Eu estava na flor da idade...
Tinha tantos planos, tantas ilusões, mas comecei a
me sentir tão mal...
Minha mãe foi extremamente carinhosa, ela fez tudo
por mim, como se, apenas sua vontade de me ter por perto pudesse reverter toda
situação. Ela se culpou, achando que aquela doença fosse um problema genético,
mas ela nunca teve culpa de nada, imagina! Como ela me amou!
Sofri muito por angústia e desespero, por saber que
não tinha tempo, não tinha oportunidade. O médico foi fatalista no diagnóstico
e no prognóstico também. Frio, simples e objetivo, não deu falsas esperanças.
Eu me perguntei como teria sido se ele fosse mais humano, se pudesse imaginar
meus anseios e frustração em saber que partiria tão jovem.
Ele estava me dando um atestado de óbito de forma
natural, mas eu só queria viver. Nem por um segundo tentou se colocar no meu
lugar ou no lugar dos meus pais?
Eu cheguei a fazer alguns tratamentos que me
deixaram ainda mais debilitada, na época, foi como mexer numa cobaia. A
leucemia ganhou fácil!
Meus familiares também tiveram um comportamento
difícil de engolir. Correram para nossa casa, dizendo que precisavam se
despedir de mim e se colocaram a disposição dos meus pais para tratarem das
formalidades. Eu estava ouvindo tudo, me doeu no coração.
Eu só queria que as pessoas pudessem se colocar no
lugar das outras de verdade. Imaginar se fosse com você. Deixando tudo de lado
porque o mal-estar não permite nem sair da cama, enquanto a mente está viva e
lúcida, desejando ter disposição para agir no mundo. Eu queria fazer coisas de
jovens, sair e me emocionar, queria ter tido tempo para me envolver e namorar,
eu queria ter me casado e ter tido filhos. Queria estar com meus pais e não
queria que eles tivessem sofrido tanto. Foram excelentes, do início ao fim,
souberam me amar e me confortaram. Sem eles, teria sido muito pior.
Não é fácil saber que vai partir. Muito diferente
de uma morte que, simplesmente acontece. A sentença de morte causa indignação e
questionamentos que fazem você cruel diante de Deus. Eu não queria morrer, eu
tinha medo e insegurança. Eu pedia para que Ele me curasse e não entendia por
que devia passar por aquela experiência tão amarga, enquanto minhas amigas
sorriam felizes. Por que eu?
Eu padeci aos dezesseis anos e vivi três anos
amargos, esperando o dia chegar. Foi o suficiente para valorizar cada momento.
Cada pequeno momento para observar o céu ou sentir a brisa do mar. Eu valorizei
o carinho da minha mãe e a gargalhada do meu pai. Eu me lembro de quando dormi
na cama deles e sinto muita saudade, mas compreendi tudo o que aconteceu.
Tudo é resgate. E é tão passageiro que eu não devia
ter reclamado tanto. Mas, eu não sabia que era, apenas uma etapa do meu grande
ciclo da vida. Em outras existências, eu chefiava um imenso grupo do exército,
as pessoas que eram capturadas como opositores, precisavam passar por um
julgamento e eu enviei muitos à forca. Nunca imaginei que podiam ter famílias
ou que podiam estar sendo coagidos. Eu só pensava em eliminar aqueles que
podiam causar o mal. Sentença de morte...
Nenhum ser humano pode brincar com a vida, nem se
sentir o dono da vida, exclusivismo de decidir quem vive ou morre. Nenhum ser
humano pode determinar o destino de alguém, humano ou animal.
Eu compreendi muitas coisas e, com isso,
conseguirei traçar uma nova jornada, cheia de possibilidades. Fiquei muito
feliz quando cheguei aqui e descobri que a vida é eterna e eu tenho outras
chances de encontrar meus pais e vivenciar tudo o que não vivi da última vez.
Fiquei muito satisfeita de conhecer este mundo e saber que, em breve, estarei
retornando para uma vida de esperança e trabalho árduo.
Eu poderei me dedicar aos cuidados dos doentes.
Dedicarei minha vida para fornecer saúde e esperança. A área médica, nem
sempre, pode salvar vidas, mas sempre pode depositar fé e esperança nos
corações daqueles que parecem despedaçados.
*** Psicografado por Paula Alves ****
“O ser humano pode perder a consciência de si mesmo, mas ainda assim, têm necessidades afetivas”
As lembranças foram se apagando aos poucos.
Sutilmente, eu tive dificuldades para encontrar objetos ou lembrar dos nomes
das pessoas. De repente, os fatos foram se apagando da memória e meus
familiares me questionaram, mas eu não tinha resposta para suas indagações.
Sempre fui privilegiado com minha memória. Minha
esposa ria de mim porque eu sabia de cor os aniversários de todos e conseguia
fazer surpresas. Meus filhos estranharam meu comportamento, minha inquietação
porque eu perdi uma lupa e, logo em seguida, me irritei porque não sabia o que
estava procurando.
Eles tentaram esconder, o médico foi lógico e
informou que seria difícil cuidar de mim, mas minha esposa avisou que ficaria
do meu lado. Ela não imaginava que seria tão difícil.
Com o avanço da doença, eu esqueci até dos cuidados
pessoais. Eu me irritava dizendo que não havia me alimentado, enquanto ainda
estava com a boca suja de tanto comer. Eu ficava nervoso, resmungava, nem de
longe a pessoa que fui, paciente e delicado. Ela chorava, reclamava dizendo que
eu não era mais o seu esposo. Ela não havia dedicado o seu amor para um
rabugento como eu.
Eu já não entendia nada, mas sentia como se estivesse
sendo rejeitado. Eu sentia a energia deles. Um empurrando para o outro, os
cuidados daquele velho resmungão. Eu sentia o desprezo e depois, sentia medo
quando gritavam.
