“Deus não desamparar nenhuma de Suas criaturas”
O difícil sempre foi me envolver com as pessoas, mas os animais eram
maravilhosos. Eu me sentia amada e acolhida por eles.
Desde jovem, busquei meu caminho e tratei de ser independente para sair
da casa dos meus pais porque sempre tive um relacionamento conturbado com meus
familiares. Eles queriam impor a maneira de ser e agir, eu não tolerei e achei
mais conveniente morar sozinha, mas a casa estava vazia e triste, eu não
conseguia dormir com medo de tudo, então, resolvi adotar um cachorrinho.
Foi a melhor coisa que fiz. Aquele amigo encheu minha vida de alegria,
eu não estava só. Sorria e cantava, parecia que ele me compreendia inteiramente
e correspondia ao carinho que eu lhe ofertava. Eu trabalhava, estudava e vivia
bem com meu amigo leal, nada me incomodava.
Mas, ele adoeceu e eu perdi o chão. Fiquei desesperada, ninguém podia
entender por que eu sofria tanto com a enfermidade do meu bichinho de
estimação, mas eu sabia que ele me sustentava emocionalmente. Mais do que
qualquer ser humano, ele me entendia e respondia aos meus apelos de compreensão
e amor. Amor sincero e completamente desprendido, ele não me exigia nada,
apenas que eu também ofertasse afeto e atenção.
Quando vi que o fim estava próximo, eu não quis me distanciar dele,
faltei no trabalho e na faculdade, muitas pessoas zombaram de mim quando
souberam o motivo da minha ausência, me chamavam de antissocial.
Eu concordo que não me sentia bem no meio das pessoas, preferia os
animais, eu desconfiava delas. Se, entre os familiares, sempre recebi
menosprezo e era repelida, imagina com aqueles que não tinham vínculos
consanguíneos ou afetivos...
Eu preferia os animais e, por isso, não queria perder meu melhor amigo,
mas eu senti o quanto ele estava enfraquecido, era o momento da despedida e eu
tentei ser forte para que ele pudesse continuar seu caminhar eterno.
Sofri tanto, mas tanto. Para mim, sem nenhuma diferença do que seria se
tivesse perdido um amigo humano ou um parente, acho que senti mais. A solidão
tomou conta da minha alma e eu não via graça nas coisas simples da vida, tudo
me lembrava dele, todos os lugares da casa estavam com a presença do ser amigo.
Imaginei que nunca mais desejaria outro bichinho para não sofrer em demasia,
mas eu precisava de alguém, eu queria ter alguém para conversar e sorrir,
então, uma vizinha sabendo do quanto eu gostava de bichinhos, me ofereceu um
bichano. Foi um gato sapeca e muito amável. Ele fez com que eu pudesse sorrir
novamente e me devolveu a alegria de viver.
Eu me tornei veterinária, a minha vocação sempre foi cuidar dos pets e
eu fui imensamente feliz sentindo o amor que emanavam. Vivi muito, sempre
cercada por felinos e dogs, seres incríveis que me fizeram ter grandes lições
de vida. Quando desencarnei recebi o privilégio de assisti-los no desencarne.
Foi o maior presente que eu poderia receber da espiritualidade de luz.
Ampará-los também na espiritualidade...
O trabalho é lindo. Eu sei e presencio o amor na grande maioria dos
casos. São muitos seres humanos que amam os animais e aprendem com eles a se
tornarem pessoas mais sensíveis e generosas. Quando aparecem casos onde
ocorreram torturas e maus tratos, ainda fico compadecida e agradeço por poder
fazer parte da equipe que auxiliará no resgate destes pobres seres que
padeceram nas mãos de almas cruéis. Deus não desamparar nenhuma de Suas
criaturas. Os animais têm amparo e continuam seu processo evolutivo.
