“COMO
É RUIM VIVER POR VIVER, LEVAR A VIDA... É TERRÍVEL!”
O
som da granada é algo inconfundível. Eu me encolhi e senti a terra caindo sobre
mim. Não tive certeza se sobreviveria, eu acho que por algum momento, eu já estava
me entregando, mas todos queriam sair vivos. O instinto de sobrevivência é o
que leva o homem a combater outro homem. Muitos de nós, nem mesmo sabia
defender sua posição com lógica, nem mesmo, sabia argumentar sobre os reais
motivos daquela guerra ridícula.
Eu
só queria retornar para casa, ver meus pais e saber que Elisa ainda estava me
esperando. Naquele dia, eu não morri, mas me senti um covarde porque foram
muitas as vezes, em que me encolhi na trincheira, eu só queria sobreviver. Eu
tive notícias dos heróis que morreram em combate, eu não queria ser um herói
morto, eu preferia ser um covarde que retornava para casa e eu voltei, com uma
perna amputada, mas voltei.
Elisa
já estava casada, meu pai morreu dez dias depois que eu retornei, ele nem se
lembrava de mim por causa do Alzheimer. Foi ruim ver que ele não se lembrava de
mim, eu fui esquecido. Vivi na bebedeira e no escárnio, um herói de guerra que
eu nunca havia sido. Daí desencarnei, me preparei para reencarnar e não
suportava muito barulho, uma criança muito sensível aos ruídos, tinha autismo,
eu sei que foi decorrente dos barulhos das granadas que eu não pude superar.
Tudo tem explicação lógica deste lado, por isso, deveríamos ter mais paciência
com as pessoas, tudo tem explicação.
Sei
lá, já faz tempo que eu não faço nada de útil. Tenho pensado que as vidas que
vivi, apenas passaram por mim, eu me lembro de todas elas, eu me lembro de como
agi e que me senti envolvido nisto ou naquilo, com desejo de ser alguém que faz
coisas que beneficiem outras pessoas e é lembrado porque foi bom ou positivo,
mas eu apenas passei pelas vidas que recebi.
Como
é ruim viver por viver, levar a vida... É terrível! Chega-se aqui com sensação
de inutilidade, covardia. Eu quero mais do que isso, não quero apenas expiar, quero
ser livre para desempenhar os pontos mais importantes do meu eu. Eu desejo ser
alguém que auxilia e se arrisca pelo bem do ser humano. Será que isso é
possível?
Eu
estou tentando formular um plano onde, apesar de todas as minhas limitações, eu
possa realizar algo de nobre, para isso, meu instrutor me fez aguardar por um
grupo de espíritos de quem sou afim, para traçar planos novos. Estou esperançoso.
Acho que é possível ter em mente o benefício de terceiros, enquanto eu evoluo
por meus bons propósitos, deixando de lado minha necessidade material ou minha
vaidade. Sobressaindo minhas virtudes. Eu quero que dê certo.
LÚCIO
31/10/20
---------------------Paula
Alves-----------------
“PODERIA
TER INCENTIVADO O ESTUDO E O TRABALHO NOBRE”
Eu
achava mais prudente que meu filho experimentasse as coisas ao meu lado, boas
ou ruins eu poderia instruí-lo, muito melhor do que se envolver com pessoas mal
intencionadas.
Achei
mais adequado que ele bebesse junto de nós, bebidas comuns às reuniões sociais
e familiares, onde eu pudesse controlá-lo e dar advertência, se preciso fosse.
Minha esposa estava de acordo comigo. Sempre acreditamos que os pais devem ser
amigos dos filhos para que nos consultem em qualquer assunto, para que falem
conosco e busquem solucionar as dúvidas dentro de casa, mas eu me equivoquei.
Cheguei
ao abuso do meu poder como pai, na verdade, eu me reprimi como pai, esta é a
verdade. Eu me enganei totalmente.
Enquanto,
eu me dediquei para ser seu amigo, deixei minha missão de pai de lado porque o
amigo deve ser agradável, cordial e o pai deve dizer não, proibir, direcionar
com firmeza e dar o exemplo.
Eu
deixava beber em casa, ao mesmo tempo que bebia com ele, me embebedava com ele,
ensinava o vício e o desmantelo da moral porque estávamos passando da medida
juntos, bêbados dentro do lar.
Podia
fumar se fosse nas minhas vistas, ou seja, podia tudo, desde que eu soubesse,
para impor certo controle, mas não tinha controle nenhum porque ele podia tudo.
Levar
moças para dentro de casa, onde no quarto podia tudo, com uma num dia, outra no
outro dia, sem nenhum tipo de reprimida ou contrariedade, nunca ensinamos sobre
pureza ou castidade. Ele era homem e homem devia ser viril, não interessava de
quem era aquela filha, porque sim, a namorada era filha de alguém, uma moça que
tinha sentimentos por ele e seria descartada como todas as outras. Nada disso
me incomodava.
Eu
ensinei a dirigir com doze anos. Entreguei o carro em suas mãos e achei lindo,
falava que ele estava pronto para dirigir, ele sabia.
Eu
fui tão irresponsável, meu filho não teve infância e nem pudor, orientação,
exemplos edificantes dentro de casa.
Até
que houve uma viagem, todos nós estávamos tão felizes, era uma verdadeira
aventura e ficamos felizes em sair com a turma. Pai e mãe que acompanhariam os
amigos do meu filho único. Os outros pais tinham um pouco de ciúmes de nós, mas
eles só liberaram a viagem porque estaríamos presentes.
Eu
me lembro da tirolesa e achei o máximo quando vi. Gritei que seria o primeiro,
mas meu filho foi na frente e ocorreu um acidente. Depois de tomarmos de tudo
um pouco, meu filho se aventurou e não tinha como perceber que tinha uma pedra
no fundo do lago. Ele se jogou e qual seria a probabilidade de cair direto
naquela pedra?
Naquele
dia, eu não queria estar no controle das minhas ações. Eu fui ridículo,
imaturo, não sei como posso ter errado tanto com aquele rapaz. Eu me sinto muito
envergonhado porque só percebi o quanto era culpado quando minha mãe no enterro
do meu garoto me falou umas verdades, me ofendeu e disse que eu era o pai e não
o amigo dele.
O
MENINO TINHA UM AMIGO, MAS CRESCEU SEM PAI E NEM MÃE DENTRO DA CASA.
Eu
tive tempo para refletir, eu vivi muito, minha esposa ficou tão perturbada que
se separou de mim, foi embora da nossa casa. Eu vivi muito me indagando onde
poderia ter acertado, mas hoje eu sei. Eu nunca fui pai.
Deveria
ter abandonado meus atos falhos e me dedicado aos bons ensinamentos para que
ele tivesse uma vida longa e feliz, responsável.
Eu
ensinei e incentivei todas as formas de abreviar a vida, fazer tolices e ser
irresponsável, imaturo. Poderia ter incentivado o estudo e o trabalho nobre.
Poderia ter falado sobre família e amigos leais, sobre como encontrar uma boa
moça e ser pai de família. Nós poderíamos ter sido amigos depois de tudo isso.
Quando ele estivesse maduro para me olhar com respeito e afeição. Eu teria
gostado de ser o pai dele.
Nos
últimos dias tive o prazer de me encontrar com ele e pedi perdão. Solicitei uma
nova oportunidade de ser seu pai e poder desempenhar adequadamente esta missão
e ele aceitou, tão bondoso não guardou mágoas, me abraçou. Eu agradeço por tudo
o que Deus colocou na minha vida.
SUZANO
31/10/20
-------------------Paula
Alves--------------
“QUANDO
A GENTE MORRE NOTA QUE GOSTAVA MUITO DA VIDA QUE TINHA E NUNCA DEU VALOR”
Era
um bairro muito violento. Eu fui professor naquela vida e sentia que tinha que
me proteger de alguma forma, por isso, adquiri uma arma. Eu a deixava bem
guardada dentro de casa e rezava para nunca ter motivo para usá-la.
Minha
esposa nem sabia que eu tinha uma arma em casa. Eu achava que tem coisas que a
gente não tem que dizer. Afinal, omitir não é mentir. Existem pequenas falhas e
segredos que ninguém deve saber. Eu preferia que as pessoas soubessem de mim,
apenas o que eu quisesse, saberiam as coisas boas e fariam o julgamento que eu
permitisse.
Mas,
não é bem assim que funciona. Nós deixamos transparecer coisas, mesmo sem
mencioná-las. Nós nos entregamos por ações, olhares, maneira de vestir e se
comportar com todos. Aqueles que tem uma boa observação podem ler todos que
quiserem.
Ninguém
consegue mentir o tempo todo. As pessoas se entregam quando estão nervosas,
tensas, doentes... Deixam transparecer.
Eu
estava nervoso, acreditei que seria demitido, eu odiava aquele emprego onde as
pessoas estão apenas por estar, cumprindo obrigações. Professor que ensina para
receber, detestando aluno, leitura, cultura. Aluno que detesta aprender, ler,
compreender, faz por obrigação para ganhar nota e passar de ano, para receber
atestado de conclusão.
