eu pensei: quantas pessoas teria que ver partindo para considerar que eu os amava? Quantas vezes eu teria que me sentir solitária para fazer o bem e demonstrar meus sentimentos?

Abracei meus pais e meus filhos, dei a mão para meu esposo e agradeci a Deus por ter compreendido o quanto a família é laço sagrado. Naquele Natal, eu me lembrei do meu irmão quando eu disse que o perdoava, mesmo que da boca para fora, ele ficou feliz e aliviado. Mudei a forma de vivenciar o Natal, lembrei de Jesus e deixei tudo simples, cheio de sinceridade e ligações de amor. Estávamos saudosos e condoídos com sua partida, mas eu me transformei depois daquela separação. Na dor, nos tornamos mais maduros e francos.

Se você tem assuntos mal resolvidos com seus familiares, aproveite esta data especial, quando os corações estão mais abertos e as energias propícias para a reconciliação, estenda a mão, dê um abraço. Às vezes, as palavras são desnecessárias, mas procure se envolver deixando claro que tudo o que importa é a paz e a boa convivência para que a fraternidade reine nos ambientes familiares.

Que a luz de Jesus se faça presente no seu lar.

 

Ivonete

17/12/23

 ---Psicografado por Paula Alves---

 






“Que você possa ser tocado pelas energias contagiantes do Natal e iniciar suas tarefas enobrecedoras ajudando alguém”

 

Eu não tinha como proporcionar uma linda festa em família na noite de Natal porque eu precisava trabalhar. Na casa da minha patroa, as festas eram glamurosas, cheia de requinte e sofisticação, nós ganhávamos muito bem para servi-los no Natal.

A primeira vez, fiquei impressionada com os exageros. Comidas ricas, caras e muito apetitosas. Convidados lindos, bem vestidos e cheios de joias, carros luxuosos, a mansão ficava tão linda e iluminada. Até os serviçais ficavam mais arrumados. O trabalho era intenso, nada podia dar errado, nenhuma taça quebrada ou talher mal polido. Tudo devia estar perfeito!

Era cansativo ver como o Natal deles era uma fachada. Não tinha emoção. Nada que me fizesse lembrar o Menino Jesus, em nenhum momento eles expressavam consideração pelo Salvador. Falavam de contratos e ligações financeiras, ostentavam, riam, zombavam, comiam e dançavam, alguns passavam da conta e brigavam, saiam enfurecidos, mas não tinha nenhuma prece, nenhum ato de caridade.

Nós terminávamos as tarefas ao raiar do dia, depois de colocar a mansão em ordem. Eu seguia rumo a minha casa simples e antes de dormir observava meus queridos familiares que ainda estavam dormindo, minha mais preciosa fortuna...

Aqueles quatro foram a minha razão de viver. Eu colocava os presentes dos três filhos amados na pequenina árvore de Natal e ia dormir um pouquinho com meu esposo. Logo eles acordavam e começavam a gritar, achando que o Papai Noel tinha surgido como por encanto depositando os presentes na árvore para agradá-los, mal tinham conhecimento dos esforços que os pais faziam para sustentar a ilusão.

Eu acordava satisfeita em ver aqueles olhinhos radiantes e me punha a preparar nossa ceia para o almoço de Natal. Contemplei minha cozinha rústica e a comida tão simples que eu tinha para preparar. Eu fazia tudo com tanto esmero que virava um verdadeiro banquete. Meus pequeninos faziam questão de orar, chamando Jesus, exaltando aquele que fora o mais iluminado dos seres de Deus. Eu sempre chorava de tanto contentamento e pensava: “eles não fazem ideia de como é o verdadeiro Natal”.

Eu agradeci tanto por aquelas datas de luz quando nos envolvíamos uns com os outros e também com Jesus. Nós precisávamos daquelas datas especiais para refletir nos verdadeiros valores cristãos e nos nossos passos no mundo.

Eu e meu esposo já tínhamos passado por muita dificuldade e nos comprometemos a amparar alguns irmãos no Natal. Após o almoço, saiamos para distribuir alimentos e isso nos impulsionou na vida durante muitos anos. Quando os meninos estavam crescidos e já haviam aprendido conosco o sentido do Natal, pudemos nos inserir em locais caritativos e estarmos mais disponíveis aos trabalhos de auxílio aos necessitados. São muitos sofredores, muitos que precisam de ajuda durante o ano todo, mas o Natal deve nos unir no amor de Cristo.

Que você possa ser tocado pelas energias contagiantes do Natal e iniciar suas tarefas enobrecedoras ajudando alguém.