Eles gritavam quando eu me sujava todo ou sujava a
casa com excrementos. Eles perdiam a paciência e eu achava que iam me bater.
Meus filhos me levaram para suas casas, eles tentaram cuidar de mim para
facilitar a vida da mãe que também era idosa. Eles gritavam e eu tremia de
medo. Era uma imagem muito distante de mim, aquele homem resolvido, consciente
e laborioso. Tudo mudou!
Então, depois de inúmeras tentativas, eles
concluíram que não podiam ficar comigo porque ninguém sabia cuidar de um velho
com Alzheimer. Eles tinham que viver suas vidas e eu dava muito trabalho.
Acharam mais conveniente me internar e eu passei os últimos anos internado. Me
esqueci de todos eles, então foi mais fácil não me visitarem. Sozinho,
completamente fora da realidade, mas eu sentia o vazio, a necessidade de
receber afeto.
É estranho explicar, o ser humano pode perder a
consciência de si mesmo, mas ainda assim, têm necessidades afetivas. A vida de
alguém que tem apoio e acolhimento é muito melhor, eu sentia falta de algo que
nem podia explicar, mas sentia...
Tudo se esclareceu quando eu recobrei minhas memórias
antigas. A inteligência pode nos impulsionar para o bem ou para o mal. Eu usei
minha inteligência para lesar muitos compatriotas. Extorqui, roubei e dilapidei
patrimônios inteiros. Uma memória invejável para guardar dígitos e pronto! Tudo
era transferido de uma conta para outra. Para mim, muito simples. Nunca me
pegaram. A lei dos homens não pode me condenar, mas a sentença divina foi
perfeita. Me tiraram o que eu tinha de mais precioso, a mente, a minha memória.
Eu entendi e aceito a sentença. Acredito que foi bem branda diante do mal que eu produzi. Meus familiares fizeram por mim o que esteve no alcance de cada um deles, entendi também. Cada um, oferta o que tem para dar, mas se cada um que sofre tivesse apoio daqueles que estão ao seu redor, toda pena seria mais facilmente suportada.
Samuca
*** Psicografado por Paula Alves ****
“Nunca insinuar que está passando por algo que não merecia como se Deus fosse injusto”
Eu tinha dores diariamente, dores difusas.
Então, muitos debochavam de mim porque diziam que eu nem sabia o que estava
sentindo. Meu marido vivia falando que eu era uma mulher muito preguiçosa, ele
se arrependeu de ter casado comigo porque além de preguiçosa, eu era mal-humorada.
O pior é ter que fazer as coisas sem ânimo e com
dores. O corpo parecia esmorecido, eu chorava todos os dias porque não tinha
quem pudesse me entender.
Imagina se naquele lugar de miséria alguém ia
entender de fibromialgia? Não tinha nem médico para atender quem estivesse
morrendo, quem dirá a preguiçosa...
Foi uma vida amargurada com dor e falta do
indispensável. Saúde é coisa rica. Não me conformo com estas pessoas que têm
saúde, disposição, condições de trabalhar e não fazem nada ou, então, ficam se
destruindo por aí com vícios de todos os tipos, fazendo coisas que podem
fazê-los morrer por pura besteira de se aventurar.
Quem dera tivesse tido uma oportunidade de ter um
dia em paz, sem dor nenhuma. Sei que na cidade tem tratamento para estas dores
difusas. Outra coisa importante é valorizar o acesso aos tratamentos, fazer
tudo direitinho para melhorar, não esmorecer e fazer o tratamento seguindo
rigorosamente as orientações da equipe de saúde.
Sei que tem gente que vive bem, o mesmo diagnóstico
e outra forma de viver a vida porque tem cuidados e consegue ter qualidade de
vida. Viu a diferença entre uns e outros? Dependendo da condição sócio
econômica muda tudo, determina se você vai sorrir ou não. Claro que eu tentei
de tudo, tinha benzedor que fazia chás e tentava ajudar. No meu caso, tinha
dias que eu conseguia dormir melhor, mas a labuta era grande demais e os
músculos não aguentavam tanta sobrecarga, sofria demais.
Depois de um tempo, a gente se acostuma com tudo. O
ser humano tem esta facilidade de se adaptar e também, não dá pra sentir falta
do que não tem. Eu senti dor a vida toda... Na velhice, eu já nem reclamava,
aprendi a fazer uns banhos e unguentos, até distribuía para as vizinhas, fui
vivendo. Adaptação diante da dor, a gente aprende a aguentar e vive. O pior era
a depressão que ninguém nem sabia o que era. Chorava, sentia um amargor no
coração e aquele marido me enchendo, falando bobagem. Muito complicado.
Mas, cheguei aqui, tudo passou. O principal é não
reclamar, aprender a passar com dignidade, não maldizer a vontade de Deus.
Nunca insinuar que está passando por algo que não merecia como se Deus fosse
injusto.
Quando dei por mim, já estava entendendo que no
passado eu abusei dos escravos da fazenda. Eu os abrigava a trabalhar noite e
dia, até não ter forças no corpo, até cair duro no chão. Eu não ligava que
estavam com fome ou sede, ainda mandava chicotear. Foi muita crueldade. Acho
que eu senti em mim, um pouco das dores dos outros. Entendi o quanto fui
terrível com aqueles que estavam ao meu redor. Eu me arrependo imensamente.
“Saber que somos capazes, já é
superação. A limitação moral é muito pior do que a física”
A felicidade da noiva é grandiosa! São tantos
pensamentos lindos, planos de formar uma família harmoniosa e de ser feliz para
sempre com aquele ser amado.
Nós ganhamos a casa dos meus pais e meus sogros
mobiliaram tudo, do jeitinho que eu sonhei. Meu noivo, muito carinhoso, fazia
todas as minhas vontades, mas eu comecei a me sentir mal. Achavam que fosse
estresse por causa do casamento, mas minha mãe decidiu me levar ao médico.
