“Sem espiritualidade somos vazios”
Eu estava cheia de ilusões. Passei a maior parte da
vida atordoada, sem compreensão da verdade definitiva, do que era realmente
importante e deixei conduzir pelos fascínios da matéria.
Imensamente preocupada em querer agradar, quando na
verdade, eu era tão vaidosa que não suportava que me apontassem as falhas. Foi
tão desgastante!
Todos os anos, eu me arrastava para locais
abarrotados e me inclinava a exaustivas compras para agradar uns e outros, para
ostentar, deixar bem claro que eu podia sustentar aquela vida incomoda e sem
propósitos. Comprava roupas e sapatos para meus familiares posarem nas fotos e
sorria como se estivesse totalmente preenchida com os melhores sentimentos.
Comprei tantos presentes, perdia horas imaginando o
que os familiares e amigos iam gostar, mas em cada entrega, eu via nos olhos
deles que, aquele presente, não significava nada. Por mais que me agradecessem,
aquele embrulho ficava de lado, esquecido.
Eu me preocupava com cada detalhe da festa
majestosa. Pratos ricamente decorados, uma mesa tão farta. A casa enfeitada e
luminosa, mas todos pareciam tão alheios e distantes com suas conversas cheias
de frivolidades e hipocrisias.
Eu não aguentava mais. Todos os anos eram
cansativos e superficiais. Eu queria tanto que fosse como no tempo dos meus
avós... O Natal encantador dos avós que contam histórias e dão abraços
apertados. A casa da fazenda me trazia tantas lembranças. Era tudo simples, a
avó preparava com muito prazer e tinha carinho, tanto carinho que sentíamos em
cada palavra, em cada olhar que aquele Natal representava o contato amoroso dos
seres humanos diante de Jesus.
Eu sabia que o Natal devia ser o encontro com Jesus
nascendo dentro de nós, mas eu já havia me distanciado tanto dele. Eu não me
lembrava mais das histórias da avó sobre Jesus. Eu não havia apresentado Jesus
para os meus filhos e aquelas festas, em nada, tinham o grande efeito que Jesus
devia produzir nas pessoas. Estavam muito distantes do verdadeiro Natal.
Depois daquela festa, eu me sentia cada vez mais
vazia. Eu me sentia uma pessoa fria que vive por viver, sem finalidade ou
objetivo de vida. Chorei porque me vi sozinha. No meio daquela pequena multidão
de pessoas bem arrumadas com taças na mão. Eu chorei porque compreendi que nada
temos a esperar de um ambiente frio onde ninguém tem algo bom a oferecer.
Sem espiritualidade somos vazios, secos, como a
figueira estéril. Eu não daria frutos e me senti mal com isso, extremamente
cansada e ofendida comigo mesma.
Quando um ano passou e eu refleti diante da minha
frivolidade, não quis passar por mais uma festa inútil. Eu preferi ficar em
casa. Lembrei dos meus avós e estranhamente declarei aos familiares que
faríamos diferente. Eu abri o Evangelho de minha avó e li para que todos
prestassem atenção. A casa não estava decorada, eu nem havia comprado
presentes, eles ficaram perplexos, mas ouviram atentos. Eu li sobre o
nascimento de Jesus e compreendemos o quanto precisamos ser simples. Estarmos
ligados a Jesus com o coração aberto, permitir fazer uma união sincera com ele
e compreendermos a necessidade do seu nascimento na Terra e dentro de nós.
Conversamos muito, estabelecemos alguns limites e
necessidades para nos sentirmos pessoas mais integras e completas, sem ilusões
ou relacionamentos fúteis que se baseiam nos benefícios materiais. Eu precisava
sentir a espiritualidade nos envolvendo e necessitei que nos fizéssemos mais
simples e humildes.
Pensei que, apenas eu, me sentia assim, mas meus
filhos concordaram e meu esposo chorou. Depois disso, passamos a frequentar a
igreja. Nossos dias de Natal nunca mais foram os mesmos porque se estabeleceu
em nós o contato íntimo com Jesus e nos esforçamos para viver com a retidão que
ele orientou. Assim, o Natal se tornou uma data importante para a união
familiar com Jesus, reforçando nosso contato com ele, favorecendo para que
estivéssemos ligados aos propósitos de caridade e amor fraternal. Fez toda
diferença mudar o clima do Natal.
Laura
17/12/23
“Na dor, nos tornamos mais maduros e francos”
“Que a luz de Jesus se faça
presente no seu lar”
Eu não convidei porque não estava pronta para perdoar. Naquele momento, achei um absurdo a forma como ele se fez presente em minha casa. Aparecer sem ser convidado?
Mas, meus pais intermediaram, disseram que eu devia
perdoar meu único irmão no Natal. Eu fiz vistas grossas e fingi para não ser
mal interpretada diante dos meus amigos. Mas, no fundo, eu não nutria um
sentimento fraterno por ele. Meu irmão, parecia estar aliviado quando eu disse
que estava perdoado. Ele sempre foi muito diferente de mim, mais emotivo.
Eles se entreolharam e ficaram comovidos, sorriam e
dançaram como se a vida dependesse disso, daquele perdão. Achei um tanto
forçado e desnecessário, mas deixei passar.
Os meses se seguiram e meu irmão apresentou graves
problemas de saúde, foi internado e meus pais estavam desesperados. Quando
questionei por que daqueles sintomas agressivos, eles disseram que ele já sabia
que o câncer estava em estágio terminal. Falaram que o meu perdão fez com que
ele sorrisse aliviado porque não queria morrer brigado comigo.
