“Nós fazíamos de tudo para ficarmos em paz, mas o nosso tudo, nunca foi o suficiente para acalmar nosso genitor”
Nós precisávamos de
paz.
Todos os dias
ficávamos aguardando quando o pai chegaria enfurecido. Revirando a casa,
procurando alguém para atormentar. Minha mãe não era páreo para ele.
O danado passava no
bar antes de vir para casa e quando voltava, após mais um dia de serviço,
parecia que estava acompanhado dos seres mais perversos. Ele queria nos
castigar de qualquer jeito. Crianças amedrontadas não sabem nem brincar. Nós
fazíamos de tudo para ficarmos em paz, mas o nosso tudo, nunca foi o suficiente
para acalmar nosso genitor.
Eu preferia apanhar
do que ver um pequenino sendo maltratado ou ver minha mãe sendo arremessada
pelos cabelos. Ela sofreu muito nas mãos daquele desalmado.
Todo mundo tem
justificativa para dizer que fomos, todos nós, adversários do passado, mas
vivenciar a violência doméstica durante anos, ainda mais quando se está na
infância, é insuportável.
Afirmo que foi
muita injustiça açoitar pessoas indefesas. Tanto é que, depois que crescemos,
ele preferiu sair de casa. Por que não tentou esganar um homem, alguém que
podia medir forças contra ele?
Ele era bêbado e
não estúpido!
Nunca nos
esquecemos a terrível crueldade de termos que acordar sendo espancados. Não
tinha dia, nem hora para sofrermos a pancadaria que ele nos proporcionou.
Tem muita gente que
diz ser melhor não ter filhos, se for para maltratar desta maneira. Melhor
mesmo é tratar com seriedade a missão da paternidade e lembrar que a caridade
também envolve os familiares. Precisamos usar de misericórdia com os seres que
Deus colocou no nosso convívio íntimo.
Crescemos
atormentados, sem aceitar grandes aproximações das pessoas. Ninguém queria
casar, constituir família. Os traumas foram profundos.
Acho que minha mãe
só conseguiu dormir tranquila depois que aquele homem foi embora. Ainda por
cima nos abandonou.
Durante anos,
tivemos um pouco de sossego. Todos gente de bem, trabalhadores, conseguimos dar
conforto para a mãe. Até que um dia, ele retornou solicitou amparo da família.
Lembrou que tinha filhos e esposa quando a doença chegou.
Os tormentos formam
grandes no lado da enfermidade e ele precisava de ajuda. Voltou como uma boa
pessoa, mendigando abrigo e apoio moral. Precisava de nós.
Nenhum filho
desejou que ele ficasse em casa, mas a mãe se sensibilizou com a situação dele
e disse que precisávamos ajudar. Não podíamos virar as costas para ele. Deus
reprovaria nossa atitude com um familiar enfermo.
Então, ela falou
que teve culpa, pois deveria tê-lo enfrentado na primeira vez que nos espancou.
Ela não podia ter sido uma mulher submissa. Ela estava arrependida.
Cuidamos daquele
pai torturador, até o fim dos seus dias. Ele foi tratado com tudo o que
tínhamos de melhor. Nada lhe faltou. Fizemos o possível para não revidar o mal,
ainda mais naquele momento onde ele estava indefeso.
Foi bom para nós.
Como se servisse para limpar as chagas doloridas. Não limpou o passado
negativo. Nós não conseguimos eliminar o mal que ele gerou, mas foi bom para
não prosseguirmos com a ruina moral que nos envolvia.
Aquela situação foi
imprescindível para quebrar o elo do mal que nos uniu durante vidas sucessivas.
O que leva a crer que mais uma vez Jesus estava certo: “nós devemos pagar o mal
com o bem e nos reconciliarmos com o adversário enquanto estamos a caminho com
ele, ou seja, enquanto estávamos encarnados”.
Zé Tobias
08/08/24
***
“Precisamos de paz para reconstruirmos nossa mente pacificada”
Ela tinha problemas
psiquiátricos. Eu sempre tentei entender. Tinha dias que era mais fácil para
mim. Eu olhava para aquele semblante e via tanta fragilidade que me convencia
de que ela não tentava me prejudicar, não era proposital.