Quando diagnosticaram Lupus, eu fiquei confusa porque nunca tinha tido contato
com esta doença e achei que não era tão grave, mas o médico me explicou a
gravidade da doença e do quanto podia ser incapacitante.
Eu fiquei com medo, mas pensei que tudo podia ser
superado com o apoio dos meus familiares, porém, eu não sabia que sofreria
discriminação no ambiente familiar. Minha sogra fez a cabeça do meu noivo, ela
não permitiu que eu me casasse com ele, temendo que ele tivesse que cuidar da
esposa doente e que não pudéssemos ter filhos. Eu entendi a situação dela,
apenas quando cheguei aqui.
No fundo, eu guardei muita mágoa e sofri demais
quando ele terminou nosso noivado. Tudo estava preparado, a data marcada e eu
tive que sofrer da doença, do término dos meus planos e sonhos de família.
Muito tempo se passou, eu tive um médico ótimo e
também tinha condições de me tratar adequadamente, o que fez com que a doença
ficasse estabilizada por longo tempo. Eu pude estudar e me entregar à carreira,
conheci um homem incrível que me tratou bem, mesmo depois que soube da minha
condição.
Estar com uma doença crônica não é fácil porque
você tem que estar atenta ao seu corpo o tempo todo, se cuidar de forma
detalhista e estar sempre acompanhando com exames e tratamentos. Mas, com
empenho e perseverança pode ter uma vida feliz.
Ninguém tem uma saúde que é igual do outro. Todos
nós temos limitações físicas e orgânicas, alguns muito pequenas,
imperceptíveis, é o uso dos óculos ou uma lombalgia. Outros, nascem sem uma
perna. De uma forma ou de outra, somos todos merecedores de atenção e
precisamos estar atentos a estas limitações para viver o tempo programado nos
desenvolvendo o máximo que seja possível.
Eu não quis perder meu tempo reclamando ou
choramingando por tudo o que perdi. Sempre acreditei que as pessoas podem
conquistar coisas especiais se tiverem ânimo e força de vontade, então, apesar
das minhas limitações orgânicas eu me enchi de entusiasmo e trabalhei. Cada dia
foi incrível, foi maravilhoso.
Saber que somos capazes, já é superação. Eu amei a
vida e sou muito agradecida pela vida que tive e por todos que fizeram meus
dias mais felizes. As pessoas que me discriminaram, achando que eu não era boa
o suficiente, sinto muito por elas, a limitação moral é muito pior do que a
física. Nós precisamos nos empenhar para sermos boas pessoas porque isso
depende do caráter de cada um.
*** Psicografado por Paula Alves ****
“Acredito que,
neste mundo todos sofrem”
Foi uma vida harmoniosa. Eu não me casei por amor,
mas fui obrigada a atender as solicitações de um pai que acreditava naquele
contrato, ele dizia que aquela família cuidaria de mim, então, eu aceitei,
confiando na escolha de papai.
Teodoro foi muito paciente e respeitador, tão
delicado e calmo acabou me conquistando. Em pouco tempo, eu estava completamente
envolvida com meu esposo. Dediquei a ele meus anos mais risonhos e o mais
sincero amor.
Tivemos três filhos lindos e amorosos. Eu não teria
do que reclamar, tudo foi belo, mas com o passar dos anos percebi o seu
esquecimento. No início, em decorrência de coisas simples e triviais, depois esquecia
de coisas importantes e também de familiares.
Eu me preocupei, após consultar o médico tive o
diagnóstico de demência senil, na verdade, ele tinha Alzheimer, mas o médico me
apresentou como demência para explicar que não tinha como curar, era
progressivo e eu tinha que me adaptar para cuidar dele para sempre.
Foi muito doloroso ver meu marido perdendo a
consciência de si, da sua posição social e familiar, do nosso relacionamento.
Houve um dia que ele se esqueceu de mim, perguntava
pela Débora, sua esposa graciosa que se parecia comigo, mas como poderia se eu,
tão envelhecida? Eu sofri demais. Nunca imaginei que, de fato, era u quem iria
cuidar dele.
Acredito que, neste mundo todos sofrem. Eu até
estranhava da vida tranquila e sem sofrimento que tínhamos. Mas, o meu
sofrimento não foi muito menor que o dele, sofrimento reflexo também dói
demais.
É quando você sofre em ver o sofrimento alheio,
desejoso de solucionar os problemas do outro, sem ter condição de fazer isso.
Sofri demais, mas tentei não deixar transparecer para que meus filhos
suportassem a dor com mais leveza e meu esposo tivesse uma vida tranquila e
confortável.
Aprendi tanto! Acredito que foi das encarnações
mais proveitosas porque desenvolvi virtudes que achei não fizessem parte de
mim. Apesar de todas as dificuldades, cuidei dele até o fim, sofri a sua perda,
sofri a dor da solidão e desenvolvi um amor lúcido e humanitário que me
reaproximou dele aqui no plano espiritual.
Aquela doença fez bem para nós, através dela, nos
desenvolvemos, ressarcimos débitos e nos amamos, ainda mais.
Débora
10/02/2024
“Existe muita gente
que é fraco para dor, reclamam e se aproveitam de tudo para não ter
responsabilidades”
Fui em tantos médicos, alguém tinha que
saber o que minha filha apresentava.
Muitos, disseram que era emocional,
que eu cobrava muito de Amanda e ela estava sobrecarregada. Me senti culpada,
não sabia o que fazer para aliviar seus sintomas. Até que ela teve uma sincope
e corremos com ela para o pronto socorro. Naquela noite, Deus colocou um anjo
em forma de médico no meu caminho.
Aquele Dr. Soube reconhecer que o
Lupus agredirá a válvula cardíaca. Eu não entendia nada de doença reumática,
mas sabia o quanto minha filha estava sofrendo sem tratamentos.