01/06/24
***
“Só assim, podemos
perceber o quanto o sofrimento é doloroso, sentindo na própria pele”
Depois do acidente fiquei muito mal, precisei de várias bolsas de sangue
para conseguir sobreviver, então, os médicos solicitaram aos familiares e
amigos porque se tratava de uma emergência.
Eu acreditava que o amor que as pessoas tinham por mim seria suficiente
para que todos doassem uma bolsinha de sangue. Pensei mesmo que surgiriam
tantos para me ajudar que sobraria sangue no estoque, após o pedido do médico,
mas eu me equivoquei.
As pessoas tinham suas justificativas para não doarem. Cada um tinha um
argumento para não doar, até os familiares mais próximos, meus irmãos não
podiam doar porque já tinham feito tatuagem, porque estavam se sentindo fracos
com uma gripe, minhas cunhadas estavam anêmicas, os mais velhos também não
podiam doar.
Outros diziam que tinham feito a doação recentemente e não podiam doar.
O fato é que eu estava necessitando de ajuda e não tinha quem pudesse me
ajudar.
Eu não imaginava que era tão difícil! Naquele momento, eu não tive
conhecimento disso, fui informada por uma enfermeira depois que me recuperei. O
hospital utilizou o sangue que tinha disponível e eu soube que não colaboramos
com a doação. Eu me senti muito mal, até porque, eu nunca havia pensado nisso.
Eu fui uma pessoa completamente omissa nesta parte. Nunca me preocupei com
isso, jamais saí de casa na intenção de doar sangue para ajudar aqueles que
estão necessitando de doações para prolongarem suas vidas. Eu fui como tantos
outros que, envolvidos na vida material, não pensam em nada e em ninguém.
A vida do “cada um por si”, nos faz compreender o quanto é dura estar
sozinho. Não existe quem poderá nos ajudar se preciso for. Precisei passar por
duras provas da vida para ter outra concepção diante deste assunto e me
coloquei a disposição de servir e obter recursos para os anônimos que
precisassem de sangue. No meu ambiente de trabalho, duas vezes por ano, eu
pedia para as pessoas doarem, fazia panfletos com informações úteis e conseguia
convencer muita gente a fazer a caridade através da doação de sangue.
Foram mais de trinta anos trabalhando ativamente para levar pessoas ao
banco de sangue e isso me deixou extremamente feliz. Percebi que todos podem
colaborar de alguma forma. Às vezes, acontecem coisas terríveis em nossas vidas
e nos sentimos entristecidos, reclamamos e questionamos os motivos necessários para
o nosso sofrimento e abandono, talvez seja para nos aproximarmos de outros
sofredores e trabalharmos ativamente para eliminarmos a dor. Só assim, podemos
perceber o quanto o sofrimento é doloroso, sentindo na própria pele.
01/06/24
“Nós só aprendemos
a duras penas e aceitamos mudar de convicção quando pode nos custar a própria
vida”
Nossa religião não aprovava uma iniciativa tão invasiva. Eu acreditava
que precisávamos estar resignados à vontade de Deus e se fosse da Sua vontade
que a morte se aproximasse de nós, não havia nada que pudéssemos fazer.
Quando fui informada de que minha mãe precisava fazer uma cirurgia, eu
não aceitei, ainda mais quando o médico falou da transfusão de sangue. Era um
absurdo! Colocar sangue de outra pessoa no corpo dela...
Eu não podia permitir, não era da vontade de Deus que ela se curasse
daquela maneira, se fosse para viver, Deus operaria seu milagre.
Mas, a enfermeira falou que Deus colocou o conhecimento a disposição da
equipe médica para que as pessoas fossem curadas, se eu amasse minha mãe, ia
autorizar o tratamento e a transfusão, mas eu recusei.
Vivi muitos anos, pensando se eu tinha tomado a decisão correta. Vários
familiares que não eram da mesma religião, me criticaram e acharam um absurdo
que eu condenasse minha mãe a morte por causa de ser retrógrada, antiquada e
desinformada.
Eu não quis falar com eles, me distanciei.
