Cartas de Dezembro (16)

Foto Cedida por Magno Herrera Fotografias


“FELIZ ANO NOVO CHEIO DE POSSIBILIDADES PARA VOCÊ”


Muitos dizem que se trata de uma data sem importância, como outra qualquer, mas tudo depende da importância que dão para todas as coisas. Existe quem não se importa com nada e com ninguém, nem consigo mesmo. Pessoas que vivem por viver, dentro de sua nostalgia, ignorância ou egoísmo completo. Pessoas que se deixam levar por um calendário que não diz nada, por dias que passam sucessivos sem emoção ou modificação. São inertes, impassíveis. Para eles é sempre um tanto faz de todas as coisas que são tratadas como dispensáveis ou apagáveis, até da memória.
O Ano Novo é importante sim para a conscientização, para que você possa recapitular, observar o que fez num período de trezentos e sessenta e cinco dias. Como utilizou sua sensatez, seu precioso tempo e, para aqueles que realmente levam a sério o que digo, o que fez de sua vida até aqui.
Meses que passam correndo para uns, lentos para outros, cada qual tendo empregado seu tempo da forma como achou mais viável. No final de um ano deveria refletir sobre tudo o que foi realmente aproveitado. O que fez você melhor?
Você deve se lembrar de como era no ano anterior. Se lembrar como iniciou este ano.
Quais eram suas expectativas?
Quais eram suas intenções?
Suas preocupações?
O mais importante é se lembrar de todos os percalços que você pode remover. Quantas situações angustiantes você enfrentou e descobriu coragem, fé, perseverança e otimismo que são virtudes necessárias para o progresso humano?
O que você superou e fez perceber que é uma boa pessoa? Você notou que ainda tem muito a melhorar e descobriu falhas morais que fizeram você batalhar para eliminar do seu íntimo? Depois de tudo isso, você olhou ao seu redor e viu o quanto as pessoas precisam de você lúcido e consciente do quanto é indispensável para o bem comum?
Mas, passou um ano e continuamos no processo evolutivo. No próximo ano nada vai mudar drasticamente quando os fogos de artifício fizerem barulho. Você não vai se transformar num homem de bem de uma hora para outra, a sua vida não vai ficar muito mais fácil, nem seus problemas vão desaparecer, até porque todos eles são necessários para o seu enobrecimento.
Você pode começar tudo de novo. É uma nova chance de fazer o seu balanço geral. Você vai se encarar como é de verdade. Vai deixar suas máscaras de lado porque para Deus e para nós mesmos, precisamos ser reais.
Quando você ficar no silêncio da sua consciência, encare-se sem temor. Veja tudo de ruim que você semeou, limpe tudo isso para que possa reiniciar.
Reiniciar com esperança, coragem, perseverança e otimismo, tudo com uma dose extra de fé, sabendo que Deus abençoa nossas boas intenções e facilita nossa trajetória colocando seres abnegados ao nosso lado. Nós sempre temos novas oportunidades de fazer o bem para nós mesmos e para as outras pessoas, portanto, para os negativistas, para os materialistas o ano Novo não passa de balela. Pode ser uma bela oportunidade de embriaguez e tolices com muita irresponsabilidade, mas para os espiritualistas deve ser considerado um reinício, uma belíssima nova oportunidade de fazer tudo muito bem feito.
Neste novo ano olhe as pessoas como seres divinos, todos criados com certa perfeição, dotados de boas possibilidades. Não tema a humanidade, não diga palavras potencialmente negativas. Quando você der uma má notícia, corrija-se, tente dar uma bela notícia a inspirar as pessoas que te cercam.
Lembre-se dos aniversariantes, ligue para as pessoas, deixe as mensagens de lado para um bate papo amigo. Olho no olho mexe com as emoções!
Abrace mais, diga que ama, mexa com os sentimentos do seu próximo. Sorria! Cante!
Você pode ser muito melhor!
Feliz Ano Novo cheio de possibilidades para você.
LUIZ FERNANDO
(trabalhador do grupo de pesquisa).
28/12/19

------------------------Paula Alves--------------------------

“APRECIANDO A VIDA, RESPEITANDO A VIDA E GLORIFICANDO A VIDA”

Passaram seis anos. Quanto tempo deve passar para esquecer de tudo o que vivi? O tempo não é nada deste lado. Tudo parece muito mais vivo, mais real, mais ardente. Eu sentia desespero. Uma vontade incontrolável de estar ao lado deles. Foi bom me aliviar dos sintomas da doença, foi bom ficar sem dor, mas a saudade acabava comigo.

Eu achei que fosse o fim, pensei que depois de toda dor a morte seria o final. Eu pensei em Jesus, eu não quis ser arrogante como vivi a vida, soube que Deus estava sempre certo e, por isso, não deveria reclamar, blasfemar. Ele estava certo sobre o que deveria enfrentar e eu estive tranquilo em relação à minha realidade. Quando descobri o câncer fiquei desequilibrado. Eu tinha esposa e filhos, pais e irmãos.
Como poderia dar a noticia a todos?
Como dizer que já estava bem avançado e não tinha mais o que fazer? Eu quis evitar falar sobre o assunto. Eu pensei que tivesse uma salvação, mas depois de falar com minha esposa, eu descobri uma força que não sabia ter dentro de mim, foi Deus. Ele me fortaleceu para que todos pudessem passar por aqueles momentos sem tanto desgaste.
É normal não saber o dia do retorno. Nós nascemos e, na maioria dos casos, somos ensinados a não pensar no fim. Ninguém quer morrer e, a morte passa a ser um assunto tabu. É como se não pudesse falar para não atrair a situação da morte. Eu não sabia o que dizer em relação a morte. Eu nem sabia como pensar na morte.
A imagem dela com a foice me levava a crer que era uma situação terrível. Todos devem fugir dela, mas e depois?
O que acontece quando chega a hora? Como eu deveria reagir?
Eu decidi esperar por ela. Foi muito angustiante. Me disseram um ano e eu esperei. Foi o pior ano de minha encarnação porque eu tive expectativa de morte todos os dias daquele um ano. Um ano esperado minha morte chegar. Tomei medicações, tentei ser feliz em um ano, viajei, comi, fiz coisas que tinha desejo ou curiosidade de fazer e depois esperei. Mas, quando ela chegou, eu não quis ir. Eu me agarrei no corpo, eu queria viver. Eu descobri que amava a vida e tudo o que existia nela. Eu vivi quarenta e três anos e nunca tinha parado para pensar o quanto adorava minha vida simples. As pessoas reclamam de tudo e nem param para analisar que se tivessem que se despedir da vida que têm, não iam querer se livrar dela.
Pense se você ia querer deixar tudo para trás, abdicar de tudo o que viveu até hoje? Você pode ser uma destas pessoas que reclamam, pessoa que se acha inferior, você mesmo se menospreza e diz que não serve para nada?
Então, pense se ninguém iria chorar por você. Não existe ninguém? Um cônjuge, filho, neto, avô, um amigo muito especial? Alguém que te ama pelo que é? Com seus defeitos toscos, seus terríveis enganos, sua chatice incontrolável e seu dedo podre para situações ruins?
Eu tive muitas pessoas que choraram por mim por vários dias. Pessoas que eu nem lembrava, mas estiveram no meu velório e se lembraram de momentos lindos que passamos juntos, eu nem ligava mais para elas, mas elas oraram por mim e eu sou grato.
Eu percebi que minha vida não tinha preço, minha saúde não tinha preço e meu corpo merecia ter sido mais bem cuidado para durar mais.
Eu me arrependi de muitas coisas e queria estar com eles de novo.