Um
dia, quando me formei, eu sonhava em lecionar para pessoas que desejam obter o
conhecimento, trabalhar com outras tantas que ambicionavam o mesmo que eu. Onde
todos desejam esta troca literária, documentária, científica. Eu queria ensinar
para quem estivesse disposto a argumentar e aprender, mas não por obrigação,
por nota, para cumprir uma meta, uma imposição.
Eu
me decepcionei com os planos de estudos, com os outros professores, com a
direção da escola e com os alunos, eu me frustrei com minha postura, por eu ter
entregue minha vitalidade e sucumbido diante de todos.
Daí
arrumei encrenca, falei o que não devia para professores, direção, alunos e
passei a ser detestado no meu local de trabalho.
Não
me dei conta de que estava perdendo o juízo e voltei para casa, abandonando a
sala de aula. Minha esposa não estava lá, mas meu filho estava e decidiu mexer
onde não devia.
Ele
encontrou a arma que estava escondida e disparou. Eu não o culpo, ele não sabia
que a arma estava carregada. Ele era jovem, treze anos e não tinha como saber
que o pai não tinha juízo.
Eu
senti o ferimento e lembrei de tantas coisas importantes. Me lembrei de quantos
aprenderam a ler comigo. Eu me lembrei do nascimento do Elson, eu queria ter
tido mais tempo com ele, mas tinha que ser assim.
A
morte não é tão dolorosa quanto se pensa, não precisa ter medo de morrer. É uma
coisa tão normal, como nascer ou crescer. Fato natural que vai acontecer com
todos, muitas e muitas vezes, não precisa ter medo – o Elson dizia segurando a
minha mão, ele chorou.
Eu
estava com medo porque não sabia nada de morte, mas não precisava ter medo
mesmo. Eu vi minha mãe e ela falou que estava na hora de voltar.
Foi
um acidente, mas eu entendi quanta coisa boba a gente faz na vida porque não se
dá conta de que a morte pode chegar, de repente, a gente perde tudo o que
importava de verdade.
Quando
a gente morre nota que gostava muito da vida que tinha e nunca deu valor.
EDUARDO
31/10/20
--------------------Paula
Alves----------------
“TAMBÉM
PRETENDE RETORNAR COMO SUICIDA?”
Foi
por causa dos produtos de limpeza. O odor era realmente muito forte e eu já estava
tão acostumada que nem percebi.
Claro
que tinha material de proteção, mas eu não queria usar. Ficar com aquela
máscara o dia todo, já pensou? Horrível!
Daí
eu tirava, fazia todo o meu serviço e quando o chefe aparecia, lá estava eu com
a máscara. Meus pulmões não aguentaram, comei a ter muita dificuldade para
respirar, daí foi consulta médica e exames, descobri a fibrose cística.
Fui
afastada e percebi o quanto eu gostava de trabalhar, o quanto eu gostava de ter
fôlego e de respirar como eu gostava de respirar.
São
pequenos hábitos, funções tão simples da vida que a gente nem se esforça para
realizar e só percebe o quanto são maravilhosas quando perde, quando não
aguenta e precisa de socorro médico. Eu ainda tive sorte porque aquele plano de
saúde me possibilitou ter todo o atendimento que eu necessitava. Minha família
culpou meu ambiente de trabalho porque sabiam que era ocupacional, mas eu sabia
do meu erro e não culpei mais ninguém.
Valorizar
o corpo físico não é para qualquer um. Eu sei que as pessoas se aproveitam do
seu livre arbítrio para estragarem o corpo com vícios de todos os tipos, até os
sexuais, alimentares, medicamentosos. Vícios morais que arruínam os centros
nervosos como a maledicência, ser sovina ou paranóico. A vaidade pune o corpo com
tratamentos de beleza cada vez mais esdrúxulos ou a necessidade do banho de sol
que torra a pele. Aventuras desencabidas que levam a morte desastrosa.
São
tantas causas morte que os profissionais da saúde se deparam e não conseguem
compreender como o ser humano pode se destruir de forma tendenciosa e
inconsequente. Mesmo que a embalagem do cigarro noticie as verdades do consumo
imprudente, ainda assim, existem tantos fumantes para arruinarem os sistemas
respiratórios.
Pessoas
que vão reclamar das varizes, mas fumam, bebem, se tornam obesos e sedentários
por opção.
O
QUE DIZER DE NÓS?
Eu
fui suicida, verdade, passei maus bocados não zonas punitivas, mas fui acolhida
e estou em tratamento me recuperando e tomando consciência da nova experiência
que devo iniciar em poucos meses. Mas, e você?
TAMBÉM
PRETENDE RETORNAR COMO SUICIDA?
MARIA ODETE
31/10/20
-----------------Paula Alves----------------
“QUE EM TODOS OS
LARES, OS IRMÃOS POSSAM TER EM MENTE O QUANTO É DELICADO O ENVOLVIMENTO SEXUAL
E A PROTEÇÃO DO CORPO FÍSICO”
Eu achava uma tolice. Acreditei que devíamos ter
os mesmos direitos de escolha e de opção, de oportunidades, mas minha mãe via
tudo como impuro e promíscuo.
Naquela época, eu não pude perceber o quanto
ela desejava me proteger do mundo lá fora. Quando vocês me fazem lembrar,
quando acesso as partes mais longínquas deste passado, eu me recordo de uma
mulher que fez tudo por mim.
Minha mãe desejava que eu tivesse uma vida
melhor do que a vida que ela teve. Ela queria que eu tivesse um lar, um esposo
dedicado e filhos saudáveis. Ela queria que eu fosse boa mãe e esposa, que eu
fosse feliz, só isso.
Mas, naquela vida, eu não pude notar que é
isso o que as mães querem. Além disso, ela tinha a experiência e a dor, ela
teve o preconceito contra ela, ela teve os vizinhos julgando e as dificuldades.
Quando minha mãe falava de virgindade, eu a repelia. Pensava por que uma mulher
não pode ter tudo o que um homem tem. Por que uma mulher é repelida por fazer
escolhas e por ter descoberto o sexo antes do casamento.
Eu nunca pensei em ideal de pureza,
conservação do corpo como vaso sagrado ou na idealização do amor como base do
seio doméstico. Eu me iludi achando que a mulher deve ser comparada ao homem,
deve aparentar uma imagem forte e dominadora ou de competição com o sexo
oposto, mas pra quê?
Eu estive errada.
Namorei muito, cometi tantos equívocos. Minha
mãe me aconselhou quando começaram a falar de mim, quando eu cabulava aulas
para namorar e quando as moças me apontavam. Ela chorou e disse que eu estava
falada, ela não queria que eu fosse mãe solteira como ela.
Eu fumei, bebi, não consegui me formar e vi
nos olhos do Amaro uma indiferença que me castigou.
Eu o amava do fundo do coração e meu
comportamento fez com que ele se afastasse para sempre naquela existência.
Qual é o homem que confia numa mulher como a
que eu fui? Feita para casar...
Mulheres feitas para casar todos querem. Uma
esposa honesta, amorosa, que sabe educar os filhos e é acolhedora com todos os
familiares, mas eu não tinha nenhuma destas credenciais e todos diziam que eu
não podia ser fiel por causa do meu comportamento leviano.
Foi tudo por água abaixo porque o Amaro
desviou o olhar, não pode aturar tudo o que fiz. Hoje eu compreendo bem o que
significa o ideal de pureza, o recato que se perdeu no tempo. Entendi que não é
uma questão de preconceito de gênero, mas da forma como a mulher se porta
diante de si mesma. Está relacionado com o seu amor próprio, sua forma de se
respeitar diante de todos e de si mesma.
É não permitir que qualquer um tome parte de
si, ou pelo menos, se entregar para o eleito do seu coração, para aquele que
vale mais do que todos no seu ponto de vista. Manter o seu corpo inviolado é o
mesmo que manter íntegra sua consciência, seu padrão mental que se opõe a tudo
o que pode agredi-la e ser contestado o que não lhe faz bem, mesmo que o mundo
todo diga que isso é proveitoso e permitido.
Eu precisei visualizar a parte mais pura do
ser, a alma, o Espírito imortal para saber que o amor não se traduz pelo
contato sexual, muito pelo contrário, mas pelas sensações reais ligadas a
muitas outras virtudes que são recíprocas entre homem e mulher.
Lealdade, respeito, cumplicidade, amizade,
culminando em virtudes que superam o ser como altruísmo e abnegação, onde você,
pouco a pouco, pode eliminar o egoísmo em virtude do bem estar do outro.
Esta forma de amar transcende o corpo, o
tempo e o espaço, supera a própria morte e envolve os seres favorecendo a
evolução social, modifica todos que estão ao redor, movimenta a vida.