 

Simone

17/12/23


---Psicografado por Paula Alves--

 






“Aquele que segue inspirado por Jesus, consegue operar a mudança construtiva”

  

Se eu não fosse um covarde ligado ao vício do álcool não teria padecido tanto... Achei que eles se esqueceriam de mim e nunca mais teria contato com eles. Naquela noite, eu vi quando os familiares se abraçaram e desejei estar em casa, senti saudades dos meus filhos e dos cuidados que eu recebia da minha amada esposa.                            

Foi muita arrogância da minha parte achar que eu não precisava de ninguém. Até tentei, mas minha vida ficou muito pior. Perdi o emprego e não pude pagar a pensão, fui parar na rua. Tive vergonha que alguém me reconhecesse, eu me escondia quando algum conhecido passava por mim.

Mas, eles me procuraram, eles insistiram e quando ouvi chamarem o meu nome naquela noite, pensei que estivesse delirando. Meus filhos correram ao meu encontro e não tiveram nojo de mim. Eles me abraçaram e disseram: “Vamos para casa, pai”.

A Maria só me olhou e balançou a cabeça num afirmativo. Eu segui com eles, reconhecendo que eu precisava de ajuda. Nem sei dizer o que foi melhor...

O banho, o contato físico, me ver no espelho sem aquela cabeleira terrível depois do corte de cabelo que meu filho fez. Eu coloquei minhas roupas limpas e cheirosas, me sentei na mesa, comi, fui acolhido como uma pessoa.

Eles não cobraram satisfação, ninguém quis revidar ou relembrar dos acontecimentos porque o perdão é tolerante e indulgente. O Natal foi envolvente, eles estavam mudados e mais religiosos, eu quase não reconheci pela maneira que se comportavam e como oravam cheios de espontaneidade.

Eu me senti desconfortável porque não tinha intimidade com o Jesus que mencionaram. Como podiam afirmar que o conheciam, que o seguia? Eles o chamavam de Mestre e Senhor, eu nem ouvia falar dele. Mas, me senti envolvido por aquelas histórias, foi como se um estranho contato me preenchesse a alma. Eu desejava sentir a paz que eles irradiavam. Foi por isso que eles me encontraram e estavam cheios de misericórdia, por causa deste Jesus.

Naquele dia, naquele Natal, Jesus nasceu em mim e eu desejei que ele tomasse posse da minha vida para que pudesse ser pessoa nova na Terra. Eu me esforcei para fazer parte daquela família, consegui reconquistar o respeito e consideração daquelas pessoas que me desejaram como ente querido. Eles não colocaram obstáculos, nem pediram promessas ou mudanças, eles me acolheram novamente no lar, confiando que a espiritualidade me envolveria na mudança necessária e eu consegui.

Aquele que segue inspirado por Jesus, consegue operar a mudança construtiva.

 

José Eduardo

17/12/23

 ---Psicografado por Paula Alves---






“Se em cada olhar pudéssemos reconhecer o amor e a paz de Cristo...”

 

 Eles ficavam felizes. Em cada rostinho podíamos ver o contentamento quando aquele antigo trabalhador entrava no salão vestido de Papai Noel. Como podíamos desperdiçar estas ilusões?

Todos nós éramos pessoas simples, mas nos esforçávamos para comprar presentinhos para todas aquelas crianças que já passavam por imensas dificuldades por terem sido rejeitadas pelos genitores. Cada um dos trabalhadores daquele local, fazia o seu melhor para fornecer uma linda festa de Natal.

Eu deixava tudo preparado na minha casa um dia antes e pedia licença aos amados familiares, mas me comprometia com a festa daquelas crianças sofridas. Aos poucos, meus familiares compreenderam e me seguiram no trabalho de luz, eles trabalharam comigo, preparando o almoço e ajudando a embalar os presentes. Foi cansativo, mas muito gratificante saber que o bem pode sair de dentro de nós e envolver a nossa família nos bons propósitos.

Os pequenos abraçavam Papai Noel e corriam felizes para pegar os embrulhos com brinquedos que tínhamos comprado com uma parte do décimo terceiro. É estranho perceber que, na maioria dos casos, são os mais simples que fazem esforços para ajudar os desfavorecidos. Deus deve saber bem destas coisas e nos fornece uma dose de amor e outra de boa vontade.

Muitas daquelas crianças, quando cresciam, falavam sorrindo que o Natal foi a melhor ilusão que tiveram. O Natal permitia que tivessem tanta alegria para ter esperança o ano todo. Se o Papai Noel aparecia, então, os pais também podiam aparecer. Mas, os pais não voltavam e eles seguiam, depois de maduros, firmes nos ensinamentos de Jesus.

Nós fazíamos questão de atrair o olhar e a presença de Jesus usando o seu Evangelho. Fazíamos a festa para encantar as crianças, sem esquecer do homenageado. Eu queria mudar a condição daquelas crianças e jovens. Sempre orei, mas no Natal minha oração ganhava força extra e eu pedia para que todos pudessem receber um lar, ter a oportunidade de se sentirem amados.