Aí tive uma linda oportunidade de estar com eles no réveillon. Estou tão feliz. Espero que estejam todos unidos com alegria e esperança. Eu os amo demais. Não ficou nenhuma situação desagradável, pelo contrário, só gratidão, só afeto.
Espero que vocês consigam compreender meu relato. Que vocês consigam se cuidar melhor e vivam intensamente todos os instantes que tiverem para viver. Apreciando a vida, respeitando a vida e glorificando a vida. Deus os abençoe.
RODRIGO
28/12/19

----------------------------Paula Alves-----------------------

“SERVIR, APENAS PELO PRAZER DE SERVIR”

Haverá muito trabalho para quem gosta de trabalhar. Muita paz para aqueles que são mansos e pacíficos. Muita solidariedade para aqueles que estendem suas mãos.
O ano será da forma que você quiser que ele seja. Todos nós recebemos oportunidades de produzirmos. Deus coloca no nosso caminho chances preciosas, depende do que é mais importante para cada um de nós.
Todos os preguiçosos vêm o trabalho como castigo, assim como para os gananciosos nada é o suficiente.
Arregaçar as mangas e fazer o que deve ser feito todos os dias, aproveitar o tempo, não desperdiçar nada, olhar para o lado e ajudar todos que estiverem a sua volta, para muitos é uma grande tolice, mas quantos não se beneficiam da atitude alheia?
Para transformar o mundo é necessário atitude de modificação que impulsione e sinalize que podemos nos unir e trabalhar para que a mudança afetiva ocorra sem medo ou frustrações. A ambição deve ser a coletividade, nunca a unidade. O que serve para um, não serve para nada.
Eu pensei que me candidatando poderia ajudar minha gente. Poderia matar a fome, dar moradia, eu poderia ajustar os salários e dar mais emprego. Eu queria mudar a vida deles, eu tinha boas intenções, mas não pensei que eles podiam modificar tanto o nosso pensamento com insinuações, com bens e facilidades.
É tão fácil ser visionário, ser bom quando se é pobre. Eu mudei muito meu ponto de vista. Entendi porque escolhemos a prova da riqueza. É fácil esquecer de todos os propósitos quando se está cercado de luxo e mulheres bonitas. Sexo, drogas e dinheiro viram a cabeça da gente.
Eu esqueci dos rostos das crianças do bairro, eu deixei de lado o cheiro de lixo, o transporte público em péssimas condições para viver a magia do momento. Eu só pensei em mim. O que poderia ser feito?
Nós nos vendemos. Cada um de nós tem um preço, mas o meu foi ínfimo perto dos meus escrúpulos que eu havia assumido com a sociedade carente.
Eu tenho vergonha de tudo o que planejei. Eu preferia ter lutado com poucos recursos e ter algumas dezenas de pessoas para auxiliar.
Entendam que, quando você reconhece o covarde que é, o ganancioso que é, o egoísta que você é, o melhor que tem a fazer é agradecer por aquela pessoa que te corrige, que te fala não, que te coloca para trabalhar sem ter chance de pensar em você mesmo, te lembrando o tempo todo que tem gente que precisa deste seu trabalho, por mais humilde que ele seja.
Pare de reclamar daquela pessoa que está do seu lado e te pede para trabalhar de final de semana. Aquele que te pede para ajudar o pobre, para dar um copo de água ou ajudar no trabalho que não é remunerado. Aí você acha que isso não te leva a lugar nenhum, que bom se não tiver ninguém olhando, faça e aproveite esta chance para que o orgulho também não se apodere de você.
Se todos nós tivermos a oportunidade de ajudarmos pequenos núcleos de atividade do bem, sem ostentação e reconhecimento, talvez, possamos aprender efetivamente o que é servir, apenas pelo prazer de servir como o Mestre nos deu provas generosas.
EZEQUIEL
28/12/19

---------------------------Paula Alves------------------------

“O CONHECIMENTO DE SI MESMO É IMPRESCINDÍVEL”

Fugir de quem? Se meus pensamentos revelaram o pior de mim? Quando me olhei no espelho fui encorajado a me ver por dentro. Em retrospectiva eu revivi os momentos em que fui monstruoso.
Lembrei o quanto fui malvado, delinquente e agressor. Eu tive os exemplos de meu pai e jurei que nunca seria como ele. Eu não imaginei que perderia o controle por ciúmes de Odete. Minha esposa nunca me deu motivos para desconfiar dela, mas eu fiquei cego de ódio e de ciúmes. Demorou para reconhecer o  porquê de toda aquela fúria. O orgulho ferido me inquietava.
Ele a observava, pensei que fosse a  roupa, o decote, mas seria qualquer coisa, ele a desejava, mas ela só se preocupava com nossos filhos, eu não vi ninguém.
Agarrei Odete pelo braço, eu a arrastava e fomos embora do aniversário do meu sobrinho, ele era meu irmão, covarde, sem vergonha.
Eu esperei até que fossem dormir, bebi demais e quando me aproximei dela, reagi como um animal.
Qual o meu direito?
Por que somos tão agressivos?
Tão vilões?
Aí quis corrigir, pedi perdão, mas ela estava machucada, indignada, mulher fiel agredida, mulher leal ofendida. Ela não me queria mais.
Tentamos, eu tentei ser bom, mas dentro de mim ainda existia aquele que quer dominar, aquele que é cruel. Ela foi embora.
Quem quiser ter alguém, que solte. Ninguém consegue o amor privando a liberdade, exigindo isso ou aquilo, mudando os hábitos do outro, proibindo as inclinações. As pessoas se corrigem com o tempo, por si mesmas quando lhes convém.
Eu me olhei no espelho com a casa vazia, muito tempo havia se passado depois que o acidente aconteceu, mas eu ainda queria que ela estivesse se guardando para mim. Eu não queria que tivesse outro relacionamento, outro marido. Preferia que ela sofresse sozinha. O meu egoísmo não permitia que eu desejasse que ela encontrasse outro que fosse melhor do que eu.
Por que somos tão ruins?
Eu quis parar e deixar que ela vivesse em paz com nossos filhos e, por isso, consegui vir para cá.
Isso tudo não está relacionado com ela, mas comigo, seria assim com outra também. É posse. É desejo de se apossar do outro. Apossar do corpo do outro, da mente do outro e de tudo o que o outro vai decidir em sua vida. Isso é doença e eu preciso me curar para reiniciar uma nova jornada.
Se eu tivesse olhado para dentro de mim antes, eu teria percebido o quanto estava errado. Eu teria visto o quanto maltratei muitas mulheres que passaram em minha vida, incluindo minha própria mãe.
O conhecimento de si mesmo é imprescindível para a reforma íntima e para o bom convívio social.
GILBERTO
28/12/19  
-----------------------------------------Paula Alves-------------------------------------