Anos se passaram e, um dia, quem recebeu um diagnóstico semelhante fui
eu. Como se a vida fizesse questão de me ensinar aquilo que eu teimei não
aprender. Eu precisava decidir se queria viver ou morrer por negligenciar o
tratamento médico. Minhas filhas não eram religiosas e falaram da necessidade
de ter uma mente mais aberta, aceitar os planos de Deus dentro das descobertas
cientificas, também era necessário.
Mas, o que me motivou foi o medo. Eu não tenho vergonha de confessar. Eu
tive medo da morte, preferi rejeitar tudo o que eu havia pregado até então e
aceitar o tratamento e a transfusão por medo da morte. Eu me senti culpada e
fracassada, mas recebi mais vinte anos para pensar no assunto.
Resolvi deixar a minha religião porque não me senti a vontade
professando o que não vivenciava.
Assim, eu chego à conclusão de que nós só aprendemos a duras penas e
aceitamos mudar de convicção quando pode nos custar a própria vida.
Guilhermina
***
“Doe sangue e ajude a manter a vida de alguém”
Muitos falam da prática da caridade e quando mencionamos caridade, no
ato nos lembramos das cestas básicas e da quantidade imensa de pessoas que
padecem de fome todos os dias no mundo inteiro.
Não precisa pensar longe, bem perto de nós, sempre existe alguém nas
ruas precisando de um prato de comida para aguentar mais um dia.
Podemos nos lembrar do frio que mata nas ruas das cidades grandes onde
são tantos marginalizados. Doação de cobertores, agasalhos e calçados que podem
abençoar as noites de alguém.
Ao lado da doação material, nos lembraremos da caridade moral que leva
incentivo e fé, oração que encaminha fluidos de refazimento e fortaleza moral.
As palavras de esperança e confiança que encorajam e evitam as ruinas morais.
Tudo é caridade, mas muitas vezes nos esquecemos de que também podemos
doar o que sai do nosso próprio corpo físico e salva vidas. O sangue faz parte
destas doações. Assim, como a doação de órgãos, pode prolongar a vida de alguém
e faz com que sejamos seres mais abnegados e amorosos, preocupados com o bem-estar
alheio.
Doação de sangue deveria ser assunto de educação familiar, passado de
geração para geração, como algo necessário para o desencargo de consciência de
todos aqueles que desejam se elevar fazendo o bem.
Você é doador? Já doou sangue este ano? Está em bom estado de saúde para
promover a caridade material e moral com o que seu corpo produz de benéfico e
fundamental a conservação dos órgãos?
Nós devemos agradecer a Deus pela bendita oportunidade de podermos ser
úteis e podermos ajudar, antes de necessitarmos de ajuda.
Estar numa condição enferma para necessitar de transfusão é algo
inenarrável. Não conseguir conjecturar se vai continuar na carne ou não, abala
os familiares que amam e devem se entregar nos braços de Deus, aguardando que a
medicina se encarregue dos cuidados básicos e indispensáveis.
Doe sangue e ajude a manter a vida de alguém.
Vitório
01/06/24
Psicografado por Paula Alves
“É preferível ser ferido do que ferir, receber uma
ofensa do que ofender um semelhante”
Eu já sofria o bastante quando não tinha este tipo de conhecimento,
capaz de gerar a culpa que aniquila o ser.
Compreendo que a responsabilidade deveria ser ensinada para todos os
seres humanos desde que aprendam a se movimentar. Tão cedo possam raciocinar,
devem ser estimulados a fazer conjecturas e se responsabilizarem por todas as
decisões que tomam. Mas, eu não fui ensinado a pensar. O raciocínio e a lógica
bem definidos fazem com que os homens possam analisar seus passos e possam
prever seus erros e acertos.
Se eu pudesse prever... Se eu pudesse imaginar que, em decorrência, da
minha imprudência e leviandade, tantas pessoas desencanariam naquele dia
fatídico...
Eu jamais beberia e dirigiria.