Eu precisei do reencontro com Amaro aqui no
plano espiritual, precisei de entendimento e de perdão para comigo mesma. Eu me
arrependo de tantos fracassos que vieram em decorrência de minha leviandade: a
recusa da união com Amaro, sexo desregrado com tantos homens, o aborto que
cometi, a minha derrocada moral, as décadas de sofrimento nas regiões
purgatoriais. Tudo por causa da falta de pudor.
Minha mãe não foi responsável por nada disso.
Eu sinto muito.
Que em todos os lares, os irmãos possam ter
em mente o quanto é delicado o envolvimento sexual e a proteção do corpo físico.
O IDEAL
DE PUREZA DEVE SER EXPLANADO PARA OS JOVENS E PERMITIR QUE FAÇAM ESCOLHAS
CONSCIENTES PARA REDUZIR O NÚMERO DE SOFREDORES E DAS IRRESPONSABILIDADES
PROVENIENTES DO SEXO SEM JUÍZO.
NATÁLIA
24/10/20
---------------------------Paula
Alves-------------------
“EU
TIVE UM DOM DIANTE DE MIM E QUASE BLOQUEEI POR SER DIFERENTE DA MAIORIA”
Eu esclarecia pontos de vista. Era como se eu
falasse sozinho. As palavras brotavam na minha mente. De repente, eu cantava,
palpitava em mim, a felicidade que se convertia em tristeza em poucos minutos
do dia e eu chorava de forma convulsiva desejando que minha mãe ainda estivesse
ali.
Em determinado momento, não pude mais
aguentar, a oscilação de humor me tornava um homem isolado, desejando ter
pensamentos silenciosos onde eu não refletiria a direção da vida ou os
tormentos sociais. Eu queria mudar as situações ou fechar os olhos diante das
dificuldades das outras pessoas?
Estranho imaginar que eu podia estar doente e
que não tinha com quem falar. Eu me perguntei se um amigo, nestas horas,
poderia evitar um colapso emocional. Eu não tinha ninguém!
Fui à igreja, talvez a fé tivesse algo a ver
com minhas desilusões, eu não sabia nada de Deus, mas eu, apenas chorei. Vi
tantos como eu, mas estavam insanos, estavam se entregando ao fanatismo para
solucionarem seus problemas de relacionamento íntimo.
Fui ao médico que achou fácil medicar e
colocar um freio em meus pensamentos tumultuados, ele precisava me calar,
então, me diagnosticou como esquizofrênico e disse para não interromper os
medicamentos. Eu apaguei e me vi distanciado do meu eu.
QUEM
ERA EU?
Para que servia uma pessoa apagada, morto
vivo no meio da sociedade...
Interrompi os medicamentos e me coloquei a
disposição das conjecturas, pensei, pensei tanto como se houvesse dez seres
dentro de mim, foi uma confabulação cheia de dilemas e retóricas que me
cansaram, porém, colocaram a incógnita da minha necessidade evolutiva.
Eu deveria estar ali por um motivo.
Fui à biblioteca e encontrei tudo o que me
deu prazer, o estudo, a leitura, o raciocínio, tudo estava diante de mim. A
reintegração com meu eu e a oportunidade de colocar à diante o meu potencial
criativo para gerar positividade... Eu precisava multiplicar conhecimento, eu
vi.
Hoje sei que tive tudo pela vontade de Deus,
as inspirações, as indicações do que eu devia fazer e como poderia utilizar bem
meus requisitos enobrecedores. Tudo estava ligado a um plano minuciosamente
elaborado. Cheio de vida, para quê bloquear?
Estudei, me formei e lecionei por mais de
quarenta anos, filosofia, línguas, artes. Eu tive um dom diante de mim e quase
bloqueei por ser diferente da maioria.
Nós não podemos viver em comparação com
outras pessoas, pois cada um de nós é um ser único e cheio de atributos.
Comparar é desmerecer tudo o que foi assimilado até aqui. Comparar é aceitar
que somos iguais e que não necessitamos de mais nada como o arrogante que se
acha totalmente preparado, perfeito.
Eu não estava doente ou possuído,
simplesmente tinha fome do saber, tinha necessidade de produzir e quando me
coloquei diante de mim mesmo, incentivado pelos amigos invisíveis, eu alcancei
meus objetivos e prossegui no meu caminho. Graças a Deus.
SOARES
24/10/20
--------------------------Paula
Alves------------------
“TODOS
NÓS PODEMOS SER A LUZ NA VIDA DE ALGUÉM”
Eu amava os animais. Desde que, deixei a casa
dos meus pais, vivi na rua, cercado de animais. Para mim, até o mais minúsculo
deles, tinha a sua graciosidade, a sua formosura.
Era como se eu pudesse confiar neles, em seu
carinho, na atenção que eles me dedicavam, já os humanos... Eu havia perdido a
fé nos homens!
Sei que eu tinha coisas graves para resgatar.
Ninguém está dizendo que eu fui santo ou que meu pai poderia ter sido punido de
um jeito mais cruel por tudo o que eu passei, não é isso.
Eu tenho compreensão de que ele abusou de mim
na infância porque estávamos ligados por ódio e vingança, por tudo o que
fizemos no passado, mesmo assim, eu não tinha como permanecer naquele lar.
Eu culpei meu pai por longos anos, para ser
sincero, até aqui. Eu culpei minha mãe por não me defender dele, por não ter
feito nada quando percebeu, por tentar esconder.
Eu culpei a Deus por tudo o que eu achava que
merecia e não tive, pela falta de oportunidades ou de facilidades na vida.
Eu me acomodei, me acostumei a achar que era
um fracassado, abusado pelo mundo. Olhei para todos e vi o meu pai, com medo
dos outros, do ser humano.
Uma forma de enxergar que não revela o que as
pessoas realmente são, então, preferi valorizar os animais porque com eles eu
estava mais seguro, mais familiarizado, nada de mau poderia me acontecer, mas a
vida dá muitas voltas.
Deus sempre nos coloca um direcionamento para
que possamos retomar o caminho da evolução. Aquela mulher amava os animais, ela
saia da sua comodidade, da sua vida de rica, da sua clínica cheia de luxo para
vacinar os animais da rua, para alimentar os animais da rua. Eu nem sabia que
existia gente assim...
Gente do bem que faz coisa boa sem esperar
receber em troca. Gente que faz o bem e se sente em paz, o bem que motiva e faz
feliz.
Ela me encantou, eu a observava de longe, um
amor platônico sem a menor intenção, sem maldade ou pretensões. Mas, ela me
viu, no meio do caos e do lixo, cheirando mendigo, dormindo com cachorro,
alimentando os pombos, ela também me viu de longe e conseguiu me enxergar como
gente, como ser humano.
Daí, ela quis saber dos meus motivos. Ela
quis me ajudar: “sair da rua?” – perguntei.
Eu nem pensava mais nisso, acostumei com a
mendicância, com a falta de vergonha em ser pedinte e miserável.
“Tão jovem e bonito” – ela falou – “só
precisa de oportunidade e de esforço próprio”.
Daí para frente, eu quis melhorar por mim,
por ela, pela forma como ela me olhava. Ela me ofereceu um local para morar, um
alojamento para rapazes, voltei a estudar e arrumei emprego no pet, eu amo os
animais, o contato com eles me enobrece.
Eu parei de pensar no meu pai, eu quis apagar
os horrores da minha vida e dar a volta por cima. Pensei que ainda dava tempo
de ter uma vida boa, uma reconstrução da minha identidade e quando, um dia, eu
ganhei uma bolsa de estudos para ser veterinário, eu ganhei o mundo...
Eu devo tudo àquela mulher que nunca teve
nada comigo, mas teve tudo. Nós não ficamos juntos como um casal, mas ela me
fez virar gente, me deu todos os recursos para me tornar um homem com saúde
mental e física, ela acreditou em mim, viu em mim um alguém que só precisava
ser incentivado.
Nos tornamos bons amigos e até hoje eu sou
grato pela luz que ela acrescentou em minha vida. Todos nós podemos ser a luz
na vida de alguém.
TER FÉ NO SER HUMANO
É TER FÉ EM SI MESMO.
CLAUDIO
24/10/20
----------------------Paula
Alves--------------
“DEUS
TEM MUITAS FORMAS DE NOS ENSINAR A AMAR AS PESSOAS”
Eu subia tantas vezes, descia tantas outras
que ainda me lembro daquela escadaria. Ela gritava e me fazia subir correndo,
carregando bules e xícaras, oh! mania que aquela mulher tinha de um chá.
Eu tinha ímpetos de jogar tudo em cima dela,
mas me controlava porque não podia perder aquele emprego.
Muito depois da Lei da Escravatura, bem
depois, todos nós tínhamos direitos assegurados, estabelecidos e aquela dona
ainda era racista?
Eu não suportava. Não era o que ela falava,
mas como ela pronunciava aquelas palavras toscas, bem elaboradas e cheias de
malícia.
Era a forma como ela me apresentava às suas
amigas ricas e cheias do mal.