Seria muito bom se as pessoas soubessem amar como Jesus nos pediu. Se colocando no lugar dos outros, não permitindo que houvessem injustiças, abusos, discriminações, ofensas, desmandos. Que cada um pudesse sentir a dor do outro e se esforçar para dissolver as tribulações. Pessoas mansas e cordiais que se envolvessem estendendo a mão. Não precisarmos temer ou fugir, apenas nos envolvermos com sinceridade.

Se todos fossem como Jesus...

Se em cada olhar pudéssemos reconhecer o amor e a paz de Cristo...

Eu só podia ser para os outros a pessoa que desejava encontrar no meu caminho. Que cada um pudesse enxergar em mim, a irmã que Jesus considerou. Eu seria a presença de Jesus diante de todos. Eu faria todo esforço para ser a imagem de JESUS no meu lar e no ambiente de trabalho. Eu seria a luz que ele orientou que fossemos.

Vivi durante muitos anos, sentindo a satisfação de servir a Deus com os exemplos de Jesus. Posso dizer que tive uma vida plena, cheia de edificação e alegrias. A melhor maneira de viver neste mundo, apesar de todas as tribulações, é seguir as diretrizes de Jesus.

 

Nice

17/12/23




“Amem-se uns aos outros como eu os amei”

 

Naquele ano, eu estava diferente, nascia em mim uma certeza de que dias melhores estavam por vir. Eu ouvi o cântico de Natal. Eu me lembrei das histórias que a mãe contava. Lembrei do Jesus que salvava vidas e eu desejei ser salvo por ele. Ali mesmo, na praça, envolvido com cobertores mal cheirosos, eu quis ser salvo e ter minha vida transformada por ele.

Então, me lembrei de orar, quase havia me esquecido do “Pai Nosso”, mas eu lembrei da minha mãe orando comigo, dando a certeza de que eu não podia me afastar do Pai e do Filho.

Eu vi quando muitos saíram da igreja, abraçaram-se, todos bem vestidos, felizes, convidando para a ceia, fazendo planos de um ano bom. Ninguém me viu, eu estava na escuridão, ninguém notou que eu também fazia parte daquela cena, eu era o irmão desvalido do qual ele tanto falara, mas eles não me notaram e partiram.

Eu senti o buraco fundo do estômago com fome, mas já tinha me acostumado e pensei em dormir para esquecer da sensação angustiante. Eles deviam estar comemorando em seus lares bem arrumados, cheios de luzes, com árvores de Natal, mas eu não devia ficar pensando naquilo que não tinha, naquilo que não era meu.

Quando estava cochilando, ouvi passos na minha direção e temi. Quem eram aquelas pessoas que pareciam assustadas?

Ela me estendeu a mão e vi em seus olhos a bondade que parecia falar muito, mas em silencio ela me entregou um prato na noite de Natal.

“Deus abençoe sua vida e seu propósito de prosseguir” — falou ela se afastando.

Eu peguei o prato e nem soube o que dizer. Eu sorri com os olhos lacrimosos e quando eles partiram, me apressei para desembrulhar o prato, senti o cheiro bom. Era simples, nada demais, porém o cheirinho, lembrou a comida da mãe. Novamente ela, sempre ela, minha mãe foi a criatura mais abençoada que conheci.

Eu comi com tanto gosto, senti que minhas forças voltaram e pensei no meu propósito de vida, meu propósito de prosseguir. Eu estava me entregando para a derrota, fracasso da inércia. Eu não precisava ser mais um indigente na rua. Por que me privar de um futuro? Eu estava me deixando entregar para uma vida de ruina. Escolhas minhas. Então, adormeci e sonhei com ela. Minha mãe dizia para eu me reerguer. Não seria fácil porque as pessoas não têm olhos para ver, mas Deus iria me conduzir para o restabelecimento moral.

Eu acordei cheio de ânimo e busquei ajuda no albergue, falei com a assistente social. Recebi ajuda e, mesmo não sendo fácil, consegui me libertar das amarras que me impediam de caminhar no mundo. Depois de alguns anos, fiz questão de falar naquela igreja de tudo o que recebi na noite de Natal.

Aquele pratinho, abriu as portas da esperança e da fé. A partir daquela oportunidade, consegui reestruturar minha vida e decidi ajudar tantos como eu. Foi um trabalho social que durou cerca de trinta anos. Nós levamos alimentos na noite de Natal, pratinhos feitos de amor para dar esperança e fé àqueles que são invisíveis na sociedade.

Pessoas que estão por toda parte e precisam de apoio e acolhimento para que tenham forças de reestruturar-se, buscando soluções para sua vida. Ninguém gosta de viver na rua, com fome, frio e enfermidades.