Mas, normalmente
mexia com a minha cabeça aquela mãe que quebrava a casa inteira. Eu só queria
sumir dali. Minha irmã só sabia chorar, então, a minha mente era uma derrota,
confusão e revolta.
Eu liberava meus
monstros internos na escola. Ninguém sabia explicar o motivo da minha revolta e
agressividade. Achavam que minha mãe era uma ótima dona de casa e ninguém sabia
que a gente chegava a passar fome com os armários cheios de comida. O pai
precisava trabalhar e ela ficava num mundo paralelo onde o melhor era deixar
que ela não voltasse a realidade para não mexer demais com a gente.
Eu fazia o que era
possível para cuidar da gente, mas me sentia cansado, sempre cansado.
Eu tinha muita
inveja de todo mundo que tinha pais normais. Família unida que passeia no final
de semana. Mãe que brinca e conversa, coloca a roupa limpa e serve comida
quente. A verdade é que as crianças não são nenhum pouco exigentes, elas se
satisfazem com pouco. Basta carinho, atenção, cama quente e comida no prato. Só
isso, já bastaria.
Mas, não tínhamos
nada disso e sobrava violência doméstica.
Acredito que muito
pior que os sopapos foi a negligência. Ela estava ali só de corpo presente. Não
ter minha mãe, vendo que ela estava envolvida na sua mente fria, louca,
sórdida. Houve dias de medo. De não sabermos o que se passava naquela mente, se
ela pretendia fazer o mal. Eu morria de medo daquelas gargalhadas.
Seria bom se alguém
tivesse percebido, se tivesse alguém ou algum lugar que pudesse proteger a
criança de familiares insanos. Mas, só quem protege é Deus.
Foi assim que eu
fiz de tudo para me envolver com meus estudos para ser um adulto capaz de
cuidar de nós. Assim que percebi que tudo dependeria da minha capacidade, eu me
esforcei. Durante cada ano, eu só quis crescer. Ser capaz de cuidar de nós.
Quando isso
aconteceu, eu estudei, trabalhei e me preparei para fazer a internação dela.
Meu pai, aquele
ausente, ainda achou crueldade da minha parte afirmar que nossa mãe tinha
problemas mentais. Ele me chamou de ingrato.
Solicitei uma
avaliação psiquiátrica e os médicos interditaram nossa mãe, disseram que não
sabiam como ela não realizou nenhuma insanidade, enquanto ainda éramos crianças.
Fiz de tudo para
termos um local para ser chamado lar. Minha irmã e eu, vivemos bem depois
disso. Tivemos nossas vidas, nossa individualidade, nunca nos esquecemos dos
nossos genitores, continuamos cuidando deles, mas na medida do nosso possível
porque precisamos de paz para reconstruirmos nossa mente pacificada. Faz toda
diferença ter um local onde a paz reina e nos permite descansar.
Daniel
***
“Ter compaixão no lar é fundamental para solucionar as questões mal
resolvidas do passado”
As brigas foram
frequentes. Sei que eu também não fui uma pessoa fácil.
Meu sangue subia só
de olhar para ela. Minha mãe gerava impulsos de raiva que eu não sabia
controlar. Cheguei a me culpar por causa destes sentimentos. Ela era uma pessoa
maravilhosa para todos, mas eu não suportava o contato dela.
Sei que foi
recíproco. Eu a irritava, apenas com minha presença. Tivemos muitos momentos,
onde tentamos nos reconciliar e vivermos em paz, mas nada foi melhor do que
nosso distanciamento.
Às vezes, a
separação vem como um bálsamo. Assim que tive a oportunidade de me sustentar
com o trabalho abençoado, procurei um lugar jeitoso e fui embora da casa dos
meus pais. Meus irmãos estranharam, eu era a mais nova, devia ficar até que eu
desejasse me casar, mas eu não tinha vocação para casamento e não podia mais
ficar naquele ambiente tóxico (como dizem hoje em dia).
Eu precisava me
libertar daquelas sensações terríveis, frustrações, ira, revolta, angústia.
Parecia uma crise que acabava com a minha paz de espírito.
Cheguei a me
consultar com médicos que prescreveram antidepressivos, mas a causa dos meus
problemas era a relação conturbada que eu tinha com a minha mãe.