Eu subia e descia as escadas porque a branca
não queria sair do quarto, do que será que ela tinha medo?
Eu reinava lá embaixo, dava graças a Deus que
seu império era o quarto e quando ela gritava, eu respirava fundo.
Confesso que cheguei a cuspir no chá, eu
confesso, acho que paguei cara por aquele cuspi. Eu sei que todo o preconceito
que ela tinha por mim, era recíproco, eu a detestava, nem sei se a cor da nossa
pele fosse a mesma, se nos entenderíamos, acho que não.
Sabe aquela repulsa? Aquela aversão em olhar
na cara de alguém? Alguém que você não quer ver nem pintado de ouro?
Pois bem, era isso o que nós sentíamos uma
pela outra, mas eu precisava dela e ela de mim. Vivemos assim, por mais de
trinta anos. No fim, minhas pernas estavam cheias de varizes, câimbras, nervo
ciático que me matava e aquela dona gritando, não aguentei.
Eu já estava velha, acabada e ela na cama
pedindo chá. Cheguei amargurada e gritei com ela para a rua toda ouvir, falei
que eu mesma ia tirá-la da cama se ela não descesse para tomar o chá comigo na
mesa, chega!
Cê pensa! Claro que ela desceu. Sempre pôde
descer, fazia tudo naquele quarto a madame (há-há-há).
Desceu cheia de altivez para me demitir e se
surpreendeu com a mesa de chá que eu havia preparado para nós. Rimos muito
naquele dia. Sentamos como duas senhoras de bem e nos tratamos com educação e
respeito. Confabulamos sobre tantas coisas que vivemos, a morte dos nossos
maridos, a partida de nossos filhos, a chegada dos netos e nós duas sempre ali,
esbravejando e fazendo caras feias.
Estávamos unidas há muito tempo. Eu aprendi a
gostar dela e ela de mim.
Deus tem muitas formas de nos ensinar a amar
as pessoas. Pode acorrentar as pessoas em nós até o dia que achar necessário.
Isso acontece nos laços de família, mas também nos trabalhos que nos são
imprescindíveis.
A vida sempre age para nos tornar pessoas
melhores.
Eu e a Ofélia aprendemos a ser amigas, a
deixarmos o racismo de lado e a sermos companheiras, apesar da distinção
social. Estabelecemos um laço de fraternidade que nos uniu com tanto afinco que
estamos trabalhando juntas aqui no plano espiritual e eu já pedi perdão pelo
cuspe no chá (há-há-há).
CLOTILDE
24/10/20
-----------------Paula Alves----------------------
“O VERDADEIRO AMIGO
É AQUELE QUE SE COLOCA NO LUGAR DO OUTRO COM INDULGÊNCIA E ALTRUÍSMO”
Eu sempre soube que
não acabaria bem porque não devemos misturar negócios com amizade. Eu gostava
dele. Rubinho era um cara legal, divertido e nossas famílias se entendiam bem.
Sempre foi boa a convivência com nossas esposas e filhos que brincavam felizes
e nós combinávamos passeios na praia ou no clube, estávamos juntos nas
festinhas das crianças, mas percebi que ele ficava um pouco nervoso quando eu
trocava de carro ou quando compramos o sítio.
Eu sabia que o
Rubens estava devendo o empréstimo no banco e quando a sogra adoeceu, ele me
pediu dinheiro emprestado, mas eu nem pensei duas vezes, porém, reparei que ele
comprou roupas novas e estava muito galante.
Dias depois,
apareceu com uma nova obrigação de pagar escola para as crianças, dizia que
precisava pensar mais no futuro dos meninos, eu não pude negar o dinheiro ao
meu amigo.
De repente, ele
chegou com o carro igualzinho ao meu.
“As coisas estão
melhorando” - dizia ele.
Foi mesmo, em dois anos, ele comprou
outra casa e repentinamente se afastou de nós. Eu seria incapaz de cobrar
porque não tinha jeito para fazer isso, mas a Paty – minha esposa, mencionou a
rejeição que sentira da esposa do Rubens e o jeito que ela a evitava.
Passou um tempo,
nós vivenciamos um desabamento financeiro e tivemos que nos unir para
ultrapassarmos esta fase difícil, mas a Paty sempre foi uma esposa nota dez,
esforçada e delicada demais para reclamar da vida, nós superamos, mas neste
caso, meu amigo Rubens chegou a caçoar de mim na porta da escola das crianças,
eu fiquei constrangido e me ofendi com ele.
O que seria esta
nossa amizade? Ora, se quando eu passava por dificuldades ele se afastava de
nós e ainda nos apontava pelas ruas...
Demorou para eu
saber que ele tinha vício de jogo e usou meu dinheiro para pagar dívida, mas a
sorte mudou e ele ganhou uma boa quantia, nunca me pagou... Quando não precisou
de mim, virou as costas.
Por isso, eu digo
que as amizades são raras.
Existem pessoas que
só pensam em se aproveitar dos benefícios que podem ser concedidos através da
amizade. Exploram, se aproveitam da posição social, dos bens, das viagens, do
comodismo, do conforto ou do status. Tem gente de todo tipo.
O verdadeiro amigo
é aquele que se coloca no lugar do outro com indulgência e altruísmo, sim
altruísmo porque ele está sempre pronto a auxiliar, mas não é explorador, usa
sem abuso dos bens que lhe são concedidos e, tão logo seja possível, restitui
até de sobra. Nunca constrange e guarda segredo de situações que poderiam se
tornar vexatórias ou discriminatórias.
Quem você conhece
que estaria ao seu lado em caso de miséria, doença ou tragédia?
Eu me ressenti
muito do aconteceu com o Rubinho, mas a vida é tão perfeita que ele perdeu tudo
o que conquistou com o dinheiro que veio fácil e teve que retornar ao seio da
minha família para pedir ajuda novamente, e eu?
Jamais deixaria a
família passando por privações, ofereci emprego honesto, com dinheiro limpo,
esforço e renovação, mas não pude oferecer minha amizade, pois não confiava
mais neles.
O Rubens se sentiu
ofendido e, além de recusar o emprego ainda me insultou, dizendo que se eu
fosse seu amigo emprestaria o dinheiro sem impor condições, ou seja, acho que
as pessoas não conseguem perceber quando falham, ou então, ele achou que eu
fosse um tolo de verdade.
Infelizmente
doutor, são inúmeros os casos em que nós temos que ser previdentes em relação
as pessoas, devemos ter delicadeza para observar de fato o que desejam de nós e
sabermos ter discernimento para nos envolvermos com elas, sem sermos agredidos,
nem física e nem moralmente.
Graças a Deus
aprendi e consegui melhorar nossa situação. Em outras existências, estivemos
ligados como irmãos e ele me roubou a herança, noutra como esposa, me traiu e
ficou com todos os nossos bens, noutra ainda como amigo e sócio, ele também me
roubou. Precisamos passar por tudo novamente para que eu pudesse aprender como
me proteger das investidas dele sem comprometer-me com a Lei. Paz e luz.
OTACÍLIO
17/10/20
--------------------------Paula
Alves----------------------
“RESPEITEM-SE AMIGAS!
AMEM-SE MULHERES!”
São muitas as
pessoas que se aproveitam quando nós as tratamos bem, com amor e honestidade.
Tentei ser uma boa
esposa, apesar de perceber o quanto ele era grosseiro e mal educado. Me falavam
que isso era em decorrência à sua terra natal, diziam que no lugar onde ele
morava todos eram assim, seus familiares eram assim e, se eu o amasse, teria de
aguentar, mas eu estava contrariada com aquele jeito rude de ser.
Será mesmo que a
pessoa tinha que me destratar na frente dos outros, gritar comigo e não desejar
que eu o respondesse, era horrível.
No início, eu me
esforçava e respirava fundo, procurava minhas tarefas ou as crianças e deixava
os gritos de lado. Alguns familiares olhavam assustados nas festas infantis,
temendo que ele me agredisse, isso nunca aconteceu, mas existem palavras que
ferem bem mais, hostilidade e indiferença também.
Sabe quando você
quer falar uma coisa que lhe é importante? Quando seu marido chega em casa e
você quer dividir questões domésticas e ele simplesmente não te escuta, deixa
você falando sozinha... Claro que me irritava.
Com o passar dos
anos, eu me senti explorada como mulher, mãe e esposa. Como se nada do que eu
pensava e sentia importasse para os outros. Como se eu devesse ser uma máquina
de limpar, passar ou cozinhar, só isso.
E ainda tinha as
vezes que eu servia como amante, mas nem sempre era na hora que eu queria,
entende?
Eu nem sabia se as
minhas queixas eram egoísmo, pensar em mim de vez em quando parecia atitude de
egoísta porque eu sempre deixava todo mundo em primeiro lugar, todos e a casa,
o serviço para a família.
Eu cansei doutor.
Eu me abati tanto, não tinha situação de alegria, de contentamento. Foi como
não ter forças para falar ou para sentir, uma apatia tomou conta de mim.