Como um motorista de ônibus pode ser tão irresponsável?
E você ainda quer que eu me lembre com todos os detalhes? Mas, eu nem
preciso me esforçar para alcançar este objetivo. O menor pensamento de crime,
lesão, crueldade já me arremessa àquele dia.
Depois disso, fiquei me perguntando por que só eu não tinha morrido, eu
me senti tão culpado com o acidente do ônibus, eu me senti tão perturbado com
tantos corpos caídos ao chão que nem me dei conta de que eu também havia
padecido.
O arrependimento doeu demais e me arrastou para o vale das sombras. Eu
poderia ter recebido assistência imediata tamanho meu sofrimento em razão
disso, mas eu não pude percebê-los.
A pior coisa que existe é você desejar voltar no tempo para corrigir
algo que você tenha feito e saber que é impossível.
Por isso, tantos dizem que, é preferível ser ferido do que ferir,
receber uma ofensa do que ofender um semelhante.
Se eu tiver outra chance, desejo reparar o mal que fiz a estas pessoas.
Eu desejo me recompor moralmente, me libertar do vício do álcool e, de alguma
forma, ofertar uma vida melhor para estas pessoas.
Vocês explicaram que todos estavam ligados e, por isso, foi necessário
um desencarne coletivo, mas “ai daquele que praticar o escândalo”.
Eu não devia estar envolvido, mas já que agora, estou ligado ao grupo, me concedam a oportunidade de auxiliá-los. É tudo o que desejo.
Luís Carlos
23/06/24
***
“Se eu tivesse o bom senso de ter me colocado na condição alheia e
sentisse o sofrimento do próximo...”
Eu me deparei com
aquelas reflexões e iniciei a retrospectiva daquela vida de futilidade.
Lembrei de todas as
possibilidades que tive de ser útil no ambiente em que estive inserida,
utilizar os recursos financeiros para ajudar tantos sofredores que estiveram
perto de mim, mas não fiz nada.
Eles pareciam estar
sendo colocados em minha frente, surgiam de todos os lados, parecia que estavam
me testando e eu sempre cometendo erros e fracassos pessoais. Eu não conseguia
enxergar que poderia me elevar a partir da assistência prestada. Eu olhava para
eles com indignação, como se estivessem me incomodando, atrapalhando nos
momentos em que eu estava me alimentando, passeando, caminhando ou refletindo
sobre os valore da vida.
Era a
espiritualidade me dando diversas oportunidades de elevação a partir do amparo
dos semelhante e, ainda assim, eu insistia em me concentrar no egoísmo e
futilidades.
Eu ofendia com
poucas palavras quando me solicitavam ajuda, outras vezes, nem sequer reparava
neles ou então, me queixava do odor fétido que exalavam.
Como fui cruel com
meus irmãos necessitados. Eu padeci após o desencarne, pois fui conduzida ao
local onde tantos estavam estendendo as mãos, eles deixariam de me perseguir,
mas nestas condições, eu não poderia ajudar, nem mesmo se desejasse.
Agora, deste lado,
estou sendo esclarecida, já entendi a necessidade de depuração moral, para
isso, voltarei em precária situação financeira, provavelmente, precisarei
contar com a benevolência de outras pessoas para que possa sobreviver e me
reerguer.
Se eu tivesse o bom
senso de ter me colocado na condição alheia e sentisse o sofrimento do
próximo...
Se eu tivesse
seguido os conselhos de Jesus que nos pede para fazer aos outros aquilo que
desejamos que nos seja feito...
Eu seria mais
feliz.
Verônica
23/06/24
“As vidas sucessivas estão interligadas e cobram o que fizemos os outros sofrerem”
Vendedor de
sorvete. Eu poderia ter sido um homem bem instruído e diplomado, da mesma forma
que fui em existências anteriores.