A chaga da sociedade é o egoísmo. Pessoas bem vestidas que se dizem cristãs e só aproveitam o Natal para ostentar o que conseguiram adquirir durante o ano. Jesus é o convidado de honra do Natal, ele é o protagonista, no entanto, foi ele que disse: “Amem-se uns aos outros como eu os amei”.

Em nome deste amor, cada um deveria fazer as melhores ações, ao menos, na noite de Natal.

 

Alonso

10/12/23

 







“Eu consegui ter minha vida de volta após ganhar esperança na noite de Natal”

 

Eu não queria ir para o albergue. Tinha esperança de que meus familiares iam me buscar. Eu tinha esposo e filhos, eles deviam me buscar, mas já fazia tanto tempo desde que a vizinha me viu e debochou de mim, falando que ele já tinha posto outra no meu lugar.

Eu estava com fome e com muito medo de ficar ali, mais uma noite, tem de tudo na rua. Violência, estupro, crueldade. Eu sentia saudade de tudo, de todos e me arrependi da maluquice que cometi. Eu o traí, eu fui leviana e mereci o que ele me fez, jogar na rua, expulsar da própria casa. Meus filhos tinham vergonha de mim, meu marido disse que nunca mais queria me ver. Eu entendo que errei e me arrependi.

Mas, a assistente social disse que eu devia seguir com eles e receber uma oportunidade de mudar de vida. Tomar um banho, comer uma refeição decente e dormir na cama limpa. Eu devia fazer escolhas que me permitissem prosseguir.

Ela estava certa, eu precisava de ajuda. Eles não vinham me buscar, nem no Natal. Então, segui com ela, envergonhada do meu cheiro, eu nunca mais tomei banho, estava arruinada, numa imagem deplorável de mim mesma. Como permiti que as pessoas arruinassem minha vida daquela forma? Eu me arruinei, mas jamais podia receber o perdão? Seria condenada para sempre?

Eu fui para o albergue, eles cantaram músicas de Natal e eu chorei porque me lembrei que me afastei de Deus, nunca solicitei a assistência de Jesus. Quando pude ser uma pessoa correta, me entreguei aos desatinos da matéria, vivi uma vida de prazeres e desejos materiais. Não pensei em tudo de bom que Deus me entregou e joguei fora as preciosas oportunidades.

Eu senti no fundo do coração que tinha forças para mudar de rumo, eu podia melhorar, dependia da minha boa vontade. Ela me ajudou, a assistente social conseguiu me reinserir na sociedade e eu me esforcei com todas as forças que existiam em mim.

Após alguns meses, eu já estava morando numa pensão e estava trabalhando, me arrumei e resolvi procurá-los. A aparência estava modificada, bem melhor, nem de longe o aspecto da moradora de rua. Readquiri bons modos e postura cidadã, levei guloseimas que as crianças adoravam e falei com meu ex esposo no portão. Ele se recusou a me receber, disse que a nova companheira se sentiria constrangida e pediu para eu me retirar. Eu fiquei indignada, mas não arrumei briga.

Procurei a assistente social que me orientou a procurar um advogado. Foi um longo período em busca de reaver a guarda dos meus filhos, trabalho incansável, comprei uma casinha e consegui a guarda das crianças que já estavam crescidas.

Tudo começou na noite de Natal. Acho que ficamos envolvidos com o clima harmonioso que nos faz recordar do amor daquele Nazareno. Amor este que está extinto nesta Terra. Eu recebi acolhimento, orientação e apoio daquela assistente social, jamais vou me esquecer de tudo o que ela fez por nós.

Muitas vezes, nós precisamos, apenas de alguém para nos dar a mão deixando claro que ainda podemos caminhar. Daí, é só seguir em frente, transpondo os obstáculos que podem surgir. Eu precisava me lembrar que Deus é Pai de todos. Precisei ter uma ligação íntima com Jesus para sentir que eu podia me reerguer. Eu consegui ter minha vida de volta após ganhar esperança na noite de Natal.

 

Solange

10/12/23

 



Eu me preocupei com o “silêncio dos bons”

 

Eu inspirei para que eles pudessem observar tantos que precisavam de ajuda. Alguns me ouviam, mas decidiam não fazer nada. Entendo, é mais fácil não fazer nada. Eles pensavam muitas coisas para continuarem omissos: “não tenho nada a ver com a miséria do mundo”, “ajudar uma vez no ano, não faz diferença nenhuma”, “eu não vou mudar a condição social de ninguém, então, por que me incomodar?”

A maioria se esquivava de prestar auxílio. Eu me preocupei com o “silêncio dos bons”. O que seria do mundo se as pessoas não percebessem o quanto são importantes umas para as outras? Se elas ficassem cegas e surdas, indiferentes às necessidades alheias?

Mas, eu não podia parar e continuei a inspirar. Nós somos muitos...