Claro que eu amava
meus filhos, mais do que tudo no mundo. Eu desejava que fossem felizes, eu
queria que estivessem bem, mas eu fazia tudo de forma robotizada, tudo no
automático e eu fazia de forma cotidiana, tão naturalmente que ninguém percebeu
nada.
Eles cresceram, meu
marido achou que eu não era mais interessante, ele não queria me ouvir, eu me
calei e ele arranjou outra, mas não para sair de casa que ninguém cuidaria dele
como eu, empregada em tempo integral que não cobra um tostão... Olhava para mim
como se fosse obrigação por ter um teto.
Tudo se modificou
na vida deles, filhos que se tornaram adultos e tinham suas vidas, meu marido
feliz com a amante e eu apagada, jogada no canto.
Emagreci horrores, estava sem forças
para continuar, eu minguei.
Não houve remédio,
nem corda, nada. Acho que o suicídio involuntário foi porque eu não me esforcei
para viver. Eu não me interessei para conservar minha vivacidade, não foi?
Antecipei meu
desencarne em quinze anos. Eu sofri, estava em estado de demência, nem
conseguia entender e depois do socorro foi bom ser cuidada por alguém, nem
sabia mais o que era isso, minha mãe veio me ver. Nós conversamos tanto e ela
me explicou que eu errei muito porque o amor começa em nós.
Ninguém pode amar o
outro se não construiu uma forma de amar internamente. Quem se ama se protege,
se cuida, se trata bem. Eu não deveria ter deixado ele começar com a
humilhação, nenhum dia.
As pessoas tem que
ter limites. Limite de respeito e consideração. Nunca destratar, tratar com
grosseria, maldade, não importa se falou ou se olhou, se fez gesto do mal. Tudo
gera o mal e causa ódio, rancor, indignação, prejuízo moral para ambos os
lados.
Respeitem-se
amigas! Amem-se mulheres! Mostrem com delicadeza, mas firmeza como merecem ser
tratadas, antes disso, tratem-se da forma lisonjeira que merecem, com recato,
ternura e seriedade. Isso faz bem para o mundo. Mulher bem tratada é família
organizada na Terra.
FILOMENA
17/10/20
------------------------Paula Alves-----------------
“TER NA MENTE QUE OS VALORES SÃO INTEGRAIS”
Eu ouvia aquela
menina falando que não ia comer carne, eu achei bonito o fundamento dela. Eu
não tinha leitura e nem conseguia entender parte das coisas que ela falava, mas
eu tinha orgulho de tê-la criado.
A mãe era médica,
estava sempre ocupada e a menina se criou comigo, entre as panelas e as tarefas
daquela casa tão grande, a gente ria e contava piada, mas ela cresceu e falava
que não ia comer carne.
Eita! Eu me lembrei
de tanto tempo passando fome. Lembrei de quando era menina no sítio e a terra
já estava seca, gado do pai morrendo, as plantações só o farrapo, a criançada
toda com fome e a mãe teve que sacrificar a Jurema – nossa galinha de
estimação.
Vocês podem falar
que não era para ter uma galinha de estimação, mas eu tinha. Acho que se
pudesse, também não ia comer carne, de jeito nenhum.
Eu me senti cruel,
mas confesso, acabei comendo a minha galinha, chorei, me senti mal, mas não
tinha jeito. Alimentou dez pessoas...
Quando a Clara
falava que não ia comer carne, ela explicou do direito dos animais, lembrei da
Jurema. Seria muito interessante se as pessoas pensassem no bem dos animais que
amam, zelam por suas crias e demonstram sentimentos e inteligência. São mais
leais que muitos seres humanos porque os animais não têm pretensão de possuir,
de ostentar, de ser mais do que ninguém, né?
A verdade é que lá
em casa, carne era um luxo.
A gente comia um
pedacinho para sobrar para todos, nem sempre tinha carne no prato. Ela falava
de um jeito e eu me senti tão mal.
Falou de crueldade
contra os animais e que a escolha era nossa. Ela queria ser veterinária e tinha
as suas razões, podia comer o que quisesse, achei muito lindo, mas fiquei com
tantas dúvidas.
“Acho que tem assunto precisando ser
discutido de todos os lados” – falei para a Clarinha. Ela não quis ouvir porque
me achava chucra, mas eu pensei que, além do fato da carne, as pessoas têm que
revisar tantos valores. Fazem mal para os animais, mas não é só para eles.
Agridem crianças, os próprios pais, a natureza de forma geral, os cônjuges, a
nação, o mundo...
Para ter vantagens
pessoais e financeiras vendem até a mãe, o que dizer dos animais...
Pra falar a
verdade, tudo é questão de educação mesmo viu. Aprender a comer direito,
respeitar todo mundo e não se vender por nada neste mundo. Não vender a honra e
a dignidade, não difamar, não bater, não ofender e, muito menos, matar outro
ser.
Isso é o que eu
acho bonito. Ter na mente que os valores são integrais. Quem quer ser correto
corrige os hábitos alimentares, mas muito mais do que isso, corrige sua forma
de ser e pensar porque não adiantar apontar o dedo com tanta gente passando
fome. Se cada um fizer o seu papel no mundo, quem sabe um dia, a gente deixa de
comer carne...Necessidades materiais para seres que estão presos à matéria?
MARIA JOSÉ
17/10/20
---------------Paula
Alves--------------
“JUNTOS SOMOS MAIS FORTES, SEMPRE!”
Eu tinha medo, mas
ninguém percebia. Meu medo nunca me impediu de trabalhar, estudar e viver minha
vida, porém, por um momento, as pessoas começaram a me perseguir.
Mania de
perseguição? Stress? Síndrome do pânico e ansiedade?
Hoje em dia, tem
diagnóstico para tudo. Naquela época ninguém sabia o que eu tinha. Foi no auge
dos filmes do James Bond.
Eu sei que não era
nada daquilo. Um homem louco que pensa ser espião e vê espionagem, mentira e
sabotagem.
A princípio, eu ria
de mim mesma, depois, achei que estava sendo perseguida pelas ruas, corria, me
escondia nas lojas.
No fim, era
esquizofrenia mesmo. Eu me achava tão normal, quase me casei, mas cismei que
meu noivo tinha amante e desisti, achei que encontraria coisa melhor e fiquei
sozinha, cheia de cismas e paranoias.
Só quem sabe o que
existe numa cabeça assim, é quem é assim. No caso eu que fiz tratamento por
vinte anos, meu Deus!
Ainda me lembro de
tantas coisas ridículas doutor, mas eu entendo que naquele estágio, eu estava
tão doente e me sentia tão aflita que nada poderia ter dado certo.
Eu queria a
clausura, o medo tomou conta de mim. Eu achei que minhas sobrinhas estavam
querendo me matar para ficar com a casa, mas elas eram delicadas comigo, porém,
eu as agredi e elas me internaram. Compreendo que não é nada fácil para as
outras pessoas.
Nós assumimos
provas, expiações e acreditamos que vamos avançar, nos destacarmos entre outros
seres que estarão propensos a nos prestar auxílio, se acaso necessitarmos, mas
é um erro.
Eu não dei conta de
mim, quem dirá desejar que alguém assumisse todos os riscos. Daí me comprometi
tanto com meus pensamentos que a paranoia se incrustou em mim. É muito árdua a
tarefa de controlar nossos pensamentos.
Hoje estou
reabilitada, estou feliz. Me preparo para atuar na crosta ajudando pacientes,
mas sei que a tarefa será complicada.
Atualmente, depois
de toda onda de doença que se instalou, existem muito neuróticos por aí.
Pessoas em processo de desespero e descontrole, mostrando sua total
incapacidade. Os familiares e amigos que deveriam apoiá-los, indicando centros
de apoio e tratamento, estão antagonistas a isso, preocupados com questões
financeiras e deixam de lado estas pessoas que tropeçam por aí em outros que também
se arrastam na infelicidade.
Despertem irmãos!
Unamos nossas forças para que não sejam tantos infelizes do lado de cá, pelo
contrário, para que sejam muitos a se auxiliarem e, unindo esforços, sejam
inúmeros abençoados, elevando-se na sabedoria e trabalho edificante.
Se um ajuda o
outro, todos melhoram. Existem muitas formas de ajudar: prestar a atenção no
outro, escutar, aconselhar, ler o Evangelho, dar ânimo, paz e esperança. Cuidar
do núcleo mais próximo: família e amigos.
Juntos somos mais fortes, sempre!
LENILDA
17/10/20
---------------------Paula Alves----------------
“EU INVENTEI UMA VIDA
QUE ERA SÓ MENTIRAS, CHEIA DE ERROS E INDIGNAÇÃO”
Eu tinha horror àquele corpo, simplesmente
não conseguia compreender por que merecia sofrer com tudo aquilo. Aquelas
experiências bizarras, onde eu me via como uma mulher perfeita, mas era um
homem.