Foto Cedida por Magno Herrera Fotografias

“NINGUÉM TEM QUE SE SENTIR HUMILHADO DE FAZER UM TRABALHO HONESTO”

Foi uma confusão. Eu via um alvoroço, todo mundo comprando muitas coisas, parecia até que o mundo ia acabar. Pra mim, até que foi bom porque eu também estava vendendo. A água acabou tão rápido e eu fiquei feliz porque poderia levar alguma coisa pra casa. Eu já estava desempregado há dois anos. Minha esposa ficou tão doente, logo também a dispensaram e a casa de aluguel ficou extremamente cara para nossos recursos.

Quem pensa que nunca na vida vai passar por isso, deveria se cuidar porque pode acontecer com qualquer um. De repente, você começa a perder tudo, vem a doença e o desespero bate. Quem vivia de forma confortável precisa pedir favor para amigos e familiares. É incrível como as pessoas se afastam, então, você que vivia cercado de pessoas que te adoravam, se vê sozinho no meio da dificuldade. Os parentes dizem que também não podem ajudar, que a vida está difícil para todos. Nós quase fomos despejados, se não fosse a venda da água e a dona da casa ter misericórdia de nós, na verdade foi Deus mesmo, Ele intercedeu naquele dia e ela teve paciência com a gente.

Tudo mudou demais e as tribulações tiraram meu sono. Eu nunca fui vagabundo, nunca fui inadimplente, mas perder o emprego, perder a renda mensal que paga todas as suas contas e te permite cuidar com dignidade da sua família, é triste demais. Quando eu percebi, estava com uma esposa doente, dois filhos jovens em casa e muitas contas para pagar. Vida louca!

As pessoas olham para quem trabalha na rua como se fosse um animal estranho. Tudo para gerar medo e a gente sente que não faz parte do mundo, não tem convívio social. Naquele Natal, eu vi todo mundo afobado para comprar de tudo um pouco. Eram lembranças, presentes caros, enfeites para casa, enfim, muita coisa inútil que no fundo não faz diferença nenhuma. Tem gente que não consegue enxergar tanto enfeite. As pessoas ficam viciadas em comprar, tudo o que vê quer levar para casa numa disputa de quem vai enfeitar mais, quem tem mais, vale mais?
Será?

Isso é o que nos define, então, eu não valia nada porque eu mal tinha dinheiro para comprar comida. Naquele Natal eu só queria que todos estivessem bem e tivesse comida na minha casa. Houve momentos de não ter leite, pão, manteiga, mas quando faltou arroz e feijão, eu fiquei desesperado. Minha esposa ainda tentou me animar, ela falava que ia buscar na igreja, no centro espírita. Ela sempre ganhava e a gente ia levando a vida. Quando a cesta básica chegava em casa, eu ficava tão grato a Deus. Eu só pensava que eles tinham que ter alimento. Aí a Nena usava a farinha, fazia bolo e o meu filho vendia na porta da escola. Tinha dias que os outros meninos riam muito dele vendendo bolo, eu vi de longe quando os olhos dele encheram de lágrimas, mas ele ergueu a cabeça e fingiu que não era com ele. Eu fiquei admirado da força do moleque.

Ninguém tem que se sentir humilhado de fazer um trabalho honesto. Ele vendeu todo o bolo e a Nena fez mais e mais, de um fazia dois e meu menino começou a se alegrar que estava ajudando na casa. Todo mundo unido, as coisas melhoraram um pouquinho.

Teve dias do pessoal da igreja questionar por que ela ia sempre pegar cesta. Eles achavam que eu era um imprestável, que eu não queria trabalhar. Eu ficava o dia todo na rua e vendia o que podia, mas já pensou quanto você tem que vender pra juntar um dinheiro pro mercado?
É fácil apontar, criticar é muito fácil.
Quando cheguei em casa, a Nena tinha arrumado tudo com delicadeza. Nem sei como ela conseguiu deixar a casa tão bonita. Não tinha peru, pernil, nada disso. Foi o melhor arroz com feijão que eu já comi. Delicioso mesmo, cheio de amor da Nena. Eu agradeci muito a Deus pela nossa prova de viver a nossa vida, sem ficar comparando com a vida dos outros.

Claro que me veio uma coisa na cabeça, eu sempre penso nisso: já pensou se em todas as casas onde a ceia é farta pudessem distribuir, apenas o que não consumiram aos necessitados?

Eu sei que é muita coisa, comida em excesso, tudo em excesso.
 E SE NO NATAL, VOCÊ PUDESSE DOAR PARA AQUELE QUE NÃO TEM NADA?
Acho que faria alguma diferença.
GUSTAVO
23/12/19

--------------------------Paula Alves---------------------

“NÓS SEMPRE PODEMOS DESCORTINAR A MENTE, NINGUÉM SABE QUANDO SERÁ O SEU DESPERTAR, ENTÃO FIQUE ATENTO”

Eu estava preocupada com outras coisas. Tinha a viagem marcada e ainda tinha que providenciar roupas e calçados apropriados. Eu estava cansada de ficar com meus familiares que discutiam por tudo, então planejei a viagem para que pudéssemos nos divertir. Eu não estava pensando que poderiam sentir a minha ausência, brigavam por tudo. Eu estava escolhendo as roupas e vi uma senhora que estava quase caindo na calçada, me apavorei para ajudar porque ela era muito velhinha. Quando cheguei diante dela, pensei que estava tendo um infarto, mas ela disse que estava com fome, aí eu pensei: “Agora ela vai tomar todo o meu tempo”.