Na nossa casa não
tinha paz. A relação era tão doentia que, após a minha saída do lar, tudo
mudou. Eu era o problema. Minha mãe teve paz depois que eu me mudei. A casa
ficou em harmonia, todos ficaram mais tranquilos.
Eu nunca fui má ou
leviana, tinha amigos, me relacionava bem no ambiente de trabalho. O problema
era o relacionamento com a minha mãe, só isso.
Fiquei distante, na
minha casa, morando sozinha. Eu ia visitá-los e quando isso acontecia, ela se
sentia na obrigação de me receber bem, de me fazer pequenos agrados de mãe e eu
a tolerava com delicadeza, percebendo o quanto ela se esforçava, então, eu
correspondia a altura, com muito respeito e dedicação, levando bombons e
sorrisos.
Era um
relacionamento delicado, nós sabíamos a fragilidade das nossas palavras, então,
tomávamos o cuidado de escolher bem cada palavra, cada contexto.
Assim, eu
compreendi que nós podemos solucionar estas questões, mas a infância é a fase
mais delicada. Os adultos devem prestar a atenção nos seus sentimentos mais
íntimos e raciocinarem porque não é fácil para o pequeno ser em
desenvolvimento. Ter compaixão no lar é fundamental para solucionar as questões
mal resolvidas do passado.
Gabriele
***
“Por que não podem ser bons também no lar?”
A violência nunca
foi ensinada pelo Mestre. Ele sempre ensinou através dos seus exemplos que
devemos amar, perdoar e sermos caridosos.
Quando nos
envolvemos com casos de violência na rua, trabalho ou escola, isso nos
constrange e preocupa. Não sabemos a quem recorrer até que tudo seja resolvido
e possamos voltar a viver em paz, podendo frequentar novamente estes lugares
sem perturbações.
Mas, quando a
violência é doméstica a questão é insuportável. Não agride apenas o corpo, mas
também a alma, produzindo danos mentais irreversíveis e talvez, irreparáveis.
Famílias destruídas
por imprudência, negligência, egoísmo. Pessoas despreparadas no lar que se
envolvem e sobrecarregam pessoas frágeis e indefesas com tudo o que existe de
pior.
Apesar dos apelos e
lágrimas nada faz com que o agressor se comova e ele prossegue durante décadas,
envolvendo seus familiares num ambiente que pode desestruturar as consciências,
aprisionando na dor e no sentimento de vingança.
Fora de casa, estas
pessoas não se revelam e podem ser cidadãos exemplares, trabalhadores corretos,
amigos leais.
Dentro de casa são
pessoas exigentes e agressivas. Por que não podem ser bons também no lar?
A questão pode
estar ligada a existências passadas ou a problemas pessoais no presente. Tudo o
que vivenciam de ruim no mundo exterior, descarregam naqueles que são mais
próximos como se tudo fosse passível de perdão e esquecimento.
Devemos olhar para
os familiares como as pessoas que mais necessitam de nós. Mas, eles precisam
que estejamos sãos, equilibrados e mansos para atender a suas solicitações.
No mundo nós
encontramos de tudo, o bem e o mal estão por toda parte. Todos precisam de refúgio,
um local de paz para o seu refazimento, onde possam colocar a cabeça no
travesseiro e recobrar as energias para socializar de forma consciente e
responsável.
Portanto, todos
deviam olhar para seus familiares, independente da sua posição hierárquica familiar,
notar as fragilidades e necessidades de cada um. Ao invés, de fazer cobranças,
ofertar aos familiares o que é da necessidade. Para recebermos amor e atenção,
é preciso ser generoso, delicado e amoroso.
Sermos para o outro
aquilo que desejamos que ele seja para nós. Por um lar pacificado!
Camilo
***
Nada foge da Lei
Divina. Todos colhem aquilo que plantam.
Eu achei que era
soberano no lar. Pensei que eles tinham que me respeitar como o chefe da casa e
que a última palavra tinha que ser a minha, isso quando eu os permitia falar
porque, normalmente, eu não tinha tempo e nem disposição para escutá-los.
A verdade é que eu
fui um tirano no lar. Mais um dentre tantos homens que agem com agressividade e
autoridade sem agir com amor e respeito diante dos familiares.