Equipe de Espíritos que se envolvem com todos no Natal. Propósito de incentivar a propagação da fé e do bem coletivo que se inicia com a lembrança do amado Mestre Jesus e segue por todo o ano que se inicia.

Existem muitos encarnados que são tocados nos seus mais nobres sentimentos e se comprometem com a mudança de atitude viva e acalentadora. Eles se comovem tanto que deslancham de fazer o bem, como um vício contagiante que os envolve por toda a vida. Aquele que sente na alma a energia enriquecedora da boa ação, não consegue parar de produzir o bem. Nós envolvemos muitos cristãos, muitas pessoas que se transformaram com o trabalho que distribuímos no Natal.

Pessoas que levavam a ceia, mantas e o principal, falavam do Mestre, entregando o alimento espiritual que move o ser na trajetória do progresso. Eles se preencheram do amor de Jesus e mudaram suas vidas.

Aqueles que nos ouviam e, tímidos, meio desconcertados, entregam os benefícios, saiam com luzes que brotavam no meio do peito. É um espetáculo belíssimo de se apreciar. Encarnados que se iluminam no Natal e preparam seus fluidos e espiritualidade para atuar no ano nascente. Vários pequenos pontos de luzes como sinalizou o Mestre. Eu chorei. Desejei realizar aquela tarefa por muito tempo só para ter esperança na Humanidade. A mesma Humanidade que ele tanto amou. Seres encarnados que tantos podem desmotivar e eu aprendi a amar. Sabem fazer tanto bem quando estão dispostos a fazê-lo...

Que você também possa colaborar neste Natal. Com um pratinho material e uma oração na Noite de Natal. Deixem seus lares enfeitados e possibilitem que um irmão se encha de esperança e permita-se iniciar modificação em nome de Jesus.

Sei que você também pode ser um ponto de luz.

 

Tarcísio

10/12/23

 


“Natal seria uma data oportuna para estar com Jesus e reavivar seus projetos de levar amor a todos os lugares”

Naquele dia, as vendas foram fracas demais. Eu estava esperando vender muitos bolos para o Natal, mas foi estranho ver que eles estavam todos ali. Deu meu horário de fechar a loja e eu fiquei penalizada de ver que tudo seria perdido porque não poderia vender depois do feriado, então conversei com minha sogra, ela era cristã das mais fervorosas.

Eu pensei em distribuir no bairro carente. Logo ali, pertinho de nós, local onde residia nossa auxiliar em casa. Minha sogra ficou radiante, chamei minha auxiliar — Lurdinha, ela ficou tão feliz. Levei todos os bolos e começamos a entregar. Então, se aproximou uma criança e perguntou:

— Tia, este é o bolo de Jesus? Pra cantar parabéns para o aniversariante?

Eu permiti que escapassem umas lágrimas tímidas e respondi que sim, aqueles eram todos os bolos de Jesus.

Comecei a fazer os bolos para Jesus sem saber e inspirada por aquela garotinha, todos os anos nós distribuíamos bolos no Natal. Eu aprendi a valorizar a espiritualidade naquela vida. Aprendi a respeitar os propósitos de Deus em tudo o que eu fazia e questionei se as pessoas também não enxergam como eu não enxergava.

Acho que estão muito envolvidas com suas necessidades materiais e se esqueceram do intuito real do Natal. A grande maioria comemora por comemorar porque nem sabe quem é Jesus. Se não reconhece Jesus e não se identifica com ele, nem precisava comemorar. Na maior parte dos lugares, ninguém comemora como deveria. Só pensam no Papai Noel e mesa farta. É tanta comida cara, tanto desperdício, muito vai para o lixo, enquanto tem tanta gente passando privação de todo tipo o ano todo.

Se considerassem Jesus, aproveitariam a data para planejar um jeito de ser servo. Um jeito de propagar suas palavras e aliviar o sofrimento alheio, aí sim, este Natal seria uma data oportuna para estar com Jesus e reavivar seus projetos de levar amor a todos os lugares.

Eu iniciei meu trabalho com Jesus sendo inspirada pelos bons Espíritos e esclarecida por uma garotinha. Depois disso, eu me transformei numa cristã de fato e me esforcei para fazer boas ações o ano todo.

Eu desejo que seu Natal, seja enriquecido pela presença do Mestre, mas ele só estará presente no seu lar se estiver sendo atraído por seus bons propósitos.

 

Zuleica  

10/12/23 

 

“Para que a autorrealização aconteça precisamos impulsionar a nós mesmos”

 

Eu fui um covarde. Sempre tive medo do que as pessoas iam dizer e do quanto iriam me ridicularizar por meus fracassos. Imaginando que estavam comentando sobre mim, achando que estavam me menosprezando e, no entanto, era eu que me menosprezava, me achando inferior.