Eu não estava esperando tanta franqueza, fiquei
abalada e me arrependi, afinal, o que ocorreu conosco não era tão sério para
que eu negasse o perdão e ele se sentisse tão infeliz. Por que eu fui tão dura
com ele? Por que não me deixei tocar pelo espírito do Natal para fortalecer os
laços de amor com meus familiares?
A vida é um sopro! Dois meses depois, meu irmão
desencarnou e eu pude ter uma conversa franca com ele antes dos momentos
finais. Eu senti o pesar irremediável porque ele nunca foi má pessoa e nós
podíamos ter vivido dias alegres se eu tivesse tido mais amor no coração. Por
que se perde tanto tempo com bobagens, com poses e necessidades de dizer quem
está com a razão?
Ele desencarnou e eu pensei: quantas pessoas teria
que ver partindo para considerar que eu os amava? Quantas vezes eu teria que me
sentir solitária para fazer o bem e demonstrar meus sentimentos?
Abracei meus pais e meus filhos, dei a mão para meu
esposo e agradeci a Deus por ter compreendido o quanto a família é laço
sagrado. Naquele Natal, eu me lembrei do meu irmão quando eu disse que o
perdoava, mesmo que da boca para fora, ele ficou feliz e aliviado. Mudei a
forma de vivenciar o Natal, lembrei de Jesus e deixei tudo simples, cheio de
sinceridade e ligações de amor. Estávamos saudosos e condoídos com sua partida,
mas eu me transformei depois daquela separação. Na dor, nos tornamos mais
maduros e francos.
Se você tem assuntos mal resolvidos com seus
familiares, aproveite esta data especial, quando os corações estão mais abertos
e as energias propícias para a reconciliação, estenda a mão, dê um abraço. Às
vezes, as palavras são desnecessárias, mas procure se envolver deixando claro
que tudo o que importa é a paz e a boa convivência para que a fraternidade
reine nos ambientes familiares.
Que a luz de Jesus se faça presente no seu lar.
Ivonete
17/12/23
---Psicografado por Paula Alves---
“Que você possa ser
tocado pelas energias contagiantes do Natal e iniciar suas tarefas
enobrecedoras ajudando alguém”
Eu não tinha como proporcionar uma linda festa em
família na noite de Natal porque eu precisava trabalhar. Na casa da minha
patroa, as festas eram glamurosas, cheia de requinte e sofisticação, nós
ganhávamos muito bem para servi-los no Natal.
A primeira vez, fiquei impressionada com os
exageros. Comidas ricas, caras e muito apetitosas. Convidados lindos, bem
vestidos e cheios de joias, carros luxuosos, a mansão ficava tão linda e
iluminada. Até os serviçais ficavam mais arrumados. O trabalho era intenso,
nada podia dar errado, nenhuma taça quebrada ou talher mal polido. Tudo devia
estar perfeito!
Era cansativo ver como o Natal deles era uma
fachada. Não tinha emoção. Nada que me fizesse lembrar o Menino Jesus, em
nenhum momento eles expressavam consideração pelo Salvador. Falavam de
contratos e ligações financeiras, ostentavam, riam, zombavam, comiam e
dançavam, alguns passavam da conta e brigavam, saiam enfurecidos, mas não tinha
nenhuma prece, nenhum ato de caridade.
Nós terminávamos as tarefas ao raiar do dia, depois
de colocar a mansão em ordem. Eu seguia rumo a minha casa simples e antes de
dormir observava meus queridos familiares que ainda estavam dormindo, minha
mais preciosa fortuna...
Aqueles quatro foram a minha razão de viver. Eu
colocava os presentes dos três filhos amados na pequenina árvore de Natal e ia
dormir um pouquinho com meu esposo. Logo eles acordavam e começavam a gritar,
achando que o Papai Noel tinha surgido como por encanto depositando os
presentes na árvore para agradá-los, mal tinham conhecimento dos esforços que
os pais faziam para sustentar a ilusão.
Eu acordava satisfeita em ver aqueles olhinhos
radiantes e me punha a preparar nossa ceia para o almoço de Natal. Contemplei
minha cozinha rústica e a comida tão simples que eu tinha para preparar. Eu
fazia tudo com tanto esmero que virava um verdadeiro banquete. Meus pequeninos
faziam questão de orar, chamando Jesus, exaltando aquele que fora o mais
iluminado dos seres de Deus. Eu sempre chorava de tanto contentamento e
pensava: “eles não fazem ideia de como é o verdadeiro Natal”.
Eu agradeci tanto por aquelas datas de luz quando
nos envolvíamos uns com os outros e também com Jesus. Nós precisávamos daquelas
datas especiais para refletir nos verdadeiros valores cristãos e nos nossos
passos no mundo.
Eu e meu esposo já tínhamos passado por muita
dificuldade e nos comprometemos a amparar alguns irmãos no Natal. Após o
almoço, saiamos para distribuir alimentos e isso nos impulsionou na vida
durante muitos anos. Quando os meninos estavam crescidos e já haviam aprendido
conosco o sentido do Natal, pudemos nos inserir em locais caritativos e
estarmos mais disponíveis aos trabalhos de auxílio aos necessitados. São muitos
sofredores, muitos que precisam de ajuda durante o ano todo, mas o Natal deve
nos unir no amor de Cristo.
Que você possa ser tocado pelas energias
contagiantes do Natal e iniciar suas tarefas enobrecedoras ajudando alguém.
Simone
17/12/23
---Psicografado por Paula Alves--
“Aquele que segue
inspirado por Jesus, consegue operar a mudança construtiva”
Se eu não fosse um covarde ligado ao vício do
álcool não teria padecido tanto... Achei que eles se esqueceriam de mim e nunca
mais teria contato com eles. Naquela noite, eu vi quando os familiares se
abraçaram e desejei estar em casa, senti saudades dos meus filhos e dos
cuidados que eu recebia da minha amada esposa.