Minha esposa tinha
uma vida infeliz, eu sei. Todos conseguiam enxergar em seu semblante cansado e
arrependido. Arrependimento de ter se casado com um repressor. Ela foi uma
mulher incrível, soube driblar meus ímpetos de agressividade e dar uma educação
preciosa para os nossos três filhos. Eu a admiro muito.
É fato que eu
sempre fui muito trabalhador. Numa de minhas viagens, desejando chegar mais
cedo no destino para pegar mais uma carga, sofri grave acidente e fiquei
extremamente ferido. Foi uma grande oportunidade não ter desencarnado
imediatamente porque eu precisava aprender durante aquele sofrimento.
Fiquei em coma
durante dois meses. Há quem diga que eu não sofri porque não tinha consciência
do meu estado, porém, meu Espírito sabia plenamente o que se passava e desejava
viver.
Eu me esforcei, mas
em decorrência de todas as coisas que estava assimilando naquela fase, houve um
momento em que eu me senti desestimulado a me esforçar.
É estranho, mas de
repente, você começa a repensar e fica na dúvida se é viável tanto sofrimento.
Vontade de desistir? Eu não diria que seria desistir, mas eu ouvi quando os
médicos disseram que minhas pernas foram amputadas, ouvi sobre o traumatismo
craniano e as diversas sequelas neurológicas que aquele corpo seria obrigado a
enfrentar me deixando completamente dependente de terceiros. Sei que minha
esposa seria uma mulher fantástica cuidando de mim, mas ela não merecia, depois
das torturas que eu, a havia feito passar.
A gente chega a
desejar o fim. Todos querem viver, mas a gente chega a pensar se não seria
melhor mudar de plano e deixar o corpo se acabar de uma vez.
Ouvi tudo o que
falaram. Meus familiares eram muito melhores do que eu. Eles estavam muito
preocupados. Nunca foram cegos ou surdos, eles me reconheciam exatamente como
eu era, com todos os meus defeitos e leviandades, ainda assim, eles oravam pelo
total restabelecimento e diziam claramente para que eu não me preocupasse que
cuidariam de mim.
Eu precisava ouvir,
sentir o amor puro que emanava deles, apesar de tudo o que os fiz passar.
Eu repensei e
solicitei que fossem libertos daquele martírio e eu pudesse prosseguir na
espiritualidade, agora mais envolvido com o amor, muito mais desejoso de fazer
por eles coisas boas, mas numa nova condição.
Fui atendido, estou
aqui me reorganizando espiritualmente para regressar no mesmo núcleo para que
possa ser para eles um aliado no progresso recíproco. Gratidão.
Everaldo
***
"Quem tem a possibilidade de conduzir seus filhos numa
educação consciente e promissora, saiba dar amor"
Eu nunca fui pai de
bater em filho. Sempre achei terrível a ideia de agredir criança porque o
adulto na hora da raiva perde o controle da sua força e pode perder a noção.
Machucando realmente seu filho.
Mas, pai tem que
educar! O que fazer se não pode bater?
Eu precisava
mostrar para eles que na casa eu era o chefe. Quem mandava naquele teto era eu,
então, eu não deixava nada passar sem uma lição de moral, uma reprimenda, um
entendimento.
Minha esposa sempre
dizia que eu humilhava os meninos diante de qualquer um e isso era prejudicial
para a educação dos meninos. Eu nunca entendi o ponto de vista dela. Fazia de
conta que concordava e continuava no meu modo de agir.
Mas, notei
tardiamente que eles eram muito retraídos. Rapazes que não tinham boca para
falar nada. Não tinham argumentos, iniciativa ou motivação. Como se fossem
depressivos, desanimados. Dois jovens que deviam sentir entusiasmo pela vida e
viviam acuados. Minha esposa dizia que eu era culpado porque sempre dizia que
eles não serviam para nada, xingava e humilhava verbalmente, isso causava tanto
constrangimento moral que eles tinham medo de passarem por isso em todos os
lugares com todas as pessoas. Desencadeando um comportamento de inibição
social.
Como era possível
minha educação paterna que nunca teve um tapa sequer, ter mexido tanto com a
cabeça dos meus filhos?