Mas, eu não podia virar as costas para ela, então, eu a levei para comer alguma coisa. Tive que permitir que ela se apoiasse em mim, mas o cheiro era bem ruim, mesmo assim, eu tentei não constrangê-la e fomos à lanchonete. Eu quis ir embora depois que paguei pelo lanche e a acomodei, mas ela perguntou se eu não poderia doar um pouquinho do meu tempo para ela, eu fiquei envergonhada e sentei ao seu lado, enquanto ela comia.

Ela estava bem esfomeada, eu paguei outro lanche e quando tomou fôlego ela começou a falar sobre sua vida. Ela disse que tinha família. Falou que sentia saudades de alguns momentos onde foi feliz junto dos seus, mas por causa do seu orgulho e falta de paciência, simplesmente virou as costas e foi embora. Depois de algum tempo, mesmo se arrependendo já não podia voltar, não tinha coragem de dizer o quanto esteve errada. Ninguém poderia supor que uma mulher soberba se tornaria mendiga, pedinte, moradora de rua.

Ela me olhou firme nos olhos e disse que nós deveríamos nos enxergar nos outros. Ver o quanto somos tão parecidos em inúmeras questões. Todos nós ambicionamos parecido, sofremos parecido e nos alegramos de forma parecida, nós poderíamos ser mais unidos, todos nós.

Ela chorou e disse que tinha muito tempo que ninguém a escutava. Falou que mais do que matar sua fome, eu tinha olhado nos olhos dela e perdido algum tempo para ouvi-la. Ela estava feliz por ter sido vista por mim, me agradeceu tanto e depois foi embora, me deixando ali surpresa por tudo o que vivenciei.

Foi estranho como eu acordei. Foi como se tudo fizesse sentido depois daquilo. Eu olhei para todas as pessoas que estavam naquele local, muitas pessoas, cada uma envolvida na sua função, no seu momento de alegria ou de questionamento. Eu vi o quanto somos invisíveis, o quanto ninguém se importa muito com o que acontece na vida do outro e parecia que eu estava compreendendo que eu sempre fiz tudo errado. Eu sempre liguei para o que não fazia a menor diferença.

Eu sai dali e vi o mundo mudado, o mundo tão enlouquecido, tão delinquente e temi que ninguém enxergasse as verdades, as realidades, que ninguém pudesse se esforçar, que todos fossem como eu. Eu despertei e chorei porque perdi muito tempo. Fiquei com vergonha de mim mesma. Cheguei em casa, vi minhas malas e lembrei dos meus familiares. Eu precisava deles na minha vida e queria estar sempre com eles, então resolvi não viajar. Eu queria estar com eles, brigar com eles, sorrir com eles, mais uma vez.

Naquele Natal tudo foi diferente porque eu estava transformada depois daquela conversa. Nós sempre podemos descortinar a mente, ninguém sabe quando será o seu despertar, então fique atento. Ouça mais, observe mais. Acho que todos têm o momento certo para ver. Depois disso, eu tive a grandiosa oportunidade de encontrar pessoas nos lugares certos, na hora exata e fui me reunindo com grupos que estavam dispostos a espalhar o bem. Tudo mudou, minha vida inteira mudou depois disso. Um novo propósito, que não estava ligado aos bens, mas a concretizações da alma. Sou grata.
SIRLENE
23/12/19

-------------------------------------Paula Alves-----------------------------------

“EXISTE MUITO BEM, MUITO AMOR, MUITA PAZ E MUITOS SERES DISPOSTOS A FORTALECER A HUMANIDADE IMPULSIONANDO PARA O PROGRESSO”

Eu tinha dores pelo corpo todo. Via nos olhinhos deles um fascínio e eu era o causador de tanta alegria e imaginação. Sabia que não podia decepcionar, então, respirei fundo.

Fazia vinte dias que estava peregrinando por toda parte vestido de Papai Noel. Eu comecei para ganhar um dinheiro porque um velho barrigudo não arruma emprego fácil e eu precisava de dinheiro para trocar o telhado da minha casa. Meus filhos já tinham suas necessidades, suas dificuldades e suas rendas definidas para isso ou aquilo. Eu precisava me virar. Foi aí que o dono do mercado me viu e sorriu: “Papai Noel, você por aqui”.

Ele riu, apertou minha mão e elogiou minha barba. Eu nem sei por que chegou naquele ponto. Minha esposa estava me pedindo para tirar há meses, acho que me acomodei. O dono do mercado falou que precisava mesmo se preparar para o Natal e me convidou para ficar por ali, atraindo a criançada porque junto delas estariam os pais comprando a ceia. Quando ele falou que podia me pagar, nem pensei duas vezes, aceitei na hora. Minha esposa riu tanto desta história. Me apoiou e falou que este bico chegou em boa hora.

Foi assim, que tudo começou. Eu recebia e consegui trocar o telhado, deixei minha casa em ordem, comprei óculos para nós e me encantei com os olhares das crianças. Foi bom demais ser importante para alguém. Eu era o Papai Noel!

Mas, não foi assim sempre. Presenciei casos estranhos, onde o adulto briga com a criança e nem deixa chegar perto da gente. Falava que eu era um mentiroso, que Papai Noel só existe para fazer o pai gastar dinheiro, que é comercialização de crença, mexendo com a cabeça das crianças. Eu quis falar que não era nada disso, mas lembrei que eu estava vendendo o sonho, tinha um preço para mim, eu me constrangi. Me senti uma farsa, como se estivesse enganando aquela criançada, cheguei em casa e guardei a roupa, eu não quis mais ser o Papai Noel. Eu fiquei tão triste, peguei uma tosse terrível, nada fazia curar e soube de uma garotinha da vizinha que estava doentinha querendo ver o Papai Noel, minha esposa sabia por que eu estava mal e aproveitou para falar da menina.
- Ela acredita. Ela tem sete anos e foram falar para ela que o Papai Noel não existe.
- E não existe mesmo – falei para ela.
- Mas, você pode fazer o Papai Noel aparecer para ela – falou minha esposa.