Foi muita arrogância da minha parte achar que eu
não precisava de ninguém. Até tentei, mas minha vida ficou muito pior. Perdi o
emprego e não pude pagar a pensão, fui parar na rua. Tive vergonha que alguém
me reconhecesse, eu me escondia quando algum conhecido passava por mim.
Mas, eles me procuraram, eles insistiram e quando
ouvi chamarem o meu nome naquela noite, pensei que estivesse delirando. Meus
filhos correram ao meu encontro e não tiveram nojo de mim. Eles me abraçaram e
disseram: “Vamos para casa, pai”.
A Maria só me olhou e balançou a cabeça num
afirmativo. Eu segui com eles, reconhecendo que eu precisava de ajuda. Nem sei
dizer o que foi melhor...
O banho, o contato físico, me ver no espelho sem
aquela cabeleira terrível depois do corte de cabelo que meu filho fez. Eu
coloquei minhas roupas limpas e cheirosas, me sentei na mesa, comi, fui
acolhido como uma pessoa.
Eles não cobraram satisfação, ninguém quis revidar
ou relembrar dos acontecimentos porque o perdão é tolerante e indulgente. O
Natal foi envolvente, eles estavam mudados e mais religiosos, eu quase não
reconheci pela maneira que se comportavam e como oravam cheios de espontaneidade.
Eu me senti desconfortável porque não tinha
intimidade com o Jesus que mencionaram. Como podiam afirmar que o conheciam,
que o seguia? Eles o chamavam de Mestre e Senhor, eu nem ouvia falar dele. Mas,
me senti envolvido por aquelas histórias, foi como se um estranho contato me
preenchesse a alma. Eu desejava sentir a paz que eles irradiavam. Foi por isso
que eles me encontraram e estavam cheios de misericórdia, por causa deste
Jesus.
Naquele dia, naquele Natal, Jesus nasceu em mim e
eu desejei que ele tomasse posse da minha vida para que pudesse ser pessoa nova
na Terra. Eu me esforcei para fazer parte daquela família, consegui
reconquistar o respeito e consideração daquelas pessoas que me desejaram como
ente querido. Eles não colocaram obstáculos, nem pediram promessas ou mudanças,
eles me acolheram novamente no lar, confiando que a espiritualidade me
envolveria na mudança necessária e eu consegui.
Aquele que segue inspirado por Jesus, consegue
operar a mudança construtiva.
José Eduardo
17/12/23
---Psicografado por Paula Alves---
“Se em cada olhar
pudéssemos reconhecer o amor e a paz de Cristo...”
Eles ficavam felizes. Em cada rostinho podíamos ver o contentamento quando aquele antigo trabalhador entrava no salão vestido de Papai Noel. Como podíamos desperdiçar estas ilusões?
Todos nós éramos pessoas simples, mas nos
esforçávamos para comprar presentinhos para todas aquelas crianças que já
passavam por imensas dificuldades por terem sido rejeitadas pelos genitores.
Cada um dos trabalhadores daquele local, fazia o seu melhor para fornecer uma
linda festa de Natal.
Eu deixava tudo preparado na minha casa um dia
antes e pedia licença aos amados familiares, mas me comprometia com a festa
daquelas crianças sofridas. Aos poucos, meus familiares compreenderam e me
seguiram no trabalho de luz, eles trabalharam comigo, preparando o almoço e
ajudando a embalar os presentes. Foi cansativo, mas muito gratificante saber
que o bem pode sair de dentro de nós e envolver a nossa família nos bons
propósitos.
Os pequenos abraçavam Papai Noel e corriam felizes
para pegar os embrulhos com brinquedos que tínhamos comprado com uma parte do
décimo terceiro. É estranho perceber que, na maioria dos casos, são os mais
simples que fazem esforços para ajudar os desfavorecidos. Deus deve saber bem
destas coisas e nos fornece uma dose de amor e outra de boa vontade.
Muitas daquelas crianças, quando cresciam, falavam
sorrindo que o Natal foi a melhor ilusão que tiveram. O Natal permitia que
tivessem tanta alegria para ter esperança o ano todo. Se o Papai Noel aparecia,
então, os pais também podiam aparecer. Mas, os pais não voltavam e eles
seguiam, depois de maduros, firmes nos ensinamentos de Jesus.
Nós fazíamos questão de atrair o olhar e a presença
de Jesus usando o seu Evangelho. Fazíamos a festa para encantar as crianças,
sem esquecer do homenageado. Eu queria mudar a condição daquelas crianças e
jovens. Sempre orei, mas no Natal minha oração ganhava força extra e eu pedia
para que todos pudessem receber um lar, ter a oportunidade de se sentirem
amados.
Seria muito bom se as pessoas soubessem amar como
Jesus nos pediu. Se colocando no lugar dos outros, não permitindo que houvessem
injustiças, abusos, discriminações, ofensas, desmandos. Que cada um pudesse
sentir a dor do outro e se esforçar para dissolver as tribulações. Pessoas
mansas e cordiais que se envolvessem estendendo a mão. Não precisarmos temer ou
fugir, apenas nos envolvermos com sinceridade.
Se todos fossem como Jesus...
Se em cada olhar pudéssemos reconhecer o amor e a
paz de Cristo...
Eu só podia ser para os outros a pessoa que
desejava encontrar no meu caminho. Que cada um pudesse enxergar em mim, a irmã
que Jesus considerou. Eu seria a presença de Jesus diante de todos. Eu faria
todo esforço para ser a imagem de JESUS no meu lar e no ambiente de trabalho.