Eu fracassei como
pai? Coloquei bloqueios graves nas cabeças dos meus filhos?
Então, pode
acontecer de, querendo acertar, desestruturar a mente do jovem?
Eu vi aqueles dois
e me arrependi. Eu podia ter feito tudo por eles, mas agi de forma inadequada
porque não soube ver as necessidades deles.
Crianças e jovens
precisam de compreensão, tolerância, honestidade, carinho, atenção, diálogo,
entre outras coisas fundamentais para o desenvolvimento de uma personalidade
forte e determinada e independente.
Os pais pensam no
futuro dos seus filhos e fazem planos de sucesso e prosperidade, mas muitos se
esquecem de que no presente, o lar deve ser um ambiente calmo, pacífico e
amoroso para desenvolver a mente saudável.
Acho que eu nunca
tive uma mente saudável para proporcionar isso para os meus filhos. Quem tem a
possibilidade de conduzir seus filhos numa educação consciente e promissora,
saiba dar amor.
Tarcísio
***
“Não podemos afirmar que todos os homens são agressores”
Escolhi mal meu
primeiro companheiro. Eu sempre soube que ele era um homem autoritário e
agressivo, mas me apaixonei e como tantas mulheres, achei que pudesse
transformá-lo numa pessoa melhor, doce ilusão.
Sofri demais nas
mãos dele. Apanhei e acreditei em cada pedido de desculpas, eu desejava que
fosse verdade. Vivi dois anos, tentando fazer dar certo, nem percebi que ele já
tinha se acostumado em me bater, pedir desculpas e repetir o erro sem o menor
constrangimento.
Nós seriamos o
casal perfeito, ele agressor, eu a vítima que perdoa infinitamente, se nossos
filhos não tivessem surgido.
Eu apanharia para
sempre, mas depois que me tornei mãe, percebi que aquilo não era amor, mas uma
forma inconsciente de me torturar por algum erro do passado. Eu precisava estar
bem para cuidar dos nossos filhos.
Eu quase morri de
vergonha quando meu filho de quatro anos, tremeu de medo vendo o pai me
agredindo. Eu vi nos olhos dele, o pânico.
Não queria que meus
filhos crescessem naquele ambiente, pra quê?
Só para dizer que
eu era uma mulher casada? Eu era uma infeliz mulher casada e não queria aquele
estado civil para destruir os sonhos dos meus meninos, então simplesmente fui embora.
Nós não temos nada
nesta vida, casa, carro, ventagens ou benefícios de uma vida a dois não mudam a
pessoa que você é e nem te fortalecem moralmente, não mudam a situação de
pessoa entregue as conveniências.
Eu refleti e pensei
que nunca precisei de homem para me sustentar, poderia criar meus filhos com
dignidade. Fui embora profundamente aliviada e cheia de esperança. Foi a melhor
coisa que eu fiz. Depois de dois anos, após formalizar a separação e
estabelecer algumas regras para que ele pudesse ter contato com as crianças, eu
conheci um homem maravilhoso. Ninguém pode supor que, em decorrência de um
relacionamento falido, ninguém é bom o suficiente. Não podemos afirmar que
todos os homens são agressores.
Eu encontrei um bom
homem e decidi tentar. Eu me esforçar para que desse certo, para que
funcionasse, apesar dos meus traumas de mulher agredida.
Me casei novamente
e fui muito feliz. Eu e meus filhos tivemos uma nova chance de termos uma
família feliz porque no mundo existem muitas pessoas boas.
Ele acolheu meus
filhos como se fossem seus e soube dar apoio e a atenção que precisavam para
serem bons homens.
Renata
***
“As famílias deviam viver em paz”
Eles brigavam tanto que mexia com a nossa cabeça.
Eu tentava distrair
minha irmãzinha para que ela não ficasse com medo. Eu era o irmão mais velho,
tinha cinco anos a mais e nunca me acostumei com aqueles gritos.
Ele era mulherengo,
machista, acusador e ela não ficava por baixo. Casal complicado que estava
sempre brigando. Todo dia tinha gritos e às vezes pancadaria, um horror!