Tenho a certeza de
que, devido a capacidade intelectual desenvolvida, eu poderia ter progredido na
ordem social, teria me beneficiado financeiramente porque eu sempre soube
conquistar boa posição de acordo com minha instrução e objetivos de vida.
Mas, eu percebi que
não conseguia pensar como antes. Parecia que minha mente estava bloqueada, eu
não raciocinava direito, uma simples adição era difícil demais para o meu
cérebro. Fui enganado tantas vezes porque não consegui fazer continhas rápidas
e errei no troco.
As pessoas não
sabem ser honestas, eles me roubavam pelo simples prazer de sentir-se esperto.
Muitos, gostam de acreditar que enganando um trouxa podem se sobressair, eles
ainda contam para os amigos fazendo gracejos.
Mas, a culpa era
minha que falava o valor errado, foram poucas as vezes que os fregueses pagavam
o valor correto, apesar da minha falta de raciocínio.
Eu demorei para
perceber o motivo de tudo isso. Diversas vezes, me senti injustiçado, tolo,
ingênuo.
Apenas quando
cheguei aqui pude notar que foi a minha provação maior. Eu precisei vir com um
cérebro físico limitado para sentir na pele o que é ser explorado, apesar dos
seus esforços para ser honesto e trabalhador.
Em outra
existência, fui um político que ganhou muito dinheiro, muito mesmo. Eu poderia
ter tido a vida confortável que tive e, ainda assim, ter ajudado milhares de
pessoas com meu trabalho sério e as doações materiais. Mas, eu me esqueci de
todos, eu nunca me preocupei com todos que passam privações e necessitam de
ajuda.
Eu tive a
consciência de que todos aqueles recursos financeiros podiam beneficiar tanta
gente e não me esforcei para ampará-los.
As vidas sucessivas
estão interligadas e cobram o que fizemos os outros sofrerem.
Eu compreendi que
minha pena foi bem leve, apesar do tanto que prejudiquei meus irmãos pela
ambição e egoísmo.
Desta vez, de plena
consciência de minhas responsabilidades sociais, desejo realizar trabalhos
sérios e altruístas, estou me adaptando para isso, estudando e ouvindo outros
tantos que, através de trabalho sério puderam se desenvolver moralmente. Eu
agradeço por todos os esclarecimentos que me deram.
Leopoldo
23/06/24
***
“Só as vidas sucessivas podem esclarecer”
Eu sabia que ele me
amava como louco, seria capaz de fazer qualquer coisa por mim. Tamanha devoção
que não se encontra aos montes por aí.
Realmente, eu não
conseguia entender por que aquele homem tão perspicaz gostava tanto de mim, mas
confesso, eu me senti lisonjeada e me deixei envolver, mas eu nunca nutri por
ele aquele amor fenomenal. Eu conseguiria viver sem ele muito bem, parecia que
me havia deixado levar por aquele sentimento que parecia ser suficiente para
nós dois.
Imagino que vivi
bem com ele, enquanto o homem foi capaz de fazer tudo por mim. Ele era bem-sucedido,
tinha estabilidade financeira, bonito, falava bem, charmoso, enfim, ele tinha
requisitos que o tornavam um homem cheio de qualidades. Isso me forneceu uma
vida muito confortável durante algumas décadas, mas aos poucos, as coisas foram
mudando.
Nós envelhecemos,
mudamos muito, o que me atraia foi ficando feio, deselegante, chato,
entediante, mas isso não foi o pior.
Com a idade, chegam
os problemas de saúde, as debilidades orgânicas, a fraqueza, as dificuldades, a
aposentadoria, a ociosidade que faz com que qualquer pessoa perca o seu charme.
Ele foi me
irritando, cheguei a pensar em ir embora, mas eu também estava acostumada com
ele, não tinha ânimo para começar tudo de novo e me acomodei naquele
relacionamento de fachada.
O momento pior foi
quando ele adoeceu, eu devia ter mostrado solidariedade e ter sido caridosa,
cuidando dele, apoiando e fortalecendo na fase difícil, mas invés disso, eu o
abandonei porque não consegui suportar aqueles dias intermináveis de dor, mau
odor, gemidos, grosserias, sem perspectiva de melhora.