Eu seria a luz que ele orientou que fossemos.
Vivi durante muitos anos, sentindo a satisfação de
servir a Deus com os exemplos de Jesus. Posso dizer que tive uma vida plena,
cheia de edificação e alegrias. A melhor maneira de viver neste mundo, apesar
de todas as tribulações, é seguir as diretrizes de Jesus.
Nice
17/12/23
“Amem-se uns aos outros como eu os
amei”
Naquele ano, eu estava diferente, nascia em mim uma certeza de que dias melhores
estavam por vir. Eu ouvi o cântico de Natal. Eu me lembrei das histórias que a
mãe contava. Lembrei do Jesus que salvava vidas e eu desejei ser salvo por ele.
Ali mesmo, na praça, envolvido com cobertores mal cheirosos, eu quis ser salvo
e ter minha vida transformada por ele.
Então, me lembrei de orar, quase havia me esquecido do “Pai Nosso”, mas
eu lembrei da minha mãe orando comigo, dando a certeza de que eu não podia me
afastar do Pai e do Filho.
Eu vi quando muitos saíram da igreja, abraçaram-se, todos bem vestidos,
felizes, convidando para a ceia, fazendo planos de um ano bom. Ninguém me viu,
eu estava na escuridão, ninguém notou que eu também fazia parte daquela cena,
eu era o irmão desvalido do qual ele tanto falara, mas eles não me notaram e
partiram.
Eu senti o buraco fundo do estômago com fome, mas já tinha me acostumado
e pensei em dormir para esquecer da sensação angustiante. Eles deviam estar
comemorando em seus lares bem arrumados, cheios de luzes, com árvores de Natal,
mas eu não devia ficar pensando naquilo que não tinha, naquilo que não era meu.
Quando estava cochilando, ouvi passos na minha direção e temi. Quem eram
aquelas pessoas que pareciam assustadas?
Ela me estendeu a mão e vi em seus olhos a bondade que parecia falar
muito, mas em silencio ela me entregou um prato na noite de Natal.
“Deus abençoe sua vida e seu propósito de prosseguir” — falou ela se
afastando.
Eu peguei o prato e nem soube o que dizer. Eu sorri com os olhos
lacrimosos e quando eles partiram, me apressei para desembrulhar o prato, senti
o cheiro bom. Era simples, nada demais, porém o cheirinho, lembrou a comida da
mãe. Novamente ela, sempre ela, minha mãe foi a criatura mais abençoada que
conheci.
Eu comi com tanto gosto, senti que minhas forças voltaram e pensei no
meu propósito de vida, meu propósito de prosseguir. Eu estava me entregando
para a derrota, fracasso da inércia. Eu não precisava ser mais um indigente na
rua. Por que me privar de um futuro? Eu estava me deixando entregar para uma
vida de ruina. Escolhas minhas. Então, adormeci e sonhei com ela. Minha mãe
dizia para eu me reerguer. Não seria fácil porque as pessoas não têm olhos para
ver, mas Deus iria me conduzir para o restabelecimento moral.
Eu acordei cheio de ânimo e busquei ajuda no albergue, falei com a
assistente social. Recebi ajuda e, mesmo não sendo fácil, consegui me libertar
das amarras que me impediam de caminhar no mundo. Depois de alguns anos, fiz
questão de falar naquela igreja de tudo o que recebi na noite de Natal.
Aquele pratinho, abriu as portas da esperança e da fé. A partir daquela
oportunidade, consegui reestruturar minha vida e decidi ajudar tantos como eu.
Foi um trabalho social que durou cerca de trinta anos. Nós levamos alimentos na
noite de Natal, pratinhos feitos de amor para dar esperança e fé àqueles que
são invisíveis na sociedade.
Pessoas que estão por toda parte e precisam de apoio e acolhimento para
que tenham forças de reestruturar-se, buscando soluções para sua vida. Ninguém
gosta de viver na rua, com fome, frio e enfermidades.
A chaga da sociedade é o egoísmo. Pessoas bem vestidas que se dizem
cristãs e só aproveitam o Natal para ostentar o que conseguiram adquirir
durante o ano. Jesus é o convidado de honra do Natal, ele é o protagonista, no
entanto, foi ele que disse: “Amem-se uns aos outros como eu os amei”.
Em nome deste amor, cada um deveria fazer as melhores ações, ao menos,
na noite de Natal.
Alonso
10/12/23
“Eu consegui ter minha vida de volta após ganhar
esperança na noite de Natal”
Eu não queria ir para o albergue. Tinha esperança de que meus familiares
iam me buscar. Eu tinha esposo e filhos, eles deviam me buscar, mas já fazia
tanto tempo desde que a vizinha me viu e debochou de mim, falando que ele já
tinha posto outra no meu lugar.
Eu estava com fome e com muito medo de ficar ali, mais uma noite, tem de
tudo na rua. Violência, estupro, crueldade. Eu sentia saudade de tudo, de todos
e me arrependi da maluquice que cometi. Eu o traí, eu fui leviana e mereci o
que ele me fez, jogar na rua, expulsar da própria casa. Meus filhos tinham
vergonha de mim, meu marido disse que nunca mais queria me ver. Eu entendo que
errei e me arrependi.
Mas, a assistente social disse que eu devia seguir com eles e receber
uma oportunidade de mudar de vida. Tomar um banho, comer uma refeição decente e
dormir na cama limpa. Eu devia fazer escolhas que me permitissem prosseguir.