Tive o maior orgulho dos meus irmãos, da maneira como eram estudiosos e ousavam para conseguir atingir seus objetivos. Eles eram astutos e esforçados, por isso, sempre conseguiram vencer na vida, mas eu não, acuado e tímido, tinha medo de falar e ser ouvido, esnobado. Eu não queria ouvir que não fui bom o suficiente ou que a vaga não era para mim. Eu tinha tanto medo de fracassar que não ousava tentar.

Perdi muitas oportunidades, sempre me coloquei em cargos pequenos porque achei que não podia ficar com as melhores oportunidades da vida. Até nos relacionamentos, eu não ousava falar com a moça mais bonita, a mais popular, sabia que ela nunca me daria bola.

Até que eu conheci a Samanta e ela me fez olhar dentro do meu ser, refletir porque eu tinha síndrome de inferioridade. Naquela hora, eu estranhei a franqueza dela, dizendo de forma tão natural que eu nunca assumiria posição de destaque ou buscaria algo melhor porque eu me colocava como inferior de todos.

Refleti no que ela falou e concordei, eu jamais me consideraria bom o suficiente e isso não era humildade, mas inferioridade. As minhas lembranças mais longínquas já me faziam acreditar que sempre fui deste modo. Seria algo de outras vidas? – perguntei.

Ela não sabia o que responder, mas informou que eu precisava resolver para não me frustrar pelo resto da vida, diante de tudo o que poderia perder. Pensei e pensei, achei importante procurar um terapeuta. Tive um tratamento muito bom, me transformou numa pessoa quase normal. Me beneficiou tanto que pude assumir compromissos com mais autoridade, me envolvi em relacionamentos duradouros, recebi uma promoção no trabalho, eu fiquei muito satisfeito com o progresso que tive por causa do aprimoramento pessoal.

Quando cheguei aqui, depois de ter vivido muito tempo como ser encarnado, tive a oportunidade de compreender tudo o que se passou. Na existência anterior, eu fui mulher e recebi como cônjuge, um marido tirano e machista. Ele não gostava de ser contrariado e nem tolerava que eu tivesse opiniões no lar. Comia, o que ele me permitia comer. Vestia, o que ele me permita vestir. Cheguei a abortar alguns filhos por causa da intolerância deste marido. Eu não tinha forças para agir contra a sua vontade.

Por mais que eu quisesse, vivi submissa naquela casa, naquele casamento por mais de quarenta anos e, depois de tanto tempo, eu me acostumei com a vida de serva. Alguém que não tem que gostar de nada, não tem desejos ou vontade própria. Age segundo as ordens do marido e se cala para não contrariar ou irritar. Fica sempre em silêncio para não incomodar o dono da casa.

Nós nos acostumamos com tudo nesta vida. Eu me acostumei a ser assim. Eu, simplesmente existi. Inferiorizada, tão diminuta que levei para outra vida esta condição de ser pequena, apagada, ou até invisível.

Quando renasci com outras características e possibilidades, a mente ainda estava acostumada a pedir licença até para pensar. Eu quis ser uma pessoa independente e capaz, mas havia algo que me impedia, era a minha mente. O bloqueio estava em mim.

Nós devemos considerar que, muitas vezes, o impedimento está dentro de nós. Quando temos a possibilidade de progredir e buscar posições de destaque, condições melhores de vida, acreditamos que não somos capazes. Nós sempre pensamos que as outras pessoas têm maior capacidade que nós e, nem mesmo, tentamos. Mas, por que não pode ser meu? Por que esta chance de progresso não pode me pertencer se eu sou trabalhador e esforçado como tantos outros? Eu preciso me permitir crescer e evoluir, avançar.

Sou eu quem pode me colocar numa posição de destaque e melhores condições de vida. Seja você a pessoa que te coloca pra cima, que te incentiva. Para que a autorrealização aconteça precisamos impulsionar a nós mesmos.

 

Claudemir  

03/12/2023

 






“Quando é que eu podia imaginar que reclamar faz piorar a vida difícil?”

 

Eu não suportava mais arrastar aquela carroça miserável. No fim do dia, o dinheiro era pouco, nem dava para comprar comida para todos. Eu sentia vergonha e me sentia humilhado diante da família, por isso, comecei a beber e procurar um motivo para chegar em casa cada vez mais tarde. O que eu poderia dizer? Falar que, mais uma vez, eu não tinha como alimentar todas aquelas bocas que dependiam de mim?

Sei que fiz tudo errado. Sei que não justifica tudo o que fiz meus familiares passarem. Eu me coloquei no lugar deles tantas vezes e compreendi muito bem o porquê de todos aqueles insultos. Eu mereci!