Ela explicou que a menina estava bem doente, já havia sido internada e nada fazia melhorar. Eu estava sem saber se era certo ou errado, mas me ergui, coloquei minha roupa, coloquei um sorriso no rosto e levei uns doces para a garotinha. Quando ela me viu, parecia que estava vendo uma aparição. Ela me abraçou, me beijou, puxou minha barba e vi quando a cor voltou no rostinho dela, estava melhorando visivelmente.

Eu chorei discretamente porque vi que ela estava se enchendo de esperança. Nós temos que crer em alguma coisa. A criança começa a ter a sua fé nas fantasias. Ela acredita no coelhinho da Páscoa, na fada do dente e no Papai Noel. Criações humanas. Será?

O que existe que é fruto exclusivo de nossa imaginação, se tudo é criação mental?

Eu não cobrei mais por minhas atuações como Papai Noel. Eu me senti melhor assim, doando meu tempo, mesmo cheio de dores nas costas, os sorrisos me fortaleciam. Vivi muito, fui completamente feliz junto das crianças, foram os raios de sol, meus impulsionadores. Eu dava balinhas que era o que eu podia comprar e, aos poucos, fui tendo colaboradores que me apoiaram em lindas festas de Natal com presentes para todos.
Quando se quer fazer o bem, Deus abençoa e tudo se realiza.

Quando desencarnei velhinho demais até para andar, fui surpreendido com uma linda visão. Eles vieram ao meu encontro, me socorreram e receberam no grupo. São tantos trabalhadores do bem. Tantos que pensam no Espírito natalino. Os Noéis vieram me buscar e ensinaram tudo o que eu devia saber para continuar atuando deste lado.

Creiam amigos, na espiritualidade existem coisas que vocês não podem imaginar. Existe muito bem, muito amor, muita paz e muitos seres dispostos a fortalecer a Humanidade impulsionando para o progresso. As mentes infantis se tornarão mentes adultas, por isso, devemos cuidar delas com toda delicadeza. Pessoas cheias de esperança que sabem que podem fazer o bem, podem ser melhores uns para os outros trabalhando com solidariedade e amparo. A criança deve ser estimulada com toda criatividade, por isso, o mundo da fantasia pode ser aproveitado para se manter reta na disciplina e no bem comum.
LUÍS NOEL
23/12/19

--------------------------Paula Alves----------------------

“EU DESISTI PORQUE PREFERI VIVER A LIBERDADE, O EGOÍSMO, VIVER SÓ PENSANDO EM MIM”

Aconteceu porque tinha de ser. Meus pais acharam que foi muito trágico, mas eu sempre gostei de emoções fortes. Gostaria de ter vivido mais, claro. Gostaria de ter estado no casamento da Mina. Queria ver o Tomás formado, mas eu estava tão transtornada que não pude estar entre eles.

Toda adrenalina e desperdício do meu tempo precioso. A gente abusa da sorte mãe. A verdade é que minha vida tomou o rumo diferente do que eu tinha traçado, totalmente diferente. Nunca imaginei que tinha um plano para cada um de nós, mas tem sim. Somos tão importantes para Deus mãe. É lindo ver como tudo funciona. Eu ainda desconheço muitas coisas, mas respeito tudo o que vejo, hoje eu compreendi.

Eu andava de bike, achava que era emocionante, sair puraí desbravando o mundo. Lembra quantas vezes você pediu para eu não ir? E eu ria, pegava a bike e falava: “olha o capacete!”
Não tinha como proteger na descida da serra mãe. A velocidade era muito intensa. Eu abusei. Sofri sim, o mal necessário para valorizar o corpo, a saúde e a vida que Deus dá. Soube o quanto deixei para trás. Um trabalho voltado para obras sociais, um esposo que teve que reorganizar o plano porque eu o recusei, filhos que tiveram de retornar em outros ventres, seriam três.

Tanto trabalho para reorganizar quando eu recusei tudo pela adrenalina. Me desculpe mãe.
Você sofreu mais do que eu. Eu senti sua angústia, seu desespero, seu choro vinha direto na minha cabeça e eu gritava de remorso, eu te amo. Se pudesse teria voltado no tempo e feito tudo o que dava trabalho e eu não queria, era tudo o que eu tinha que ter feito, meu plano traçado para me beneficiar. Eu recusei porque fui burra demais, leviana. Eu desisti porque preferi viver a liberdade, o egoísmo, viver só pensando em mim.

Espero que você fique bem porque eu já estou bem melhor. Aqui tem tudo o que eu preciso para me fortalecer, ter um pouco de juízo e retornar muito melhor. Retornar sim mãe porque a vida continua, existem outras possibilidades. Eu vou tentar de novo e o que é mais legal de tudo é que nós vamos sempre nos encontrar, de diferentes formas a gente vive se esbarrando aqui e aí. O amor que sentimos nos atrai. Eu sempre vou te amar minha linda.
ISABEL CRISTINA
23/12/19



Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“VOCÊ PODE FAZER MUITO MAIS POR SI E PELOS OUTROS”

Não há um só homem, por mais embrutecido que seja, que não se compadeça com boas ações. Eu não sabia porque deveria estar naquela família. Eu não me parecia em nada com eles. Nós não tínhamos o menor entendimento, eu não sabia dialogar com eles e nem mesmo os ouvir. Tínhamos ambições diferentes e nossa visão de mundo era totalmente distorcida. Mas, eles eram meus pais e irmãos, eu só poderia estar com eles. Existia um respeito que me impedia de abandoná-los para seguir minha vida. Eu via uma série de necessidades que me deixavam amedrontada quanto ao seu futuro. Eu não queria vê-los sofrer. Brigar e gritar nunca resolveu, eu tinha que fazer de outra forma.

Tentei levar minha vida do meu jeito. Por mais que tentassem me fazer cometer inconsequências ou leviandades, eu estaria disposta a ser eu mesma e rezar para que ouvissem as verdades do Pai que os fizessem caminhar para a evolução necessária.

Busquei um emprego, chegava em casa exausta, com fome e nada para comer, então, eu passei a preparar as refeições para mim e para os demais. Eles observaram minha conduta e indiretamente foram demonstrando respeito por meu jeito de ser. Aos poucos, meus irmãos se cansaram de me pedir dinheiro e me pediram oportunidades. Eu os orientei, muitos eram mais velhos do que eu, mas perdidos não sabiam o que fazer. Eu incentivei o trabalho e o estudo, por mais que nossos genitores caçoassem de mim.