Ela estava certa, eu precisava de ajuda. Eles não vinham me buscar, nem
no Natal. Então, segui com ela, envergonhada do meu cheiro, eu nunca mais tomei
banho, estava arruinada, numa imagem deplorável de mim mesma. Como permiti que
as pessoas arruinassem minha vida daquela forma? Eu me arruinei, mas jamais
podia receber o perdão? Seria condenada para sempre?
Eu fui para o albergue, eles cantaram músicas de Natal e eu chorei
porque me lembrei que me afastei de Deus, nunca solicitei a assistência de
Jesus. Quando pude ser uma pessoa correta, me entreguei aos desatinos da
matéria, vivi uma vida de prazeres e desejos materiais. Não pensei em tudo de
bom que Deus me entregou e joguei fora as preciosas oportunidades.
Eu senti no fundo do coração que tinha forças para mudar de rumo, eu
podia melhorar, dependia da minha boa vontade. Ela me ajudou, a assistente
social conseguiu me reinserir na sociedade e eu me esforcei com todas as forças
que existiam em mim.
Após alguns meses, eu já estava morando numa pensão e estava
trabalhando, me arrumei e resolvi procurá-los. A aparência estava modificada,
bem melhor, nem de longe o aspecto da moradora de rua. Readquiri bons modos e
postura cidadã, levei guloseimas que as crianças adoravam e falei com meu ex
esposo no portão. Ele se recusou a me receber, disse que a nova companheira se
sentiria constrangida e pediu para eu me retirar. Eu fiquei indignada, mas não
arrumei briga.
Procurei a assistente social que me orientou a procurar um advogado. Foi
um longo período em busca de reaver a guarda dos meus filhos, trabalho
incansável, comprei uma casinha e consegui a guarda das crianças que já estavam
crescidas.
Tudo começou na noite de Natal. Acho que ficamos envolvidos com o clima
harmonioso que nos faz recordar do amor daquele Nazareno. Amor este que está
extinto nesta Terra. Eu recebi acolhimento, orientação e apoio daquela
assistente social, jamais vou me esquecer de tudo o que ela fez por nós.
Muitas vezes, nós precisamos, apenas de alguém para nos dar a mão
deixando claro que ainda podemos caminhar. Daí, é só seguir em frente,
transpondo os obstáculos que podem surgir. Eu precisava me lembrar que Deus é
Pai de todos. Precisei ter uma ligação íntima com Jesus para sentir que eu
podia me reerguer. Eu consegui ter minha vida de volta após ganhar esperança na
noite de Natal.
Solange
10/12/23
Eu me preocupei com o “silêncio dos bons”
Eu inspirei para que eles pudessem observar tantos que precisavam de
ajuda. Alguns me ouviam, mas decidiam não fazer nada. Entendo, é mais fácil não
fazer nada. Eles pensavam muitas coisas para continuarem omissos: “não tenho
nada a ver com a miséria do mundo”, “ajudar uma vez no ano, não faz diferença
nenhuma”, “eu não vou mudar a condição social de ninguém, então, por que me
incomodar?”
A maioria se esquivava de prestar auxílio. Eu me preocupei com o
“silêncio dos bons”. O que seria do mundo se as pessoas não percebessem o
quanto são importantes umas para as outras? Se elas ficassem cegas e surdas,
indiferentes às necessidades alheias?
Mas, eu não podia parar e continuei a inspirar. Nós somos muitos...
Equipe de Espíritos que se envolvem com todos no Natal. Propósito de
incentivar a propagação da fé e do bem coletivo que se inicia com a lembrança
do amado Mestre Jesus e segue por todo o ano que se inicia.
Existem muitos encarnados que são tocados nos seus mais nobres
sentimentos e se comprometem com a mudança de atitude viva e acalentadora. Eles
se comovem tanto que deslancham de fazer o bem, como um vício contagiante que
os envolve por toda a vida. Aquele que sente na alma a energia enriquecedora da
boa ação, não consegue parar de produzir o bem. Nós envolvemos muitos cristãos,
muitas pessoas que se transformaram com o trabalho que distribuímos no Natal.
Pessoas que levavam a ceia, mantas e o principal, falavam do Mestre,
entregando o alimento espiritual que move o ser na trajetória do progresso.
Eles se preencheram do amor de Jesus e mudaram suas vidas.
Aqueles que nos ouviam e, tímidos, meio desconcertados, entregam os
benefícios, saiam com luzes que brotavam no meio do peito. É um espetáculo
belíssimo de se apreciar. Encarnados que se iluminam no Natal e preparam seus
fluidos e espiritualidade para atuar no ano nascente. Vários pequenos pontos de
luzes como sinalizou o Mestre. Eu chorei. Desejei realizar aquela tarefa por
muito tempo só para ter esperança na Humanidade. A mesma Humanidade que ele
tanto amou. Seres encarnados que tantos podem desmotivar e eu aprendi a amar.
Sabem fazer tanto bem quando estão dispostos a fazê-lo...
Que você também possa colaborar neste Natal. Com um pratinho material e
uma oração na Noite de Natal. Deixem seus lares enfeitados e possibilitem que
um irmão se encha de esperança e permita-se iniciar modificação em nome de
Jesus.
Sei que você também pode ser um ponto de luz.
Tarcísio
10/12/23
“Natal seria uma data oportuna para estar com Jesus
e reavivar seus projetos de levar amor a todos os lugares”
Naquele dia, as vendas foram fracas demais. Eu estava esperando vender
muitos bolos para o Natal, mas foi estranho ver que eles estavam todos ali. Deu
meu horário de fechar a loja e eu fiquei penalizada de ver que tudo seria
perdido porque não poderia vender depois do feriado, então conversei com minha
sogra, ela era cristã das mais fervorosas.