A vida dela não se modificou depois
disso, ela continuou tendo crises álgicas e cardíacas, mas com o diagnóstico
sabíamos a quem recorrer e como deveríamos proceder nas crises.
Apesar, das dificuldades físicas, ela
se esforçava para ser normal na sociedade, para estudar e ter amigos.
Eu admirei muito minha filha e
aprendi demais com tudo que ela vivenciou. Existe muita gente que é fraco para
dor, reclamam e se aproveitam de tudo para não ter responsabilidades, faltam no
emprego e até enganam, criando doenças fantasmas, no entanto, aquele que
realmente sofre, deseja estar presente e participar de tudo. Acho que é, no
mínimo, ingratidão de muitas pessoas com a saúde que receberam.
Existem tantas que se queixam dos
seus filhos saudáveis, elas evitam os filhos e fazem de tudo para delegar suas
responsabilidades à terceiros, mal sabem o quanto sofrem as mães que veem seus
filhos com dores, dificuldades e sofrimentos variados impossibilitadas de
ajuda-los.
A Amanda se adaptou com os
tratamentos e medicamentos, conseguiu ter uma vida quase normal. Ela foi feliz,
nós fomos.
Nunca me esqueço das diversas vezes
em que ela mesma me deu esperanças em ficar melhor. Ela olhou para mim, me viu
chorando e disse:
—Mãe, não fica assim não, tudo passa!
Verdade. Passou tão rápido! Nós fomos
tão amigas e companheiras, através da compaixão que senti por ela. Conseguimos
dissolver sentimentos de adversidades de muitas encarnações pregressas.
Hoje estamos bem, nos preparamos para
o retorno como amigas que irão desenvolver trabalhos com crianças carentes.
Estou feliz com este novo projeto. Se Deus quiser voltaremos jubilosas.
Alice
10/02/2024
*** Psicografado por Paula Alves ****
“Se as pessoas fossem mais caridosas...”
Acredito que seja mais fácil ajudar
quando a pessoa é da família, mas eu não tive sorte. Meus familiares fizeram os
testes, mas nenhum deles era compatível comigo.
Fiquei numa fila interminável
aguardando por um doador. Eu não tinha nenhuma esperança porque muita gente
estava esperando, como daria tempo de chegar minha vez? Por que eu deveria
supor que minha vida valia mais do que a deles?
Minha mãe dizia que eu era pessimista
e, por isso, as coisas não davam certo para mim. Ela falava de Deus, que ele me
amava e iria me salvar. Eu ficava até irritada porque sempre achei que Deus não
podia ser responsabilizado por tudo. Em se tratando do bem ou do mal porque
tudo era culpa de Deus?
Não. Eu não queria responsabilizá-lo,
mas mãe era fanática, foi por isso que eu sofri tanto com meu desencarne. Ela
se revoltou contra o Pai dizendo que Ele virou as costas para ela. Vê se pode?
Eu sentia que aquela vida era curta,
mas não sabia explicar isso para mãe. Ela ficava exausta esperando doador e eu
só queria viver meus minutos da melhor forma possível.
Ora, se houvesse mais gente
preocupada com o sofrimento alheio... Gente que faz de tudo pelo bem dos outros
e doa sangue, medula óssea, cabelo, córneas, coração, rins, sorrisos e atenção,
eu até poderia ter pensado diferente, mas infelizmente a maioria das pessoas só
quer pensar nisso quando elas ou alguém da família tão mal, mas tão mal que
precisa de doação.
O pior de tudo é pensar que isso pode
acontecer com qualquer um. E se fosse com você. Como se sentiria?
Ana
10/02/2024
*** Psicografado por Paula Alves ****
“Quando os seres
amados se mostram compreensivos, respeitosos e colaboram, as dores são
amenizadas”
Eu não sabia o que fazer para ajudar.
Dava pena de ver o estado dela. Minhas irmãs reclamavam e ficavam indignadas,
dizendo que ela era preguiçosa e me explorava, mas só u sabia como a vida era
difícil para ela.
Ainda assim, a pobrezinha trabalhava
em casa, trabalhava fora e ainda cuidava dos nossos filhos e dos pais dela.
Quando eu falava para Marlene
sossegar um pouco, ela falava que outras pessoas também tinham problemas e
dependiam dos cuidados dela, ela precisava vencer a dor e prosseguir.
Falou diversas vezes que “a gente se
acostuma com tudo, até com a dor”. Então, eu fazia de tudo para ajudar, já que
eu não podia liberta-la de todo sofrimento físico. “Isso é por causa do seu
peso” ou “ é a idade dona Marlene, assim mesmo, tem que acostumar é daqui para
pior”
Eles não diziam que ela tinha
“Fibromialgia”, no Norte era difícil demais a gente ter acesso a medicina de
qualidade. A coitada foi considerada preguiçosa. Mas, nós, os entes queridos
mais próximos, tínhamos que procurar facilitações para a vida daquela mulher
que tudo fazia para nos agradar, tamanho amor e consideração que teve por
todos.
Quando os seres amados se mostram
compreensivos, respeitosos e colaboram, as dores são amenizadas. Nada mudou, a
doença continua a mesma, os infortúnios permanecem, mas o apoio e a solicitude
aliviam a carga da dor.
Donizete
10/02/2024
*** Psicografado por Paula Alves ****
“A vida dá voltas e nós sempre colhemos”
Parecia que eu estava esquecendo as coisas e tentava me lembrar, mas foi
como um martírio. Eu procurava e nunca iria encontrar porque não sabia o que
estava procurando e isso me irritava demais.
Os familiares perceberam que eu estava diferente, apesar do meu esforço
enorme para disfarçar que algo estava me afligindo. No fundo, eu temi, soube
que podia estar doente e quando mencionei à minha esposa, ela se chocou.