Na infância, eu desejava os brinquedos das
meninas e tinha trejeitos que meu pai repugnava. Ele tentava me ignorar, tentou
castigar, mas eu não queria brincar com os demais meninos, me sujar e correr
pelas ruas.
Cresci vendo minhas irmãs se pintarem,
invejando suas vestimentas, desejando que aquilo fosse um erro, que todas as
minhas convicções pudessem ser explicadas por alguém e que eu me conformasse
com minha situação de homem, mas isso nunca ocorreu.
Depois de algum tempo, já adulto, eu me revoltei,
depois de tantas surras, de tanto preconceito por parte de meus familiares, eu
me revoltei com a vida que levava, com a falta de espaço no mundo numa
sociedade repressiva em que eu era um homem recalcado.
Me indignei tanto com o que eu sentia que não
quis viver daquela maneira. Nada justificava meus sentimentos. Eu não tinha
vocação para pai de família, eu não queria mulheres ao meu redor. Eu não queria,
nem mesmo, me olhar no espelho e não existia o que mamãe pudesse falar que
solucionava meu problema físico e moral.
O fato é que eu descobri um estranho talento
para me travestir, eu me tornava uma linda mulher e me identificava com a
imagem que reproduzia quando estava pronta como Valentina.
Eu dançava nas boates e quando percebi já estava
totalmente marginalizado, ligado às drogas e prostituição. Nunca mais vi mamãe,
eu teria vergonha que ela me visse caracterizado como mulher. Eu me escondi,
vivi uma farsa.
Desencarnei com aids depois de passar mais de
vinte anos me travestindo.
Sempre fui só, parecia que, aos poucos, minha
mente construía uma realidade completamente ilusória. Vivendo da forma mais
conveniente, vivendo a minha fantasia, cheio de rímel e cílios postiços. Eu
inventei uma vida que era só mentiras, cheia de erros e indignação.
Quando desencarnei, fui vítima de meus
próprios abusos, passei muito tempo me penitenciando nas regiões inferiores.
O que muita gente como eu não consegue entender
é que nós tentamos burlar a Lei o tempo todo, buscamos facilitações. Nós não
conseguimos aceitar e nem desenvolver os planos que nós mesmos solicitamos.
Quando reencarnamos e nos deparamos com as dificuldades que deveriam nos
elevar, nos revoltamos. É mais fácil culpar a Deus, blasfemar, incorrer em nova
falta, buscar burlar o sistema e ser pessoa frágil, vitimista que relaciona seu
sofrimento a tudo o que não se pode mudar. Eu fui só mais um.
Na minha época, era mais difícil porque eu
precisava aceitar meu corpo, eu precisava conviver com aquele organismo
masculino e aceitar, mas hoje em dia, é ainda pior porque as pessoas são
estimuladas a ser o que quiser e podem mutilar-se, modificar completamente o
organismo que foi concedido por Deus, elas erram achando que estão acertando.
A sociedade atual, acredita na materialidade
de todas as coisas e induz uma concepção em que você decide o que é melhor,
você pode mudar de ideia e conduzir sua vida mediante as facilitações da sua
conjectura mental, mas nem sempre o que achamos certo é realmente certo.
DEUS
PERMITE TUDO, MAS CADA UM DE NÓS ARCARÁ COM TODOS OS ABUSOS QUE FOREM COMETIDOS
POR IMPRUDÊNCIA, VAIDADE, DESCUIDO OU EGOÍSMO.
Eu compreendi o quanto é importante se comprometer com tudo o que Deus coloca em nossas vidas. Dar graças, louvar, aceitar e desenvolver-se a partir do que temos. Honrar a vida que recebemos d’Ele. Eu me vejo como homem, renascerei, mais uma vez, como homem e agradeço por mais uma oportunidade que me será concedida.
LUÍS MIGUEL
10/10/20
------------------------Paula
Alves-----------------------
“MUITOS, ACHAM MAIS
FÁCIL FICAR RECLAMANDO, AO INVÉS, DE ARREGAÇAR AS MANGAS E PRODUZIR ALGO DE
ÚTIL”
Aquela vida de miséria me revoltava. Por que
o filho da patroa podia ter tudo o que quisesse e na nossa casa faltava de
tudo?
O pai dele era médico, tinha carro, casa de
grã fino e brinquedos sofisticados. Minha mãe trabalhava tanto, ela tinha as
mãos calejadas e quando chegava em casa meu pai ainda a humilhava. Faltava de
tudo porque ele pegava o dinheiro para pagar dívida de jogo.
Eu cresci vendo a diferença entre ricos e
pobres. A diferença da sociedade que facilita demais para uns e cobra tanto de
outros. Minha mãe até ofereceu emprego como jardineiro, eu não quis, achei que
fosse humilhante aquele riquinho ficar me destratando no meio dos seus amigos
ricos. Não quis passar pelo constrangimento de ser apontado como o filho da
empregada
A verdade é que eu me revoltei sem razão
nenhuma. Muitos, acham mais fácil ficar reclamando, ao invés, de arregaçar as
mangas e produzir algo de útil. Minha mãe precisava de mim, ela precisava que
eu a defendesse dos abusos do meu pai que a explorava. Daí eu cresci, poderia
tê-la ajudado, mas me tornei um explorador como ele, eu a envergonhava, fui
preso, tirei dinheiro dela e a deixava preocupada, desesperada.
Eu me arrependo muito das escolhas que fiz e
percebo que está no alcance de todos, reverter o que temos de negativo na vida
e nos tornarmos seres irrepreensíveis, desenvolvermos o que Deus coloca diante
de nós. Eu poderia ter sido um bom homem, ter honrado minha mãe e aproveitado
as oportunidades que me deram para ser ainda melhor na sociedade, já que eu
sabia perfeitamente o que era passar dificuldade.
Infelizmente, eu não consegui compreender que
tudo depende de mim, da maneira como eu me sentia e me comportava. Se eu não
fosse tão orgulhoso e egoísta poderia ter me elevado e ter ajudado mainha.
TOMÁS
10/10/20
---------------------Paula
Alves------------------
“CULPAR
OS OUTROS POR NOSSOS ERROS, POR NOSSOS SOFRIMENTOS NÃO PODE SER CONSIDERADO
COMO ALGO NORMAL”
Aquele homem tinha todas as razões para ser
um bom pai de família, mas me envergonhava, me humilhava e me agredia. Eu não
sabia como reverter os maus tratos que recebia dele, achava que valia a pena
tentar que ele mudasse por nossa família, por nosso filho, mas por mais que eu
tentasse, ele ficava cada vez mais cheio de ira.
Eu comecei a me irritar com aquela situação e
perguntei a Deus por que eu merecia passar por tudo aquilo, por aquele
sofrimento de necessidade e agressões no meu lar. Por que por mais que eu me
esforçasse para ser boa mãe e esposa, aquele homem não mudava. Eu não queria
mais aquela vida para mim, eu não queria ser espancada diante de todos, mais
uma vez.
Eu apanhei muito, me sentei e questionei para
mim mesma por que eu colocava nas mãos de Deus uma situação que havia sido
criada por mim.
SE EU
TIVESSE QUE AVALIAR MINHA VIDA E A FORMA COMO ME ENVOLVI COM AQUELE HOMEM,
CONTRARIANDO MEUS PAIS, LARGANDO MEUS ESTUDOS, PERMITINDO QUE ELE ME LEVASSE
PARA SUA CASA, TÃO JOVEM, ENGRAVIDANDO, USANDO DROGAS JUNTO COM ELE, APOIANDO
AS MALUQUICES QUE ELE FAZIA, EU TERIA ENCONTRADO AS JUSTIFICATIVAS DO MEU
SOFRIMENTO.
Aquele homem não estava no meu caminho por
que Deus queria o meu sofrimento, mas porque eu mesma buscava o sofrimento.
Eu cometi os erros iniciais e permiti que ele
cometesse os erros comigo. Eu não podia continuar culpando as outras pessoas
por minha derrota ou por minha falta de escrúpulos em realizar os meus deveres.
Eu não havia sido uma adolescente responsável, eu não fui boa filha, eu não
cuidei adequadamente do meu corpo físico, me droguei, engravidei, mas poderia
ter adquirido uma doença venérea, eu fui toda irresponsável e me coloquei a
disposição de alguém que nunca me respeitou porque eu não me dei ao respeito.
Culpar os outros por nossos erros, por nossos
sofrimentos não pode ser considerado como algo normal.
Se eu tivesse feito tudo diferente como seria
minha vida? Mas, era tarde para voltar atrás, então, eu fiz minha mala e peguei
meu filho, lembrei de uma tia que morava em outra cidade e fui embora.
Eu sofri o suficiente para me empenhar para me
tornar uma boa pessoa para mim e para o meu filho. Recebi a ajuda da tia Magá e
com muito esforço consegui criar meu filhinho com dignidade.
ÁS VEZES, BASTA UM ATO DE VALENTIA E DE SENSATEZ PARA MUDAR TUDO O QUE ESTÁ ERRADO E PARTIR DO PONTO ZERO PARA RECOMEÇAR E ACERTAR NA VIDA.