Eu corria para o
quarto com a Raquel e colocava música para distrai-la. Mas, eu sabia que aquilo
não teria fim, então quando cheguei na adolescência, pedi encarecidamente para
que se divorciassem. Nós precisávamos de um pouco de paz. Eles riram, falaram
que o seu jeito de amar. Eles estavam acostumados com aquele lar
desestruturado, diziam que nas casas dos seus pais era muito pior. Achavam que
nosso lar era um paraíso e eu era um filho ingrato.
Dentro de mim, algo
dizia que as famílias deviam viver em paz e que um lar de verdade proporcionava
tranquilidade, ternura, paz, amor e solidariedade entre os membros.
Eu sonhava com um
lar neste modelo. Cresci vivendo com aqueles pais briguentos e não suportava
ouvir alguém gritando, me incomodava tanto que eu nem conseguia trabalhar.
Cheguei a pensar
que não conseguiria me relacionar com ninguém para ter filhos, constituir
família. Eu tinha trauma, assim como minha irmãzinha que depois de anos, chegou
a me agradecer por toda dedicação que eu tive tentando esconder dela a forma
como nossos pais se tratavam.
Raquel nunca se
casou.
Eu consegui me
casar, Deus me enviou uma esposa delicada e atenciosa que compreendeu meu jeito
de ser. Após anos de terapia, consegui falar abertamente sobre o assunto e
pronto para receber a prole com imensa dedicação.
Eu amei cada
experiência como pai. Não sei como um pai pode olhar para seu filho e não
sentir amor e responsabilidade diante de tanta fragilidade.
Eu só queria fazer
o melhor por eles e me dediquei para serem pessoas decentes e justas. Eu segui
o Evangelho de Jesus para ter a certeza de que o caminho do amor é o mais
indicado para conduzir a família. Graças a Deus.
Roberto
***
“Por maiores que sejam nossas rivalidades, se desejarmos estar em paz com nossos familiares, iremos conseguir”
Nunca o suportei.
Eu via a forma odiosa com a qual ele me observava. Sempre fazendo zombarias,
criticando, tentando me prejudicar.
Eu apanhei muito
quando era criança, surras por motivos banais, eu era apenas uma criança e ele
descontava em mim toda a indignação que sentia do mundo inteiro. Alguém tinha
que pagar o pato por ele ter sido tão incompetente e ter perdido o emprego?
Por que sempre
tinha que sobrar para mim?
Eu desejava um
abraço paternal, eu sentia a necessidade de tê-lo por perto, mas não
embriagado, queria que ele pudesse ser apresentado como o homem que cuidava de
nós, mas eu sentia só medo e vergonha. Ele não podia ser o meu pai diante de
todos e ser apresentado.
Vivemos assim,
enquanto eu era pequeno, ele abusou da autoridade e da força, me espancava.
Quando eu cresci, prometi que, um dia, eu ia dar uma lição proveitosa, mas não
poderia levantar a mão para o meu pai, então, preferi sair de casa e deixar a
mãe na mão daquele malvado.
Mas, minha mãe
sempre foi o tipo de mulher que prefere ficar do lado do homem, deixar o filho
na mão. Então, eu cai no mundo, acreditando que poderia mudar minha história e
me esquecer do meu passado de filho negligenciado.
Eu não imaginei que
eles precisassem de mim. Minha mãe conseguiu me achar e pediu ajuda para cuidar
daquele homem que sempre me maltratou.
Depois de pensar
muito, decidi retornar e fazer por ele coisas das quais ele não poderia
esquecer. Confesso que planejei prejudica-lo, chegar no revide e descontar tudo
o que ele me fez passar na infância sofrida.
Porém, quando ao
antigo lar e vi aquele velho doente, me decepcionei com a vida e comigo também.
Ele estava
modificado, estranho não parecia a mesma pessoa de antes. Em decorrência da
enfermidade dolorosa, ele se modificou e eu gostei do que vi. Um homem humilde,
sincero e afetuoso que me pediu perdão assim que eu o vi.
Ele reconheceu o
quanto errou comigo e me pediu perdão, falou que desejava voltar no tempo e
fazer dar certo, mas ele não podia modificar em tudo o que falhou.