Foi muito difícil conviver com os vícios e com a libertinagem no meu lar, mas fomos nos fortalecendo no caminho reto. É bom demais trabalhar, ganhar o dinheiro digno que fornece moradia, alimentação, condições boas de subsistência. Nos esforçamos, compramos carro e foi aí que nossos pais puderam passear, se divertiram conosco sem vício, só com afeto. Eu pensei no motivo que levava a este comportamento. Ainda não sei a resposta. Parece que a pessoa busca preencher um vazio, mas nós encontramos as respostas dentro de nós mesmos. A felicidade está em nós, assim como a paz, a esperança e a fé.

Depois de muitos anos, preparando a festa de Natal, eu admirei minhas filhas e meu esposo. Eu me lembrei de como foi minha infância no Natal. Eu tive que demonstrar como era que as pessoas deviam ser. Eu tive que dar o exemplo. Não importa se você é pai, filho ou neto, irmão ou esposa, nós podemos ser exemplo para as outras pessoas e, desta maneira, despertar sentimentos nobres e ações no bem.

Eu preparei o jantar e quando vi meus irmãos e meus pais (já velhos) entrando em minha casa, completamente modificados, eu soube que trilhei o caminho certo. Muitos de nós, renasce com o simples compromisso de encaminhar no bem quem está ao nosso lado.
Você pode fazer muito mais por si e pelos outros. LINDAURA
14/12/19

-----------------------Paula Alves----------------

“NÓS TEMOS QUE AGRADECER A DEUS POR TUDO O QUE TEMOS DE BOM”

Eu tinha uma vida extremamente confortável. Meus pais forneciam tudo o que eu necessitava para não me preocupar com recursos financeiros. Eu alcancei os vinte e um anos como um rapaz que se dedicava aos estudos para passar o tempo porque eu não precisava pensar em trabalhar. Mas, ninguém pode supor quando a maré vai virar. Nós temos que agradecer a Deus por tudo o que temos de bom, incluindo todas as facilidades que temos na vida. Eu não parei para pensar que minha vida era maravilhosa porque eu sempre tive tudo, não passei privações para saber valorizar tanto a riqueza. Mas, outras pessoas estavam cobiçando os nossos bens.

Eu saí da faculdade e não deu tempo de chegar no meu carro. Eles me aplicaram um entorpecente e eu desmaiei. Quando acordei, estava num local escuro e fétido. Só me diziam que tudo acabaria bem se eu colaborasse com eles. A intenção era dividir com quem não tinha nada o meu castelo porque eu não precisava de tantas regalias.

Foi um sequestro. Lembrei dos meus pais, senti medo, soube que eles se desesperariam porque me amavam muito. Achei que não ia acabar bem e sofri a agonia de não ter aproveitado, enquanto tive oportunidades. Eu não agradeci tudo o que tive. Eu desejei que tudo acabasse logo. Não queria ter uma morte sofrível.

Então, me lembrei de orar e me senti leviano, ingrato porque quando estive feliz e tranquilo, não orei. Eu nunca quis me aproximar d’Ele. Eu não sentia necessidade de clamar e nem de agradecer. Era tão rico que achava que tudo isso era besteira, mas naquele momento eu sentia que não ia acabar bem. Escutei quando disseram que meus pais se recusaram a entregar a quantia solicitada. Ouvi quando gritaram dizendo que era gente gananciosa.
- O dinheiro vale mais do que o próprio filho – disse o sequestrador.
Virei um problema porque meus pais iam arriscar, ao invés de pagar o valor do resgate. Meus pais eram contra qualquer tipo de ameaça e não pagaram o resgate. Eles pararam de ligar, nunca mais tentaram coagir meus pais. Minha mãe ficou desesperada, falou que estava com mau pressentimento. Daí o telefone tocou e eu vim para cá.
Fui bem assistido, mas ainda sinto saudades dos meus pais. Eles se arrependeram muito porque disseram que a minha vida não tinha preço, não existia nada mais importante para eles do que eu.
FELIPE
14/12/19

-------------------------Paula Alves------------------- 

“VOCÊ SÓ TEME O QUE NÃO CONHECE”

Eu tentei me agarrar ao corpo. Não queria deixá-los. O sonho da minha filha era ter um filho e ela estava grávida. Eu queria ter contato com meu neto, estar com ela para acalmá-la antes do parto. Então, descobri um câncer terrível no esôfago. Foi tão rápido, um dos bens mais preciosos é o tempo. O tempo voa, ele corre largo quanto mais estamos felizes. O tempo nunca é suficiente para estarmos com aqueles que amamos.

Eu queria mais tempo. Senti que a vida estava se extinguindo em mim, mas eu, apesar de debilitado, ainda tinha tanto para descobrir, para aprender e para amar. Eu olhava para ela, a barriga crescendo, cheia de inseguranças. Eu sabia que não estaria presente em situações muito importantes. Eu perderia tudo, por isso, me revoltei, blasfemei e tornei o desenlace ainda mais doloroso.

As pessoas deviam se preparar melhor para a morte porque é a única certeza que a gente tem. Todos nós passamos pela morte inúmeras vezes e isso ainda nos faz padecer por tantas incertezas.
Você só teme o que não conhece. Já pensou se fosse uma certeza coletiva?
Se as pessoas tivessem conhecimento de que somos eternos?

Se elas soubessem que tudo o que fazemos fica registrado nas linhas do destino e aciona uma lei que é perfeita, imutável e justa para todos os seres?

Sei que o suicídio seria eliminado da face da Terra. As pessoas se esforçariam para serem perfeitas hoje. Observariam onde podem colaborar e se elevar. Eu teria aproveitado melhor o meu tempo. Eu teria ficado mais tempo com minha família, seria mais leal, presente e amoroso.

Mas, voltando ao assunto: o corpo estava tão debilitado que um dia não pude levantar da cama, senti que meu corpo não podia me guiar. Deitei para cochilar e levantei animado. Cheio de disposição e paz, mas notei que estava tão diferente e quis me agarrar ao corpo. Minha filha quase perdeu o bebê e se culpou por um longo período a falta de tempo com o qual me tratou. Ela fez por mim tudo o que podia ter feito. Eu pensei que não teria contato com meu neto. Pensei que não poderia conhecê-lo, mas a espiritualidade é tão amiga que eu vi o Marcelinho em todos os momentos marcantes da vida dele. Sou muito grato.
PEDRO
14/12/19

-----------------------------Paula Alves--------------------

“REJEIÇÃO CRIA UM BURACO DENTRO DA GENTE”

Eu não queria aquela criança porque sabia que seria um atraso de vida para mim. Criança não deixa ninguém em paz. Eu teria que me preocupar com ele para sempre e eu tinha outros planos. Eu queria estudar e trabalhar, mas um bebê iria me atrapalhar.
Meus pais foram excelentes, eles me ofereceram ajuda, eles podiam cuidar do meu filho, enquanto eu ia atrás das minhas necessidades.