Lembrei de quando
nos conhecemos e da necessidade que eu tinha de ser cuidada, paparicada.
Reconheci que não amava aquele homem o suficiente para me sujeitar a enfrentar
aquela situação tão desagradável e sugeri que a família dele ofertasse os
cuidados adequados, eu não poderia ficar responsável por ele, estado deplorável
que eu não podia suportar. Eu estava sofrendo demais cuidando dele, sabendo que
morreria a qualquer instante, então, preferi me afastar dele.
Sei que ele se ofendeu,
sentiu minha falta, notou que meu amor não era o suficiente para ficar ao seu
lado na doença e na dor. Ele tentou me amaldiçoar, desejou que eu sofresse
muito.
Depois que ele
morreu, parecia até que eu sentia a presença dele me cobrando por tudo o que eu
poderia fazer e não fiz. Ele só queria a minha presença e o meu apoio, mas eu
neguei por falta de amor e excesso de egoísmo.
Sofri a culpa e o
remorso, chorei muito no enterro, meu coração doía. Mas, agora virá o resgate.
Eu serei sua filha e nascerei com deficiência motora. Vou necessitar de todos
os cuidados dos meus pais para que possa me desenvolver e ser independente. Eu
espero que possa contar com seus cuidados.
Muitas vezes, nós
recebemos insultos de alguém e não entendemos o motivo de sermos tratados com
rispidez e falta de cordialidade, só as vidas sucessivas podem esclarecer.
Paloma
23/06/24
Psicografado por Paula Alves
“É muito provável que um dia você também precise”
Eu senti a dor e me espantei com a quantidade de sangue. Pensei que
aquele era o fim, não seria possível salvar minha vida depois do golpe terrível
com as ferragens do veículo.
Só pensei nos meus filhos. Eu não tinha medo da morte, mas temia em
deixá-los, ainda tão pequenos, eles precisariam da mãe em tantos momentos que
deveriam fortalecer sua identidade. Eu precisava ser forte e tentar resistir
para estar ao lado deles, mas não sabia se teria forças para aguardar até o
resgate chegar.
Orei, pedi sinceramente e do fundo do coração para que Deus pudesse me
manter viva em benefício dos meus pequeninos. Clamei para que meu corpo tivesse
forças para aguentar.
Mas, havia perdido muito sangue... Então, o resgate chegou, me levaram
rapidamente para o hospital e fizeram tudo para me salvar. Tenho a certeza de
que aqueles trabalhadores da saúde foram os responsáveis por meu salvamento,
pela possibilidade de prolongar meus dias de encarnada, mas agradecida
principalmente aos doadores daquele sangue que me nutriu e beneficiou.
As pessoas não podem mensurar o quanto o sangue salva vidas e pode fazer
com que meus filhos estivessem ligados à mãe durante mais de quarenta anos,
depois daquele episódio.
Sem palavras para agradecer tão generoso ato de amor e devoção ao
próximo. Quem doa sangue, doa vida e permite prosseguir.
Eu não podia agradecer a pessoa que me ajudou doando o seu sangue, então
me propus ajudar de uma forma diferente, eu me comprometi a fazer doações
periódicas até o dia que fosse possível. Passei a ser doadora de sangue, assim
como o meu esposo e filhos, já crescidos.
Em minha família, foi um objetivo que procuramos passar de geração a
geração. Doar sangue como uma forma de agradecer aos benefícios que recebemos
naquele dia.
São muitos, inúmeros que necessitam deste tipo de amparo diariamente. Em
decorrência aos acidentes de trânsito, cirurgias eletivas ou paliativas, em
casos assim, há grande perda de sangue e o paciente precisa de reposição do
volume perdido. Parece tão simples, mas há um pequeno inconveniente, o número
de doadores.