Eu pensei em distribuir no bairro carente. Logo ali, pertinho de nós,
local onde residia nossa auxiliar em casa. Minha sogra ficou radiante, chamei
minha auxiliar — Lurdinha, ela ficou tão feliz. Levei todos os bolos e
começamos a entregar. Então, se aproximou uma criança e perguntou:
— Tia, este é o bolo de Jesus? Pra cantar parabéns para o
aniversariante?
Eu permiti que escapassem umas lágrimas tímidas e respondi que sim,
aqueles eram todos os bolos de Jesus.
Comecei a fazer os bolos para Jesus sem saber e inspirada por aquela
garotinha, todos os anos nós distribuíamos bolos no Natal. Eu aprendi a
valorizar a espiritualidade naquela vida. Aprendi a respeitar os propósitos de
Deus em tudo o que eu fazia e questionei se as pessoas também não enxergam como
eu não enxergava.
Acho que estão muito envolvidas com suas necessidades materiais e se
esqueceram do intuito real do Natal. A grande maioria comemora por comemorar
porque nem sabe quem é Jesus. Se não reconhece Jesus e não se identifica com
ele, nem precisava comemorar. Na maior parte dos lugares, ninguém comemora como
deveria. Só pensam no Papai Noel e mesa farta. É tanta comida cara, tanto
desperdício, muito vai para o lixo, enquanto tem tanta gente passando privação
de todo tipo o ano todo.
Se considerassem Jesus, aproveitariam a data para planejar um jeito de
ser servo. Um jeito de propagar suas palavras e aliviar o sofrimento alheio, aí
sim, este Natal seria uma data oportuna para estar com Jesus e reavivar seus
projetos de levar amor a todos os lugares.
Eu iniciei meu trabalho com Jesus sendo inspirada pelos bons Espíritos e
esclarecida por uma garotinha. Depois disso, eu me transformei numa cristã de
fato e me esforcei para fazer boas ações o ano todo.
Eu desejo que seu Natal, seja enriquecido pela presença do Mestre, mas
ele só estará presente no seu lar se estiver sendo atraído por seus bons
propósitos.
Zuleica
10/12/23
“Para que a autorrealização aconteça precisamos
impulsionar a nós mesmos”
Eu fui um covarde. Sempre tive medo do que as pessoas iam dizer e do
quanto iriam me ridicularizar por meus fracassos. Imaginando que estavam
comentando sobre mim, achando que estavam me menosprezando e, no entanto, era
eu que me menosprezava, me achando inferior.
Tive o maior orgulho dos meus irmãos, da maneira como eram estudiosos e
ousavam para conseguir atingir seus objetivos. Eles eram astutos e esforçados,
por isso, sempre conseguiram vencer na vida, mas eu não, acuado e tímido, tinha
medo de falar e ser ouvido, esnobado. Eu não queria ouvir que não fui bom o
suficiente ou que a vaga não era para mim. Eu tinha tanto medo de fracassar que
não ousava tentar.
Perdi muitas oportunidades, sempre me coloquei em cargos pequenos porque
achei que não podia ficar com as melhores oportunidades da vida. Até nos
relacionamentos, eu não ousava falar com a moça mais bonita, a mais popular,
sabia que ela nunca me daria bola.
Até que eu conheci a Samanta e ela me fez olhar dentro do meu ser,
refletir porque eu tinha síndrome de inferioridade. Naquela hora, eu estranhei
a franqueza dela, dizendo de forma tão natural que eu nunca assumiria posição
de destaque ou buscaria algo melhor porque eu me colocava como inferior de
todos.
Refleti no que ela falou e concordei, eu jamais me consideraria bom o
suficiente e isso não era humildade, mas inferioridade. As minhas lembranças
mais longínquas já me faziam acreditar que sempre fui deste modo. Seria algo de
outras vidas? – perguntei.
Ela não sabia o que responder, mas informou que eu precisava resolver
para não me frustrar pelo resto da vida, diante de tudo o que poderia perder.
Pensei e pensei, achei importante procurar um terapeuta. Tive um tratamento
muito bom, me transformou numa pessoa quase normal. Me beneficiou tanto que
pude assumir compromissos com mais autoridade, me envolvi em relacionamentos
duradouros, recebi uma promoção no trabalho, eu fiquei muito satisfeito com o
progresso que tive por causa do aprimoramento pessoal.
Quando cheguei aqui, depois de ter vivido muito tempo como ser
encarnado, tive a oportunidade de compreender tudo o que se passou. Na
existência anterior, eu fui mulher e recebi como cônjuge, um marido tirano e
machista. Ele não gostava de ser contrariado e nem tolerava que eu tivesse
opiniões no lar. Comia, o que ele me permitia comer. Vestia, o que ele me
permita vestir. Cheguei a abortar alguns filhos por causa da intolerância deste
marido. Eu não tinha forças para agir contra a sua vontade.
Por mais que eu quisesse, vivi submissa naquela casa, naquele casamento
por mais de quarenta anos e, depois de tanto tempo, eu me acostumei com a vida
de serva. Alguém que não tem que gostar de nada, não tem desejos ou vontade
própria. Age segundo as ordens do marido e se cala para não contrariar ou
irritar. Fica sempre em silêncio para não incomodar o dono da casa.
Nós nos acostumamos com tudo nesta vida. Eu me acostumei a ser assim.
Eu, simplesmente existi. Inferiorizada, tão diminuta que levei para outra vida
esta condição de ser pequena, apagada, ou até invisível.
Quando renasci com outras características e possibilidades, a mente
ainda estava acostumada a pedir licença até para pensar. Eu quis ser uma pessoa
independente e capaz, mas havia algo que me impedia, era a minha mente. O
bloqueio estava em mim.