Eu entreguei meu filho para os meus pais sem o menor constrangimento. Peguei um ônibus e parti.
Depois de dez anos, eu me cansei da vida de farra, me lembrei dos meus pais e voltei. Vi meu filho e me senti arrependida porque não o conhecia e poderia ter sido boa mãe, ter acolhido a criança e ter tido um bom filho que me ajudasse.

Meus pais tentaram nos unir, mas meu filho não me via como mãe, a mãe para ele era a avó e eu precisei conviver com a rejeição do Tomás. No auge do egoísmo eu nem pensei na criança, só quis o caminho mais leve para mim.

Mãe é quem cria. Eu tive que ver o jeito que minha mãe o tratava e o jeito carinhoso com que ele a tratava. Parecia mesmo que eu estava atrapalhando, me intrometendo no relacionamento dos dois, porém minha mãe falou que ele sempre me esperou, ele quis me ver e passou por momentos difíceis na escola porque não tinha uma mãe para estar ao seu lado.

E o que foi que eu fiz para mudar esta situação?

Eu não fiz nada, nem pensei que ele sofria tanto. Rejeição cria um buraco dentro da gente. 
SOLANGE
       14/12/19

-----------------------------------------Paula Alves--------------------------------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“O QUE A GENTE NÃO APRENDE EM VIDA, APRENDE ATÉ DEPOIS DE MORTO”

Eu estive presente naquele Natal e pude ter a certeza do quanto me amavam. Durante quarenta anos tive a oportunidade de conviver com meus familiares. Minha esposa carinhosa, filhos e netos que foram dedicados, mas eu nunca valorizei adequadamente o que faziam por mim. Eu queria ter minha liberdade, ir e vir sem dar explicações do que eu estava fazendo. Achava que eram controladores e egoístas, mas na verdade, eles sempre se preocuparam comigo. Eu trabalhei tanto para dar à eles o necessário para que pudessem estudar e ter uma vida digna, mas depois de tantos anos, eu precisava respirar em paz.
Eu quis ir para bares e conversar sem ter hora para voltar para casa. Eles estranharam e foram atrás de mim, causando constrangimento. Depois, me lembraram das doenças de base: pressão alta, diabetes. Falaram que temeram que eu tivesse passado mal por aí. Eu cismei que eles estavam me incomodando e ficou pior quando chegou o Natal por causa das convenções. Eu precisava fazer isso, fazer aquilo, receber os familiares. Precisava... Mas, eu achei que não precisava de nada. Não queria fazer mais nada por obrigação, queira ser livre para não querer o Natal.

Eu saí nervoso e, naquela noite, fui atropelado. Eu senti muita dor, mas nada foi pior do que retornar para casa e compreender que eles não me viam, nem me ouviam. Eu chorei porque percebi que estava vivenciando um momento dramático que não tinha explicações convincentes para mim e eu estava sozinho.

Eu desejei voltar no tempo, quis retroceder e pedir desculpas por tudo o que disse, eu fui grosseiro e insensível, mas era tarde demais. Eu vi todo o sofrimento deles, participei do meu próprio sepultamento muito atormentado, quis voltar para o corpo inerte e me desesperei. Voltei para o meu antigo lar e ouvi quando perguntaram o que seria deles dali para frente. Eles sofreram tanto quanto eu. Lembraram do Natal e falaram que naquele ano não haveria Natal porque o patriarca da família estaria ausente. Falaram de dor e de saudade. Disseram que sabiam que eu não gostava de Natal, mas que a data era comemorada em agradecimento a Deus e a Jesus por tudo o que tinham, pela família maravilhosa que éramos.

Eu me senti muito mal, eu me senti ingrato e desalmado. Eu nunca os valorizei realmente. Desejei que pudessem ter o Natal que mereciam e, naquele instante, senti uma sensação prazerosa que vinha com uma luz intensa. Eu ouvi quando pessoas diziam que eles sentiriam a necessidade da oração e do amor. Eles me trouxeram para cá, mas na noite de Natal me encaminharam ao antigo lar para que eu pudesse ver como se amavam.

Eu estive presente naquele Natal e, além de vê-los reunidos em perfeita união, também vi o quanto a casa resplandecia em luz e harmonia. Foi lindo demais ver toda aquela magia que pairava sobre todos os integrantes da minha família. Eu agradeci por presenciar o amor deles e peço perdão pelo meu mau humor e falta de zelo com meus familiares. O que a gente não aprende em vida, aprende até depois de morto.
ALFREDO GUSMÃO
07/12/2019

-----------------------------Paula Alves---------------------

“É IMPRESCINDÍVEL UMA ORAÇÃO ANTES DAS REFEIÇÕES”


Era muita vontade. Eu até me arrepiava de vontade de comer e beber alguma coisa. Quando via todas as oferendas parecia que eu estava voltando a viver. Eu conseguia sentir todas as mazelas, as dores físicas ainda me envolviam como um castigo infindável. Parecia que nada podia modificar minha situação. Eu não entendia o que estava acontecendo, achei que era só isso que tinha depois da morte, uma vida de sofrimento, choro e ranger para sempre.

Daí, percebi que podia sugar algumas energias. Sugava de pessoas, de bituca de cigarro, de comida. Mas, era uma desgraça porque quanto mais você tem, mais você quer. Eu chegava a cair de tanta fome e tentava entrar em lugares onde sabia que poderia conseguir o que podia me fortalecer. Fui buscar forças em restaurantes, bares e até nas encruzilhadas. Eu agradecia quando conseguia me nutrir de alguma coisa. Mas, chegou um dia que eu vi outro como eu fazendo e achei feio demais. Foi como se tivesse deixado de ser gente para ser bicho. Bicho que suga, que come o que vê pela frente. Bicho que sente necessidade de se alimentar para continuar vivo, sem pensar em nada, só por instinto.

Eu pensei um pouco, vi quando outro como nós se aproximou do primeiro que sugava de uma galinha de encruzilhada, eles brigaram para sugar e eu achei horrível, como urubus.

Então, eu pensei que não tinha necessidade porque ninguém poderia morrer de fome.