Como em muitas circunstâncias da vida, não deveria haver preocupação com
este tipo de coisa, preocupação com a ausência do recurso que salva vidas, mas
o problema é que muitos não podem ou não querem doar.
Existem pessoas que preferem não pensar neste tipo de coisa e só param
para refletir quando precisam do recurso em questão.
Eu queria que ninguém jamais precisasse de uma transfusão de sangue, mas
é muito provável que um dia você também precise.
Lembre-se: quem faz o bem, colhe o bem. É da Lei do Retorno.
Que o sangue seja importante vertente de recuperação, restabelecimento e
energia orgânica. Que todos que necessitem possam ser beneficiados.
Que você possa ser útil e ajudar, de forma desinteressada, os irmãos que
sofrem e desejam prosseguir.
Luzinete
29/06/24
***
“O preconceito morava dentro de mim”
Ele chorava e se batia, pequeno, fazia sons estranhos e eu não
conseguia dormir. Acho que, o fato de não adormecer em paz e reparar minhas
energias, me deixava ainda mais nervosa, me faltava paciência e eu batia nele.
A agressão gerava um comportamento ainda mais retraído e eu me sentia
culpada com aqueles hábitos estranhos e inabilidade social.
A culpa das mães que percebem que os filhos não são felizes. Eu desejava
que ele fosse igual as outras crianças. Queria que ele pudesse brincar e ser
feliz, falasse e mostrasse compreensão com minhas frases simples, mas ele era
alheio e vivia num mundo particular onde ninguém ousava entrar.
Eu confesso que tive vergonha do meu pequeno, eu não sabia o que ele
tinha para ser tão diferente dos outros. Desejei que pudesse ser tratado, mas
os médicos sugeriam que ele tinha retardo mental e nada podia ser feito, então,
depois de um tempo, achei que fosse conveniente ficarmos em casa, distante dos
envolvimentos sociais que faziam com que ele se irritasse e me envergonhasse
diante de todos.
Ele cresceu, eu envelheci. Me senti triste e infeliz porque me
distanciei do convívio social, até que meu esposo pediu para que eu aceitasse
meu filho.
Na hora, eu achei aquilo um absurdo porque ele era meu filho, ninguém
podia amá-lo mais do que eu, porém, fui obrigada a entender que meu esposo
tinha razão. O preconceito morava dentro de mim.
Eu desejei um filho e otimizei como deveria ser o comportamento dele,
como isso ia abrir as portas da sociedade para nós porque um filho lindo e
inteligente, todos gostam de ter por perto. Uma criança educada e atenciosa
todos querem ter por perto, mas ninguém queria meu filho, nem eu!
Aceitei minha discriminação, ele era diferente e eu tinha que entender o
que se passava no meu interior, se eu realmente o amava. Olhei para ele e para
mim. Fiquei tão envergonhada diante de Deus.
Eu amava aquele menino, independente de suas limitações, eu não queria
me distanciar dele. Então, fiz um convite:
— Vamos tomar sorvete?
Ele adorava sorvete e nunca quis sair com ele, mas após aquele dia, saí
e me diverti tentando sentir e entender o que ele vivenciava. Como podia me
comunicar com ele, o que se passava em seu coração e em sua mente delicada.
Muitos de nós são assim, não perceberam o quanto são preconceituosos e
tornam as pessoas mais próximas ainda mais infelizes, dificultando o
relacionamento fraterno e a evolução recíproca.
Geane
29/06/24
***
“Doação de sangue, em benefício de todos!”
Ele precisou de doação durante aquela fase difícil de nossas vidas. Uma
criança que sofre um acidente doméstico grave precisando de cirurgia. Eu quase
enlouqueci e soube que precisava providenciar alguns doadores de sangue porque
o hospital não tinha recursos para administrar tudo o que ele precisava para
salvar sua vida.
As pessoas eram tão ignorantes! Ninguém podia doar, sempre inventavam
alguma justificativa para informarem que queriam ajudar, mas não podiam doar.