Ficou desesperada e comentou com nossos filhos que eu estava perdendo a
memória. Eu sabia que era patológico e te confesso, dá desespero, muito medo e
angústia.
Pavor da dependência e da inutilidade. Eu sempre fui um cara muito
autossuficiente. Jamais desejei precisar da assistência dos outros.
Sei lá, tem gente que parece gostar do auxílio de terceiros, gostam de
serem servidos ou de fazer corpo mole, enquanto outros trabalham dobrado, mas
este nunca foi meu caso.
Eu sempre tive orgulho da minha iniciativa e decisão, da independência
desde pequenino, comecei a trabalhar jovenzinho e foi uma vida bem árdua que eu
enfrentei de cabeça erguida, por isso, fiquei horrorizado quando me apareceu
aquela crise de ausência e esqueci de todas as coisas e pessoas. Eu fiquei
desnorteado, mas as situações não desapareceram todas de uma só vez, eu tive
consciência de que estava piorando e isso foi muito pior.
É como perder a própria identidade, ver que você está sumindo,
desaparecendo em frente ao espelho. Como se você já não soubesse da sua
história e de tudo o que aconteceu durante as décadas que viveu. Foi horrível!
Eu queria uma resposta, por que estava perdendo tudo o que minha mente
registrou?
Tudo o que temos são nossas lembranças, tudo. O que temos são os
momentos, as sensações, os registros, as imagens, os históricos. As lembranças
são tudo o que temos e eu estava perdendo tudo o que tinha registrado, por que?
Fiquei indignado comigo, com minha doença que me colocava como um
demente no mundo. Como alguém que não consegue raciocinar para cuidar de si
mesmo, eu já nem lembrava de quem eu era, do que gostava ou quem eram aquelas
pessoas que me tratavam com carinho e eu fiquei muito irritado.
Eles tiveram muita paciência e eu queria me desculpar, mas tinha medo de
todos porque eu não os conhecia.
Foi bem difícil. Compreendo que foi imprescindível porque eu precisava
ficar sozinho, mesmo estando com meus familiares.
Em outros tempos, internei minha esposa num hospício porque desejei me
apropriar da herança de família que ela tinha direito. Eu fiz de tudo para que
ela ficasse presa e sozinha. Eu fiz questão de me esquecer dela para que minha
consciência não cobrasse o mal que eu cometi e pudesse viver feliz com outra
mulher, as regalias daquele dinheiro que usurpei. A vida dá voltas e nós sempre
colhemos, colheita dolorida para aquele que fez o mal. Foi assim que o Alzheimer
fez o resgate das minhas faltas. Pena branda, aliviada pelo amor do Pai para
com um filho ambicioso e mal-intencionado.
Eu compreendo e agradeço todo esforço que têm feito para meu restabelecimento. Gratidão.
Jeremias
17/02/2024
----Psicografado por Paula Alves-----
“Ador é assim, não
posso dizer que é psicológica, mas que é psicossomática”
Eu queria fazer mais e ter melhores condições de vida. Acreditei que
minhas dores, impossibilitavam um rendimento satisfatório para que eu pudesse
melhorar a vida dos meus familiares.
Meu esposo foi formidável e trabalhou incansavelmente para que eu
pudesse me sentir confortável em casa, em decorrência das queixas álgicas que
eu apresentava, mas eu não achava justo que só ele tivesse que se sacrificar
para nos dar uma vida tranquila, então, sai em busca de ocupação, mesmo com as
dores que eu sentia.
Consegui trabalhar como lavadeira, meus braços doíam muito, mas eu não
podia reclamar, ele nem sabia que eu estava trabalhando. Conheci uma benzedeira
que me ensinou a fazer chás e pomadas, com isso, junto com a fé nos propósitos
de Deus, eu consegui levar a vida e trabalhei muito, juntei dinheiro e falei
para ele que nós poderíamos comprar nosso terreno.
Foi uma vida sofrida, trabalho e dor, dor, dor, mas eu aprendi a não me
queixar, pelo contrário, eu agradecia quando alguma senhora me indicava para
uma amiga e eu conseguia mais trabalho porque sabia que conseguiríamos nossa
casa.
Acho que minhas dores aliviavam quando eu me sentia feliz e
entusiasmada. A dor é assim, não posso dizer que é psicológica, mas que é
psicossomática. Dependendo do nosso estado de espírito, parece que ela aumenta
ou diminui.
Sempre que eu ficava preocupada ou entristecida, parecia que eu não
tinha forças para sair da cama, mas quando ficava cheia de esperança e fé, daí
meu corpo se erguia e eu nem sentia tanto.
Foi aí que eu entendi o quanto é importante o controle mental e
emocional. Eu fazia o possível para estar longe de assuntos que podiam me
irritar ou desestabilizar, procurava ter uma vida com rotina, sono controlado,
alimentação saudável, oração, suavidade de pensamentos e remédios naturais, a
base de ervas.
Consegui ter um equilíbrio que permitiu ter qualidade de vida. Naquele
tempo e nas minhas condições, não consegui tratar com médico, nunca soube que
eu tinha fibromialgia, mas era isso sim. Com o meu jeito de ser, pude ter uma
saúde estável e uma vida feliz.
Dionira
17/02/2024
----Psicografado por Paula Alves-----
,
“Tratei de diversos vícios, morais e físicos, em decorrência da educação que recebi dela”
Ela dizia que daria o coração para salvar minha vida. Acho que é difícil
alguém nos amar mais do que a nossa mãe nos ama. Ela sempre foi uma mulher de
muita fibra, emoção e razão que me permitiram ter uma educação incrível.
Nunca foi mãe de passar a mão na cabeça, ela me repreendeu sempre que cometi
algum erro, jamais permitiria que algum filho se desviasse. Ela levava a sério
sua missão de mãe e eu só tenho motivos para agradecer.