Mas, parecia árduo demais pra mim. Ninguém nasce achando que só vai sofrer na vida. Cresce e se torna um jovem, acreditando que a vida só terá fardos para te apresentar. Eu fui ambicioso e bonito. Eu me achava inteligente, mas achei que era esperto demais e isso me levou a tolices e exageros. Foi ridículo!

A primeira vez que eu saí para catar os recicláveis, achei que fosse morrer de vergonha. Eu tinha muita inveja dos outros rapazes. Achei que conseguiria ter um bom emprego e uma vida decente, mas nunca quis estudar. Eu tinha a intenção de progredir com um jeitinho, tendo facilidades na vida. Mas, isso nunca foi um caminho para mim. Era o roubo ou a carroça, eu não tinha coragem de roubar ninguém, isso não.

Mas, eu me acomodei com a carroça. Fiquei décadas catando recicláveis e vivendo uma vidinha muito miserável de sofrimento e privações.

Reclamei tanto da vida que as condições só pioraram. Quando é que eu podia imaginar que reclamar faz piorar a vida difícil? Reclamava, bebia e deixava meus familiares na mão. Eu fui tão egoísta que não percebi o quanto eles passavam fome e privações, precisavam de mim e ainda tinham que enfrentar o constrangimento moral de ter um pai bêbado caindo pelos cantos.

Nunca parei para reparar que meus filhos eram apontados na rua como os “filhos do pinguço”. Que horror! O cúmulo do egoísta é não perceber o quanto as pessoas a sua volta podem sofrer com os seus abusos. Eu tinha que cuidar deles e facilitar a jornada, no entanto, piorei ainda mais a situação de toda família.

Compreendo porque me culparam e me rejeitaram na velhice, eles não sentiam nada de bom por mim. Eu compreendo que não tiveram um pai presente, um pai esforçado que fornecesse o básico para sua subsistência e, ao invés disso, ainda gastava a sua miséria com a bebida. Um absurdo!

Eu poderia ter me esforçado e progredido. Ter estudado, arrumado um emprego que fornecesse estabilidade. Eu podia ter contado mais com meus familiares se fosse um ponto de apoio para todos eles. A família que se ampara nos ricos propósitos do pregresso geral, se une e fortalece seus elos de amor e fraternidade.

Eu me arrependo muito da minha frouxidão moral.

 

Luís Claudio

03/12/2023


“O estudo é uma das formas mais promissoras de progresso material e intelectual, além de fazer o homem progredir moralmente”

 

Ela me ofereceu uma bolsa de estudos porque viu o quanto eu era delicada para cuidar de doentes. Eu, realmente fazia com todo empenho. Nunca tive nojo ou fiquei irritada por ter de cuidar dos pais dela quando as cuidadoras faltavam. Eu cumpria as tarefas com a maior delicadeza e compaixão, afinal o sofrimento deles era grande.

Minha patroa viu a forma como eu me fazia útil e tratou de me oferecer uma grande oportunidade de ascensão profissional. Mas, eu não sabia se dava conta. Eu precisava trabalhar duro para colocar comida na mesa. Meu marido foi um homem excelente, mas não tinha estudo e trabalhava de sol a sol para pagar nosso terreno e construir, aos pouquinhos, nossa moradia. O meu sonho era ter a nossa casinha. Ficar em paz no nosso lar.

Para isso, eu tinha que trabalhar muito e não me arriscar com sonhos que pudessem me distrair. Acho que passei muito tempo como faxineira e não me senti a vontade com a necessidade de voltar a estudar, eu nunca tive muita leitura e não me sentia capaz.

Mas, ela me incentivou. Pra ela, tudo era mais fácil. Do lugar onde eu morava, chegar no curso, era muito complicado, tudo muito longe. Tinha que pagar condução, ainda tinha que pensar nos meus afazeres domésticos e cuidados com as crianças. Eu tinha hora para chegar em casa porque meu marido fazia hora extra.

Ela não tinha como compreender. Mas, ela falou que eu estava acomodada, era mais fácil encarar uma vida na mesmice do que me esforçar para ter algo melhor. Ela informou que as oportunidades da vida podem não ter volta, nós precisamos estar receptivos e agarrá-las, fazendo sempre o nosso melhor. Ela chegou a me propor uma promoção. Se eu fizesse o curso, me tornaria a cuidadora dos pais dela porque ela tinha muita confiança em mim.

Fiquei confusa e conversei com meu esposo. Ele também ficou um pouco confuso, mas disse que eu precisava agarrar as boas chances de progredir na vida. Não desperdiçar o apoio que aquela patroa estava me dando. Seria uma fase difícil, mas todos em casa iriam me ajudar. Eu fiquei desesperada. Preferia que ele falasse para deixar de lado. Eu não queria voltar para os bancos da escola, muito mais velha que os outros estudantes. Com medo de enfrentar as coisas novas. Sempre tive medo do novo. Eu gostava de tudo sempre igual, sem surpresas e frustrações. Eu não queria tentar, mas eles insistiram tanto e meu esposo ficou esperançoso, dizendo que seria mais fácil prosperarmos.