Tudo balela! Achavam que podiam se contaminar ou podiam passar mal, outros em
decorrência da religião, achavam que eu não devia usar estes recursos para
salvar a vida da criança. Imagina!
Eu faria de tudo para salvar a vida do meu filho, mas naquele momento,
eu precisava de sangue. Eu precisava que as pessoas fossem abnegadas e fossem
doadoras.
Fui à igreja, conversei com o padre e pedi para fazer um apelo no meio
da missa, após muita insistência ele permitiu. Eu pedi aos pais, por amor aos
seus filhos que pudesse me ajudar e eles foram tocados pelos benfeitores
espirituais, eles se comoveram com meu desespero e fizeram suas doações.
Eu faria novamente, pediria nas ruas, mas acredito que as pessoas devam
realizar este ato de amor sem a necessidade de vivenciar em sua própria casa
este desespero. Além de se preocupar com o acidente e a sobrevida do seu ente
querido, você ainda tem que se preocupar se haverá sangue suficiente?
É um absurdo!
Doação de sangue, em benefício de todos!
Marlene
29/06/24
***
“Será que o nosso amor é tão puro e capaz de
superar o preconceito?”
A ligação que tínhamos foi de antigos tempos. União de amor e afinidade.
Minha filha sempre me contemplou com os melhores momentos das minhas
existências.
Assim que nasceu, demonstrou ser diferente das outras crianças, eu
percebi, mas isso não fez com que meu amor e devotamento fossem menores.
Na verdade, ela me encantava em tudo. Eu aproveitava cada momentozinho
para sorrir com ela, mas os familiares insistiam em mencionar que ela tinha
atraso, que era menos inteligente que os outros, meu marido dizia que teríamos
muitas dificuldades na criação dela e que, provavelmente, seria uma encalhada
que viveria às custas dos irmãos.
Aquilo me indignava! Sabe aquele pai que tem adoração pelos filhos que
são perfeitos? Filho que tira boa nota, que faz tudo o que o pai deseja, que é
mais bonito, forte ou inteligente que os demais? Meu marido foi destes.
Eu não permitia que fossem tratados com desigualdade ou predileção, mas
ele fez exatamente isso e dividiu nossos filhos.
Isabela sempre foi rejeitada por todos, pelo pai e pelos irmãos. Isso me
trouxe grande preocupação porque eu temia se viesse a faltar. Quem ficaria com
ela, quem poderia assegurar seus direitos e necessidades?
Eu fazia artesanato e comecei a guardar tudo o que ganhava para fazer
uma poupança para minha menina. Isso foi de grande ajuda.
A verdade é que nós temos que ser realistas. Deus nos coloca uma prova
para enfrentarmos e encontrarmos os melhores caminhos de vencermos a tarefa
difícil. Procuremos as soluções e sejamos criativos. Eu procurava,
silenciosamente, alguém que tivesse bom relacionamento com ela e percebi que
uma sobrinha mais velha que a Isabela tinha bem querer por ela, paciência e
dava a atenção que ela gostava de receber. Fiz um documento, como um
testamento, indicando que ela seria responsável pela menina se algo viesse a
suceder comigo.
Parecia que eu estava adivinhando. Seis meses depois, eu desencarnei.
Foi muito difícil me separar dela por causa das necessidades que ela
apresentava e do amor que nutria pela menina.
A minha sobrinha recebeu o advogado e o testamento, ela chorou de emoção
e mentalmente informou que jamais deixaria que minha filha passasse por
qualquer tipo de privação.
As limitações físicas e intelectuais são grandes provações, não apenas
para os portadores como também para os familiares que devem se colocar no lugar
daquele que deve se superar todos os dias e precisa de apoio.
Amar além das aparências e limitações, amar e ser instrumento de
elevação, esta é mais uma prova. Será que o nosso amor é tão puro e capaz de
superar o preconceito?
Marília
29/06/24
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