Por que é que eu precisava sugar, se não ia morrer? Ou seria possível morrer de novo?

Conforme eu fui questionando, as respostas chegavam na minha mente e tive acesso a lucidez impressionante. Como se tivessem me descortinado a mente. Eu me lembrei de tudo o que era correto e sabia que aquilo tudo não era normal. Então, saí dali, caminhei e desejei estar ligado a pessoas esclarecidas que pudessem me colocar num caminho de continuidade. Eu fui resgatado naquela noite. Ainda tenho muitas coisas para compreender. Digo que é imprescindível uma oração antes das refeições para que as pessoas possam abençoar em nome de Deus o que irá fortalecer seus organismos, mas também para impedir que Espíritos levianos ou desesperados possam sugar. Eu sou grato pelo auxílio que recebi e também pela possibilidade de relatar meu caso.
HUMBERTO
07/12/2019

---------------------Paula Alves---------------------------

“DEUS SÓ PERMITE QUE O REGRESSO SEJA TRAÇADO POR UM BOM MOTIVO”

Para fazer nascer novamente o amor que um dia recusei só mesmo sendo filho dela. O problema é que ela me rejeita de todas as maneiras. Eu recebi a oportunidade de renascer, tive medo, ainda estou me preparando, me fortalecendo, me preparando para não cair nas mesmas quedas, para não tropeçar nos mesmos percalços. Após ter a certeza de que isso seria o melhor para nos elevarmos, pedi permissão para consultá-la. Eu queira que ela aceitasse o meu pedido de retornar em seu lar, através do seu ventre. O problema é que Melissa não me suporta. Eu pensei que seria difícil o perdão, mas não que seria impossível.

Em outras existências eu fui o pai que a abandonou. Eu fui aquele que recusou a mãe grávida. Por causa da minha ausência, ela sofreu maus tratos e violências que gerou incompreensão e revolta. Eu não pensei que uma escolha minha pudesse comprometer tanta gente. Nunca imaginei que minha filha sofreria tanto e modificaria seus planos por causa do meu mau comportamento, eu me arrependi e pedi pela aproximação para que pudéssemos resgatar débitos anteriores. Eu precisava fazê-la compreender que eu posso amar.

Eu quero tê-la ao meu lado, mas ela me repudia. Pedi um encontro para solicitar este amparo, durante o desligamento temporário através do sonho, eu me expliquei em vão. Tentei fazer com que ela entendesse que eu tenho limitações e fiz escolhas equivocadas, prometi que tentaria ser o melhor filho que pudesse. Ela ficou horrorizada com meu pedido e disse não. Ficou transtornada e acordou se sentindo mal, disse que tivera um pesadelo terrível.

Nunca teria outro filho porque já tinha um menino e estava satisfeita com seu garotinho Marcelo. Ela falou que não tinha condições de colocar outro filho neste mundo desgraçado. Eu chorei muito porque considero que esta seja a maneira de me ligar a ela e doar todo o meu afeto.
Porém, já fui informado que poderei regressar, ela engravidará, mesmo tomando todas as precauções anticoncepcionais. Eu sei que isso a deixará frustrada e nervosa.

Ela vai tentar se livrar de mim?
Ela vai me aceitar em ligação com o corpo em seu ventre?

Eu não tenho outra alternativa, senão me preparar para o regresso. Peço orações, peço amparo. Espero que tudo dê certo porque Deus só permite que o regresso seja traçado por um bom motivo.
ISRAEL
07/12/2019


-----------------------------Paula Alves----------------------

“NÃO SOMOS NÓS QUEM DEVE DECIDIR QUANTO TEMPO DEVE DURAR UMA VIDA”

Sempre gostei de jogar basquete. Eu sonhava em jogar na liga, mas no fundo sabia que se tratava, apenas de um sonho. Eu era bom, não errava uma cesta, estava sempre no meio dos vencedores. Eu levava a sério qualquer mera disputa.
Se a gente soubesse o grande valor da vida não se envolveria em brigas banais. O valente morre mais cedo – minha avó sempre dizia.
Eu poderia ter ouvido calado porque sabia que o cara era da pesada, mas entedia que ele estava no meu mundo, na quadra e ali eu era o maioral. O cara tinha que me respeitar, por acaso eu ia falar mal dele na boca?

Mas, eu agi errado, fui corajoso e arrumei confusão. Foi uma discussão desnecessária e o cara me jurou. Eu suei, sabia que ele não jogava conversa fora, ele não era de lero-lero. Fui atrás de proteger minha vida e arrumei uma arma. A verdade é que a gente erra muito, faz as coisas de cabeça quente e perde a vida por bobagem. Se as pessoas respirassem mais fundo e deixassem a poeira baixar...

Tem gente que morre por causa de uma falha no troco, outros morrem para não morrer de fome, existem os que se matam por desespero ou por vergonha. Tanta coisa que poderia ser evitada se as pessoas pensassem com calma e deixassem para resolver no outro dia com mais serenidade e fé.

Eu arrumei uma arma e fiquei na espreita, daí nem pensei duas vezes para atirar. Até porque eu não tinha como saber que a gente não morre de verdade. Se eu soubesse que é só o corpo que acaba, que a pessoa ficaria viva e com muita raiva de mim... Se eu soubesse que eu teria comprometimento com as Leis de Deus que enxergam todos os erros da Humanidade e não deixam nenhum erro impune, eu pensaria duas vezes, mas eu achei que seria uma dor funda e a queda da morte. Morte que acaba com tudo para sempre. Eu até pensei que estaria fazendo um bem para a sociedade livrando as pessoas de um mau elemento. Eu me via como herói.

Como se a vida não tivesse valor algum, tão rápido aniquilando um ser. Eu matei aquele homem. Em nenhum momento me senti melhor, pelo contrário, minha consciência me fez conviver com isso por toda minha vida e ainda agora, me arrependo de ter impedido aquele homem de tomar suas decisões e colocar em prática seu plano reencarnatório.

Não somos nós quem deve decidir quanto tempo deve durar uma vida. Nós não temos que ter controle do tempo que se finda para nós ou para os outros. Eu errei. Nunca me prenderam, mas eu senti em mim um cárcere que se iniciou naquele dia e me acompanhou para sempre. O meu inimigo me acompanhou, flagelando, açoitando e, por tudo isso, distanciei de mim todas as boas possibilidades que havia traçado. Minha consciência não permitiu que eu alcançasse a felicidade porque tinha sido cruel com alguém. É sempre melhor ser punido do que punir.

LEONARDO   
07/12/2019

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