VIOLANTE
10/10/20
---------------------Paula
Alves-------------------
‘TEM MULHER QUE NÃO
CONSEGUE COMPREENDER O QUANTO O CORPO É VASO SAGRADO”
Eu queria casar com ele, ter casa e filhos.
Sonhava com uma vida simples em que pudesse ser feliz, uma vida normal, mas não
era isso o que ele queria.
Existem pessoas que são tão espertas,
manipulam sentimentos e ações das outras pessoas. Eu não era tão ingênua assim,
mas não entendi como minha vida chegou naquele ponto.
Eu era bonita, estava apaixonada e meu
namorado usou tudo isso para me entregar para outro homem. No início eu não
consegui fugir, fiquei consternada, paralisada, como se eu fosse uma qualquer,
uma mulher menosprezada, insultada. Eu tive medo e revolta, fui atirada num
quarto de hotel e tratada como leviana, mas não foi o pior.
Quando tudo acabou é o pior, a forma como
recebi o olhar daquele homem, eu me senti lixo, podridão.
Tem mulher que não consegue compreender o
quanto o corpo é vaso sagrado. Não entende por que tem que velar, ao invés, de
mostrar. Por que tem que ter polidez nas palavras, delicadeza de ações para que
possa ser preservada.
Muitas vezes, um olhar fala tudo e naquele
dia, eu perdi todas as esperanças de ter uma vida decente. Foi como se eu
estivesse em dívida com o passado e estivesse recebendo uma punição por algum
erro. Meu namorado entrou no quarto, me entregou uma quantia, eu bati na sua
cara e ele me bateu de volta. Difícil de esquecer doutor, difícil.
Eu tive uma vida ruim depois disso tudo.
Nunca mais o vi, me esforcei para que ninguém soubesse do acontecido, jamais. Vivi
uma vida de melancolia, me escondendo, temendo que os homens se aproximassem de
mim, até que me suicidei achando que poderia me libertar daquelas lembranças
repugnantes.
O inferno foi pior, mas logo recebi o auxílio
e me foi explicado que meu namorado tentava se vingar por erros cometidos em
outras existências quando eu era o homem e ele a mulher. Eu era gigolô e fazia
com que fosse prostituta das mais humilhadas, das mais mal tratadas. Foi ajuste
de contas, mas eu não consigo esquecer, eu não posso perdoar.
Eu nutri amor, eu estava isenta de erros
naquela vida, eu não merecia aquela punição.
Por que as pessoas não podem ser boas?
Por que uma mulher não pode se entregar para
um homem e ser amada, valorizada e respeitada por ele?
Será que os homens são todos iguais?
O amor é só uma ilusão das mentes românticas?
Como é possível se envolve depois disso tudo?
FILIPA
10/10/20
-------------------------------Paula
Alves-----------------------
“TUDO ACONTECE COM UM RICO PROPÓSITO”
Eu planejei tudo...
Após ver a vida da minha irmã mais velha, constatei que todos nós temos que
planejar nossas vidas e não nos desviarmos de nossos objetivos.
Soube, desde o
princípio, que a vida de uma mulher seria muito mais fácil com profissão, por
isso, me esmerei nos estudos, tinha a intenção de ser arquiteta como meu pai.
Sonhava em ter meu próprio negócio, ser independente e conseguir minha
estabilidade financeira para, só então, pensar em constituir família.
Meu pai nunca mais
olhou minha irmã da mesma forma, depois que ela engravidou de um homem que nós
nunca conhecemos. A Karina ficou com o bebê na casa dos meus pais que a
assistiram em tudo, mas perderam todas as expectativas de que minha irmã
tivesse um futuro feliz.
Eu, porém, era a
luz dos olhos do meu pai. Ele fazia todas as minhas vontades e depositava em
mim suas esperanças. Eu queria fazê-lo feliz e me tornei uma moça estudiosa,
tendo a certeza de que atingiria meus objetivos, mas o que eu não me lembrava é
de que já havia feito planos antes de reencarnar e estes planos precisavam ser
concretizados.
Quando olhei nos
olhos do José, foi como reencontrar um amor juvenil. Eu senti um arrepio e me
senti desamparada foi como se eu estivesse confessando para mim mesma que seria
impossível chegar a concluir meus planos de independência e profissionalismo,
por ele, eu colocaria tudo a perder.
Nós nos envolvemos,
apesar de minha contrariedade, a razão dizia para eu me afastar dele, mas meu
coração me levava ao seu encontro. Meses depois, comecei a me sentir terrivelmente
enjoada, eu estava gravida, chorei e me senti ridícula porque estava seguindo
os passos de minha irmã. Eu mataria meu pai de desgosto, mas era minha vida,
meu filho, eu teria que enfrentá-lo.
Eu me enchi de
coragem e quando estava prestes a contar a ele, meu pai me deu uma lição de
vida. Ele falou que já estava cismado comigo e imaginava porque eu estava tão
aflita nos últimos dias, ele já havia percebido meu envolvimento com o seu
funcionário e entendia que eu não queria admitir que gostava dele. Papai falou
de Karina e do quanto se decepcionou com ela, mas ele estava errado porque as
pessoas têm caminhos e minha irmã fez a sua escolha, dela surgiu o seu neto
Afonso que tanto amava. Ele não podia fazer escolhas por nós e nem mesmo
desejar que tudo fosse diferente. Ele ainda mencionou que não mudaria nada, se
para isso tivesse que perder Afonso. Tudo está certo da maneira que está, disse
meu amado pai. Eu só chorei, falei que achava que estava grávida e ele afirmou
que eu precisava ter certeza para me cuidar e ao bebê, José deveria saber para
fazer sua escolha, mas para ele família devia se apoiar, ele nunca iria me
abandonar.
Eu nunca imaginei
que meu pai tinha apoiado tanto minha irmã. Eu merecia tudo o que aconteceu
porque sempre tentei ser melhor que a Karina, competia com minha irmã como se
ela fosse uma fracassada e tomei da mesma água, copiei os passos dela.
Falei com José que
ficou super feliz e me pediu em casamento, eu exultei, mas era apaixonada por
ele e decidi arriscar, papai nos auxiliou com uma casa pequena para começarmos,
José tinha honra, iria pagar aos poucos e eu interrompi meus estudos até o
nascimento do bebê, mas depois voltei e consegui me formar.
A verdade é que o
caminho foi mais árduo, difícil, mas nem tanto porque todos me apoiaram, meu
filho nasceu saudável e me deu uma alegria inenarrável. O fato é que do jeito
que aconteceu não poderia ter sido melhor.
Muitas vezes, nós
fazemos planos e acreditamos que da forma como imaginamos é perfeito, mas
perfeito mesmo são os planos de Deus na nossa vida. Tudo acontece com um rico
propósito. Quando não reclamamos e tentamos fazer valer a pena todas as
oportunidades que recebemos, tentamos solucionar cada problema aparente com fé
e sinceridade consigo mesmo e com os demais envolvidos, só pode dar certo. Não
devemos ter receio ou vergonha de pedir ajuda e confessarmos que falhamos em
algumas escolhas, mas muitas vezes, onde achamos que estava o erro, estava o
grande acerto.
LUÍSA
03/10/20
-------------------Paula
Alves-------------------
“OLHAMOS TUDO COM UMA VISÃO EGOÍSTA E IMEDIATISTA”
Eu não conseguia
olhar para eles juntos. Meus próprios pais! Amava minha mãe, mas meu pai sempre
me deu nos nervos. Em tudo ele me irritava, até quieto.
Na adolescência, eu
tentava agredi-lo com minhas ações medíocres e fazia de tudo para separá-la
dele. Eu não tinha motivos reais para fazer isso porque ele sempre foi um
exemplo a ser seguido, bom homem, esposo e pai, fiel, trabalhador e amistoso,
todos gostavam dele, menos eu.
Minha mãe foi
excelente, sempre tentou nos aproximar e meu pai tentava ter paciência, mas eu
o tirava do sério e ele saia andando para não me bater, mas houve um tempo em
que tudo estava tenso em nossa casa e não aguentamos.
Meu pai descobriu
um câncer e estava temeroso, quem quer morrer?
Eu me aproveitei da
sensibilidade dele e o martirizei, simplesmente falei que ele devia morrer e
parar de ser um inútil em minha vida. Por que foi que eu disse isso? Ele me
bateu tanto e tanto, eu resolvi revidar. Minha mãe gritava e pedia socorro, os
vizinhos tiveram que apartar a briga e eu resolvi ir embora naquele dia.
Saí de lá tão
indignado, ofendido, desejava a sua morte. Em minha mente vinham momentos em
que os dois estavam felizes sem mim, uma loucura só. Como se eu fosse
indesejado, mas isso era sandice, meus pais nunca me rejeitaram, eu rejeitava
meu pai.