Eu acho que ninguém
é cem por cento mal, nem bom. Todas as pessoas têm pontos positivos e poderiam
acertar se desejassem. Sei que, pelo fato de precisar de mim, ele se esforçou
para modificar nossa situação e conseguiu.
Então, chego à
conclusão de que todos podem eliminar as animosidades quando desejam fazer dar
certo. Por maiores que sejam nossas rivalidades, se desejarmos estar em paz com
nossos familiares, iremos conseguir.
Reinaldo
***
“Não consigo viver em paz”
Eu cheguei a puxá-la pelos cabelos.
Não conseguia
compreender por que eu não conseguia olhar nos olhos dela e isso me traz muito
remorso.
Se eu pudesse
voltar no tempo e apagar tudo o que fiz para aquela menina, se eu pudesse ter
feito coisas boas como ter sido uma mãe amorosa, sei que me sentiria em paz com
minha consciência.
Mas, naquela época,
eu só era uma jovem muito inconsequente que desejava curtir a vida e acreditava
que aquela criança tinha tirado minha liberdade.
Eu culpei a criança
por todos os meus sofrimentos, por meus vacilos, por tudo o que ficou faltando
de facilitações.
Como se eu não
tivesse pisado na bola quando engravidei. Como se eu não tivesse traçado esta
trajetória para minha vida de encarnada.
Mas, totalmente
confusa de tanto egoísmo, eu não via as necessidades da minha filha, eu só
pensava em mim.
Queria tanto que
minhas tolices não tivessem incentivado a minha filha a cometer erros tão
parecidos...
Eu me sinto
responsável por ela, por todas as más inclinações fruto de uma criação sem amor
e moralização. Ela foi negligenciada, eu não fiz nada por ela.
Agora só me resta a
culpa!
Eu revi todas as
cenas em que eu fui omissa, entendi perfeitamente como poderia ter feito coisas
diferentes e ter interferido de forma positiva na vida dela. Eu sei que as crianças
desejam o carinho e o apoio da mãe. Sei o quanto elas admiram e sentem-se
protegidas, eu poderia ter olhado para ela diferente se não tivesse sido tão
egoísta.
Criança cresce! Ela
cresceu me odiando, lembrando de cada vez que eu a castiguei e a maltratei. Ela
nem chorava, só me olhava com indignação, revolta.
Depois, na
adolescência, travou guerra comigo. Jurou que jamais se esqueceria dos dias
terríveis que viveu ao meu lado.
Ela foi embora e
voltou para casa com um homem que me bateu. Eu não acreditei que ela seria
capaz de uma coisa daquelas, lembro ter me sentido ofendida e achado aquilo uma
enorme covardia, mas ela fez questão de me dizer que covardia era espancar
criança.
Ela foi embora para
nunca mais voltar.
Depois que
desencarnei, tentei saber dela e vi que estava numa situação precária,
envolvida com traficante, sendo abusada, vida de martírio e dor.
Eu me culpo e
queria fazer algo por ela, por isso, estou solicitando novo planejamento para
que eu possa ressarcir tudo o que fiz. Não consigo viver em paz.
Claudiana
***
“Tudo depende do nosso desejo sincero de mudança e da nossa motivação, do esforço e boa vontade para dar certo”
Sentia repulsa e
pensava no que Deus desejava para minha vida.
Eu detestava aquela
vida, aquela família, mas dentro de mim, tinha a certeza de que precisava fazer
por eles tudo o que estivesse ao meu alcance para que todos pudessem viver na
paz do Senhor Jesus.
Pobreza, vícios,
falta de oportunidade, favela, tudo isso acompanhado àquela negritude que me
faziam ter a certeza de que nunca teríamos dias muito melhores.
A gente não se
entendia e nem se entendia com ninguém por ali. Era muito difícil fazer planos
ou ter esperança de dias melhores. Eu morria de medo de ser estuprada ou de
tomar uma bala perdida.
Dormia atormentada.
Então, eu culpava
meus pais por aquela vida de exclusão. Pra que ter tantos filhos que não
poderia sustentar?
Pra que morar
naquele lugar onde nem mesmo os animais podiam ter melhores condições de vida?
Eu também queria
uma casa cheirosa com quintal. Eu queria pais que não estivessem drogados,
queria irmãos que soubessem se expressar e vizinhos bem-educados.