Nós devemos considerar que, muitas vezes, o impedimento está dentro de
nós. Quando temos a possibilidade de progredir e buscar posições de destaque,
condições melhores de vida, acreditamos que não somos capazes. Nós sempre
pensamos que as outras pessoas têm maior capacidade que nós e, nem mesmo,
tentamos. Mas, por que não pode ser meu? Por que esta chance de progresso não
pode me pertencer se eu sou trabalhador e esforçado como tantos outros? Eu
preciso me permitir crescer e evoluir, avançar.
Sou eu quem pode me colocar numa posição de destaque e melhores
condições de vida. Seja você a pessoa que te coloca pra cima, que te incentiva.
Para que a autorrealização aconteça precisamos impulsionar a nós mesmos.
Claudemir
03/12/2023
“Quando é que eu podia imaginar que reclamar faz
piorar a vida difícil?”
Eu não suportava mais arrastar aquela carroça miserável. No fim do dia,
o dinheiro era pouco, nem dava para comprar comida para todos. Eu sentia
vergonha e me sentia humilhado diante da família, por isso, comecei a beber e
procurar um motivo para chegar em casa cada vez mais tarde. O que eu poderia
dizer? Falar que, mais uma vez, eu não tinha como alimentar todas aquelas bocas
que dependiam de mim?
Sei que fiz tudo errado. Sei que não justifica tudo o que fiz meus
familiares passarem. Eu me coloquei no lugar deles tantas vezes e compreendi
muito bem o porquê de todos aqueles insultos. Eu mereci!
Mas, parecia árduo demais pra mim. Ninguém nasce achando que só vai
sofrer na vida. Cresce e se torna um jovem, acreditando que a vida só terá
fardos para te apresentar. Eu fui ambicioso e bonito. Eu me achava inteligente,
mas achei que era esperto demais e isso me levou a tolices e exageros. Foi
ridículo!
A primeira vez que eu saí para catar os recicláveis, achei que fosse
morrer de vergonha. Eu tinha muita inveja dos outros rapazes. Achei que
conseguiria ter um bom emprego e uma vida decente, mas nunca quis estudar. Eu
tinha a intenção de progredir com um jeitinho, tendo facilidades na vida. Mas,
isso nunca foi um caminho para mim. Era o roubo ou a carroça, eu não tinha
coragem de roubar ninguém, isso não.
Mas, eu me acomodei com a carroça. Fiquei décadas catando recicláveis e
vivendo uma vidinha muito miserável de sofrimento e privações.
Reclamei tanto da vida que as condições só pioraram. Quando é que eu
podia imaginar que reclamar faz piorar a vida difícil? Reclamava, bebia e
deixava meus familiares na mão. Eu fui tão egoísta que não percebi o quanto
eles passavam fome e privações, precisavam de mim e ainda tinham que enfrentar
o constrangimento moral de ter um pai bêbado caindo pelos cantos.
Nunca parei para reparar que meus filhos eram apontados na rua como os
“filhos do pinguço”. Que horror! O cúmulo do egoísta é não perceber o quanto as
pessoas a sua volta podem sofrer com os seus abusos. Eu tinha que cuidar deles
e facilitar a jornada, no entanto, piorei ainda mais a situação de toda
família.
Compreendo porque me culparam e me rejeitaram na velhice, eles não
sentiam nada de bom por mim. Eu compreendo que não tiveram um pai presente, um
pai esforçado que fornecesse o básico para sua subsistência e, ao invés disso,
ainda gastava a sua miséria com a bebida. Um absurdo!
Eu poderia ter me esforçado e progredido. Ter estudado, arrumado um
emprego que fornecesse estabilidade. Eu podia ter contado mais com meus
familiares se fosse um ponto de apoio para todos eles. A família que se ampara
nos ricos propósitos do pregresso geral, se une e fortalece seus elos de amor e
fraternidade.
Eu me arrependo muito da minha frouxidão moral.
Luís Claudio
“O estudo é uma das formas mais promissoras de
progresso material e intelectual, além de fazer o homem progredir moralmente”
Ela me ofereceu uma bolsa de estudos porque viu o quanto eu era delicada
para cuidar de doentes. Eu, realmente fazia com todo empenho. Nunca tive nojo
ou fiquei irritada por ter de cuidar dos pais dela quando as cuidadoras
faltavam. Eu cumpria as tarefas com a maior delicadeza e compaixão, afinal o
sofrimento deles era grande.
Minha patroa viu a forma como eu me fazia útil e tratou de me oferecer
uma grande oportunidade de ascensão profissional. Mas, eu não sabia se dava
conta. Eu precisava trabalhar duro para colocar comida na mesa. Meu marido foi
um homem excelente, mas não tinha estudo e trabalhava de sol a sol para pagar
nosso terreno e construir, aos pouquinhos, nossa moradia. O meu sonho era ter a
nossa casinha. Ficar em paz no nosso lar.
Para isso, eu tinha que trabalhar muito e não me arriscar com sonhos que
pudessem me distrair. Acho que passei muito tempo como faxineira e não me senti
a vontade com a necessidade de voltar a estudar, eu nunca tive muita leitura e
não me sentia capaz.
Mas, ela me incentivou. Pra ela, tudo era mais fácil. Do lugar onde eu
morava, chegar no curso, era muito complicado, tudo muito longe. Tinha que
pagar condução, ainda tinha que pensar nos meus afazeres domésticos e cuidados
com as crianças. Eu tinha hora para chegar em casa porque meu marido fazia hora
extra.