Logo nos primeiros dias, sentia cansaço, mas também senti uma força interior que não pensava existir em mim. Eu me senti forte e decidida. Senti como se pudesse fazer qualquer coisa e não desisti, segui em frente e o tempo passou rápido. Tudo o que eu aprendia, tudo o que eu assimilava era uma conquista incrível.

Percebi que as pessoas são todas iguais independente da idade, cor, classe social. Todos ali tinham limitações parecidas, todos com dificuldades semelhantes. Mas, naquele grupo, um ajudava o outro, eu me senti amparada e não tive vergonha de não saber, vergonha de perguntar. Eu me esforcei ao máximo e quando conclui meu curso, tive muita satisfação porque foi por meu mérito. É grandioso o momento da conquista, ainda mais, quando exigiu o seu empenho e perseverança.

Trabalhei anos com aquela senhora, cuidando dos pais dela com todo carinho e gratidão. Conseguimos construir nossa casa e tivemos uma vida mais tranquila, ainda mais porque, depois que eu, conclui meu curso, incentivei meu marido a estudar e ele também pode ter uma profissão mais leve e tranquila.

O estudo é uma das formas mais promissoras de progresso material e intelectual, além de fazer o homem progredir moralmente. Eu agradeço por todas as possibilidades de progresso que tivemos.

 

Soraia

03/12/2023

 

 “O trabalho dignifica o homem e Deus é um Pai tão amoroso que nos ensina delicadamente a lição que tanto precisamos aprender”

 

Nunca gostei de estudar, também sempre achei errado a mulher ter de sair da sua casa e largar seus filhos para trabalhar fora. Será que o homem não pode dar conta de sustentar sua família?

Vê se pode? Minhas vizinhas madrugavam, coitadas! Tinham que levar uma vida de cansaço, correndo riscos variados na rua porque o marido ganhava pouco. Naquela época, meu esposo ganhava muito bem e eu podia ficar em casa educando nossos filhos, cuidando da nossa casa, enquanto meu esposo fazia a parte mais árdua, já que ele era mais forte e tinha o corpo apropriado para o desgaste físico.

Elas diziam que gostavam do trabalho, gostavam de ter seus salários e independência, gostavam de combinar tudo com os maridos, ter parceria no lar. Elas gostavam de acordar de madrugada? Duvido. Eu não gostaria, mas apesar de toda a minha repulsa, o meu marido foi demitido porque o mundo todo estava em crise.

Além de tudo, a empresa faliu e ele não tinha como receber. Nós ficamos em situação preocupante, então, ele disse que precisaria contar comigo. Eu arregalei os olhos e perguntei como. Como ele pretendia contar com a minha ajuda se eu nunca na vida trabalhei fora de casa?

Ele disse que nossas vizinhas podiam me auxiliar a arrumar um emprego porque nós precisávamos pensar no dia de amanhã. Eu me recusei, aquilo era um absurdo, mas ele chorou de desespero, informou que jamais tinha a intenção de me fazer passar por tormentos ou privações, mas ele não sabia mais a quem pedir ajuda. Então, entendi que minha vida tinha que mudar.

Com imenso constrangimento pedi ajuda às vizinhas, elas se entreolharam, mas foram discretas e compreenderam que minha situação era difícil, rapidamente me arrumaram faxinas num bairro próximo. Eu chorava me sentindo humilhada por lavar os vasos sanitários daquela gente. Fiquei muito revoltada, chegava em casa furiosa e ainda tinha o serviço da minha casa para fazer. Brigava todos os dias com meu esposo, exigindo mudanças. Ele não estava aguentando e eu piorando a situação.

Nem percebi que estava dificultando as coisas, então, ele adoeceu e ficou de cama. Era tudo o que eu precisava para me tornar mais humilde. Precisei recorrer à família, pedir ajuda para algumas pessoas ficarem com meus filhos para eu trabalhar. Arrumei emprego numa tecelagem e consegui dar conta das nossas dívidas, enquanto meu esposo se recuperava. Nesta época, eu estava tão preocupada com ele que quase me esqueci do quanto detestava acordar cedo. O dia passava tão rápido e eu tinha tanto a fazer.

Ele se recuperou, as crianças cresceram. Eu me identifiquei com a vida de trabalho. Já não reclamava mais, passei pela transformação necessária. Lapidação moral que me tornou muito melhor, mais delicada, atenciosa e humilde.

O trabalho dignifica o homem e Deus é um Pai tão amoroso que nos ensina delicadamente a lição que tanto precisamos aprender.

 

Marina

03/12/2023 




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