Eu queria uma vida
nova, mas aquela era minha realidade. Acho que a gente não deve ficar fugindo
da vida que tem.
Então, eu estudei e
cresci. Fiz o que tinha de ser feito todos os dias. Um dia de cada vez, eu fiz
o que devia ser feito, sem muitas perspectivas ou ilusões. Eu só agi com o que
tinha nas mãos.
Eu encontrei um
emprego simples como eu, faxineira. Mas, fui muito grata por aquela
oportunidade de ganhar um sustento honesto e todos os dias eu perguntava ao
Senhor:
— Senhor, o que
queres que eu faça?
E as oportunidades
foram aparecendo. Estudei, trabalhei e conheci um rapaz também muito esforçado.
Consegui me formar e pude arrumar um emprego muito melhor como contadora.
Deus abriu portas
para mim, eu me esforcei para honrá-lo em cada vã oportunidade, eu O
glorifiquei.
Então, um dia,
falei para os pais que sairíamos daquele local para morar num lugar melhor e
eles riram de mim. Falaram que uma neguinha como eu não ia muito longe. Eles
iam continuar ali, esperando que eu quebrasse a cara e retornasse com o queixo
baixo.
Eu chorei. Depois
de todo o meu esforço, eles riram de mim. Por isso, arrumei minhas coisas e fui
embora. Eu me casei sem que eles soubessem e fui morar com aquele homem que
também desejava uma vida melhor.
Tudo depende do
nosso desejo sincero de mudança e da nossa motivação, do esforço e boa vontade
para dar certo.
Eu consegui mudar e
compreendi meus pais. Eles não tinham a mente aberta para uma mudança drástica.
Mas, eu merecia coisa melhor.
Nós devemos
reconhecer que as pessoas têm caminhos individuais e permitir que cada um
evolua a seu tempo.
Vanessa
***
“A pessoa tem que ter sentimento nobre”
Ela me levou embora e eu chorei porque desejava ficar com meu pai. Eu era pequeno, mas sempre confiei mais nele do que nela.
Algumas mulheres
parecem que não deviam ser mães. Ela se aproveitou de mim para causar compaixão
nas pessoas.
Tudo o que ela
pediu, nem sempre chegou nas minhas mãos. Falava para tanta gente que pediu
dinheiro para comprar remédios porque eu era uma criança muito doente e meu pai
tinha morrido, por isso, ela não podia trabalhar. Tudo mentira!
Quando não, ia para
o farol, pedia dinheiro comigo nos braços. Inventava cada história tão triste
que até eu ficava comovido.
Minha mãe sempre
foi cambalacheira. Depois, me deixava em casa sozinho, sem comida ou cuidados e
saia para beber, cada dia com um homem diferente. Nunca pensou em mim. Precisei
crescer para ir atrás do meu pai. Mas, já fazia tanto tempo, eu nem sabia se
ele estava vivo, não me lembrava do endereço.
É Deus que coloca
as pessoas no nosso caminho e ajuda para recuperarmos o que perdemos.
Eu tinha medo que
aquele pai que eu tanto almejava para me salvar daquele sufoco fosse tão ruim
ou muito pior do que ela, mas eu segui minha intuição e falei para o pastor da
igreja que queria muito encontrar meu pai, ele me ajudou.
Levou um tempão,
mas ele encontrou meu pai e me surpreendi bastante quando soube que era um
homem extremamente trabalhador e temente a Deus.
Ele também
congregava, apesar de todas as humilhações que havia sofrido por ter sido
abandonado pela esposa, ele se reergueu como membro de uma igreja séria.
Meu pai veio até
mim de braços abertos e conseguiu mudar a minha história de vida. Tudo mudou
para muito melhor.
A pessoa tem que
ter sentimento nobre. Mãe, pai, desempenha melhor sua missão aquele que sabe
amar.
Eu me fortaleci no
contato com aquele pai e pude cuidar da minha mãe no fim da vida quando ela
precisou de mim. Eu estava esclarecido, envolvido com o Evangelho. Pude
fornecer amor e cuidados filiais que a elevaram.
Pude fazer por ela
muito mais do que recebi porque Deus soube guiar meus passos. Graças a Deus.
João Gabriel
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