Como todos os seres humanos em processo evolutivo, retornei com falhas
morais, desvios que deviam ser corrigidos ao longo desta vida eterna, mas ela
se dedicou tanto em perceber o que eu precisava corrigir... Acho que foi um Espírito
muito lúcido e decidido a avançar o máximo que fosse possível, o trabalho que
ela desenvolveu comigo foi impressionante. Tratei de diversos vícios, morais e
físicos, em decorrência da educação que recebi dela.
Para finalizar sua missão excepcional, ela me concedeu a oportunidade de
prolongar a estadia na Terra quando doou a medula óssea.
Não sei explicar a sensação que eu tive, o sentimento que tomou conta de
mim quando eu soube que minha mãe era compatível e podia doar. Foi alívio, paz.
Mas, Deus sabe de todas as coisas e tudo tem um preço na vida. Ela ficou
muito mal depois da doação. Parecia que não tinha razões para isso, mas ela
adoeceu gravemente. Enquanto eu melhorava, vi minha mãe definhar. Como se ela
tivesse entregado toda a vitalidade naquela doação. Eu estava curado e minha mãe,
morrendo.
Ela percebeu, parecia sentir que o momento final se aproximava. Olhou
para mim e pediu para que eu nunca me esquecesse do que ela me ensinou, eu
precisava aproveitar com seriedade aquela oportunidade que recebi de ter mais
algumas décadas de vida. Falou que eu era o amor da sua vida e que ela só foi
feliz, o tempo todo porque teve uma família maravilhosa.
Eu entendi que existem pessoas que sabem ser altruístas e conseguem amar
intensamente a ponto de fazer sacrifícios pelo outro. Minha mãe fez demonstrações
de abnegação o tempo todo e eu avancei no contato com ela. Como é bom ser amado!
Claudiney
17/02/2024
----Psicografado por Paula Alves-----
“Existem algumas
verdades que despertam a alma, nós precisamos ouvir e nos posicionar diante das
adversidades da vida”
Eu não quis sair de casa porque não suportaria encontrar algum amigo que
visse o farrapo de gente em que eu me transformei.
O orgulho fez com que eu me enterrasse dentro de casa. Sei que havia muito
que podia ser feito, mas eu não tive coragem de lutar contra o Lupus.
Acho que, para os covardes como eu, qualquer doença é fatal. Não importa
o que seja, tudo é sentença de morte ou incapacidade.
Eu fui vaidosa e desejei ter uma vida invejável. Me achava muito bonita,
tinha planos, era uma pessoa muito popular, então, quando na adolescência, eu
comecei a me sentir muito mal e fui diagnosticada com Lupus, simplesmente não
quis o contato com ninguém.
Meus pais diziam que eu estava com depressão, mas era orgulho ferido
mesmo, eu tinha vergonha de aparecer daquela forma, cara de doente, inchada por
causa dos medicamentos, esgotada por causa das dores, feia, deprimida e sem
esperança.
Me isolei e meus pais se entristeceram demais. Eu nunca pensei no
sofrimento deles. Foi como se eu estivesse caminhando só, mas a verdade é que
eles sofreram comigo, acho até que muito mais porque não podiam fazer nada se
eu me recusava a melhorar.
Eu só percebi quando vi minha mãe chorando, sendo consolada pelo pai. Ela
disse que sentia doer o coração só de ver o quanto eu estava me arrastando na
vida. Ela queria ajudar, mas não sabia o que fazer. Se pudesse, ela trocaria de
lugar comigo e pegaria todos os meus problemas para ela.
Eu me senti uma grande egoísta. Tentei me esforçar para retomar minha
vida, afinal era este o jeito que eu precisava viver.
Eu me conscientizei de que cada um de nós, tem o seu caminho marcado,
nenhum caminho é igual o outro, mesmo os pais não conseguem aliviar os caminhos
dos seus filhos e tem de aceitar promovendo, apenas conforto moral.
Então, eu não podia almejar que minha vida fosse como a vida das outras
pessoas, eu precisava aceitar minha vida com todos aqueles empecilhos e
sofrimentos, devia me esforçar para encontrar facilitações na luta diária,
fazendo por onde avançar, a partir do meu esforço e perseverança.
O diálogo familiar é muito importante. Existem algumas verdades que
despertam a alma, nós precisamos ouvir e nos posicionar diante das adversidades
da vida. Nada melhor que receber elucidações daqueles seres que nos amam muitíssimo.
Foi uma vida cheia de desafios, mas junto dos meus pais, os dias ainda
foram floridos.
Laura
17/02/2024
----Psicografado por Paula Alves----
“Nós só valorizamos a vida quando ela está prestes a se extinguir”
Eu devia ter aproveitado melhor o meu tempo. Eu tive condições de
desempenhar uma série de coisas que seriam muito proveitosas para mim e para
aqueles que conviveram comigo, mas me entreguei a coisas fúteis e sem sentido.
Foram trinta anos de vida ociosa, cheia de vícios e libertinagem. Meus
pais tinham bons planos para mim, desejavam que eu me formasse e seguisse
carreira militar, mas eu achava que aquela vida não era para mim, simplesmente
porque não estava disposto a me dedicar ativamente num propósito edificante de
vida.
Eu sei que fiz com que todos sofressem com minhas imprudências. Quando a
leucemia chegou, meus pais já estavam cansados de sofrer com minhas
delinquências e, mesmo assim, se esforçaram ao máximo para encontrar um doador.
Eles tinham fé em mim, no meu potencial. Eles nunca desistiram de ver o filho
num futuro promissor. Acreditavam que eu poderia seguir uma vida retificada,
formar família e ser feliz.
Mas, eu fiquei doente e eles ainda se perguntavam: “por que, justamente
com ele?”, “por que com nosso filho tão amado?”
Ainda acreditaram que aquela doença era uma injustiça para alguém que
nunca soube valorizar tudo de bom que recebera. Os pais são muito amorosos e
conseguem perdoar estas falhas de caráter que os filhos têm, menosprezando
todas as preciosas instruções que os pais desejaram passar.