Ela não tinha como compreender. Mas, ela falou que eu estava acomodada,
era mais fácil encarar uma vida na mesmice do que me esforçar para ter algo
melhor. Ela informou que as oportunidades da vida podem não ter volta, nós
precisamos estar receptivos e agarrá-las, fazendo sempre o nosso melhor. Ela
chegou a me propor uma promoção. Se eu fizesse o curso, me tornaria a cuidadora
dos pais dela porque ela tinha muita confiança em mim.
Fiquei confusa e conversei com meu esposo. Ele também ficou um pouco
confuso, mas disse que eu precisava agarrar as boas chances de progredir na
vida. Não desperdiçar o apoio que aquela patroa estava me dando. Seria uma fase
difícil, mas todos em casa iriam me ajudar. Eu fiquei desesperada. Preferia que
ele falasse para deixar de lado. Eu não queria voltar para os bancos da escola,
muito mais velha que os outros estudantes. Com medo de enfrentar as coisas
novas. Sempre tive medo do novo. Eu gostava de tudo sempre igual, sem surpresas
e frustrações. Eu não queria tentar, mas eles insistiram tanto e meu esposo ficou
esperançoso, dizendo que seria mais fácil prosperarmos.
Logo nos primeiros dias, sentia cansaço, mas também senti uma força
interior que não pensava existir em mim. Eu me senti forte e decidida. Senti
como se pudesse fazer qualquer coisa e não desisti, segui em frente e o tempo
passou rápido. Tudo o que eu aprendia, tudo o que eu assimilava era uma
conquista incrível.
Percebi que as pessoas são todas iguais independente da idade, cor,
classe social. Todos ali tinham limitações parecidas, todos com dificuldades
semelhantes. Mas, naquele grupo, um ajudava o outro, eu me senti amparada e não
tive vergonha de não saber, vergonha de perguntar. Eu me esforcei ao máximo e
quando conclui meu curso, tive muita satisfação porque foi por meu mérito. É
grandioso o momento da conquista, ainda mais, quando exigiu o seu empenho e
perseverança.
Trabalhei anos com aquela senhora, cuidando dos pais dela com todo
carinho e gratidão. Conseguimos construir nossa casa e tivemos uma vida mais
tranquila, ainda mais porque, depois que eu, conclui meu curso, incentivei meu
marido a estudar e ele também pode ter uma profissão mais leve e tranquila.
O estudo é uma das formas mais promissoras de progresso material e
intelectual, além de fazer o homem progredir moralmente. Eu agradeço por todas
as possibilidades de progresso que tivemos.
Soraia
03/12/2023
Nunca gostei de estudar, também sempre achei errado a mulher ter de sair
da sua casa e largar seus filhos para trabalhar fora. Será que o homem não pode
dar conta de sustentar sua família?
Vê se pode? Minhas vizinhas madrugavam, coitadas! Tinham que levar uma
vida de cansaço, correndo riscos variados na rua porque o marido ganhava pouco.
Naquela época, meu esposo ganhava muito bem e eu podia ficar em casa educando
nossos filhos, cuidando da nossa casa, enquanto meu esposo fazia a parte mais
árdua, já que ele era mais forte e tinha o corpo apropriado para o desgaste
físico.
Elas diziam que gostavam do trabalho, gostavam de ter seus salários e
independência, gostavam de combinar tudo com os maridos, ter parceria no lar.
Elas gostavam de acordar de madrugada? Duvido. Eu não gostaria, mas apesar de
toda a minha repulsa, o meu marido foi demitido porque o mundo todo estava em
crise.
Além de tudo, a empresa faliu e ele não tinha como receber. Nós ficamos
em situação preocupante, então, ele disse que precisaria contar comigo. Eu
arregalei os olhos e perguntei como. Como ele pretendia contar com a minha
ajuda se eu nunca na vida trabalhei fora de casa?
Ele disse que nossas vizinhas podiam me auxiliar a arrumar um emprego
porque nós precisávamos pensar no dia de amanhã. Eu me recusei, aquilo era um
absurdo, mas ele chorou de desespero, informou que jamais tinha a intenção de
me fazer passar por tormentos ou privações, mas ele não sabia mais a quem pedir
ajuda. Então, entendi que minha vida tinha que mudar.
Com imenso constrangimento pedi ajuda às vizinhas, elas se entreolharam,
mas foram discretas e compreenderam que minha situação era difícil, rapidamente
me arrumaram faxinas num bairro próximo. Eu chorava me sentindo humilhada por
lavar os vasos sanitários daquela gente. Fiquei muito revoltada, chegava em
casa furiosa e ainda tinha o serviço da minha casa para fazer. Brigava todos os
dias com meu esposo, exigindo mudanças. Ele não estava aguentando e eu piorando
a situação.
Nem percebi que estava dificultando as coisas, então, ele adoeceu e
ficou de cama. Era tudo o que eu precisava para me tornar mais humilde.
Precisei recorrer à família, pedir ajuda para algumas pessoas ficarem com meus
filhos para eu trabalhar. Arrumei emprego numa tecelagem e consegui dar conta
das nossas dívidas, enquanto meu esposo se recuperava. Nesta época, eu estava
tão preocupada com ele que quase me esqueci do quanto detestava acordar cedo. O
dia passava tão rápido e eu tinha tanto a fazer.
Ele se recuperou, as crianças cresceram. Eu me identifiquei com a vida
de trabalho. Já não reclamava mais, passei pela transformação necessária.
Lapidação moral que me tornou muito melhor, mais delicada, atenciosa e humilde.
O trabalho dignifica o homem e Deus é um Pai tão amoroso que nos ensina
delicadamente a lição que tanto precisamos aprender.
Marina
03/12/2023
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