A doença dele
acelerou muito depois daquele dia e minha mãe me procurou para pedir que eu
fosse vê-lo. Ela disse que eu devia pedir perdão porque o que eu fiz foi
terrível e eu não consegui entender que era mais do que terrível. Ele
desencarnou e eu nem mesmo fui no enterro. Voltei a ver minha mãe, para mim
estava tudo bem, apenas nós dois, mas dentro de mim, uma consciência torturava
o ser afirmando que eu fui o filho ingrato e matei meu pai de tanto desgosto.
Anos depois, minha
mãe morreu e quando, após muitas décadas de solidão, eu desencarnei de forma
violenta sofri por ser um filho ingrato, entre outras coisas. Meus pais me
socorreram e fui esclarecido que, em outras vidas, fizemos vários duelos por
causa do amor dela. Precisamos vir como uma família para que o amor nos unisse
e nascesse muitas outras virtudes desta união: amizade, lealdade, amparo...
Mas, eu me recusei e queria destruí-lo.
Meu pai se feria
dia após dia. Deve ser horrível você tentar ser querido por alguém que só te
insulta. Ele tentou ser meu amigo, desde quando eu era pequeno, eu o rejeitei e
recusei todas as investidas de vivermos em paz.
Acredito que, se
fossemos ensinados, do quanto os laços de família são necessários e o quanto
devemos nos esforçar para amar aqueles que estão por perto, poderíamos
respeitar de forma diferente. Poderia ser mais fácil, mas olhamos tudo com uma
visão egoísta e imediatista.
Eu falhei e não sei
como será numa nova tentativa. Eu queria muito que funcionasse e que pudesse
haver amor entre nós.
EVANDRO
03/10/20
----------------------Paula
Alves----------------
“NUNCA DISTORCEMOS A VERDADE PARA NOSSOS FILHOS”
Naquela ocasião, eu
enxerguei a vida do prisma da dificuldade e do sofrimento. Trabalhava de sol a
sol, pintando muros. Eu sabia que aquele trabalho não poderia me dar o que eu
ambicionava.
Nessa vida, somos
respeitados pelo que temos. Na Terra, ninguém vai te cumprimentar se você
estiver sujo ou for um Zé Ninguém. Até as pessoas que são do seu convívio
pessoal, fingem que não te conhecem para não passarem por algum
constrangimento.
Eu gostava daquela
moça da padaria, ela era pobre, tanto quanto eu, mas não saia com um cara que
não tivesse carro. Nossa! Eu precisava ter um carro para pensar que era gente?
Vida difícil.
Cheguei do norte, morava na pensão e trabalhava duro, mas não podia nem sair
com a menina porque não tinha aonde cair morto.
A verdade é esta,
na Terra você é o que você tem e eu não tinha nada, aí me ofereceram uma grana
para roubar carros, sério?
Parecia que estavam
ouvindo os meus pensamentos, eu todo revoltado e a oportunidade caia no meu
colo. Eu abracei. Não demorou muito pra ela sair comigo, carrão... Ela nem quis
saber como foi que eu consegui um carro daqueles.
Como pode ser
assim? Num dia eu estava pintando muros e no outro dia apareci com carrão e ela
achou mais lógico sair comigo depois da facilidade. Vejam a inversão dos
valores: quando eu era trabalhador honesto, pobre e honrado, não servia para
ela, mas depois que apareci com carrão ela me quis. Saí com ela e percebi que
ela também não era moça honrada, era gananciosa e desonesta.
Eu voltei para o
norte, desiludido, parecia que a minha motivação tinha se acabado. Se eu tivesse
continuado ali, acabava minha vida porque eu nunca ia conseguir me livra deles,
então, tive que voltar para minha terra, eu fugi.
Mas, Deus tinha
algo bom reservado para mim, eu fui um realista, era pobre, tinha mania de
honestidade, estava acostumado com a tinta e com a enxada, tinha que trabalhar
para me achar gente, independente do que as pessoas pudessem dizer.
Arrumei trabalho na
lavoura e vi uma morena muito linda que me admirou, eu nem acreditei que
pudesse nascer algo dali, mas aquela morena foi destinada para mim. Íntegra,
trabalhadora e meiga, se tornou minha esposa e me ajudou a criar nossos cinco
filhos na maior dificuldade, mas no meio de amor e sinceridade.
Nunca distorcemos a
verdade para nossos filhos, sempre procuramos ensinar a retidão moral, apesar
de tudo. Nossa família era exemplo de trabalho e dedicação, todos confiavam em
nós. Sabe um nome de honra e escrúpulo?
Envelhecemos e
depois de muitos anos, meu caçula disse que tinha o maior orgulho de ouvir pela
cidade todos dizerem que o filho do seu Pretinho podia comprar aonde desejasse
porque tinha no nome da família carta branca, nome limpo, caráter
irrepreensível, toda a família era muito honesta.
Eu me lembrei de
quando roubei um carro e me arrependi, tive vergonha só de imaginar que meu
filho pudesse saber desta história infeliz, por um desvio de minha conduta.
A gente pode
cometer erros na vida e compreender a gravidade do erro, se esforçar para não
errar mais, se possível, corrigir o que fez e seguir num caminho reto que vai
trazer alegria e orgulho para si e todos que estejam por perto. Eu fui feliz.
ZÉ PRETINHO
03/10/20
----------------Paula Alves-------------------
“QUEM AMA NÃO FERE, NÃO AGRIDE, NEM MESMO CONSTRANGE”
Soltaram aquele
cachorro e ele me mordeu, do nada. Eu estava indo trabalhar e quase fiquei sem
perna. O dono do animal foi muito prestativo, me socorreu e eu recebi atendimento
médico de primeira classe, ele foi bondoso e não sabia como se desculpar, me
convidou para jantar em sua casa, eu fiquei sem graça de não ir.
Fui e encontrei a
família dele, a filha dele era linda demais, eu me encantei.
Minha perna ficou
com um grave ferimento, por mais que cuidasse, parecia que não suportaria
aquela mordida, nem mesmo conseguia compreender como uma mordida que foi
cuidada poderia me trazer tantos problemas. Meu vizinho soube das dificuldades
que eu enfrentava e foi me visitar com a filha que estranhamente se preocupou
muito comigo. Eu pensei que estivesse apaixonado por ela, por toda a sua beleza
e simpatia, mas ela era cismada comigo.
À medida que ela me
fazia visitas com o seu pai, nunca sozinha, eu me sentia melhor. Eu nunca acreditei
em doenças psicossomáticas, mas parecia que meu estado emocional estava
tentando me curar ou me mostrar alguma coisa.
Eu me curei da
perna, após longos meses de tratamento, quando ela foi me ver com seu pai disse
que seria a última vez, falou que se mudaria e desejava que eu tivesse sucesso
na vida. Eu fiquei sem graça, achei que pudesse investir no sentimento, mas
tentei esquecê-la.
Nunca consegui me
envolver com uma mulher, a ponto de ficar estável, ter família, eu fui só e não
entendia o motivo de minha solidão, mas depois que desencarnei, velho e
entristecido, tive explicações bem razoáveis.
Em outra
existência, eu fui apaixonado pela mesma mulher, a filha do meu vizinho, eu
tentei cortejá-la, mas ela não me queria e eu a raptei, achei que ela poderia
gostar de mim se ficássemos um tempo juntos, eu a mantive acorrentada pela
perna, isso ocasionou um ferimento terrível na perna da moça que implorava para
que eu a soltasse. Eu fiquei enfurecido porque soube que ela nunca me amaria e
quando a segurei tão firme acabei sufocando-a.
Não desejei que
aquilo tudo acontecesse, eu era idiota, mas não assassino, porém, o amor que eu
achava sentir, era apenas desejo de posse, quem ama não fere, não agride, nem
mesmo constrange.
O cachorro me deu o
ferimento para sentir na pele o mal que produzi, como Talião, eu sofri o mal e
me aproximei daquela que foi minha vítima, por isso, ela tinha horror a mim, de
forma inconsciente, não queria ficar sozinha comigo. Eu entendi.
Sei que estou bem
modificado, não seria capaz de realizar as mesmas atitudes, preferi ficar só do
que ter o amor de uma mulher na base da força ou da ameaça, acho que foi, por
isso, que minha perna se curou, apesar de tanta dificuldade.
A verdade é que nós sempre somos punidos pelo mal que produzimos, nesta ou em outras existências. Tolo é aquele que acredita que se safou, que ninguém viu ou que será feliz depois de um ato reprovável, seja ele de qual natureza for. Independente se o ato recriminatório foi cometido contra um animal, planta, outra pessoa ou contra você mesmo, fique tranquilo porque sua corrigenda chegará, mesmo que seja na espiritualidade, cercado de seres que te culpam e te cobram, por isso, é sempre mais satisfatório prosseguir no caminho certinho, fazer apenas o que é correto para todos, não ter vergonha de ser chamado de careta ou Caxias. Até porque sempre tem alguém olhando!
PEDRO
03/10/20
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