Eu via o sofrimento no rosto deles e ouso dizer que sofreram muito mais
do que eu. Nem sofri porque eles me cobriram de afetos e delicadezas que
fizeram meus dias muito confortáveis. Com tudo isso, modifiquei minha forma de
enxergar a vida e me arrependi imensamente. Como pude ser capaz de desrespeitá-los
daquela maneira me deixando fracassar? Eu senti vergonha.
Em determinado momento, eu não tinha forças, nem para ficar de pé, para
me erguer da cama e refleti em todos os momentos em que estive tão vivo, tão
cheio de forças e ânimo, eu não me esforcei para estudar ou trabalhar, eu
dediquei meus dias a todos os tipos de abusos, desperdício de saúde e
vitalidade.
Eu desperdicei uma vida fazendo bobagens, enquanto tive pessoas que me
apoiaram o tempo todo e não mereciam a maneira como vivi. Eu me sinto
envergonhado e considero que não merecia ter recebido uma doação.
Penso que a doação é uma nova oportunidade. Entregue àquele que
realizará muito bem suas inclinações e aproveitará esta nova chance para ser
útil, compensando todo tempo que recebeu. É como um bônus, uma extensão da
vida, um presente e eu, não merecia estender a vida que eu nunca soube
preservar, nem me esforcei para fazer dela um bem para mim e para os outros.
Eu considerei que as pessoas deviam pensar nisso quando se entregam aos
absurdos da vida: vícios e desvarios que antecipam o desencarne. Eu fazia de
tudo para não viver muito, esta é a grande verdade, mas meus pais sofreram
muito mais do que eu e eles não mereciam um filho que desse tanto desgosto e
preocupação.
Se eu pudesse ter mudado, faria de tudo para que tivessem tido uma vida
feliz e tranquila. Eu não teria sido o causador dos seus problemas. A leucemia
me ensinou uma grande lição. Nós só valorizamos a vida quando ela está prestes
a se extinguir.
Nivaldo
25/02/2024
***
“Lupus trouxe muitas limitações por
causa dos problemas orgânicos”
Eu adorava cuidar do meu jardim e percebi, com o passar do tempo que
minhas mãos estavam extremamente dolorosas. Eu não tinha a mesma habilidade de
antes e me cansava facilmente, algo estava errado.
Eu devia ter aproveitado melhor minha vitalidade quando tive condições
para isso. Foi extremamente desgastante ir a médicos, fazer exames e muito
triste saber que não tinha cura para o meu problema. Eu tinha que aprender a
conviver com o sofrimento e me adaptar em busca de qualidade de vida.
Confesso que sempre fui um pouco preguiçosa, eu nunca tive muita coragem
para encarar a vida. Admirei aquelas mulheres que conseguiam desempenhar mil
coisas ao mesmo tempo, mas eu nunca fui assim. Minha mãe reclamava dizendo que
eu era devagar e não gostava de realizar as tarefas domésticas. Eu gostava de
cuidar das flores e nada mais.
Desejei ter tido mais disposição quando encarei que minha vida seria
mais difícil. Acho que deve ser comum. Quando sabemos que algo nos será tirado,
isso passa a valer muito para nós. A minha saúde se tornou algo muito precioso.
Eu podia conviver com a dor, mas o pior foi admitir que seria uma vida tão
restrita, quase inútil, mas em decorrência de tudo o que eu estava descobrindo,
minha mãe percebeu minha decepção e comentou em tom de gracejo: “Mas, você
nunca quis fazer grande coisa, filha”.
É verdade, eu nunca tive grandes ambições, nunca me esforcei para ser
uma pessoa ativa ou útil na família ou na sociedade, para que eu desejaria
mudar tudo agora que as dificuldades se apresentavam diante de mim?
Porque eu sabia que não podia fazer grandes esforços. O Lupus trouxe
muitas limitações por causa dos problemas orgânicos, mas o pior foi a mente. Eu
cheguei a conclusão de que minha vida poderia ter sido muito diferente. Eu
poderia ter me dedicado como tantos outros, ter tido uma vida agitada, cheia de
compromissos e tarefas edificantes. Eu podia ter me envolvido com pessoas
incríveis e ter feito parte de grupos de auxílio. Poderia ter aprendido tanto e
me acomodei.
O Lupus não acabou com minhas possibilidades, a fraqueza moral acabou
com elas. O Lúpus me fez enxergar o que eu poderia ter sido e não fui por causa
da preguiça e comodismo. Eu seria da mesma forma sem o Lupus, porém, sem a
necessária conscientização.
Depois de tantas reflexões, entendi que eu precisava fazer algo
produtivo independente da minha situação álgica. Então, fiz tudo o que pude,
estudei, trabalhei na minha floricultura, forneci trabalho para alguns
funcionários e tive muitos amigos, até um namorado.
A doença pode ser fonte enobrecedora, tudo depende da forma como você
procura refletir diante de tudo o que te acontece.
Lorena
25/02/2024
***
“Muitas vezes, nosso egoísmo faz com que pensemos
que somos mártires”
Eu me queixei demais. Enquanto estive encarnada não pude perceber. A
gente acostuma e não consegue notar que tudo pode se tornar um hábito. Eu tive
o hábito do melindre, da reclamação.
Durante este tratamento, pude relembrar e vi o quanto eu reclamava.
Cheguei a afastar diversas pessoas por causa deste comportamento desagradável.
Eles gostavam de mim, mas eu me tornava uma pessoa cansativa e sombria como se
não tivesse nada de bom para oferecer.
Eu me queixava das dores e deixava que a melancolia tomasse conta de
mim, por isso, eles não conseguiam ficar comigo por muito tempo. Me chamavam de
chata e eu me indignava quando ouvia alguém me chamando de chata, mas era
verdade. Eu também não ia desejar entrar em contato com uma chata como eu.
Nós precisamos permitir que as pessoas desejem estar conosco. Fazer o
possível para sermos agradáveis, amáveis e atenciosos. Não desejar ser o centro
das atenções, mesmo que seja, usando a doença ou o sofrimento para atrair os
olhares ou compaixão das pessoas. Eu não teria esta clareza mental se estivesse
encarnada, mas a verdade é que percebi que isso é filho do orgulho.
Que vergonha! Eles estavam certos em me evitar. Hoje eu compreendo bem.
Tão difícil manter uma conversação com alguém que reclama de tudo e se acha o
dono da verdade porque está doente. Até os mais próximos faziam de tudo para
não ficarem comigo por muito tempo e eu pude visualizar o quanto sofriam.
Muitas vezes, nosso egoísmo faz com que pensemos que somos mártires.
Pensamos que ninguém no mundo sofre mais do que nós e que, por isso, devemos
receber de todos, consideração, atenção, cuidados, entre outras coisas. Eu
nunca me preocupei com meus pais ou com meu marido, achando que eles não tinham
dores ou problemas, mas foi um engano terrível porque na Terra todos são
sofredores.
Todos têm problemas, mas algumas pessoas são tão dignas que levam sua
vida com um baita sorriso no rosto que faz com que todos pensem que são
imbatíveis, invencíveis, que nunca passam por algo ruim.
Mas, estes também sofrem e enfrentam tudo com dignidade. Existem outros,
não menos especiais, que sofrem dores físicas e/ou morais, mas eles se importam
com o sofrimento dos outros que até se esquecem de seus calvários, estes são os
abnegados. Eu nunca havia pensado em tudo isso, aprendi aqui e fiquei lembrando
de vários que estavam bem perto de mim e eu podia ter aprendido muito com eles
se parasse de pensar, apenas no meu egocentrismo.
Todos sofrem, mas a beleza do sofrimento está em conseguir visualizar um
mundo de possibilidades de crescimento e paz. Usar o sofrimento para seu
próprio crescimento, ajudando os demais.
Eu perdi tudo com minhas queixas. Perdi todos os benefícios que poderia
ter tido com o sofrimento porque foi como ter criticado o poder de Deus na
minha vida, foi não ter submissão à Sua vontade, fui ingrata. Não aproveitei
aquela existência onde a fibromialgia me fez sofrer, sei que na próxima a carga
será ainda pior. Eu estou me preparando para retornar, para que seja uma vida
mais bem-sucedida, sem reclamações.
Ester
25/02/2024
***
“Nós só valorizamos o desenvolvimento financeiro,
intelectual e deixamos de lado todos os outros setores da vida humana”
Eu devia ter aproveitado o tempo que tinha para ficar com eles. A gente
acha que sempre vai ter tempo. Que no futuro as coisas serão mais tranquilas e
vamos ter maiores possibilidades financeiras para descansar, passear com a
família, ficar à toa reconhecendo aquelas pessoas que estão ao seu redor.
Mas, eu achava que podia deixar pra depois, quando tudo estive bem
alicerçado e eu estivesse com condições apropriadas para isso. Achei que tinha
muito tempo.
Vi que cresceram, o quanto se esforçavam na vida, nos estudos, depois
procurando empregos e oportunidades. Minha esposa dava de ombros, dizendo que
nossos filhos aprenderam comigo e quase não tinham tempo para a alimentação ou
para o descanso, pensando numa vida melhor. Ela dizia que não devia ser assim,
correndo atrás de bens e posses, enquanto a vida passava tão rápido. Ela falou
que eu não aproveitei a infância deles e que eu nem conhecia nossos filhos, eu
não sabia o que passava na cabeça deles porque nunca tinha tempo para
conversar.
Eu corri, trabalhei tanto, construí um patrimônio confortável e ensinei
para meus quatro filhos que não devemos perder tempo com bobagens, antes de
termos uma vida tranquila. Deste modo, eles seguiram meus passos e se
arruinaram tanto quanto eu.
Nós só valorizamos o desenvolvimento financeiro, intelectual e deixamos
de lado todos os outros setores da vida humana. Nunca achei importante me
dedicar à espiritualidade ou fortalecer laços de amizade. Eu não tinha tempo
para conversas.
Mas, quando notei que tudo estava se apagando, fiquei muito arrependido
porque soube que eu não teria tempo para realizar tudo o que eu sempre deixei
de lado. A doença não ficaria esperando até que eu pudesse realizar minhas vontades.
Eu falei para minha esposa, antes de me esquecer dela, que tudo o que disse
estava cheio de razão. Eu errei muito em não dedicar tempo para a família e
lazer, eu precisava ter apreciado o vento e a chuva, eu precisava ter conhecido
meus filhos e podia ter ficado abraçado com ela um pouco mais.
Eu me esqueci. Esqueci de quem eu era e daquele ritmo frenético que me
fazia deixar as refeições de lado. Ela me abraçava com um olhar fraternal e eu
estranhava aquela presença, mas me deixava ser abraçado. Eu gostava de receber
afeto.
O tempo pode ser melhor aproveitado. Tem tempo para tudo: para amar e
trabalhar, para estudar e descansar, tempo para observar e falar. Tempo para
questionar e meditar.
Eu não soube aproveitar o meu tempo e perdi tudo antes da morte chegar
porque perdi a consciência de mim mesmo. Eu tinha tempo, todo tempo do mundo e
não tinha consciência do que poderia ser feito dele e não consegui fazer mais
nada. Então, eu fiquei ali inerte, enquanto todos a minha volta seguiam suas
vidas.
O Alzheimer me ensinou que a mente precisa ser valorizada com momentos
prazerosos que envolvem família, lazer e descanso. Eu podia ter aproveitado
melhor o meu tempo precioso.
João de Farias
25/02/2024
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